Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas segunda, 15 de abril de 2024

AS BRASILEIRAS: Aracy Rosa (CRÔNICA DO COLUNISTA JO

AS BRASILEIRAS: Aracy Rosa

Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa nasceu em Rio Negro, PR, em 5/12/1908. Diplomata e poliglota, trabalhou no consulado brasileiro em Hamburgo, Alemanha. Ficou conhecida como “O Anjo de Hamburgo”, devido a ajuda que prestou a muitos judeus a entrarem ilegalmente no Brasil a partir de 1938, com a proibição estabelecida no Governo Vargas.

Filha de Sidonie Moebius de Carvalho e Amadeu Anselmo de Carvalho, dono do Grande Hotel de Guarujá, onde passou a infância. Casou-se aos 22 anos com Johann Eduard Ludwig Tess, com quem teve um filho e separou-se 5 anos depois, indo morar com a tia na Alemanha. Dominando 4 idiomas, foi trabalhar no consulado brasileiro, chefiando a Seção de Passaportes. Em 1938 passou a vigorar no Brasil a circular secreta nº 1.127, restringindo a entrada de judeus no País. Ela ignorou a restrição e não colocava a letra “J”, identificando quem era judeu, nos vistos de entrada, permitindo com isto a livre entrada no Brasil.

Por essa época conheceu João Guimarães Rosa, cônsul adjunto, e passaram viver juntos até 1942, quando o Brasil rompeu relações diplomáticas com a Alemanha e apoiou os países aliados na II Guerra Mundial. Devido a eclosão da guerra, o retorno ao Brasil teve algumas dificuldades. Ficaram 4 meses sob custódia do governo alemão e só foram liberados após uma troca por diplomatas alemães. Como ambos eram divorciados, tiveram que se casar no México.

Aracy ficou conhecida pela ajuda que prestou aos judeus, salvando-os do Holocausto. Mas pouco se fala de sua importância na vida do marido como escritor. As pesquisadoras Elza Miné, da USP-Universidade de São Paulo, e Neuma Cavalcanti, da UFC-Universidade Federal do Ceará, estudaram as cartas do casal e encontraram informações reveladoras: “Serás tudo para mim: mulher, amante e companheira. Sim, querida, hás de ajudar-me a escrever os nossos livros. Tu mesma não sabes o que vales. Eu sei. Serás, além de inspiradora, uma colaboradora valiosa, apesar ou talvez mesmo por não teres pretensões de ‘literata pedante”, escreveu Rosa em 1942.

Noutra carta, de 1946, escreveu: “O teu, o nosso Sagarana está quase pronto. Pegue um exemplar para nós. Seria uma alegria dupla: a chegada de ARA e SAGARANA. Mas em caso de perigo, joga fora o Sagarana e venha só a ARA, que é 300 bilhões de vezes mais importante para mim”. Sua obra prima Grande Sertão: Veredas foi dedicada a ela em 1956. Conta-se que ela não apenas revisava os textos do escritor; eventualmente modificava algumas partes.

Anos depois ela voltou a ajudar perseguidos políticos. Em 1964, após o Golpe Militar, deu guarida a alguns intelectuais e compositores, como Geraldo Vandré, de cuja tia Aracy era amiga. Em 8/7/1982, o governo de Israel incluiu seu nome no Jardim dos “Justos entre as Nações” do Museu do Holocausto, devido a sua bravura na salvação de muitos judeus do extermínio comandado pelo nazismo. A homenagem foi realizada, também, no Museu do Holocausto de Washington, nos EUA.

Ficou viúva em 1967 e mais tarde foi acometida pelo mal de Alzheimer, vindo a falecer em 28/2/2011, aos 102 anos. Foi sepultada no Mausoléu da ABL-Academia Brasileira de Letras, ao lado de seu marido. No mesmo ano a historiadora Mônica Schpun lançou sua biografia enfatizando o feito heroico: Justa: Aracy de Carvalho e o Resgate de Judeus: Trocando a Alemanha Nazista pelo Brasil, publicado pela editora Civilização Brasileira, em 2011.

A história de Aracy foi retratada também no documentário “Esse viver ninguém me tira”, de Caco Ciocler, produzido em 2014, à disposição no Youtube. O governo brasileiro entrou no rol das homenagens, em 2019, quando os Correios fizeram circular 54 mil selos especiais com sua imagem estampada. Mais tarde, a TV Globo em parceria com a Sony Pictures Television, exibiu a minissérie Passaporte para a liberdade, em 2021, mostrando sua trajetória.

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 26 de julho de 2023

AS BRASILEIRAS: ENEDINA MARQUES (CRÔNICA DE JOSÉ DOMNGOS BRITO, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

AS BRASILEIRAS: Enedina Marques

Enedina Alves Marques nasceu em 13/1/1913, em Curitiba, PR.  Professora, primeira engenheira negra no Brasil e primeira mulher engenheira com destacada atuação profissional em seu Estado.

 

Filha de Virgília Alves Marques e Paulo Marques, que chegaram a Curitiba em 1910. A mãe trabalhava como empregada doméstica na casa do major Domingos Nascimento Sobrinho, que tinha uma filha da mesma idade de Enedina. Como as duas famílias se davam bem, o major bancou os estudos de Enedina, para que ela fizesse companhia a sua filha. As duas concluíram o curso Normal em 1935 e passaram a lecionar no interior do Estado: São Mateus do Sul, Cerro Azul e Campo Largo.

 

De volta a Curitiba, em 1936, ingressou num curso supletivo e passou a morar (e trabalhar) na residência do casal Mathias e Iracema Caron, no bairro do Juvevê, seus novos benfeitores. Ela não era formalmente empregada da família, mas pagava a guarida com alguns serviços domésticos. Pouco depois, ingressou no curso complementar em pré-Engenharia no Ginásio Paranaense (atual Colégio Estadual do Paraná) no período noturno, enquanto ainda residia com a família Caron. 

 

Em 1940 ingressou na Faculdade de Engenharia da Universidade do Paraná e formou-se em Engenharia Civil, em 1945. Antes dela, apenas dois negros se formaram em engenharia naquela faculdade. No ano seguinte foi contratada como auxiliar de engenharia na Secretaria de Viação e Obras Públicas. Como funcionária pública ocupou os cargos de chefia da Divisão de Hidráulica e Divisão de Estatística. Em seguida, o governador Moisés Lupion concedeu-lhe transferência para o Departamento Estadual de Águas e Energia Elétrica, onde trabalhou no Plano Hidrelétrico do Estado e atuou no aproveitamento das águas dos rios Capivari, Cachoeira e Iguaçu.     

 

Conta-se que sua melhor atuação como engenheira se deu na Usina Capivari-Cachoeira. Apesar de vaidosa, usava macacão nos canteiros de obras e carregava uma arma na cintura, e de vez em quando disparava tiros para o alto para se fazer respeitar entre os homens da construção. Posteriormente dedicou-se a engenharia civil e atuou com desenvoltura na construção do Colégio Estadual do Paraná e na Casa do Estudante Universitário de Curitiba. Em 1958, o major Domingos faleceu, deixando-a como uma de suas beneficiárias em seu testamento.

 

Devido a sua carreira profissional, foi entrevistada, em 1961, pelo sociólogo Octávio Ianni, para uma pesquisa intitulada “Metamorfoses do escravo”, financiada pela Unesco. Aposentou-se em 1962 e recebeu do governador Ney Braga o reconhecimento de seus feitos na Engenharia, garantindo-lhe proventos equivalentes ao salário de um juiz. Passou a residir num apartamento no centro de Curitiba até agosto de 1981, quando foi encontrada morta, vitimada por um infarto dias antes. Estima-se que tenha falecido em 20/8/1981. Não tinha parentes próximos, nunca se casou nem teve filhos.

 

O Diário Popular, um tabloide sensacionalista, fez uma longa matéria retratando-a apenas como uma idosa excêntrica sem importância alguma e causou grande indignação entre os membros do Instituto de Engenharia do Paraná, que resultou numa razoável polêmica na mídia local e relatando seu legado como engenheira. A partir daí vieram homenagens póstumas: seu nome foi dado a uma rua no bairro Cajuru; recebeu uma inscrição no Memorial à Mulher Pioneira, local construído pelas Soroptimistas, organização internacional dedicada aos direitos humanos, da qual participou; em 2006, foi fundado o Instituto de Mulheres Negras Enedina Alves Marques, em Maringá; denominação do trecho da PR-340 na cidade de Antonina. Uma breve biografia ressaltando sua vida profissional foi realizada por Lindamir Salete Casagrande e publicada pela Editora Verso em 2021. 

 

Exibir, se possível, vídeo

 

 

https://www.google.com/search?q=enedina+marques+youtube&oq=enedina+&aqs=chrome.1.69i57j35i39j46i433i512j46i175i199i512j0i512j46i175i199i512j46i512j0i512l2.1156031707j0j15&sourceid=chrome&ie=UTF-8#fpstate=ive&vld=cid:34e344ee,vid:MZxW3suSKDQ



Conheça a história de Enedina Alves Marques - YouTube

youtube.com

https://www.youtube.com › watch

1:01

 

INTERPROGRAMAS - 18.07.17: Enedina Alves Marques foi a primeira negra a se formar em engenharia no Brasil. O grande desafio de Enedina foi ...


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 06 de julho de 2023

PELOS PODERES DE DEUS, AQUI CHEGUEI! 3 DE JULHO DE 2023! 87 ANOS!

 ALGUMAS MENSAGENS RECEBIDDAS

 

DE ELBA, MINHA PRIMOGÊNITA

 

Parabéns, pai! O eterno menino de Balsas, no sul do Maranhão, completa 87 anos! Papai é tudo isto e mais um pouco: escritor, contador, músico, cruciverbista, eterno delegado da festa junina da academia, “xerife” de Brasília, cordelista, revisor de textos, leitor voraz, editor do site “Almanaque Raimundo Floriano”, espaço onde divulga a cultura brasileira, além de ter muitos outros talentos. Desejo sempre muita saúde, mais anos de vida, com as graças de Deus e de Nossa Senhora…
 
 
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DE MARA, MINHA CAÇULA

 

Hoje meu pai Raimundo Floriano celebra seus 87 anos, com muita disposição, bom humor e sorriso no rosto.
Depois de tanto tempo isolado, essa comemoração vem com um gosto especial. Uma grande satisfação em poder reunir pessoas queridas e compartilhar desse momento juntos.
Que venham muito mais momentos assim!
Parabéns, pai! Que não falte saúde para sempre celebrar a vida! 🥰🥳
 
 
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DE VALÉRIA, COMADRE E SOBRINHA

 

 

Querido Tio Raimundo, Hoje é um dia muito especial, pois celebramos seus 87 anos de vida. Quero desejar-lhe um aniversário incrível, repleto de alegria e felicidade. Ao longo dos anos, você tem sido uma figura marcante em nossas vidas. Sua presença sempre traz uma energia positiva e contagiosa, e é uma verdadeira inspiração para todos nós. Sua sabedoria e bom humor são admiráveis, e temos muita sorte por tê-lo como tio. Lembro-me de tantos momentos felizes e divertidos que compartilhamos juntos. Suas histórias engraçadas e seu jeito descontraído sempre conseguem nos arrancar gargalhadas. Sou grata por cada memória que construímos ao longo dos anos. Desejo-lhe muita saúde, paz e realizações em mais um ano de vida. Que você continue a desfrutar de tudo o que a vida tem a oferecer, rodeado por amor e carinho. Parabéns, Tio Raimundo! Que o dia de hoje seja apenas o começo de um ano muito especial! Te amo!🥰 — sentindo-se feliz.
 
 
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DE TERESA CRISTINA, PRIMA E MADRE SUPERIORA DA IGREJA SERTANEJA

 

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Parabéns, querido Primo Raimundo Floriano! Paz! Saúde! Felicidade! Minha admiração por sua inteligência, memória, noticiais atuais e dos tempos que nem viveu. É de rara capacidade. Meu abraço sempre lhe desejando o melhor. Excelente amigo, chefe de família e homem do bem .

 

DE DRA. KARINA, FISIOTERAPEUTA

 

Raimundo Floriano, desejo um dia abençoado e especial para você. Que tudo esteja do seu agrado hoje! Que a saúde esteja a seu favor! Que o dia ensolarado e bonito seja mais um motivo para celebrar a sua vida! Você merece poemas, textos e canções hoje e nos outros tantos anos que virão. Porque você é um mestre grandioso. Morro de saudades das nossas conversas e da sua simpatia contagiante. Feliz aniversário!
Parabéns! Beijos, Karina. 
 

 

DE DIACUÍ TAKEMOTO, AMIGA BALSENSE

 

Diacui Takemoto
Parabéns pelo seu dia, Raimundo Floriano, dia esse que trouxe muitas alegrias para o Sr. Rosa e Dona Maria Bezerra!
 

 

DE VIOLANTE PIMENTEL, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO E MADRE SUPERIORA DA IGREJA SERTANEJA

 

Violante Pimentel

Parabéns para o querido Editor Raimundo Floriano (Almanaque Raimundo Floriano), pelo seu aniversário! Muitas felicidades, com saúde, alegria e inspiração, para continuar sua bela trajetória de vida, como o grande escritor que é. Grande abraço!!!
 
 
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MEUS AGRADECIMENTOS
 
 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 17 de junho de 2023

A NUM-SE-PODE (LENDA TERESINENSE)

A NUM-SE-PODE

(Lenda Teresinense)

Raimundo Floriano

Fonte: Google

 

Imagem copiada do Google

 

 

“Fiu-fiu”. O assobio e os risos dos homens sentados no bar da esquina não a incomodavam. Noite quente teresinense. Final de semana, e a madrugada já se aproximava. Em uma época como aquela, em que as mulheres não podiam andar tão tarde, tampouco sozinhas, ela ultrapassava todas essas regras e não se importava com as coisas que “não se pode”. Saía nas horas noturnas que bem quisesse, sem companhia, sem regras. E não só por isso chamava bastante atenção.

O vestido branco e justo a deslizar pelas curvas do corpo farto e alto. O caminhar sensual e desacompanhado. A cor do batom forte. Tudo em si compunha uma imagem misteriosamente chamativa. E gostava de causar essa atração dos olhares, principalmente se fossem daqueles homens quentes na noite de Teresina.

Nessas noites, ela seguia em seu desfile encantador até a Praça Saraiva – seu lugar preferido da cidade – e até lá ia arrastando, quase que enfeitiçados, um ou outro homem. Encostava em algum poste de lampião e ficava fitando o fogo a queimar ali no alto. De dentro de si, brotava aquele vício prazeroso que cultuava: uma imensa vontade de fumar. E a chama do lampião era como uma força que a chamava e fazia despertar nela algo maligno que não sabia nomear.

Essa mistura de vício, sensualidade, maldade transbordava dela e despertava ainda mais curiosidade nos homens que a seguiam pela Praça Saraiva. A maioria deles não tinham coragem suficiente para chegar perto dela e puxar conversa. Outros poucos, sim. E, para a surpresa desses homens, antes de tentarem uma conversa, ela iniciava logo a pedir:

– Tem um cigarro para me dar, cavalheiro? – uma voz de donzela que ressaltava ainda mais sua beleza estonteante.

Nesse instante, geralmente, o homem ficava sem palavras e passava um cigarro para ela. E, diante dessa falta de atitude masculina, algo dentro dela se enchia de deleite, crescia e crescia dentro de si uma energia que não sabia conter, quase como um orgasmo maléfico ou uma força de puro mal e prazer.

A voz de donzela se transformava em uma voz rouca, grave e, de dentro das suas profundezas, saía a repetir “num se pode, num se pode, num se pode…”. A cada “não se poder” que repetia, a linda mulher ia mostrando sua real forma de assombração, esticando o corpo para o alto, rumo à chama em cima do poste. E, ali, acendia o cigarro para satisfazer o prazer maligno do seu vício.

E essa voz gutural a repetir “num se pode” é tudo o que os homens se recordam no outro dia, em que acordam assustados, após uma longa noite quente de pesadelos em Teresina.

Escrito por Evilanne Brandão.


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas terça, 09 de maio de 2023

MEU JIPINHO COMPLETA 11 ANINHOS - QUASE UM ADOLESCENTE

 

ONZE ANINHOS DE BONS SERVIÇOS!
DESDE 9 DE MAIO DE 2012!
Raimundo Floriano
 
 

NOSSO ENCONTRO, FIRMANDO UMA PARCERIA PARA SEMPRE!

NA COPA DE MUNDO DE 2018

EM 2020, NA GARAGEM, LEVANDO POEIRA

NA COPA DO MUNDO DE 2022

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas terça, 28 de março de 2023

GOSTOSURAS DA PÁSCOA

 

Deliciosos e lucrativos: gostosuras da Páscoa ajudam na renda extra

Brasilienses aproveitam a Páscoa para aumentar a renda, com comercialização de ovos de chocolates e bombons. Vendas desses produtos devem aumentar 18% em relação ao ano passado, segundo a Fecomercio-DF

JA
José Augusto Limão*
AL
Ana Luiza Moraes*
postado em 28/03/2023 03:55 / atualizado em 28/03/2023 10:06
 
 (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Levantamento recente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF) mostra crescimento de 18% nas vendas de Páscoa em relação ao ano passado. A previsão favorável também se estende a outros presentes, que se tornaram opção para esta época do ano e que devem ter um aumento de 20%, no mesmo período. O itens mais comprados, segundo a pesquisa, continua sendo os ovos (47,7%) e os chocolates/trufas (47,7%) que, somados, totalizam 95,4% das preferências. Quem está de olho neste aumento são os confeiteiros caseiros, aproveitando-se dos preços das marcas mais comerciais.

Apaixonada por confeitaria, Bianca Barreto, 36, está com uma expectativa muito alta em relação às vendas no Ateliê do Brigadeiro. "Essa época do ano é excelente para a área de confeitaria. Mesmo com os insumos custando tão caro, a gente consegue aumentar bastante a renda. Mas busco sempre cobrar um preço justo dos meus clientes", afirma. A empresária expõe que começou a fazer doces na época de escola, e seus amigos adoravam. Já na fase adulta, aproveitou a habilidade para fazer uma renda extra. "As pessoas preferem os ovos caseiros aos de mercado. Acho que a qualidade, por ser artesanal, atrelada ao cuidado maior com o produto, chamam a atenção", diz Bianca.

Segundo dados do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista), em 2022, as vendas de ovos de chocolate na Páscoa tiveram um crescimento de 10,6% — em 2021, foi de apenas 4%, em razão da pandemia. A estimativa para este ano é que o valor médio gasto com ovos de chocolate aumente de R$ 112 para R$ 117 em relação ao ano passado, enquanto que, nas vendas pela internet, o aumento será de 52% para 57%. O sindicato reúne cerca de 30 mil empresas de varejo de diferentes tipos.

 
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A supervisora de vendas Tatiane de Sousa Silva, 40, começou a produzir ovos de páscoa caseiros há dois anos. "No início da pandemia, eu fiquei desempregada e comecei a vender bolos caseiros e, quando chega perto dessas datas comemorativas como a Páscoa, eu vou me adaptando ao produto que existe mais demanda", declara a moradora de Planaltina. Tatiane explica que os ovos de chocolate fazem sua renda crescer em 100%. "Existe bastante demanda para os ovos. Meus produtos são a partir de R$ 65 e o preço vai variar com tamanho e recheio. Eu vendo de todas as formas." 

A Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (ABICAD) encomendou uma pesquisa, realizada pela consultoria KPMG. O resultado revela que o feriado gerou 7,9 mil vagas de trabalho temporário no país. Para a Páscoa de 2023, novos trabalhadores contratados para atuar em fábricas e pontos de comércio já se preparam para movimentar a indústria, diante da alta demanda de ovos e chocolates nessa época.

Nascida em Juiz de Fora (MG), Camila Cindy, 32, começou sua história na confeitaria artesanal em março de 2020, quando morava em Maputo, Moçambique, no sul da África. Camila veio a Brasília para ver o nascimento de seu sobrinho, em 6 de março. "No dia 16, a fronteira fechou. Não consegui retornar e me vi um pouco perdida, sem saber o que fazer com tudo fechando aqui no Brasil", relembra. Diante da proximidade da Páscoa, ela decidiu investir na confeitaria. Com sua mãe, Camila é responsável por tudo. "Eu era o marketing, era a entrega, eu que recebia e fazia a confecção dos pedidos. Isso me trouxe uma autoestima muito boa, porque eu via que tinha um retorno financeiro. Então, em toda Páscoa, eu acabo investindo para fazer ovos, cativar os clientes e trazer um pouco mais de amor e doçura", pondera. Ela atende seus clientes por meio do instagram @confeitosdacami.

 

 

Capacitação

Focar no planejamento e nas perspectivas de mercado é essencial para quem usa datas comemorativas para empreender, como conta o gerente de atendimento personalizado do Sebrae-DF, Ricardo Robson. "E, com base na definição de seus clientes, saber qual produto ou serviço será disponibilizado, tentando enxergar qual o desejo desse público, de forma que consiga estruturar o seu negócio em cima dessas necessidades", complementa o executivo. Em um mercado onde todo mundo faz a mesma coisa é necessário se destacar e, para o especialista, a inovação e a capacitação profissional podem fazer a diferença dentro do seu empreendimento. "Então, é identificar, enxergar enquanto empresário quais são as lacunas, e seus gaps de conhecimento. Planejamento de vendas, marketing digital e os links patrocinados que ajudam muito na comercialização dos seus produtos são alguns temas que são relevantes e que são importantes para o empreendedor se capacitar", acrescenta.

A estudante de biomedicina Rebeca Boaventura, 22, começou a fazer doces com sua irmã, como uma forma de ganhar renda extra diante das dificuldades de encontrar estágio na sua área. "Unimos uma coisa que a gente gosta muito de fazer, que é cozinhar, com o nosso amor por doces. Então, o ramo da confeitaria foi perfeito para gente", observa. Depois de um tempo produzindo somente para encomenda, as empreendedoras se sentiram prontas para o próximo passo. Foi assim que surgiu Lounitta, confeitaria digital que homenageia as falecidas avós, Lourdes e Anitta. A venda dos doces aumenta a renda de Rebeca e sua irmã em 30% a 40%. Esta Páscoa será a primeira desde a fundação da Lounitta, e os pedidos podem ser feitos pelos contatos disponibilizados no instagram @lounitta.confeitaria.

*Estagiários sob a supervisão de Patrick Selvatti

 

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  • Rebeca e Raquel uniram o prazer e o talento à oportunidade gerar renda
    Rebeca e Raquel uniram o prazer e o talento à oportunidade gerar rendaFoto: Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
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    20/03/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - Produção caseira de ovos de páscoa. Rebeca Boaventura Falcão (camisa sem manga) com Raquel Boaventura Falcão.Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  •  20/03/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF -  Produção caseira de ovos de páscoa. Rebeca Boaventura Falcão (camisa sem manga) com Raquel Boaventura Falcão.
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    O maior cuidado com a produção artesanal agrada consumidores do DFFoto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
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    20/03/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - Produção caseira de ovos de páscoa. Rebeca Boaventura Falcão (camisa sem manga) com Raquel Boaventura Falcão.Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  •  20/03/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF -  Produção caseira de ovos de páscoa. Bianca Barreto.
    20/03/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - Produção caseira de ovos de páscoa. Bianca Barreto.Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  •  20/03/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF -  Produção caseira de ovos de páscoa. Bianca Barreto.
    20/03/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - Produção caseira de ovos de páscoa. Bianca Barreto.Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • Não apenas ovos, mas também outros produtos estão entre as preferências
    Não apenas ovos, mas também outros produtos estão entre as preferênciasFoto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
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    20/03/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - Produção caseira de ovos de páscoa. Bianca Barreto.Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
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    20/03/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - Produção caseira de ovos de páscoa. Bianca Barreto.Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  •  20/03/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF -  Produção caseira de ovos de páscoa. Bianca Barreto.
    20/03/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - Produção caseira de ovos de páscoa. Bianca Barreto.Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  •  20/03/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF -  Produção caseira de ovos de páscoa. Bianca Barreto.
    20/03/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - Produção caseira de ovos de páscoa. Bianca Barreto.Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
 
 

Qualifique-se profissionalmente

»O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-DF) publicou edital com mais de 3,4 mil vagas gratuitas. Entre os cursos, há o de Confeiteiro, em que os alunos aprendem sobre a fabricação de produtos das confeitarias básica e fina, a exemplo de tortas, bolos e doces. Os interessados podem se inscrever pelo site cursos.senaidf.org.br até 30 de junho ou enquanto houver vagas.

»Este é um curso de qualificação, com duração de cerca de três meses, com vagas nas escolas do Senai do Gama e de Taguatinga. Há opções de turmas presenciais e semipresenciais. As vagas são para pessoas de baixa renda, preferencialmente trabalhadores, empregados ou desempregados.


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 24 de março de 2023

GASTRONOMIA: P´

 

Pensando no prato e no planeta: veja opções veganas e vegetarianas no DF

O interesse dos brasilienses pela alimentação vegana e vegetariana tem aumentado cada vez mais. Por isso, o Divirta-se mais selecionou seis restaurantes da cidade voltados para este público

IB
Isabela Berrogain
GK
Giovanna Kunz*
postado em 24/03/2023 06:00
 
 (crédito:  Mariana Lins )
(crédito: Mariana Lins )

A preocupação com a saúde e com o meio ambiente tem se tornado tópicos cada vez mais comuns na sociedade. Em busca de uma vida mais saudável e de colaborar com os impactos ambientais gerados pelo ser humano, os brasilienses têm se interessado pela alimentação vegana e vegetariana, ensejando um aumento dos restaurantes da cidade voltados para este público e provando que os adeptos dessa comida podem ter, sim, uma dieta vasta e variada.

 

Para Tássia Aguiar e Ray Preta, proprietárias do Cantinho de Caburé Cozinha Vegana, é claro o crescimento do veganismo em Brasília. "Os brasilienses estão mais curiosos sobre o assunto, sentem-se mais confiantes para experimentar novos sabores sem tanto preconceito. Muitos ficam estarrecidos com os ingredientes e as possibilidades de uma culinária nova, fácil e mais barata que a "convencional"", avaliam. "A cada dia surgem mais empreendimentos veganos e isso também é um cenário promissor que possibilita às pessoas maior acesso à culinária", complementam.

Lívia Aquino e Luana Isidro, sócias do Casinha Café, também apontam as intolerâncias e alergias como um dos motivos do aumento da população vegetariana e vegana. "No caso do leite, por exemplo, só quem já tentou tirá-lo da alimentação percebe como ele está presente em praticamente tudo e é desgastante essa investigação na hora de comer na rua. Empresas veganas acabam sendo uma escolha segura para essas pessoas, mesmo que não sejam veganas", opina. Para além das restrições, Lívia e Luana veem a compaixão das pessoas pelas causas que envolvem o vegetarianismo e o veganismo cada vez maior. "Quem se sensibiliza com os impactos ambientais desastrosos ou se solidariza com a vida dos animais explorados, torna-se mais aberto a fazer escolhas mais sustentáveis e descobre que a culinária à base de plantas pode ser surpreendentemente gostosa", garantem.

 
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"Parar de comer carne é um ato político", declaram Candy Saavedra e Barbara Burnier, sócias do Japa Vegana. "Hoje, vemos claramente como temos que nos preocupar com a causa climática: tudo está interligado. A alimentação sem produtos de origem animal tem diversos benefícios para a saúde amplamente comprovados pela ciência, mas o mais importante desta causa é saber que um estilo de vida sem exploração animal é possível, é gostoso, é saudável — muitos atletas veganos podem provar que é possível —, e pode ser a única forma de ajudarmos a salvar esse planeta", finalizam.

Cura por meio da comida

"Pode ser meio pretensioso, mas nós temos a proposta de fazer, de fato, uma comida curativa", define a proprietária Cristina Roberto sobre o Cura Cozinha Orgânica. No local, Cristina participa de todas as áreas do restaurante, desde a criação de novos pratos ao atendimento dos clientes. "A proposta é fazer uma comida muito saudável, orgânica, fresca, rica, supernutriente e muito saborosa. Juntamos tudo isso em um local lindo no Jardim Botânico, com ingredientes maravilhosos e uma larga experiência na cozinha", explica.

O restaurante funciona por meio de menu degustação, composto por sopa, salada, prato principal e sobremesa — as opções mudam diariamente. Na cozinha do Cura, são feitos os próprios ingredientes da casa, como, por exemplo, o leite de coco. "Os cardápios são montados diariamente com os produtos que estão disponíveis na feira, da estação. É como se fosse uma comida de casa mesmo, que cada dia é uma coisa diferente", explica. "É uma cozinha de avó, afetiva, amorosa e cuidadosa", complementa.

 

Alimentação sustentável

A história do Japa Vegana começa em 2019, em São Paulo, quando o restaurante funcionava em formato delivery. Após a passagem das sócias Candy Saavedra e Barbara Burnier pelo Shark tank Brasil, reality show em que empreendedores apresentam as ideias de negócio a potenciais investidores, o local ganhou visibilidade nacional. A partir daí, surgiu a vontade de trazer a proposta da casa para Brasília.

"Somos um restaurante de comida japonesa e asiática à base de plantas, então muito do que você conhece dentro dessa culinária, nós trazemos uma leitura sem nada de origem animal, ou seja, vegano. E fica maravilhoso!", garantem as sócias. "Pessoas não veganas adoram, muitos clientes não são veganos, mas gostam da proposta", complementam. Para além dos alimentos, as embalagens do restaurante são biodegradáveis e compostáveis.

Segundo Candy e Barbara, os queridinhos do público são o combinado especial (R$ 42,90), composto por uma variedade dos sushis da casa, e os sushirritos de cogumelo ou tofu frito (R$ 35), uma mistura de burrito com sushi.

 Vegetarianismo em Brasília

Resultado de uma parceria entre José Guidini e o filho Fernando Guidini, o restaurante Nutri Vida (CLN 403) é, desde julho de 2017, ponto de encontro dos vegetarianos e veganos da cidade. Antes mesmo da idealização da casa, os sócios já eram adeptos da dieta com restrições animais, surgindo, assim, a vontade de inaugurar o negócio.

O restaurante funciona em regime de buffet (R$ 69,90), com mais de 30 opções variadas. Os principais destaques são o peixinho da horta orgânico vegano sem glúten, a coxinha de jaca vegana e o churrasco vegano.

 

Veganismo artesanal

O restaurante vegano comandado pela família Souza, Apetit Natural, começou como um food truck vegetariano que evoluiu para um restaurante. “Servimos de pamonha a feijoada, temos um leque muito grande de opções muito saborosas. A maior parte da matéria prima, nós produzimos. Os pães, os leites e os queijos vegetarianos são para proporcionar um gosto bom às pessoas”, garante Sara Souza, porta-voz do restaurante. Os grandes destaques no buffet da casa (R$ 64,90 kg), que também explora as áreas de confeitaria e padaria, a feijoada, servida às sextas-feiras e aos domingos, e os diferentes sabores de pizza.

 

Pioneirismo vegano na cidade

Aberto desde 2018, o Casinha Café começou como um projeto de Lívia Aquino, que, ao ver a dificuldade de encontrar na rua opções veganas, viu a oportunidade de começar um negócio, se tornando dona de um dos primeiros restaurantes veganos de Brasília. Em 2020, Lívia começou a dividir o título de proprietária com Luana Isidro, ambas veganas e da área da gastronomia. “O diferencial do Casinha é, sem dúvida, ser um espaço pensado por veganas que adoram comer bem. Temos muito cuidado e ficamos animadas ao criar pratos”, garantem as donas do Casinha. Segundo Lívia e Luana, os preferidos do público são a feijoada cogumelada (R$ 32), o waffle de banoffee (R$ 22) e o fradinho burguer (R$ 28), feito de hambúrguer de fradinho com molho agridoce, alface e maionese de couve-flor no pão rosa.

 

Afro-afetividade por meio do veganismo

O Cantinho de Caburé Cozinha Vegana é um restaurante afro-afetivo administrado pelo casal Tássia Aguiar e Ray Preta. A iniciativa nasceu durante a pandemia com a venda on-line de lanches veganos produzidos na casa das duas, eventualmente transformado em uma loja física. "Transformamos o Cantinho no que sempre sonhamos, uma casa restaurante alegre e acolhedora que oferece aos clientes uma culinária autoral, artesanal, afro-afetiva e totalmente vegana", enfatizam as proprietárias.

Os pratos de destaque do restaurante são a coxinha de carne de jaca (R$ 10) e o sanduíche de nuggets do Cantinho (R$ 35). "Os salgados do Cantinho ganham o coração dos paladares mais difíceis de agradar, até quem não é vegano ou vegetariano ama", ressaltam.

Onde comer?

Cura Cozinha Orgânica

Estação Ecológica Jardim Botânico de Brasília

De terça a sexta, das 12h às 16h

Sábado e domingo, das 12h às 17h

Japa Vegana

CLN 407, bloco C, loja 57

De segunda a domingo, das 11h às 22h

Casinha Café

CLN 411, bloco D, loja 41

De segunda a sexta, das 12h às 20h

Sábado e domingo, das 10h30 às 16h

Apetit Natural

CLN 407, bloco B, loja 47

De domingo a quinta, das 8h às 21h30

Sexta, das 8h às 15h

Nutri Vida

CLN 403, bloco C, lojas 75/79

De segunda a sexta e domingo, das 8h30 às 15h

Cantinho de Caburé Cozinha Vegana

QE 15, conjunto F, casa 20 — Guará

De quinta a domingo, das 13h às 21h


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas terça, 06 de dezembro de 2022

TORCIDA DO SENEGAL - A MAIS ANIMADA DA COPA

TORCIDA DO SENEGAL - A MAIS ANIMADA DA COPA

Raimundo Floriano

 

Pra início de conversa, uma curiosidade. Vocês sabem que símbolo é aquele nas mangas esquerdas dos jogadores de todas as Seleções no Catar, que a gente não encontra nem fuçando no Google? Não? Pois aqui eis ele, em duas tonalidades, num esforço de minha Fisioterapeuta, a chinesa Hoa Lim, que não está na Copa, mas sabe tudo que a ela se refere:

 

  

 

Outra curiosidade. O Senegal é um país da costa ocidental da África com uma rica herança colonial francesa e muitas atrações naturais. Dacar, a capital, abriga a antiga área da Medina e o estimado Musée Théodore-Monod, que expõe arte africana. Dacar também é conhecida pela vida noturna, que gira em torno da música mbalax nativa. Saint-Louis, antiga capital da África Ocidental Francesa, tem uma cidade antiga com arquitetura colonial. Seu idioma é o francês.

 

 Bandeira e Brasão de Senegal

 

A torcida senegalesa deixará lembranças, pois foi a mais animada da Copa, comandada por este grupo, que se caracterizou no capricho:

 

 

 

A seguir, o mesmo grupo de costas, homenageando o saudoso futebolista patrício, Papa Bouba Diop:

 

 

  

Papa Bouba Diop

 

Ex-meia foi o autor do gol da vitória sobre a França, na abertura da Copa de 2002; ele morreu em novembro de 2020, aos 42 anos vítima de uma doença degenerativa.

 

Papa Bouba Diop é um ídolo senegalês que morreu aos em 29 de novembro de 2020, exatamente quatro dias depois de Maradona, ídolo argentino. Ele foi vítima de uma esclerose lateral amiotrófica, doença com a qual conviveu durante anos. Papa Bouba Diop foi homenageado pela torcida do Senegal nas arquibancadas do Internation Khalifa, no Catar. O capitão da seleção, Koulibably, usa o número 19 em sua braçadeira, também em homenagem ao ex-meia, autor do primeiro gol da Copa do Mundo de 2002, na vitória por 1 a 0 sobre a França.

 

Em 2002, Senegal chegou às quartas de final, sendo a melhor campanha do país na história do Mundial. Ao longo do caminho, derrubou a Suécia nas oitavas de final e caiu diante da Turquia.

 

Papa Bouba Diop marcou um dos gols mais emblemáticos em 2002, uma vez que os franceses colonizaram Senegal durante mais de um século, entre 1817 até 1960, e eram os então campeões do mundo após o título da Copa de 1998.

 

Revelado no futebol suíço e com passagens no Lens, da França, West Ham, Fulham, Portsmouth e Birmingham, da Inglaterra, onde encerrou a carreira, em 2013, ele sofria da Doença de Charcot, síndrome degenerativa nervosa que enfraquece músculos e diminui a sensibilidade nas mãos, braços e pernas.

 

Bouba Diop terminou a Copa de 2002 como artilheiro de Senegal e despediu-se da seleção com 63 partidas e 11 gols marcados, sendo vice-campeão da Copa Africana de Nações nesse mesmo ano.

 

 

 

A torcida de Senegal fez a festa da Copa. Nesta edição do torneio, não haverá outra igual. Na vitória ou na derrota, comemorou e conservou o fair-play ao ver seu time eliminado, mantendo vivos os aplausos, suas canções e seus instrumentos musicais que continuaram animando todo o estádio.

  

Em continência a seu Hino Nacional

 

HINO DO SENEGAL

 

 

TORCIDA DO SENEGAL VAI À LOUCURA NO GOL CONTRA O EQUADOR:

 

Essa valorosa torcida deixará, para sempre, lembranças, saudades e marcas indeléveis em nossos corações!


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 01 de dezembro de 2022

MOSTRANDO O PAU, DIGO, A COBRA, OPA! O CACETE
 

MOSTRANDO O PAU, DIGO, A COBRA, OPA! O CACETE

(Matéria escrita em 21.06.2009)

 

 

É, na falação da sacanagem, pau, cobra e cacete não são os nomes do mesmo animal? Mas, tá bem, é mostrando o pau mesmo!

 

Há algum tempo, foi publicada, no JBF, a foto abaixo desafiando os leitores a identificarem os seis primeiros personagens, já que Genival e Lacerda e Jackson do Pandeiro, os dois últimos à direita, não deixavam sombra de dúvidas. Levei um bom tempo nesse mister.

 

Dona Sinhá, viúva do zabumbeiro Miudinho, reconheceu apenas Zé Calixto, o da sanfona de oito baixos. Ontem, numa festa junina, à qual compareci apenas para desenrolar esse assunto, meu amigo Torres do Rojão, líder do Trio Siridó, que conviveu com todos os personagens no tempo eu que a foto foi tirada, me ajudou a concluir a empreitada.

 

Devemos levar em conta que o ambiente não estava bem iluminado e que o Torres, sempre chupando na rabada dum cigarro pra lá de forte e fedorento, poderia ter as vistas prejudicadas pela escuridão-ambiente, pela fumaça maldita e pelo fato de se encontrar com o rabo cheio de cana.

 

Portanto, aceitarei todas as correções e até aconselho que os duvidosos mostrem a minha conclusão ao João Silva ou ao Genival Lacerda, o que muito útil nos será (ou ser-nos-á, só para chatear Caetano, que odeia a mesóclise).

 

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 01 de dezembro de 2022

YOUTUBARAM O TENENTE FLORIANO

 

YOUTUBARAM O TENENTE FLORIANO

(Publicada no dia 01.12.2014)

Raimundo Floriano

 

 

                        Na vida, com 78 nos couros, pensam que nada mais é novidade? Pois bem!

 

                        Entrei para o Orkut no ano de 2005 e logo procurei inscrever-me como membro das Comunidades relacionadas às pesquisas fonográficas a que venho me dedicando desde há muito: a Música Militar, o Carnaval, o Forró e a Velha Guarda da MPB. De cara, e auxiliado por minhas filhas, que me orientaram nos passos iniciais, aderi às seguintes: SÓ DOBRADOS, MÚSICA MILITAR, SAMBA DE RAIZ, com mais de cem mil membros, MARCHINHAS DE CARNAVAL e JACKSON DO PANDEIRO.

 

                        A Só Dobrados ainda engatinhava, e seus membros não perfaziam uma centena. Chegamos a atingir a casa de 3.000! Qualidade era sua maior característica!

 

                        A Música Militar, com um milheiro membros, vinha crescendo aos poucos, em razão de que a Só Dobrados se tornou mais conhecida, talvez por causa da sua inspirada denominação, fazendo-a mais fácil de ser localizada.

 

                        Na Samba de Raiz, onde comecei postando meu vasto repertório de Noel Rosa, Pixinguinha, Sinhô, Donga, Ary Barroso e outros cobras, recebi esta premiação: fui expulso! Não era isso o que eles queriam.

 

                        Não foi diferente na Marchinhas de Carnaval. Meu estoque de mais de 12 mil músicas carnavalescas do passado não agradou àquela gente. Resultado: cartão vermelho! Depois, ela passou a ser administrada pela pesquisadora Patrícia Rodrigues, que extinguiu, de vez, o regime de expulsão.

 

                        Na Comunidade Jackson do Pandeiro, não havia interação. Apenas eu postava músicas, literatura referente ao Rei do Ritmo, homenagens, mas não obtinha qualquer tipo de retorno, crítica alguma, quer positiva, quer negativa. Saí por conta própria!

 

                        À vista disso, resolvi formar minha própria Comunidade, onde pudesse divulgar meu acervo sem qualquer perigo de exclusão ou interferência deletéria. Assim, nasceu a Comunidade DOBRADOS, CARNAVAL E FORRÓ, que chegou a contar com mais de 900 seletos membros. Era este seu ícone:

  

                        E foi em decorrência de meu trabalho de divulgação nessas Comunidades que me vieram os honrosos reconhecimentos sobre os quais adiante me estenderei.

 

                        NO CARNAVAL - Todas as manhãs de sábado, na Rádio Nacional do Rio de Janeiro FM, o veteraníssimo radialista Gerdal dos Santos apresenta, no programa Onde Canta o Sabiá, o quadro intitulado Alguém Muito Especial, assessorado pela Pesquisadora Patrícia Rodrigues, a das Marchinhas, enaltecendo vultos da Velha Guarda. Sempre que necessitam de alguma peça musical rara, difícil de se conseguir, é de meu acervo que se valem.

                       

                        No período carnavalesco, fico lotado de pedidos de partituras de marchinhas, sambas e frevos, a maioria solicitada por jovens músicos que assinaram contrato com algum clube, mas não conhecem os sucessos mais tocados e cantados pelos foliões de todo os tempos. Tais pedidos têm chegado também do Exterior, de países como Alemanha, França, Japão, Estados Unidos, Portugal, Uruguai, Finlândia, Argentina e muitos outros.

 

                        NO FORRÓ - Minha dedicação a esse gênero, abarcando todos seus compositores e intérpretes, me levaram a tomar posse, no Recife, na Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, tendo como Patrona a cantora Elba Ramalho. Não preciso dizer mais nada!

  

                        NO DOBRADO - Ao formar a Comunidade Dobrados, Carnaval e Forró, além de permanecer fiel à Só Dobrados, disponibilizei nesta grande parte de meu acervo de dobrados, hinos e canções, atendendo às constantes solicitações que me chegavam. Uma delas, os Hinos Estaduais, pesquisa que me tomara mais de três anos de persistência e teimosia. Outra, os Toques de Corneta. Existiam apenas 72 na Internet. Fui à luta. Coadjuvado por dois Cabos Corneteiros do BGP, gravei mais 218 e postei o total de 290 nas duas Comunidades. O Toque de Alarme Aéreo, hoje, contabiliza 15.433 downloads! Confiram aqui: 

 

http://www.4shared.com/account/home.jsp#dir=TUxSzUyM

 

                        O que eu não sabia, nem desconfiava, era que olhos atentos observavam esse meu prazeroso trabalho. E laboravam na surdina, preparando-me uma homenagem que jamais imaginei merecer, mas que comoveu não só a mim, mas a toda minha família.

 

                        Essa deferência partiu do jovem que, na foto abaixo, está tocando seu bombardino. Chama-se ele Filipe Fonseca, reside no Rio de Janeiro e, na época do sucedido, tinha apenas 18 anos de idade!

 

Filipe Fonseca 

                        Pois esse moleque, sem me conhecer pessoalmente, sem ao menos ser meu amigo no Orkut, surpreendeu a todos, a mim e à totalidade da Só Dobrados, no dia 14 de dezembro de 2009, com inspirada composição sua, um belíssimo dobrado, ao qual deu o título de Tenente Raimundo Floriano. Surpreendeu-nos, não só pelo impacto da urdidura, feita em segredo, como pela beleza da linha melódica de sua criação, enriquecida pelos arranjos para 21 instrumentos, todos de sua lavra.

 

                        Minhas camaradas, meus camaradas, eu já me meti a compositor. Sentava-me num boteco com alguns amigos do ramo e danávamo-nos a fazer marchinhas, sambas, o escambau. Mas no caso em tela, o buraco é muito mais embaixo.

 

                        Pasmem! Um jovem de apenas 18 anos, tendo à disposição o vigor da idade e as maravilhosas e infindáveis alternativas de diversão da vida carioca, deixa tudo isso de lado para queimar as pestanas e elaborar uma peça musical dedicada a quem só conhece virtualmente! E o resultado taí: 4:31 de talento e criatividade! Sublime invenção!

 

                        É ou não é para sensibilizar qualquer coração empedernido?

 

                        A Fanfarra do 1º RCG - Regimento da Cavalaria de Guarda, da qual fui nomeado
AMIGO, esmerou-se na gravação desse tesouro musical, que coloco à disposição de meus queridos leitores.

Fanfarra do Primeiro Regimento da Cavalaria de Guarda 

Ouçam-no aqui:

  

 

                        Muito do que foi dito acima está hoje ultrapassado, com a extinção do Orkut. Venho compensando essa lacuna, postando as partituras em meu álbum de fotos do Facebook, onde já se encontram estes títulos: Marchinhas e Sambas Carnavalescos para os dois naipes – trombone e sax alto; e pistom, clarineta e sax tenor –, Chorinhos, Toques de Corneta e Toques de Clarim.

 

MAIS EMOÇÕES:

 

                        Há poucos dias, o amigo Jorge Rocha, meu Assessor Tecnológico, ex-baterista do Gera Samba, capturou, no Google, imagens diversas postadas por mim nas diversas matérias que venho publicando, e youtubou-me, ou seja, brindou-me com este vídeo, que tenho o prazer de colocar à disposição de todos vocês:

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas terça, 29 de novembro de 2022

LEONIZARD BRAÚNA, O BEETHOVEN DO SERTÃO SUL-MARANHENSE
LEONIZARD BRAÚNA,

O BEETHOVEN DO SERTÃO SUL-MARANHENSE

Raimundo Floriano

 

 

                        Leonizard Braúna, filho de Augusto Brahuna e Maria Câmara Brahuna, nasceu em Mirador (MA), no dia 20.4.1925, e faleceu em Serrinha (BA), no dia 5.7.2005, aos 80 anos de idade. Era casado com Creuza Arraes Braúna, filha de Belarmino Arraes e Maria Café Arraes, nascida em Fortaleza dos Nogueiras (MA), no dia 24.6.1924, e também falecida em Serrinha, no dia 22.10.2011, aos 87 anos de idade. Esta é a única foto de que disponho do casal: 

 

                        Casados desde 10.8.1946, tiveram 10 filhos, pela ordem de nascimento: Augusto Agripino Braúna, Ana Lúcia Braúna Alencar de Arruda, Marlene Braúna Santos, Jorge Luís Wagner Arraes Braúna, Lea Maria Arraes Braúna, Afonso Ernani Arraes Braúna, Eurilo Cleantes Arraes Braúna, Raimunda das Luzes Arraes Braúna – a Dica –, Carlos Weber do Brasil Braúna e Mário César Nabantino Braúna, que lhes legaram uma prole de 19 netos e 9 bisnetos, até agora.

