Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Isabela Boscov sábado, 30 de setembro de 2017

KINGSMAN? O CÍRCULO DOURADO: UM PASSO PARA TRÁS - CONTINUAÇÃO TEM MAIS QUANTIDADE, MAS MENOS QUALIDADE, QUE O FILME ORIGINAL

 

“Kingsman: O Círculo Dourado”: um passo para trás

Continuação tem mais quantidade, mas menos qualidade, que o filme original

Adoro o primeiro Kingsman: Serviço Secreto, de 2014: eu não conhecia a graphic novel em que ele se baseia, não tinha a menor ideia do que esperar e foi uma completa surpresa o jeito ultra realçado, totalmente quadrinhos, com que Matthew Vaughn filmava a ação – além do humor debochado, o atrevimento e, nem um pouco menos importante, a ótima parceria entre Colin Firth e o então novato Taron Egerton. Aquela sequência em que Firth, como o agente Galahad, sai estraçalhando os fiéis (literalmente) numa igreja batista no Sul americano ao som de Lynyrd Skynyrd? Ultrajante, e maravilhosa. Sempre tive Matthew Vaughn em alta conta, aliás, por conta de Nem Tudo É o que PareceKick-Ass e X-Men: Primeira Classe. Até Stardust, uma adaptação um tantinho confusa da graphic novel de Neil Gaiman, tem seus ótimos momentos. De forma que eu estava babando para ver Kingsman: O Círculo Dourado. Mas, de todos os filmes de Vaughn, este é o primeiro a me deixar dividida. As qualidades do primeiro Kingsman estão lá – e às vezes, felizmente, só elas estão lá. Mas, em outras ocasiões, há um bocado de entulho em volta delas: O Círculo Dourado tem um apego excessivo a algumas de suas tiradas, e tende a não largar delas mesmo quando elas já deram tudo o que tinham para dar.

Kingsman: O Círculo Dourado

(Fox/Divulgação)

Recapitulando (e, se você não viu o primeiro filme, pule este parágrafo – e então corra para vê-lo), Galahad, o supra-sumo do cavalheiro inglês, mas uma fera capaz de abater um pub inteiro de arruaceiros só com um guarda-chuva e uma caneca de cerveja na mão, recrutava o garoto Eggsy (Egerton) nos cortiços de Londres a fim de treiná-lo à sua imagem e semelhança e torná-lo tão proficiente em MMA quanto em jantares de sete talheres. Ternos da Savile Row (uma alfaiataria da rua que faz os ternos mais bem cortados do mundo é a fachada atrás da qual se esconde a agência secreta), sapatos, guarda-chuvas, óculos e carros de matar – mais as boas maneiras, uma obsessão dos Kingsmen – tornavam Eggsy um legítimo “homem do rei”. Mas, para Galahad, as coisas terminavam mal: com um tiro na cabeça, do lado de fora da mesma igreja em que ele sofrera seu surto de violência. De forma que, nesta continuação, Eggsy sucedeu a Galahad no posto e no codinome. Mas, como não é segredo para ninguém que Colin Firth está no elenco – ele aparece inclusive nas fotos distribuídas para a promoção do filme –, o fato é que Galahad está bem menos morto do que se supunha. É um despropósito, mas é também um alívio: quando Colin Firth não está em cena, sua ausência é duramente sentida.

 

 
Kingsman: O Círculo Dourado

(Fox/Divulgação)

(E, agora, quem ainda não viu Serviço Secreto pode continuar a ler.) Uma nova ameaça, porém, se levanta: a miudinha, alegrinha e totalmente desequilibrada Poppy (Julianne Moore), que não se sabe bem como construiu um monopólio global de tráfico de drogas. Poppy é doida pelo décor da década de 50 e, no diner que enfeita a sua toca, serve hambúrguers no capricho. Pena que sejam feitos com os funcionários que saíram da linha, os quais Poppy mói ali mesmo, na hora, para os sanduíches saírem sempre fresquinhos. Apesar dos esforços valentes de Julianne Moore, a vilã é, para mim, uma dessas piadas que O Círculo Douradousa bem além da data de validade: as suas roupinhas de dona-de-casa perfeita, o moedor do diner, os cães-robôs, o popstar que ela sequestrou e obriga a dar shows particulares diários – a certa altura, a graça se esgota, e Poppy começa a parecer só num artifício excessivamente elaborado para empurrar a trama adiante. Bem mais divertidos são os Statesmen, a contraparte americana dos Kingsmen – com participações perfunctórias de Jeff Bridges e Channing Tatum, e papéis bem mais importantes no caso de Pedro Pascal e Halle Berry.

