Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Seresta e Seresteiros sábado, 27 de maio de 2023

DIA DO SERESTEIRO - 27 DE MAIO

DIA DO SERESTEIRO - 27 DE MAIO

Raimundo Floriano

 

 

 

Em homenagmem à data, repito aqui crônica que publiquei no dia 24 de dezembro de 2017.

CRÔNICA DE UMA SERESTA NATALINA BALSENSE

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Seresta e Seresteiros sábado, 13 de agosto de 2022

GILBERTO ALVES E A SERESTA
GILBERTO ALVES E A SERESTA

Raimundo Floriano

 

  

                        Gilberto Alves Martins nasceu no bairro da Saúde, no Rio de Janeiro (RJ), no dia 15.4.1915, e faleceu em Jacareí (SP), no dia 4.4.1992, aos 76 anos de idade.

 

                        Criado no subúrbio de Lins de Vasconcelos, aos 12 anos fugiu de casa com o irmão mais velho e arranjou emprego como carregador de marmitas, passando a viver desse serviço. Mais tarde, aprendeu o ofício de sapateiro, ao qual passou a dedicar-se por conta própria. Paralelamente, cursava o Secundário e iniciava-se no ambiente musical, participando serestas. Nessa época, conheceu Jacob do Bandolim, então garoto, que viria a ser seu grande amigo.

 

                        Aos 16 anos de idade, começou a frequentar os cabarés da Lapa e o Café Nice, travando conhecimento com Grande Otelo e Sílvio Caldas. Por volta de 1935, as serestas começaram a ser proibidas, e a Guarda Noturna dissolvia os grupos seresteiros que encontrava. Foi quando Gilberto conheceu Almirante que, depois de ouvi-lo cantar, o convidou para se apresentar na Rádio Clube do Brasil, onde ele começou a se apresentar, mas sem contrato, recebendo apenas pequeno cachê.

 

                        Passou, depois, a atuar na Rádio Guanabara, no programa de Luís Vassalo, para onde fora levado pelos compositores Christóvão de Alencar e Nássara, que conhecera numa seresta em Vila Isabel. Cantou também na Rádio Educadora, no programa dos Irmãos Batista – Marília e Henrique –, atuando paralelamente em outras emissoras.

 

                        Em 1938, aos 23 anos de idade, gravou seu primeiro disco, com os sambas Mulher, Toma Juízo, de Ataulfo Alves e Roberto Cunha, e Favela dos Meus Amores, de Roberto Cunha, pela Columbia. Conheceu, então, os compositores Roberto Martins e Mário Rossi, gravando seu segundo disco, com o samba Mãos Delicadas, dos dois, e a valsa Duas Sobras, de Roberto e Jorge Faraj. Daí em diante, gravou diversos sucessos da dupla Roberto Martins e Mário Rossi, entre os quais seu primeiro êxito em disco, a valsinha Trá-lá-lá, pela Odeon, em 1940. A seguir, vieram outros grandes sucessos, como Natureza Bela, samba de Felisberto Martins e Henrique Mesquita, em 1941, a marchinha Cecília, de dupla Martins e Rossi, e o foxe Adeus, dos mesmos autores, ambos em 1944.

 

                        Ainda em 1944, gravou os foxes Despedida, de Tito Ramos, e Algum Dia Te Direi, de Christóvão de Alencar e Felisberto Martins. Em 1948, deixou a Odeon e assinou contrato com a RCA Victor, gravando o samba Rosa Maria, de Aníbal Silva Éden Silva, um dos grandes sucessos do Carnaval daquele ano, passando a trabalhar também na Rádio Nacional.

 

                        Em 1949, casou-se com Jurema Cardoso. Em 1950, transferiu-se para a Rádio Tupi, onde permaneceu até 1970, quando se aposentou.

 

                        Sua vitoriosa carreira amealhou sucessos como os sambas Pombo Correio, de Benedito Lacerda e Darcy de Oliveira, Recordar É Viver, de Aldacir Louro e Aluísio Martins, De Lanterna na Mão, de Elzo Augusto e J. Saccomani, Abre a Janela, de Arlindo Marques Jr. e Roberto Roberti, Isaura, de Herivelto Martins e Roberto Roberti, Chorar Pra Quê?, de Pereira Matos e Oldemar Magalhães, e Jorge Martins, Graças a Deus, de Roberto Martins e Oswaldo Santiago, O Trem Atrasou, de Artur Vilarinho, Estanislau Silva e Paquito, Recordar, de Aldacir Louro, Aluísio Marins e Adolfo Macedo, Rosa Maria, de Aníbal Silva e Éden Silva, Última Chance, de Roberto Martins e Mário Rossi, e as marchinhas A Jardineira, de Benedito Lacerda e Humberto Porto, Aurora, de Mario Lago e Roberto Roberti, e Carolina, de Hervê Cordovil e Bonfiglio de Oliveira, além dos já citados.

 

                        Sua discografia é bem extensa, registrando 199 títulos e englobando todos os ritmos da MPB. Em meu acervo, possuo, só nos gêneros marchinha e samba carnavalesco, 109 faixas por ele gravadas. A seguir, capas de alguns de seus álbuns:

  

                        Seus LPs são encontráveis com facilidade nos sebos virtuais. Ele morreu numa época em que o CD era a moda, por isso, em vida, não conheceu essa fase tão lucrativa do comércio fonográfico. A Editora Revivendo, maior preservadora da Discografia Brasileira, conserva em seu catálogo diversas coletâneas de Carnaval, nas quais Gilberto é um dos principais intérpretes, além de vários títulos individuais.

 

                        Mesmo depois de aposentado, continuou ele atuando em várias emissoras de rádio e televisão, assim como em casas de shows e em espetáculos montados com a Velha Guarda da Música Popular Brasileira.

 

                        Seus últimos anos de vida foram passados em cidades do Interior Paulista, primeiro em Cesário Lange e, mais tarde, em Jacareí, onde veio a falecer.

 

 

                        Em 1941, quando se falava na Segunda Guerra Mundial, que estourara na Europa, ficaram comuns os sambas-exaltação, que nós, as crianças balsenses, aprendíamos e cantávamos com grande fervor, como Natureza Bela, de Felisberto Martins e Henrique Mesquita, com que Gilberto Alves nos maravilhou.