(Esses dados biográficos foram-me gentilmente fornecidos pelo amigo Jorge, barbudão)

 

                        Na foto abaixo, obtida em dezembro de 2007, nos 60 anos do Augusto, em Serrinha, falta a Marlene, que não pôde comparecer à festa, por motivo de força maior:

Dica, Augusto, Mário, Ana Lúcia, Eurilo, Léa,

Dona Creuza, Carlos, Jorge e Ernani 

                        Leonizard foi uma das mais preciosas amizades que tive na vida. Exemplo de homem e de músico, muito me orientou como proceder, tanto na atividade carnavalesca, como no modo de me conduzir na família, no civismo e no amor a Deus.

 

                        Na Música, ele teve um grande Mestre, o Padre Constantino, de Pastos Bons, que lhe ensinou todos os segredos da pauta e instrumentais, deixando-o no ponto de escrever partituras com mestria e executar, com virtuosidade, estes instrumentos: trombone, clarineta, saxofone, pistom e gaita de boca.

 

                        Todas as vezes em que eu chegava de férias a Balsas, ele já me presenteava com um litro da melhora cachaça fabricada na região – até eu descobrir que era diabético, isso em agosto de 1990, era minha única bebida alcoólica, pois jamais bebi cerveja. E, quando eu comparecia a sua residência, ele, imediatamente, me ofertava um cálice da branquinha, ao mesmo tempo que Dona Creuza, lá na cozinha, já providenciava o tira-gosto.

 

                        Em Balsas, tocamos no Clube, na Liga, na Zona, em residências e, principalmente, nas ruas, em verdadeiros blocos de sujo, onde o povão brincava pra valer.

Edwaldo, Leonizard e Raimundo, no Clube Recreativo Balsense

 

Raimundo Leonizard, Dumingau e Gemi, na ZBM de Balsas

 

                        Houve um grande momento vivido por nós dois, que faço questão de registrar.

 

                        No ano de 1978, tive grande surpresa e decepção, chegando a Balsas para tocar o Carnaval, ao saber que Lenizard pegara um contrato e estava de partida para o Riachão, onde tocaria os 4 dias, no Clube de lá. Aquilo arruinou meu ânimo, acabou com minha alegria foliona. E, do sábado à segunda-feira gorda, fiquei no CRB, ajudando a Banda FM, do Félix, tocando sem entusiasmo e imaginando: o que será de meu amigo a essas horas? O Félix dispõe de poderosa parafernália eletrônica, potentes amplificadores, guitarras, baixo, Riba no teclado, Gemi na bateria, Edwaldo na sanfona, Edinho e Martinho nos sax e Zé Raimundo – do Riachão, vejam só – no pistom. Enquanto isso, meu amigo está lá no Riachão, sem amplificador, caixas de som, coadjuvado apenas pela bateria do Dumingau e seus batuqueiros, arrebentando-se sozinho, revezando-se nos instrumentos de sopro!

 

                        Na madrugada da terça-feira, não aguentei mais. Ao sair do CRB, peguei meu fusquinha e rumei para o Riachão. Cheguei lá ainda em tempo de alcançar o café da manhã. Leonizard, ao me ver, deu – literalmente –, pulos de alegria. E programou logo um desfile, que se constituiu no Primeiro Carnaval de Rua do Riachão, com a Didi, Tabeliã, na frente, como porta-estandarte.

 

                        E, à noite, no Clube, com meu trombone de vara botando pra derreter nas introduções, tive que cantar, umas vinte vezes, o sucesso do ano, ali ainda desconhecido, Ai, Que Vontade, samba de Oswaldo Nunes, cujo início malicioso assim dizia: “Ai que vontade de meter a cara no mundo”. Foi tremenda apoteose!

******

                        Esse artista, felizmente, não foi esquecido pelas pessoas que verdadeiramente o amaram enquanto viveu. Em Serrinha, seu filho Augusto Braúna, médico e músico,  naugurou o Espaço Lenonizard Braúna, anexo a sua residência, onde, semanalmente, se reúnem a nata da intelectuais, instrumentistas, compositores e vocalistas da cidade, em saraus que varam as madrugadas:

  ******

                        Quando ouço alguém a enaltecer os dotes musicais de pessoa que toca mais de dez instrumentos, e os especifica: surdo, repenique, tarol, cavaquinho, banjo, violão, bandolim, sanfona, piano, órgão, clarineta, saxofone e outros mais, todos de percussão, corda, teclado e palheta, não resisto à tentação de especular:

 

                        – E quantos de bocal?

                        – Bom, de bocal, nenhum – é a resposta.

 

                        Porque, meus camaradinhas, com instrumento de bocal é preciso estudo, é essencial força no bico, é imprescindível a firmeza no lábio superior, a trombada é federal. Conheci, durante todo esse tempo em que tenho convivido com a iluminada classe, um único músico que, num baile, ficava a se revezar no trombone – bocal –, no saxofone – palheta –, na clarineta – palheta – e no pistom – bocal –, por cinco, seis horas, sem jamais quebrar as embocaduras, as notas mais cristalinas e redondas à medida em que a função se prolongava.

 

                        Não bastasse tudo isso, era um virtuoso na gaita de boca. Refiro-me ao Maestro, arranjador, compositor, instrumentista, autodidata, o fora de série, que atendia pelo nome de Leonizard Braúna, esse mesmo de quem lhes falo, para mim o Beethoven do sertão sul-maranhense. De um mortal comum, o instrumento de bocal requer muito esforço, dedicação e persistência.

 

                        E é em homenagem a esse inesquecível amigão que lhes trago uma amostra nos instrumentos supracitados. Leve-se em conta que os registros se deram, em 1974, na varanda de sua casa, utilizando-se pequeno gravador de fita cassete. Participaram Edwaldo, na sanfona, Waltinho Queiroz, no violão, e Dumingau, no pandeiro.

 

 

SOLO DE CLARINETA

            Lágrimas de Namorados, chorinho de Saraiva:

 

SOLO DE PISTOM

            Dolores Sierra, samba-canção de Wilson Batista e Jorge de Castro:

 

SOLO DE TROMBONE

            Clementina, samba de João Nogueira:

 

SOLO DE SAXOFONE 

            Capricho Cigano, tango de Mário Zan, e Entre Espumas, tango de Roberto Muller:

 

SOLO DE GAITA DE BOCA 

            Sempre no Meu Coração, bolero de Ernesto Lecuona. (Gravação feita em Serrinha, com a participação do conjunto de Augusto Braúna.

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas domingo, 20 de novembro de 2022

MINHA COLEÇÃO DE DISCOS
MINHA COLEÇÃO DE DISCOS

Raimundo Floriano

 

 

Estante B

 

                        Quando comecei a ganhar meu dinheirinho fixo, no início de 1958, cuidei logo de comprar uma radiola – mistura de rádio com vitrola – e adquirir os primeiros discos. Desde então, a mania não parou, só recrudesceu. Comecei com o bolachão – disco de cera de carnaúba, quebradiço por demais –, passei pelo vinil e pela fita cassete, até chegar ao atual estágio do cedê.

 

                        A vida de nômade, ora morando em alojamentos, ora em quartos de pensão, ora em locais provisórios, fez com que meu acervo se desfizesse e se renovasse por várias vezes. O que veio a cessar em 1975, quando me estabeleci em residência definitiva.

 

                        Nessa nova etapa, acumulei preciosidades, assim considerando todos os registros sonoros que satisfizessem a meu exigentíssimo paladar.

 

                        Cheguei a possuir 2.400 elepês e 800 fitas cassetes, todos numerados e registrados em fichas, o que me exigiu a aquisição de imenso móvel de aço com várias gavetas para o arquivamento. Classifiquei todas as peças na ordem alfabética dos intérpretes, agrupados esses nos 33 gêneros a seguir:

 

01) BOSSA NOVA - 02) BRASIL - 03) BREGA - 04) CARNAVAL - 05) CHORO - 06) CORDAS - 07) COUNTRY - 08) DOBRADO - 09) ERUDITA - 10) FESTAS - 11) FORRÓ - 12) FOSSA - 13) FREVO - 14) FUTEBOL - 15) HUMOR - 16) INTERNACIONAL - 17) JAZZ - 18) JOVEM GUARDA - 19) LATINA - 20) MPB - 21) NORDESTE - 22) ORQUESTRA - 23) ROCK - 24) SACRA - 25) SAMBA - 26) SERESTA - 27) SERTÃO - 28) SOPRO - 29) TECLADO - 30) TRILHA SONORA - 31) USA - 32) VALSA - 33) VELHA GUARDA.

                        Assim organizado, fiquei em condições de localizar qualquer disco ou fita no tempo máximo de 30 segundos!

 

                        Com o advento do disco a laser, comecei a me reciclar. Em 2003, tomei a decisão de transformar todo o meu acervo de vinis e fitas em cedês, após o que me desfiz de tudo o que fora substituído. Doando, é claro, pois a ninguém interessava comprar essas velharias.

 

                        A colocação dos cedês nas estantes obedeceu a método por mim elaborado e que tem funcionado muito bem até agora, possibilitando-me uma busca rápida e fácil, mesmo sem o auxílio do computador, onde tudo está registrado. E tudo cabendo num disquete.

 

                        Assim, encimando cada gênero, há um estojo vazio, com a lombada escura e letras brancas, designando-o. Os intérpretes vêm, então, em ordem alfabética. No final de cada gênero, para que a inclusão de uma ou mais peças não acarrete a mexida em toda a estante, vêm 10 ou 20 estojos vazios, conforme a frequência, com lombadas brancas e, em letras escuras, a inscrição VAGO.

 

                        As figuras aqui apresentadas dão uma idéia de como ficou tudo isso. A Estante A, por estar embutida numa parede do estreito corredor do meu apartamento, quase não possibilitou uma foto frontal, caso não contasse com a perícia de meu amigo Jorge Rocha, o técnico que, aliás, já transformara meus vinis e cassetes em cedês. Embora apareça no final desta matéria, é, na realidade, a que inicia a coleção, com o gênero Bossa Nova.

 

                        E é todo o meu acervo, composto de mais de 60 mil títulos nos formatos normal e MP3, só na MPB, que coloco à disposição dos amigos que o queiram conhecer.

 

                        A propósito, já existem gestões, junto ao Governo do Distrito Federal, para que tão organizada coleção passe a constar no Catálogo Turístico de Brasília.

 

Estante A


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 29 de outubro de 2022

AUGUSTO BRAÚNA, MÉDICO, MÚSICO E COMPOSITOR

 

AUGUSTO BRAÚNA, MÉDICO, MÚSICO E COMPOSITOR

Raimundo Floriano

 

 

Augusto Braúna e sua gaita

 

(Matéria escrita em 20 de dezembro de 2010)

 

                        Augusto Agripino Braúna nasceu em Fortaleza dos Nogueiras, MA, a 04.12.1947, filho de Leonizard Braúna e Dona Creuza, tendo vivido em Balsas desde a tenra infância, onde concluiu os estudos iniciais, daí partindo para centros culturalmente mais avançados, em busca da conquista do Mundo, o que conseguiu com pleno êxito. Formou-se em Medicina! Seu pai, meu mestre na Música e na vida, foi o melhor músico de sopro que conheci. Tocava com perfeição saxofone, pistom, trombone, clarineta e gaita de boca, além de ser perito em arranjos musicais.

 

                        Apesar de nossa diferença de idade, 11 anos, desde logo surgiu entre nós sólida amizade da qual hoje se pode dizer que é forte até debaixo d’água, por dentro que nem talo de jaca. E isso se construiu pela amizade e admiração que eu já devotava a seu pai, o que faço questão de ressaltar em muitos dos meus escritos, notadamente em meus dois últimos livros, e também pela maneira como o Augusto soube me conquistar a simpatia, com seu modo de ser e com sua intensa vivência numa arte que nos domina e embevece: a Divina Música.

 

                        Comecei a prestar atenção em seu trabalho no Réveillon de 1974, em Balsas, quando tomei conhecimento de uma composição sua, a marchinha ou marcha-rancho Balsas, Querida, da qual gostei à primeira vista, ou melhor, da primeira oitiva, passando a tocá-la imediata e reiteradamente naquela festa, atendendo a renitentes pedidos. Com esse trabalho de divulgação, a que dei continuidade dali pra frente, sinto-me hoje como um dos responsáveis para que ela “pegasse”. Considerada como o hino extraoficial de Balsas, é peça obrigatória nas festas de quaisquer balsenses que se encontram distantes de sua terra natal.

 

                        Agora, cabe aos leitores me perguntarem: – Por que só em 2010 você vem fazer esta homenagem ao Augusto, atrasada, se seu aniversário foi no dia 4, e já estamos no dia 20? E eu lhes respondo: – Porque é Natal! E, neste tempo de comemorações, eu me dano a recordar os momentos felizes com os quais minha vida tem sido agraciada, abrindo o rabo a querer compartilhar tais instantes de ventura com todos os que me rodeiam, vocês, meus atentos leitores!

 

                        E, também, porque o Augusto fez o meu Natal mais feliz. Em 2005, em inspirada veia renovadora, gravou, com sua gaita de boca, instrumento em que é um virtuoso, o CD cuja capa encabeça esta matéria, com oito músicas natalinas em ritmo de samba, dando-lhes uma roupagem muito ao gosto do mais exigente ouvido e propiciando a nós todos a opção de fugirmos das tão manjadas harpas natalinas e outros arranjos que tais existentes por aí.

 

                                                Depois de formado, Augusto fincou suas raízes na Bahia, exercendo seu sacerdócio médico em duas cidades, Salvador e Serrinha, esta a uns 180 quilômetros do Aeroporto da Capital. Embora possua residências em ambas, é em Serrinha que ele exercita sua arte de músico e compositor. Nada mais acertado. Serrinha, pequena cidade, com população em redor de 75 mil habitantes, possui uma Filarmônica! É um pedacinho de Balsas incrustado no coração da Bahia, como vocês verão.

 

                        Em sua bela e aprazível mansão, cercada de árvores frutíferas tropicais, Augusto construiu um anexo, a que deu o nome de Espaço Leonizard Braúna, homenagem a seu falecido pai, onde reúne, todas as sextas-feiras, seus amigos músicos ou apreciadores da MPB de raiz, com saraus que vão até o dia seguinte. Abaixo, a capa CD Augusto Braúna e Amigos, cujo título já diz tudo. 

 

                        Augusto e Célia, sua mulher, têm 4 filhos: Ciara, Bira, Iara e Lorena, esta casada com Daniel, um cabra muito do porreta, que lhes deu a neta Larinha, a gata mais fofa do pedaço, que tem feito do amigo Augusto um avô muito do coruja. Com suas bases preponderando mais em Serrinha, ali moram Dona Creuza, sua mãe, e alguns dos irmãos com as respectivas famílias. É Braúna vazando pelo ladrão!

 

                        Em 2006, em meu Forrozão/70, o Augusto me surpreendeu e me mostrou provas da solidez de nossa amizade, comparecendo com a mulher e uma das filhas e dando uma canja na parte musical, ocasião em que, é claro, todos os balsenses cantaram Balsas Querida, emocionando-o com esse gesto.

 

Ciara, Augusto, Raimundo e Célia, no Forrozão/70 

                        Em dezembro de 2007, chegou a vez de retribuirmos a gentileza. Seu Sessentão seria comemorado no dia 22, sexta-feira, em Serrinha, no salão de festas da Churrascaria e Hotel Shalon. No dia 21, eu e Veroni, minha mulher, pegamos um avião até Salvador, onde, no Aeroporto, Célia nos esperara para conduzir-nos até lá.

 

                        Tão logo chegamos à mansão dos Braúnas, véspera ainda da festa principal, o pampeiro já começou. Aos poucos, iam aparecendo seus amigos acima mencionados, tomando assento no Espaço Leonizard Braúna e dando início à parte musical. Mais tarde, mas não tanto, chegou o ansiosamente esperado: o sanfoneiro Antista, que veio de Balsas, com sua turma, abrilhantar a festa. Quase se amanheceu o dia nessa pré-estreia.

 

                        Estiveram presentes nessa noite muitos convidados e penetras. Tive o imenso prazer, não só de conhecer muitos membros dessa tradicional família, como o de rever estes meus conterrâneos: Dona Creuza, seus filhos Ana Lúcia, Jorge, Léa, Mário, Ernani, Eurilo, Carlos e Dica. Dos 9 irmãos do Augusto, apenas Marlene, residente em Salvador, não compareceu, devido a problemas de saúde.

 

                        Grande emoção foi reencontrar Violeta Braúna, tia do Augusto, minha colega no curso primário balsense e paixão não correspondida de infância. Não nos víamos havia 59 anos. Hoje, bem-casada, reside em Salvador, é aposentada do Banco do Brasil e tem um filho também chamado Augusto Braúna, presente à festa.

 

                        Fez parte do esplendor desse Forrozão/60 o Sanfoneiro Vado, figura de proa no cenário musical de Salvador, que deu verdadeiro show com sua sanfona, acompanhado pela turma do Antista.

 

                        No dia seguinte, 22, a festa foi no Hotel Shalon, acima citado. Começou ao meio-dia e terminou na manhã do dia 23, forrozão pesado, pé-de-serra, com bebida e comida típica do sertão baiano, coisa pra nunca mais ser esquecida. Tudo boca-livre, se querem saber. O comparecimento das classes mais representativas da cidade deu cabal amostra do tanto que o Augusto é querido por sua população.

 

                        Na manhã do dia 23, tomamos café com frito, ovos mexidos, beiju, cuscuz, etc. e tal, e, logo em seguida, a Dica nos trouxe de volta até o Aeroporto de Salvador, onde embarcamos no avião para Brasília. Aqui, desfeitas as malas, demos continuidade as características festivas do momento, comemorando, à meia-noite do dia 24, o Divino Advento de Cristo e desejando Feliz Natal para toda a Humanidade.

 

                        A seguir, fotos da inesquecível festa serrinhense:

 

Augusto e Raimundo: entre ambos, só boas ausências

 

Dica, Augusto, Mário, Ana Lúcia, Eurilo, Léa,

Dona Creuza, Carlos, Jorge e Ernani

 

Bira, Iara, Ciara, Augusto, Célia e Lorena

 

Raimundo e Violeta Braúna, relembrando a infância

 

Antista e seus forrozeiros sul-maranhenses 

 

 Sanfoneiro Vado prestigiando o Forrozão/60

 

Célia e Augusto no maior remelexo

 

 

Espaço Leonizard Braúna - Detalhe

Na parede à direita, retrato do Patriarca

 

Antista, Augusto, Raimundo e Veroni

No alto, a igreja de Nossa Senhora de Santana 

                        Para mostrar um pouco do talento desse grande amigo, aqui vai esta seleção: 

                        Balsas Querida, marcha-rancho de sua autoria, na voz do balsense Deusamar Santos:

 

DO CD NATAL BEM BRASLEIRO, MÚSCAS EM RITMO DE SAMBA 

                        Boas Festas, composição de Assis Valente:

 

                        Noite Feliz, composição de Joseph Mhor:

 

                        Bate o Sino (Jingle Bells), composição de James Lord Pierpont:

 

                        Natal das Crianças, composição de Blecaute:

 

                        O Velhinho, composição de Octávio Filho:

 

DO CD AUGUSTO BRAÚNA E AMIGOS 

                        De Conversa em Conversa, samba de Lúcio Alves e Haroldo Barbosa:

 

                        Chamego Proibido, rojão de Jorge de Altinho e Lindolfo Barbosa:

 

                        Saxofone, Por Que Choras, choro de Ratinho:

 

                        Esperando na Janela, xote de Targino Gondim, Manuca e Raimundinho do Acordeon:

 

                        Forró do ABC, rojão de Moraes Moreira:

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 14 de outubro de 2022

CACARECO, O PALHAÇO CANDANGO
CACARECO, O PALHAÇO CANDANGO

Raimundo Floriano

 

 

 

Palhaço Cacareco 

                              10 de dezembro: Dia do Palhaço!

 

                        O objetivo desta matéria é homenagear o Palhaço Cacareco, alegria da criançada brasiliense até o início de 1992, ano de seu falecimento. Mas começo aproveitando a oportunidade para dar-lhes pequena aula de Sintaxe Consuetudinária, necessária para o prosseguimento daquilo a que me proponho.

 

                        Eu fico tiririca – no bom sentido –, abespinhado mesmo, quando órgãos governamentais teimam na mania de enfiar-nos goela adentro certos estrangeirismos e modismos que não nos soam bem, agridem nossas oiças. Recentemente, lançaram aqui o Projeto Limpa Brasília - Let’s Do It e, há algum tempo, teimam em impingir-nos as expressões de Ceilândia, em Ceilândia, ao referirem-se àquela simpática Cidade Satélite da Capital Federal.

 

                        Ora, nós, os que estamos aqui desde primórdios da colonização, chegamos a conhecer a Sapolândia – acampamento perto duma lagoa, que abrigava muitos sapos seresteiros –, a Sacolânia – acampamento cujos barracos de madeira eram cobertos por sacos de cimento –, e a Candangolândia, que hoje é também uma Satélite de Brasília. O sufixo lândia, com o significando terra de, complementando o substantivo que o antecede. A propósito, minha amada mulher, índia pretinha baiana, nasceu na Brejolândia.

 

                        Falemos um pouco da História do Distrito Federal.

 

                        Em 1967, foi iniciada a construção da Cidade Satélite do Guará, para absorver o contingente populacional oriundo de várias invasões e núcleos habitacionais provisórios. As primeiras residências foram construídas, através do sistema de mutirão, pelos funcionários da NOVACAP - Companhia Urbanizadora da Nova Capital, que nelas iriam morar. A inauguração se deu a 21 de abril de 1969, ano em que a NOVACAP e a SHIS - Secretaria de Habitação de Interesse Social prosseguiram com a urbanização, do segundo trecho, o Guará II, inaugurado a 2 de março de 1972, para abrigar funcionários do Governo Federal. Em pouco tempo, o Guará transformou-se num bairro preferido pela classe média alta.

 

                        Paralelamente ao Guará e perto dali, confrontando com a Candangolândia e com a Cidade Livre – atual Núcleo Bandeirante –, crescia em ritmo geométrico e desordenadamente a invasão denominada Morro do Urubu. Carente de qualquer tipo de saneamento básico, e sem luz elétrica, o Morro era preferido por traficantes e desordeiros, para ali se esconderem, perturbando a vida da maioria de seus moradores, pessoas pacatas e de boa índole. Nas madrugadas, era comum ouvirem-se tiroteios, e balas perdidas zuniam dali pra todo lado. Por isso, o Governo do Distrito resolveu urbanizar uma nova área para transferir toda aquela população, dando-lhe dignas condições de moradia e desarraigando, de vez, a sofrida invasão.

 

                        Para isso, foi criada, em 27 de março de 1971, a CEI - Campanha de Erradicação de Invasões. O local, para onde a população do Morro do Urubu foi trasladada, distante quase 30 quilômetros do Plano Piloto, foi logo denominada Ceilândia, ou seja, terra da CEI. Ao reportarem-se ao novo local de suas residências, seus habitantes diziam: moro na Ceilândia, vim da Ceilândia, vou para a Ceilândia, etc., etc. Não sei por que cargas-dágua, as autoridades adventícias vêm agora com essa novidade: em Ceilândia, de Ceilândia, para Ceilândia, e o escambau. Mas está virando moda! Em crônica publicada na Revista do Correio de 20.11.11, a atriz-escritora Maria Paula diz: “foi o lançamento do meu livro Liberdade Crônica, na Feira Literária Internacional de Pernambuco, em Recife.” É no Recife, Dona Paula, é no Recife!

 

                        Embora a Ceilândia fosse provida de todo o saneamento básico, luz elétrica, ruas asfaltadas e coisa e tal, os novos moradores, no início, reagiram negativamente à mudança, e isso por um motivo à vista de todos: enquanto a Ceilândia era muito distante, o Morro do Urubu, ao lado do Guará, ficava bem pertinho do Plano Piloto.  Tal sentimento foi muito bem exposto pelo Palhaço Cacareco, na marchinha Sei Lá – alusão a CEI-lá ou Ceilândia –, de Alfredo Ribeiro e Nestor Cavalcante, composta em 1972 e lançada no Carnaval de 1973:

 

Onde é que você mora, bem?

Sei lá!

Me disseram que ficou muito bem!

Sei lá?

Para ver onde é que eu moro,

É só indo lá, é só indo lá!

 

Eu fui levado pra morar lá fora!

Por Nossa Senhora,

Nem parece que é lugar!

Mas se eu ganhar

O bolão desta semana

E for a grana,

Vou de muda pro Guará!

Quá-quá-quá-quá!

 

                        No engatinhar da TV Brasília, o Palhaço Cacareco comandava o Carrossel, programa infantil campeão de audiência, quando o gênero ainda não era dominado pelo batalhão de loiras que, depois dele, viriam a surgir. Além disso, com sua trupe, animava aniversários e se apresentava em circos e teatros. Embora tenha sido a alegria da criançada brasiliense até o início dos Anos 1990, quase nada ficou escrito sobre ele. Foi uma passagem completamente esquecida pela mídia.

 

                        Seus atores principais, além do Palhaço Cacareco, o protagonista, eram a Bruxa Danadinha, os Palhaços Linguiça, Folia, Purpurina, Carranquinha e Zé Gatão e as repórteres-mirins Renata e Tânia Cury.

 

                        Pesquisando na Internet, constatei que até as imagens abaixo foram postadas por admiradores seus daquele tempo, que também registraram alguns depoimentos, disponíeis no Gooogle.

 

Imagens postadas por fãs na Internet                       

                        José Alves Oliveira, o Cacareco, nascido a 25 de outubro de 1931, em Igarapava (SP), partiu desta vida no dia 15 de maio de 1993, no Hospital Geral Ortopédico de Brasília, pobre e esquecido pelos Poderes Públicos. Era casado com Jussineia Delevedove Oliveira, com quem tinha os filhos Diego e Douglas, que nos forneceram esses dados biográficos.

 

                        Para custear as despesas com os funerais, foi aberta uma conta bancária, na qual seus admiradores, dentre os quais me incluo, acorreram com generosas contribuições, na última homenagem a esse grande artista.

 

                        Além, da música já citada, tenho com ele em meu acervo o samba Engrena Agora, dos mesmos autores, também gravado para o Carnaval de 1973.

 

                        Com vocês, para conhecerem um pouco de seu trabalho fonográfico, a marchinha Sei lá.

 

                        E, também, o samba Engrena Agora:

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 08 de outubro de 2022

ENTRETENIMENTO: FIM DE SEMANA TEM ESTREIA DE *O CLUBE DA MEIA NOITE*, NA NETFLIX - OUTROS DESTAQIE

 

Fim de semana tem a estreia de O clube da meia-noite, na Netflix. Especial com Ivete Sangalo também está entre os destaques

De terror a Ivete Sangalo. Entre os destaques pinçados pelo Próximo Capítulo para você estão a estreia da série O clube da meia-noite, na Netflix, e o especial Ivete e os mascarados, na Globo. Confira!

Sinais do além
O livro O clube da meia-noite, de Christopher Pike, dá origem à série homônima que estreia hoje na Netflix. A trama se passa num hospital para jovens com doenças terminais onde 8 pacientes se reúnem todas as noites para contar histórias. Os amigos acabam fazendo um pacto macabro: o próximo a morrer vai mandar um sinal para mostrar se há vida depois da morte. A série tem 10 episódios.

Medalha de ouro


Nada como uma olimpíada depois da outra para um time lavar a alma. A prova está no documentário O time da redenção, estreia de hoje no catálogo da Netflix. O longa começa com os EUA ainda de ressaca depois do fiasco do time de basquete masculino nos jogos de Atenas (2004) e vai até o ouro das Olimpíadas seguintes, em Pequim. O documentário vai da formação da equipe campeã, com depoimentos de atletas e técnicos, até o estabelecimento de um novo padrão de comportamento para o basquete americano.

Em boa fase
O filme Os primeiros soldados estará em foco no Cinejornal de amanhã. A partir das 13h50, o Canal Brasil exibe uma entrevista com o protagonista do longa. O filme estreia na programação da emissora às 22h30. Massaro vive Suzano, um biólogo brasileiro que tenta sobreviver à primeira onda da pandemia da Aids, na década de 1980. Assustado com a incerteza de ter contraído a doença, o biólogo se aproxima da transexual Rose (Renata Carvalho) e do videomaker Humberto (Victor Camilo) , também soropositivos. Na entrevista, o ator fala sobre esse trabalho e comemora a fase produtiva que vive na telona. “É um momento de colheita e, sobretudo, de entender o próximo ciclo”, afirma o ator, em material de divulgação.

Cantores mascarados


Enquanto a próxima temporada de The masked singer Brasil não vem, a apresentadora Ivete Sangalo aproveita para se divertir na companhia de mascarados como o Dragão, o Urso e a Onça Pintada. Ela vai matar as saudades no especial Ivete e os mascarados, domingo após Temperatura máxima. “É uma emoção enorme cantar com os mascarados, eu me deparei com um desejo recíproco. Não é uma batalha, é um dueto. É uma experiência muito deliciosa e posso matar a saudade de uns personagens da primeira temporada e reviver emoções da segunda temporada”, conta Ivete, em material de divulgação da série. Além de Ivete e dos mascarados, o programa terá participação de Sidney Magal, Melim, Sandy e Priscilla Alcântara. O repertório será de sucessos da carreira da cantora, como Sorte grande, A lua que te dei e Tempo de alegria.

O início de um ritmo
O canal A&E estreia domingo, às 22h55 a série documental Origens do hip hop. Em oito episódios, a produção ouve estrelas do ritmo, como Busta Rhymes, Eve, Fat Joe, Grandmaster Flash, Ice-T e Ja Rule. Eles falam sobre a própria trajetória musical e, com isso, acabam traçando um panorama histórico social e musical do hip hop. A cada domingo serão dois episódios. Na estreia, Busta Rhymes e seu estilo excêntrico, voz estrondosa e carreira explosiva. Na sequência, será a vez de Grandmaster Flash.


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 29 de setembro de 2022

MARIA RODRIGUES, NOSSO ANGELITO NEGRO
 
MARIA RODRIGUES, NOSSO ANGELITO NEGRO

(29.09.1929 – 09.11.2013)

Raimundo Floriano

 

 

 Maria Rodrigues

 

                        Maria Rodrigues da Silva nasceu em Floriano (PI), no dia 29.09.1929, filha de Laurindo Rodrigues da Silva e Cesária Maria da Conceição. Aos três anos de idade, ficou órfã de pai e mãe. Dona Cesária morreu em decorrência de males oriundos de sua intensa exposição ao calor nas bocas dos fornos das olarias onde trabalhava. Seu Laurindo, também, vítima de infecção no calcanhar, provocada pela mordida de um gato, no rabo do qual pisara.

 

                        Seu irmão mais velho, num total de sete, Fernando, já casado e com três filhos, residente em Uruçuí (PI), ciente dos demais irmãos desamparados, foi buscá-los. A viagem de volta, num percurso de 208 km, foi feita a pé, levando seis dias na caminhada. Um dos pousos foi a Fazenda Brejo, antiga propriedade do meu avô paterno, Capitão Pedro José da Silva, hoje em poder do meu primo Airton, médico residente em Teresina, filho do Comandante João Clímaco, o Tio Joãozinho.

 

 Maria Rodrigues e Comandante Puçá

 

                        Maria Rodrigues era irmã de José Rodrigues dos Santos, o Comandante Puçá, que a trouxe para Balsas na Década de 1940, quando começou a tripular embarcações pertencentes a armadores de nossa cidade.

 

                        Sua família está, desde o início da Década de 1950, intimamente ligada à minha. Fernando é o pai da Maria Júlia, que foi morar conosco em 1951, ainda menina, sendo, praticamente, criada por Dona Maria Bezerra, minha mãe. Seguiu ela com minha irmã Maria Alice para Engenheiro Dolabela (MG), quando esta se casou, acompanhando-a nas mudanças para Brotas (SP), Anápolis (GO), e, finalmente, Balsas. Em 1974, veio cuidar de minha residência aqui em Brasília. Mais tarde, casou-se com Odílio Silva, seu primo, antigo craque da Seleção Balsense de Futebol, com o qual teve um filho, o Reinaldo, meu afilhado, hoje Engenheiro da Computação, todos residentes em Anápolis, Odílio já falecido, e ela aposentada pelo INSS.

 

                        Maria Rodrigues, a Maria, como sempre a chamei, veio a ser um forte esteio para minha gente em Balsas, nas ocasiões mais delicadas. Fechou os olhos de minha mãe, em seu último suspiro, tendo-a velado como se parente fosse. Igualmente, esteve à cabeceira de Seu Rosa Ribeiro, meu pai, até que expirasse. Desde 1969, constituiu-se em amiga, conselheira, companheira, praticamente mãe de minha irmã Maria Alice, falecida de mal súbito em 2002.

 

                        Lembram-se daquele filme Mary Poppins, em que uma fada apareceu do espaço sideral, navegando em seu guarda-chuva, para dar jeito numa família inglesa toda desnorteada? Pois bem assim aconteceu conosco!

 

                        Na madrugada de 17 de fevereiro de 1969, estávamos todos os irmãos perplexos, apavorados, inertes, diante do leito de morte de nossa mãe – era o primeiro ente querido que perdíamos na família –, quando se materializou no quarto, enviado pelo firmamento celeste, aquele angelito negro, que se impôs perante nós e os demais presentes, encomendando a alma de Maria Bezerra aos braços do Senhor, fechando-lhe os olhos, dando-lhe banho, amortalhando-a, colocando-a no caixão e passando, desde então, a cuidar de todos nós.

 

                        Depois da Missa do Sétimo Dia, retornamos às cidades onde morávamos, ficando em Balsas apenas a Maria Alice, que lá exercia o cargo de Tabeliã do 2° Ofício.

 

                        Maria Bezerra deixou-nos para sempre, mas sua partida legou-nos outra Maria que passou a substituí-la no papel de nossa mãe. Aos 40 anos de idade, Maria Rodrigues assim se impunha pelo carisma e pela dedicação demonstrada até seus momentos finais.

 

                        Maria Alice, desde o início dessa maravilhosa simbiose, teve a premonição de que um dia deixaria o mundo antes de Maria Rodrigues. Por isso, a partir de quando foi por ela perfilhada, passou a contribuir para o INSS em seu nome, garantindo-lhe futura aposentadoria. E mais, ao constatar que o valor de seus proventos seria ínfimo, conseguiu, com o prestígio de que gozava, sua nomeação como funcionária pública do Estado do Maranhão. Dessa forma, ao completar 70 anos, Maria se aposentou com duas fontes de renda.

 

                        Há muito, Maria se constituíra como arrimo de Raimunda, sua irmã, e de grande quantidade de sobrinhos e parentes afins que ainda batalhavam na luta pela subsistência.

 

                        Nesse tempo, residia na Rua Nova, em casa alugada, bem distante da Rua do Frito, hoje 11 de Julho, onde Maria Alice morava. Esta, visando a garantir uma velhice tranquila para Maria e sua irmã, mandou construir, na metade do terreno onde morava, belíssima casa de esquina, na Rua Isaac Martins, que lhe foi entregue com escritura passada em cartório. Adiante, a frente da simpática moradia, escondida por um muro, exigência de segurança no modernismo balsense:

  

                        Pelos arbustos floridos que a enfeitam, pode-se avaliar como seria o jardim, entre sua casa e a de Maria Alice, do qual Maria cuidava com esmero, sendo o local preferido para a foto oficial dos casais menos apercebidos que contraíam matrimônio no Cartório, situado na esquina da Rua do Frito.

 

 Maria Rodrigues em seu impecável jardim 

                        Maria era pessoa antenada com os acontecimentos da cidade e com a sociedade balsense. Zeladora do Sagrado Coração de Jesus, como foram Maria Bezerra e Maria Alice, participava, anualmente, da Comissão Organizadora dos Festejos de Santo Antônio.

 

                        Maria viveu num tempo em que não havia esse negócio chamado selfie, e as raras fotografias que temos dela são todas esmaecidas, razão pela qual pedi ao amigo Juarez Leite, artista plástico, que as reproduzisse, dando-lhes mais vigor.

 

                        Maria Alice, como previra, foi embora primeiro. No dia 3 de março de 2002, partiu mansamente, como dito acima. Maria, que já desempenhara competentemente o papel de sua mãe, irmã e amiga, assumia, tacitamente, esse mesmo papel junto a seus filhos. A seguir, vêmo-la, já em idade avançada, em companhia do Doutor Raimundinho, filho da Maria Alice, que, diariamente, tomava refeições em sua casa.

 

 Maria Rodrigues e Raimundinho 

                        Maria teve um grande amor na vida. Chamava-se Camilo. Durante a construção de Brasília, ele para aqui arribou, com a promessa de mandar buscá-la tão logo se ajeitasse financeiramente, porém jamais deu notícia. Por essa razão, Maria nunca mais quis saber de homem.

 

                        No dia 9 de novembro de 2013, aos 84 anos de idade, nosso angelito negro encantou-se, voltando à Casa do Pai, de onde viera para cuidar de todos nós.

 

                        Hoje, 29 de setembro, Maria Rodrigues comemora mais um aniversário. Desta vez no Paraíso, juntamente com sua grande amiga, como todos os anos acontecia em sua vida terrena. Lá no Céu, em singelo congraçamento, enquanto ela corta o bolo, Maria Alice canta-lhe “Parabéns pra você”.

 

 O Angelito e Maria Alice: Festa no Céu 

                        Para musicar essa festa, nada melhor que um bolerão das antigas, como Angelitos Negros, poema do venezuelano Adrés Eloy Blanco, com letra do mexicano Manuel Álvarez Macisto, na interpretação da madrilenha Nati Mistral. Vamos ouvi-lo:

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas domingo, 25 de setembro de 2022

HOTELARIA: REGINA COMPLTA

 

Por Ludmilla de Lima — Rio de Janeiro

 

Passado. José Caamaño, de paletó, sócio do Regina, e Antonio Estevez, funcionário mais antigo, diante da penteadeira
Passado. José Caamaño, de paletó, sócio do Regina, e Antonio Estevez, funcionário mais antigo, diante da penteadeira Custodio Coimbra

A reboque das comemorações do centenário da Independência do Brasil, em 1922, uma série de hotéis na cidade ganhou forma. O Rio buscava se mostrar moderno para o mundo e sediava a primeira exposição internacional do pós-guerra. A poucos metros do Museu da República, um desses estabelecimentos segue firme e forte: trata-se do Hotel Regina, na Rua Ferreira Viana 29, em funcionamento desde o dia 3 de setembro de 1922, data da sua inauguração.

 

A fachada, em rosa claro, é preservada pelo município. E, por dentro, nada de cheiro de mofo: a hospedagem centenária, uma das mais antigas do Rio, passou por uma modernização no começo dos anos 2000, ganhando no terraço um pequeno spa, já de olho nos grandes eventos que a cidade sediaria. Dos seus primórdios, restou apenas uma bonita penteadeira.

De padrão três estrelas, o hotel abrigou em seus tempos áureos, quando era vizinho do poder, o Palácio do Catete, nomes ilustres como o de Juscelino Kubitschek. Além de receber muitos políticos, era palco de bailes de carnaval. Fora da folia, contava com um restaurante onde uma orquestra tocava diariamente. Como mostram anúncios publicados em jornais da época, no primeiro e no terceiro domingo de cada mês recebia famílias cariocas para um “dinner concert”.

De acordo com o sócio José Caamaño, vice-presidente do sindicato Hotéis Rio, o Regina é o segundo hotel mais antigo da capital em atividade. O lugar, com sete andares e 117 apartamentos, só perde para o Riazor, em frente ao Museu da República, no Catete, que também é propriedade de Caamaño e data do século XIX.

— O Regina é contemporâneo do Palácio do Catete, que sediava o governo federal, e entre as décadas de 20 e 40 hospedava muitos políticos. JK foi um dos mais conhecidos, e ficou no Regina quando ainda era deputado — afirma Caamaño, sócio há 25 anos do hotel com Magali Villar (herdeira de outro patrimônio carioca, o Cervantes).

Ele conta que, décadas depois, seria a vez do Regina receber um chefe de estado:

— Na Rio+20 (em 2012), quem ficou no nosso hotel foi o Raul Castro, então presidente de Cuba. Houve um pedido do governo federal para que todos os hotéis do Rio recebessem delegações. Ficamos envaidecidos e trabalhamos muito durante a sua estadia. Fiz amizade com a segurança do presidente e dei a ele um presente: a camisa do Flamengo.

 

Recuperação gradual

 

Hoje a ocupação média do Regina, que não parou nem na pandemia, gira em torno de 70%. Aos poucos, o negócio recupera os turistas corporativos, que sempre foram o seu forte. A diária varia entre R$ 230 e R$ 400, dependendo da data. Os melhores apartamentos têm sacada com vista para a Praia do Flamengo. Uma tradição é a hospedagem de atletas: no começo do XX, eram os remadores e pugilistas; hoje, são jogadores de vôlei e de futebol. O técnico de vôlei Bernardinho já passou noites no Regina. No começo do mês, o time sub-17 do Bahia descansava lá da partida contra o Botafogo: os visitantes ganharam por 2 a 1. No total, eram 30 profissionais do clube hospedados.

— Nem parece que o hotel tem cem anos — comenta Edson Oliva, supervisor do Bahia, e que já se hospedou outras vezes, inclusive com o time feminino do clube. —Aqui fica bem localizado e tem a questão do atendimento e da alimentação adequados para quem vem com grupos de dezenas de pessoas. Há atenção aos detalhes.

 

 

O funcionário mais antigo é o gerente Antonio Estevez, de 72 anos, que chegou bem antes da última modernização:

— Não tínhamos garagem, nem sauna e hidromassagem. E passamos a contar com cinco salões de eventos — diz ele, espanhol da região da Galícia, assim como os pais de Caamaño. — Recebemos muitos hóspedes a trabalho de todos os estados do Brasil.

Seu concorrente mais antigo, o Riazor, tem estrutura mais simples. Como é tombado, Caamaño solicita ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico nacional (Iphan) o aval para uma reforma de melhorias: um dos objetivos é colocar sistema de ar-condicionado nos apartamentos de frente e laterais.

 

Registro de 1870

 

Na fachada, a data gravada é 1891. Mas, o proprietário encontrou o registro de uma pessoa que se hospedou no endereço em 1870. Originalmente, chamava-se Pensão Schray. Na década de 1960, foi modificado e virou Monte Blanco. O nome Riazor ganhou a fachada em 2001, quando o empresário, filho de espanhóis assumiu o local. Apaixonado por futebol, Caamaño se inspirou no estádio do Deportivo La Coruña, pelo qual jogou o craque brasileiro Bebeto, de quem é fã. Além disso, o La Coruña é o time de seus pais na Espanha.

— O Riazor é a mais bela propriedade histórica do Catete depois do Museu da República — diz o dono.

Perto dali, o Hotel Glória teria completado cem anos em agosto. Outro ícone, o Copacabana Palace, festejará seu centenário em 2023.


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 24 de setembro de 2022

MÁRIO PALMÉRIO, ROMANCISTA E COMPOSITOR

 

MÁRIO PALMÉRIO, ROMANCISTA E COMPOSITOR

Raimundo Floriano

 

  

                        Mário Palmério é ilustre habitante de minhas estantes literárias e musicais e protagonista de um sonho que não consegui realizar na vida por extremo comodismo, como adiante os amigos verão. É com imenso prazer que o trago a suas presenças, nestes dias em que raramente ainda se fala em seu nome.

 

                        Mário de Ascenção Palmério nasceu em Monte Carmelo (MG), a 01.03.1916, e faleceu em Uberaba (MG), a 24.09.1996, com 80 anos de extensa produção cultural, tanto na Literatura, no Magistério e na Música, além de atuação na Política. Casado com Cecília Arantes Palmério, teve com ela dois filhos, Marcelo e Marília. Era filho de Francisco Palmério e Maria da Glória Palmério. Seu pai foi engenheiro civil e advogado, tendo exercido o cargo de Juiz de Direito em várias comarcas mineiras.

 

                        Mário Palmério fez seus estudos secundários no Colégio Diocesano de Uberaba e no Colégio Regina Pacis, de Araguari, concluídos em 1933. Em 1935, matriculou-se na Escola Militar de Realengo, no Rio de Janeiro, de onde se desligou, no ano seguinte, por motivos de saúde. Em 1936, ingressou no Banco Hipotecário e Agrícola de Minas Gerais, sendo designado para servir na sucursal de São Paulo.

 

                        Na capital paulista, iniciou-se no Magistério Secundário, como Professor de Matemática no Colégio Pan-Americano, Passando a lecionar em outros estabelecimentos pouco tempo depois, dedicando-se exclusivamente ao Magistério. Na primeira metade dos anos 1940, cursou a Seção de Matemática da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo, época em que passou a lecionar também no Colégio Universitário da Escola Politécnica, por nomeação do governo daquele Estado.

 

                        Seu destino seria, entretanto, realizar obra educacional de maiores proporções e, atraído pelo extraordinário progresso que alcançava Uberaba e toda a região triangulina, em virtude do desenvolvimento de sua pecuária de gado indiano, Mário Palmério deixou São Paulo para abrir naquela cidade mineira o Liceu do Triângulo Mineiro.

 

                        Em 1945, construiu imponente conjunto de edifícios, na cidade de Uberaba, para sede do Colégio do Triângulo Mineiro e da Escola Técnica de Comércio do Triângulo Mineiro, já visando a criação da primeira escola superior a instalar-se na região. Em 1947, o governo federal autorizou o funcionamento da Faculdade de Odontologia do Triângulo Mineiro, por ele fundada, primeiro passo para a transformação de Uberaba em Cidade Universitária.

 

                        No Triângulo Mineiro, fundou, em 1950, a Faculdade de Direito e, em 1953, a Faculdade de Medicina. No mesmo ano, elegeu-se deputado federal por Minas Gerais, reelegendo-se em 1954 e 1958, sempre na legenda do Partido Trabalhista Brasileiro. Suas atividades desdobraram-se, assim, em dois setores importantes, o educacional e o da representação parlamentar. O exercício de seu mandato e suas outras atividades no Rio de Janeiro não impediram, entretanto, seu trabalho educacional em Uberaba: Em 1956, fundou em Uberaba, a Escola de Engenharia do Triângulo Mineiro.

 

                        A exemplo de Graciliano Ramos, estreia na vida literária não propriamente tarde, mas a meio caminho: só aos 40 anos aparece seu primeiro livro, fruto quarentão de aventura intelectual cujo propósito era bem outro, isto é, a política. Vila dos Confins, publicado em 1956, “nasceu relatório, cresceu crônica e acabou romance...", segundo confessou. Mais tarde, em 1965, lançaria Chapadão do Bugre, que até virou minissérie na TV Globo, tendo Edson Celulari como protagonista. Sempre releio esses dois livros e, cada vez mais, aprendo sobre o sertão e a natureza humana com sua volubilidade, principalmente a dos políticos, como ele soube muito bem observar por própria experiência, vivendo no meio deles.

 

Duas obras-primas da Literatura Brasileira 

                        Educador, político, literato, todo o trabalho nesses três largos campos de atividade ele realizou inspirado pelo amor à sua terra e à sua gente. A mesma inspiração levou-o a prosseguir, a tentar novas e fecundas iniciativas. Construiu, em Uberaba, a Cidade Universitária, em terreno de área superior a 300 mil metros quadrados, e o Hospital Mário Palmério, da Associação de Combate ao Câncer do Brasil Central, maior nosocômio em todo o Interior do Brasil.