Kingsman: O Círculo Dourado

(Fox/Divulgação)

Em linhas gerais, o charme da série Kingsman está no seu manejo criterioso do excesso: os excessos da violência, a ação ultra estilizada pelos enquadramentos e pelos cortes, os absurdos tomados como estritamente normais. O Círculo Dourado, porém, é um bom exemplo do que acontece quando um realizador exagera no exagero, sem reconhecer que nas regras internas dele há, sim, um limite. Em Serviço Secreto, nada estava ali por estar, e tudo contribuía para tonar o filme uma delícia em cada um dos seus 129 minutos. Desta vez, Vaughn usa muito mais enredo do que o necessário, deixa passar piadinhas apenas medianas, dispersa-se em tramas secundárias sem grande valor e estende a coisa toda por 141 minutos. Quando ele está concentrado no que interessa, ainda é imbatível. Quando se dá o luxo da indulgência e da gratuidade, o nível despenca.


Trailer

 

KINGSMAN: O CÍRCULO DOURADO
(Kingsman: The Golden Circle)
Inglaterra/Estados Unidos, 2017
Direção: Matthew Vaughn
Com Taron Egerton, Mark Strong, Julianne Moore, Colin Firth, Pedro Pascal, Halle Berry, Edward Holcroft, Jeff Bridges, Channing Tatum, Hanna Alström, Sophie Cookson, Michael Gambon, Poppy Delevingne, Elton John
Distribuição: Fox

Isabela Boscov segunda, 17 de julho de 2017

MASTER OF NONE – A SEGUNDA TEMPORADA

Master of None – A Segunda Temporada

Aziz Ansari prova: não existe nada mais interessante do que ser um cara legal

Dev Shah, o protagonista de Master of None, é o tipo de sujeito que, por exemplo, nunca jamais escreveria um comentário cínico, maldoso ou grosseiro na página de alguém. Não é que ele precise se controlar para não fazê-lo; é que nunca ocorreria a Dev ser maldoso. É um instinto que ele simplesmente não tem. Não faltam a Dev senso crítico, inteligência nem capacidade de observação – pelo contrário. Apenas sobram a ele também delicadeza, curiosidade, consideração, generosidade. Maravilhosamente interpretado por Aziz Ansari (vindo da soberba Parks & Recreation), Dev é um dos personagens mais interessantes já criados para uma série cômica, inclusive porque está crescendo e amadurecendo. Nesta segunda temporada, é notável como Dev, o homem, avançou em relação à sua persona da temporada inaugural (ambas estão disponíveis na Netflix). Começando com um episódio em homenagem ao neo-realismo italiano (Dev foi curtir uma dor-de-cotovelo e achar um rumo na vida em Modena, na Itália), e prosseguindo com episódios em que ele tenta fingir que é religioso para os parentes muçulmanos que vêm da Índia em visita (a coisa acaba em um festival de proibidíssimos sanduíches de pernil), ou em que tenta arrumar uma namorada por um aplicativo, Dev dá cabeçadas aqui e ali. E, que coisa fascinante, aprende alguma coisa sobre si com elas. Mesmo.

Master of None

(Netflix/Divulgação)

A sensação é de que Aziz aprende junto com o personagem que criou – e ela é confirmada, por exemplo, em um episódio genial em que seguem-se três histórias diferentes, que no final vão se juntar à de Dev: a do porteiro latino de um edifício, a de uma balconista surda e a de um grupo de haitianos que trabalham como motoristas de táxi. É lindo. Num outro episódio, uma amiga de Dev vem de Modena passear em Nova York com o namorado. Como ele tem vários compromissos, Dev faz companhia a Francesca (Alessandra Mastronardi). Eles andam pela cidade, jantam e vão a uma festa juntos. Tudo leve, engraçado – até que a câmera para em Dev, sentado no banco de trás do Uber, durante uns dois minutos, ao som de Say Hello, Wave Goodbye, do Soft Cell. E você desaba junto com ele, porque a cena transporta você para todas as ocasiões da vida em que sentiu que algo estava escapando irremediavelmente. É econômico, simples, limpo e tremendamente comovente.