 

                        Na segunda metade de 1945, acabada a Guerra, passou lá por Balsas uma trupe de comediantes, que se apresentou no Salão da Prefeitura. Havia dois palhaços, o Zé Gaiola e o Picolé, cujas paródias, todas picantes, iniciaram a formação de meu repertório circense. Também havia uma exuberante e linda sambista, a Marquise Negra que, cantando e requebrando, nos mostrou pela primeira vez o samba Última Chance, de Roberto Martins e Mário Rossi, gravado por Gilberto Alves no começo do ano, o qual se incorporou ao acervo dos sambas que canto até hoje. Detalhe hilário era quando Marquise Negra cantava “tens o corpo marcado, e eu sei o motivo” e apontava para algum homem casado e raparigueiro da cidade, fazendo a plateia cair na gargalhada. Vamos ouvi-lo:

 

                        Esse e mais 14 faixas serão mostradas agora, para que vocês tenham ideia de seu imenso repertório seresteiro.

 

                        Mulher, Toma Juízo, samba de Ataulfo Alves e Roberto Cunha, de 1938:

 

                        Favela dos Meus Amores, samba de Roberto Cunha, de 1938:

 

                        Mãos Delicadas, samba de Roberto Martins e Mário Rossi, de 1938:

 

                        Duas Sombras, valsa de, Roberto Melo e Jorge Faraj, de 1938:

 

                        Natureza Bela, samba de Felisberto Martins Henrique Mesquita, 1941:

 

                        Adeus, foxe de Felisberto Martins e Mário Rossi, de 1944:

 

                        Algum Dia Te Direi, foxe de Christóvão e Alencar e Felisberto Martins, de 1944:

 

                        Rosa Maria, samba de Aníbal e Éden Silva, de 1948:

 

                        Última Chance, samba de Roberto Martins e Mário Rossi, de 1945:

 

                        Uma Grande Dor Não Se Esquece, valsa de Ernani Campos e Antenógenes Silva - 1940:

 

                        Gosto Que Me Enrosco, maxixe de Sinhô, composto em 1929:

 

                        Fascinação, valsa de F. D. Marchetti e Mário Rossi, de 1958:

 

                        Santa Terezinha, valsa de Antenógenes Silva, de 1943:

 

                        Se Amar É Pecado, samba de Raymundo Olavo e Silva Júnior, de 1950:

 

                        Pombo Correio, samba de Benedito Lacerda e Darcy de Oliveira, de 1943:

 


Seresta e Seresteiros sábado, 23 de julho de 2022

FRANCISCO PETRÔNIO - BAILE DA SAUDADE
FRANCISCO PETRÔNIO - BAILE DA SAUDADE

Raimundo Floriano

 

 

                        Este inesquecível ídolo de nosso cancioneiro dedicou toda sua vida artística a enternecer os corações românticos das gerações que o conheceram.

 

                        Francisco Petrônio, nome artístico de Francisco Petrone, cantor e compositor brasileiro, filho de imigrantes italianos, nasceu no Bairro do Bexiga, em São Paulo (SP), a 8 de novembro de 1923, onde veio a falecer, a 19 de janeiro de 2007, com 83 anos de idade.

 

                        Cantava desde a infância, e costumava contar: "Quando eu era criança, meu pai chamava amigos e companheiros e me colocava sobre uma cadeira para que eu cantasse. Ser cantor era um sonho de criança que, apenas em 1961, se tornou realidade. Eu era taxista e costumava cantar enquanto dirigia. Numa dessas corridas um passageiro e cantor chamado Nerino Silva gostou de minha voz e me levou para fazer um teste na TV Tupi. Cantei, e o Cassiano Gabus Mendes que, na época, era diretor artístico da emissora, gostou de minha voz e me contratou para a Rádio e a TV Tupi".

 

                        Em 1964, gravou a valsa Baile da Saudade, de Palmeira e Zairo Marinozo, que marcou sua carreira e bateu recordes de vendas. Na televisão, em 1966, criou o programa Baile da Saudade, apresentado na TV Paulista, aproveitando a boa receptividade da música que levava o mesmo nome. Posteriormente, passou por várias emissoras brasileiras, como TV Band, TV Gazeta, com o programa Trasmontano em Família, TV Cultura, com Festa Baile, TV Record, com O Grande Baile e Rede Vida com Cantando com Francisco Petrônio.

 

                        Conhecido também como o Rei do Baile da Saudade, Francisco Petrônio passou a realizar shows e Bailes da Saudade por todo o Brasil. Certa ocasião, declarou: "Continuo fazendo o que melhor sei fazer, ou seja, cantar. Até quando, não sei, Deus é quem dirá. A única certeza que tenho é de que estou aqui de passagem e preciso entoar meu cântico aos que gostam de me ouvir cantar.

 

                        Em 46 anos de carreira, gravou cerca de 750 músicas e teve lançados 55 discos e CDs, entre gravações solo, participações especiais e regravações.

 

                        Casado com Rosa Petrone, teve três filhos, José, Armando e Francisco Jr., e seis netos, Alessandro, Leandro, Thiago, Juliana, Camila e Rafaela.

 

                        Está sepultado no Cemitério do Araçá.

                       

                        Para mostrar-lhes um pouco de seu repertório seresteiro, escolhi 6 faixas, extraídas deste magnífico CD, adiante relacionadas:

 

 

                        O Baile da Saudade, valsa de Palmeira e Zairo Marinozo:

 

                        Rapaziada do Braz, valsa de Alberto Marino:

 

                        Rosa, valsa de Pixinguinha:

 

                        Branca, valsa de Zequinha de Abreu e Duque de Abrante:

 

                        Bodas de Prata, valsa de Roberto Martins e Mário Rossi:

 

                        Eu Sonhei Que Tu Estavas Tão Linda, valsa de Lamartine Babo e Francisco Matoso:

 


Seresta e Seresteiros sexta, 13 de maio de 2022

CARLOS ALBERTO, UM ÍDOLO SERESTEIRO
CARLOS ALBERTO, UM ÍDOLO SERESTEIRO

Raimundo Floriano

 

 

                        Nuno Soares, o Carlos Alberto, violonista, cantor e compositor brasileiro, nasceu em data e local incertos e não sabidos, residindo hoje na cidade mineira de Astolfo Dutra.