 

                        Em 1962, com reeleição garantida no Triângulo Mineiro, afastou-se, voluntariamente, da carreira política, sendo nomeado pelo Presidente João Goulart para o cargo de Embaixador do Brasil junto ao Governo do Paraguai, posto que assumiu em outubro do mesmo ano.

 

                        Permaneceu nessa missão até abril de 1964. Sua passagem pela Nação Paraguaia, na condição de embaixador do Brasil, foi marcada por intenso trabalho, destacando-se a reforma e reinstalação do edifício da Embaixada, a conclusão das obras do Colégio Experimental – doado ao Paraguai pelo governo brasileiro – e da Ponte Internacional de Foz do Iguaçu, e a instalação, em novo edifício, amplo e central, do Serviço de Expansão e Propaganda, da Missão Cultural e do Consulado.

 

                        Dando ênfase às atividades culturais e artísticas, Mário Palmério integrou-se admiravelmente no seio da intelectualidade paraguaia, estreitando-se assim, mais ainda e de forma duradoura, os laços de compreensão e amizade entre os dois países. Neste campo, deixou lá sua marca. Compôs as guarânias Saudade/SoledadNo Digas NoVanidosa, LlámameCanción e Mi Niñez e Noche de Assunción, que ficaram registradas em LP.

 

No Paraguai: LP com suas músicas e pose com o Presidente Alfredo Stroessner 

                        De regresso ao Brasil, Mário Palmério reencetou suas atividades literárias. Isolando-se em fazenda de sua propriedade, no sertão sudoeste de Mato Grosso – a Fazenda São José do Cangalha –, escreveu o já citado Chapadão do Bugre, romance para o qual vinha colhendo, desde o êxito de Vila dos Confins, abundante material linguístico e de costumes regionais.

 

                        E aqui entra a história do sonho que eu mantive por muito tempo de minha juventude e nunca realizei, por extrema comodidade e notória preguiça: ao aposentar-me, viver num barco, viajando a partir do Rio Balsas até o Oceano Atlântico e aportando em todas as cidades ribeirinhas da Bacia do Rio Parnaíba.

 

                        Pois Mário Palmério, durante vários anos, morou num barco, singrando as águas do Rio Amazonas e seus afluentes, levantando dados sobre a realidade física, social e cultural da Região Amazônica. Em 1987, deixou de vez o Amazonas e voltou a residir em Uberaba, como Presidente das Faculdades Integradas daquela cidade.

 

                        Em 1988, recebeu a Medalha Santos Dumont, conferida pelo Ministério da Aeronáutica, ano em criou a Universidade de Uberaba, que atualmente conta com quarenta cursos superiores. A Faculdade de Monte Carmelo, sua terra natal, leva o seu nome, como forma de homenageá-lo: Fundação Carmelitana Mário Palmério. Oferecendo diversos cursos – Administração, Pedagogia, Letras, Ciência Biológicas –, vem-se destacando pela qualidade do ensino.

 

                        Em abril de 1968, foi eleito para a Cadeira Número 2 da Academia Brasileira de Letras, sucedendo a Guimarães Rosa, com posse no dia 22 de novembro do mesmo ano.

 

Gregório Barrios (31.01.1911 – 17.12.1978) 

                        Sua obra, portanto, aí está, insuperável, perene e inesquecível, configurada, não só nas realizações palpáveis que deixou – escolas e livros –, como também na área musical, talvez até ignorada para alguns no Brasil, mas eterna no coração do povo paraguaio.

 

                        Numa pequena amostra de seu talento quase desconhecido de compositor, apresento-lhes a guarânia Soledad/Saudade, interpretação cantor espanhol Gregorio Barrios, acompanhado por Luis Bordon e Seu Conjunto:

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 08 de setembro de 2022

SÃO LUÍS! 8 DE SETEMBRO! 410º ANIVERSÁRIO DE FUNDAÇÃO!

 

 
SÃO LUÍS, QUATROCENTOS ANOS

(Publicada no dia 08.09.2012)

Raimundo Floriano

 

 

Duas paisagens da Capital Quadrissecular do Maranhão

 

                        Hoje, 8 de setembro de 2012, comemoramos o Quadringentésimo Aniversário de São Luís, Capital do Estado do Maranhão, uma das três capitais brasileiras localizadas em ilhas. As outras são Vitória, no Espírito Santo, e Florianópolis, em Santa Catarina.

 

                        A Ilha de São Luís, lembrada hoje pelo enorme casario de arquitetura portuguesa, abrigava, no início, apenas ocas de madeira e palha e uma paisagem quase intocada. Ali, ficava a aldeia de Upaon-Açu, onde os índios tupinambás – cerca de 4.000, segundo cronistas franceses – subdivididos em 16 aldeamentos, viviam da agricultura de subsistência, com pequenas plantações de mandioca e batata doce, e das ofertas da natureza, caçando, pescando, coletando frutas.

 

                        Até o final do Século XVI, resultaram praticamente inúteis as tentativas portuguesas de estabelecer na ilha um núcleo de civilização. Não o conseguiram Aires da Cunha e Fernando Álvares de Andrade, associados ao historiador João de Barros, Donatário da Capitania do Maranhão. Partindo de Lisboa, em 1535, a Armada, sob o comando do primeiro, atingiu a Costa Maranhense, naufragando, porém, nos Baixios de Boqueirão, junto à Ilha do Medo. Os sobreviventes, em número reduzido, retiraram-se para o Reino em navios piratas que por ali passavam.

 

                        Igual sorte estava reservada, em 1554, a Luís de Melo e Silva, a quem Dom João III, por desistência do Donatário João de Barros, que permanecera em Portugal, doara a Capitania. A pequena frota com que para ela se dirigiu soçobrou, provavelmente nos Baixios da Coroa Grande, regressando Melo e Silva a Portugal numa caravela que escapara da catástrofe.

 

                        Essas duas catástrofes desanimaram os portugueses que acaso se interessavam pela conquista do Maranhão.

 

                        Os insucessos das Armas Lusas na África e a consequente passagem de Portugal para o domínio da Espanha deram ensejo aos franceses de se estabelecerem nas terras maranhenses. Com esse objetivo, foram equipadas três naus que, sob a chefia do Capitão Jacques Rifault, ali chegaram em 1594. O naufrágio do navio principal e a discórdia entre os componentes da tripulação decretaram o fracasso da empreitada.

 

                        Alguns elementos, por sua vez, não retornaram à França, preferindo o contato com os silvícolas, ao lado dos quais guerrearam, granjeando-lhes a simpatia. Entre eles, estava Charles Des Vaux que, voltando depois a seu país, expôs o que vira ao Rei Henrique IV. Interessando-se pelas notícias, o soberano ordenou a Daniel de La Touche, conhecido como Senhor de La Ravardière, que partisse para as novas terras, a fim de comprovar a veracidade das informações. Dessa viagem não decorreram, todavia, consequências de ordem prática, em vista da morte de Henrique IV.

 

                        Esse fato adiou outros empreendimentos, que só puderam ser levados a efeito em 1611, no reinado de Luis XIII. Por essa época, Daniel de La Touche organizou nova expedição com cerca de 500 homens vindos das cidades francesas de Cancale e Saint-Malo, partindo no dia 19 de março de 1612 no intuito de estabelecer no Brasil a França Equinocial – esforço dos franceses de colonização da América do Sul em torno da Linha do Equador. A 6 de agosto, chegou a seu destino.

 

                        Contando com a amizade dos aborígenes, os franceses procuraram organizar a defesa da nova colônia, certos de que os portugueses tentariam expulsá-los, logo que se tornassem conhecedores da situação. Em lugar alto e próximo ao ancoradouro, construíram um forte. Após o término das obras, a edificação recebeu o nome de Forte de São Luís, em memória eterna de Luís XIII, Rei de França e de Navarra. O ancoradouro foi denominado Porto de Santa Maria, não só em homenagem à Santíssima Virgem, como em atenção a Maria de Médicis, Rainha da França e mãe do Regente Luís XIII.

 

Rei Luís XIII e Busto de Daniel de La Touche

 

                        A 8 de setembro de 1612, tem lugar a implantação da Cruz na Ilha, procedendo-se sua bênção, sob a salva dos canhões do Forte e dos navios franceses, em sinal de regozijo. Esse ato, pela magnitude e excepcional solenidade de que se revestiu, é considerado como o verdadeiro Auto de Fundação da Cidade de São Luís.

 

                        A Capital Maranhense tem dois gentílicos: são-luisense e ludovicense, este derivado do Latim, Ludovicus, Ludovico em Português, ou Luís, mais uma homenagem ao Rei Luís XIII.

 

                        Tão logo se propalou a notícia do domínio do Maranhão pelos franceses, procuraram os portugueses eliminar a ameaça. Gaspar de Souza, Governador-Geral do Brasil, enviou, no início de 1614, pequena expedição, comandada por Jerônimo de Albuquerque, que fez o reconhecimento das posições francesas na Ilha de São Luís, sendo erigido, no lugar denominado Jericoaquara, hoje pertencente ao Ceará, pequeno forte de pau a pique, com o nome de Forte Nossa Senhora do Rosário, no qual foram deixados 40 homens.

 

                        Ainda no mesmo ano, Jerônimo, comandando nova expedição, penetrou, com seus navios, na Baía de Guaxenduba, hoje de São José, construindo em local próximo à Ilha de São Luís, o Forte Santa Maria. Em seguida a uma série de hostilidades, travou-se ferrenha peleja entre portugueses e franceses, até que a vitória se declarou a favor dos lusos. Suspensa a luta, foi concertado, a 27 de novembro, tratado de trégua por um ano, com apreciáveis concessões aos portugueses. Nessa época, Jerônimo de Albuquerque acrescentou Maranhão a seu nome.

 

                        Enquanto na França e na Espanha discutia-se a sorte das terras do Maranhão, vários reforços eram remetidos a Jerônimo, tanto de Portugal, quando da Bahia e de Pernambuco. A trégua foi rompida, e as forças portuguesas, comandadas por Alexandre de Moura, sitiaram os inimigos por mar e terra. A 3 de novembro de 1615, dava-se a capitulação, com Daniel de La Touche, entregando o Forte, rebatizado pelos vencedores como Forte São Felipe, em homenagem ao Rei, os quais conservaram o nome de São Luís para a cidade e consagraram à Senhora da Vitória a primeira Igreja Matriz.

 

                        Por seu destaque na luta para a expulsão dos franceses, Jerônimo de Albuquerque Maranhão, que também fundara a cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, do qual fora Capitão-mor, a 15.12.1599, foi nomeado Capitão-mor da Capitania do Maranhão. Foi ele o tronco maranhense da Família Albuquerque do qual sou descendente direto.

                       

                        Nascido na cidade pernambucana de Olinda, em 1548, casado com Catharina Pinheiro Feio e falecido em 1624, Jerônimo era mameluco, filho de Jerônimo de Albuquerque, o primeiro dessa família chegado ao Brasil, e da índia tabajara Maria do Espírito Santo Arcoverde. Seu pai, a quem se atribui ter tido filhos com mais de 100 mulheres, veio acompanhando Duarte Coelho, Donatário da Capitania de Pernambuco e casado com Brites Albuquerque, sua irmã.

 

Jerônimo de Albuquerque Maranhão e Mapa de São Luís em 1629

 

                        Em 1621, quando o Brasil foi dividido em duas Unidades Administrativas – Estado do Maranhão e Estado do Brasil – São Luís foi a capital da primeira, sendo a outra Salvador, na Bahia.

 

                        O período de progresso vivido pela região foi interrompido em 1641, quando 18 navios holandeses, transportando 2.000 homens, comandados pelo Almirante Lichthardt, aportaram em São Luís, na Praia do Desterro, onde desembarcaram os invasores. Depois de renhidas batalhas, os holandeses deixaram São Luís em 1644, derrotados pelas tropas comandadas por Antônio Teixeira de Melo

 

                        A 16 de janeiro de 1653, chegou a São Luís o Padre Antônio Vieira, jesuíta, com a incumbência do Reino de dar execução às ordens de pôr em liberdade os índios escravos, o que gerou motivo para que o povo se amotinasse e pedisse a expulsão da Companhia de Jesus. A crise maranhense é agravada pela concessão do monopólio do comércio de todo o Estado do Maranhão e do Grão-Pará – o chamado estanco –, pelo espaço de 20 anos, a uma companhia de comércio, culminando com a eclosão de uma revolta conhecida pelo nome de seu principal chefe – Bequimão –, liderada pelos irmãos Manoel Beckman, o cabeça, e Tomás. Iniciada em 1684, foi dominada no ano seguinte, sendo Manoel Beckman enforcado em praça pública, declarando, no ato: – Pelo povo do Maranhão, morro contente!

 

                        A partir de então, a Capital Maranhense retomou a normalidade, não mais envolvida com invasores estrangeiros. Internamente, porém, São Luís conheceu diversos momentos de ebulição, como o que resultou na adesão à Independência do Brasil, realizada a 28 de julho de 1823, no Paço da Câmara Municipal, o que foi conseguido, sem qualquer perturbação da ordem pública, por Lord Cochrane – Thomas Alexandre Cochrane, almirante inglês, depois nomeado Marquês do Maranhão, que viera, a pedido do Império Brasileiro, ajudar na consolidação do movimento nativista de desligamento da Coroa Portuguesa.

 

                        Como se viu, a história de São Luís é recheada de invasões, resistências e entreveros. O próprio Hino Maranhense, nas três estrofes mais conhecidas e cantadas, com letra de Antônio Batista Barbosa de Godóis e música de Antônio dos Reis Raiol, dá uma noção da característica guerreira de seu heroico povo:

 

Entre o rumor das selvas seculares

Ouviste um dia no azul do céu vibrando

O troar das bombardas nos combates

E após um hino festival soando

 

Salve Pátria, Pátria amada

Maranhão, Maranhão, berço de heróis

Por divisa tens a glória

Por nume nossos avós

 

Reprimiste o flamengo aventureiro

E o forçaste a no mar buscar guarida

Dois séculos depois, disseste ao luso

A liberdade é o sol que nos dá vida

 

                        A miscigenação do aborígene, do português, do francês – também conhecido como flamengo – e do holandês resultou num fenômeno bem peculiar, o sotaque do ilhéu, fazendo com que São Luís seja considerada a cidade brasileira onde se fala melhor a Língua Portuguesa, independentemente do grau de instrução. São Luís também foi considerada a Atenas Brasileira, pelo número de intelectuais e artistas que ali habitavam. Detém, ainda, outros títulos: Ilha do Amor, Cidade dos Azulejos e, pela assimilação da música caribenha, devido até a sua localização geográfica, Jamaica Brasileira ou Capital Brasileira do Reggae.

 

                        Para divulgar a festa do Quarto Centenário de São Luís, a ECT lançou este selo comemorativo, que será peça valiosa nos álbuns de filatelistas do mundo inteiro:

  

                        Como toda cidade praieira, a orla marítima que circunda São Luís é plena de lendas mistérios, assombrações, religiosidade, música e muita alegria. A foto a seguir dá uma ideia de sua feição jovial e prazerosa:

 

Largo do Carmo ou Praça João Lisboa

 

                        A esfuziante atividade musical de São Luís está representada por três de seus mais característicos gêneros: o bumba meu boi, o samba e o reggae.

 

A Cara de São Luís: Bumba meu boi, Alcione e Djalma Chaves

 

                        Eis uma pequena amostra desse cenário artístico:

 

                        Ilha do Amor, bumba meu boi, de Maria Aparecida Lobato, com o canário Lobato do Boi Feliz.

 

                        Solo de Pistom, samba, de Totonho e Paulinho Resende, na voz da ludovicense Alcione.

 

                        Ilha, reggae, na interpretação do autor, Djalma Chaves, membro ilustre de nosso clã, eis que casado com uma de minhas sobrinhas.

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas segunda, 15 de agosto de 2022

ECOS DO DIA DOS PAIS 2022

 

POSTAGEM DE MINHA PRIMOGÊNITA:

 

Pai, parabéns pelo seu dia! 🎉Apesar de não estar ao seu lado fisicamente, meu coração está aí. 💙 Reafirmo que me orgulho em dizer que tenho um pai com múltiplos talentos: músico, contador, cordelista, escritor, revisor de textos, filatelista, cruciverbista, criador da descida de boia no Rio Balsas/MA, difusor da cultura brasileira, por meio do seu site “Almanaque Raimundo Floriano”, entre muitos outros! Agradeço a Deus e Nossa Senhora pelos seus 86 anos de vida e pela preservação da sua saúde! Te amo, pai! Feliz dia dos pais! 🎉🎂💙🥰😍✨🙏🏽😘

 

Pode ser uma imagem de 4 pessoas, criança, pessoas sentadas, pessoas em pé e área interna

Pode ser uma imagem de 3 pessoasPode ser uma imagem de 2 pessoas, pessoas em pé, pessoas tocando instrumentos musicais e ao ar livre

Pode ser uma imagem de 2 pessoas, pessoas em pé e área internaPode ser uma imagem de 5 pessoas, pessoas em pé e comida

POSTAGEM DE MINHA CAÇULA:

Carinho no vô. ❤️🥰😍
Feliz dia dos pais!
 
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Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas domingo, 14 de agosto de 2022

TÊNIS: BIA HADDAD VALORIZA FINAL PARA O TÊNIS BRASILEIRO E E NALTECE GUGA E

 

Bia Haddad valoriza final para o tênis brasileiro e enaltece Guga e Maria Esther Bueno

Finalista do WTA 1000 de Toronto deve alcançar sua melhor colocação no ranking mundial após campanha histórica no Canadá

Redação, Estadão Conteúdo

14 de agosto de 2022 | 10h23

Beatriz Haddad Maia se tornou a primeira brasileira a chegar a uma final de WTA 1000 em simples ao vencer a checa Karolina Pliskova por 2 sets a 0 (6/4 e 7/6) na semifinal do torneio de Toronto, no Canadá. A última vez que o Brasil foi representado em uma final de ATP ou WTA foi em 2003, quando Gustavo Kuerten disputou o título no Masters Series de Indian Wells. Bia comentou sobre o significado dos feitos que vem alcançando para o tênis brasileiro. A final é no domingo, às 14h30 (de Brasília).

"É muito especial. Nós temos Maria Esther Bueno, Guga Kuerten. Eu não me comparo a eles, ambos são fenomenais. É muito importante e um prazer para mim não só como brasileira, mas como uma mulher sul-americana. Estou bastante orgulhosa de mim e do meu time", declarou Bia.

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Bia Haddad Maia passou por nomes como Pliskova e Swiatek para chegar à final do WTA 1000 de Toronto.
Bia Haddad Maia passou por nomes como Pliskova e Swiatek para chegar à final do WTA 1000 de Toronto. Foto: John E. Sokolowski-USA TODAY Sports
 

Somente no WTA de Toronto, Bia Haddad eliminou a polonesa Iga Swiatek, atual número 1 do mundo, a suíça Belinda Bencic, atual campeã olímpica, e a checa Karolina Pliskova, ex-número 1 do mundo. Bia ainda passou pela canadense Leylah Fernandez, principal tenista da casa em Toronto. A brasileira ainda venceu a italiana Martina Trevisan, 26ª do ranking e que foi semifinalista de Roland Garros.

A paulistana terá mais uma ex-número 1 do mundo pela frente na decisão, a romena Simona Halep. Bia valorizou o momento de ambas e garantiu que será o momento de deixar tudo em quadra. "A Halep é uma excelente jogadora. Vai ser um jogo duro, ela é uma competidora muito boa. Jogar numa quadra grande contra uma tenista top e em uma final de WTA 1000 é o momento de deixar tudo em quadra, jogar o meu melhor tênis e curtir. Nós duas estamos em um bom momento. Estou confiante, feliz e tive uma semana boa, mas também preciso trabalhar muito duro para ter as minhas chances", afirmou.

O WTA 1000 leva Bia Haddad a sua melhor posição no ranking. A partir da próxima segunda-feira, data da divulgação da WTA, Bia será a 16ª jogadora do planeta caso fique com o vice-campeonato. Em caso de título, ela subirá da 24ª para a 14ª colocação. "Acho que rankings e resultados só refletem o quanto eu e o meu time trabalhamos nos últimos anos. Eu tinha traçado o objetivo de ser top 20 até o final do US Open e estou contente de ter alcançado. Objetivos servem de motivação para saber aonde queremos ir", finalizou.


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 06 de julho de 2022

ECOS DE MEU 86º ANIVERSÁRIO: COM A GRAÇA DE DEUS, AQUI CHEGUEI!

POSTAGEM DE ELBA, MINHA PRIMOGÊNITA

Hoje é dia de celebração! O eterno menino de Balsas, no sul do Maranhão, completa 86 anos! Papai é multifacetado: escritor, contador, músico, cruciverbista, eterno delegado da festa junina da academia, “xerife” de Brasília, cordelista, revisor de textos, leitor voraz, editor do site “Almanaque Raimundo Floriano”, espaço onde divulga a cultura brasileira, além de ter muitos outros talentos. Continuo desejando sempre muita saúde, mais anos de vida, com as graças de Deus e de Nossa Senhora! Infelizmente, não estou presente fisicamente para celebrar o seu dia, mas estou em pensamento e em coração! 💙Viva o papai!! 🎂🎉🥳💙🙏🏽✨🥰😘

 

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POSTAGEM DE MARA, MINHA CAÇULA

 

 

POSTAGEM DE MINHA SOBRINHA ISAURA FONSECA, À DIREITA DA FOTO, JUNTAMENTE COM ANA ALICE, SOBRINHA E COMADRE

Hoje é aniversário do meu querido tio Raimundo Floriano . Que Deus lhe dê muita saúde, pra viver grandes alegrias com as pessoas que ama. Feliz aniversário, tio Raimundo!

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POSTAGEM DA DOUTOR KARINA, FISIOTERAPEUTA, DA CLÍNICA REABILIT, QUE CUIDA DE MIM DESDE ABRIL DE 2005

Eita, que hoje é dia de festa! A vida é uma dádiva, principalmente quando é bem vivida. É sempre um privilégio celebrar a vida de alguém tão querido como o Sr. Raimundo Floriano . A simpatia dele ganhou o meu coração. As conversas contigo são lembranças constantes na minha vida. A sua presença é marcante em qualquer lugar que vá. Comemore bastante este dia, meu velho amigo. Estou com saudades! Feliz aniversário!

Parabéns !🎂🥳🎉🥰😘👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽
 
POSTAGEM DA DOUTORA LUCIENE, EDUCADORA FÍSICA, DA ACADEMIA VITAL-RECOR, ONDE MALHEI DESDE 21 DE FEVEREIRO DE 2002, ATÉ 13 DE MARÇO DE 2020, ATVIDADE INTERROMPIDA POR CAUSA DA PANDEMIA
 
 
POSTAGEM DO PRIMO JOÃO RIBEIRO, O BEIRÓ, LÍDER DO CONJUNTO BIG BRASA
 
Parabéns, querida Elba, ´pelo aniversário do Raimundo Floriano. Continua sendo um craque em diversas áreas de atuação! Um grande abraço! 🎸🎵🎶 Sou mais um dos leitores assíduos do Almanaque!
 
Raimundo Floriano prezado Raimundo Floriano, lembro de você sempre, meu primo. E desejo muitas felicidades, saúde e que Deus abençoe todos vocês! Com um grande abraço musical nessa data! 🎵🎶🎸 

 

POSTAGEM DO GRUPO SÓ DOBRADOS, ESPECIALIZADO EM MÚSICA MILTAR, DO QUAL SOU UM DOS ADMINISTRADORES

 

 

POSTAGEM DE LARA SILVA, MINHA SOBRINHA E AFILHADA, QUE CONFEITOU O BOLO

 

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Esse eu fiz com muito amor para uma pessoa especial. Estava até bonitinho antes do chantily diet despencar.

Nota do editor: O bolo estava muito bonito, gostosíssimo, e, se deepencou, foi diretamente no meu bucho

 

MEUS AGRADECIMENTOS

 

 

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 29 de junho de 2022

PEDRO MARANHENSE, MEU PRIMO GUABIRABA

 

PEDRO MARANHENSE, MEU PRIMO GUABIRABA

(29.06.1925 – 10.12.2012)

Raimundo Floriano

 

 

Pedro Maranhense: no alto, à direita, a Fazenda Santa Rosa

 

                        O cavaleiro montado nesse ginete tobiano – ou pampo – raceado é meu primo Pedro Maranhense, homem do campo, das matas, dos rios, das lagoas, dos riachos, dos pastos, dos currais, do gado, de tudo que é ligado à Natureza silvestre, enfim, um telúrico.

 

                        Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, disse Jesus Cristo a São Pedro, o pescador de almas. E esse meu primo já nasceu consinado, como se diz no sertão. Com a sina de ser Pedro e pedra lapidada, pedra-alicerce de toda uma família que ajudou nos difíceis momentos da vida. Ajuda material e, mais que isso, suporte espiritual.

 

                        Nosso avô, Capitão Pedro José da Silva, com prole de 17 filhos, criou-a na Fazenda Brejo, sertão piauiense, onde lhe ensinou o duro labutar na lavoura e na pecuária, tirando da terra as dádivas necessárias à subsistência e à aquisição de bens industrializados, estes, nas mais das vezes, obtidos na base do escambo.

 

                        Naquela fazenda, nasceu Tia Evarista. A maioria dos filhos nominou também os seus em honra ao Patriarca. Assim, tivemos Pedro de Alcântara, do Tio Mundico; Pedro Silva Neto, do Tio João Ribeiro; Pedro Del Pretes, do Tio Fructo; Pedro Apóstolo, da Tia Ondina; Pedro Silva, do Rosa Ribeiro, meu pai; Pedro Ivo, do Tio Cazuza; e Pedro Maranhense, da Tia Evarista, com um detalhe: nasceu no dia 29 de junho, Dia de São Pedro. Não fugindo à tentação de fazer um trocadilho, ouso afirmar que esse nosso primo já nasceu pedrestinado.

 

                        Sua ascendência é inteiramente sertaneja: bisavós paternos, Raimundo Alves Costa e Anna Alves Ferreira Sant’Iago, Belchior de Souza Britto e Maria Bandeira de Mello, do sertão sul-maranhense; e maternos, Fructuoso José Messias da Silva e Evarista Messias da Silva, Honorato José de Souza e Lucialina Maria de Freitas Sousa, do sertão piauiense. Avós paternos, Luiz Alves Costa e Albertina de Souza Britto Costa, do sertão sul-maranhense, e maternos, Pedro José da Silva e Isaura Maria de Sousa e Silva, do sertão piauiense.

 

                        Pedro Maranhense Costa nasceu em Balsas (MA), no Bairro Tresidela, a 29 de junho de 1925, e faleceu em Brasília (DF) no dia 10 de dezembro de 2012. Era filho de Manoel Maranhense Costa, o Né Costa, nascido em Pastos Bons (MA), a 5 de julho de 1898, e falecido em Caxias (MA), no ano de 1932, e de Evarista de Sousa e Silva, nascida em Floriano (PI), na Fazenda Brejo, no dia 20 de abril de 1896, e falecida na mesma cidade, no dia 25 de abril de 1928.

 

                        Pedro Maranhense era, portanto, guabiraba, termo com que são carinhosamente chamados, no Maranhão, os nascidos na Tresidela, bairro de cidades ribeirinhas, na margem oposta do rio.

 

                        Tio Né Costa levava uma vida nômade, como se deduz pelas datas de nascimento dos filhos: Maria Albertina da Silva Costa nasceu em Pedro Afonso (GO), hoje Tocantins, a 18.09.1923; Pedro, em Balsas, a 29.06.1925; e Maria Flory, em Floriano, a 27.10.1926.

 

                        Tia Evarista sofria de problemas pulmonares. No começo do ano de 1928, sentindo aproximar-se o fim de seus dias, e prevendo que Tio Né Costa, com seu espírito cigano, não teria condições de arcar com as três crianças que deixava, entregou-as para seus pais e meus avós, Pedro José da Silva e Isaura Maria de Sousa e Silva. Falecendo ele em 1933, Albertina e Pedro passaram à tutela de Tia Maria Isaura de Sousa e Silva, que os criou como filhos. Flory, por sua vez, foi entregue à Tia Ondina de Sousa e Silva. Isso aconteceu em 1928, ano em que o inglês Sir Alexander Fleming descobria a penicilina, o santo medicamento para debelar o mal de que ela sofria.

 

Pedro José da Silva, Isaura Maria e Maria Isaura, seus pais de criação

 

                        Tia Maria Isaura, alta funcionária dos Correios e Telegráficos, nunca se casou e foi um esteio em nossa família, ajudando nos estudos da maioria dos sobrinhos sertanejos, assim como eu, que se hospedaram em sua casa para cursar o ginásio. Moravam com Tia Maria Isaura sua irmã Júlia de Sousa e Silva, a Tia Julinha, e seus três filhos, Antônio Luiz, Magnólia e Nílton, que foram para o Pedro verdadeiros irmãos de criação.

 

Antônio Luiz, Magnólia e Nílton

 

                        Que Pedro se lembrasse, só viu seu pai uma vez, isso aos 6 anos de idade, quando Tio Né Costa, tendo já constituído outra família em Caxias (MA), passou por Floriano. Ambos, na presença um do outro, ficaram muito encabulados, sem saber o que falar. No ano seguinte, Tio Né Costa faleceu, e Tia Maria Isaura, ao consolar o menino, entregou-lhe um presente, única herança que o pai lhe deixara, uma tesourinha, da qual falarei mais adiante.

 

                        Pedro sempre foi um vencedor. Com a ajuda da Tia Maria Isaura e sua determinação de vencer obstáculos, conquistou seu espaço no mercado de trabalho do único modo que impulsiona o pobre que deseja crescer social e financeiramente: o estudo!

 

                        Com o Segundo Grau completo, foi admitido como funcionário da Sul América Capitalização S.A., mediante aprovação em concurso público, com exercício na Capital Piauiense, onde já desempenhava o cargo de Professor do Curso Primário.

 

                        Em outubro de 1949, casou-se com a balsense Raymunda Pires Maranhense Costa, a Dica, nascida a 8 de julho de 1926 e residente em Teresina, filha do negociante Álvaro Pires e sua mulher, Marina de Souza Coelho.

 

Pedro Maranhense e Dica

 

                        Pedro jamais pôs seu chapéu onde não pudesse alcançar. Assim foi que, ao casar-se, em vez de endividar-se e viajar para cidades mais adiantadas, hospedando-se em hotéis caríssimos, preferiu gozar sua lua-de-mel em Floriano, na casa onde fora criado.

 

Casa da Família em Floriano

 

                        Tia Maria Isaura preparou a alcova nupcial no quarto de duas janelas à esquerda da casa, nada ficando a dever a qualquer hotel de luxo. Acontece que as paredes do solar não iam até o teto. Com a casa cheia de moradores, adultos e estudantes, havia o inconveniente de que qualquer pequeno ruído e qualquer sussurro naquela camarinha seriam ouvidos lá na cozinha ou lá no imenso quintal. Nessas circunstâncias, a primeira noite transcorreu.

 

                        Na manhã seguinte, Pedro desencavou uma espingarda velha de cano de cabo de guarda-chuva, do tempo de menino, que lá deixara, foi ao comércio, comprou espoletas, pólvora, chumbo e bucha e chamou a Dica para caçarem rolinha fogo-pagou à beira dum riacho distante dali uma légua, rua acima. Saíam pela manhã e só voltavam à noitinha. Repetindo essa caçada todos os dias da lua-de-mel, nunca os vi trazerem ave abatida, mas o certo é que, ao retornarem para Teresina, uma das três Marias que compõem a prole do casal já estava encomendada.

 

 

                        Agora, vou falar-lhes da tesourinha, único dote que o Tio Né Costa deixou para o filho. Dica possuía Segundo Grau completo, o que muito lhe valeu na educação das filhas. Moça altamente prendada, como todas as balsenses daquele tempo, era perita em artes manuais.  Estando ela um dia, com sua irmã Magnólia Pires, sentadas no sofá da sala, a executar um bordado, como esse da foto, e usando a famosa tesourinha para os arremates, ocorreu de esta escapulir para uma brecha entre o assento e o braço do móvel, tornando-se impossível resgatá-la. Cada vez que e tentavam puxá-la, mais ela sumia. Como o sofá não era desmontável, ela ficou por lá mesmo. Mais tarde, ao ser vendido o móvel para comprar um mais moderno, a tesourinha foi junto.

 

                        Como eu disse anteriormente, Pedro fez do estudo seu modo de crescer na vida. No ano de 1952, foi aprovado em concurso público para o Banco do Brasil, tomando posse, em 1953, na Agência de Santarém (PA), após o que, conquistou o Grau Superior de Contador, vindo a aposentar-se, na Década de 1980, no cargo de Assessor da Vice-Presidência.

 

Fazenda Santa Rosa: entrada e sede

 

                        No inicio da Década de 1960, Pedro transferiu-se com a família para Brasília, onde fixou residência definitiva. Tão logo aqui chegou, adquiriu um pedaço de terra no Município de Santo Antônio do Descoberto (GO), dando início a sua vida de sertanejo, honrando a tradição de nosso avô, com a Fazenda Santa Rosa, onde passou a criar gado leiteiro e a produzir laticínios diversos. Com o terreno recentemente inundado pela Barragem do Descoberto, recebeu a merecida indenização, empregada toda ela na construção de nova sede, que se vê na foto acima, à esquerda das Sete Curvas e às margens do lago que se formou.

 

                        A Dica sempre o auxiliou na administração do lar e na rotina da fazenda, enfrentando qualquer tipo de serviço, sendo companheira exemplar e devotada até o dia de seu falecimento, ocorrido a 24 de julho de 1984, com apenas 58 anos de idade.

 

                        Nesse período de imensa dor, Pedro encontrou guarida no seio da família e nos companheiros rotarianos. Sendo um dos mais antigos sócios do Rotary Brasília Leste, adorava comparecer às reuniões nas terças-feiras, indo ao encontro dos amigos e, ao entrar no clube, logo dava uma chegada à cozinha para cumprimentar a turma do labor quando, muitas vezes, cantarolava algo e depois seguia para a sala de reunião.

 

                        Cantar era uma de suas curtições preferidas. Sempre bem-humorado, orgulhava-se de saber de cor mais de 100 canções e chegava a rir dos que não conseguiam decorar, às vezes, música alguma.

 

                        A 19 de julho de 1988, quase quatro anos após a viuvez, ele vivenciou um relacionamento amoroso e fugaz que lhe deu a alegria de ter um filho homem, o Everton. Pedro sempre considerou a instrução como o maior bem da vida e educou seus filhos norteado por esse pensamento, orientando-os e dando-lhes as condições necessárias à conquista do Grau Universitário e muito mais.

 

                        Pedro sempre foi caracterizado pela capacidade de perdoar, pelo modo de ver em todas as pessoas o lado bom a ser ressaltado, pela felicidade que trazia em seu semblante e pela alegria com que encarava a vida. A Fazenda Santa Rosa era uma espécie de clube sertanejo da família e dos amigos, onde realizávamos festas inesquecíveis, para as quais só nós daqui de casa arregimentávamos convidados que lotavam dois ônibus.

 

                        Um dos sonhos do Pedro era construir uma pequena orada na fazenda, em homenagem a São Pedro, também Padroeiro de Floriano, e na qual se entronizariam também as imagens de Nossa Senhora, a Mãe de Jesus, Santo Antônio, o Padroeiro de Balsas, e São Francisco de Assis, o Santo da Natureza, o que realizou no ano de 2011, aos 86 anos de idade:

 

Capelinha de São Pedro na Missa de Inauguração

 

                        Pedro não teve irmãos do sexo masculino, por isso considerava todos os primos como verdadeiros irmãos de sangue, e assim todos nós o tínhamos em nosso bem-querer. Essa fraternidade não se resumia apenas ao aspecto afetivo, pois a muitos ajudou materialmente, financeiramente, inclusive a mim. No ano de 1956, quando me encontrava desempregado em Teresina, ele me socorreu, não me dando o peixe, mas me ensinando a pescar: custeou-me um Curso de Datilografia, o qual muito me valeu para ser promovido a Sargento do Exército Brasileiro e, mais tarde, conseguir a aprovação em concurso público para a Câmara dos Deputados. A seguir, imagens colhidas na fazenda no ano de 2010:

 

Os primos Benu, Raimundo, Manoel, Oswaldo e Pedro - Pedro soltando a voz

 

                        Ao falecer, Pedro deixou uma linda família, constituída de três filhas, um filho, dois genros e quatro netos.

 

                        A Fogueira de São Pedro era uma tradição em nosso clã, começada pelo Capitão Pedro José da Silva, nosso avô, na Fazenda Brejo, mantida pela Tia Maria Isaura, em Floriano, e preservada pelo Pedro na Fazenda Santa Rosa. Com um detalhe: como sua irmã Maria Albertina falecera no dia 29 de junho de 1950, ele jamais comemorava seu aniversário e a Noite de São Pedro na mesma data. A festa seria antes ou depois.

 

                        Esse valoroso guabiraba, amabilíssimo primo e inesquecível irmão deixou-nos no dia 10 de dezembro de 2012, indo residir no Paraíso Celestial. Dois meses antes, esteve aqui em casa, cheio de vitalidade e esperança, combinando a grande fogueira que faríamos em seu aniversário.

 

                        Na Fazenda Santa Rosa, este ano, a Fogueira de São Pedro não será acesa. Estará, porém, vívida, intensa em nossos corações, onde as lembranças de Pedro Maranhense jamais se apagarão.

 

 

                        Em intenção do Chaveiro do Céu, do Pescador de Almas, e honrando a devoção dos Pedros de nossa família, vamos ouvir o balanço Viva São Pedro, de Jorge Ben, que o interpreta:

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 17 de junho de 2022

RELEMBRANDO TIO FRUCTO

RELEMBRANDO O TIO FRUCTO

Raimundo Floriano

 

 

Tio Fructo e Tia Zora

 

(Carta escrita um dia após a Festa Comemorativa do Octogésimo Aniversário de Bernardino de Souza e Silva, o Benu, meu primo, filho de Fructuoso José da Silva, o Tio Fructo, e Zoraide Benvindo e Silva, a Tia Zora, ocorrida a 03.09.2010)

 

                        Primos Queridos,

 

                        Ontem, lá na festa do Benu, agi sob o efeito de repentino impulso, nada tendo planejado, por isso mesmo deixei de falar uma porção de coisas que, só depois, me vieram ao pensamento, quando já era por demais tarde para consertar a falha.

 

                        O que vou escrever agora é o que desejo lhes contar para que saibam o quanto a casa do Tio Fructo e da Tia Zora povoou e ainda povoa, até hoje, minhas mais ternas lembranças do tempo em que estudei em Teresina. Com a pressa de apresentar-lhes este relato, peço-lhes que relevem os muitos erros de revisão porventura nele contidos.

 

                        Primeiramente, deixem-me explicar-lhes o motivo pelo qual falei que o Benu fora para mim O primo na Capital Piauiense.

 

                        Em meu livro De Balsas Para o Mundo, no capítulo Teresina, meu Xodó, consta que a pessoa daquela cidade que me recepcionou, lá na Praça Saraiva, quando desembarquei do ônibus, em fevereiro de 1950, foi meu primo Iran Albuquerque, filho de minha Tia Antônia. Acontece que ele, bem mais velho, já se formando em Direito, não fez parte do meu dia a dia de adolescente.

 

                        Havia o Pedro Maranhense, funcionário do Banco do Brasil, casado, fiel companheiro da Dica. Este também não contava, devido a seu estado civil, embora tenha me socorrido algumas vezes com sua ajuda pecuniária. Dos filhos do Tio Fructo, o Oswaldo, Oficial da PM e casado, o Achiles, Oficial do Exército e servindo no Rio de Janeiro, e o Del Pretes, Sargento do Exército e servindo no 25º BC, ficam descartados, porque não tinham tempo para os nossos folguedos de adolescentes. Só muito depois, viera morar com o Tio Fructo o Antônio Luiz do Monte Furtado, o Batatinha, um de nossos primos florianenses, do Banco do Brasil, este sim, outro grande companheiro, com dinheiro no bolso e muita vocação para a gandaia nas horas de folga.

 

                        No começo de 1950, eu tinha 13 anos, e o Benu, 19, seis anos, portanto, mais velho. Eu, baixinho, e o Benu, altão. Imaginem a dupla que formávamos na rua.

 

                        Detalhe curioso. De nós dois, eu, matuto, bico-largo, tabaréu, do sertão recém-chegado, e o Benu, rapaz da capital, evoluído, qual dos dois era pagão? Acertaram! Era o Benu! Que foi batizado, juntamente com o Oswaldinho, de um ano, seu sobrinho, ali na Igreja do Amparo, tendo o Padre Chaves despendido grande esforço para chegar sua cabeça à pia.

 

                        Naquele tempo, era só eu ver uma garota, e ficava todo acanhado. Corria das meninas. O que eu gostava mesmo era de fazer palhaçadas de longe, para que elas me notassem, mas sem coragem de chegar junto. Até diante de minha prima Terezinha, brotinho na época, eu ficava destreinado. Enquanto isso, o Benu, estudante do Científico no Liceu, jogador de basquete e traquejado pra caramba, nadava de braçada no meio delas.

 

                        A idade madura nos nivelou por cima, em tamanho, gordura, barriga e atrevimento, dum tanto que o Benu até dançou Rock ontem, e eu só não fiz o mesmo devido a uma severa artrose na região sacrilíaca que me deixaria, depois da festa, a gritar de dor nos quartos.

 

                        Nenhum dos filhos do Tio Fructo se preocupou em amealhar grande patrimônio material apenas para si. Isso porque o patriarca incutiu-lhes uma espécie de comunismo caboclo, no qual o que era de um, era de todos. A partir da manutenção da própria casa. Tio Fructo era apenas funcionário da Prefeitura Municipal de Teresina. Avaliem, então, como deveriam ser parcos os seus rendimentos.

 

                        Deus provê! Nunca vi casa mais farta! E comida da melhor qualidade, que a Tia Zora se esmerava em preparar. Quando fui interno do Colégio Diocesano, ficava a semana inteira pensando na saída de domingo, já antecipando o sabor das iguarias que mandaria goela adentro naquela casa. E a Tia Zora sempre sorridente, pondo mais comida em nosso prato. Além disso, o Tio Fructo se ocupava em contar as aventuras das quais foi partícipe em sua trepidante luta pela subsistência, antes de fixar-se em Teresina.

 

                        A casa do Tio Fructo, na Rua Lisandro Nogueira, mais conhecida como Rua da Glória, nº 1260, pegada com a sede social do Clube River, era o albergue dos estudantes lascados, parentes ou não, ali moradores fixos, hóspedes eventuais ou apenas comensais. Dela nada mais resta. A área da casa e do River foi transformada num grande estacionamento pago.

 

                        O corredor da entrada separava dois grandes aposentos. O da direita, subdividido, era ocupado pelo casal e pelas moças. O da esquerda, pelos rapazes. Este quarto era também conhecido como Academia, devido aos grandes crânios que o habitavam ou habitaram no decorrer dos tempos: Achiles, Del Pretes, Oswaldo, Pedro Maranhense, meu irmão José Carioquinha, e muitos outros que não foram do meu tempo, mas que ali deixaram seus nomes. Dentre esses, lembro de um que, por gostar muito do santo de garrafa, vez em quando amanhecia na cadeia. Sempre havia um ou mais não-parentes vivendo ou encostados graciosamente naquela acolhedora residência. Por isso, nunca se abriu ali uma vaga para mim. No entanto, viciado nas mordomias e na boa acolhida, sempre morei nas proximidades.

 

                        Um desses acadêmicos, nosso parente distante pelo lado dos Ribeiros, era muito alto, desengonçado, e caminhava com o bumbum arrebitado e imexível, daí um apelido impublicável que carregou e carrega por toda a vida.

 

                        Há poucos dias, quando a Veroni, minha mulher,  estava organizando a lista dos convidados para a festa do Benu, eu falei-lhe para incluir o nome do Ribeiro. O que ela fez. Logo em seguida, a Salima, mulher do Benu, recusou a indicação, por não conhecer tal pessoa. Aí, eu argumentei que ela podia até não saber quem era o Ribeiro, mas que o Benu ficaria felicíssimo com a surpresa de seu comparecimento. Mas, então, quem se surpreendeu fui eu. Fiquei ciente de que Ribeiro, depois que se aboletara num belo cargo público em Brasília, cortou completamente o contato com aqueles que chamava de parentes em seus – dele – tempos famélicos!

 

                        Nunca me esqueço das pescarias noturnas de arrastão que fazíamos, das quais todo mundo participava: Tio Fructo no comando, Oswaldo, Del Pretes, Benu, Antônio Luiz, eu e muitos desconhecidos da beira do Rio Parnaíba, que ajudavam a título de diversão e também para ganhar sua quota de peixes que, ao final, eram divididos por todos os pescadores. Navegávamos quase cinco quilômetros rio acima, numa canoa, até confrontarmos com a Usina de Força e Luz, lançávamos a rede esticada, uns trinta metros de comprimento por dois de altura, e descíamos, cercando tudo que se encontrasse no caminho, até chegarmos à croa – pequena ilha formada em frente ao cais –, onde as duas extremidades da rede eram puxadas para fora, arrastando os milhares de peixes aprisionados.

 

                        Inolvidáveis, também, eram os passeios domingueiros de canoa à chácara Mateusinho, do lado do Maranhão, uns cinco quilômetros acima da Usina, com piquenique, banho no rio, dança e cantoria, moças e rapazes em sadia confraternização.

 

                        Tio Fructo não possuía geladeira. Isso ainda era utensílio muito raro naqueles tempos piauienses. Mas havia, num dos peitoris da sala, imensa barra de gelo, envolta em grosso tecido a resguardá-la do vento, e uma raspadeira, para que sempre nos refrescássemos do famoso e crudelíssimo calor teresinense.

 

                        Também, na mesma sala, havia uma lata de graxa preta, escova e flanela, para que nossos sapatos ficassem impecáveis no brilho, quando saíamos à rua em traje de missa, passeio, cinema ou namoro.

 

                        E os aluás que a Tia Zora preparava, no período das festas juninas!!!

 

                        Lá pelo ano de 1955, o Tio Fructo se mudou para uma casa nova, recém-construída, à Rua Barroso, 937, esquina com a Clodoaldo Freitas, uns dois quarteirões, atrás do Liceu Piauiense. E foi nessa casa que eu dormi duas noites e dele me despedi, em fevereiro de 1957, quando parti de Teresina para conquistar o Sul-maravilha e o Mundo.

 

 

Residência do Tio Fructo na Rua Barroso

 

                        A casa estava apinhada de hóspedes – sempre os mesmos, cadê eles? –, de tal modo que as duas noites ali dormidas foram numa cadeira da mesa de jantar, na qual me apoiava, pois até o sofá e as poltronas estavam ocupadas pelos adventícios e aproveitadores pseudoparentes. Detalhe: Oswaldo, Achiles, Del Pretes, Benu, Maria Ester, Anita e Terezinha moravam, estudavam ou se encontravam fora do Piauí. Um bando de sanguessugas é como classifico aquele pessoalzinho que superlotava a casa.