Master of None

(Netflix/Divulgação)

Em essência, Master of None (ou “mestre em coisa nenhuma”) trata da mesma coisa que tantos filmes e séries como, por exemplo, Girls: de sair da adolescência prolongada que virou a regra da geração de Dev (ele está com 33 anos agora) e entender o que significa ser adulto. Mas corte daí, primeiro, toda a pretensão de Girls. E então pense num Woody Allen sem neurose, e some-o a um Jerry Seinfeld sem cinismo (a definição não é minha – é do marido, que também adora a série). Toda a inteligência e a agudeza continuam lá, mas dentro de uma moldura de falhas e fraquezas benignas. Pessoas meigas, decentes e bacanas não são as preferidas dos roteiristas, porque assume-se que elas rendem menos conflitos dramáticos. Aziz Ansari desmente a tese. Como criador de Master of None e como intérprete de Dev, ele se junta a atores como James Stewart e Matt Damon para reafirmar que nada é mais difícil e cheio de dilemas do que tentar ser de fato um sujeito legal. E nada também é mais atraente.


Isabela Boscov terça, 13 de junho de 2017

MULHER MARAVILHA - FIRME E FORTE EM PRIMEIRO LUGAR NA BILHETERIA

Mulher-Maravilha – Firme e forte em 1º na bilheteria

Sucesso de “Mulher-Maravilha” não tem segredo: é merecido

Em todo lugar, leio os mesmos comentários de quem já viu Mulher-Maravilha: “Que filme!”; “Que lindo!”. Bilheteria é voto direto, e a do filme estrelado por Gal Gadot vem ganhando de lavada nas urnas: nos Estados Unidos, no seu segundo fim de semana em cartaz, bateu com folga a estreia da Múmia de Tom Cruise e continuou liderando a arrecadação. No Brasil, o quadro é o mesmo – liderança tranquila de Mulher-Maravilha na sua segunda semana de exibição.

Claro que se encontra uma ou outra “denúncia” virulenta de que o filme, protagonizado por uma mulher e dirigido por outra, só está sendo elogiado por obrigação politicamente correta, ou como parte de uma conspiração sinistra para promover a dominação feminina e anular os homens. Quase dá para ter certeza que esses queixosos não assistiram ao filme. Porque dominação e anulação são o oposto do que Mulher-Maravilha prega: se a plateia sai do cinema tão feliz, empolgada e até inspirada, é porque a diretora Patty Jenkins, primeiro, fez um baita filme. E, segundo, porque tudo nele cristaliza a ideia simples, mas encorajadora, de que cada um de nós tem a possibilidade de ser, amanhã, uma versão de si um pouco melhor que a de hoje. Diana faz grandes gestos para salvar o mundo. Mas é nos pequenos gestos – na solidariedade com uma secretária estafada, na consideração com que ouve os companheiros de armas falarem de suas desventuras – que a pureza e a gentileza dela brilham.

Na Ilha de Themyscira, Diana é uma princesa de coração virtuoso e valores nobres – coisa relativamente fácil num lugar em que todos (ou todas, já que lá só há mulheres) têm seus lugares assinalados. Já na Europa de 1914-1918, arrasada pela I Guerra Mundial, convulsionada por rixas de poder, dilacerada por antagonismos tribais e dividida por todo tipo de injustiça, Diana tem que batalhar duro para não perder de vista o que significam pureza e nobreza, e encontrar algum vestígio desses princípios ao qual se aferrar. Steve Trevor, o espião americano que cai em Themyscira e de lá sai acompanhado de Diana, está fazendo a sua parte para deter a máquina da guerra. Mas, no convívio com Diana, ele percebe como se tornou cínico, e como aceita fácil esperar sempre o pior de todos. O pragmatismo de Steve dá a Diana o seu propósito: testa as convicções dela contra a realidade e a ensina a usar sua força e seu idealismo de maneira eficaz, concreta. E o idealismo de Diana lembra Steve de que é preciso olhar não só as partes, mas o todo; ela faz dele o homem que ele poderia e deveria ser. Os pragmáticos e os idealistas, os homens e as mulheres, são todos necessários e complementares – se não como pares, sempre como polaridades que se devem conciliar.