 

                        Os dados aqui registrados foram colhidos do Orkut e do Dicionário Cravo Albin da MPB, site virtual que pouco diz de exato sobre sua biografia, contendo apenas informações genéricas.

 

                         Consultei o Carlos Alberto no Orkut, onde aparece como Nuno Soares, e enviei-lhe um e-mail – com endereço virtual a mim fornecido pela pesquisadora Patrícia Rodrigues, do Rio de Janeiro –, mas não obtive retorno para minhas indagações.

 

                        E sabem o motivo de minha insistência no propósito de retratá-lo aqui? É porque sou fã do cara, admiro-o desde que o ouvi pela primeira vez interpretando seus sambas-canções e boleros, com os quais enriqueci meu repertório seresteiro. Curto o Carlos Alberto pra caramba! Vou contar só um fato para lhes demonstrar o quanto suas canções tiveram seu papel em minha outrora vida boêmia.

 

                        Em meados dos Anos 1970, voltava eu em meu fusquinha, certa madrugada, duma pescaria ginecofágica em Goiânia, na qual nem piranha conseguira fisgar. Ao passar por Alexânia, distante 95 quilômetros de Brasília, vi um grupo de rapazes da cidade saindo do Bar Displan, point do pedaço, carregando um violão. Acerquei-me deles, que me informaram estarem indo para uma serenata. Perguntei-lhes se poderia ir junto, e eles concordaram. Ao chegarmos à janela da primeira garota, um ficou olhando para a cara do outro, sem começar a cantoria. Foi aí que eu descobri que nenhum deles sabia tocar violão. Pedi-lhes o instrumento e solicitei que alguém cantasse, para que eu o acompanhasse. Ninguém sabia! Então, eu caprichei, enfileirando os maiores sucessos de Carlos Alberto, o que deixou a todos maravilhados, tanto a rapaziada, quanto as mocinhas objeto da seresta. Resultado: ao sair de lá, deixei um namoro engrenado!

 

                        Aliás, muito tempo antes disso, o ritmo dos boleros de Carlos Alberto já vinha embalando nossos romances, na época em que se dançava agarradinho, rostos colados, face com face, cheek to cheek, como nos ensinaram os geniais e inesquecíveis Fred Astaire e Ginger Rogers.

 

                        Retomando o fio da meada, vamos ao que interessa. Vejamos o que consegui no Orkut e no Cravo Albin.

 

                        Pianista de formação, um de seus primeiros sucessos, Sabe Deus, bolero de Alvaro Carrilo e Nely B. Pinto, foi gravado em 1963. Ao longo de sua carreira, sua discografia chega perto dos 50 trabalhos. Possui uma série de premiações conquistadas em programas de rádio e televisão, como os troféus Discoteca do Chacrinha e Chico Viola. Os prêmios são testemunhas de sua dedicação à MPB. Considerado por muitos o Rei do Bolero, na década de 1960, é apontado como o cantor que mais gravou boleros no Brasil.

 

                        Estes seus dois CDs encontram-se à venda em sites comerciais:

 

 

                        E estes dois, em sebos virtuais:

 

 

                        Carlos Alberto canta e encanta a todos por onde passa, levando muito amor e emoção com suas lindas melodias, sendo um dos recordistas de venda da gravadora CBS. Entre seus maiores sucessos podemos destacar Aquece-me Esta Noite, bolero de Roberto Cantoral e Mário Rossi; Ansiedade, bolero de Mário Alvarez e Clóvis Melo; Mano a Mano, tango de Carlos Gardel e José Razzano; No Rancho Fundo, samba-canção de Ary Barroso e Lamartine Babo; Risque, samba-canção de Ary Barroso; Ronda, samba-canção de Paulo Vanzolini; Infidelidade, samba-canção de Ataulfo Alves e Américo Seixas.

 

                        Suas músicas ficaram nas paradas musicais durante muito tempo nos Anos 1960/1980, permanecendo aproximadamente dois anos – 1975 e 1976 – em primeiro lugar no Programa Globo de Ouro da Rede Globo.

 

                        Carlos Alberto continua a apresentar-se por todo o Brasil, e seus últimos espetáculos no Recife, em São José dos Campos e no Rio de Janeiro contaram com casa lotada.

 

                        O samba-canção Violões em Funeral, composição de Silvio Caldas e Sebastião Fonseca, com poema originalmente feito para a Missa de Sétimo Dia de Noel Rosa e gravado por Silvio em 1951, tem, a meu modo de ver, em Carlos Alberto seu melhor intérprete. Por isso, o escolhi para que vocês conheçam ou relembrem um pouquinho de seu trabalho. Vamos ouvi-lo:

 

 

                        A seguir, outros sucessos desse grande seresteiro.

 

 

                        No Rancho Fundo, samba-canção de Ary Barroso e Lamartine Babo:

 

                        A Deusa da Minha Rua, valsa de Newton Teixeira e Jorge Faraj:

 

 

                        Professora, Samba de Benedito Lacerda e Jorge Faraj:

 

 

                        Amendoim Torradinho, samba-canção de Henrique Beltrão:

 

 


Seresta e Seresteiros sábado, 30 de maio de 2020

DIA DO SERESTEIRO - 27 DE MAIO!

Em homenagmem à data, repito aqui crônica que publiquei no dia 24 de dezembro de 2017.