 

                        Tio Fructo já estava gravemente enfermo, e a movimentação de seu pesado corpo era mais um doloroso encargo para a Tia Zora, ela idosa e já bem cansada dos afazeres domésticos e das atribuições de zelosa enfermeira.

 

                        De madrugada, quando o táxi foi pegar-me para embarcar no ônibus rumo ao desconhecido, eu me despedi dela e, supondo que o Tio Fructo estava dormindo, fui-me retirando. Ela  me falou: – Floriano, venha tomar a bênção a seu tio! Eu fui. Ela o virou, pois ele estava deitado na rede, de bruços. Tio Fructo, então, me fitou, me reconheceu, falou meu nome e me abençoou. Saí de lá com lágrimas nos olhos, como agora estou. Foi a última vez que o vi.

 

(Autodidata, Tio Fructo foi um sábio, um cientista e intelectual sensível e arguto. Exímio na redação de discursos, cartas e documentos oficiais, era inspirado poeta, cronista e prosador. Antes de exercer o cargo de funcionário da Prefeitura Municipal de Teresina, no qual se aposentou, foi um dos fundadores da cidade de Guadalupe (PI) e seu primeiro Intendente – Prefeito –, com mandato de 1929 a 1936. Gastrônomo, enólogo, farmacêutico e laboratorista, fabricava medicamentos e consultava enfermos, quando não existia médico naquele sertão. Depois disso, foi Soldado da Borracha, no período áureo da extração do precioso látex na Amazônia, de onde retornou com respeitável pé-de-meia)

 

                        Neste século XXI, passado tanto tempo, eu ainda tenho indeléveis em minha mente e em meu coração tudo o que o Tio Fructo e a Tia Zora, vocês, meus primos, e outros parentes representaram para mim, o que fiz questão de deixar registrado em livro para todo o sempre.

 

                        Só lamento que as características da vida frenética na Capital Federal tenham privado nossos filhos, filhas, netos e netas do tipo de convívio que nós, os veteranos, tivemos na juventude e que fortaleceram, mais e mais, nossos laços fraternais e nossas amizades imorredouras.

 

                        Mas, por tudo isso que foi dito, volto a proclamar o que de improviso declarei na festa do Benu:

 

                        – Tenho imenso orgulho de pertencer a esta família!

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 17 de junho de 2022

ROSA RIBEIRO E A MUSA NEIDE SANTOS
ROSA RIBEIRO E A MUSA NEIDE SANTOS
Raimundo Floriano

(Publicada em 17.06.2013)

 

 

Raimundo Floriano 

 

                        Estão vendo essa linda Pétala Negra, sorriso radiante, dentes ebúrneos, lábios grossos e sensuais, parecendo próprios para serem beijados, como de fato o são, como de fato ela o deseja, anel de brilhante, brincos de ouro e pérolas?

 

                        Essa joia preciosa é a Cleneide Maria Ramos dos Santos, mais conhecida no meio forrozeiro como Neide, a Madre Superiora Neide do Convento da Igreja Sertaneja do Recife, nomeada diretamente pelo Papa Berto, em cujo Palácio Pontifício exerce sua missão clerical.

 

                        Madre Neide é a maior agitadora cultural pernambucana e está entrosada com os grandes astros nordestinos no âmbito literomusical, fazendo-se presente em todos os acontecimentos artísticos por eles estrelados, com os quais registra o momento para a posteridade:

 

Com Júnior Vieira, Santanna, O Cantador, Chico César e Irah Caldeira

 

Com Jessier Quirino, Maciel Melo, Xico Bizerra e Dominguinhos

 

Com Elba Ramalho, Fábio Passa Disco, Papa Berto e Capa da revista Cabras

 

                        O que mais caracteriza a Neide é esse sorriso esfuziante e avassalador, aliado a uma simpatia conquistadora de corações e mentes.

 

                        Conheci-a na festa de minha posse na Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, no Recife, tendo como Patrona a cantora Elba Ramalho que, no ato, deu show grátis de hora e meia. A mim apresentada pelo amigo escritor Papa Berto, editor do Jornal da Besta Fubana, que hoje preside a Academia, Neide logo se familiarizou comigo, Veroni, minha mulher, e Mara, nossa caçula, auxiliando no desencadear da solenidade e pondo-nos em contato com os muitos artistas, músicos e compositores que enriqueceram aquela inesquecível noite.

 

                        Essa amizade com a Neide só trouxe proveitos para mim. Desde então, tenho-me valido dela para completar minha coleção discográfica de Forró, principalmente no que se refere aos inúmeros cantores que conheci em minha posse. Ela os procura pessoalmente, pede, compra, copia, enfim, faz de tudo para atender-me, jamais me cobrando um centavo sequer.

 

                        Pois agora, essa Pétala Negra de primeira grandeza, apeia-se de seu altíssimo pedestal, produz-se com esmero e posta sua fotografia com as Pétalas do Rosa no Facebook, em divulgação espontânea, isso tudo sem me pedir a remuneração, o cachê pelo serviço prestado! Não é a glória para Seu Rosa Ribeiro, meu pai? Seus 15 minutos de fama?

 

                        O livrinho, com 104 páginas, e fartamente ilustrado, nasceu de uma vontade minha de homenagear meu pai nos 40 anos de seu falecimento, ocorrido a 28 de maio de 1973. Antes de fixar a quantidade de exemplares da edição, procurei contabilizar a reduzida clientela para a qual se destinaria, eis que seu assunto não era de interesse geral, como em meus trabalhos anteriores.

 

                        Fiz um lançamento diferente, indo, sem aviso prévio, à casa de cada leitor escolhido. Primeiramente, selecionei, dentre entre os 850 endereços que tenho cadastrados, 353, todos de parentes, demais amigos, 24 confrades fubânicos e pessoas bem chegadas a nosso círculo familiar, quase esgotando a edição, que estabeleci em 400 unidades.

 

                        Aos escritores e artistas que sempre me agraciaram com seus trabalhos, os exemplares seguiram como cortesia. Aos fiéis leitores que, ao longo do tempo, me vêm prestigiando em minhas ousadias literárias, e a meus familiares, solicitei pequena ajuda para recuperar os gastos de produção, conforme papeleta anexada ao livro, fixando o quantum e indicando meus dados bancários para depósito.

 

                        Do total despendido com a gráfica a remessa, R$7.500,00, salvei R$3.600,00. Houve prejuízo? – Alguns perguntarão. E eu respondo que não. A diferença a menor de R$3.900,00 compensa minha satisfação de ter mais um livro em meu currículo. E só quem já experimentou a sensação de lançar um livro pode avaliar a extensão de sua magnitude.

 

                        No domingo passado, fui convidado por membro ANE - Diretoria da Associação Nacional de Escritores a nela filiar-me. Se, com 5 livros publicados, sou reconhecido como merecedor de pertencer àquela coletividade, meus amigos, parentes e conterrâneos poderão, agora, enfunar o peito e dizer: – O Raimundo Floriano é um escritor brasileiro!

 

                        A experiência também teve seus réditos, ao orientar-me no lançamento dos próximos, Memorial BalsenseCaindo na Gandaia e Albuquerques do Sul do Maranhão, no quais estou trabalhando com afinco, devendo sair o primeiro, com a Graça de Deus, dentro de, no máximo, dois anos, quando você se cansarem das Pétalas.

 

                        Mas deixemos de leriado e voltemos a falar em nossa Pétala Negra, que tanto cartaz deu a meu livrinho, proporcionando a meu pai, Seu Rosa Ribeiro, os decantados 15 minutos de fama, e isso pelas ondas internáuticas.

 

A Pétala Negra em relaxamento

 

                        Como se viu na foto acima, Madre Neide é mais ela! É autêntica! É íntegra! Há poucos dias, um facebookiano a chamou de morena. Pra quê? Ela quase soltou os cachorros em cima dele: – Dobre a língua, sou negra! Que papo é esse?

 

                        Também no Facebook, de brincadeira, Fábio Passa Disco afirmou que, se ficasse algum dia sem mulher, se amigaria com a Neide. Imediatamente, eu rebati informando-lhe: – Essa nêga já tem dono! E ela retrucou, na lata: – Dono, não! Sou escrava de vários “Senhores”.

 

                        Pronto! Eis a chave do mistério! Disse pouco e disse tudo! Sua afirmação tem o significado de que vários “senhores” cativaram seu coração. Essa cabroeira, constituída por todos nós, colunistas, leitores e comentarista fubânicos, tem, igualmente, seus corações cativados por nossa querida Musa.

 

                        Prova disso é que eu, não muito desinteressadamente, já me atrelei a tão rara preciosidade de ser humano, o que se comprova nestes dois mais belos sorrisos de toda a Nação Nordestina e Forrozeira:

 

Cardeal Raimundo Floriano e Madre Superiora Neide

 

                        Como diziam os comediantes de antigamente, vamos botar música na conversa. Em homenagem a essa joia lapidada, aqui vai o samba Ninguém Tasca (O Gavião), de Mário Pereira e João Quadrado, gravação de Marinho da Muda para o Carnaval de 1973.

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 28 de maio de 2022

BODAS DE DIAMANTE DE SALIMA E BERNARDINO

BODAS DE DIAMANTE DE SALIMA E BERNARDINO

Raimundo Floriano

 

  

31.05.1962 – 31.05.2022

 

Meus primos Salima e Bernardino – que nós chamamos de Benu – estão comemorando suas Bodas de Diamante. Sessenta anos de um casamento feliz e abençoado por Deus!

 

 

Convite para a celebração

 

Para homenageá-los, transcrevo aqui este belo texto escrito por seu filho Antônio Carlos Dib, advogado, escritor, colunista deste Almanaque e Sacristão da Igreja Sertaneja, lido na Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima, há dez anos, na Celebração das Bodas de Ouro desse querido casal.

 

 

Antônio Carlos Dib

 

“O distante ano de 1962 entra para a história de nossas vidas como aquele em que Salima e Bernardino se uniram em matrimônio, exatamente aqui, na Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima, em sagrada celebração presidida pelo saudoso Frei Demétrio, seu primeiro e inesquecível pároco.

 

Por aquela época, a cidade sonhada por Dom Bosco e nascida do destemor e audácia de Juscelino Kubitschek, Brasília, havia completado dois anos de existência, dando os primeiros e decisivos passos rumo a seu destino glorioso. Muitos eram os sonhos, desejos e esperanças daqueles que aqui aportaram, trazendo na bagagem o desprezo pelas privações e dificuldades, o amor à aventura e o ideal de crescer e prosperar juntamente com a pujante Brasília.

 

Outro não era o ideal da jovem Salima. Oriunda da Cidade de Catalão, a mesma em que Bernardo Guimarães exercitou a magistratura, e egressa de calorosa família de goianos árabes, Salima era destas idealistas e visionárias. Juntamente com seus pais, David e Ivone, com sua irmã Bárbara e os irmãos Calixto e Salim, todos candangos e pioneiros de primeira hora, aqui chegou em 1957. Foi, urge registrar, a família Dib motivada a desbravar estes sertões do cerrado pelo bandeirante contemporâneo Bernardo Sayão.

 

Bernardino, por sua vez, é oriundo do agreste Piauí. Nascido na cidade de Porto Seguro, que depois passou a se chamar Guadalupe, viu sua cidade natal terminar submersa pelas águas da Barragem de Boa Esperança, construída no velho Parnaíba. Mirando-se no exemplo de seu pai, Frutuoso, autodidata, farmacêutico, fundador de Guadalupe e intelectual sensível e arguto, Bernardino bacharelou-se pela Faculdade Federal de Direito do Estado do Piauí. Viveu por alguns anos no Rio de Janeiro, cursando doutorado e militando na carreira advocatícia. Transferiu-se, depois, para Brasília, acompanhando a própria transferência para a jovem Capital do Escritório ao qual pertencia – “Momsen, Gabaglia, Barros e Velloso” -, juntamente com seus sócios, Sérgio Ribeiro da Costa e o primo Firmino Ferreira Paz, que, tempos depois, viria a ser Procurador Geral da República e Ministro do Supremo Tribunal Federal. Chegou, então, a tempo de assistir à inauguração da infante Brasília, em 1960.

 

Travaram, aqui, conhecimento por intermédio de certa empregada doméstica que, tendo servido na casa da família Dib e, após, na de Bernardino, atuou como cupido, aproximando-os. Namoraram por telefone, ao longo de seis meses, falando-se sem interrupção por todas as noites, quando, então, Bernardino, enchendo-se de coragem, deu por encerrado o namoro telefônico e recebeu o hospitaleiro acolhimento da família de sua amada, convertendo-se em mais um dos filhos de Seu Dib e de Dona Ivone. Promovida a memorável aproximação, Salima e Bernardino nunca mais se apartaram.

 

Temos, assim, que tal qual a mão e a luva, a razão e o sonho, a matéria e o espírito, a prosa e a poesia, ambos se completam e se complementam.

 

Enquanto que Salima trouxe para a relação sua inigualável fortaleza, sempre regada com maciças doses de amor incondicional; Bernardino deu à relação leveza e docilidade, pautado em seu talento natural para a conciliação e em seus modos cativantes.

 

Construíram juntos um lar saudável e acolhedor, embasado nos princípios cristãos, no forte sentimento de família e na comensalidade, com reuniões semanais dos entes amados em torno da boa e farta mesa, que sempre se serviu da culinária árabe, da goiana e da piauiense.

 

Geraram filhos e netos. Amaram, sofreram, lutaram, aprenderam e muito ensinaram. Difundiram e propagaram o amor pelos lugares por onde passaram. Combateram e combatem o bom combate; guardaram e guardam a fé. Exemplo ímpar de união conjugal, constituem eles paradigma e modelo para todos os casais e enamorados.

 

Falando de minha mãe, posso aqui relacionar seu vigor e disposição para o trabalho, sua abnegação e altruísmo e a dedicação amorosa a tudo a que se entregou na vida: fervorosa católica, devotada esposa; mãe amantíssima; zelosa dona de casa; boa filha; boa irmã; boa tia; boa amiga e servidora pública exemplar.

 

Sobre meu pai, relaciono seu amor pelos estudos, pelas letras, pelo Direito e pela justiça. Se, por um lado, sempre se mostrou devotado à família e aos amigos, por outro sempre atuou profissionalmente com mérito e paixão, servindo fielmente à ciência que abraçou, brilhando como advogado particular, como advogado da Universidade de Brasília – UnB e como membro do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, no qual ingressou em fevereiro de 1967 e construiu vitoriosa carreira, atuando como Defensor Público, como Promotor Público, como Curador de Família, como Subprocurador-Geral de Justiça (depois chamado Procurador de Justiça) e, finalmente, como Procurador-Geral de Justiça, substituindo o amigo, Doutor Geraldo Nunes. Habilidoso civilista, homem público da velha estirpe, sério, probo e honrado.

 

Muitos, portanto, são os méritos dos aniversariantes, mas curto o tempo presente.

 

Assim, em conclusão, rogo a Deus que derrame sobre o amado casal copiosas bênçãos, e que lhes pague em dobro todo o amor e todo o bem que ambos têm plantado no correr dos anos. Peço à virgem Maria que vele por estes seus filhos. Parabéns, queridos. Saúde, paz e mais cinquenta anos para vocês!

 

Concluo esta oração pedindo a todos os presentes que me acompanhem em um caloroso “parabéns pra você” aos aniversariantes e, depois do parabéns, pedirei licença ao honorável celebrante para cantarmos juntos a oração de consagração à Nossa Senhora de Fátima, Santa da devoção de meu pai.

 

Obrigado!”

 

 

**********

NOTA DO EDITOR

 

Antônio Carlos se esqueceu de dizer, ou não o fez por modéstia, que Salima era uma das moças mais bonitas do Brasil. Haja vista que foi Miss Goiás. Meu irmão Afonso Celso, pioneiro de Brasília, residia em Goiânia antes de se transferir para a Capital Federal em construção e foi testemunha desse momento glorioso de nossa querida prima.

 

Isto quem me contou foi o próprio Benu:

 

Conforme disse acima Antônio Carlos, o namoro de Salima e Bernardino, intermediado por uma faxineira que prestava seus serviços nas residências dos dois, era apenas telefônico, pois naquela época não dispunham de internet ou de celular para que ambos conhecessem a imagem um do outro.

 

Marcado o primeiro encontro, Benu, apreensivo e cheio de expectativa, procurou o primo Afonso para tomar informação sobre o tipo físico de sua desconhecida amada. Afonso foi curto e grosso:

 

– É UM PEIXÃO!


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas segunda, 23 de maio de 2022

tea

Por Eduardo Graça — Manaus (AM)

 


Cena de “Peter Grimes”, também montado na Royal Opera House e na Bavarian State Opera este ano — Foto: Cleuton Mendonça/Divulgação

Cena de “Peter Grimes”, também montado na Royal Opera House e na Bavarian State Opera este ano — Foto: Cleuton Mendonça/Divulgação

No palco do Teatro Amazonas, é impossível não fixar o olhar na enorme cabana de madeira de pescador e no bar erguido sobre palafitas, cenários centrais de “Peter Grimes”. Considerada uma das melhores óperas do século XX, a obra-prima de 1945 do inglês Benjamin Britten (1913-1976) é a principal atração do 24º Festival Amazonas de Ópera (FAO), com três récitas concorridas, a última delas amanhã. A edição marca o retorno ao formato totalmente presencial, após o evento não acontecer em 2020 e de uma experiência híbrida no ano passado.

Peter Grimes é um pescador de uma cidadezinha portuária inglesa acusado de causar a morte de seu aprendiz. O avesso da simpatia, fixado no lucro da pesca, cai em desgraça por conta do disse me disse de personagens quase sempre mesquinhos e hipócritas. A aldeia espelha o embrutecimento do protagonista e a tensão cresce em direção a um linchamento aparentemente inevitável.

O estudo da violência tem atraído encenadores interessados em tratar da polarização política atual, das fake news e do tribunal da internet com sua visão enviesada da justiça e cancelamento sumário de indivíduos. Composto durante a Segunda Guerra Mundial por um barulhento pacifista, “Peter Grimes” teve produções destacadas este ano na britânica Royal Opera House e na alemã Bavarian State Opera.

— É a antena que temos e parece captar o que os artistas desejam falar em determinado momento. Mas há algo específico sobre se fazer “Grimes” em Manaus, para o público local, em uma produção latino-americana neste momento político nos nossos países — diz o diretor colombiano Pedro Salazar, de 47 anos, celebrado por sua “Florencia en el Amazonas”, ópera do mexicano Daniel Cátan (1949-2011), apresentada há quatro anos no FAO.

Em duas semanas a Colômbia vai às urnas para escolher um presidente em eleições marcadas por episódios de violência e a possibilidade de uma vitória inédita da esquerda, com um ex-guerrilheiro, e sua vice, negra, liderando as pesquisas.

— A violência é marca central de nossos dois países e se debruçar sobre ela é vital. Contamos aqui a história de Britten sem nos desviarmos dela, mas não me interessa fazer um museu operático e sim algo que dialogue com o entorno e o público local — diz Salazar.

Os cenários do também colombiano Julián Hoyos, que tomaram forma após pesquisa em comunidades indígenas nos dois lados da fronteira, aumentam a intimidade do público local com o que se vê no palco. No papel-título, o tenor Fernando Portari, aos 54 anos, imprime o tom exato de emoção e já deve incluir o personagem como destaque em uma carreira de êxitos. E a Orquestra Sinfônica da Amazônica, sob a batuta do maestro Luiz Fernando Malheiro, diretor artístico do FAO, brilha ao criar seus próprios sons do mar, de pássaros a apitos de embarcações, das ondas à tempestade, real e figurativa.

No coro de “Peter Grimes”, é possível identificar crianças da vila de pescadores que voltam ao palco no dia seguinte em “O Menino Maluquinho”. O FAO sempre conta com pelo menos uma atração voltada para o público infantil, na busca de se formar profissionais e de trazer as crianças ao Teatro Amazonas. A se levar em conta a reação entusiasmada neste sábado da meninada, a “maluquice” de Ziraldo coube bem no prédio concluído em 1896 para a elite manauara.

— O público do teatro hoje é o avesso do da época de ouro da borracha. Temos ingressos populares, programação acessível o ano todo e chegando à marca de 25 anos de continuidade do festival. Somos a prova cabal de que ópera não é uma atividade exclusiva para as elites do Sul e do Sudeste — diz Malheiro.

“O Menino Maluquinho”: Inspirada em Ziraldo, ópera mantém a tradição da programação infantojuvenil do evento — Foto: Cleuton Mendonça/Divulgação

“O Menino Maluquinho”: Inspirada em Ziraldo, ópera mantém a tradição da programação infantojuvenil do evento — Foto: Cleuton Mendonça/Divulgação

A mais nova encenação da ópera de Ernani Aguiar, com libreto de Maria Gessy de Sales e direção de Matheus Sabbá, de 26 anos, tem elenco todo local, com muitos talentos do Coral Infantil e Infanto-juvenil do Liceu de Artes e Ofício Claudio Santoro, órgão público e gratuito estadual voltado para a formação das artes. Aguiar estará no FAO na semana que vem para as derradeiras apresentações de “O Menino Maluquinho”.

O compositor acaba de estrear outra ópera, “Aleijadinho”, sobre a trajetória do gênio mineiro (1738-1814), composta sobre libreto de André Cardoso. A primeira apresentação reuniu, no dia 29 de abril, quatro mil pessoas na plateia improvisada na praça em frente à Igreja São Francisco de Assis, em Ouro Preto, onde se encontram obras-primas do mestre barroco. A produção foi do Palácio das Artes, de Belo Horizonte, onde o espetáculo teve quatro récitas, a última delas nesta sexta-feira.

 

Parceria para 2023

 

A busca de um circuito nacional de óperas com ênfase em coproduções foi tratada no 3° Encontro de Economia Criativa e Teatros de Ópera na América Latina, realizado durante o festival. Além de números que atestam o impacto do FAO (a diretora-executiva Flavia Furtado informa que, em duas décadas, dez estabelecimentos e sete hotéis foram abertos em torno do Teatro, e pelo menos 600 empregos são gerados diretamente todos os anos), um dos resultados práticos da reunião foi o anúncio da produção conjunta, pelo Teatro Amazonas, o Theatro Municipal de São Paulo e o Palácio das Artes, da ópera “O contratador de diamantes”, de Francisco Mignone, que estreará no FAO no ano que vem e depois irá às capitais paulista e mineira. A edição deste ano já contou com uma parceria com o Theatro da Paz, de Belém (“Il Tabarro”, de Puccini) e a Orquestra Sinfônica do Espírito Santo (“O caixeiro da taverna”, de Martins Pena).

“Peter Grimes” será apresentada novamente na terça-feira e “O Menino Maluquinho” no sábado. O FAO, que é realizado pelo governo do Amazonas com apoio do Bradesco via Lei Rouanet a um custo de R$ 5 milhões, conta ainda com transmissão pela TV local. A programação segue até o dia 31 na capital e em quatro cidades do interior amazonense.

* Eduardo Graça viajou a convite do FAO


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas terça, 10 de maio de 2022

MEU JIPINHO: DEZ ANINHOS, SEM DIREITO A FESTA, APENAS REVISÃO NA NARA VEÍCULOS, TANQUE CHEIO E BANHO DE LAVA-JATO!
MEU JIPINHO: DEZ ANINHOS, SEM DIREITO A FESTA, APENAS REVISÃO NA NARA VEÍCULOS, TANQUE CHEIO E BANHO DE LAVA-JATO!
Raimundo Floriano

9 DE ABRIL DE 2012

NOSSO ENCONTRO, FIRMANDO UMA PARCERIA PARA SEMPRE!

NA COPA DE MUNDO DE 2018

EM 2020, 2021 e 2022 - NA GARAGEM, LEVANDO POEIRA

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas domingo, 08 de maio de 2022

COMANDANTE PUÇÁ - ÚLTIMA HOMENAGEM!
                        Encantou-se! Neste 10 de dezembro de 2016, aos 94 anos de uma bela, digna, rica e feliz existência, o Comandante Puçá, cumprida sua missão na Terra, na Paz de Deus se encantou! Foi residir na Morada Celestial! 

                        Para que todos se recordem desse grande amigo, aqui vai a primeira homenagem que lhe fiz:

 

DO LIVRO DE BALSAS PARA O MUNDO

COMANDANTE PUÇÁ

Raimundo Floriano

Publicada em 10.12.16

 

 

José Rodrigues dos Santos, o Puçá

 

            A foto que ilustra este capítulo foi-me enviada pelo personagem-título, assim como sua rica biografia, em seis laudas manuscritas.

 

            José Rodrigues dos Santos, o Puçá, nasceu em Floriano, no dia 08.05.1922, filho de Laurentino Rodrigues dos Santos e Cezária Maria da Conceição. O apelido, que ele adotou e que o identifica até hoje, vem da fruta silvestre do mesmo nome, de cor azeviche, saborosa e rara.

 

            Aos 10 anos de idade, ficou órfão de pai e mãe. Dona Cezária morreu em decorrência de males oriundos de sua intensa exposição ao calor nas bocas dos fornos das olarias onde trabalhava. Seu Laurentino, vítima de infecção no calcanhar, provocada pela mordida dum gato, no rabo do qual pisara.

 

            Seu irmão mais velho, de um total de sete, Fernando, já casado e com três filhos, residente em Uruçuí, sabendo os demais irmãos desamparados, foi buscá-los. A viagem de volta, num percurso de 208 km, foi feita a pé, levando seis dias na caminhada. Um dos pousos foi a Fazenda Brejo, antiga propriedade do meu avô paterno, Capitão Pedro José da Silva, hoje em poder do meu primo Airton, médico residente em Teresina, filho do Comandante João Clímaco, meu Tio Joãozinho, também personagem deste livro.

 

            A família do Puçá está, desde o início dos anos 50, intimamente ligada à minha. Fernando é o pai da Maria Júlia, que foi morar conosco em 1951, ainda menina, sendo, praticamente, criada por Maria Bezerra, minha mãe. Seguiu ela com minha irmã Maria Alice para Engenheiro Dolabela-MG, quando esta se casou, acompanhando-a nas mudanças para Brotas-SP, Anápolis-GO, e, finalmente, Balsas. Em 1974, veio cuidar de minha residência aqui em Brasília. Mais tarde, casou-se com Odílio Silva, antigo craque da Seleção Balsense de Futebol, com o qual teve um filho, o Reinaldo, meu afilhado, engenheiro da computação, todos residentes em Anápolis, ela aposentada pelo INSS. Maria Rodrigues, irmã do Puçá, veio a ser um forte esteio para a minha gente em Balsas, nas ocasiões mais delicadas. Fechou os olhos de minha mãe, quando do seu último suspiro, tendo-a velado como se parente fosse. Igualmente, esteve à cabeceira de Rosa Ribeiro, meu pai, até que expirasse. Desde 1966, constituiu-se em amiga, conselheira, companheira, praticamente mãe de minha irmã Maria Alice, falecida de mal súbito em 2002. Hoje, Maria Rodrigues, funcionária estadual aposentada, reside em Balsas, na aconchegante casinha com que Maria Alice a presenteou.

 

Puçá e Maria Rodrigues, em foto recente

 

            Puçá, chegando a Uruçuí, começou, ainda menino, a trabalhar em olarias. Dois dos seus irmãos, Adelino e Cezário, entraram para a Marinha Mercante e ganharam o mundo, viajando sem parar. Devido ao fato de não se dar bem com a cunhada, Puçá, em 1937, aos 15 anos de idade, fugiu com boiadeiros que iam comprar gado em Goiás. Levaram eles, a pé, 30 dias de Uruçuí a Porangatu que, na época, se chamava Descoberto.

 

            Ali, compraram 350 bois e rumaram para o Peixe, à margem esquerda do Rio Tocantins, onde compraram mais 350, tocando a boiada rumo à Paraíba, em viagem que durou nove meses. Chegaram ao destino com o desfalque de 50 bois: alguns serviram de alimento para os boiadeiros, outros morreram envenenados por ervas daninhas ou picadas de cobras, e houve os que cansaram na longa caminhada ou sumiram mato adentro. A boiada foi vendida ao Coronel Sizenando, na Fazenda Canto do Feijão, perto do Litoral Paraibano, por um valor sete vezes superior ao pago em Goiás. Todos os da comitiva regressaram de pau de arara para Uruçuí.

 

            Naquela cidade, foi morar com o Dr. Auzônio Del Século Carneiro da Câmara, Juiz de Direito da Comarca, que o acolheu como se seu filho fosse. Em 1940, aos 18 anos, dele obteve permissão para ingressar na Marinha Mercante.

 

            Embarcou na lancha Nazira, mais tarde renomeada Rosicler, sob as ordens do Comandante Antônio Fernandes.

 

            Prosseguindo na Marinha Mercante, iniciou sua carreira como taifeiro – espécie de criado de bordo – nos vapores 15 de Novembro e Joaquim Cruz, então propriedades do armador Petrônio Oliveira, no vapor Afonso Nogueira e na já mencionada lancha Rosicler, ambos propriedades do armador Afonso Macedo Nogueira.

            O empresário Afonso Nogueira era um idealista empreendedor e arrojado. Natural do Ceará, com atividade comercial diversificada, montou seu próprio estaleiro em Floriano e ali construiu o vapor que levou seu nome e a lancha Nazira, por encomenda do árabe Amado Bucar, residente em Balsas, depois batizada Rosicler ao mudar de dono. Apenas as máquinas vieram da Inglaterra, de onde foi também importada a maioria das embarcações a vapor da época.

 

Vapor Afonso Nogueira - Acervo Teodoro Sobral Neto

 

            Puçá serviu em várias delas sob o comando do Prático João Sambaíba, que o elevou da categoria de taifeiro à de moço de convés – marinheiro raso. Mais tarde, Sambaíba o promoveu a mestre de convés – que chefia e orienta os moços de convés. Com o passar do tempo, Puçá aprendeu a pilotar.

 

            Querendo vê-lo progredir na carreira, Sambaíba o liberou para um curso na Capitania dos Portos de Parnaíba, do qual Puçá se saiu com brilhantismo, obtendo a Carta de Praticante de Prático.

 

            Com essa credencial, serviu em várias embarcações pelo período de um ano, após o que seus irmãos Adelino e Cezário, que já trabalhavam na FRONAPE – Frota Nacional de Petroleiros –, de passagem por Floriano, o orientaram a fazer o Curso de Aperfeiçoamento. Dessa forma, Puçá rumou com os irmãos para o Rio de Janeiro, de onde, já como aluno, embarcou num dos navios da FRONAPE, na rota Rio de Janeiro – Belém – Rio de Janeiro. De volta ao Rio, terminado o curso, os dois irmãos lá o deixaram e seguiram para a Inglaterra. Não querendo acompanhá-los, Puçá voltou para Floriano, onde recomeçou a navegar em embarcações de água doce.

 

            De posse da Carta de Prático, expedida pela Capitania dos Portos de Parnaíba, Puçá exerceu sua profissão pilotando e comandando no trecho Balsas-Parnaíba, e em outros pontos, como adiante se verá.

 

            No dia 25 de dezembro de 1951, casou-se com Adelina Souza Dourado, tendo como padrinhos o Comandante Luiz Barbosa e sua esposa, Maria Correia de Albuquerque, a Donamaria, em cerimônia civil realizada na residência do Sr. Olindo Solino e presidida pelo Juiz Suplente Gabriel Miranda, tendo Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, meu pai, como escrivão. No religioso, a celebração ficou a cargo do Padre Clóvis Vidigal, na Igreja Matriz de Santo Antônio de Balsas.

 

            Desse casamento, nasceram-lhes os filhos José Filho, Laurentino Neto, Gregória e Mária de Fátima, dos quais Laurentino, policial, é o único sobrevivente.

            Na linha Balsas-Parnaíba, navegou nas embarcações abaixo relacionadas.

 

            Vapores: Joaquim Cruz, 15 de Novembro, Afonso Nogueira e Rio Balsas, este propriedade de Félix Pessoa, residente em Teresina.

 

Vapor Rio Balsas

 

            Lanchas: Palmira, Rosicler, Rio Poty e Marabá, esta pertencente ao Comandante Wenceslau Ribeiro.

 

Lancha Palmira

 

            Motores: João Fernandes, propriedade de João Clímaco da Silva; Cidade de Balsas, propriedade de Hélio Fonseca e José Lima Filho, o Seu Lima; Princesa Isabel, propriedade de Alexandre Pires e Jacques Pinheiro Costa; Boa Esperança, propriedade de Dejard Queiroz; Pedro Ivo, propriedade de Cazuza Ribeiro, e Ubirajara, propriedade de Cazuza Ribeiro e Luiz Barbosa, que foi a pique em fevereiro de 1957, em naufrágio no qual morreram cinco pessoas por afogamento e marcou o encerramento de sua carreira náutica naquelas paragens.

 

Motor Ubirajara e Barca Macapá, na rampa de Balsas 

Acervo do autor

 

Motor Princesa Isabel

 

            Por essa época, era também o começo do fim da intensa navegação fluvial na Bacia do Parnaíba, posto que, em 1959, já se cogitava da construção da Barragem de Boa Esperança.

 

            Em meados de 1957, na busca por outro meio de vida, Puçá mudou-se com a família para Goiânia e, em 1958, para Brasília, ainda em construção. Tão logo aqui chegou, foi convidado pelo empresário Boli Pierre de Santana, para se aventurarem pelas águas da Região Amazônica. Convite aceito, Boli comprou o motor Cisne Branco, no qual Puçá navegou pilotando e comandando. Houve também o vapor Barão de Cametá, na linha Belém-Cametá, no Baixo Amazonas, propriedade de um certo Sr. Kalil, residente em Belém. Após cinco anos navegando naquela Região, Puçá retornou para Brasília, onde fixou residência definitiva.

 

            Na Capital Federal, com o conhecimento e a amizade adquiridos durante sua longa vida de navegante, foi-lhe fácil conseguir colocação. Primeiramente, no Clube do Congresso e, posteriormente, na FUNAI – Fundação Nacional do Índio –, onde se aposentou.

 

            Mas não pensem que o velho marinheiro se contentou com o sedentarismo proporcionado pela inatividade bem-remunerada. Longe disso!

 

            Constantemente, é ele convocado pela companheirada para se embrenharem nas matas e rios dos Estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso, em pescarias e caçadas que chegam a durar semanas.

 

            Em Brasília, Puçá mantém vasto círculo de relacionamento afetivo com todos os que vieram das plagas por onde navegou, principalmente com os balsenses, sendo presença infalível em todas as festas que realizamos.

 

            Sou parte integrante de um pouco dessa bonita história. Minha primeira viagem na vida foi feita no motor Pedro Ivo, com destino a Floriano, em fevereiro de 1949, no qual Puçá, aos 27 anos, já era um dos importantes marinheiros. Novamente, em dezembro de 1951, no mesmo motor, subi de Teresina a Balsas, em animadíssima jornada, conhecida na época como a viagem dos estudantes em férias.

 

Motor Pedro Ivo

 

            Puçá é um preciosíssimo arquivo da memória do nosso saudoso tempo de estudante e de menino matuto do sertão sul-maranhense.

 

                        E como última homenagem, o foxe Adeus, de Felisberto Martins e Henrique Mesquita, na voz de Gilberto Alves:

 

 

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 07 de maio de 2022

FEIRA LITERÁRIA DE BALSAS - FELIB - FUI NOTÍCIA EM MINHA TERRA NATAL

FEIRA LITERÁRIA DE BALSAS - FELIB

FUI NOTÍCIA EM MINHA TERRA NATAL

Raimundo Floriano

 

 

A Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal de Balsas realizou, de 26 a 27 de abril de 2022, no Clube Recreativo Balsense - CRB, a Feira Literária de Balsas - FELIB. Noticiando o fato, assim se expressou o Secretário de Cultura, Carlos Cesar Ibiapino:

 

 

A seguir, algumas imagens da Feira

 

 

 Leitora, com livros adquiridos

 

A convite da Professora Carmen Siqueira, tive nela participação, com um estande organizado pela Escola Municipal Virgínia Cury, que expôs alguns de meus livros e me fez representar pelo aluno Davi Arthur, devidamente caracterizado:

 

 Davi Arthur e a Professora Járede de Sousa

 

Davi Arthur, com as Professoras Járede e Carmem

 

Aluno Davi Arthur, meu competente representante

 

Davi Arthur lendo um texto meu

 

Aplausos para Davi Arthur

 

Novamente, com a palavra o Secretário Carlos Cesar Ibiapino, fechando, com chave de ouro, essa linda homenagem a mim prestada:

 

 

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Cardeal Raimundo Floriano, Seu Mundinho e Velho Fulô

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Agora, me respondam: é a glória, ou não é?

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 05 de maio de 2022

BARBOSINHA, UM AMANTE DA BOA MÚSICA
BARBOSINHA, UM AMANTE DA BOA MÚSICA

(Publicada a 01.08.2014)

Raimundo Floriano

 

 

Barbosinha: 05.05.1934 – 20.07.2014

 

                        Cesário Barbosa Bonfim, o Barbosinha, filho de Jonas Ferreira Bonfim e Maria Aracy Barbosa Bonfim, nasceu em Independência (CE), no dia 5.5.1934.

 

                        Em janeiro de 1944, quando eu estava com 7 anos e meio, a Família Bonfim mudou-se para Balsas, trazendo o Barbosinha, filho mais velho, e duas lindas meninas, a do meio, Leonor, e a mais novinha, Maria Núbia, regulando minha idade, pela qual, à primeira vista, fiquei perdidamente apaixonado, demonstrando meu amor com beliscões, tapas e puxões de cabelo. Esse romance unilateral durou só até o fim da Segunda Guerra Mundial, quando ficamos para sempre intrigados.

 

                        Em Balsas, Barbosinha estudou no Grupo Escolar Professor Luiz Rêgo, concluindo o Primário em dezembro de 1947, após o que embarcou numa balsa, rumo a Floriano, para cursar o Ginásio, daí partindo para outras plagas até formar-se em Direito e conquistar, mediante aprovação em concurso público, o cobiçado cargo de Fiscal de Tributos do Estado de Goiás e do Tocantins. De Balsas para o Mundo, como soía acontecer com todo garoto pobre que desejasse progredir na vida.

 

                        Arguto obeservador, de tanto viajar nas balsas, escreveu bela crônica sobre essa rústica embarcação, da qual me vali, com sua autorização, para ilustrar meu texto sobre a navegação fluvial de Balsas para o Oceano Atlântico.

 

                        Em Balsas, Seu Jonas exerceu as atividades de Promotor de Justiça e Agente da Companhia Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul.

 

                        A Agência da Cruzeiro foi um dos locais mais paquerados da cidade naquele tempo. Era onde se compravam passagens, e onde se despachavam as bagagens a embarcar e se recebiam as encomendas que chegavam, além dos carretéis com os filmes a serem exibidos no Cine Santo Antônio, a cargo do projecionista Zé Farias. Diante da algazarra que os curiosos e desocupados faziam, Seu Jonas não teve outro jeito senão afixar estas duas placas na parede atrás de seu birô:

  

                        Os Bonfim eram grandes consumidores de palmas, roscas, cacetes, brevidades e biscoitos que Dona Maria Bezerra, minha saudosa mãezinha, fazia e me mandava vender na rua, deixando-me na maior saia-justa quando chegava na casa daquela família, morrendo de vergonha das duas meninas.

 

                        Em meados do século passado, surgiu riquíssimo Eldorado na região norte-goiana, hoje norte-tocantina, com terras devolutas, água farta, chovendo no tempo certo, atraindo nordestinos da periferia, que para ali acorreram na busca de vida melhor para si e suas famílias. Assim, em 1952, Seu Jonas e Dona Aracy mudaram-se em definitivo para Itacajá, onde ele assumiu o cargo de Administrador do Serviço de Proteção aos Índios - SPI, atual FUNAI.

 

                        Enquanto as meninas permaneceram em Balsas, para darem continuidade aos estudos, Barbosinha pontificava por aí, alhures e algures, na busca da conquista de seu espaço no mercado de trabalho.

 

                        Em 1956, ele foi visitar os pais em Itacajá, pretendendo ficar poucos dias, o que não conseguiu. Ali, enraizou-se e constituiu família, casando-se, em 25.7.1962, com a itacajaense Dulce Soares Bonfim, com quem teve os filhos Jonas, Sandra, Cláudia, Flávio, Stella e Cesário.

 

Barbosinha e Dulce 

                        Nas horas vagas, atuava como locutor da amplificadora Voz do Sertão, difundindo a Música Popular Brasileira em algo grau, pois os sons de seus alto-falantes alcançavam todos os recantos da cidade. De sua cabeça, saiu o nome do futuro município de Itapiratins, combinação de Ita, primeira sílaba de Itacajá, e piratins, parte final de Tupiratins, cidade vizinha.

 

                        Sua cartada genial veio em 1968, quando ele, Coletor Estadual, e João Pinheiro, Fiscal Arrecadador do Estado, juntamente com próceres da cidade, fundaram o Ginásio Progresso de Itacajá - GPI, possibilitando aos filhos daqueles colonos o estudo sem terem de buscá-lo em outros centros mais adiantados. Iniciado o primeiro ano letivo, Barbosinha tornou-se professor de História e OSPB.

 

                        Mas não parou aí a devoção de Barbosinha por Itacajá. Em 2011, ele a homenageou com este preciosíssimo documento:

  

                        O livro conta a história de Itacajá, desde o início do povoamento, por volta de 1900, com nomes dos primeiros moradores, passando pela emancipação administrativa municipal, em novembro de 1953, e instalação em janeiro de 1954, consignando os nomes de todos os prefeitos desde então, e das primeiras-damas, com suas principais realizações. A importância desse trabalho é tamanha, que foi logo consagrado pela juventude da cidade, como demonstra a foto abaixo:

 

                        Pelo conjunto da obra, a Câmara Municipal de Itacajá deveria já ter outorgado ao Barbosinha o título de Cidadão Itacajaense. Se ainda não o fez, viajou na maionese!

 

                        Minha amizade com o Barbosinha perdura desde sempre. Começou em Balsas, quando ainda éramos crianças, continuou em Floriano, ao cursarmos o Ginásio, notadamente no ano de 1949, nas férias de julho, ao viajarmos para Balsas, ele, meus primos Pedro Ivo e João Ribeiro e eu, na carroceria do caminhão do Pedro Duarte – dois dias de poeira –, e fortificou-se mais ainda, tempos depois, com o casamento do Pedro Ivo com sua irmã Leonor. Fraternos laços de família.

 

                        Baseado nesses laços, ele me enviou, em agosto de 2012, uma solicitação deveras instigante. Sabedor que detenho um acervo fonográfico superior a 100 mil títulos, pediu-me que gravasse para ele a trilha sonora dos principais momentos de sua vida, 296 peças, com esta justificativa:

 

“Desde muito cedo na vida, passei a apreciar a boa música, em todas as suas modalidades, variantes e formas. Creio que isso teve início, com as canções maternas que me embalaram nos primeiros sonos. Mais tarde, com as mudanças de idade e gostos, fui sentindo que cada etapa, se fazia acompanhar por uma trilha musical, sempre presente, nos devaneios e fantasias, como expressão máxima de meus sentimentos, embelezando cada momento de minha maneira de ser e de viver.

 

“Senti, desde que tomei conhecimento de alguma das melhores coisas da vida, que, a determinadas pessoas, a natureza concedeu dons especiais, justificando-se, dessa forma, a existência dos artistas, músicos, poetas, escritores, compositores e intérpretes, capazes de levar, aos demais viventes menos dotados, a beleza de suas artes e, especialmente, dos sons que, associados à poesia das letras, envolvem a nós outros, apreciadores, conduzindo-nos à importante tarefa de aplaudi-los e transformá-los meritoriamente em nossos ídolos. Foi assim que nasceu a figura do “fã”, provavelmente derivada da palavra fanático.

 

“São grupos distintos, porém integrados entre si. Um depende do outro. Que seria do artista se não tivesse ninguém que apreciasse o que faz? Roberto Carlos resume isso numa estrofe, quando se apresenta ao seu público: ‘Quando eu estou aqui eu vivo esse momento lindo’. Esse momento é dividido com todos aqueles que gostam dele e de sua música.

 

“Nisso tudo, o peso de nosso valor de ouvinte é incomensurável, pois somos uma imensa maioria e, sem o nosso apoio e aplauso, não tinha significado a existência dos artistas. Quem não gostaria de ser privilegiado com um desses dons que parecem até divinos? Contudo, satisfazemo-nos em aplaudir quem os possui, fazendo de seus sucessos o nosso próprio sucesso, levitando às suas sombras. Talvez seja por isso, que Ruy Barbosa tenha dito, como uma grande vantagem: ‘Não canto nem pinto, mas revejo e recordo’.

 

“Pertenço a esse imenso grupo. E foi justamente pensando assim que resolvi juntar minhas preferências musicais, através dos tempos, sem contar com os clássicos que, por falta de audiência, apenas aprecio aqueles mais divulgados e popularizados. Minha trilha musical, como creio que cada apreciador de música deve ter a sua, é essa que segue e que constantemente gosto de ouvir, para sentir-me vivo.

 

“Foi assim que selecionei as mais queridas, convertidas no que chamo de trilha musical, inserida nas diversas fases de minha vida, ocorridas, no Ceará, Maranhão, Piauí, Goiás e Tocantins, locais por onde passei, nas andanças da vida. E, como na vida tudo também passa com rapidez incrível, só as boas recordações ficam, e a música é uma delas, por estar geralmente associada a esses bons e inesquecíveis momentos.”

 

                        A Trilha Musical do Barbosinha, como ele bem frisou, contempla todas as localidades por onde passou, amarrando os períodos em que ali viveu, constituindo-se na história de sua vida: Independência (CE), 1939/1943; Balsas (MA), 1944/1947; Floriano (PI), 1948/1951; Fortaleza (CE), 1952/1954; Kraolândia (GO), 1956/1961; Apinagés (GO) 1962/1965; Itacajá (GO-TO), 1966/1972; Luziânia, 1973/1976; Goiânia (GO), 1977/1991; Palmas (TO), 1993/2004; e Velhos Carnavais.

 

                        Na lista, veio o samba Balsas Cidade Sorriso, de 1946, composição de Martinho Mendes e Caixeiro Viajante Desconhecido, do qual eu só possuía a letra e a partitura. Não querendo faltar com o amigo, mesmo que fosse em um só item, contratei um estúdio aqui de Brasília e concretizei a gravação. Depois de tudo providenciado, salvei as 296 faixas num pen-drive e o remeti para ele, o que foi muito de seu agrado.

 

                        Barbosinha, aos 80 anos, completados em maio passado, era um cara atualizado, por dentro, atuante, em dia com a tecnologia, com perfil no Facebook, na qual fazia postagens quase que diárias.

 

                        Além disso, era meu leitor fiel, adquirindo todos os livros que escrevi, bem como curtindo e elogiando as matérias por mim postadas semanalmente em minha coluna aqui no Jornal da Besta Fubana.

 

                        O Destino, em suas deliberações, é implacável: no dia 20 de julho passado, em Goiânia, uma embolia pulmonar fulminante levou o Barbosinha para o Plano Superior.

 

                        Para marcar musicalmente esta saudosa homenagem, escolhi duas faixas de seu pedido:

 

                        Adeus, foxe de Roberto Martins e Mário Rossi, na voz de Gilberto Alves, em 1941;

 

                        e Balsas, Cidade Sorriso, cujos créditos se encontram neste Youtube:

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 24 de dezembro de 2021

CRÔNICA DE UMA SERESTA NATALINA BALSENSE
 

CRÔNICA DE UMA SERESTA NATALINA BALSENSE

Raimundo Floriano

 

 

Noite enluarada no sertão brasileiro

 

                        Aconteceu há quase 54 anos, noite de 23 para 24 de dezembro de 1960, sexta-feira, antevéspera do Natal.