Patty Jenkins, enfim, faz de Mulher-Maravilha uma história sobre existir no mundo que se tem, e enche essa história com as coisas que definem a existência – humor, paixão, desavença, deslumbramento, decepção . Por causa delas, o filme ganha vida e ressoa junto ao espectador. Há quem veja nos filmes de super-herói um sintoma da infantilização da cultura, e lamente que uma geração tenha neles sua fonte primordial de inspiração. Pode ser que sim, pode ser que não, e pode ser que talvez. Mas, no frigir dos ovos, estou com Patty: é preciso existir no mundo em que se está, e lidar com ele. Se as aventuras de super-heróis são a dieta básica, que bom que essa dieta contém coisas como Mulher-Maravilha, um filme que defende que a finalidade de levantar uma boa bandeira – paz, justiça, igualdade disso e daquilo – não é criar mais caos e disputa, mas agir no sentido de tornar a bandeira dispensável.


Isabela Boscov segunda, 29 de maio de 2017

CINEMA - 12 FILMES QUE PROMETEM EM 2017

12 filmes que prometem em 2017, segundo Isabela Boscov

Logan, Guerra Mundial Z e Kong: A Ilha da Caveira são alguns dos títulos mais esperados do ano que chega

Antes de finalmente ser projetado pela primeira vez, enquanto é só expectativa e antecipação, todo filme é potencialmente perfeito. Poucos resistem intactos ao teste. Mas estes aqui têm grandes chances – cada um nos seus termos – de virem a ser relembrados com carinho na virada de 2017 para 2018.

1. Dunkirk
(estreia prevista para 20 de julho)

Harry Styles no filme 'Dunkirk'

Harry Styles no filme ‘Dunkirk’ (Reprodução/Divulgação)

Se Christopher Nolan não quisesse completar o filme e deixasse a coisa toda pelas imagens divulgadas até agora, eu ainda assim apostaria em Dunkirk – O Trailer como a obra-prima de 2017. São devastadoramente belas as cenas já mostradas da história do resgate, por mar, de quase meio milhão de soldados Aliados acuados pelos nazistas em maio de 1940 – um episódio épico de sobrevivência da II Guerra Mundial. De quebra, Nolan convoca Cillian Murphy, Tom Hardy, Mark Rylance e Kenneth Branagh, que há muito tempo não arregaça as mangas e atua como parece fazer aqui.

2. Silêncio (Silence)
(estreia prevista para 2 de fevereiro)

Andrew Garfield em cena do filme 'Silence'

Andrew Garfield em cena do filme ‘Silence’ (Divulgação)

Martin Scorsese adapta o belíssimo romance de Shusaku Endo sobre a perseguição a missionários jesuítas no Japão do século 17 – e, pelo que se pode ver do trailer, baixou um Kurosawa brabo nele. Minha dúvida é se Andrew Garfield convence como padre dos anos 1600. Já sobre Adam Driver e Liam Neeson não tenho a menor dúvida.

3. True Crimes
(estreia ainda não definida)

True Crimes

True Crimes (Divulgação)

Jim Carrey em um thriller policial barra-pesada, sobre as pistas para um crime real encontradas em um livro de ficção? Mal posso esperar para ver a pegada do diretor grego Alexandros Avranas (do tenebroso
Miss Violence) para esta história verídica.