CRÔNICA DE UMA SERESTA NATALINA BALSENSE

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Seresta e Seresteiros domingo, 03 de junho de 2018

VIOLÕES EM FUNERAL (HOMENAGEM A NOEL ROSA), SERESTA, COM CARLOS ALBERTO


Seresta e Seresteiros sábado, 02 de junho de 2018

NO RANCHO FUNDO, SERESTA, COM CARLOS ALBERTO


Seresta e Seresteiros sexta, 01 de junho de 2018

SERTANEJA, CANÇÃO, COM LULA BARBOSA, NO SR. BRASIL


Seresta e Seresteiros quinta, 31 de maio de 2018

AVOANTE, TOADA, COM IRAH CALDEIRA E SANTANA, O CANTADOR


Seresta e Seresteiros quarta, 30 de maio de 2018

RANCHO DA SERRA, TOADA, COM ROLANDO BOLDRIN E PERY RIBEIRO


Seresta e Seresteiros segunda, 28 de maio de 2018

POR FORÇA DO HÁBITO, SERESTA, COM LUIZ ALFREDO XAVIER, NO SR. BRASIL


Seresta e Seresteiros domingo, 27 de agosto de 2017

FASCINAÇÃO, VALSA, COM CARLOS GALHARDO E ROBERTO CARLOS

Gentileza do leitor Antonio Estevam Neiva:


Seresta e Seresteiros segunda, 23 de janeiro de 2017

QUEM SABE?, CANÇÃO, COM FRANCISCO PETRÔNIO E DILERMANDO REIS

Quem Sabe? - Canção de Carlos Gomes e Bittencourt Sampaio:

 

 


Seresta e Seresteiros quinta, 03 de novembro de 2016

GILBERTO ALVES E A SERESTA

GILBERTO ALVES E A SERESTA

Raimundo Floriano

  

                        Gilberto Alves Martins nasceu no bairro da Saúde, no Rio de Janeiro (RJ), no dia 15.4.1915, e faleceu em Jacareí (SP), no dia 4.4.1992, aos 76 anos de idade.

 

                        Criado no subúrbio de Lins de Vasconcelos, aos 12 anos fugiu de casa com o irmão mais velho e arranjou emprego como carregador de marmitas, passando a viver desse serviço. Mais tarde, aprendeu o ofício de sapateiro, ao qual passou a dedicar-se por conta própria. Paralelamente, cursava o Secundário e iniciava-se no ambiente musical, participando serestas. Nessa época, conheceu Jacob do Bandolim, então garoto, que viria a ser seu grande amigo.

 

                        Aos 16 anos de idade, começou a frequentar os cabarés da Lapa e o Café Nice, travando conhecimento com Grande Otelo e Sílvio Caldas. Por volta de 1935, as serestas começaram a ser proibidas, e a Guarda Noturna dissolvia os grupos seresteiros que encontrava. Foi quando Gilberto conheceu Almirante que, depois de ouvi-lo cantar, o convidou para se apresentar na Rádio Clube do Brasil, onde ele começou a se apresentar, mas sem contrato, recebendo apenas pequeno cachê.

 

                        Passou, depois, a atuar na Rádio Guanabara, no programa de Luís Vassalo, para onde fora levado pelos compositores Christóvão de Alencar e Nássara, que conhecera numa seresta em Vila Isabel. Cantou também na Rádio Educadora, no programa dos Irmãos Batista – Marília e Henrique –, atuando paralelamente em outras emissoras.

 

                        Em 1938, aos 23 anos de idade, gravou seu primeiro disco, com os sambas Mulher, Toma Juízo, de Ataulfo Alves e Roberto Cunha, e Favela dos Meus Amores, de Roberto Cunha, pela Columbia. Conheceu, então, os compositores Roberto Martins e Mário Rossi, gravando seu segundo disco, com o samba Mãos Delicadas, dos dois, e a valsa Duas Sobras, de Roberto e Jorge Faraj. Daí em diante, gravou diversos sucessos da dupla Roberto Martins e Mário Rossi, entre os quais seu primeiro êxito em disco, a valsinha Trá-lá-lá, pela Odeon, em 1940. A seguir, vieram outros grandes sucessos, como Natureza Bela, samba de Felisberto Martins e Henrique Mesquita, em 1941, a marchinha Cecília, de dupla Martins e Rossi, e o foxe Adeus, dos mesmos autores, ambos em 1944.

 

                        Ainda em 1944, gravou os foxes Despedida, de Tito Ramos, e Algum Dia Te Direi, de Christóvão de Alencar e Felisberto Martins. Em 1948, deixou a Odeon e assinou contrato com a RCA Victor, gravando o samba Rosa Maria, de Aníbal Silva Éden Silva, um dos grandes sucessos do Carnaval daquele ano, passando a trabalhar também na Rádio Nacional.

 

                        Em 1949, casou-se com Jurema Cardoso. Em 1950, transferiu-se para a Rádio Tupi, onde permaneceu até 1970, quando se aposentou.

 

                        Sua vitoriosa carreira amealhou sucessos como os sambas Pombo Correio, de Benedito Lacerda e Darcy de Oliveira, Recordar É Viver, de Aldacir Louro e Aluísio Martins, De Lanterna na Mão, de Elzo Augusto e J. Saccomani, Abre a Janela, de Arlindo Marques Jr. e Roberto Roberti, Isaura, de Herivelto Martins e Roberto Roberti, Chorar Pra Quê?, de Pereira Matos e Oldemar Magalhães, e Jorge Martins, Graças a Deus, de Roberto Martins e Oswaldo Santiago, O Trem Atrasou, de Artur Vilarinho, Estanislau Silva e Paquito, Recordar, de Aldacir Louro, Aluísio Marins e Adolfo Macedo, Rosa Maria, de Aníbal Silva e Éden Silva, Última Chance, de Roberto Martins e Mário Rossi, e as marchinhas A Jardineira, de Benedito Lacerda e Humberto Porto, Aurora, de Mario Lago e Roberto Roberti, e Carolina, de Hervê Cordovil e Bonfiglio de Oliveira, além dos já citados.

 

                        Sua discografia é bem extensa, registrando 199 títulos e englobando todos os ritmos da MPB. Em meu acervo, possuo, só nos gêneros marchinha e samba carnavalesco, 109 faixas por ele gravadas. A seguir, capas de alguns de seus álbuns:

  

                        Seus LPs são encontráveis com facilidade nos sebos virtuais. Ele morreu numa época em que o CD era a moda, por isso, em vida, não conheceu essa fase tão lucrativa do comércio fonográfico. A Editora Revivendo, maior preservadora da Discografia Brasileira, conserva em seu catálogo diversas coletâneas de Carnaval, nas quais Gilberto é um dos principais intérpretes, além de vários títulos individuais.