 

                        Numa cidade em que não havia televisão, e a iluminação pública apagava por volta das 22 horas, a opção noturna para o encontro da mocidade em férias se resumia nas festas dançantes que realizávamos no Clube Recreativo Balsense ou em alguma casa de família, com iluminação a petromax e música a cargo do conjunto de Martinho Mendes. A cota arrecadada entre os rapazes cobria todas as despesas.

 

                        Estávamos radiantes com a festa que realizaríamos no clube naquela noite, quando recebemos um balde de água fria: o bispo da Prelazia, Dom Diogo Parodi, proibira qualquer dança no período natalino, por ser uma época de recolhimento e orações, como afirmava. E não houve jeito de contornar o assunto. A presidência do clube caçou-nos a licença já concedida, o Martinho tirou o corpo fora, e nenhuma casa de família se atreveu a contrariar a ordem episcopal. Diante do impasse, resolvemos partir para uma serenata.

 

                        Marcamos o ponto de reunião no coreto – hoje inexistente – da Praça da Matriz e, enquanto aguardávamos a lua sair e a chegada dos seresteiros, demos início ao consumo de bebidas quentes – licor Perobina, cachaça Jararaca, conhaque São João de Barra, Martini, quinado Cinzano e rum Bacardi –, ao mesmo tempo em que entoávamos cantigas em altos decibéis, para acordar o pessoal da Casa Paroquial, verdadeira pirraça em desagravo.

 

                        Um dos seresteiros era o preto velho Fuçura, guarda municipal e vigia dos jardins da praça. Dávamo-lhe boas doses de pinga e mandávamos que ele gritasse bem alto DOM DIOGO!, porém ele, respeitoso por demais, repetia: PÃO DE OURO! Outro companheiro a chegar foi o Thucydides Miranda, filho da Jeruza, entrado na adolescência, mas todo metido a rapaz. Ele e o Fuçura ficaram responsáveis pelo transporte das garrafas sobressalentes – as cheias, evidentemente.

 

                        Pela meia-noite, a trupe estava completa: José Bernardino, Gonzaguinha, Antônio Pires, Cazuzinha, Aluizio Soares, Raimundo Chaves, Raimundo Solino, Arenaldo, Otaviano do Zé do Joca, Nonato do Souzinha, Mestre Rubens, Pedro Correia e João Batista, seu irmão, Luizão, Pedro Nilo, Fonsequinha, João Emigdio, Zé Farias, que chegara de Brasília em teco-teco fretado, além de mim no violão, meu irmão Afonso Celso na sanfona, Possidônio na flauta e Régis, novo morador balsense, no cavaquinho.

 

                        A casa escolhida para início da jornada foi a de Seu Araripe, na Rua Isaac Martins, por motivos óbvios: grande concentração de moças bonitas e dos sonhos de alguns. O próprio Araripe veio à porta, ofereceu-nos bebidas e, após nossos cânticos, ele e seu filho José, o Sampaio, incorporaram-se ao cortejo.

 

(É oportuno relembrar que a residência de Seu Araripe e Dona Tercília, sua mulher, era o ponto de reunião da juventude balsense em férias. Dançava-se à luz de candeeiros ou lamparinas, ao som dum rádio de pilha – foi ali que aprendi a dançar. Em noites de claridade lunar, dispunham-se, no terreiro em frente, num grande círculo, cadeiras arrecadadas na casa e na vizinhança, onde se realizavam diversas brincadeiras sertanejas, como a do anel, a da berlinda e a do amigo secreto, sempre sob a direção das filhas daquele querido e simpático casal cearense. Uma delas, por sinal, recém-nascida em 1960, participou, 18 anos mais tarde, do concurso Miss Brasil, representando o Estado do Ceará).

 

                        A seguir, cantamos na porta de Marica Rocha, Salomão Ahuad, Moisés Coelho, Chico Florentino, Doutor Gonzaga, Augusto Pires, Absalão da Maroca e, por solicitação de Seu Araripe, na de Dionel Souza, do Banco da Amazônia, grande cantor de modinhas, o qual também a nós se juntou. Seu ponto forte era a valsa Uma Grande Dor não se Esquece, de Ernani Campos e Antenógenes Silva, gravação de Carlos José e Gilberto Alves, que ele entoou uma porção de vezes durante o percurso, atendendo a pedidos:

 

Choro a lágrima fremente

O pranto cruciante

Que rola internamente

Choro a lágrima sentida

A lágrima dorida

Que verte o coração

Sinto o espinho da saudade

E sofro a realidade

Da grande ingratidão

E na imensidão da dor

Eu sofro só o meu amor

 

Menestrel apaixonado

Eu vivo desolado

Chorando a minha dor

Choro a lágrima dorida

A lágrima sentida

Que sai do coração

Sinto a dor que mora n'alma

A dor que não se acalma

A dor que eu não esqueço

Sofro, eu sofro e não mereço

A dura ingratidão

Que me devora o coração

 

                        Continuando a seresta, paramos na porta do Coronel Fonseca, Pedro Inácio, Odilon Botelho, Jocy Barbosa, Luiz Fonseca e Theodorico Fernandes, onde topamos com o Antônio José da Úrsula, munido de uma radiola a pilha, em seresta particular, com discos em que dominavam os nomes de Lindomar Castilhos, Agnaldo Timóteo e Waldick Soriano. Deixamo-lo no local, curtindo uma grande paixão, e seguimos até a próxima parada, a casa de Seu Silvério Sampaio.

 

                        Dali, seguimos para a casa de Dona Nemézia Pereira, que veio nos receber, abriu sua mercearia e nos abasteceu de bebidas quentes, cujo estoque estava quase a zero.

 

                        Nesse momento, baixou em Dionel a personalidade do Cabo Didi, ao qual passamos a obedecer, principalmente no que tangia ao consumo das quentes. Quando ele achava que era chegado o momento apropriado, cada um pegava sua garrafa e executava estas ordens sob seu comando:

 

                        – Atenção!

                        – Preparar! – Todos segurávamos a garrafa pelo gargalo.

                        – Apontar! – Encostávamos a boca da garrafa nos lábios.

                        – Fogo! – Nem preciso dizer.

 

                        Da porta de Dona Nemézia, fomos até a de Dona Belinha Coelho, que nos serviu tira-gostos de queijo e cujo marido, Tenente Pedro Segundo, também se juntou a nós. Mas antes, a pedido de Dona Belinha, cantamos a toada Luar do Sertão, melodia de João Pernambuco e letra do maranhense Catulo da Paixão Cearense, a música mais repetida naquela noite.

 

                        Apenas quem mora em locais onde não há iluminação elétrica pode avaliar a beleza duma noite enluarada. E foi nessa pureza sem poluição tecnológica que Catulo se inspirou para fazer sua mais bela poesia. Luar do Sertão é o Hino da Seresta Maranhense. Eis a parte mais conhecida:

 

Oh, que saudade do luar da minha terra

Lá na serra branquejando, folhas secas pelo chão

Este luar cá da cidade tão escuro

Não tem aquela saudade do luar lá do sertão

 

Não há, oh gente, oh não,

Luar como este do sertão!

Não há, oh gente, oh não,

Luar como este do sertão!

 

Se a lua nasce por detrás da verde mata

Mais parece um sol de prata prateando a solidão

A gente pega na viola que ponteia

E a canção é a lua cheia a nos nascer no coração

 

Não há, oh gente, oh não,

Luar como este do sertão!

Não há, oh gente, oh não,

Luar como este do sertão!

 

Coisa mais bela neste mundo não existe

Do que ouvir-se um galo triste, no sertão, se faz luar

Parece até que a alma da lua é que descanta

Escondida na garganta desse galo a soluçar

 

Não há, oh gente, oh não,

Luar como este do sertão!

Não há, oh gente, oh não,

Luar como este do sertão!

 

Ai, quem me dera que eu morresse lá na serra

Abraçado à minha terra e dormindo de uma vez

Ser enterrado numa grota pequenina

Onde à tarde a sururina chora a sua viuvez

 

                        Faziam parte de nosso repertório Noite Cheia de Estrelas, de Cândido das Neves, A Volta do Boêmio, de Adelino Moreira, Chão de Estrelas, de Orestes Barbosa e Sílvio Caldas, Noite Feliz, de Franz Gruber, versão brasileira de Mário Zan e Arlindo Pinto, Boas Festas, de Assis Valente, e outras canções no gênero consagradas.

 

                        Altas horas, próximo à porta de Justiniano Fonseca, onde íamos cantar, deparamos com o negro De Pau – assim era conhecido –, deitado numa calçada, dormindo de roncar e agarrado a seu violão, nessas alturas só com duas cordas. Era a terceira serenata daquela noite que, para o negão, se acabava ali.

 

                        Na mercearia de Zé Dué, reabastecemos o estoque de quentes.

 

                        Demais casas em cujas portas cantamos: Joaquim Coelho, Joca Rêgo, Tarcísio Moreira, Lourdes Pires, Constâncio Coelho, Omar Ribeiro, Salvador Coelho, Chico Valentim, Miriam Rocha, Rafael Sabonete, Antônio Sepúlveda, Luzia Félix, Emília Câmara, Santo Coelho, Edna Pires, Gesner Soares, Didácio Santos, Dolores Lima, Ritinha Pereira, Evísio Botelho, Iaiá Gomes, Naninha Cansanção, Mestre Carlos, Sinharinha Florentino, Maria Luísa Solino e Zé Marques.

 

                        Em cada parada, o por todos ansiado comando do Cabo Didi: Atenção! Preparar! Apontar! Fogo! A certa altura, demos com a falta do Thucydides, ao notarmos que ele repassara ao Fuçura as bebidas sob sua guarda. Mandamos procurá-lo, sendo ele encontrado na Rua do Zé Bento, escornado na calçada do Major Lisboa. Aí, descobrimos que, invariavelmente, ao ser comandado, também o garotão fazia fogo. Reanimado a troco de água fria na cara, foi conduzido à casa da Jeruza, e a ela entregue, para especiais cuidados maternais.

 

Última parada na seresta natalina

 

                        Quase raiando o dia, chegamos à porta de Seu Rosa Ribeiro e Dona Maria Bezerra, meus saudosos pais, onde, depois de cantarmos a Valsa da Despedida, de Robert Burns, versão de Braguinha e Alberto Ribeiro, a turma se dispersou, finalizando a seresta.

 

                        Na maioria das residências onde paramos, as meninas-objeto de nosso romantismo vieram à janela para ouvir-nos, sorrir-nos e, em muitos dos casos, acenar-nos com venturosas esperanças.

 

                        Os menestréis éramos quase todos nós. Meu carro-chefe seresteiro sempre foi a toada Rancho de Serra, de Herivelto Martins e Blecaute, gravada em 1956 pelo Trio de Ouro.

 

                        No dia seguinte, para que a população balsense identificasse as ruas por onde a seresta passou, bastava seguir a trilha de garrafas vazias deixadas pelo caminho.

 

                        Para vocês, duas das canções acima citadas:

 

Rancho da Serra, toada de Herivelto Martins e Blecaute, com Rolando Boldrin:

 

 

Luar do Sertão, toada de Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco, com Inezita Barroso:

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas segunda, 13 de dezembro de 2021

VOLTEI! EU SOU O FORRÓ!
 

Prezados amigos, durante um mês inteirinho, estive fora do ar, por motivo de saúde. Hoje, com a Graça de Deus e o desvelo de minha mulher e minhas filhas, volto ao batente!

 

PARA TODOS,

FELIZ NATAL!

 

 
 
EU SOU O FORRÓ - ROJÃO, NA VOZ DE CRISTINA AMARAL


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 10 de dezembro de 2021

DIA DO PALHAÇO! - 10 DE DEZEMBRO!
DIA DO PALHAÇO!

Raimundo Floriano

 

 

Palhaço Seu Mundinho e Velho Fulô

 

10 de dezembro! Dia do Palhaço!

 

É o dia deste palhaçote que, 80 anos completados, continua fazendo-se de engraçado e na maior frustração por nunca ter conseguido montar seu próprio circo ou ser, ao menos, um velho de pastoril.

Experiência não me faltou!

 

Lá em Teresina, Piauí, no ano de 1956, eu andava numa pindaíba que fazia dó! Aos vinte anos, essa prontidão era de lascar, doía fundo.

 

Certo dia, deparei, na Praça Rio Branco, com ex-companheiro de farda, o Adriano, ou melhor, o Jatobá, palhaço e acrobata de circo, cuja trupe se encontrava em exibição no bairro Piçarra. Conversa vai, conversa vem, contei-lhe minha desventura monetária, e ele, penalizado, prontamente me acenou com uma viração lá no circo, não era coisa muita, apenas para garantir o vício tabagista.

 

Ante meus argumentos de que nada entendia do traçado, Jatobá até me animou, dizendo que aquilo seria moleza, e que eu iria mesmo era resolver um problema deles, pois necessitavam de um substituto para o ajudante de palhaço, que adoecera. Nessa função, também chamada de escada – explicou-me –, eu contracenaria com ele, preparando a piada e sempre levando a pior no seu final. Comecei no dia seguinte!

 

Cometa do Norte não tinha cobertura nem camarotes, só a arquibancada acomodava o respeitável público. Seu proprietário, Mister Kapa, era trapezista, mágico e hipnotizador. Jatobá, além de palhaço e trapezista, apresentava-se também nas argolas. Havia outros artistas, cujos nomes não me ocorrem, e a rumbeira Francisquinha, que dançava seminua, rebolando e cantando paródias com letras bem apimentadas, constituindo-se na segunda atração da companhia. A primeira, o grande sucesso daquele mambembe, era a peça teatral que, com chave de ouro, fechava cada noite de espetáculo.

 

Acumulei o ofício de escada com o de relações públicas, fazendo propaganda pelas ruas do bairro. Não havia televisão e, ademais, o circo não dispunha de recursos sequer para anúncio no rádio ou no jornal. A publicidade era feita no gogó mesmo, na forma usual em todos os circos de igual porte. Como eu não sabia andar de pernas de pau, utilizava outro meio, também muito conhecido: um jumento alugado. Às tardes, montado nele, de costas para a frente, ou de frente para o rabo, como preferirem, cara pintada, eu apregoava o evento de logo mais, seguido por ensaiado pelotão de meninos que, após a passeata, eram marcados com uma cruz na testa, o que lhes garantia a entrada grátis no show.

 

 

 

Muita água rolou por debaixo da ponte, de 1956 a 1990, quando eu, para relembrar o passado, procurei deixar na memória de meus parentes e amigos esse pregão encantador. Sempre que me é era dada a oportunidade, em festinhas infantis de aniversário, fazia empenho em repeti-lo, com minhas filhas Elba, 7 anos, e Mara, 5 anos, no papel da molecada, caprichando nas respostas. E, com enorme contentamento, posso dizer que essa malhação não foi em ferro frio.

 

A seguir, vídeo artesanal realizado em VHS por meu sobrinho Maurício Albuquerque, em julho de 1991, depois precariamente convertido para DVD,  e, agora, em youtube.

 

Respeitável público, a seguir, o espetáculo

 

É PALHAÇADA

Estrelando

RAIMUNDO FLORIANO E SUAS FILHAS

 

 

 

Neste ano de 2016, ao completar 80, incorporei definitivamente as personalidades do Palhaço Seu Mundinho e do Velho Fulô, o que foi documentado nesta paródia ao Pastoril do Velho Faceta, no Arraial da Academia VitalRecor/2016, tendo a Doutora Cristina Calegaro, proprietária do pedaço, fazendo o papel de Filha do Velho. A Professora Olga tudo filmou.

 

CASAMENTO NO ARRAIÁ

Estrelando

VELHO FULÔ E SEVERINA RAIMUNDA

 

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 04 de dezembro de 2021

AUGUSTO BRAÚNA, MÉDICO, MÚSICO E COMPOSITOR
AUGUSTO BRAÚNA, MÉDICO, MÚSICO E COMPOSITOR

Raimundo Floriano

 

Augusto Braúna e sua gaita

 

(Matéria escrita em 20 de dezembro de 2010)

 

                        Augusto Agripino Braúna nasceu em Fortaleza dos Nogueiras, MA, a 04.12.1947, filho de Leonizard Braúna e Dona Creuza, tendo vivido em Balsas desde a tenra infância, onde concluiu os estudos iniciais, daí partindo para centros culturalmente mais avançados, em busca da conquista do Mundo, o que conseguiu com pleno êxito. Formou-se em Medicina! Seu pai, meu mestre na Música e na vida, foi o melhor músico de sopro que conheci. Tocava com perfeição saxofone, pistom, trombone, clarineta e gaita de boca, além de ser perito em arranjos musicais.

 

                        Apesar de nossa diferença de idade, 11 anos, desde logo surgiu entre nós sólida amizade da qual hoje se pode dizer que é forte até debaixo d’água, por dentro que nem talo de jaca. E isso se construiu pela amizade e admiração que eu já devotava a seu pai, o que faço questão de ressaltar em muitos dos meus escritos, notadamente em meus dois últimos livros, e também pela maneira como o Augusto soube me conquistar a simpatia, com seu modo de ser e com sua intensa vivência numa arte que nos domina e embevece: a Divina Música.

 

                        Comecei a prestar atenção em seu trabalho no Réveillon de 1974, em Balsas, quando tomei conhecimento de uma composição sua, a marchinha ou marcha-rancho Balsas, Querida, da qual gostei à primeira vista, ou melhor, da primeira oitiva, passando a tocá-la imediata e reiteradamente naquela festa, atendendo a renitentes pedidos. Com esse trabalho de divulgação, a que dei continuidade dali pra frente, sinto-me hoje como um dos responsáveis para que ela “pegasse”. Considerada como o hino extraoficial de Balsas, é peça obrigatória nas festas de quaisquer balsenses que se encontram distantes de sua terra natal.

 

                        Agora, cabe aos leitores me perguntarem: – Por que só em 2010 você vem fazer esta homenagem ao Augusto, atrasada, se seu aniversário foi no dia 4, e já estamos no dia 20? E eu lhes respondo: – Porque é Natal! E, neste tempo de comemorações, eu me dano a recordar os momentos felizes com os quais minha vida tem sido agraciada, abrindo o rabo a querer compartilhar tais instantes de ventura com todos os que me rodeiam, vocês, meus atentos leitores!

 

                        E, também, porque o Augusto fez o meu Natal mais feliz. Em 2005, em inspirada veia renovadora, gravou, com sua gaita de boca, instrumento em que é um virtuoso, o CD cuja capa encabeça esta matéria, com oito músicas natalinas em ritmo de samba, dando-lhes uma roupagem muito ao gosto do mais exigente ouvido e propiciando a nós todos a opção de fugirmos das tão manjadas harpas natalinas e outros arranjos que tais existentes por aí.

 

                                                Depois de formado, Augusto fincou suas raízes na Bahia, exercendo seu sacerdócio médico em duas cidades, Salvador e Serrinha, esta a uns 180 quilômetros do Aeroporto da Capital. Embora possua residências em ambas, é em Serrinha que ele exercita sua arte de músico e compositor. Nada mais acertado. Serrinha, pequena cidade, com população em redor de 75 mil habitantes, possui uma Filarmônica! É um pedacinho de Balsas incrustado no coração da Bahia, como vocês verão.

 

                        Em sua bela e aprazível mansão, cercada de árvores frutíferas tropicais, Augusto construiu um anexo, a que deu o nome de Espaço Leonizard Braúna, homenagem a seu falecido pai, onde reúne, todas as sextas-feiras, seus amigos músicos ou apreciadores da MPB de raiz, com saraus que vão até o dia seguinte. Abaixo, a capa CD Augusto Braúna e Amigos, cujo título já diz tudo. 

 

                        Augusto e Célia, sua mulher, têm 4 filhos: Ciara, Bira, Iara e Lorena, esta casada com Daniel, um cabra muito do porreta, que lhes deu a neta Larinha, a gata mais fofa do pedaço, que tem feito do amigo Augusto um avô muito do coruja. Com suas bases preponderando mais em Serrinha, ali moram Dona Creuza, sua mãe, e alguns dos irmãos com as respectivas famílias. É Braúna vazando pelo ladrão!

 

                        Em 2006, em meu Forrozão/70, o Augusto me surpreendeu e me mostrou provas da solidez de nossa amizade, comparecendo com a mulher e uma das filhas e dando uma canja na parte musical, ocasião em que, é claro, todos os balsenses cantaram Balsas Querida, emocionando-o com esse gesto.

 

Ciara, Augusto, Raimundo e Célia, no Forrozão/70 

                        Em dezembro de 2007, chegou a vez de retribuirmos a gentileza. Seu Sessentão seria comemorado no dia 22, sexta-feira, em Serrinha, no salão de festas da Churrascaria e Hotel Shalon. No dia 21, eu e Veroni, minha mulher, pegamos um avião até Salvador, onde, no Aeroporto, Célia nos esperara para conduzir-nos até lá.

 

                        Tão logo chegamos à mansão dos Braúnas, véspera ainda da festa principal, o pampeiro já começou. Aos poucos, iam aparecendo seus amigos acima mencionados, tomando assento no Espaço Leonizard Braúna e dando início à parte musical. Mais tarde, mas não tanto, chegou o ansiosamente esperado: o sanfoneiro Antista, que veio de Balsas, com sua turma, abrilhantar a festa. Quase se amanheceu o dia nessa pré-estreia.

 

                        Estiveram presentes nessa noite muitos convidados e penetras. Tive o imenso prazer, não só de conhecer muitos membros dessa tradicional família, como o de rever estes meus conterrâneos: Dona Creuza, seus filhos Ana Lúcia, Jorge, Léa, Mário, Ernani, Eurilo, Carlos e Dica. Dos 9 irmãos do Augusto, apenas Marlene, residente em Salvador, não compareceu, devido a problemas de saúde.

 

                        Grande emoção foi reencontrar Violeta Braúna, tia do Augusto, minha colega no curso primário balsense e paixão não correspondida de infância. Não nos víamos havia 59 anos. Hoje, bem-casada, reside em Salvador, é aposentada do Banco do Brasil e tem um filho também chamado Augusto Braúna, presente à festa.

 

                        Fez parte do esplendor desse Forrozão/60 o Sanfoneiro Vado, figura de proa no cenário musical de Salvador, que deu verdadeiro show com sua sanfona, acompanhado pela turma do Antista.

 

                        No dia seguinte, 22, a festa foi no Hotel Shalon, acima citado. Começou ao meio-dia e terminou na manhã do dia 23, forrozão pesado, pé-de-serra, com bebida e comida típica do sertão baiano, coisa pra nunca mais ser esquecida. Tudo boca-livre, se querem saber. O comparecimento das classes mais representativas da cidade deu cabal amostra do tanto que o Augusto é querido por sua população.

 

                        Na manhã do dia 23, tomamos café com frito, ovos mexidos, beiju, cuscuz, etc. e tal, e, logo em seguida, a Dica nos trouxe de volta até o Aeroporto de Salvador, onde embarcamos no avião para Brasília. Aqui, desfeitas as malas, demos continuidade as características festivas do momento, comemorando, à meia-noite do dia 24, o Divino Advento de Cristo e desejando Feliz Natal para toda a Humanidade.

 

                        A seguir, fotos da inesquecível festa serrinhense:

 

Augusto e Raimundo: entre ambos, só boas ausências

 

Dica, Augusto, Mário, Ana Lúcia, Eurilo, Léa,

Dona Creuza, Carlos, Jorge e Ernani

 

Bira, Iara, Ciara, Augusto, Célia e Lorena

 

Raimundo e Violeta Braúna, relembrando a infância

 

Antista e seus forrozeiros sul-maranhenses 

 

 Sanfoneiro Vado prestigiando o Forrozão/60

 

Célia e Augusto no maior remelexo

 

 

Espaço Leonizard Braúna - Detalhe

Na parede à direita, retrato do Patriarca

 

Antista, Augusto, Raimundo e Veroni

No alto, a igreja de Nossa Senhora de Santana 

                        Para mostrar um pouco do talento desse grande amigo, aqui vai esta seleção: 

                        Balsas Querida, marcha-rancho de sua autoria, na voz do balsense Deusamar Santos:

 

DO CD NATAL BEM BRASLEIRO, MÚSCAS EM RITMO DE SAMBA 

                        Boas Festas, composição de Assis Valente:

 

                        Noite Feliz, composição de Joseph Mhor:

 

                        Bate o Sino (Jingle Bells), composição de James Lord Pierpont:

 

                        Natal das Crianças, composição de Blecaute:

 

                        O Velhinho, composição de Octávio Filho:

 

DO CD AUGUSTO BRAÚNA E AMIGOS 

                        De Conversa em Conversa, samba de Lúcio Alves e Haroldo Barbosa:

 

                        Chamego Proibido, rojão de Jorge de Altinho e Lindolfo Barbosa:

 

                        Saxofone, Por Que Choras, choro de Ratinho:

 

                        Esperando na Janela, xote de Targino Gondim, Manuca e Raimundinho do Acordeon:

 

                        Forró do ABC, rojão de Moraes Moreira:

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 01 de dezembro de 2021

O ESCRITOR FANTASMA

O ESCRITOR FANTASMA

Raimundo Floriano

 

 

A revista Voz Ativa foi idealizada e criada por Vili Santo Anderson, seu editor desde o início, em 1991, até bem pouco tempo. A finalidade era divulgar o trabalho literário dos colegas aposentados, dentre os quais me incluo. Foi um grande incentivo, de tal magnitude que me fez participar ativamente, e a frequência se mostrou tamanha que meu nome passou a constar no expediente da revista como um de seus colaboradores. Começou com 4 páginas, depois com 6, e, na edição de outubro de 20021, saiu com 22. É espaço pra mais de metro!

 

O tempo passa, o tempo voa, mas certas coisas nem sempre continuam numa boa!

 

Em 2016, para comemorar meu octogésimo aniversário, escrevi o livro Caindo na Gandaia e, para que os colegas aposentados dele tomassem conhecimento, enviei à Voz Ativa este convite, com a devida antecedência, na vã esperança de que nossa revista o publicaria:

 

 

 

Para meu azar, o Vili já não fazia parte de sua editoria, e a Voz Ativa, baseada em sem lá quais motivos, se recusou a publicá-lo. Como toda ação produz uma reação, solicitei, de imediato, a exclusão de meu nome em seu quadro de colaboradores, no que fui prontamente atendido.

 

Mas, para minha enorme alegria, Vili e sua jovial Cinira compareceram ao lançamento. Lá no Carpe Diem, ele estranhou a ausência de outros colegas aposentados e ficou perplexo quando lhe expliquei o motivo.

 

Vili e Cinira não estavam ali apenas para marcar presença, cumprir uma formalidade social, mas sim como velhos amigos conforme mostram as fotos a seguir, nas quais além do registo de praxe, Cinira quis uma pose com meu chapéu de eventos:

 

 

 

O tempo passa, o tempo voa...

 

Agora, sob nova direção, a Voz Ativa instituiu uma seção denominada Clube do Livro, o que muito me animou:

 

 

No intuito de me fazer conhecido pela nova geração de aposentados, enviei à Presidente da ASA-CD meus 5 últimos livros: Do Jumento ao Parlamento, De Balsas Para o Mundo, Memorial Balsense, Pétalas do Rosa, e Caindo na Gandaia, esperando que eles fossem mencionados no tal clube.

 

Debalde!

 

Pedra mole em pedra dura tanto bate até que fura, diz o adágio popular. Pois foi assim pensando que enviei à Voz Ativa matéria em louvor ao amigo Vili, intitulada Vili Santo Andersen, o Poeta Esquecidão, almejando que fosse publicada na edição de outubro passado. Vocês poderão acessá-la clicando no link a seguir, ou colando-o em seu navegador:

 

http://raimundofloriano.com.br/views/Comentar_Post/vili-sando-andersen-o-poeta-esquecidao-hkwfPaL9kaJFixlvVW5y

 

Novamente, debalde!

 

Porém, dessa vez a Presidente da ASA-CD se dignou a responder-me, num curto e-mail, do qual pincei teste trecho: “Como já lhe falamos, Fernando inclusive, publicamos comunicado para que os associados poetas enviassem suas fotos para publicarmos na capa da Revista. Vili não entrou em contato.” Aqui, ela me chama de Fernando, demostrando que sou um tanto desconhecido por lá.

 

Esta pedra mole, todavia, é teimosa. Querendo informar, urbi et orbi, meu estado de saúde, enviei à Voz Ativa, ainda em tempo de sair na edição de outubro, lançada em meados de novembro, esta mensagem:

 

 

Pra varia, debalde!

 

Dia desses, minha Fisioterapeuta me fez esta interrogação:

                        – Seu Raimundo, o senhor já sentiu a dor fantasma?

                        Estranhei o termo, mas ela me explicou:

                        – É a dor que se sente num membro amputado!

                        Aí, eu respondi:

                        – Sim! Tem dia que esse ex-dedinho coça, arde e dói, como se ainda existisse!

 

**********

 

Pois bem, para a Voz Ativa, sou um membro amputado que coça, arde, dói, assombra, enfim, um escritor fantasma!


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 13 de novembro de 2021

VILI SANDO ANDERSEN, O POETA ESQUECIDÃO

VILI SANDO ANDERSEN, O POETA ESQUECIDÃO

Raimundo Floriano

 

 Vili e sua jovial Cinira: amigos para sempre

 

PREFÁCIO

 

A revista Voz Ativa, órgão da ASA-CD – Associação dos Servidores Aposentados e Pensionista da Câmara dos Deputados, informativo idealizado por Vili Santo Andersen, que foi se editor desde a criação até bem pouco tempo, divulgando a procução literária de todos os colegas, ativos ou aposentado, estampou, em seu frontispício, na edição de agosto de 2021, esta homenagem:

 

 

 

Causou-me espécie o fato de ela não conter a foto do Vili. Se era homenagem aos – note-se o artigo definido –  a todos os escritores, o nome dele deveria estar lá, não só por questão de justiça, como preito à memória e dedicação do criador da revista. Por esse motivo, escrevi e matéria abaixo:

 

ONDE ESTÁ WALLY, DIGO, CADÊ VILI

Raimundo Floriano

 

  

Wally vê Vili

 

 

Vili Santo Andersen nasceu em Camacuã (RS), no dia 17 de junho de 1932. No próximo 2022, portanto, completará 90 anos! Morou na cidade de Uruguaiana e, em 1951, partiu rumo a Três Corações (MG), ingressando na Es SA – Escolha de Sargento das Armas, onde, após um ano de árduos estudos, foi promovido à graduação de 3º Sargento.

 

Classificado na Capital da Guanabara, não dormiu nos louros da vitória. Ingressou na Faculdade de Ciências Jurídicas do Rio de Janeiro, onde recebeu o grau de Bacharel em Direito, com brilhantismo – tanto que foi o orador da Turma. E quem estava incógnito, na plateia, da solenidade de colação de grau? Ele mesmo o Marcha Henrique Batista Duffles Teixeira Lott, poderoso Ministro da Guerra, que, ao ouvir o Sargento Vili mencionar seus bons serviços prestados ao Exército e ao Brasil, tratou de anotar seus dados e, no dia seguinte, lotá-lo em seu Gabinete.

 

E foi nessa condição que Vili se transferiu para Brasília, quando esta foi inaugurada e passou a ser a Capital Federal.

 

Fomos vizinhos no Cruzeiro Velho, morando na antiga Quadra 39, ele ocupando a Casa 09, e eu, a 10.

 

Desde que nos conhecemos, passamos a nos preparar visando a prestar concurso para a Câmara dos Deputados. Éramos cinco Sargento, todos vizinhos, que estudamos junto, em noites e finais de semana em que não estávamos de serviço: Dineu Mazzalli Seixas, Moacir de Arruda Menezes, Nélson Santa Cruz Quirino, Vili Santo Andersen e este que vos fala. Aprovados e nomeados para o cargo de Auxiliar Legislativo PL-10, a partir de 1964, tomamos posse, designados para diferentes órgãos da Casa.

 

Incialmente, Vili foi lotado no Departamento de Segurança, depois, no Departamento de Finanças e Controle Externo, aposentando-se, em 1991, no cargo Diretor. Mas, novamente, não dormiu nos louros da vitória. A partir de então, passo a servir à Poesia. Pertencendo à Casa do Poeta Camaquense e à Associação Nacional de Escritores, de Brasília, registra, em seu acervo poético, Brasília & Poesia, Caderno de Lembranças, Diário de um Aprendiz, Expresso Brasília, Linhas Convergentes, Pedras & Plumas,  Poemário, Poemas Três por Quatro, Poesia Inacabada, Refúgio de Sonhos, e Versos em Preto & Branco, dentre outros.

 

Mas foi na revista Voz Ativa, da ASA-CD, que o Vili ganhou alta visibilidade entre a velhíssima guarda de seu quadro social. Praticamente, após sua fundação, a 5 de novembro de 1991, abraçou com entusiasmo a função de editor, lançando imensa quantidade de colegas na arte de escrever, como do meu caso, publicando toda a minha produção literária, o que me incentivou a voos mais altos, haja vista os cinco livros que lancei desde então. Vili foi meu paterno na literatura.

 

Pois bem, agora, vendo o quadro acima, a cria procurou, de imediato, a foto de seu mentor! E nada! Pensei: a matéria se refere a alguns. Mas, analisando-a melhor, a homenagem aos poetas, assim mesmo, com a contração da preposição a com o artigo definido plural os, não deixa dúvida: refere-se a todos!

 

Parodiando Chico Buarque, em sua canção Carolina, o Vili passou por ela, só VozAtiva não viu!

 

Ou, lembrando os tempos da Carta de A-Bê-Cê, quando estudávamos a letra V:

 

Vovô viu o Ivo

Ivo viu a uva

VozAtiva não viu Vili

 

POSFÁCIO

 

Quando é agora, na edição de outubro de 2021 da mesma Voz Ativa, na página 8, sai este fragmento biográfico do amigo Vili, o qual presumo – e até duvido mesmo – que tenha sido redigido por ele:

 

 

Duvido porque, além de não reconhecer nela seu estilo –  falha na pontuação, repetição de quês –, a matéria informa que ele ingressou na Câmara do Deputados em 1988, quando, na realidade, a data correta é 10 de novembro de 1965. Em 1988, já contava tempo para se aposentar. E são onze os livros que escreveu, acima relacionados.

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 12 de novembro de 2021

MARTINHO MENDES, MEU TIPO INESQUECÍVEL
MARTINHO MENDES, MEU TIPO INESQUECÍVEL

Raimundo Floriano 

 

Martinho Mendes e seu saxofone

 

            Martinho Mendes nasceu em Loreto-MA no dia 12 de novembro de 1917. Era também chamado Martim Músico e até Martim Musgo, como falavam os menos letrados.

 

            Em sua terra natal,  na luta pelo pão de cada dia, exerceu as profissões de músico, barbeiro e chofer, tendo nesta, por muitos anos, trabalhado para o negociante José do Egito Coelho.

 

            Foi ele o primeiro músico que conheci na minha infância, e sua arte musical e seu saxofone muito me influenciaram no propósito de também vir a ser um músico de sopro e ajudaram a formar meu vasto e profundo conhecimento do nosso repertório carnavalesco.

 

            Martinho Mendes teve três devoções na vida: a família, a boemia e a Música.

 

            A primeira devoção, a família, caracterizava-se pela paixão e fidelidade dedicadas à sua mulher, Dona Antônia Alves Mendes. Nunca ouvi falar de que Martinho Mendes tivesse pulado a cerca.

 

            Essa veneração à esposa rendeu-lhe sete produtos do amor: Édison, ou Edinho, Aluísio, Sebastião, Antônio, Manoel, Luzimar e Lúzia Maria.

 

            A segunda devoção, a boemia, exige que eu me demore mais para explicar o que ela significa hoje e o que foi no passado.

 

            Grandes composições foram dedicadas ao tema: Boêmio de Raça, gravado por Orlando Silva; A Volta do Boêmio, na voz de Nélson Gonçalves, em que a mulher falava para o amado: “meu amor, você pode partir, não esqueça o seu violão”.

 

            Há um grande compositor na Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense chamado Carlos Boemia, e existe um conjunto musical denominado Os Cervejas.

 

            Hoje, a sexta-feira ficou conhecida como o Dia da Cerveja e da happy hour, hora feliz, ou seja: a felicidade consiste em virar o copo!

 

            Em Blumenau-SC, realiza-se, anualmente, a Oktoberfest, com duração de uma quinzena, na qual centenas de milhares de pessoas se reúnem com o objetivo único de encherem a cara.

 

            Grandes marcas de cerveja arregimentam ídolos de várias atividades para promoverem seus produtos. A Brahma será patrocinadora oficial da Copa do Mundo da Fifa de 2010. É o Futebol, a maior paixão nacional, a Pátria de Chuteiras, com seus saudáveis atletas, aliado à velha devoção do Martinho Mendes, a boemia.

 

            Eu mesmo, que agora só bebo refrigerante diet, fundei, em 1972, a Igreja Sertaneja, seita sem caráter religioso, cujos templos eram todos os bares e botecos do Brasil.

 

            Mas, nos anos 40-50, o preconceito arraigado na mente do povo do meu sertão fez com que a boemia fosse um ato abjeto, abominável. Por isso mesmo, minha geração não produziu sequer um instrumentista de sopro.

 

            Alguns refratários até que tentaram: Ninosa da Dona Clara e os irmãos Alcebíades e Expedito, os três no pistom. Mas nenhum deles prosperou no intento. Acho que lhes faltou propensão para a arte.

 

            Houve um adulto, o Barroso, enfermeiro do Posto de Saúde, que tocava clarineta, mas seu instrumento piava tanto que, tão logo terminava a introdução, ele se entregava à parte vocal.

 

            Eu, além de admirar o Martinho como músico, também sonhava em, na maturidade, ser também um boêmio igual a ele. Certo dia, perguntei-lhe:

 

            – Martim, é bom ficar de fogo?

            E ele me respondeu:

            – O bom mesmo é quando começa o “tontinho”!

 

            Na segunda metade dos anos 40, o comerciante Jacques Pinheiro comprou um caminhão da marca General Motors Truck, que ficou conhecido apenas por “General”, e contratou o Martinho como chofer.

 

            O General era muito velho, sucata da Guerra, só pegava na manivela ou empurrado, e seu motor era todo afolozado, sem força. Servia apenas para pequenos carretos ou para levar passageiros ao Campo de Aviação. Era ótimo para a meninada, que podia facilmente amorcegar-se – pendurar-se – em sua carroceria.

 

            Sem qualquer tipo de trânsito ou obstáculo para dificultar-lhe a marcha, o General teve no Martinho um chofer competente, com ou sem “tontinho”!

 

            A predisposição do povo contra a profissão de músico persistiu por todos aqueles anos.

            Um dia, numa retreta na Praça de São Sebastião, faltou o pandeirista. Vi ali uma chance de me lançar no metiê. Mesmo sem noção alguma do ofício, pedi:

 

            – Martim, eu posso tocar o pandeiro?

 

            Ele, talvez no “tontinho”, consentiu!

 

            Peguei o bicho e tentei acompanhar a música, porém não dei uma batida correta. Deixei-o e, acabada a retreta, fui pra casa.

 

            Estava na varanda, quando uma beata enredeira entrou e falou pra minha mãe:

 

            – Comadre Maria, não vou nem lhe contar!

            – Conte logo, comadre!

            – Seu filho Raimundo, aquele dali, tava tocando!

            –Tocando o quê, comadre? – perguntou minha mãe, já apavorada!

            – Pandeiro, comadre! Tocando pandeiro com o Martim Musgo.

 

            Que baita carão levei! Se tivesse tomado uma surra, doeria menos!

 

            Sua terceira devoção, a Música, revelou ser ele detentor de talento inato para essa arte que foi seu principal meio de vida.

 

            Ao chegar a Balsas, com vinte e poucos anos de idade, e ali estabelecer-se para sempre, Martinho já era um musicista completo e burilado. Lia e escrevia na pauta, fazia arranjos, compunha jingles para as lojas – tinha isso, sim –, criava introduções e colocava melodia nas músicas feitas pelos foliões para caracterizar cada bloco carnavalesco. Desconfio que ele tenha percorrido um pouco o caminho da leitura, visto que, quando estava no tontinho, costumava falar palavras de raro uso, eruditas: probabilidade, longitudinal, indubitavelmente, admoestação, coesão, periculosidade, estipêndio, protuberância, assimilação, prestimosidade.

 

            O que me espanta é que toda essa riqueza musical e intelectual foi adquirida em Loreto, sem jamais ter residido em qualquer outro centro de recursos culturais mais avançados.

 

            Eu, que naquele tempo não dançava – tinha acanhamento das meninas –, fui um espectador privilegiado do seu desempenho nos bailes, nos vesperais, nas serenatas, nas alvoradas, nas retretas.

 

            Muitos músicos o auxiliaram nessas tocatas: Zé Passarinho, Walfrido, Enoc e Raul no banjo; Luiz Deodato, o Luiz Bode, Geminiano Farias, o Gemi, e Domingos Mendes, o Dumingau, na bateria; e pandeiristas e sanfoneiros eventuais.

 

            Cinco dos seus filhos seguiram-lhe na arte, com instrumentos diversos. Édison, o Edinho, no sax, Aluísio no banjo, Sebastião no pandeiro, Manoel no sax e Luzimar na bateria.

 

            Nos festejos, tinha seu conjunto ao meu inteiro dispor.

 

            Tanto na Igreja Matriz de Santo Antônio – com quermesse de 1º a 13 de junho –, quanto na Igreja de São Sebastião – com quermesse de 11 a 20 de janeiro –, a parte musical era assim desencadeada: alvoradas nas madrugadas dos primeiros e últimos dias, retretas diárias, depois do Terço, que começava às 11h00, e funções à noite, animando os leilões e as barraquinhas, que vendiam bebidas e comidas típicas.

 

            No Festejo de Santo Antônio, as músicas eram as de meio de ano: rumbas, boleros, sambas, baiões, maxixes, valsas. No de São Sebastião, prevaleciam os lançamentos carnavalescos do ano, que eram tocados e cantados para que todos os aprendessem e os cantassem nos salões, como era costume da época.

 

            Três músicas, no entanto, tinham presença cativa nos Festejos: a valsa Santa Terezinha, de Antenógenes Silva, tradição que o Mestre Riba da Sanfona ainda preserva, o samba Balsas, Cidade Sorriso, e o dobrado Padre Cícero. O samba é de autoria de Martinho e um desconhecido caixeiro viajante e consta, com letra e partitura, no meu livro Do Jumento ao Parlamento. O dobrado é de autoria apenas do Martinho, e sua partitura fará parte deste perfil.

 

            O trabalho do Martinho, no Carnaval, não se restringia apenas aos bailes sociais, geralmente realizados na varanda da residência do meu Tio Cazuza. Havia os vesperais infantis, os desfiles com os blocos nas ruas, além do baile da segunda sociedade, àquela época conhecido como “Pipiral”, na casa do Seu Zé Bento. Isso sem contar os ensaios dos blocos, cada qual querendo manter segredo quanto à marchinha que marcaria sua entrada triunfal no salão. E tudo regado a lança-perfume!

 

            Participava também dos dramas – peças teatrais escolares –, de horas de arte, de solenidades cívicas e dos circos mambembes que por Balsas passavam.

 

            Terminado o período carnavalesco e dos festejos da cidade, sempre havia trabalho em diversas fazendas e localidades nos arredores, cada qual festejando seu Padroeiro.

 

            Era o caso da Festa do Coco da Aparecida no município de Loreto, sua terra natal. Em que pese a ausência de transporte rodoviário, Martinho não perdia essa grande festa, famosa em todo o sertão sul-maranhense. Pegava sua tralha musical, jogava-a no lombo dum jumento e seguia a pé com seu conjunto, como se vê na ilustração a seguir:

 

Martinho e Seu Conjunto: rumo à Festa do Coco da Aparecida

 

            Quando aprendi a dançar e comecei a namorar, e vi que isso era bom, Martinho foi meu grande parceiro nos bailes e vesperais que eu promovia, juntamente com meus amigos, quando estava de férias em Balsas, sempre deixando para receber a paga no apurado da cota. Ele sabia que comigo não havia poréns! Caso alguém deixasse de cooperar, eu completaria o combinado!

 

            Em 1972, aprendi a tocar o trombone de vara! Realizei o primeiro sonho, era um instrumentista de sopro! Faltava o segundo, que se concretizou conforme passo a relatar.

 

            Em 1975, os foliões de Balsas organizaram um bloco carnavalesco denominado Jardim da Infância. Arregimentado o pessoal e confeccionadas as fantasias, faltava contratar um músico que desse suporte ao Martinho e também se dispusesse a sair pelas ruas com o bloco, de carro, ou a pé! E aí, bateu-lhes uma inspiração. Alguém sugeriu:

            – Vamos buscar o Raimundo Floriano lá em Brasília!

            Aprovada a ideia, fizeram uma vaquinha, arrecadaram a grana e mandaram-me as passagens aéreas. Viajei no sábado de Carnaval!

 

Bloco Jardim da Infância

 

            Ao descer do avião, a emocionante surpresa que até hoje me causa arrepios ao narrá-la: ao pé da escada, todo o Bloco Jardim da Infância fantasiado, com o Martinho à frente tocando Balsas Querida, a marcha-hino de Augusto Braúna!

 

            Aproveitamos todos para tirar a foto acima, ali mesmo no Aeroporto e, em seguida, embarcamos na carroceria dum caminhão, dando início ao carnaval de rua! Dizem que foi o melhor de todos os tempos!

 

            Pelo menos para mim, foi isso mesmo! Realizei o sonho de tocar para o povão em companhia daquele famoso ídolo de minha infância!

 

            Martinho era grande amigo de nossa família e foi o barbeiro de meu pai durante os seus últimos anos de vida, atendendo-o em casa até quando faleceu, em 1973.

 

            Sete anos depois, chegou a hora de Martinho Mendes também se despedir deste mundo, da família, da boemia, da Música!

 

            Sua saúde vinha apresentando indícios de grave debilidade, razão pela qual o Dr. José Bernardino, que cuidava dele, havia recomendado que parasse de tocar, que não soprasse nem um balão, pois o seu pulmão não suportaria o esforço. Martinho rebatia com desdém:

 

            – Quero morrer tocando!

 

            E foi assim mesmo que aconteceu! Com seriíssimos problemas financeiros, inclusive desejando terminar uma obra iniciada em sua casa – que estava quase caindo –, ele fora obrigado a aceitar um convite para tocar na Liga Operária Balsense.

 

            Compareceu também porque ali estavam presentes suas três devoções: a família, para a qual se preocupava em dar morada mais condigna; a boemia, pois nessas festas não lhe faltava a cervejinha de sempre; e a Música, na perfeição do seu desempenho ao executar qualquer melodia no seu velho saxofone!

 

            Nessa festa, no momento em que tocava a rumba Siboney, de Ernesto Lecuona, caiu no chão, já nos estertores da morte.

 

            Levaram-no às pressas para o consultório do Doutor José Bernardino, que o encaminhou para o Hospital São José, mas revelou aos que o acompanhavam:

 

            – O Martinho está praticamente morto!

 

            E naquele dia, 25 de maio de 1980, Martinho Mendes se findava, aos 63 anos de idade!