4. Blade Runner 2049
(estreia prevista para 30 de março)

Harrison Ford no teaser de ‘Blade Runner 2049’

Harrison Ford no teaser de ‘Blade Runner 2049’ (Reprodução/Divulgação)

Trinta anos depois dos eventos do über clássico de 1982, Ryan Gosling é um caçador de androides que topa com alguns segredos guardados pelo colega de profissão Rick Deckard (Harrison Ford, de volta ao papel). É só o que se sabe. E é claro que dá medo: não é pequena a chance de que o diretor Denis Villeneuve (A Chegada) e o produtor executivo Ridley Scott de alguma forma estraguem a lembrança perfeita deixada pelo filme original. Mas se eles acertarem…

5. Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell (Ghost
in the Shell)
(estreia prevista para 30 de março)

Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell

Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell (Divulgação)

Tantas vezes se tentou moldar entre as atrizes mais atléticas de Hollywood uma estrela de ação – e, no entanto, coube à mignone Scarlett Johansson ir assumindo naturalmente esse papel. Atriz campeã de bilheteria de 2016, Scarlett está hipnótica no trailer deslumbrante desta adaptação da série de mangás futuristas de Masamune Shirow, dirigida por Rupert Sanders (de, pois é, Branca de Neve e o Caçador) com a bênção do autor.

6. Kingsman: O Círculo Dourado 
(estreia prevista para outubro)

Colin Firth em 'Kingsman: Serviço Secreto' (2014)

Colin Firth em ‘Kingsman: Serviço Secreto’ (2014) (Divulgação)

Se você – como eu – adora o delirante Kingsman: Serviço Secreto, de 2014, em que Colin Firth recruta o jovem baderneiro Eggsy (Taron Egerton) para um seletíssimo e incrivelmente bem-vestido clube britânico de espionagem, esta continuação, novamente dirigida por Matthew Vaughn, há de ser um dos lançamentos mais aguardados do ano. Eggsy agora já completou seu treinamento, e desta vez tanto a ameaça quanto a ajuda vêm do outro lado do Atlântico – razão pela qual Channing Tatum e Jeff Bridges se juntam ao elenco.


7. Logan
(estreia prevista para 2 de março)

Hugh Jackman volta a viver Wolverine em 'Logan'

Hugh Jackman volta a viver Wolverine em ‘Logan’ (Reprodução)

Hugh Jackman está com 48 anos, e acha que dezessete deles interpretando Wolverine é uma boa conta. Mas, pelo jeito, ele vai embora em grande estilo: é lindo, tristíssimo (Hurt, de Johnny Cash, ajuda a compor o clima) e muito intrigante o trailer em que Logan/Wolverine aparece velho, cansado, amargo – mas ainda com ajustes a fazer com seu passado tão violento. James Mangold retorna à direção, uma ideia que eu pessoalmente aplaudo: ele tirou leite de pedra em Wolverine: Imortal, de 2013, e tem um jeito todo especial de trabalhar com Jackman.

8. Mulher Maravilha 

(estreia prevista para 1º de junho)

Gal Gadot como Mulher Maravilha

Gal Gadot como Mulher Maravilha (//Divulgação)

Vai ser a prova de fogo da israelense Gal Gadot e, sobretudo, da DC Comics: vamos ver se, no primeiro filme de grande orçamento jamais estrelado por uma heroína, a DC finalmente acha seu tom e para de pensar no que a Marvel está ou não fazendo. A expectativa só aumenta com o fato de, aqui, a direção estar a cargo de sangue novo nesse universo, e de uma mulher – Patty Jenkins, de Monster: Desejo Assassino, que rendeu o Oscar de melhor atriz a Charlize Theron. Por essas e outras, desperta muito mais a minha curiosidade do que Liga da Justiça, que deve chegar aos cinemas alguns meses depois, em 17 de novembro.

9. The Beguiled
(estreia em 30 de junho nos EUA)


Sofia Coppola faz sua versão de um filme matador de 1971: O Estranho que Nós Amamos, em que o grande Don Siegel dirigiu Clint Eastwood como um soldado do Norte que, ferido, vai se abrigar numa escola de meninas em território sulista durante a Guerra Civil de 1861-1865. Agora, é Colin Farrell que Nicole Kidman, Elle Fanning e Kirsten Dunst amam e odeiam.

10. Kong: A Ilha da Caveira (Kong: Skull Island)
(estreia prevista para 9 de março)

Cena do filme 'Kong: A Ilha da Caveira'

Cena do filme ‘Kong: A Ilha da Caveira’ (Reprodução/Divulgação)

Tom Hiddleston, Brie Larson, John Goodman e Samuel L. Jackson vão atrás do legendário macacão em um ponto nebuloso do oceano. Além do elenco e da direção de Jordan Vogt-Roberts – um egresso do Funny or Die e outros grupos de comédia –, o que me chama a atenção aqui é a ambientação no início dos anos 70, com referências ao tumulto da Guerra do Vietnã. Está com jeito de Apocalypse Now na Ilha da Fantasia.