 

                        Mesmo depois de aposentado, continuou ele atuando em várias emissoras de rádio e televisão, assim como em casas de shows e em espetáculos montados com a Velha Guarda da Música Popular Brasileira.

 

                        Seus últimos anos de vida foram passados em cidades do Interior Paulista, primeiro em Cesário Lange e, mais tarde, em Jacareí, onde veio a falecer.

 

 

                        Em 1941, quando se falava na Segunda Guerra Mundial, que estourara na Europa, ficaram comuns os sambas-exaltação, que nós, as crianças balsenses, aprendíamos e cantávamos com grande fervor, como Natureza Bela, de Felisberto Martins e Henrique Mesquita, com que Gilberto Alves nos maravilhou.

 

                        Na segunda metade de 1945, acabada a Guerra, passou lá por Balsas uma trupe de comediantes, que se apresentou no Salão da Prefeitura. Havia dois palhaços, o Zé Gaiola e o Picolé, cujas paródias, todas picantes, iniciaram a formação de meu repertório circense. Também havia uma exuberante e linda sambista, a Marquise Negra que, cantando e requebrando, nos mostrou pela primeira vez o samba Última Chance, de Roberto Martins e Mário Rossi, gravado por Gilberto Alves no começo do ano, o qual se incorporou ao acervo dos sambas que canto até hoje. Detalhe hilário era quando Marquise Negra cantava “tens o corpo marcado, e eu sei o motivo” e apontava para algum homem casado e raparigueiro da cidade, fazendo a plateia cair na gargalhada. Vamos ouvi-lo:

 

                        Esse e mais 14 faixas serão mostradas agora, para que vocês tenham ideia de seu imenso repertório seresteiro.

 

                        Mulher, Toma Juízo, samba de Ataulfo Alves e Roberto Cunha, de 1938:

 

                        Favela dos Meus Amores, samba de Roberto Cunha, de 1938:

 

                        Mãos Delicadas, samba de Roberto Martins e Mário Rossi, de 1938:

 

                        Duas Sombras, valsa de, Roberto Melo e Jorge Faraj, de 1938:

 

                        Natureza Bela, samba de Felisberto Martins Henrique Mesquita, 1941:

 

                        Adeus, foxe de Felisberto Martins e Mário Rossi, de 1944:

 

                        Algum Dia Te Direi, foxe de Christóvão e Alencar e Felisberto Martins, de 1944:

 

                        Rosa Maria, samba de Aníbal e Éden Silva, de 1948:

 

                        Última Chance, samba de Roberto Martins e Mário Rossi, de 1945:

 

                        Uma Grande Dor Não Se Esquece, valsa de Ernani Campos e Antenógenes Silva - 1940:

 

                        Gosto Que Me Enrosco, maxixe de Sinhô, composto em 1929:

 

                        Fascinação, valsa de F. D. Marchetti e Mário Rossi, de 1958:

 

                        Santa Terezinha, valsa de Antenógenes Silva, de 1943:

 

                        Se Amar É Pecado, samba de Raymundo Olavo e Silva Júnior, de 1950:

 

                        Pombo Correio, samba de Benedito Lacerda e Darcy de Oliveira, de 1943:

 


Seresta e Seresteiros sexta, 28 de outubro de 2016

FRANCISCO PETRÔNIO - BAILE DA SAUDADE

FRANCISCO PETRÔNIO - BAILE DA SAUDADE

Raimundo Floriano

 

 

                        Este inesquecível ídolo de nosso cancioneiro dedicou toda sua vida artística a enternecer os corações românticos das gerações que o conheceram.

 

                        Francisco Petrônio, nome artístico de Francisco Petrone, cantor e compositor brasileiro, filho de imigrantes italianos, nasceu no Bairro do Bexiga, em São Paulo (SP), a 8 de novembro de 1923, onde veio a falecer, a 19 de janeiro de 2007, com 83 anos de idade.

 

                        Cantava desde a infância, e costumava contar: "Quando eu era criança, meu pai chamava amigos e companheiros e me colocava sobre uma cadeira para que eu cantasse. Ser cantor era um sonho de criança que, apenas em 1961, se tornou realidade. Eu era taxista e costumava cantar enquanto dirigia. Numa dessas corridas um passageiro e cantor chamado Nerino Silva gostou de minha voz e me levou para fazer um teste na TV Tupi. Cantei, e o Cassiano Gabus Mendes que, na época, era diretor artístico da emissora, gostou de minha voz e me contratou para a Rádio e a TV Tupi".

 

                        Em 1964, gravou a valsa Baile da Saudade, de Palmeira e Zairo Marinozo, que marcou sua carreira e bateu recordes de vendas. Na televisão, em 1966, criou o programa Baile da Saudade, apresentado na TV Paulista, aproveitando a boa receptividade da música que levava o mesmo nome. Posteriormente, passou por várias emissoras brasileiras, como TV Band, TV Gazeta, com o programa Trasmontano em Família, TV Cultura, com Festa Baile, TV Record, com O Grande Baile e Rede Vida com Cantando com Francisco Petrônio.

 

                        Conhecido também como o Rei do Baile da Saudade, Francisco Petrônio passou a realizar shows e Bailes da Saudade por todo o Brasil. Certa ocasião, declarou: "Continuo fazendo o que melhor sei fazer, ou seja, cantar. Até quando, não sei, Deus é quem dirá. A única certeza que tenho é de que estou aqui de passagem e preciso entoar meu cântico aos que gostam de me ouvir cantar.

 

                        Em 46 anos de carreira, gravou cerca de 750 músicas e teve lançados 55 discos e CDs, entre gravações solo, participações especiais e regravações.

 

                        Casado com Rosa Petrone, teve três filhos, José, Armando e Francisco Jr., e seis netos, Alessandro, Leandro, Thiago, Juliana, Camila e Rafaela.

 

                        Está sepultado no Cemitério do Araçá.