 

            Até aqui, falou quem o conheceu ainda na infância, expondo suas impressões de criança e, depois, de adolescente. Mas houve uma pessoa de geração anterior à minha, contemporânea do Martinho já na idade adulta, que não conteve suas emoções ao ver o nosso músico recebendo as últimas homenagens em seu velório.

 

            Trata-se do ilustre balsense Dr. Paulo de Tarso Fonseca, jurista, professor, Procurador de Justiça do Estado do Maranhão, que, tão logo chegou em casa, produziu, em forma de carta para seu amigo Miguel Borges, nosso conterrâneo e residente em Carolina, a bela crônica que, devidamente autorizado, passo a transcrever.

 

            “Caro Miguel.

 

            “A notícia que tenho para lhe dar é a da morte do Martinho. Não é outro, o Martinho Músico, dono do sopro inconfundível daquele seu inseparável saxofone, que desde a nossa infância acostumamos a ouvir nas vesperais dos domingos alegres, nos bailes tradicionais, e, sobretudo, nas retretas das noitadas de Santo Antônio...

            “Morreu o Martinho, músico cristalino, boêmio solitário, companheiro fiel das noites enluaradas de nossa cidade, ao tempo das serenatas – poesia musical, que cada um escutava sem perder uma nota, docemente, como eflúvios naturais da vida simplória do sertão. Suas músicas, seus solfejos característicos, por serem simples, inconfundíveis, maravilhosos aos nossos ouvidos, eternos em nossos corações. Lembram-me sempre os chorinhos gostosos, trejeitados. Aquelas marchinhas animadas, com sabor de virgindade, suas valsas melódicas e penetrantes, tocadas com pedaços de nossas almas. Miguel, no Martinho tudo é lembrança...

            “Fui à casa dele, ao seu velório. Lá estava ele, deitado, todo de preto, na sala da frente de seu casebre, que já é quase o meio da rua. Não parecia morto. Estava dormindo. Rosto sereno. Tranquilo. Nenhuma sombra de angústia sofrida. Sabe, Miguel, até parecia mais jovem, mais recuperado, impecável. Nunca um morto. Isso não parecia. Parecia estar a sonhar um sonho de criança. Parecia diante da vitória conquistada, ele, o herói da grande batalha.

            “Morreu o Martinho... Nosso velho Martinho... Figura singular. Alma inofensiva. Artista feito de arte dada por Deus, arte que nunca perdeu, que nunca negociou...

            “Miguel, você sabe o quanto o Martinho foi grande para a nossa cidade. Criou, na sua música, quantas gerações, quantas? O Martinho é um pedaço de Balsas, insubstituível, está na lembrança de todos nós. Morreu como um gigante, no campo de honra, abraçado com o seu inseparável companheiro, o velho saxofone, que dele em vida recebeu, como prêmio, seu último sopro. Balsas está chorando a partida do Martinho, seu grande amigo, retrato de sua alma, o maravilhoso artista do povo, que pobre e simples se impôs às gerações que o conheceram como um autêntico campeão.

            “Caro Miguel, amigo e companheiro, essa a notícia que esta carta lhe leva. Guardemos com carinho em nossas lembranças a figura do Martinho. Ele é digno de todos os balsenses. Merece o reconhecimento de nossa cidade que tanto amou. Rezemos por ele, que teve entre nós a imagem de um justo.

            “Um abraço. (a) Paulo Fonseca”

 

            A partitura do dobrado Padre Cícero, composição de Martinho Mendes, constante das duas páginas a seguir, foi digitalizada pela Professora Silvana Maria Sócrates Teixeira, da Escola de Música de Brasília, baseando-se única e exclusivamente na melodia que lhe solfejei.

 

            A Escola de Música Leonizard Braúna, homenagem a outro grande musicista, o Beethoven do Sertão, que conheci já em minha fase adulta e que tocava com perfeição saxofone, trombone, clarineta, pistom e gaita de boca, constitui-se, atualmente, no grande celeiro musical de Balsas.

 

            E é a esses jovens artistas que exorto a incluírem Padre Cícero em seu repertório. Que melhorem a atual partitura, façam arranjos, e, mais que isso, prestem, nas solenidades cívicas, nas retretas, ou em qualquer lugar, um preito de gratidão a esse homem que nos legou tão bela marcha militar.

 

            Assim, Martinho Mendes permanecerá para sempre na memória do povo balsense!

 

            Será, portanto, um tipo inesquecível!

 

Ouçamo o dobrado Padre Cícero, com a Fanfarra do 1º Regimento de Cavalaria de Guarda

 

BALSAS, CIDADE SORRISO, SAMBA DE MARTINHO MENDES E CAIXEIRO VIAJANTE DESCONHECIDO

 

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 23 de outubro de 2021

CAZUZA RIBEIRO (JOSÉ DE SOUSA E SILVA), PIONEIRO NA COLONIZAÇÃO DE BALSAS
 
 

CAZUZA RIBEIRO (JOSÉ DE SOUSA E SILVA), PIONEIRO NA COLONIZAÇÃO DE BALSAS

Raimundo Floriano

Cazuza Ribeiro

 

                        Três irmãos florianenses, de uma prole de dezessete, distinguiram-se em nossa história regional: Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e José de Sousa e Silva, o Cazuza Ribeiro, pelo pioneirismo na colonização de Balsas, sertão sul-maranhense, deixando sua terra natal, ali chegando antes da elevação da Vila a Município, e construindo uma descendência que hoje ultrapassa a casa dos duzentos representantes – diretos, agregados ou afins – do valoroso sangue piauiense; e o Comandante João Clímaco da Silva, cuja vida útil foi inteiramente dedicada à navegação fluvial na Bacia do Parnaíba, transportando passageiros e mercadorias e levando o progresso desde o Oceano Atlântico até as últimas povoações acessíveis à beira de seus rios, que conhecia como a palma da própria mão.

 

                        Esta coletânea, em seu volume 3, focalizou o perfil de Rosa Ribeiro, o mais velho dos três. Agora, trazemos ao prelo o do meio, Cazuza Ribeiro, como adiante se verá.

Pedro José da Silva e Isaura Maria de Sousa e Silva

 

                        José de Sousa e Silva, o Cazuza Ribeiro, filho do Capitão Pedro José da Silva e de Isaura Maria de Sousa e Silva, nasceu na Fazenda Brejo, município de Floriano, no dia 22.10.1898, onde viviam da atividade agropecuária. Pertencia a uma prole de 17 filhos. Os dois mais velhos, Raimundo Ribeiro da Silva e João Ribeiro da Silva, nascidos em Jerumenha (PI), provinham de casamento paterno anterior, com Otília Raimundina Ribeiro da Silva, deles derivando-se o sobrenome com que alguns dos demais ficaram para sempre conhecidos.

 

                        Eram seus avós paternos Fructuoso José Messias da Silva e Evarista Messias da Silva; e maternos, Honorato José de Sousa e Lucialina Maria de Freitas e Sousa.

  

Fazenda Brejo: Quadro de Magnólia Baptista

           

                            Na infância, seus pais se mudaram para Floriano, com o intuito de providenciarem a necessária educação escolar aos filhos menores. Naquela cidade, Cazuza trabalhou na casa comercial de Raimundo Ribeiro da Silva, o Mundico, seu irmão por parte de pai.

Floriano: Casa da família - Quadro de Magnólia Baptista

 

                        Em 1912, com apenas 14 anos, mudou-se para Balsas, onde foi trabalhar com outro meio-irmão, o também comerciante João Ribeiro da Silva, ali estabelecido, casado com Maria Ribeiro da Silva, a Marica Pereira, sendo admitido posteriormente na firma como sócio.

 

                        Também em Balsas, em 1916, viria a residir outro irmão, Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro. Rosa e Cazuza ficaram conhecidos, de fato, com o sobrenome “Ribeiro”, por causa desse irmão mais velho.

 

                        Sendo Cazuza um homem muito bonito, e com seus negócios a prosperar, poderia ter namoradas em cada canto da cidade. Afortunadamente, o verdadeiro amor bateu cedo à sua porta, destinando-lhe como a mulher de sua vida Rita Pereira da Silva, a Ritinha Pereira, irmã de Marica Pereira, sua cunhada. Casaram-se em 6.12.1919, jamais transferindo sua residência de Balsas

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Cazuza Ribeiro e Ritinha Pereira

 

                        Desse casamento, vieram-lhes 10 filhos: Antônio, médico, Esmaragdo, desembargador, Raimundo, químico industrial, Manoel, general, Maria Violeta, autodidata, Maria Iracy, autodidata, Pedro Ivo, contabilista, João Ribeiro, funcionário público, José, o Cazuzinha, médico, e Izaura Maria, publicitária, além do sobrinho Ludovico Evelim, bancário, criado como filho. O casal proporcionou a todos, com grandes sacrifícios, mas com muita clarividência, educação escolar esmerada, mandando-os para o estudo em centros mais adiantados, como Floriano, Teresina, São Luís, Fortaleza, Belo Horizonte, Belém e São Paulo.

 

                        A seguir, a única foto de todos os filhos reunidos, tirada nas comemorações dos 80 anos de Ritinha Pereira, em 1977, 25 anos após o falecimento de Cazuza:

 

Ludovico, Esmaragdo, Izaura, Ritinha, João Ribeiro, Antônio, Iracy e Manoel;

Pedro Ivo, Raimundo, Ilza (neta), Cazuzinha e Violeta

 

                        Na casa de seu irmão Rosa Ribeiro, casado com Maria Bezerra, também os filhos eram dez, Formando, assim, a maior família da cidade. Brincando nos mesmos quintais, comendo das mesmas panelas, estudando nas mesmas escolas, vivendo as mesmas alegrias e tristezas, compunham uma comunidade admiravelmente fraternal, e isso se confirma com os casamentos acontecidos na família: Raimundo casou-se com Maria Alice, sua prima, e Izaura Maria, com o primo Bergonsil.

 

                        Merece especial atenção a casa de Cazuza Ribeiro e Ritinha Pereira. Antes mesmo da elevação da Vila de Santo Antônio de Balsas à categoria de cidade, em 1918, ela já existia, imensa e bela, com sua arquitetura característica daqueles pioneiros tempos! A seguir, vemo-la em foto batida no dia 3l de dezembro de 1960, data do casamento de Izaura e Bergonsil, quando os noivos se dirigiam ao altar da Matriz de Santo Antônio de Balsas:

Izaura e Bergonsil, familiares e amigos - Foto de Raimundo Floriano

 

                        Além de abrigar confortavelmente a enorme família, seu quintal e sua cozinha eram uma espécie de reino encantado, onde se produziam, nos fogões a lenha e fornos de barro, as iguarias típicas de nosso sertão, paralelamente a pratos elaborados, sem falar na deliciosa bebida Perobina, espécie de licor, cuja fórmula secreta era relíquia do clã.

 

                        Sua varanda senhorial era também o clube balsense, onde se realizaram as mais deslumbrantes festas a rigor da cidade e onde, anualmente, se brincava o Carnaval. Ali, no início de 1950, Cazuza e Ritinha tiveram a chance de festejar o que viria a ser a última reunião dos 10 filhos com o casal, em comemorações que duraram quase um mês.

 

                        Na esquina desse velho solar, funcionava a Mercearia Ideal, sob a direção de Ritinha, com mesas de bilhar e de sinuca, venda de bebidas em geral e gêneros alimentícios de toda espécie. Este casarão foi inovador ao possuir, em Balsas, o primeiro dínamo gerador de energia elétrica, a primeira bomba d’água, o primeiro rádio, a primeira geladeira, a primeira sorveteria, bem como ter o primeiro automóvel, um Ford 1929 – em sociedade com o irmão João Ribeiro –, estacionado em sua porta. Esse carro, posteriormente, passou a ser propriedade exclusiva de Cazuza. Devido à foto original encontrar-se completamente esmaecida, aqui vai sua cópia, reprodução a cargo do artista Juarez Leite:

 

                        Com o falecimento de seu irmão João Ribeiro, em 1930, a sociedade passou a viger com a viúva, que se mudou para Teresina, algum tempo depois, premida pela necessidade de oferecer aos filhos estudos mais avançados.

 

                        Desfeita a sociedade, começou Cazuza a negociar por conta própria. Seu estabelecimento comercial, na hoje Praça Getúlio Vargas, era conhecido como Casa Violeta, nome de fantasia, e nele se vendia de um tudo: tecidos, louças, ferragens, sapatos, perfumes, material escolar e, até, medicamentos. Durante muitos anos, seu irmão rosa Ribeiro o auxiliou na administração dessa loja.

 

                        Cazuza operou, ininterruptamente, no ramo de distribuição de sal grosso, mercadorias manufaturadas em geral, inclusive tecidos, e na compra e venda de couros de boi, peles silvestres e todos os demais gêneros que se comercializavam na região naquela época.

 

                        Expandindo seus negócios, fundou empresa comercial individual, depois transformada em sociedade, denominada Silva & Cia., na cidade de Xerente (GO), hoje Miracema-(TO), sob a direção de seu sobrinho, Pedro Silva, Filho do Rosa, nela admitido como sócio, transferida para Carolina (MA) em 1950.

 

                        Sua empresa de navegação fluvial iniciou-se com o motor Pedro Ivo e a barca Macapá e, posteriormente, ampliou-se com o lançamento do motor Ubirajara, todos construídos na cidade de Sambaíba (MA), este em sociedade com o Comandante Luiz Barbosa. Destinava-se o Ubirajara, principalmente, a transportar óleo combustível em tambores de 200 litros para a Geofísica, empresa que, a serviço do Conselho Nacional do Petróleo – CNP, mais tarde Petrobras, pesquisava o ouro negro em nossa região.

Motor Pedro Ivo

Motor Ubirajara e barca Macapá, na Rampa de Balsas

 

                         Cazuza era proprietário de dois grandes armazéns de madeira, onde se estocavam querosene e gasolina, em latas de 18 litros, e, principalmente, o sal grosso, que vinha de Parnaíba em barcas rebocadas por vapores, lanchas ou motores, algumas com capacidade em torno de 100 toneladas. Além disso, possuía uma usina de beneficiamento de arroz, esta localizada no Porto da Rampa.

 

                        Atuou no ramo do transporte de Balsas para Carolina, adquirindo dois caminhões, um Chevrolet 1949, o São José, e um Ford 1951, o São Pedro. Tinham estes como choferes, respectivamente, Francisco Farias, o Chico Cearense, e Miguel Lima, o Miguelzinho. Naquele tempo, esses caminhões transportavam carga e, em cima dela, passageiros, que superlotavam as carrocerias, pois os ônibus ainda não existiam por lá.

 

                        Proprietário das fazendas Canto Alegre, que adquiriu em 1932, e Brejo Comprido, comprada tempos depois, Cazuza negociou também como pecuarista, organizando boiadas, que seguiam para o Litoral, tendo nessa empreitada seu sobrinho afim Pedro da Costa e Silva, boiadeiro por vocação e ofício.

 

                        Representou a famosa Casa Inglesa, firma importadora de Parnaíba, em todo o sul do Maranhão e Norte de Goiás, hoje Tocantins. Além disso, comprava mercadorias, para revenda em Balsas, nos principais centros comerciais, como Teresina, Parnaíba, Belém, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo.

 

                        No ano de 1947, fabricou miniaturas de pontes, com talos de buriti, protótipos a serem apresentados numa grande licitação levada a efeito pela empresa Geofísica. Saindo-se vencedor com seu projeto, construiu as pontes reais, de madeira, na estrada carroçável Riachão – Balsas, passando pelo vilarejo Vargem Limpa, que perduraram incólumes até que outras de concreto, muitos anos depois, as substituíssem.

 

                        Cazuza era um grande aficionado do futebol. Apoiava todos os times locais, não importando sua torcida pessoal, e promovia jogos da Seleção Balsense em cidades próximas. Fornecia uniformes e demais equipamentos para os times, nada cobrando deles. Mandava cercar o campo de futebol com peças e mais peças de tecido – algodãozinho –, por ocasião dos grandes eventos esportivos, para que fosse possível a cobrança de ingressos.

 

                        Por esse motivo, ao ser construído o estádio municipal da cidade, recebeu ele o nome de Cazuza Ribeiro. A Câmara de Vereadores de Balsas novamente o homenageou, denominando Cazuza Ribeiro uma das principais ruas do município.

 

Estádio Municipal Cazuza Ribeiro

 

                        Sua personalidade de grande empreendedor e cidadão sério o fez respeitado e bem conceituado não só em Balsas, mas também nas várias cidades com as quais mantinha contatos os mais diversos.

 

                        Ao falecer precocemente, no dia 27.6.1952, com apenas 53 anos de idade, em São Luís (MA), vítima de complicações hepáticas, deixou não apenas sua família, mas toda a cidade de Balsas, em sincera consternação, num luto a que, embora não fosse oficial, a inteira população balsense inconsolável e voluntariamente se entregou.

 

                        E levou quase um ano sem que se realizasse ali qualquer tipo de festa, demorando muito para que a alegria se reinstalasse em nossas plagas, todos relembrando aquele grande homem, Cazuza Ribeiro, que foi um exemplo de vida para sua imensa família e também para todos os seus concidadãos!

 

PROLE DE CAZUZA RIBEIRO E RITINHA PEREIRA, ATÉ O SEGUNDO GRAU:

Antônio Pereira e Maria das Mercês Paz e Silva

 

                        Antônio Pereira da Silva Neto casou-se com Maria das Mercês Paz e Silva, tendo os seguintes filhos: José de Sousa e Silva Junior, Carminda Elizabeth Silva Rochel, Esmaragdo de Sousa e Silva Sobrinho e Rita Bernadete Paz e Silva.

 

Esmaragdo de Sousa e Silva e Yolanda Borges e Silva

 

                        Esmaragdo de Sousa e Silva casou-se com Yolanda Borges e Silva, tendo eles o filho José de Sousa e Silva, o Cazuza Ribeiro.

Ludovico Evelim Pereira e Neusa Costa Evelim Pereira

 

                        Ludovico Evelim Pereira casou-se com Neusa Costa Evelim Pereira, tendo os seguintes filhos: Elói Costa Evelim Pereira e Ana Albertina Evelim Pereira.

 

Raimundo de Sousa e Silva e Maria Alice Albuquerque e Silva

 

                        Raimundo de Sousa e Silva casou-se com Maria Alice Albuquerque e Silva, sua prima, tendo os filhos Pedro Ivo de Souza e Silva Sobrinho, Maria Isaura da Silva Fonseca e Raimundo de Sousa e Silva Filho.

  

Manoel de Jesus e Silva e Gracy Santos e Silva

 

                        Manoel de Jesus e Silva casou-se com Gracy Santos e Silva, tendo os seguintes filhos: Fábio Santos e Silva, Marcelo Santos e Silva, Márcio Santos e Silva e Fernando Santos e Silva.

 

Maria Violeta e Silva Kury e Roosevelt Moreira Kury

 

                        Maria Violeta e Silva Kury, florianense, casou-se com Roosevelt Moreira Kury, tendo os seguintes filhos: Márcia Kury Carneiro, Nívia Silva Kury Mendes, José Elias Silva Kury, Cristina Silva Kury Chaves, Winston Silva Kury, Roosevelt Kury Filho e Ilza Silva Kury.

Maria Iracy e Silva Neiva e Adelmar Neiva de Souza

 

                        Maria Iracy e Silva Neiva casou-se com o florianense Adelmar Neiva de Souza, tendo os seguintes filhos: Esmaragdo e Silva Neiva, José de Sousa e Silva Neto, Antonio Estevam e Silva Neiva e Fernanda e Silva Neiva.

 

Pedro Ivo de Sousa e Silva e Leonor Bonfim e Silva

 

                        Pedro Ivo de Sousa e Silva casou-se com Leonor Bonfim e Silva, tendo os seguintes filhos: Adelmar Bonfim e Silva, Eduardo Bonfim e Silva, Marília Bonfim e Silva de Moraes e Cacilda Bonfim e Silva.

 

João Ribeiro da Silva Sobrinho e Maria da Conceição Piedade da Silva

 

                        João Ribeiro da Silva Sobrinho casou-se com Maria da Conceição Piedade da Silva, tendo os seguintes filhos: José Heitor Piedade da Silva, Flávio José Piedade da Silva, Luciano José Piedade da Silva e Rita de Cássia Piedade da Silva.

José de Sousa e Silva Filho e Ana Paula Soares de Sousa e Silva

 

                        José de Sousa e Silva, o Cazuzinha, casou-se com Maria Eterna de Paiva e Silva, tendo com ela os seguintes filhos: José de Sousa e Silva Filho e Erika Paiva e Silva. Após enviuvar-se, casou-se com Ana Paula Soares de Sousa e Silva, com quem teve a filha Valéria Soares de Sousa e Silva.

  

Izaura Maria de Sousa e Silva e Bergonsil de Albuquerque e Silva

 

                        Izaura Maria de Sousa e Silva casou-se com seu primo Bergonsil de Albuquerque e Silva, tendo os seguintes filhos: Valéria de Albuquerque e Silva e Maurício de Albuquerque e Silva.

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 29 de setembro de 2021

MARIA RODRIGUES, NOSSO ANGELITO NEGRO
 
MARIA RODRIGUES, NOSSO ANGELITO NEGRO

(29.09.1929 – 09.11.2013)

Raimundo Floriano

 

 Maria Rodrigues

 

                        Maria Rodrigues da Silva nasceu em Floriano (PI), no dia 29.09.1929, filha de Laurindo Rodrigues da Silva e Cesária Maria da Conceição. Aos três anos de idade, ficou órfã de pai e mãe. Dona Cesária morreu em decorrência de males oriundos de sua intensa exposição ao calor nas bocas dos fornos das olarias onde trabalhava. Seu Laurindo, também, vítima de infecção no calcanhar, provocada pela mordida de um gato, no rabo do qual pisara.

 

                        Seu irmão mais velho, num total de sete, Fernando, já casado e com três filhos, residente em Uruçuí (PI), ciente dos demais irmãos desamparados, foi buscá-los. A viagem de volta, num percurso de 208 km, foi feita a pé, levando seis dias na caminhada. Um dos pousos foi a Fazenda Brejo, antiga propriedade do meu avô paterno, Capitão Pedro José da Silva, hoje em poder do meu primo Airton, médico residente em Teresina, filho do Comandante João Clímaco, o Tio Joãozinho.

 

 Maria Rodrigues e Comandante Puçá

 

                        Maria Rodrigues era irmã de José Rodrigues dos Santos, o Comandante Puçá, que a trouxe para Balsas na Década de 1940, quando começou a tripular embarcações pertencentes a armadores de nossa cidade.

 

                        Sua família está, desde o início da Década de 1950, intimamente ligada à minha. Fernando é o pai da Maria Júlia, que foi morar conosco em 1951, ainda menina, sendo, praticamente, criada por Dona Maria Bezerra, minha mãe. Seguiu ela com minha irmã Maria Alice para Engenheiro Dolabela (MG), quando esta se casou, acompanhando-a nas mudanças para Brotas (SP), Anápolis (GO), e, finalmente, Balsas. Em 1974, veio cuidar de minha residência aqui em Brasília. Mais tarde, casou-se com Odílio Silva, seu primo, antigo craque da Seleção Balsense de Futebol, com o qual teve um filho, o Reinaldo, meu afilhado, hoje Engenheiro da Computação, todos residentes em Anápolis, Odílio já falecido, e ela aposentada pelo INSS.

 

                        Maria Rodrigues, a Maria, como sempre a chamei, veio a ser um forte esteio para minha gente em Balsas, nas ocasiões mais delicadas. Fechou os olhos de minha mãe, em seu último suspiro, tendo-a velado como se parente fosse. Igualmente, esteve à cabeceira de Seu Rosa Ribeiro, meu pai, até que expirasse. Desde 1969, constituiu-se em amiga, conselheira, companheira, praticamente mãe de minha irmã Maria Alice, falecida de mal súbito em 2002.

 

                        Lembram-se daquele filme Mary Poppins, em que uma fada apareceu do espaço sideral, navegando em seu guarda-chuva, para dar jeito numa família inglesa toda desnorteada? Pois bem assim aconteceu conosco!

 

                        Na madrugada de 17 de fevereiro de 1969, estávamos todos os irmãos perplexos, apavorados, inertes, diante do leito de morte de nossa mãe – era o primeiro ente querido que perdíamos na família –, quando se materializou no quarto, enviado pelo firmamento celeste, aquele angelito negro, que se impôs perante nós e os demais presentes, encomendando a alma de Maria Bezerra aos braços do Senhor, fechando-lhe os olhos, dando-lhe banho, amortalhando-a, colocando-a no caixão e passando, desde então, a cuidar de todos nós.

 

                        Depois da Missa do Sétimo Dia, retornamos às cidades onde morávamos, ficando em Balsas apenas a Maria Alice, que lá exercia o cargo de Tabeliã do 2° Ofício.

 

                        Maria Bezerra deixou-nos para sempre, mas sua partida legou-nos outra Maria que passou a substituí-la no papel de nossa mãe. Aos 40 anos de idade, Maria Rodrigues assim se impunha pelo carisma e pela dedicação demonstrada até seus momentos finais.

 

                        Maria Alice, desde o início dessa maravilhosa simbiose, teve a premonição de que um dia deixaria o mundo antes de Maria Rodrigues. Por isso, a partir de quando foi por ela perfilhada, passou a contribuir para o INSS em seu nome, garantindo-lhe futura aposentadoria. E mais, ao constatar que o valor de seus proventos seria ínfimo, conseguiu, com o prestígio de que gozava, sua nomeação como funcionária pública do Estado do Maranhão. Dessa forma, ao completar 70 anos, Maria se aposentou com duas fontes de renda.

 

                        Há muito, Maria se constituíra como arrimo de Raimunda, sua irmã, e de grande quantidade de sobrinhos e parentes afins que ainda batalhavam na luta pela subsistência.

 

                        Nesse tempo, residia na Rua Nova, em casa alugada, bem distante da Rua do Frito, hoje 11 de Julho, onde Maria Alice morava. Esta, visando a garantir uma velhice tranquila para Maria e sua irmã, mandou construir, na metade do terreno onde morava, belíssima casa de esquina, na Rua Isaac Martins, que lhe foi entregue com escritura passada em cartório. Adiante, a frente da simpática moradia, escondida por um muro, exigência de segurança no modernismo balsense:

  

                        Pelos arbustos floridos que a enfeitam, pode-se avaliar como seria o jardim, entre sua casa e a de Maria Alice, do qual Maria cuidava com esmero, sendo o local preferido para a foto oficial dos casais menos apercebidos que contraíam matrimônio no Cartório, situado na esquina da Rua do Frito.

 

 Maria Rodrigues em seu impecável jardim 

                        Maria era pessoa antenada com os acontecimentos da cidade e com a sociedade balsense. Zeladora do Sagrado Coração de Jesus, como foram Maria Bezerra e Maria Alice, participava, anualmente, da Comissão Organizadora dos Festejos de Santo Antônio.

 

                        Maria viveu num tempo em que não havia esse negócio chamado selfie, e as raras fotografias que temos dela são todas esmaecidas, razão pela qual pedi ao amigo Juarez Leite, artista plástico, que as reproduzisse, dando-lhes mais vigor.

 

                        Maria Alice, como previra, foi embora primeiro. No dia 3 de março de 2002, partiu mansamente, como dito acima. Maria, que já desempenhara competentemente o papel de sua mãe, irmã e amiga, assumia, tacitamente, esse mesmo papel junto a seus filhos. A seguir, vêmo-la, já em idade avançada, em companhia do Doutor Raimundinho, filho da Maria Alice, que, diariamente, tomava refeições em sua casa.

 

 Maria Rodrigues e Raimundinho 

                        Maria teve um grande amor na vida. Chamava-se Camilo. Durante a construção de Brasília, ele para aqui arribou, com a promessa de mandar buscá-la tão logo se ajeitasse financeiramente, porém jamais deu notícia. Por essa razão, Maria nunca mais quis saber de homem.

 

                        No dia 9 de novembro de 2013, aos 84 anos de idade, nosso angelito negro encantou-se, voltando à Casa do Pai, de onde viera para cuidar de todos nós.

 

                        Hoje, 29 de setembro, Maria Rodrigues comemora mais um aniversário. Desta vez no Paraíso, juntamente com sua grande amiga, como todos os anos acontecia em sua vida terrena. Lá no Céu, em singelo congraçamento, enquanto ela corta o bolo, Maria Alice canta-lhe “Parabéns pra você”.

 

 O Angelito e Maria Alice: Festa no Céu 

                        Para musicar essa festa, nada melhor que um bolerão das antigas, como Angelitos Negros, poema do venezuelano Adrés Eloy Blanco, com letra do mexicano Manuel Álvarez Macisto, na interpretação da madrilenha Nati Mistral. Vamos ouvi-lo:

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 08 de setembro de 2021

SÃO LUÍS! 8 DE SETEMBRO! 409º ANIVERSÁRIO DE FUNDAÇÃO!

 

SÃO LUÍS, QUATROCENTOS ANOS

(Publicada no dia 08.09.2012)

Raimundo Floriano

 

Duas paisagens da Capital Quadrissecular do Maranhão

 

                        Hoje, 8 de setembro de 2012, comemoramos o Quadringentésimo Aniversário de São Luís, Capital do Estado do Maranhão, uma das três capitais brasileiras localizadas em ilhas. As outras são Vitória, no Espírito Santo, e Florianópolis, em Santa Catarina.

 

                        A Ilha de São Luís, lembrada hoje pelo enorme casario de arquitetura portuguesa, abrigava, no início, apenas ocas de madeira e palha e uma paisagem quase intocada. Ali, ficava a aldeia de Upaon-Açu, onde os índios tupinambás – cerca de 4.000, segundo cronistas franceses – subdivididos em 16 aldeamentos, viviam da agricultura de subsistência, com pequenas plantações de mandioca e batata doce, e das ofertas da natureza, caçando, pescando, coletando frutas.

 

                        Até o final do Século XVI, resultaram praticamente inúteis as tentativas portuguesas de estabelecer na ilha um núcleo de civilização. Não o conseguiram Aires da Cunha e Fernando Álvares de Andrade, associados ao historiador João de Barros, Donatário da Capitania do Maranhão. Partindo de Lisboa, em 1535, a Armada, sob o comando do primeiro, atingiu a Costa Maranhense, naufragando, porém, nos Baixios de Boqueirão, junto à Ilha do Medo. Os sobreviventes, em número reduzido, retiraram-se para o Reino em navios piratas que por ali passavam.

 

                        Igual sorte estava reservada, em 1554, a Luís de Melo e Silva, a quem Dom João III, por desistência do Donatário João de Barros, que permanecera em Portugal, doara a Capitania. A pequena frota com que para ela se dirigiu soçobrou, provavelmente nos Baixios da Coroa Grande, regressando Melo e Silva a Portugal numa caravela que escapara da catástrofe.

 

                        Essas duas catástrofes desanimaram os portugueses que acaso se interessavam pela conquista do Maranhão.

 

                        Os insucessos das Armas Lusas na África e a consequente passagem de Portugal para o domínio da Espanha deram ensejo aos franceses de se estabelecerem nas terras maranhenses. Com esse objetivo, foram equipadas três naus que, sob a chefia do Capitão Jacques Rifault, ali chegaram em 1594. O naufrágio do navio principal e a discórdia entre os componentes da tripulação decretaram o fracasso da empreitada.

 

                        Alguns elementos, por sua vez, não retornaram à França, preferindo o contato com os silvícolas, ao lado dos quais guerrearam, granjeando-lhes a simpatia. Entre eles, estava Charles Des Vaux que, voltando depois a seu país, expôs o que vira ao Rei Henrique IV. Interessando-se pelas notícias, o soberano ordenou a Daniel de La Touche, conhecido como Senhor de La Ravardière, que partisse para as novas terras, a fim de comprovar a veracidade das informações. Dessa viagem não decorreram, todavia, consequências de ordem prática, em vista da morte de Henrique IV.

 

                        Esse fato adiou outros empreendimentos, que só puderam ser levados a efeito em 1611, no reinado de Luis XIII. Por essa época, Daniel de La Touche organizou nova expedição com cerca de 500 homens vindos das cidades francesas de Cancale e Saint-Malo, partindo no dia 19 de março de 1612 no intuito de estabelecer no Brasil a França Equinocial – esforço dos franceses de colonização da América do Sul em torno da Linha do Equador. A 6 de agosto, chegou a seu destino.

 

                        Contando com a amizade dos aborígenes, os franceses procuraram organizar a defesa da nova colônia, certos de que os portugueses tentariam expulsá-los, logo que se tornassem conhecedores da situação. Em lugar alto e próximo ao ancoradouro, construíram um forte. Após o término das obras, a edificação recebeu o nome de Forte de São Luís, em memória eterna de Luís XIII, Rei de França e de Navarra. O ancoradouro foi denominado Porto de Santa Maria, não só em homenagem à Santíssima Virgem, como em atenção a Maria de Médicis, Rainha da França e mãe do Regente Luís XIII.

 

Rei Luís XIII e Busto de Daniel de La Touche

 

                        A 8 de setembro de 1612, tem lugar a implantação da Cruz na Ilha, procedendo-se sua bênção, sob a salva dos canhões do Forte e dos navios franceses, em sinal de regozijo. Esse ato, pela magnitude e excepcional solenidade de que se revestiu, é considerado como o verdadeiro Auto de Fundação da Cidade de São Luís.

 

                        A Capital Maranhense tem dois gentílicos: são-luisense e ludovicense, este derivado do Latim, Ludovicus, Ludovico em Português, ou Luís, mais uma homenagem ao Rei Luís XIII.

 

                        Tão logo se propalou a notícia do domínio do Maranhão pelos franceses, procuraram os portugueses eliminar a ameaça. Gaspar de Souza, Governador-Geral do Brasil, enviou, no início de 1614, pequena expedição, comandada por Jerônimo de Albuquerque, que fez o reconhecimento das posições francesas na Ilha de São Luís, sendo erigido, no lugar denominado Jericoaquara, hoje pertencente ao Ceará, pequeno forte de pau a pique, com o nome de Forte Nossa Senhora do Rosário, no qual foram deixados 40 homens.

 

                        Ainda no mesmo ano, Jerônimo, comandando nova expedição, penetrou, com seus navios, na Baía de Guaxenduba, hoje de São José, construindo em local próximo à Ilha de São Luís, o Forte Santa Maria. Em seguida a uma série de hostilidades, travou-se ferrenha peleja entre portugueses e franceses, até que a vitória se declarou a favor dos lusos. Suspensa a luta, foi concertado, a 27 de novembro, tratado de trégua por um ano, com apreciáveis concessões aos portugueses. Nessa época, Jerônimo de Albuquerque acrescentou Maranhão a seu nome.

 

                        Enquanto na França e na Espanha discutia-se a sorte das terras do Maranhão, vários reforços eram remetidos a Jerônimo, tanto de Portugal, quando da Bahia e de Pernambuco. A trégua foi rompida, e as forças portuguesas, comandadas por Alexandre de Moura, sitiaram os inimigos por mar e terra. A 3 de novembro de 1615, dava-se a capitulação, com Daniel de La Touche, entregando o Forte, rebatizado pelos vencedores como Forte São Felipe, em homenagem ao Rei, os quais conservaram o nome de São Luís para a cidade e consagraram à Senhora da Vitória a primeira Igreja Matriz.

 

                        Por seu destaque na luta para a expulsão dos franceses, Jerônimo de Albuquerque Maranhão, que também fundara a cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, do qual fora Capitão-mor, a 15.12.1599, foi nomeado Capitão-mor da Capitania do Maranhão. Foi ele o tronco maranhense da Família Albuquerque do qual sou descendente direto.

                       

                        Nascido na cidade pernambucana de Olinda, em 1548, casado com Catharina Pinheiro Feio e falecido em 1624, Jerônimo era mameluco, filho de Jerônimo de Albuquerque, o primeiro dessa família chegado ao Brasil, e da índia tabajara Maria do Espírito Santo Arcoverde. Seu pai, a quem se atribui ter tido filhos com mais de 100 mulheres, veio acompanhando Duarte Coelho, Donatário da Capitania de Pernambuco e casado com Brites Albuquerque, sua irmã.

 

Jerônimo de Albuquerque Maranhão e Mapa de São Luís em 1629

 

                        Em 1621, quando o Brasil foi dividido em duas Unidades Administrativas – Estado do Maranhão e Estado do Brasil – São Luís foi a capital da primeira, sendo a outra Salvador, na Bahia.

 

                        O período de progresso vivido pela região foi interrompido em 1641, quando 18 navios holandeses, transportando 2.000 homens, comandados pelo Almirante Lichthardt, aportaram em São Luís, na Praia do Desterro, onde desembarcaram os invasores. Depois de renhidas batalhas, os holandeses deixaram São Luís em 1644, derrotados pelas tropas comandadas por Antônio Teixeira de Melo

 

                        A 16 de janeiro de 1653, chegou a São Luís o Padre Antônio Vieira, jesuíta, com a incumbência do Reino de dar execução às ordens de pôr em liberdade os índios escravos, o que gerou motivo para que o povo se amotinasse e pedisse a expulsão da Companhia de Jesus. A crise maranhense é agravada pela concessão do monopólio do comércio de todo o Estado do Maranhão e do Grão-Pará – o chamado estanco –, pelo espaço de 20 anos, a uma companhia de comércio, culminando com a eclosão de uma revolta conhecida pelo nome de seu principal chefe – Bequimão –, liderada pelos irmãos Manoel Beckman, o cabeça, e Tomás. Iniciada em 1684, foi dominada no ano seguinte, sendo Manoel Beckman enforcado em praça pública, declarando, no ato: – Pelo povo do Maranhão, morro contente!

 

                        A partir de então, a Capital Maranhense retomou a normalidade, não mais envolvida com invasores estrangeiros. Internamente, porém, São Luís conheceu diversos momentos de ebulição, como o que resultou na adesão à Independência do Brasil, realizada a 28 de julho de 1823, no Paço da Câmara Municipal, o que foi conseguido, sem qualquer perturbação da ordem pública, por Lord Cochrane – Thomas Alexandre Cochrane, almirante inglês, depois nomeado Marquês do Maranhão, que viera, a pedido do Império Brasileiro, ajudar na consolidação do movimento nativista de desligamento da Coroa Portuguesa.

 

                        Como se viu, a história de São Luís é recheada de invasões, resistências e entreveros. O próprio Hino Maranhense, nas três estrofes mais conhecidas e cantadas, com letra de Antônio Batista Barbosa de Godóis e música de Antônio dos Reis Raiol, dá uma noção da característica guerreira de seu heroico povo:

 

Entre o rumor das selvas seculares

Ouviste um dia no azul do céu vibrando

O troar das bombardas nos combates

E após um hino festival soando

 

Salve Pátria, Pátria amada

Maranhão, Maranhão, berço de heróis

Por divisa tens a glória

Por nume nossos avós

 

Reprimiste o flamengo aventureiro

E o forçaste a no mar buscar guarida

Dois séculos depois, disseste ao luso

A liberdade é o sol que nos dá vida

 

                        A miscigenação do aborígene, do português, do francês – também conhecido como flamengo – e do holandês resultou num fenômeno bem peculiar, o sotaque do ilhéu, fazendo com que São Luís seja considerada a cidade brasileira onde se fala melhor a Língua Portuguesa, independentemente do grau de instrução. São Luís também foi considerada a Atenas Brasileira, pelo número de intelectuais e artistas que ali habitavam. Detém, ainda, outros títulos: Ilha do Amor, Cidade dos Azulejos e, pela assimilação da música caribenha, devido até a sua localização geográfica, Jamaica Brasileira ou Capital Brasileira do Reggae.

 

                        Para divulgar a festa do Quarto Centenário de São Luís, a ECT lançou este selo comemorativo, que será peça valiosa nos álbuns de filatelistas do mundo inteiro:

  

                        Como toda cidade praieira, a orla marítima que circunda São Luís é plena de lendas mistérios, assombrações, religiosidade, música e muita alegria. A foto a seguir dá uma ideia de sua feição jovial e prazerosa:

 

Largo do Carmo ou Praça João Lisboa

 

                        A esfuziante atividade musical de São Luís está representada por três de seus mais característicos gêneros: o bumba meu boi, o samba e o reggae.

 

A Cara de São Luís: Bumba meu boi, Alcione e Djalma Chaves

 

                        Eis uma pequena amostra desse cenário artístico:

 

                        Ilha do Amor, bumba meu boi, de Maria Aparecida Lobato, com o canário Lobato do Boi Feliz.

 

                        Solo de Pistom, samba, de Totonho e Paulinho Resende, na voz da ludovicense Alcione.

 

                        Ilha, reggae, na interpretação do autor, Djalma Chaves, membro ilustre de nosso clã, eis que casado com uma de minhas sobrinhas.

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas domingo, 04 de julho de 2021

ECOS DE MEU 85º ANIVERSÁRIO - SÃO MUITAS EMOÇÕES

DEPOIMENTO DE ELBA ALBUQUERQUE, MINHA  PRIMOGÊNITA:

 

 

 

Há 85 anos, nascia lá no sul do Maranhão, mais precisamente, na cidade de Balsas, o meu pai! Que privilégio vir hoje nas redes sociais e propagar para o mundo que, apesar das pedras no caminho, principalmente as que apareceram este ano, você está aqui conosco, recuperando-se a cada dia que passa! Sou abençoada e grata a Deus por tê-lo como meu pai, pessoa que me ensinou a gostar de livros, a ter apreço pela língua portuguesa, a ser disciplinada, honesta e responsável. Espero que Deus me conceda a graça de chegar à sua idade, com essa fabulosa memória e disposição para conquistar tudo que almeja. Você me mostra diariamente que é possível, sim, após os 80 anos, fazer planos e concretizar sonhos! Para quem não sabe, meu pai é um dos maiores divulgadores da cultura brasileira, por meio do seu site, “Almanaque Raimundo Floriano”, com publicações diárias, atividade essa que me enche de orgulho! Desejo saúde em abundância e que Deus e Nossa Senhora permitam que possamos desfrutar muito mais da sua companhia! Parabéns, pai! Te amo! Viva!! 🎂🎉😊😍💙😘

 

 

DEPOIMENTO DE MARIA DOS MARES, MINHA IRMÃ CAÇULA, ARTISTA PLÁSTICA, A INTELECTUAL DA FAMÍLIA ALBUQUERQUE E SILVA:

 

DEPOIMENTO DE MEU SOBRINHO GARCIA E FAMÍLIA, HOJE RESIDENTES EM PORTUGAL:

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas terça, 16 de fevereiro de 2021

POESIA EM TEMPO DE PANDEMIA

 

POESIA EM TEMPO DE PANDEMIA

Raimundo Floriano

 

 

Há coisa de quinze dias, surgiu-me no sinistro-quarto-podo-dáctilo, quer dizer, no dedo à esquerda do dedão do pé esquerdo, ou seja, no seu “indicador”, uma pequena bolha, que foi crescendo “que nem um nó na garganta”, até alcançar um tamanho a nos inspirar cuidados. Pra variar, no mesmo “indicador” do pé direito, apareceu outra, pequenininha, recusando-se a imitar a anterior em magnitude.

 

Na semana passada, Veroni, minha mulher, resolveu fotografar a sinistra e se apavorou com o rumo que as coisas estavam tomando. Vejam-na:

 

 

 

Imediatamente, Mara, minha caçula, procurou orientação médica, sendo-lhe indicado o Enfermeiro Ricardo Lima, Podólogo, ou Podiatra, com queiram, que, logo em seguida, iniciou o tratamento – domiciliar, eis que continuo em rigorosa quarentena, há onze meses, embora já tenha recebido a primeira dose da Oxford/AstraZeneca. Vejam-no com a mão na massa:

 

 

 

Conversa vai, conversa vem, falei-lhe sobre minha atividade cultural, o Almanaque Raimundo Floriano, virtual Internet, os livros que escrevi e, como amostra física, ofertei-lhe meu último trabalho impresso, o Caindo na Gandaia, com a seguinte dedicatória:

 

“Ao Ricardo, uma lembrança de minhas bolhas pandêmicas.”

 

No dia seguinte, ele me surpreendeu, entregando-me um envelope pardo contendo uma folha A-4, na qual se via impressa esta poesia:

 

PANDÊMICAS BOLHAS

 

Bolhas, bolhas!

Aclama bolha, estoura, tola.

Murchas bolhas, não vindouras, poucas.

 

Estoura bolhas.

Pandêmicas bolhas.

Poéticas bolhas.

 

Bolhas anis, bolhas viris.

“Rai-o-mundo” das bolhas sutis, “veronis”.

Reflexivas bolhas.

Pandêmicas bolhas.

 

(Odracir Amil)

 

Pois é, amigos, a Cultura é um visgo! Atrai e gruda! Mesmo na enfermidade, é um grande conforto ver esses meus dois pisantes, que já trilharam árduos caminhos, receberem a dedicação, os cuidados e o carinho de um intelectual, competentíssimo em sua área profissional, o poeta Ricardo Lima.

 

Glória a Deus!

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 26 de setembro de 2020

GAL COSTA: 75 ANOS E UMA DIVA
75 anos de uma divaGal Costa comemora o aniversário e 55 anos de carreira com uma aguardada live. Ao Correio, ele fala sobre a trajetória profissional, pandemia, política e, claro, música

 

» Irlam Rocha Lima

Publicação: 26/09/2020 04:00

Gal Costa (Marcos Hermes/Divulgação)  
Gal Costa
 
 
Dona de uma das mais belas vozes da música popular brasileira, Gal Costa celebrará 75 anos hoje com um show ao vivo e exclusivo. A live vinha sendo muito pedida pelos fãs da cantora desde o início da quarentena, especialmente depois que Caetano Veloso e Gilberto Gil, companheiros de Tropicália, se renderam a esse formato. A apresentação, com início às 22h, será transmitido pela TNT para todo o Brasil e pelo canal da emissora no YouTube para países da América Latina.
 
Na live, intitulada Gal 75, ela terá ao seu lado o guitarrista Pedro Sá e o tecladista Chicão, músicos integrantes da banda que a acompanha na turnê do espetáculo A pele do futuro, visto pelo brasiliense em 2019. A direção é de Marcus Preto, que também assina o roteiro. “Montamos um repertório que contempla os 55 anos de carreira de Gal, comemorados agora, ao mesmo tempo em que ela faz 75 de vida”, destaca. “O set dá destaque aos grandes hits das cinco décadas e meia, da Tropicália até os dias de hoje, que a nova geração abraçou também os trabalhos mais recentes da cantora. Também pescamos alguns lados B que vão dar o gosto de novidade para os fãs mais fiéis. E até alguma coisa que Gal nunca cantou antes. É um aniversário em vários sentidos, revendo o passado e também mirando o futuro”, acrescenta Preto.
 
Ao Correio, Gal deu uma longa entrevista na qual focalizou momentos de destaque da vitoriosa trajetória, como Nós por exemplo, o primeiro show, em 1964, no Teatro Vila Velha, em Salvador; a participação no Festival da Record, que a revelou para o Brasil, quatro anos depois; o antológico espetáculo Fa-Tal, no começo da década de 1970; além do fato de ter se tornado a porta-voz de Caetano e Gil durante o período em que os dois estiveram em Londres, exilados por imposição da Ditadura Militar. Ela também revelou o que tem feito em tempos de pandemia.
 