11. Rei Arthur: A Lenda da Espada (King Arthur: Legend of the Sword)
(estreia prevista para 11 de maio)

Rei Arthur: A Lenda da Espada

Rei Arthur: A Lenda da Espada (Divulgação)

Outro em que o fator mistureba é o que me atrai: depois de dois Sherlock Holmes anabolizados, o que o diretor Guy Ritchie promete aqui é reencenar a lenda de Arthur (Charlie Hunnam), o unificador da Inglaterra, como uma série de brigas de rua. Jude Law passa do caro Sr. Watson ao papel de vilão malevolente. Se não for cansativo, pode ser bem divertido.

12. A Múmia

(estreia prevista para 9 de junho)

Cena do teaser de 'A Múmia'

Cena do teaser de ‘A Múmia’ (Reprodução)

A nova missão impossível de Tom Cruise: deter a múmia ultrapoderosa interpretada pela argelina Sofia Boutella (de Kingsman: Serviço Secreto e Star Trek: Sem Fronteiras). Prevejo a mais pura e deliciosa bobagem, além de um bom esquenta para American Made, que chega no final de setembro e no qual Doug Liman (de No Limite do Amanhã) volta a dirigir Cruise, agora como um piloto com dois empregos – para a CIA e para os cartéis de drogas.

13. World War Z 2
(diz-se que vai estrear em 2017, mas…)


Descontado o final meio chinfrim, Guerra Mundial Z foi uma das ótimas surpresas de 2013: depois de uma produção muito conturbada, o filme que afinal chegou à tela tinha brio, força, vigor. Se a segunda etapa desse nó chegar mesmo a ser desatada este ano, valerá a pena: Brad Pitt agora enfrenta a zumbificação planetária sob a direção de ninguém menos que David Fincher.


Isabela Boscov domingo, 21 de maio de 2017

REI ARTHUR - A LENDA DA ESPADA
 

Rei Arthur – A Lenda da Espada

Kung-fu, malandragem e, claro, fantasia medieval: uma bagunça boa como só Guy Ritchie sabe fazer

Venho acompanhando Charlie Hunnam desde láááá do tempo da série inglesa Queer as Folk, que ele fez aos 19 anos (ele está com 37), e foi interessante ver ele se reinventar como um ator americano a partir de Sons of Anarchy – tanto que Guy Ritchie, o diretor de Rei Arthur – A Lenda da Espada, nem sabia que Charlie era inglês, e teve de ser convencido do fato pessoalmente. Ainda bem que, como Charlie conta nesta entrevista que você vê abaixo, ele decidiu pegar um avião por conta própria para tomar um chá com Ritchie em Londres e se apresentar. Como tudo que Ritchie faz, de Jogos, Trapaças, Dois Canos Fumegantes e Snatch até os Sherlock Holmes com Robert Downey Jr. e O Agente da U.N.C.L.E., este Rei Arthur é uma bagunça – no bom sentido. Tem desde academia de kung-fu na Londres do século 6 até elefantes (sim, na Inglaterra) usados como armas de guerra. Mistura O Senhor dos Anéis com Excalibur, joga um tanto de Game of Thrones no caldo e ainda incorpora a ele aqueles tipos folclóricos da malandragem londrina que Ritchie tanto adora. Às vezes tem o maior clima, outras vezes é comédia (boa comédia). O ritmo é impecável, a trilha sonora é ótima, e o elenco é melhor ainda. E Charlie Hunnam é o ingrediente que equilibra a receita: tem ginga, tem humor (algo que até aqui ele raramente tinha explorado) mas é mais intenso do que, digamos, o Travis Fimmel de Vikings, que eu também veria muito bem no papel.