                       

                        Para mostrar-lhes um pouco de seu repertório seresteiro, escolhi 6 faixas, extraídas deste magnífico CD, adiante relacionadas:

 

 

                        O Baile da Saudade, valsa de Palmeira e Zairo Marinozo:

 

                        Rapaziada do Braz, valsa de Alberto Marino:

 

                        Rosa, valsa de Pixinguinha:

 

                        Branca, valsa de Zequinha de Abreu e Duque de Abrante:

 

                        Bodas de Prata, valsa de Roberto Martins e Mário Rossi:

 

                        Eu Sonhei Que Tu Estavas Tão Linda, valsa de Lamartine Babo e Francisco Matoso:

 


Seresta e Seresteiros quinta, 06 de outubro de 2016

SERESTA NATALINA BALSENSE

SERESTA NATALINA BALSENSE

Raimundo Floriano

 

Figura meramente ilustrativa

 

                        Aconteceu há exatos 53 anos, noite de 23 para 24 de dezembro de 1960, sexta-feira, antevéspera do Natal.

 

                        Numa cidade em que não havia televisão, e a iluminação pública apagava por volta das 22 horas, a opção noturna para o encontro da mocidade em férias se resumia nas festas dançantes que realizávamos no Clube Recreativo Balsense ou em alguma casa de família, com iluminação a petromax e música a cargo do conjunto de Martinho Mendes. A cota arrecadada entre os rapazes cobria todas as despesas.

 

                        Estávamos radiantes com a festa que realizaríamos no clube naquela noite, quando recebemos um balde de água fria: o bispo da Prelazia, Dom Diogo Parodi, proibira qualquer dança no período natalino, por ser uma época de recolhimento e orações, como afirmava. E não houve jeito de contornar o assunto. A presidência do clube caçou-nos a licença já concedida, o Martinho tirou o corpo fora, e nenhuma casa da família se atreveu a contrariar a ordem episcopal. Diante do impasse, resolvemos partir para uma serenata.

 

                        Marcamos o ponto de reunião no coreto – hoje inexistente – da Praça da Matriz – e, enquanto aguardávamos a lua sair e a chegada dos seresteiros, demos início ao consumo de bebidas quentes – licor Perobina, cachaça Jararaca, conhaque São João de Barra, Martini, quinado Cinzano e rum Bacardi –, ao mesmo tempo em que entoávamos cantigas em altos decibéis, para acordar o pessoal da Casa Paroquial, verdadeira pirraça em desagravo.

 

                        Um dos seresteiros era o preto velho Fuçura, guarda municipal e vigia dos jardins da praça. Dávamo-lhe boas doses de pinga e mandávamos que ele gritasse bem alto DOM DIOGO!, porém ele, respeitoso por demais, repetia: PÃO DE OURO! Outro companheiro a chegar foi o Thucydides Miranda, filho da Jeruza, entrado na adolescência, mas todo metido a rapaz. Ele e o Fuçura ficaram responsáveis pelo transporte das garrafas sobressalentes – as cheias, evidentemente.

 

                        Pela meia-noite, a trupe estava completa: José Bernardino, Gonzaguinha, Antônio Pires, Pinto Pires, Cazuzinha, Luiz Pires, Aluisio Soares, Raimundo Chaves, José Coutinho, Angelino, Barbosa, Raimundo Solino, Arenaldo, Otaviano do Zé do Joca, Nonato do Souzinha, Moacir Coelho, Mestre Rubens, Pedro Correia e João Batista, seu irmão, Nonato Cacete, Luizão, Pedro Nilo, Fonsequinha, Ronaldo, Moizemar, João Emigdio, Zé Farias, que chegara de Brasília em teco-teco fretado, além mim no violão, meu irmão Afonso Celso na sanfona, Possidônio da flauta e Régis, novo morador balsense, no cavaquinho.

 

                        A casa escolhida para início da jornada foi a de Seu Araripe, na Rua Isaac Martins, por motivos óbvios: grande concentração de moças bonitas e dos sonhos de alguns. O próprio Araripe veio à porta, ofereceu-nos bebidas e, após nossos cânticos, ele e seu filho José, o Sampaio, incorporaram-se ao cortejo.

 

(É oportuno relembrar que a residência de Seu Araripe e Dona Tercília, sua mulher, era o ponto de reunião da juventude balsense em férias. Dançava-se à luz de candeeiros ou lamparinas, ao som dum rádio de pilha – foi ali que aprendi a dançar. Em noites de claridade lunar, dispunham-se, no terreiro em frente, num grande círculo, cadeiras arrecadadas na casa e na vizinhança, onde se realizavam diversas brincadeiras sertanejas, como a do anel, a da berlinda e a do amigo secreto, sempre sob a direção das filhas daquele querido e simpático casal cearense. Uma delas, por sinal, recém-nascida em 1960, participou, 18 anos mais tarde, do concurso Miss Brasil, representando o Estado do Ceará).

 

                        A seguir, cantamos na porta de Marica Rocha, Salomão Ahuad, Moisés Coelho, Chico Florentino, Doutor Gonzaga, Augusto Pires, Absalão da Maroca e, por solicitação de Seu Araripe, na de Dionel Souza, do Banco da Amazônia, grande cantor de modinhas, o qual também a nós se juntou. Seu ponto forte era a valsa Uma Grande Dor Não Se Esquece, de Ernani Campos e Antenógenes Silva, gravação de Carlos José e Gilberto Alves, que ele entoou uma porção de vezes durante o percurso, atendendo a pedidos:

 

Choro a lágrima fremente

O pranto cruciante

Que rola internamente

Choro a lágrima sentida

A lágrima dorida

Que verte o coração

Sinto o espinho da saudade

E sofro a realidade

Da grande ingratidão

E na imensidão da dor

Eu sofro só o meu amor

 

Menestrel apaixonado

Eu vivo desolado

Chorando a minha dor

Choro a lágrima dorida

A lágrima sentida

Que sai do coração

Sinto a dor que mora n'alma

A dor que não se acalma

A dor que eu não esqueço

Sofro, eu sofro e não mereço

A dura ingratidão

Que me devora o coração

 

                        Continuando a seresta, paramos na porta do Coronel Fonseca, Pedro Inácio, Odilon Botelho, Jocy Barbosa, Luiz Fonseca e Theodorico Fernandes, onde topamos com o Antônio José da Úrsula, munido de uma radiola a pilha, em seresta particular, com discos em que dominavam os nomes de Lindomar Castilhos, Agnaldo Timóteo e Waldick Soriano. Deixamo-lo no local, curtindo uma grande paixão, e seguimos até a próxima casa, a de Seu Silvério Sampaio, onde seus filhos Antônio e Edésio se juntaram ao corso.