 
» Entrevista  / Gal Costa 
 
Você está comemorando 75 anos de existência, da qual a maior parte tem sido dedicada à música. Que avaliação faz da sua trajetória artística?
Creio que construí uma trajetória vitoriosa, ao lembrar de tantas coisas boas que fiz. Mas ainda pretendo fazer muito mais, pois nunca paro de criar.
 
João Gilberto foi fundamental na sua decisão de ser cantora?
Ser cantora era algo que desejava desde criança. Quando ouvi João Gilberto, com aquela sonoridade totalmente moderna, me senti influenciada, porque sempre fui apaixonada por tudo aquilo que ele propunha.
 
Que lembrança guarda de Nós, show que fez ao lado de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e Maria Bethânia, na inauguração do Teatro Vila Velha, em Salvador, em 1964?
Foi uma experiência incrível, pois foi a minha primeira apresentação num palco e ponto de partida para a minha carreira.
 
Em 1968, ao cantar Divino maravilhoso, no Festival de Record, o Brasil tomou conhecimento de uma intérprete ousada. Que importância atribui à aquele momento para  o futuro da sua carreira?
O Festival da Record foi marcante em minha carreira. Por meio dele, mudei radicalmente minha postura diante da música. Fã de João Gilberto, pouca coisa passava pelo meu crivo. Ao cantar Divino maravilhoso, fiz uma coisa que era o oposto de tudo o que fazia até então. Passei por uma grande mudança.
 
Com o exílio de Caetano Veloso e Gilberto Gil, imposto pela ditadura militar, você se tornou porta-voz dos dois e do movimento tropicalista no Brasil. Como viveu aquela situação?
Lembrando daquela fase da minha carreira com distanciamento histórico, vejo que fui muito corajosa. À época, eu tinha uma certa ingenuidade e fazia as coisas movidas pelo coração, com muita saudade dos dois.
 
Naquele período, na condição de maior estrela da MPB, protagonizou o Fa-Tal, show antológico que entrou para a história da MPB. O que guarda na memória daquele espetáculo, posteriormente registrado em disco?
Aquele show foi um marco na minha carreira. Foi um show maravilhoso, superbonito e, até hoje, gosto de ouvir o registro em disco. Aliás, fui uma das pioneiras na gravação de disco ao vivo na música brasileira.
 
Caetano Veloso compôs e lhe presenteou com Flor do Cerrado, inspirado num dos maiores biomas da América do Sul. Como vê essa canção no seu repertório?
Embora não costume cantá-la em shows, gosto muito dessa canção. Recordo-me que conheci o Cerrado ao lado de Caetano, num encontro casual. Ele se inspirou no que viu e fez essa música para mim.
 
Praticamente todos os shows que tem feito ao longo da carreira foram apresentados em Brasília. Como sente a acolhida que lhe é dada pelo público da Capital Federal?
Me sinto muito bem acolhida em Brasília. Gosto da cidade, que é muito bonita. Sempre que inicio uma turnê, quero levá-la a Brasília.
 
Qual é a sua visão sobre a situação do país atualmente, nas áreas econômica, social e cultural?
Eu fico muito triste com tudo o que está acontecendo em todas as áreas. A pandemia só agravou, especialmente na área cultural, que foi a primeira a parar e deve ser uma das últimas a voltar.
 
Como está lidando com pandemia e o que tem feito nesta interminável quarentena?
Eu virei uma pessoa ainda mais caseira. Em casa estou me cuidando desde o início. Saí pouquíssimas vezes, apenas para fazer coisas essenciais e necessárias. Mas mesmo eu, que gosto de ficar em casa, estou sentindo a necessidade de sair um pouco. Tenho ficado com meu filho, meus cachorros, descansando, ouvindo música e assistindo a filmes.
 
Que expectativa faz em relação à live comemorativa?
Estou muito animada e feliz. Acho que a live veio na hora certa. Vou comemorar meu aniversário em grande estilo, cantando. O que amo muito fazer.
 
Gal 75
Live hoje, às 22h, com transmissão pela TNT para o Brasil; e pelo canal da emissora no YouTube, para a América Latina.
 

Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 11 de setembro de 2020

VALTUIR FERREIRA SE ENCANTOU: AOS 63 ANOS DE IDADE, A COVID O LEVOU

 

 

VALTUIR FERREIRA SE ENCANTOU: AOS 63 ANOS DE IDADE, A COVID-19 O LEVOU

Raimundo Floriano

Ariday e Valtuir

 

Conheci o Valtuir por intermédio de Ariday Ferreira, sua esposa, na época em frequentávamos a piscina da Academia Boca, em tratamento hidroterápico, sob a competente orientação da Doutora Karina Ribeiro, fisioterapeuta da Clínica Reabilit, cuja chefe é a Doutora Ayda Jamal.

 

O sentimento que nos uniu, no começo, foi a dor, comum em qualquer paciente hidroterapata – termo por mim inventado –, e também a empatia e a amizade que se vai criando e fortalecendo com o transcorrer do tratamento, muito longo, como em nosso caso.

 

Ariday, natural de Pirenópolis, ainda detém a personalidade forte das moças do interior goiano, mãe dedicada, esposa amantíssima, honestidade em pessoa, caráter imutável, alegria contagiante, lealdade a toda prova, conquistando a amizade de todos que a cercam.

 

 

Raimundo e Ariday, na Academia VitalRrecor

 

Valtuir era mineiro de Patos de Minas, onde iniciou suas atividades comerciais, mas foi em Brasília que se fixou definitivamente, formando belíssima família e instalando sua empresa, a Casa da Caminhonete, de alto conceito no ramo automotivo, assim definida em sua especificação comercial:

 

O comércio de peças e acessórios novos a varejo para veículos automotores tem como maior demanda os proprietários destes veículos (exceção de motocicletas e bicicletas). Envolve partes elétricas, mecânicas e eletrônicas. Essas peças incluem motores novos e recondicionados; baterias e acumuladores; amortecedores e molas; canos e silenciosos; radiadores; aros, rodas, rolamentos (embora não incluam pneus); bancos estofados, capas, encerados e capotas; alarmes, alto-falantes e equipamentos de som; vidros e espelhos; e ar condicionado. ”

 

Seu amigo Bráulio produziu este pequeno vídeo comercial, um tanto humorístico, onde Valtuir aparece em seu birô de trabalho, e Bráulio faz uma citação dúbia, referindo-se à idade de veículos a serem reparados.

 

 

 

 

Valtuir, em sua plena força de produção, é mais um brasileiro que muito tinha a dar em prol desta nação, bruscamente retirado de nosso convívio, pela força dessa pandemia da qual ainda se desconhece o verdadeiro poder de destruição. Diante dessa realidade, resta-nos apenas dizer:

 

– Amigo Valtuir, segure na mão de Deus e vá!

 

 

 

**********

 

Para se avaliar o finíssimo humor que caracterizava esse mineirinho, vou contar-lhes pequena história.

 

Quando estávamos na hidroterapia, Ariday resolveu dar um jantar, para o qual convidou alguns colegas da piscina. Comparecemos eu, Veroni, minha mulher, a Doutoras Karina, com Márcio, seu marido, e a colega Adelina Nardelli.

 

Seu apartamento em prédio situado numa Quadra comum de Taguatinga, tinha uma particularidade: entrava-se com o carro pelo portão, prosseguia-se dirigindo até o elevador, entrava-se nele com carro e tudo, e desembarcava-se diretamente na sala! O maior luxo!

 

Ao chegarmos, Ariday recebeu-nos trajando um vestido longo, perfeita anfitriã! A residência já fervilhava de convidados, parentes e conhecidos do casal, mas gente estranha para nós.

 

Feita as apresentações de praxe, eu, com cara de paisagem, nada tendo em comum com aquela seleta reunião, mas querendo quebrar o gelo, fazendo graça, dirigi-me ao Valtuir e falei bem alto:

 

                        – Rapaz, é a terceira vez em vejo sua mulher vestida: a primeira, na festa dos meus 70 anos; a segunda, no casamento da Doutora Karina; e esta agora!

 

                        Ao que ele respondeu, na bucha:

 

                        – E eu, nem isso!

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas segunda, 07 de setembro de 2020

BERNARDINO DE SOUSA E SILVA (BENU) 90º ANIVERSÁRIO - 03 DE SETEMBRO - HOMENAGENS VIRTUAIS

 

BERNARDINO DE SOUSA E SILVA (BENU)

90º ANIVERSÁRIO NATALÍCIO

Raimundo Floriano

 

Benu, como é mais conhecido entre os familiares e amigos, filho de meu Tio Frutco – Fructuoso José da Silva – e de Tia Zora – Zoraide Benvindo e Silva –, festejou seu 90º Aniversário Natalício no dia 3 deste setembro de 2020.

 Conhecemo-nos em1950, quando cheguei a Teresina, eu com 14 anos de idade e ele, com 20, seis anos mais velhos, diferença que não nos impediu de formarmos uma bela amizade, forjada na empatia, no companheirismo e na fraternidade, eis que ambos, ainda estudantes, vivíamos os mesmos sonhos e os mesmos ideais.

 Tempos depois, cada qual tomou seu rumo, no intuito de conquistar o sul-maravilha se firmar no mercado de trabalho. Mais tqrde, vitoriosos, nos encontramos aqui em Brasília, onde nossa amizade só engrossou “feito um nó na garganta”, só se grudou, que “nem catarro na parede”.

 Esta é a última foto que fizemos juntos, demonstração de que somos renitentes, pois os três primos da direita já se encantaram, partiram rumo ao Plano Superior, junto ao Pai Celestial:

 

Bernardino, Raimundo, Manoel, Oswaldo e Pedro

Os vídeos a seguir são a prova de que agora o Benu está colhendo tudo o que plantou, traduzido nos depoimentos angariados por seu filho Antônio Carlos Dib, Escritor, Jurista, Assessor Legislativo, Colunista do Almanaque Raimundo Floriano e Sacristão da Igreja Sertaneja.

 

Antônio Carlos Dib

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas terça, 25 de agosto de 2020

RAVA CASTRI

 

No belo disco ‘Teletransportar’, Rafa Castro trata de questões atuais em meio a universo poético

Quarto álbum do pianista, cantor e compositor é resultado de suas viagens pelo País, reconectando-se à natureza, ao divino, à imensidão de povos, culturas e histórias 

Adriana Del Ré, O Estado de S.Paulo

25 de agosto de 2020 | 05h00

Com uma obra marcada pela poética nas letras e pelo lirismo na música, o pianista, cantor e compositor Rafa Castro se aprofunda ainda mais nessa bela combinação em seu recém-lançado quarto disco, Teletransportar. Existe uma densidade em suas novas composições, boa parte delas feita em parceria, que ganham como cenário as mais diversas paisagens brasileiras. Resultado do que ele viu, ouviu e sentiu em suas viagens pelo Brasil ao longo de dois anos. Mineiro radicado há cinco anos em São Paulo, Rafa deixou o espaço urbano e percorreu o País, reconectando-se, assim, à natureza, ao divino, à imensidão de povos, culturas e histórias. 

“Foram inúmeras viagens nesses dois anos, e foi me dando uma vontade imensa de falar desse mergulho que eu fiz, que foi um mergulho pelo Brasil, mas, na verdade, foi um mergulho para dentro de mim também. Foi uma reconexão com várias coisas, com a religiosidade que eu tinha deixado um pouco de lado. Fui ficando uma pessoa mais dura nos últimos tempos, e o contato com esse sertão, com o norte do País, com essas profundezas todas foi resgatando em mim uma religiosidade, uma valorização da natureza, um contato com o meio ambiente, uma sensação de unidade e de ligação que fui perdendo com o estar na cidade com o passar do tempo. E foram nascendo coisas tão fortes dentro do meu coração que fiquei entusiasmado para dividir através da minha música”, conta o músico de 31 anos, em entrevista, por telefone, ao Estadão

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Dessa jornada de descobertas – e de autoconhecimento –, nasceu a primeira canção, Marajó, parceria dele e de sua mulher, Lorena Dini. A música foi composta em São Paulo, mas sob o impacto da viagem que o casal havia feito para a Ilha de Marajó, no Pará. “Nessa primeira viagem, a gente passou alguns dias na floresta, 3, 4 dias dormindo em rede. E a gente teve um contato muito grande com uma floresta originária, muito antiga, e com árvores muito robustas, gigantes. Eu nunca tinha tido essa experiência, foi muito forte”, diz o músico, que também se inspirou na vida de um pescador que conheceu lá, que, com um graveto na mão, desenhou na areia a rota de pesca que fazia e contou que ficava 11 meses do ano no rio. “Fiz uma música imaginando a partida dele”, completa Rafa. 

 

 

Rafa Castro
Rafa Castro acaba de lançar o quarto disco, 'Teletransportar'. Foto: Lorena Dini

Marajó começa dessa forma, em tom de saudade, lamento: “Não sei se um dia vou voltar/ Estou aqui frente ao mar/ Meu horizonte a Deus dará, confesso”. Nela, Rafa dialoga também com Guimarães Rosa e seu conto A Terceira Margem do Rio, que fala da partida de um pai numa canoa. Afinal, esteja onde estiver, o músico carrega consigo suas Minas Gerais, e os mineiros que o influenciam, de Clube da Esquina a Adélia Prado e Guimarães Rosa. “É um conto que mexe muito comigo, porque, nesse processo, meu pai adoeceu, teve câncer. Graças a Deus, hoje ele está bem.”

Cristalino, dele e Túlio Mourão, faixa que vem logo em seguida no disco, de certa forma, está ligada à narrativa de Marajó, já que o pai de Rafa e Guimarães Rosa, e seu conto, seguem nela reverenciados.

“Ao ver você partir, ao ver você deixar/ Pela primeira vez/ Cessar o que brotou/ Rompendo assim o curso da história”, canta ele em um trecho da canção. “É uma música que eu fiz para ele (pai) em forma de oração, que fiz para Iara, que me atende com uma condição”, explica Rafa, referindo-se à Mãe d’Água, personagem do folclore brasileiro. A condição? A resposta vem no final da canção: “Perdão minha jazida/ Mas entrego minha alma em seu lugar”.

Aliás, as águas permeiam boa parte das letras, sem ter sido um tema premeditado, conta Rafa. Chuva, mar, rio: está tudo ali. “Na verdade, não foi pensado. Quando eu olhei com um pouco mais de distância do conteúdo do disco, das músicas, percebi que as águas estavam muito presentes nesse processo do disco, das histórias. Acho que é muito simbólico, por essas viagens, por eu estar em contato com os grandes rios do nosso país.” 

Última desse ciclo a ser composta foi Cheiro de Mar, parceria com Mihay – e a primeira a ser lançada como single juntamente com o clipe. Rafa lembra que a canção foi composta em duas partes: em São Paulo, ao lado do parceiro; e finalizada numa tarde, quando ele estava no Lago Mamori, na Amazônia. “Quando terminei essa música, entendi que eu tinha um disco que conseguia contar uma história, do início ao fim.” 

'Enquanto os avanços tecnológicos nos permitem falar de coisas tão profundas intelectualmente, a gente está tendo de voltar a falar sobre respeito'

Disco elaborado de forma tão livre, a partir de viagens pelo Brasil – e fruto do contato com outras pessoas, outras realidades, outros cenários –, Teletransportar foi lançado em abril, em plena pandemia. Com esse trabalho, Rafa foi, literalmente, de um polo extremo a outro: da liberdade plena ao confinamento. “Fiz o disco com essa liberdade toda, e no início do ano comecei o processo, de fato, de produção, de gravação. Eu tinha uma série de shows já fechados, com lançamento em São Paulo. Em março, começaram as notícias do coronavírus chegando ao Brasil, os shows todos começaram a ser cancelados, adiados”, afirma o músico.

“Eu estava com o disco pronto e fiquei muito em dúvida sobre o que fazer, se eu aguardava para lançar esse disco em outro momento, mas a música falou por mim, porque ela sempre teve um papel transformador na minha vida. E lançá-lo foi um presente para mim, porque consegui falar ao coração de muita gente que tinha muita coisa conectada nesses dizeres, a vontade de se teletransportar, de sair de casa, de ir para outro lugar.” 

A música Teletransportar abre o álbum com mensagens fortes, sobre o presente, sobre o meio ambiente. O estopim para a composição, conta Rafa, foram as queimadas na Amazônia, do ano passado – e que continuam até hoje –, mas a canção também relembra as tragédias de Brumadinho e Mariana. “Eu assisti ao noticiário muito assustado (com as queimadas), e com as falas dos nossos governantes, de um descaso. Com isso, fui lembrando da lama de Brumadinho, de Mariana, e dessa ganância que vai consumindo tudo, a qualquer preço. E é um preço alto”, afirma. 

A canção tem início com imagens desoladoras. “Enquanto eu penso em teletransportar/ Vejo triste o jornal/ Na TV notícias de um fogo sem cessar”, diz trecho da letra. E se encerra em tom mais esperançoso. “Mas sonho com um mundo mais fraterno/ Pois sei que ditadores morrerão/ Assim o arco da história nos insiste em contar/ Que tudo vai passar / Enquanto eu penso em teletransportar.” Em tempos de pandemia, mais atual impossível. 

Teletransportar tem uma metáfora que sempre uso: enquanto eu gostaria que o raio laser viesse na cesta básica, infelizmente, estamos tendo de discutir noções muito básicas de respeito e humanidade. Que a gente tem que ter muita força para continuar lutando por uma dimensão poética da vida. Isso é uma coisa que me norteia de alguma maneira, porque é difícil encarar a realidade”, analisa. “Teletransportar fala de uma situação de fugir, de sublimar, de ter oportunidade de ir para outro lugar, tanto físico quanto o que a música nos proporciona, de um contato com o sobrenatural, com o divino. Mas fala também disso, de que era para a gente estar discutindo coisas muito mais profundas. Enquanto os avanços tecnológicos nos permitem falar de coisas tão profundas intelectualmente, a gente está tendo de voltar a falar sobre respeito. O papo era para estar em outro patamar.” 


Veja o clipe de 'Cheiro de Mar':

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 20 de agosto de 2020

JOÃO RIBEIRO DA SILVA, PIONEIRO NA COLONIZAÇÃO DE BALSAS

 

JOÃO RIBEIRO DA SILVA, PIONEIRO NA COLONIZAÇÃO DE BALSAS

Raimundo Floriano

 

João Ribeiro da Silva

 

                        João Ribeiro da Silva, o Tio João Ribeiro, filho de meu avô, Capitão Pedro José da Silva, e de sua mulher em primeiras núpcias, Dona Otília Raimundina Ribeiro Soares da Silva, nasceu em Jerumenha (PI), no dia 30 de março de 1879, e faleceu em Balsas, no dia 17 de dezembro de 1930, aos 51 anos de idade. Era irmão de meu pai, Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e de José de Sousa e Silva, o Tio Cazuza Ribeiro, dentre outros.

  

Rosa Ribeiro e Cazuza Ribeiro

 

                        Os dois filhos de meu avô com Dona Otília Raimundina deixaram seus nomes em todas as gerações seguintes do clã. Raimundo, o primeiro, foi nominado em homenagem à mãe; João, o último, nasceu num 30 de março, dia de São João Clímaco. Como naquele sertão as palavras proparoxítonas, esdrúxulas na antiga classificação gramatical, eram de difícil pronúncia, ficou apenas João. Vinte e quatro anos depois, em 1903, novamente no dia 30 de março, nasceu outro varão na família, este o último filho de meu avô em segundas núpcias com Dona Isaura Maria de Sousa e Silva, que, sem qualquer trava-língua, lhe deu o nome de João Clímaco.

  

João Clímaco, o Tio Joãozinho

 

                        Tio João Ribeiro passou sua infância na Fazenda Brejo e, ainda muito novo, mudou-se para Floriano, onde, juntamente com o irmão Raimundo Ribeiro da Silva, o Mundico Ribeiro, ingressou na atividade comercial, tornando-se, em pouco tempo, um rapaz bem situado financeiramente na vida.

 

                        A 25 de setembro de 1909, casou-se, naquela cidade, com Maria Pereira da Silva, depois Maria Ribeiro da Silva, a Tia Marica, nascida no Loreto (MA), a 25 de maio de 1893, filha do Coronel Antônio Pereira da Silva e de Dona Hermelinda Pires Ferreira.

  

Maria Ribeiro da Silva, a Tia Marica, em 1978

 

                        Tia Marica veio a falecer em Fortaleza no dia 23 de julho de 1986, aos 93 anos de idade. Eram seus irmãos: Luís Aurélio Pereira da Silva; João Batista Pereira da Silva, casado com Nemézia Santiago Pereira; Rita Pereira da Silva, a Madrinha Ritinha, casada com José de Sousa e Silva, o Tio Cazuza Ribeiro; Corina Pereira da Silva, casada com Luís da Costa e Silva; Albertina Pereira da Silva, casada com Joaquim Evelim, o Seu Quinô; e Maria de Lourdes Pereira da Silva, casada com o farmacêutico Luiz Gonzaga da Silva, o Doutor Gonzaga.

 

                        Tio João Ribeiro permaneceu residindo em Floriano até 1910. Após o nascimento do primeiro filho do casal, Antônio Ribeiro da Silva, o Ribeirinho, a 1º de julho daquele ano, mudou-se com a família definitivamente para Vila de Santo Antônio de Balsas, onde se tornou um dos mais prósperos negociantes.

 

                        Em sua esteira e sob sua proteção, para Balsas também vieram os irmãos Cazuza Ribeiro, em 1912, Rosa Ribeiro, meu pai, em 1916, e Evarista de Sousa e Silva, casada com Manoel Maranhense Costa, o Né Costa, estes moradores da Tresidela.

 

                        Sua residência era a mais bonita da cidade e se localizava na Praça da Matriz, ocupando três quartos do quarteirão entre as Ruas 11 de Julho e Isaac Martins. À esquerda, a Casa João Ribeiro, em sociedade com Tio Cazuza, uma das mais sortidas do sertão sul-marahense; à direita, a moradia, hoje um tanto modificada, mas que ainda nos pode dar uma ideia de seu passado:

  

Casa do Tio João Ribeiro: ainda guardando muito do que foi

 

                        Naqueles primórdios, não havia estabelecimentos bancários em nosso rincão – nem assaltantes ou ladrões de cofre –, fazendo com que os comerciantes passassem um bom período amealhando o produto de suas vendas em dinheiro para, com a bolsa fornida, embarcar numa balsa de talos de buriti carregada de gêneros agropecuários e seguir rumo aos centros comerciais adiantados, onde quitariam compromissos anteriormente assumidos e adquiririam novo estoque de produtos industrializados.

 

                        No final do ano de 1926, período das enchentes, Tio João Ribeiro descia com uma grande balsa, rumo a Teresina, carregada de couros de boi, coco babaçu, passageiros e, em sua bagagem, pequena maleta contendo 30 contos de réis, considerável fortuna para a época. Já no Rio Parnaíba, chegando ao perigoso Remanso do Surubim, num dos rebojos das águas, a embarcação foi arremessada contra pontiagudo rochedo, espatifando-se por completo. Os passageiros, todos bons nadadores, lograram alcançar as margens. Um deles, agarrado a alguns talos, conseguiu segurar a maleta do dinheiro, que passava boiando a seu alcance, e levou-a intacta ao dono, o qual ficou três dias na casa de um morador à beira do rio, esperando as cédulas secarem ao sol. Como eu disse, por ali não havia assaltantes. Era no tempo em que homens tinham vergonha na cara.

  

Balsa, a embarcação mais comum naqueles tempos

 

                        O pioneirismo de Tio João Ribeiro se faz notar não só pelo fato de haver chegado a Balsas oito anos antes de sua emancipação, o que se deu em 1918, mas também pelo progresso que trouxe para a região.

 

                        Em uma de suas viagens a Floriano, ao conhecer um gasômetro a carbureto, desenhou-o e, chegando a Balsas, produziu, com a arte do funileiro José Santiago, um igual, o que fez de sua casa a primeira com iluminação a gás na cidade. Mais tarde, adquiriu moderno aparelho similar de fabricação alemã, com o qual iluminou sua casa e também parte da Praça da Matriz, instalando alguns bicos de luz em sua esquina.

  

Gasômetro a carbureto

 

                        Trouxe para Balsas a primeira máquina de escrever, uma Underwood 1913 americana, em cujo manual Tio Cazuza logo aprendeu a escrever, tornando-se o primeiro datilógrafo da cidade e causando verdadeiro encantamento nos matutos, abismados ao verem aquelas letrinhas saindo todas certinhas, alinhadas no papel.

  

Máquina de escrever Underwood

 

                        Em 1930, comprou, em sociedade com Tio Cazuza, o primeiro automóvel da cidade, um Ford, Modelo 1929, praticamente do ano, transportado do Oceano Atlântico numa barca a reboque do vapor Joaquim Cruz. No mesmo ano, o Coronel Antônio Fonseca, outro grande Patriarca balsense, faria o mesmo, trazendo um Fiat zerado. Como esses dois veículos tiveram que furar estradas para todas as paragens daquele sertão, seu tempo de duração foi curto, deles restando apenas fotos esmaecidas.

  

Ford 1929: o primeiro automóvel em Balsas

 

                        No dia 17 de dezembro daquele ano, Tio João Ribeiro veio a falecer, vítima de enfermidade que o levou, com apenas 51 anos de idade, quando se encontrava no auge de suas realizações.

 

                        Tio João Ribeiro e Tia Marica tiveram 14 filhos, cinco dos quais pereceram em tenra idade – ainda não fora descoberta a penicilina –, e adotaram um, o Augusto, filho dos cunhados Quinô e Albertina. Abaixo, a foto dos remanescentes, batida em 1940:

  

Raimundo, Aluísio, José, João, Augusto, Antônio,

Pedro, Alberto, Zenóbia e Maria de Lourdes

Os filhos, por ordem de altura

 

                        Nome completo dos filhos: Raimundo Ribeiro da Silva, o Titina; Aluísio Ribeiro da Silva; José Ribeiro da Silva; João Ribeiro da Silva Filho; Augusto Pereira Evelim; Antônio Ribeiro da Silva, o Ribeirinho; Pedro José da Silva Néto; Alberto Ribeiro da Silva; Zenóbia Ribeiro da Silva; e Maria de Lourdes Ribeiro da Silva.

 

                        Tia Marica quase não teve juventude. Casou-se aos 16 anos e, aos 37, enviuvou, recaindo-lhe sobre os ombros o peso de dar continuidade aos negócios do marido e a tarefa de educar os 10 filhos, este seu sonho maior. Assim, no ano de 1936, com dois deles já formados, Ribeirinho, Farmacêutico, e Zenóbia, Professora, mudou-se com toda a família para Teresina, transferindo, mais tarde, sua parte da sociedade na Casa João Ribeiro para meu Tio Cazuza. Depois disso, residiu em São José dos Campos (SP) e, anos após, em Fortaleza, onde veio a falecer.

 

                        Tia Marica ficou conhecida pela intransigência com qualquer pessoa que se acercasse de seus filhos com o propósito de namoro. Pequena parte disso é creditada à responsabilidade que ela assumiu, sozinha, para educar a prole. Grande parte, no entanto, deve-se ao fato que ela era possuidora de um gênio forte, de difícil convivência, osso duro de roer.

 

                        Isso descontado, pode-se dizer que foi mulher de extrema coragem, jamais esmorecendo diante das adversidades. Superou-as com galhardia e soube manter a dignidade da família, guiando-a por seus passos na vida, fazendo de cada filho um vencedor.

 

                        Um deles, o Pedro José da Silva Néto, que faleceu ainda jovem, aos 46 anos de idade, como Coronel do Exército – o Coronel Silva Néto –, criou uma estirpe que perpetuou o nome do clã para sempre.

 Coronel Silva Néto

 

                        Casou-se, em 1939, com Maria Celeste de Silva Néto, natural de Guaratinguetá (SP), com quem teve 10 filhos, dois dos quais faleceram ainda na infância. Dos oito restantes, são três moças, Nísia Maria da Silva Néto, Pedagoga e Psicóloga, Maria Auxiliadora da Silva Néto, Professora, e Teresa Cristina da Silva Néto, Pedagoga e Psicóloga. Os cinco, filhos varões, Pedro Augusto da Silva Néto, João Carlos da Silva Néto, Eduardo José da Silva Néto, Paulo Bolívar da Silva Néto e Pedro José da Silva Néto seguiram a carreira militar no Exército Brasileiro. O mais velho, o Pedro Augusto, conquistou a mais alta patente da Força, General de Exército – 4 estrelas. Os demais alcançaram a patente de Coronel. Hoje, os netos e bisnetos militares do Tio João Ribeiro espalham-se por este Brasil afora, onde não há quartel de Infantaria que não conheça um Silva Neto, nome de guerra de todos.

 

                        A seguir, fodo de Maria Celeste, falecida em 1989, com os cinco filhos militares:

 

 

                        Das filhas do primo Silva Néto tenho apenas a foto da Teresa Cristina, pessoa muito ligada à ala nordestina da família, culta, inteligente, jovial, assídua leitora de meu site, Almanaque Raimundo Floriano, razão pela qual, na minha qualidade de Cardeal da Igreja Sertaneja, cultural, sem fins religiosos, que fundei em e1972, a nomeei Madre Superiora do Convento de Araras, cidade paulista onde reside.

 

Teresa Cristina

 

                        Dos outros filhos de Tio João Ribeiro, tive contato mais aproximado com o primo Alberto Ribeiro da Silva, Contador, homem destemido, que não conhecia obstáculo intransponível, exemplo para todos nós, casado com a prima Zisile e pai de João Ribeiro da Silva Neto, o Beiró, casado com sua prima Aliete, músico polivalente, líder do Conjunto Big Brasa e colunista do Almanaque Raimundo Floriano, razão pela qual o ordenei Sacristão da Igreja Sertaneja.

  

Alberto Ribeiro da Silva e Zisile

 

João Ribeiro da Silva Neto, o Beiró, e Aliete

 

                        Tia Marica lia muito, o que a brindou com uma cultura geral razoável. Sua conversa era agradável, tanto pelo timbre de voz quanto pelas citações que apreendera dos livros. E também tinha as próprias sentenças, baseadas nas experiências vividas.

 

                        Se estava aborrecida com alguém, dizia: – Eu só quero quem me quer!; ou: – Minha gente, eu sempre ouvi dizer que a ingratidão tira a afeição! Referindo-se a pessoa orgulhosa: – É preciso ter cuidado, porque o orgulho se abate! Quando alcançava um objetivo: – Triste da coisa em que eu botar o cavalo em cima! Ao atravessar grande perigo: – Estamos com Deus e com a Santa Cruz, salvai a nós todos, Jesus! E, também: – Nas horas de Deus e da Virgem Maria!

                       

                        Muito religiosa, quando qualquer dos filhos viajava, mandava-o primeiro beijar os Santos. Para isso, tinha em casa um pequeno oratório, com imagens de todos os Santos de sua devoção. Era Zeladora do Sagrado Coração de Jesus, entidade religiosa muito antiga, à qual pertenciam quase todas as senhoras de nossa terra.

 

                        Já no fim da vida, dizia ser agradecida a Deus por ter vivido muito, para poder arrepender-se de seus pecados. Portadora de fé inquebrantável, Tia Marica soube conservá-la até seus últimos segundos na Terra.


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 19 de agosto de 2020

MEUS QUATRO TIOS FLORIANENSES DA GEMA

 

MEUS QUATRO TIOS FLORIANENSES DA GEMA

Crônica de Raimundo Floriano

 

                        Floriano sempre exerceu sobe mim, menino balsense, desde quando me entendo por gente, maravilhoso e indescritível fascínio. A começar pelo fato de meu pai, Rosa Ribeiro, registrar-me e batizar-me com o nome de Raimundo Floriano, em homenagem a sua terra natal, e também pelas histórias que ouvia, contadas por ele e por alguns de meus irmãos que ali estudaram.

 

                        A Fazenda Brejo, origem de nossa família, era, para minha cabeça de menino sul-maranhense sonhador, verdadeiro Reino Encantado, onde meus avós exerciam sua monarquia, rodeados de príncipes, princesas, duques e condes, que eram meus tios e suas proles.

 

                        Na verdade, a descendência de meu avô chegava a 17 filhos, mas apenas quatro deles nasceram, cresceram, exerceram sua atividade econômica e permaneceram em Floriano até o final de suas existências, razão pela qual os rotulo como florianenses da gema.

 

                        Para chegar às suas biografias, reporto-me a meus avós e à Fazenda Brejo, pertinho da sede do Município Florianense, onde tudo começou.

 

                        Meus bisavós, Fructuoso José Messias da Silva e Evarista Messias da Silva, eram pais de meu avô, Pedro José da Silva; Honorato José de Sousa e Lucialina Maria de Freitas e Sousa eram pais de minha avó, Isaura Maria de Sousa e Silva, nome de casada.

 

                        O Capitão Pedro José da Silva, meu avô, nasceu em Floriano, no dia 19 de abril de 1844, onde faleceu a 14 de janeiro de 1933, aos 88 anos de idade.

 

                        Foi casado duas vezes. Do primeiro casamento, com Otília Raimundina Ribeiro Soares da Silva, teve dois filhos:

                        01 - Raimundo Ribeiro da Silva, nascido no ano de 1878, em Jerumenha (PI); e

                        02 - João Ribeiro da Silva, nascido a 30 de março de 1879, também em Jerumenha.

                        Ocorrendo o falecimento de Dona Otília Ribeiro, contraiu ele segundas núpcias, a 14 de abril de 1883, na Manga (PI), com Isaura Maria de Sousa de Sousa e Silva, nascida a 21 de maio de 1860, em Floriano, cidade onde faleceu a 4 de novembro de 1941, aos 81 anos de idade.

 Pedro José da Silva e Isaura Maria de Sousa e Silva

 

 

                        Foram estes os filhos do casal:

                        01 - Fructuoso José da Silva, nascido a 13 de janeiro de 1884;

                        02 - José, nascido a 28 de outubro de 1884 e falecido no mesmo dia;

                        03 - Firmino José da Silva, nascido a 16 de outubro de 1885;

                        04 - Bernardino José da Silva, nascido a 9 de abril de 1887;

                        05 - Ondina de Sousa e Silva, nascida a 18 de agosto de 1888;

                        06 - Olindina Maria de Sousa e Silva, nascida a 7 de janeiro de 1890;

                        07 - Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, meu pai, nascido a 17 de fevereiro de 1891;

                        08 - Maria Isaura de Sousa e Silva, nascida a 23 de junho de 1892;

                        09 - Ana Aparecida de Sousa e Silva, nascida a 15 de agosto de 1893 e falecida queimada a no dia 14 de julho de 1896;

                        10 - Lucialina Maria de Sousa e Silva, nascida a 2 de dezembro de 1894;

                        11 - Evarista de Sousa e Silva, nascida a 20 de abril de 1896;

                        12 - Manoel, nascido a 29 de novembro de 1897 e falecido no mesmo dia;

                        13 - José de Sousa e Silva, o Cazuza Ribeiro, nascido a 22 de outubro de 1898;

                        14 - Júlia de Sousa e Silva, nascida a 7 de julho de 1900; e

                        15 - João Clímaco da Silva, nascido a 30 de março de 1903.

 

                        A família residia, inicialmente, na Fazenda Brejo. Mais tarde, meu avô adquiriu uma casa à Rua Fernando Marques, 698, no centro de Floriano, para que os filhos pudessem estudar e conquistar seu espaço no mercado de trabalho.

  

Fazenda Brejo e casa em Floriano: quadros de Magnólia Baptista, filha de Tia Julinha

 

                        Ocupemo-nos, agora, do perfil dos quatro tios florianenses da gema, cujos nomes se encontram acima grafados em negrito, por ordem de idade.

 

ONDINA DE SOUSA E SILVA

 

Ondina de Sousa e Silva

 

                        Ondina de Sousa e Silva, nascida na Fazenda Brejo, a 18 de agosto de 1888, casou-se, a 17 de junho de 1905, com o Capitão Abdenago Ferreira de Carvalho, passando a assinar-se Ondina da Silva Carvalho. O casal teve três filhos: Raimunda da Silva Carvalho, José Ferreira de Carvalho e Pedro Apóstolo de Carvalho, tendo criado como filha a sobrinha Maria Flory da Silva Costa, filha de Evarista de Sousa e Silva, casada com Manoel Maranhense Costa, o Né Costa, e falecida em Floriano, a 25 de abril de 1928, ainda muito jovem, com apenas 32 anos de idade.

  

Em pé: Pedro, Raimunda e José - Sentada: Maria Flory

 

                        Raimunda da Silva Carvalho, a Professora Raimundinha, nasceu a 13 de março de 1913, em Floriano, onde veio a falecer, no dia 3 de novembro de 1994. Era solteira, sem filhos, mas os tinha nas pessoas dos seis únicos sobrinhos, filhos de Pedro Apóstolo. Fundou um estabelecimento de ensino primário, a Escola Imaculada Conceição, tendo dedicado toda sua vida à Educação, não só em sua escola, como também nas diversas instituições florianenses de Segundo Grau. Seu perfil acha-se contemplado nesta Coleção, no Florianenes Volume 2.

 

                        José Ferreira de Carvalho, aos 17 anos de idade, teve a infelicidade de afogar-se no Rio Parnaíba, e seu corpo nunca foi encontrado.  Essa tragédia fez com que Tia Ondina perdesse completamente o sentido da vida

 

                        Pedro Apóstolo de Carvalho nasceu a 15 de outubro de 1921, em Floriano, onde viveu do exercício de atividades ligadas aos Comércio, vindo falecer a 16 de janeiro de 2003. Era casado com Maria do Socorro Santos Carvalho, que lhe deu os seguintes filhos: José Santos Carvalho, Antônio Augusto Santos Carvalho, Paulo Roberto Santos Carvalho, Ondina Maria Santos Carvalho, Carlos Alberto Santos Carvalho e Pedro Apóstolo de Carvalho Filho.

Acima: José, Antônio e Paulo Roberto

Embaixo: Carlos Alberto, Ondina e Pedro Apóstolo

 

                        Só depois do nascimento dos netos, Tia Ondina voltou a sentir o prazer de viver.

 

                        Maria Flory da Silva Costa, nascida a 27 de outubro de 1926, também solteira, hoje aposentada, dedicou toda sua vida profissional ao Magistério, tendo ocupado o cargo de Vice-Diretora da Escola Imaculada Conceição e lecionado em outros colégios florianenses.

 

                        Tia Ondina veio a falecer em Floriano, no dia 5 de maio de 1973, aos 85 anos de idade.

 

MARIA ISAURA DE SOUSA E SILVA

 

Maria Isaura de Sousa e Silva

 

 

 

                        Maria Isaura de Sousa e Silva nasceu em 23 de junho de 1892, na Fazenda Brejo, vindo a falecer em Floriano no dia 24 de junho de 1987, aos 95 anos de idade

 

                        Passou a infância no Brejo, tendo recebido instrução básica com os irmãos mais velhos.

 

                        Após mudar-se para Floriano, fez grande amizade com o casal Pedro Borges da Silva e Mercês que lhe propiciaram um emprego no Departamento de Correios e Telégrafos, onde trabalhou até aposentar-se.

 

                        Após a morte dos pais, passou a ser chefe de família, pois com ela moravam a irmã Júlia, com seus três filhos, de quem falarei mais adiante, e dois filhos da irmã Evarista, já falecida, a quem muito ajudara em sua enfermidade.

 Pedro Maranhense Costa

 

                        Evarista deixou-lhe um menino e uma menina. O menino era Pedro Maranhense Costa, cujo perfil se encontra no Volume 4, da Coleção Florianenses. A menina era Maria Albertina da Silva Costa, epilética, inválida, sem jamais levantar do leito, de quem Maria Isaura cuidou até seu falecimento, em 1950, aos 27 anos de idade.

 

                        Moça de grande beleza, Maria Isaura nunca se casou e, por isso, não admitia que nós, os sobrinhos, a chamássemos de tia. Era só Maria Isaura mesmo, e estamos conversados! Os irmãos a chamavam, carinhosamente, de Marica.

 

                        Além dos já citados, Maria Isaura ajudou quase todos os sobrinhos residentes em outras cidades carentes de boas escolas, que acorriam a Floriano para cursar o Ginásio, com foi meu caso e o de meu irmão Bergonsil.

 

                        Foi ela o verdadeiro esteio da família, inquebrantável e sempre ao dispor de todos!

  

Nilton, filho da Júlia; Pedro Ivo, do Cazuza; Antônio Luiz, da Júlia;

João Ribeiro, do Cazuza; e Bergonsil, do Rosa Ribeiro.

Maria Isaura, Júlia e Magnólia, sua filha.

                       

JÚLIA DE SOUSA E SILVA

 

Júlia de Sousa e Silva

 

                        Júlia de Sousa e Silva nasceu em 7 de julho de 1900, na fazenda Brejo, onde passou a infância e aprendeu a ler e escrever com o auxílio de Lucialina, uma das irmãs mais velhas.

                        Tia Julinha, como a chamávamos, casou-se, a 9 de julho e 1919, com Pedro do Monte Furtado, natural de Esperantina (PI), passando a assinar-se Júlia da Silva Furtado.

                        O casal fixou residência em Brejo de São Félix (MA), onde nasceram os dois primeiros filhos, Pedro do Monte Furtado Filho e Mizaura do Monte Furtado que não sobreviveram aos 2 anos de idade. Depois, nasceram, em Teresina, Magnólia Maria do Monte Furtado e Antônio Luiz do Monte Furtado e, por último, em Brejo de São Félix, Nilton do Monte Furtado.

 

                        Devido às más condições de saúde, principalmente a malária, Júlia mudou-se para a residência dos pais, em Floriano, com a intenção de voltar ao Brejo de São Félix, tão logo melhorasse. O medo da malária, no entanto, fez com que Júlia não quisesse retornar, e seu marido não conseguiu outro lugar para morarem.

 

                        Júlia e filhos foram ficando em Floriano, e as visitas de Pedro, diminuindo, até pararem por completo, decidindo ela, juntamente com os filhos, morarem definitivamente com os pais, em Floriano. Com a morte destes, passou a residir com Maria Isaura, que os acolheu, ajudando a criar e educar os sobrinhos como se fossem seus filhos.

 

                        Mas Tia Julinha não se constituiu num peso-morto. Para ajudar na manutenção da casa e na educação dos filhos, trabalhou ativamente nas áreas de costura, bordado e confecção de flores, além de, também, atuar como corretora da Sul América Seguros.

 

                        Como florista, deixou seu nome definitivamente inscrito na história florianense. Não há noiva, debutante ou menina de seu tempo que não tenha usado uma coroa, uma grinalda, uma tiara ou um buquê por ela confeccionados.

 

                        Através dessa profissão fez muitas amizades, e, com o suporte de Maria Isaura, conseguiu educar os filhos, que adiante se veem, num retrato de meu ilustrador, o artista plástico brasiliense Juarez Leite:

 

Antônio Luiz, Magnólia e Nilton

 

                        Antônio Luiz do Monte Furtado, recentemente falecido, formou-se em Direito, foi Professor e Funcionário do Banco do Brasil, no qual se aposentou. Magnólia Maria Furtado Baptista – nome de casada –, Professora, contraiu núpcias, em 1949, com o hoje Desembargador aposentado Raimundo Barbosa de Carvalho Baptista. Nilton do Monte Furtado cursou a AMAN – Academia Militar das Agulhas Negras, reformando-se como Coronel Engenheiro do Exército Brasileiro.

  

Magnólia e Raimundo Baptista, aos 40 anos de casados

 

                        Tia Julinha faleceu em Teresina, capital piauiense, a 28 de abril de 1973, aos 72 anos de idade.

 

JOÃO CLÍMACO DA SILVA, O COMANDANTE JOÃO CLÍMACO

 

João Clímaco da Silva

 

                        Nos anais de nossa história regional, três irmãos florianenses, de uma prole de dezessete, distinguiram-se sobraneira: Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e José de Sousa e Silva, o Cazuza Ribeiro, pelo pioneirismo na colonização de Balsas, sertão sul-maranhense, deixando sua terra natal, ali chegando antes da elevação da Vila a Município, e construindo uma descendência que hoje ultrapassa a casa dos duzentos representantes – diretos, agregados ou afins – do valoroso sangue piauiense; e o Comandante João Clímaco da Silva, cuja vida útil foi inteiramente dedicada à navegação fluvial na Bacia do Parnaíba, transportando passageiros e mercadorias e levando o progresso desde o Oceano Atlântico até as últimas povoações acessíveis à beira de seus rios, que conhecia como a palma da própria mão.

 

                        Esta coletânea, em seu Volume 3, focalizou o perfil de Rosa Ribeiro, o mais velho dos três; no Volume 4, o de Cazuza Ribeiro, o do meio; e, agora, traz ao prelo o do Comandante João Clímaco, o mais novo, como adiante se verá.

 

                        João Clímaco da Silva, filho do Capitão Pedro José da Silva e de Isaura Maria de Sousa e Silva, nasceu na Fazenda Brejo, município de Floriano, no dia 30 de março de 1903, onde viviam do cultivo da terra generosa, da criação de gado, da extração da cera de carnaúba e de derivados do coco babaçu.

 

                        Tio Joãozinho, como o chamávamos, foi o último de uma grande prole de 17 irmãos, o caçula desse grande Reinado do Capitão Pedro José da Silva.

 

                        Houve um pequeno detalhe que vale ser registrado. O Capitão foi casado, em primeiras núpcias, com Otília Raimundina Ribeiro Soares da Silva, e seu primogênito nasceu no dia 30 de março de 1879, consagrado a São João Clímaco. Como os nomes esdrúxulos – hoje proparoxítonos – eram difíceis de serem pronunciados, o menino foi batizado como João Ribeiro da Silva. Falecendo Otília, o Capitão veio a casar-se com Isaura Maria que, a 30 de março de 1903, trouxe à luz outro João. Como a mãe não tinha problemas com a pronúncia, deu ao caçula o nome do Santo do dia.

 

                        Na infância, criado na Fazenda Brejo, Tio Joãozinho se aventurava pelas trilhas da mata virgem, vadeando riachos, transpondo colinas, capturando aves com arapucas e alçapões, abatendo caças com mundéus e bodoques, por ele mesmo fabricados, e amansando burro brabo.

 

                        Levava essa maravilhosa e despreocupada existência sem atropelos, até que um dia seu irmão e padrinho de batismo Fructuoso José da Silva, o Fructo, regressando de Manaus (AM), sob influência das ideias progressistas advindas de sua permanência naquele principal centro cultural do Brasil no Ciclo da Borracha, persuadiu seus pais a mudarem-se para Floriano, objetivando a educação dos filhos menores. Para o Joãozinho, acabou-se o que era doce!

 

                        Em Floriano, ainda na adolescência, João Clímaco tornou-se reservista e, logo depois, ingressou na Marinha Mercante, na qual permaneceu até o dia de sua aposentadoria, cumprindo rapidamente estágios que foram de Marinheiro a Comandante.

 

                        Tinha ele a alma inquieta dos ciganos. O seu afã de navegar era tanto, que ele não parava, resultando-lhe disso o justo apelido de João Fogo Aceso. Subia do Delta do Parnaíba a Balsas, com sua lancha rebocando uma barca repleta de sal e mercadorias manufaturadas, viajando dia e noite, chegava ao destino, amarrava a barca, dava meia-volta com a lancha e retornava por cima do rastro, ou melhor, do banzeiro, sem sequer abaixar a labareda na caldeira.