Rei Arthur – A Lenda da Espada

(Warner/Divulgação)

A melhor ds sacadas de Rei Arthur é imaginar aquilo que a lenda arturiana omite: o que teria acontecido entre o momento em que o mago Merlin salva o Arthur bebê e o dia em que, já adulto, Arthur puxa a espada Excalibur da pedra e se descobre rei da Inglaterra? Vida de menor abandonado não é moleza e, na versão imaginada por Ritchie, logo antes de morrer, o pai de Arthur (Eric Bana, cheio de nobreza) lançou o filho num barquinho, como Moisés, pelo Rio Tâmisa. Arthur foi recolhido das águas por prostitutas, e então criado em um bordel e educado na marra na lei da rua (a sequência em que ele vai crescendo e aprendendo é um dos pontos altos do filme, aliás).

 

 
Rei Arthur – A Lenda da Espada

(Warner/Divulgação)

Apropriadamente, Arthur vira um sujeito marrento: toca o bordel e vários outros negócios duvidosos, tem a polícia no bolso, briga bem e conhece todo mundo que é alguém nos babados londrinos. Enquanto isso, seu tio malvado (Jude Law, canastra no ponto certo) virou o rei Vortigern e vem tiranizando a nação sem piedade. Vortigern não vai ceder a coroa tão fácil – e Arthur, na verdade, não está lá muito interessado nela, já que considera (com razão) que seu currículo não é a melhor qualificação possível para o posto. Os cavaleiros interpretados por Djimon Hounsou e Aidan Gillen (o Littlefinger de Game of Thrones) discordam; acham que Arthur só precisa chegar no ponto. Cabe à maga interpretada pela catalã Astrid Bergès-Frisbey, portanto, dar uma força.

Rei Arthur – A Lenda da Espada

(Warner/Divulgação)

De acordo com Charlie Hunnam, Guy Ritchie tem um jeito extremamente elástico de trabalhar. Chega no set com o roteiro, daí tem uma ideia nova e faz diferente – o que, por consequência, resulta em mais uma penca de mudanças durante o dia de trabalho. Ser irrequieto, porém, não é a mesma coisa que ser dispersivo: desde que Ritchie reencontrou o prumo com Rock’n’Rolla, em 2008, seu trabalho ficou ao mesmo tempo mais concentrado e mais fervilhante. Ambas as qualidades transparecem em Rei Arthur. Bagunça qualquer um faz; já bagunça harmônica, que transita do soturno ao cômico e ao épico com fluência e sem dar tranco, isso não é para qualquer um. Quanto às muitqas liberdades que Ritchie toma com a lenda arturiana – bom, lenda é lenda, e liberdade ele toma com tudo mesmo (seus Sherlock Holmes, por exemplo, são tudo, menos canônicos). Às vezes a plateia entra na brincadeira, outras vezes não. Eu me diverti do começo ao fim. A plateia americana, pelo que mostram os números da bilheteria, nem tanto. E, por causa dela, é provável que Rei Arthur fique sem a continuação pela qual está implorando, e que eu mesma adoraria ver.


Isabela Boscov quarta, 17 de maio de 2017

O CIDADÃO ILUSTRE, FILME, COMENTÁRIO DE ISABELA BOSCOV

O Cidadão Ilustre

Um argentino que os cineastas brasileiros deveriam ver. (Por vários motivos.)

Daniel Mantovani (Oscar Martínez), prêmio Nobel de Literatura, diz que não fez outra coisa na vida se não fugir de Salas, a cidadezinha do interior da Argentina em que nasceu e onde viveu até o final da adolescência. Daniel odeia o provincianismo e a breguice de Salas, detesta sua mentalidade tacanha e acha que ela resume a pobreza de espírito das pessoas sem imaginação, horizontes nem aspirações. Daniel não deixa de ter razão. Ele é um homem lúcido, inteligente, que não cultiva ilusões e que sabe do que está falando. Ao mesmo tempo, em certo sentido ele deve a Salas seu êxito como escritor – em todos os romances que escreveu, ele explorou e decalcou sem dó os tipos da cidade. Depois de trinta anos sem pôr os pés em Salas, porém, Daniel dá meia-volta e, surpreendendo até a si mesmo, aceita o convite para se tornar “cidadão ilustre” do povoado. É recepcionado com honras: desfila no caminhão dos bombeiros, ganha um busto medonho na praça, preside o júri de um concurso de artes que nem é concurso (é avisado que beltrano e fulana têm que ganhar) nem muito menos tem qualquer arte. Daniel até tenta entrar no jogo, mas cede à franqueza. Como não disfarça seu desdém e fala o que pensa, rapidamente a coisa azeda e vai ficando agressiva; Salas, na verdade, odeia Daniel com a mesma intensidade com que Daniel odeia Salas.