 

                        Dali, seguimos para a casa de Dona Nemézia Pereira, que veio nos receber, abriu sua mercearia e nos abasteceu de bebidas quentes, cujo estoque estava quase a zero.

 

                        Nesse momento, baixou em Dionel a personalidade do Cabo Didi, ao qual passamos a obedecer, principalmente no que tangia ao consumo das quentes. Quando ele achava que era chegado o momento apropriado, cada um pegava sua garrafa e executava estas ordens sob seu comando:

 

                        – Atenção!

                        – Preparar! – Todos segurávamos a garrafa pelo gargalo.

                        – Apontar! – Encostávamos a boca garrafa nos lábios.

                        – Fogo! – Nem preciso dizer.

 

                        Da porta de Dona Nemézia, fomos até a de Dona Belinha Coelho, que nos serviu tira-gostos de queijo e cujo marido, Tenente Pedro Segundo, também se juntou a nós. Mas antes, a pedido de Dona Belinha, cantamos a toada Luar do Sertão, melodia de João Pernambuco e letra do maranhense Catulo da Paixão Cearense, a música mais repetida naquela noite.

 

Noite enluarada no sertão brasileiro

 

                        Apenas quem mora em locais onde não há iluminação elétrica é que pode avaliar a beleza duma noite enluarada. E foi nessa pureza sem poluição tecnológica que Catulo se inspirou para fazer sua mais bela poesia. Luar do Sertão é o Hino da Seresta Maranhense. Eis a parte mais conhecida:

 

Oh, que saudade do luar da minha terra

Lá na serra branquejando, folhas secas pelo chão

Este luar cá da cidade tão escuro

Não tem aquela saudade do luar lá do sertão

 

Não há, oh gente, oh não,

Luar como este do sertão!

Não há, oh gente, oh não,

Luar como este do sertão!

 

Se a lua nasce por detrás da verde mata

Mais parece um sol de prata prateando a solidão

A gente pega na viola que ponteia

E a canção é a lua cheia a nos nascer no coração

 

Não há, oh gente, oh não,

Luar como este do sertão!

Não há, oh gente, oh não,

Luar como este do sertão!

 

Coisa mais bela neste mundo não existe

Do que ouvir-se um galo triste, no sertão, se faz luar

Parece até que a alma da lua é que descanta

Escondida na garganta desse galo a soluçar

 

Não há, oh gente, oh não,

Luar como este do sertão!

Não há, oh gente, oh não,

Luar como este do sertão!

 

Ai, quem me dera que eu morresse lá na serra

Abraçado à minha terra e dormindo de uma vez

Ser enterrado numa grota pequenina

Onde à tarde a sururina chora a sua viuvez

 

                        Faziam parte de nosso repertório Noite Cheias de Estrelas, de Cândido das Neves, A Volta do Boêmio, de Adelino Moreira, Chão de Estrelas, de Orestes Barbosa e Sílvio Caldas, Noite Feliz, de Franz Gruber, versão brasileira Mário Zan e Arlindo Pinto, Boas Festas, de Assis Valente, e outras canções no gênero consagradas.

 

                        Altas horas, próximo à porta de Justiniano Fonseca, onde íamos cantar, deparamos com o negro De Pau – assim era conhecido –, deitado numa calçada, dormindo de roncar e agarrado a seu violão, nessas alturas só com duas cordas. Era a terceira serenata daquela noite que, para o negão, se acabava ali.

 

                        Na mercearia de Zé Dué, reabastecemos o estoque de quentes.

 

                        Demais casas em cujas portas cantamos: Joaquim Coelho, Joca Rêgo, Tarcísio Moreira, Lourdes Pires, Constâncio Coelho, Omar Ribeiro, Salvador Coelho, Chico Valentim, Zefinha e Miriam Rocha, Rafael Sabonete, Antônio Sepúlveda, Luzia Félix, Parsondas Coelho, Emília Câmara, Santo Coelho, Edna Pires, Gesner Soares, Didácio Santos, Dolores Lima, Ritinha Pereira, Evísio Botelho, Iaiá Gomes, Naninha Bezerra, Alice Farias, Tonica Miranda, Mestre Carlos, Sinharinha Florentino, Maria Luíza Solino, Souzinha, Josefa Baúba, Homerico Gomes, Pedro Ivo e Zé Marques.

 

                        Em cada parada, o por todos ansiado comando do Cabo Didi: Atenção! Preparar! Apontar! Fogo! A certa altura, demos com a falta do Thucydides, ao notarmos que ele repassara ao Fuçura as bebidas sob sua guarda. Mandamos procurá-lo, sendo ele encontrado na Rua do Zé Bento, escornado na calçada do Major Lisboa. Aí, descobrimos que, invariavelmente, ao ser comandado, também o garotão fazia fogo. Reanimado a troco de água fria na cara, foi conduzido à casa da Jeruza, e a ela entregue, para especiais cuidados maternais.

 

                        Quase raiando o dia, chegamos à porta de Seu Rosa e Dona Maria Bezerra, meus saudosos pais onde, depois de cantarmos a Valsa da Despedida, Robert Burns, versão de Braguinha e Alberto Ribeiro, a turma se dispersou, finalizando a seresta.

 

                        Na maioria das residências onde paramos, as meninas-objeto de nosso romantismo vieram à janela para ouvir-nos, sorrir-nos e, em muitos dos casos, acenar-nos com venturosas esperanças.

 

                        No dia seguinte, para que a população balsense identificasse as ruas por onde a seresta passou, bastava seguir a trilha de garrafas vazias deixadas pelo caminho.