O Cidadão Ilustre

(Cineart/Divulgação)

O Cidadão Ilustre é uma comédia quase perversa de tão cáustica (e fica só a um tiquinho de ser tão excelente quanto o acachapante O Homem ao Lado, da mesma dupla de diretores, Gastón Duprat e Mariano Cohn). Ninguém é poupado – nem Daniel em sua arrogância e vaidade, nem os salenses em sua mediocridade e mesquinharia; e todos são compreendidos em sua inescapável fraqueza humana. Na maior parte, a visita de Daniel se deve ao desejo de reafirmar para si mesmo sua superioridade intelectual, além de refrescar a memória sobre a sua grande fonte criativa. Da parte dos salenses, o convite se deve cem por cento à vontade de tirar uma casquinha do filho famoso, e pegar emprestados o lustro e a validação que ele representa. Todo mundo usa, ninguém acha que precisa pagar. Mas o filme não soletra esse raciocínio; ele o desdobra e alarga aos poucos, expondo esses vícios, camada por camada, em toda a complicação e a ambiguidade. O Cidadão Ilustre exige, enfim,  que a plateia corresponda ao seu senso de humor e à augdez da sua visão.

 

 
O Cidadão Ilustre

(Cineart/Divulgação)

E, no entanto, O Cidadão Ilustre foi o filme mais visto na Argentina no ano passado. Não dá para imaginar uma situação similar aqui; o Brasil virou uma espécie de Salas do cinema. A maioria da ficção cinematográfica nacional agora se divide entre comédias de uma vulgaridade que dói nos dentes, ou dramas de uma pretensão que faz mal ao fígado. Filmes que são craques na narrativa, envolventes de assistir e ainda dão uma chacoalhada na plateia e a provocam a rever o que pensa, como fez Tropa de Elite e como faz O Cidadão Ilustre, esses meio que caíram em desuso aqui. Parte do público prefere apostar na certeza do tipo de entretenimento a que a televisão a habituou; outra parte quer se autocongratular por sua superioridade intelectual, ideológica ou seja lá de que tipo for. E parece que todo mundo prefere evitar surpresas, desafios e qualquer tipo de contrariedade na sala de cinema.

O Cidadão Ilustre

(Cineart/Divulgação)

Um caso recente: o Cine PE, ou Festival do Recife, acaba de ter sua edição deste ano suspensa, ao menos provisoriamente, porque alguns dos cineastas que iriam participar retiraram seus filmes em represália à presença de produções “de direita” na seleção. Nem vou falar do quanto me parece bizarro que os filmes hoje venham com classificação partidária, e que diretores de um lado e de outro ainda simplifiquem o mundo em “direita” e “esquerda”. Mais bizarro ainda é que cineastas de uma filiação se recusem a conviver com cineastas de outra filiação em um festival, e que essas filiações sirvam como critério de repúdio a filmes que ainda nem foram vistos.

O Cidadão Ilustre

(Cineart/Divulgação)

Tanto faz se é “a” contra “b”, ou “b” contra “a”. O repúdio antecipado, venha do lado que vier, equivale a dizer que tanto faz se o filme é bom ou ruim; importa é a “correção” ideológica de quem o fez (e quero passar longe de gente que gosta de emitir esse tipo de atestado). Para isso serviria um festival, para que os filmes fossem vistos e avaliados pelo público, pelos críticos, pelos jurados, e enfrentassem o veredito livre deles. Mas, em uma atitude muito salense, alguns dos cineastas se ressentiram da presença indesejável em seu meio e a puseram para correr, assim como fazem os moradores de Salas com Daniel a certa altura de O Cidadão Ilustre. Com isso, os salenses sem querer proporcionam a Daniel material para mais um livro de sucesso. O escritor continua a usar a cidade que detesta, e esta continua a se fechar no seu provincianismo. Enquanto isso, aqui, o cinema continua a se comportar como um clube, e as comédias rasteiras continuam a vicejar na bilheteria.

 


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