 

                        Os menestréis éramos quase todos nós. Meu carro-chefe seresteiro sempre foi a toada Rancho de Serra, de Herivelto Martins e Blecaute, gravada em 1956 pelo Trio de Ouro, aqui na interpretação de Rolando Boldrim:

 

 

                        Como não poderia faltar, ouçamos também a toada Luar do Sertão, na voz de Inezita Barroso:

 

 

                        Outros sucessos que cantamos naquela romaria seresteira:

 

                        Valsa da Despedida, valsa de Roberto Burns, versão de Braguinha, com Francisco Alves e Dalva de Oliveira:

 

 

                        Chão de Estrelas, canção de Orestes Barbosa e Sílvio Caldas, que a interpreta:

 

 

                        E, relembrando o grande e saudoso amigo Dionel, Uma Grande Dor Não Se Esquece, valsa de Ernani Campos e Antenógenes Silva, na voz de Gilberto Alves:

 

 

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Seresta e Seresteiros quinta, 06 de outubro de 2016

CARLOS ALBERTO, UM ÍDOLO SERESTEIRO

CARLOS ALBERTO, UM ÍDOLO SERESTEIRO

Raimundo Floriano

 

 

                        Nuno Soares, o Carlos Alberto, violonista, cantor e compositor brasileiro, nasceu em data e local incertos e não sabidos, residindo hoje na cidade mineira de Astolfo Dutra.

 

                        Os dados aqui registrados foram colhidos do Orkut e do Dicionário Cravo Albin da MPB, site virtual que pouco diz de exato sobre sua biografia, contendo apenas informações genéricas.

 

                         Consultei o Carlos Alberto no Orkut, onde aparece como Nuno Soares, e enviei-lhe um e-mail – com endereço virtual a mim fornecido pela pesquisadora Patrícia Rodrigues, do Rio de Janeiro –, mas não obtive retorno para minhas indagações.

 

                        E sabem o motivo de minha insistência no propósito de retratá-lo aqui? É porque sou fã do cara, admiro-o desde que o ouvi pela primeira vez interpretando seus sambas-canções e boleros, com os quais enriqueci meu repertório seresteiro. Curto o Carlos Alberto pra caramba! Vou contar só um fato para lhes demonstrar o quanto suas canções tiveram seu papel em minha outrora vida boêmia.

 

                        Em meados dos Anos 1970, voltava eu em meu fusquinha, certa madrugada, duma pescaria ginecofágica em Goiânia, na qual nem piranha conseguira fisgar. Ao passar por Alexânia, distante 95 quilômetros de Brasília, vi um grupo de rapazes da cidade saindo do Bar Displan, point do pedaço, carregando um violão. Acerquei-me deles, que me informaram estarem indo para uma serenata. Perguntei-lhes se poderia ir junto, e eles concordaram. Ao chegarmos à janela da primeira garota, um ficou olhando para a cara do outro, sem começar a cantoria. Foi aí que eu descobri que nenhum deles sabia tocar violão. Pedi-lhes o instrumento e solicitei que alguém cantasse, para que eu o acompanhasse. Ninguém sabia! Então, eu caprichei, enfileirando os maiores sucessos de Carlos Alberto, o que deixou a todos maravilhados, tanto a rapaziada, quanto as mocinhas objeto da seresta. Resultado: ao sair de lá, deixei um namoro engrenado!

 

                        Aliás, muito tempo antes disso, o ritmo dos boleros de Carlos Alberto já vinha embalando nossos romances, na época em que se dançava agarradinho, rostos colados, face com face, cheek to cheek, como nos ensinaram os geniais e inesquecíveis Fred Astaire e Ginger Rogers.

 

                        Retomando o fio da meada, vamos ao que interessa. Vejamos o que consegui no Orkut e no Cravo Albin.

 

                        Pianista de formação, um de seus primeiros sucessos, Sabe Deus, bolero de Alvaro Carrilo e Nely B. Pinto, foi gravado em 1963. Ao longo de sua carreira, sua discografia chega perto dos 50 trabalhos. Possui uma série de premiações conquistadas em programas de rádio e televisão, como os troféus Discoteca do Chacrinha e Chico Viola. Os prêmios são testemunhas de sua dedicação à MPB. Considerado por muitos o Rei do Bolero, na década de 1960, é apontado como o cantor que mais gravou boleros no Brasil.

 

                        Estes seus dois CDs encontram-se à venda em sites comerciais:

 

 

                        E estes dois, em sebos virtuais:

 

 

                        Carlos Alberto canta e encanta a todos por onde passa, levando muito amor e emoção com suas lindas melodias, sendo um dos recordistas de venda da gravadora CBS. Entre seus maiores sucessos podemos destacar Aquece-me Esta Noite, bolero de Roberto Cantoral e Mário Rossi; Ansiedade, bolero de Mário Alvarez e Clóvis Melo; Mano a Mano, tango de Carlos Gardel e José Razzano; No Rancho Fundo, samba-canção de Ary Barroso e Lamartine Babo; Risque, samba-canção de Ary Barroso; Ronda, samba-canção de Paulo Vanzolini; Infidelidade, samba-canção de Ataulfo Alves e Américo Seixas.

 

                        Suas músicas ficaram nas paradas musicais durante muito tempo nos Anos 1960/1980, permanecendo aproximadamente dois anos – 1975 e 1976 – em primeiro lugar no Programa Globo de Ouro da Rede Globo.

 

                        Carlos Alberto continua a apresentar-se por todo o Brasil, e seus últimos espetáculos no Recife, em São José dos Campos e no Rio de Janeiro contaram com casa lotada.

 

                        O samba-canção Violões em Funeral, composição de Silvio Caldas e Sebastião Fonseca, com poema originalmente feito para a Missa de Sétimo Dia de Noel Rosa e gravado por Silvio em 1951, tem, a meu modo de ver, em Carlos Alberto seu melhor intérprete. Por isso, o escolhi para que vocês conheçam ou relembrem um pouquinho de seu trabalho. Vamos ouvi-lo:

 

 

                        A seguir, outros sucessos desse grande seresteiro.

 

 

                        No Rancho Fundo, samba-canção de Ary Barroso e Lamartine Babo:

 

                        A Deusa da Minha Rua, valsa de Newton Teixeira e Jorge Faraj:

 

 

                        Professora, Samba de Benedito Lacerda e Jorge Faraj:

 

 

                        Amendoim Torradinho, samba-canção de Henrique Beltrão:

 

 


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