  

Barcas aguardando para serem rebocadas

 

                        Tio Joãozinho casou-se em Balsas, no dia 7 de dezembro de1939, com a carolinense Noêmia Coelho de Souza, filha do Dr. Cosme Coelho de Souza, Juiz da Comarca, e de Dona Guilhermina Xavier Coelho, fixando residência em Floriano. Encerrava-se ali sua longa trajetória de marujo folgazão, festeiro e muito namorador. Desse matrimônio, nasceram-lhes os filhos Airton, médico, Holbaner, bancário, Suzane, professora, e Nilson, arquiteto.

 

 João Clímaco e Noêmia

 

                        João Clímaco era um navegante arrojado e destemido. Certa feita, valendo-se de sua Carta de Piloto para o Norte do País, foi desafiar os mistérios das remansosas torrentes do Rio Amazonas, na mais fascinante e arriscada aventura de sua vida. Pilotando a lancha Palmira, recém-adquirida em Manaus por seu primo João Luiz da Silva, residente em Floriano, desceu o Rio-mar tendo apenas o maquinista na tripulação, em memorável jornada, até chegarem ao Oceano Atlântico, onde a lancha foi içada para o convés de um grande navio, que a transportou até o Porto de Tutoia, no Maranhão.

 

                        Tio Joãozinho era pessoa alegre, divertida, mão-aberta e muito gozadora, qualidade esta que trouxe motivos de zangas a este seu sobrinho Raimundo Floriano, em 1949, quando, aos 12 anos de idade, fui estudar em Floriano, morando com Maria Isaura, sua irmã.

 

                        Para fazer graça e atazanar o matuto diante dos demais parentes, veio com uma história de que eu fora registrado com o nome errado. Que Floriano, antes de ter essa denominação, chamava-se Colônia de São Pedro de Alcântara. Por isso, meu nome verdadeiro seria Raimundo Colônia. E assim passou a tratar-me desde então, provocando riso e gracejos de quem estivesse por perto. Ao pronunciar colônia, falava culônia, com ênfase na primeira sílaba, exasperando-me mais ainda. Se eu me inflamasse e desse qualquer resposta dura, ele vinha, na maior seriedade, tirando uma de ofendido:

 

                        – Me respeite, que eu sou seu tio! Tenha consideração com os mais velhos! Esse menino do Rosa é muito entusiasmado!

 

                        Restava-me, então, a única opção possível: calar-me e recolher-me à minha insignificância de moleque atrevido.

 

                        Em compensação, Tio Joãozinho, de vez em quando, molhava-me a mão com um, dois e até cinco cruzeiros, o que me fazia esquecer todas as suas zombarias. Em 1956, ao abonar-me pela última vez, botou-me na mão uma pelega de dez. Aliás, essa sua generosidade é reconhecida hoje por quase todos os seus sobrinhos. A chegada da lancha Tambo em Balsas era sinal de algum dinheirinho no bolso da meninada.

 

                        Seu nome está indissoluvelmente ligado ao desenvolvimento do Sul do Maranhão e do Norte de Goiás, atual Tocantins. Figurando entre os pioneiros navegadores do Rio Balsas, percorreu, por quase meio século, seus sinuosos canais e os estirões do Rio Parnaíba, levando em suas barcas, fabricadas nos estaleiros da Sambaíba (MA), mercadorias vitais para a sobrevivência, não somente das populações ribeirinhas, mas de outras mais distantes, radicadas em vastas regiões do Maranhão, Piauí e Goiás.

 

                        A carga de suas barcas incluía sempre o sal, que lhes servia de lastro, trazido das salinas de Amarração, no Oceano Atlântico, que descansava algum tempo nos armazéns de negociantes de Balsas, para depois prosseguir viagem, nas tropas de burros ou em caminhões, alcançando longínquas fazendas, povoados, vilas e cidades além do Rio Tocantins.

 

                        Com o fim da Segunda Guerra Mundial, ficou fácil o acesso aos derivados de petróleo. Mais baratos que a lenha, já então escassa, o óleo diesel, a gasolina e o óleo cru foram, gradativamente, determinando a substituição das máquinas a vapor pelos motores a explosão, iniciando-se, assim, o encerramento do ciclo da navegação fluvial de longo curso, substituída, pouco a pouco, pelo transporte rodoviário.

 

                        Mesmo assim, Tio Joãozinho, bem como outros bravos navegadores do seu quilate, continuou a singrar aquelas águas, obstinadamente, agora em barcos popularmente denominados “motores”, propulsionados por modernas máquinas cujo combustível era derivado do petróleo.

 

                        São dessa última fase os seus motores João Fernandes, São Pedro e Mensageira de São Benedito.

 

                        Encerrou-se, com a desativação das máquinas a vapor, a fase romântica da navegação na Bacia do Parnaíba. Os motores não tinham o mesmo encanto dos vapores e lanchas. Faltavam-lhes, por exemplo, o apito triunfal que anunciava as chegadas, e o apito saudoso, que assinalava as partidas, belos, maviosos, altissonantes, fazendo tremer a terra. Os apitos dos motores, por sua vez, eram quase inaudíveis a grande distância.

 

                        A construção da Barragem de Boa Esperança, iniciada efetivamente em julho de 1963, dada a ausência de eclusas, tornou inviável a navegação no Alto Parnaíba. Embora resistindo por alguns anos no que ainda lhe restava do rio, o Comandante teve de se render, por fim, à aposentadoria, passando a viver o resto dos seus dias na rememoração dos feitos inesquecíveis, na saudade perene dos rios, de seus marinheiros e de seus barcos.

 

                        João Clímaco deixou saudades nas barrancas por onde navegou. A marca dos seus cabos de aço trançado, usado nas espiadas, ficou indelével em cada tronco de gameleira à margem das corredeiras do Rio Balsas e das cachoeiras e rasos do Rio Parnaíba.

 

                        Particularmente, para seus sobrinhos balsenses, foi o herói legendário que, regressando de mundos distantes, apitava na volta do rio, junto à Quinta do Olindo Solino, convidando-os para uma viagem triunfal até o Porto da Rampa. Sempre lhes trazia pequenos presentes: bola de futebol, bombom de apito, barra de chocolate, carrinho de flandre, boneca de louça para as meninas, e até mesmo um trocadinho, como já foi dito. Era o príncipe mais famoso da Corte do Brejo!

 

                        Tio Joãozinho faleceu no dia 22 de setembro de 1998, em Floriano, aos 95 anos de idade.

 

Última foto de João Clímaco e Noêmia

 

                        A seguir, um pequeno perfil das três embarcações que mais marcaram sua vida de navegador: Chile, Tambo e Palmira.

 

VAPOR CHILE 

            Vapor especialmente projetado para operar como rebocador e no transporte de passageiros, era o mais belo gaiola de toda a Bacia do Parnaíba. Foi a embarcação de maior importância na vida de João Clímaco, que a comandou por muitos anos e em diversas oportunidades.

 

                        Na Década de 1950, foi retirado da navegação de longo curso, para fazer a linha regular entre Teresina e Floriano.

 

                        O comprimento de seu casco, cerca de 40 metros, quase o impossibilitava de navegar pelo canal do Rio Balsas, de tal modo que somente conseguia fazer a curva no Porto do Fonseca, com a popa encostada na Tresidela, em marcha a ré, e a proa roçando as areias da margem oposta. Sua máquina era extremamente silenciosa, quase um sussurro quando em funcionamento. Seu apito, ao contrário, era de potência estrondosa, com sonoridade de incomparável beleza.

 

Vapor Chile - Acervo Noêmia Coelho da Silva

 

                        Quando o Chile apitava no Vale do Morro da Arara, em Amarante, a terra estremecia e a montanha devolvia o som em sequências e ecos quase infindáveis. Em Balsas, seu apito era ouvido em pleno dia, antes mesmo de cruzar a linha de entrada do igarapé, na Barra do Cachoeira, a uma distância de mais de 12 quilômetros.

 

                        Originariamente registrado com o nome de Netuno, ao ser adquirido pelo armador João Luiz da Silva, primo de João Clímaco, passou a chamar-se Chile.

 

LANCHA TAMBO

 

Lancha Tambo - Acervo Noêmia Coelho da Silva

 

                        Lancha rebocadora construída especialmente para navegar em rios de pequena profundidade. As linhas de seu casco esguio e longilíneo eram de impressionante beleza. Seu nome significava tálamo, ou leito nupcial.

 

                        Quando em movimento, balançava graciosamente e, com o simples passar de uma pessoa por um dos lados do seu convés, chegava a adernar.

 

                        O Comandante João Clímaco afeiçoou-se a ela de tal forma que, tendo-a comandado em várias oportunidades como empregado, veio a adquiri-la. Seu dono anterior, o primo João Luiz da Silva, detinha, com ela e o Chile, a posse do Casal 20 do Rio Balsas.

 

                        Em face do seu pequeno calado, era a única embarcação a hélice a transpor os rasos do Rio Balsas, no pico das águas baixas.

 

                        Certa madrugada de chuva, navegando no Baixo Parnaíba, no momento em que ia virar para bombordo, um trovão impediu que o mestre da barca por ela rebocada ouvisse o toque de apito do prático anunciando a manobra e solicitando o afrouxamento do cabo de reboque respectivo, daí resultando que ela adernou além da conta e naufragou. Chegando a estação das águas baixas, foi resgatada, voltando a navegar normalmente como dantes.

 

LANCHA PALMIRA

 

Lancha Palmira - Acervo Noêmia Coelho da Silva

 

                        Lancha rebocadora de casco curto, largo, de proa em linhas quase curvas, contrastava com a Tambo em elegância, beleza, potência, comprimento, estabilidade, força, velocidade e calado.

 

                        Projetada para singrar em águas profundas, somente podia navegar no Rio Balsas na estação das cheias, embora tenha sofrido redução de calado para adaptar-se às condições da Bacia do Parnaíba.  Mesmo assim, vez em quando, encalhava.

 

                        Foi um dos rebocadores mais possantes dos áureos tempos da navegação a vapor naquela bacia. Sua máquina, de fabricação alemã, era pequena e delicada. Comparada às congêneres francesas e inglesas, distinguia-se pela leveza de suas linhas, mais parecendo uma joia do que potente máquina. Quem a visse em repouso, jamais poderia imaginar seu fantástico desempenho.

 

                        Vencia as corredeiras do Rio Balsas sem recorrer a espiadas. Foi a única rebocadora a transpor o encachoeirado da Volta do Rio sem se valer do guincho.

 

                        Em sua primeira viagem subindo o Rio Balsas, assombrou a todos por sua velocidade, ultrapassando outras embarcações que haviam largado de Floriano até com uma semana de vantagem.

 

                        O Comandante João Clímaco ligava-se a cada um desses três barcos que comandou por sentimentos diferentes: ao Chile, pela saudade, à Tambo, pelo amor, e à Palmira, pelo orgulho.

 

MOTOR MENSAGEIRA DE SÃO BENEDITO

 

                        Os motores, com seus cascos de madeira fabricados por ali mesmo e máquinas a óleo diesel, apresentaram grandes vantagens sobre os vapores e lanchas, até que, também, se tornassem economicamente inviáveis.

 

                        Eram rápidos, transportavam passageiros no piso superior e até podiam dispensar reboques, pois carregavam cerca de quarenta toneladas de mercadoria em seus porões.

 

                        O Comandante João Clímaco possuiu três deles: São Pedro, Mensageira de São Benedito e João Fernandes. Mensageira de São Benedito era, deduzindo-se pela foto, cópia fiel do João Fernandes.

  

Mensageira de São Benedito - Acervo Noêmia Coelho da Silva

 

                        No ano de 2003, nas comemorações do Centenário do Comandante João Clímaco, seu sobrinho José Albuquerque e Silva, o Carioquinha, meu irmão, filho do Rosa Ribeiro, prestou-lhe significativa homenagem nesta publicação, com tiragem de 1.000 exemplares, que também serviu de roteiro na redação deste perfil:

  

 

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                        Aos 84 anos de idade, ainda sinto, mercê de Deus, imenso prazer ao falar sobre meus antepassados, principalmente diante do apoio recebido por parte de Teodoro Ferreira Sobral, o Teodorinho, que, com a Coleção Florianenses, vem resgatando a história de vultos, em sua maioria, até agora, esquecidos por seus conterrâneos.

 

                        Termino aqui minha crônica sobre essas três princesas e esse príncipe encantados, da Corte do Brejo, Reinado de meu avô, dos quais tanto embevecimento e magia maravilhosamente povoaram a sonhadora cabeça deste menino do sertão sul-maranhense!

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas domingo, 16 de agosto de 2020

CAZUZA RIBEIRO (JOSÉ DE SOUSA E SILVA), PIONEIRO NA COLONIZAÇÃO DE BALSAS

 

CAZUZA RIBEIRO (JOSÉ DE SOUSA E SILVA), PIONEIRO NA COLONIZAÇÃO DE BALSAS

Raimundo Floriano

Cazuza Ribeiro

 

                        Três irmãos florianenses, de uma prole de dezessete, distinguiram-se em nossa história regional: Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e José de Sousa e Silva, o Cazuza Ribeiro, pelo pioneirismo na colonização de Balsas, sertão sul-maranhense, deixando sua terra natal, ali chegando antes da elevação da Vila a Município, e construindo uma descendência que hoje ultrapassa a casa dos duzentos representantes – diretos, agregados ou afins – do valoroso sangue piauiense; e o Comandante João Clímaco da Silva, cuja vida útil foi inteiramente dedicada à navegação fluvial na Bacia do Parnaíba, transportando passageiros e mercadorias e levando o progresso desde o Oceano Atlântico até as últimas povoações acessíveis à beira de seus rios, que conhecia como a palma da própria mão.

 

                        Esta coletânea, em seu volume 3, focalizou o perfil de Rosa Ribeiro, o mais velho dos três. Agora, trazemos ao prelo o do meio, Cazuza Ribeiro, como adiante se verá.

Pedro José da Silva e Isaura Maria de Sousa e Silva

 

                        José de Sousa e Silva, o Cazuza Ribeiro, filho do Capitão Pedro José da Silva e de Isaura Maria de Sousa e Silva, nasceu na Fazenda Brejo, município de Floriano, no dia 22.10.1898, onde viviam da atividade agropecuária. Pertencia a uma prole de 17 filhos. Os dois mais velhos, Raimundo Ribeiro da Silva e João Ribeiro da Silva, nascidos em Jerumenha (PI), provinham de casamento paterno anterior, com Otília Raimundina Ribeiro da Silva, deles derivando-se o sobrenome com que alguns dos demais ficaram para sempre conhecidos.

 

                        Eram seus avós paternos Fructuoso José Messias da Silva e Evarista Messias da Silva; e maternos, Honorato José de Sousa e Lucialina Maria de Freitas e Sousa.

  

Fazenda Brejo: Quadro de Magnólia Baptista

           

                            Na infância, seus pais se mudaram para Floriano, com o intuito de providenciarem a necessária educação escolar aos filhos menores. Naquela cidade, Cazuza trabalhou na casa comercial de Raimundo Ribeiro da Silva, o Mundico, seu irmão por parte de pai.

Floriano: Casa da família - Quadro de Magnólia Baptista

 

                        Em 1912, com apenas 14 anos, mudou-se para Balsas, onde foi trabalhar com outro meio-irmão, o também comerciante João Ribeiro da Silva, ali estabelecido, casado com Maria Ribeiro da Silva, a Marica Pereira, sendo admitido posteriormente na firma como sócio.

 

                        Também em Balsas, em 1916, viria a residir outro irmão, Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro. Rosa e Cazuza ficaram conhecidos, de fato, com o sobrenome “Ribeiro”, por causa desse irmão mais velho.

 

                        Sendo Cazuza um homem muito bonito, e com seus negócios a prosperar, poderia ter namoradas em cada canto da cidade. Afortunadamente, o verdadeiro amor bateu cedo à sua porta, destinando-lhe como a mulher de sua vida Rita Pereira da Silva, a Ritinha Pereira, irmã de Marica Pereira, sua cunhada. Casaram-se em 6.12.1919, jamais transferindo sua residência de Balsas

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Cazuza Ribeiro e Ritinha Pereira

 

                        Desse casamento, vieram-lhes 10 filhos: Antônio, médico, Esmaragdo, desembargador, Raimundo, químico industrial, Manoel, general, Maria Violeta, autodidata, Maria Iracy, autodidata, Pedro Ivo, contabilista, João Ribeiro, funcionário público, José, o Cazuzinha, médico, e Izaura Maria, publicitária, além do sobrinho Ludovico Evelim, bancário, criado como filho. O casal proporcionou a todos, com grandes sacrifícios, mas com muita clarividência, educação escolar esmerada, mandando-os para o estudo em centros mais adiantados, como Floriano, Teresina, São Luís, Fortaleza, Belo Horizonte, Belém e São Paulo.

 

                        A seguir, a única foto de todos os filhos reunidos, tirada nas comemorações dos 80 anos de Ritinha Pereira, em 1977, 25 anos após o falecimento de Cazuza:

 

Ludovico, Esmaragdo, Izaura, Ritinha, João Ribeiro, Antônio, Iracy e Manoel;

Pedro Ivo, Raimundo, Ilza (neta), Cazuzinha e Violeta

 

                        Na casa de seu irmão Rosa Ribeiro, casado com Maria Bezerra, também os filhos eram dez, Formando, assim, a maior família da cidade. Brincando nos mesmos quintais, comendo das mesmas panelas, estudando nas mesmas escolas, vivendo as mesmas alegrias e tristezas, compunham uma comunidade admiravelmente fraternal, e isso se confirma com os casamentos acontecidos na família: Raimundo casou-se com Maria Alice, sua prima, e Izaura Maria, com o primo Bergonsil.

 

                        Merece especial atenção a casa de Cazuza Ribeiro e Ritinha Pereira. Antes mesmo da elevação da Vila de Santo Antônio de Balsas à categoria de cidade, em 1918, ela já existia, imensa e bela, com sua arquitetura característica daqueles pioneiros tempos! A seguir, vemo-la em foto batida no dia 3l de dezembro de 1960, data do casamento de Izaura e Bergonsil, quando os noivos se dirigiam ao altar da Matriz de Santo Antônio de Balsas:

Izaura e Bergonsil, familiares e amigos - Foto de Raimundo Floriano

 

                        Além de abrigar confortavelmente a enorme família, seu quintal e sua cozinha eram uma espécie de reino encantado, onde se produziam, nos fogões a lenha e fornos de barro, as iguarias típicas de nosso sertão, paralelamente a pratos elaborados, sem falar na deliciosa bebida Perobina, espécie de licor, cuja fórmula secreta era relíquia do clã.

 

                        Sua varanda senhorial era também o clube balsense, onde se realizaram as mais deslumbrantes festas a rigor da cidade e onde, anualmente, se brincava o Carnaval. Ali, no início de 1950, Cazuza e Ritinha tiveram a chance de festejar o que viria a ser a última reunião dos 10 filhos com o casal, em comemorações que duraram quase um mês.

 

                        Na esquina desse velho solar, funcionava a Mercearia Ideal, sob a direção de Ritinha, com mesas de bilhar e de sinuca, venda de bebidas em geral e gêneros alimentícios de toda espécie. Este casarão foi inovador ao possuir, em Balsas, o primeiro dínamo gerador de energia elétrica, a primeira bomba d’água, o primeiro rádio, a primeira geladeira, a primeira sorveteria, bem como ter o primeiro automóvel, um Ford 1929 – em sociedade com o irmão João Ribeiro –, estacionado em sua porta. Esse carro, posteriormente, passou a ser propriedade exclusiva de Cazuza. Devido à foto original encontrar-se completamente esmaecida, aqui vai sua cópia, reprodução a cargo do artista Juarez Leite:

 

                        Com o falecimento de seu irmão João Ribeiro, em 1930, a sociedade passou a viger com a viúva, que se mudou para Teresina, algum tempo depois, premida pela necessidade de oferecer aos filhos estudos mais avançados.

 

                        Desfeita a sociedade, começou Cazuza a negociar por conta própria. Seu estabelecimento comercial, na hoje Praça Getúlio Vargas, era conhecido como Casa Violeta, nome de fantasia, e nele se vendia de um tudo: tecidos, louças, ferragens, sapatos, perfumes, material escolar e, até, medicamentos. Durante muitos anos, seu irmão rosa Ribeiro o auxiliou na administração dessa loja.

 

                        Cazuza operou, ininterruptamente, no ramo de distribuição de sal grosso, mercadorias manufaturadas em geral, inclusive tecidos, e na compra e venda de couros de boi, peles silvestres e todos os demais gêneros que se comercializavam na região naquela época.

 

                        Expandindo seus negócios, fundou empresa comercial individual, depois transformada em sociedade, denominada Silva & Cia., na cidade de Xerente (GO), hoje Miracema-(TO), sob a direção de seu sobrinho, Pedro Silva, Filho do Rosa, nela admitido como sócio, transferida para Carolina (MA) em 1950.

 

                        Sua empresa de navegação fluvial iniciou-se com o motor Pedro Ivo e a barca Macapá e, posteriormente, ampliou-se com o lançamento do motor Ubirajara, todos construídos na cidade de Sambaíba (MA), este em sociedade com o Comandante Luiz Barbosa. Destinava-se o Ubirajara, principalmente, a transportar óleo combustível em tambores de 200 litros para a Geofísica, empresa que, a serviço do Conselho Nacional do Petróleo – CNP, mais tarde Petrobras, pesquisava o ouro negro em nossa região.

Motor Pedro Ivo

Motor Ubirajara e barca Macapá, na Rampa de Balsas

 

                         Cazuza era proprietário de dois grandes armazéns de madeira, onde se estocavam querosene e gasolina, em latas de 18 litros, e, principalmente, o sal grosso, que vinha de Parnaíba em barcas rebocadas por vapores, lanchas ou motores, algumas com capacidade em torno de 100 toneladas. Além disso, possuía uma usina de beneficiamento de arroz, esta localizada no Porto da Rampa.

 

                        Atuou no ramo do transporte de Balsas para Carolina, adquirindo dois caminhões, um Chevrolet 1949, o São José, e um Ford 1951, o São Pedro. Tinham estes como choferes, respectivamente, Francisco Farias, o Chico Cearense, e Miguel Lima, o Miguelzinho. Naquele tempo, esses caminhões transportavam carga e, em cima dela, passageiros, que superlotavam as carrocerias, pois os ônibus ainda não existiam por lá.

 

                        Proprietário das fazendas Canto Alegre, que adquiriu em 1932, e Brejo Comprido, comprada tempos depois, Cazuza negociou também como pecuarista, organizando boiadas, que seguiam para o Litoral, tendo nessa empreitada seu sobrinho afim Pedro da Costa e Silva, boiadeiro por vocação e ofício.

 

                        Representou a famosa Casa Inglesa, firma importadora de Parnaíba, em todo o sul do Maranhão e Norte de Goiás, hoje Tocantins. Além disso, comprava mercadorias, para revenda em Balsas, nos principais centros comerciais, como Teresina, Parnaíba, Belém, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo.

 

                        No ano de 1947, fabricou miniaturas de pontes, com talos de buriti, protótipos a serem apresentados numa grande licitação levada a efeito pela empresa Geofísica. Saindo-se vencedor com seu projeto, construiu as pontes reais, de madeira, na estrada carroçável Riachão – Balsas, passando pelo vilarejo Vargem Limpa, que perduraram incólumes até que outras de concreto, muitos anos depois, as substituíssem.

 

                        Cazuza era um grande aficionado do futebol. Apoiava todos os times locais, não importando sua torcida pessoal, e promovia jogos da Seleção Balsense em cidades próximas. Fornecia uniformes e demais equipamentos para os times, nada cobrando deles. Mandava cercar o campo de futebol com peças e mais peças de tecido – algodãozinho –, por ocasião dos grandes eventos esportivos, para que fosse possível a cobrança de ingressos.

 

                        Por esse motivo, ao ser construído o estádio municipal da cidade, recebeu ele o nome de Cazuza Ribeiro. A Câmara de Vereadores de Balsas novamente o homenageou, denominando Cazuza Ribeiro uma das principais ruas do município.

 

Estádio Municipal Cazuza Ribeiro

 

                        Sua personalidade de grande empreendedor e cidadão sério o fez respeitado e bem conceituado não só em Balsas, mas também nas várias cidades com as quais mantinha contatos os mais diversos.

 

                        Ao falecer precocemente, no dia 27.6.1952, com apenas 53 anos de idade, em São Luís (MA), vítima de complicações hepáticas, deixou não apenas sua família, mas toda a cidade de Balsas, em sincera consternação, num luto a que, embora não fosse oficial, a inteira população balsense inconsolável e voluntariamente se entregou.

 

                        E levou quase um ano sem que se realizasse ali qualquer tipo de festa, demorando muito para que a alegria se reinstalasse em nossas plagas, todos relembrando aquele grande homem, Cazuza Ribeiro, que foi um exemplo de vida para sua imensa família e também para todos os seus concidadãos!

 

PROLE DE CAZUZA RIBEIRO E RITINHA PEREIRA, ATÉ O SEGUNDO GRAU:

Antônio Pereira e Maria das Mercês Paz e Silva

 

                        Antônio Pereira da Silva Neto casou-se com Maria das Mercês Paz e Silva, tendo os seguintes filhos: José de Sousa e Silva Junior, Carminda Elizabeth Silva Rochel, Esmaragdo de Sousa e Silva Sobrinho e Rita Bernadete Paz e Silva.

 

Esmaragdo de Sousa e Silva e Yolanda Borges e Silva

 

                        Esmaragdo de Sousa e Silva casou-se com Yolanda Borges e Silva, tendo eles o filho José de Sousa e Silva, o Cazuza Ribeiro.

Ludovico Evelim Pereira e Neusa Costa Evelim Pereira

 

                        Ludovico Evelim Pereira casou-se com Neusa Costa Evelim Pereira, tendo os seguintes filhos: Elói Costa Evelim Pereira e Ana Albertina Evelim Pereira.

 

Raimundo de Sousa e Silva e Maria Alice Albuquerque e Silva

 

                        Raimundo de Sousa e Silva casou-se com Maria Alice Albuquerque e Silva, sua prima, tendo os filhos Pedro Ivo de Souza e Silva Sobrinho, Maria Isaura da Silva Fonseca e Raimundo de Sousa e Silva Filho.

  

Manoel de Jesus e Silva e Gracy Santos e Silva

 

                        Manoel de Jesus e Silva casou-se com Gracy Santos e Silva, tendo os seguintes filhos: Fábio Santos e Silva, Marcelo Santos e Silva, Márcio Santos e Silva e Fernando Santos e Silva.

 

Maria Violeta e Silva Kury e Roosevelt Moreira Kury

 

                        Maria Violeta e Silva Kury, florianense, casou-se com Roosevelt Moreira Kury, tendo os seguintes filhos: Márcia Kury Carneiro, Nívia Silva Kury Mendes, José Elias Silva Kury, Cristina Silva Kury Chaves, Winston Silva Kury, Roosevelt Kury Filho e Ilza Silva Kury.

Maria Iracy e Silva Neiva e Adelmar Neiva de Souza

 

                        Maria Iracy e Silva Neiva casou-se com o florianense Adelmar Neiva de Souza, tendo os seguintes filhos: Esmaragdo e Silva Neiva, José de Sousa e Silva Neto, Antonio Estevam e Silva Neiva e Fernanda e Silva Neiva.

 

Pedro Ivo de Sousa e Silva e Leonor Bonfim e Silva

 

                        Pedro Ivo de Sousa e Silva casou-se com Leonor Bonfim e Silva, tendo os seguintes filhos: Adelmar Bonfim e Silva, Eduardo Bonfim e Silva, Marília Bonfim e Silva de Moraes e Cacilda Bonfim e Silva.

 

João Ribeiro da Silva Sobrinho e Maria da Conceição Piedade da Silva

 

                        João Ribeiro da Silva Sobrinho casou-se com Maria da Conceição Piedade da Silva, tendo os seguintes filhos: José Heitor Piedade da Silva, Flávio José Piedade da Silva, Luciano José Piedade da Silva e Rita de Cássia Piedade da Silva.

José de Sousa e Silva Filho e Ana Paula Soares de Sousa e Silva

 

                        José de Sousa e Silva, o Cazuzinha, casou-se com Maria Eterna de Paiva e Silva, tendo com ela os seguintes filhos: José de Sousa e Silva Filho e Erika Paiva e Silva. Após enviuvar-se, casou-se com Ana Paula Soares de Sousa e Silva, com quem teve a filha Valéria Soares de Sousa e Silva.

  

Izaura Maria de Sousa e Silva e Bergonsil de Albuquerque e Silva

 

                        Izaura Maria de Sousa e Silva casou-se com seu primo Bergonsil de Albuquerque e Silva, tendo os seguintes filhos: Valéria de Albuquerque e Silva e Maurício de Albuquerque e Silva.

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas terça, 04 de agosto de 2020

SPES UNICA! (POEMA DO CEARENSE QUINTINO CUNHA)

 

 

Morto, dentro da fria sepultura,

Sem te poder falar?

E tu que me amas, boa criatura,

Indo me visitar...

 

Banhada de suspiros, de soluços,

Desmaiada, talvez...

Muita vez reclinada, até de bruços,

Na altura dos meus pés...

 

Pedindo a Deus o meu viver eterno

Junto das glórias suas;

Que me livre das penas do inferno,

E a chorar continuas,

 

Lembrando nossa vida, a todo instante,

Repassada de dor...

A lembrar-te que fui o teu amante

— O teu único amor!

 

Mal pensando na horrífica caveira,

Em que me transformei,

Exausto de fadiga, de canseira,

Imaginar não sei...

 

Para evitar essa hora amargurada,

Esse quadro de dor, tão verdadeiro,

Deus há de ser servido, minha amada,

Que tu morras primeiro!...


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 30 de julho de 2020

AINDA NÃO SEI O QUE SOU, MAS REPAREM COMO ME VEEM

 

AINDA NÃO SEI O QUE SOU, MAS REPAREM COMO ME VEEM

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas domingo, 19 de julho de 2020

MAGNÓLIA BAPTISTA, PRIMA QUERIDA, SE ENCANTOU – FOI REENCONTRAR-SE COM O MARIDO, RAIMUNDO BAPTISTA

 

MAGNÓLIA BAPTISTA, PRIMA QUERIDA, SE ENCANTO, AOS 94 ANOS DE IDADE

FUI REENCONTRAR-SE COM O MARIDO, RAIMUNDO BAPTISTA

Raimundo Floriano

 

 Magnólia, aos 20 anos

 

Magnólia Maria Furtado Baptista nasceu a 8 de março de 1926, em Teresina (PI), filha de Pedro do Monte Furtado e de Júlia de Sousa e Silva, a Tia Julinha, irmã de meu pai.

 

O casal, por motivo de saúde, levou a família para Floriano (PI), indo residir na casa de nosso avô, Capitão Pedro José da Silva, menos o pai, que retornou a Parnarama (MA), onde tinha comercio.

 

Em Floriano, Magnólia fez o Primário e estudou na Escola Normal Regional. Depois, foi estudar em Teresina, para obter o diploma do Curso Pedagógico. Graduada, voltou para Floriano, onde passou a lecionas.

 

Ela herdou de Tia Julinha o dom da arte, principalmente na confecção de flores, buquês, grinaldas e adereços diversos, além de escrever contos e poesias, desenhar, pintar, cantar e encantar. Como florista, foi mão forte a ajudar financeiramente o marido, quando a manutenção prole assim o exigiu. Era, também, Ministra da Eucaristia da Igreja Católica.

 

A 31 de maio de 1949, casou-se com Raimundo Barbosa de Carvalho, Juiz de Direito em Guadalupe (PI) e futuro Desembargador de Justiça, residindo, a partir de então, em várias cidades piauienses, em decorrência do ofício do marido. O casal construiu numerosa e invejável prole, com 8 filhos, 22 netos e 24 bisnetos.

 

Em seu tempo de solteira, Magnólia passou duas férias em Balsas, alternando em nossa casa e na do Tio Cazuza. Na primeira delas, em 1940, participou, com Maria Alice, minha irmã, de sua idade, Violeta e Iracy, nossas primas, e outras jovens da cidade, do famoso Reis de Dona Antônia. Ficou-nos este registro:

 

 Magnólia é a primeira de preto, à esquerda

 

Também ficou registrado este especial momento com nossa família; sendo eu esse marinheiro de cabelos cacheados, aos 3 aos de idade:

 

 Magnólia e a terceira em pé, da esquerda para direita

 

Raimundo Baptista entregou a alma a Deus em abril deste ano. Ontem, 18 de julho, foi a vez da Magnólia. Vão-se os entes queridos, ficam a saudade, seus exemplos, sua bondade. Raimundo, além de livros jurídicos e didáticos, deixou as peripécias – muitas! – de que foi ator em Histórias de um Bom Malandro. Magnólia, por sua vez, manda ver em Lembranças, Dons e Artes, contendo, além de sua biografia, depoimento de cunho sociológico preciosíssimo sobre o tempo em que, na infância, morou na Fazenda Brejo, de nosso avô, Capitão Pedro José da Silva.

Falar nisso, vou contar-lhes um lance, para que vocês tenham pequena ideia de seu talento. Em 2013, quando eu preparava os originais de Pétalas do Rosa – Emigdio Rosa e Silva, meu pai, era conhecido como Rosa Ribeiro –, telefonei-lhe perguntando se possuía alguma foto da Fazenda Brejo e da casa em que nosso avô residia em Floriano. Ela disse que não, mas que iria pintá-las pois tinha tudo na lembrança. E o resultado aí está:

 Fazenda Brejo

 

 Casa de nosso avô em Floriano

 

Em 2002, 45 anos após ter saído do Piauí para conquistar o sul-maravilha, voltei a Teresina, juntamente com Veroni, minha mulher, para assistirmos às comemorações de seu Sesquicentenário de Fundação, que ocorreriam a partir de 16 de agosto. Naquele mesmo dia, ciceroneados pelo primo Airton Coelho, fizemos uma visita ao casal Raimundo/Magnólia, que nos recebeu carinhosamente, de braços abertos, não faltando café, doces, bolos e tudo o mais. Esta é a última lembrança que tenho deles:

 

 

 Raimundo e Magnólia

 

Magnólia, prima querida, segure na não de Deus e vá!

 

 

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 15 de julho de 2020

ECOS DE MEU 84º ANIVERSÁRIO - AGRADECIMENTOS PELAS MENSAGENS AO VIVO

 

ECOS DE MEU 84º ANIVERSÁRIO

AGRADECIMENTOS PELAS MENSAGENS AO VIVO

 

Fiz este vídeo para agradecer a todos os parentes e demais amigos que me enviaram cumprimentos ao vivo pela passagem de meu 84º Aniversário.

 

Para mostrar que Deus continua a me agraciar com magnífica memória, nele declamei a poesia Orgulhosa, do maranhense Gonçalves Dias.

 

Falarei sobre ele mais longamente no vídeo. Antônio Gonçalves Dias nasceu em Caxias (MA), no dia 10 de agosto de 1823 e faleceu no naufrágio do navio francês Ville de Boulogne, na costa de Guimarães (MA), no dia 3 de novembro de 1864, aos 41 anos de idade.

 

Em sua carreira diplomática, viajou várias vezes à Europa, a serviço, mas a última foi a Portugal para tratamento de saúde. Sua poesia mais conhecida é Canção do Exílio, cuja primeira estrofe diz: Minha terra tem palmeiras/Onde canta o sabiá/As aves que aqui gorjeiam/Não gorjeiam como lá. E termina assim: Não permita Deus que eu morra/Sem que volte para lá/Sem que desfrute os primores/Que não encontro por cá/ Sem qu’inda aviste as palmeiras/Onde canta o sabiá.

 

Pois bem, por ironia do destino, retornando ao Brasil, já perto da terra maranhense, o navio naufragou, e todos – passageiros e tripulantes – se salvaram, menos ele, por se encontrar na cabine, no leito, ainda enfermo, não tendo encontrado a cura em Portugal.

 

OS DEPOIMENTOS SÃO ACESSÁVEIS CLICANDO-SE MESTE LINK:

http://www.raimundofloriano.com.br/views/Comentar_Post/ecos-de-meu-84-aniversario-homenagem-da-cacula-MmgNFutQ045hNWKSpynm

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 08 de julho de 2020

ECOS DE MEU 84º ANIVERSÁRIO - HOMENAGEM DA CAÇULA

 

Minha caçula é a alegria em pessoa. Curtidora da boa música, festas e carnaval, sempre me acompanha ao Bloco Pacotão, no qual venho presidindo, há algum tempo, o Corpo de Jurados para a escolha da marchinha do ano. Bamba em informática, produziu, em segredo, juntamente com a primogênita, uma bela surpresa para comemorar meu 84º aniversário, o que me levou às lagrimas: vídeo com depoimentos de pessoas – parentes, professores e colegas de malhação, colaboradores de meu site e demais amigos – que fizeram parte importante nesta minha existência que Deus, em sua infinita bondade, vem concedendo e abençoando.


A seguir, o resultado desse trabalho, dividido, por motivos operacionais,  em duas partes.

PRIMEIRA PARTE

SEGUNDA PARTE

 

TEXTO DA CAÇULA AGRADECENDO A TODOS OS PARTICIPANTES:

 

Hoje, meu pai, Raimundo Floriano, completa 84 anos e também 110 dias de total isolamento social.


Chegar aos 84 anos com tanta disposição, saúde, sabedoria, lucidez, autonomia e criatividade não é fácil. Meu pai celebra esta data com grandes feitos: publica diariamente em seu site Almanaque Raimundo Floriano crônicas e notícias da atualidade e da cultura com a colaboração de amigos; lê mais de 100 livros por ano; faz exercícios físicos diariamente; se alimenta muito bem; contribui com a propagação da música brasileira disponibilizando seu acervo de partituras e músicas, principalmente marchinhas carnavalescas; foi precursor do carnaval de Brasília; publicou cinco livros que são crônicas divertidas, sendo que algumas resgatam sua raiz em Balsas, Maranhão, e são fontes históricas para a posteridade; e todo dia continua exercitando sua criatividade.


Manter-se ativo e criativo é o que o conserva vivo, forte e positivo ao longo da sua trajetória e também nesse período de quarentena.


Claro que um bocado de fé, sorte, prudência, dinheiro no bolso e canja de galinha não fazem mal a ninguém e também ajudaram muito!


E como a vida é muito melhor quando partilhada com boas companhias, também tenho certeza de que tudo isso só é possível porque ele sempre pôde contar com tantas pessoas boas e queridas em sua vida.


Então, hoje,  celebro não só a vida de meu pai, mas de toda essa rede de amigos que fazem parte do seu dia a dia e o nutrem de boas energias e vivacidade.


Agradeço pelos envios dos vídeos para tornar essa fase de isolamento um pouco menos distante! Papai ficou muito emocionado e pretende gravar um vídeo em agradecimento a todos.


Muitíssimo obrigada pelo carinho de todos vocês! 


Viva o xerife!!! 🤗🥳


Obs: A foto dele assoprando a vela em cima do bolo é do ano passado, quando isso era socialmente aceito. 😅

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas domingo, 05 de julho de 2020

ECOS DE MEU 84º ANIVERSÁRIO - HOMENAGEM DA PRIMOGÊNITA

 

Parabéns, pai!! Viva os seus 84 anos! Desejo que Deus e Nossa Senhora preservem a sua saúde e mantenham a sua memória fabulosa para continuar a nos honrar com o seu “Almanaque Raimundo Floriano”. Obrigada por todo amor e carinho dispensados à nossa família! Tenho muito orgulho em ser sua filha, uma “Albuquerque da tabajara nação”. Vida longa, pai!!🎈🎂🎁🥳💙😘

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 03 de julho de 2020

DOBRADO TENENTE RAIMUNDO FLORIANO, COMPOSIÇÃO E ARRANJO DE FILIPE FONSECA, NA ÉPOCA COM 18 ANOS


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 03 de julho de 2020

FUI NOTÍCIA NA CAPITAL MARANHENSE - HÁ DEZ ANOS - VÍDEO


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 03 de julho de 2020

HISTÓRIA DE BALSAS EM LIVROS DE RAIMUNDO FLORIANO - VÍDEO


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 27 de junho de 2020

TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO: ÁGUAS CHEGAM AO CEARÁ


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 25 de junho de 2020

A FESTA JUNINA QUE NÃO HOUVE

 

Anualmente, a Academia VitalRecor, onde malho há 18 anos, realiza nossa Festa Junina, sendo eu o Delegado e Pai da Noiva. Neste 2020, porém, ela não houve, e, pelo andar da carruagem, parece que, no dizer caipirês, não harará.


A seguir, pequena amostra do que era:

 

CASAMENTO DA FILHA DO VELHO FULÔ

INSPIRADO NO CASAMENTO DA FILHA DO VELHO FACETA

(Atores: Velho Fulô e Cristina)

 

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas domingo, 14 de junho de 2020

POLÍCIA DO EXÉRCITO DE BRASÍLIA - 60º ANIVERSÁRIO - A FESTA QUE NÃO HOUVE

 

POLÍCIA DO EXÉRCITO DE BRASÍLIA - 60º ANIVERSÁRIO

A FESTA QUE NÃO HOUVE

Raimundo Floriano

 

 Pertenci ao afetivo da Polícia do Exército de Brasília, como 3º Sargento, desde 27 de dezembro de 1960, primeiramente na Cia Pol Ex/11ª RM - Companhia de Polícia do Exército da 11ª Região Militar, e, a partir de 9 de abril de 1964, no BPEB - Batalhão de Polícia do Exército de Brasília - Batalhão Brasília.

 

Em março de 1967, já na graduação de 2º Sargento, com 11 anos de bons serviços prestados ao Glorioso Exército Brasileiro, fui licenciado de suas fileiras, tomando posse em cargo na Câmara dos Deputados, em virtude de aprovação em concurso público de âmbito Nacional. Na ocasião, fui promovido a 2º Tenente QOA/R2.

 Deixei a farda, mas a caserna não me deixa! Todos os anos, no dia 13 de maio, aniversário do BPEB, ali compareço, não só para amenizar a saudade daquele quartel, como para rever antigos companheiros e desfilar no Pelotão da Saudade. Para isso, envergo o uniforme de Veterano, a mim presenteado pelo Cabo Luciani, reservista, residente em Blumenau, que, anualmente, se faz presente à festa.

 Uma vez PE, sempre PE!

 General Uchôa, Tenente Floriano e Cabo Luciani

O retorno é uma prova de fraternidade, civismo e amor à Pátria. Por isso, o Comando incentiva o comparecimento, oferecendo aos que desejarem pousada e alimentação por dois dias. Recomenda, apenas, que tragam a roupa de cama e cobertor. O maior contingente vem do estado de Santa Catarina, os famosos “catarinas”, sempre sob a coordenação do Cabo Luciani. No total, formamos mais de 300 participantes.

 Em 2006, na passagem do 46º Aniversário do BPEB, escrevi uma crônica atinente à efeméride, cujo acesso é facilitado clicando-se neste link:

 http://www.raimundofloriano.com.br/views/Comentar_Post/o-46-aniversario-do-bpeb-ykJUWJ88lL5dMLFphxSb

No ano de 2010, nas comemorações do Cinquentenário do BPEB, sob o comando do Tenente Coronel Pontual, foi maciço, surpreendente mesmo, o comparecimento. Contribuí arregimentando mais de 20 camaradas da Velha Guarda. Aqui, alguns flagrantes da festa:

 Palanque das autoridades

Palanques dos convidados

Detalhe da Tropa

Pioneiros: Pinheiro, Jannuzzi e Floriano

O Coronel Tasso Réa Jannuzzi é pioneiríssimo em Brasília, onde chegou no dia 21 de maio de 1958, ainda como Tenente, compondo o efetivo da 6ª Companhia de Guarda, embrião do BPEB e do BGP - Batalhão da Guarda Presidencial.

Pioneiros: Arnaldo, Aldo, Bandeira, com esposa e Floriano

 Pioneiros: Juvenal, Floriano e Macedo

(Atrás, as cabeças do Carminati e do Sargento Éden Reis)

 Floriano, Bandeira e Arnaldo, no desfile dos Veteranos 

 

CANÇÃO DO BATALHÃO DE POLÍCIA DO EXÉRCITO DE BRASÍLIA - BPEB

 

Neste ano de 2020, preparávamo-nos para a grande festa comemorativa do Sexagésimo Aniversário de nosso Batalhão. Subitamente, abruptamente, a Covid-19 tolheu-nos o direito e a satisfação de realizá-la! Não vou falar mais nada!

 O Pelotão da Saudade, ou Desfile e Veteranos, não é uma exclusividade do BPEB. Todas as Unidades Militares o realizam, e a ele comparecem não só os reservistas, mas, também, militares da ativa que ali serviram e se encontram lotados e outras Organizações.

Como não disponho de vídeo focalizando um de nossos desfiles no BPEB, faço a postagem de um que recebi pela internet, representativo do que é esse grande encontro e brasileiros saudosos dos tempos em que forjaram as mais sinceras amizades naquela caserna, que foi seu segundo lar.

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 12 de junho de 2020

MALHAÇÃO NA QUARENTENA - MINHA ACADEMIA CASEIRA

 

MALHAÇÃO NA QUARENTENA - MINHA ACADEMIA CASEIRA

 Raimundo Floriano

 

Minha malhação em academia foi forçada. Obedecendo a imposição do Dr. Maurício Beze, meu cardiologista, compareci à Academia VitalRecor para tomar informação, inteiramente decidido a arranjar uma desculpa qualquer par nunca mais ali voltar. Lá, fui recebido pela Professora Elisa Lafetá que, após rigorosa avaliação, me encaminhou para o espaço de atividade, e apresentou aos colegas e deu início a meus primeiros exercícios. Isso aconteceu no dia 21 de fevereiro de 2002, há 18 anos, portanto.

  

Pois não é que eu gostei? Aos poucos, gradativamente, foi ela me inserindo na atividade, começado pelos alongamentos, aparelhos aeróbicos, musculação, tudo um pouquinho em cada etapa, e musculação. Saí de lá convencido de que os exercícios seriam benéficos à boa qualidade de vida de que eu tanto necessitava. E com a firme disposição de que isso seria por todo o resto do tempo de existência que Deus estava me concedendo. 

A proprietária da VitalRecor é a Doutora Cristina Calegaro, Educadora Física e especializada em reabilitação cardíaca, qualidade de vida e exercícios físicos para idosos.

  

A atividade começava às 7 da manhã e se estendia até às 19h, com diversas turmas que iam se revezando no decorrer do dia. O horário de minha turma era das 15h às 16h30. Nos últimos tempos, compunha-se, entre o corpo docente, discente, administrativo e apoio, destes inestimáveis amigos:

  

A Cris é mãe do Guilherme, pai da Aymê, que ficava engatinhando por todo o espaço, malhando a seu modo. Formamos um ambiente amigo e fraterno, prolongamento de nosso lar, compartilhando as horas alegres e as não tanto e configurando-nos com uma grande família, sendo a Socorro, nos Serviços Gerais e na Copa, a mãezona de todos.

 Fazíamos Festa Junina, com música, comidas típicas, quadrilha, casamento na roça, onde eu era o Delegado, festejávamos o Natal e comemorávamos, mensalmente, os aniversários. Esta foto é a do meu, no ano passado:

  

Vocês acreditam em azar? Eu também não! Mas, no dia 13 de março, uma sexta-feira, a Covid-19 acabou com tudo isso! Saímos da lá, na tarde daquele dia, sabendo que, na segunda-feira seguinte, não mais precisaríamos voltar!

 Foi uma cacetada na moleira! Fiquei completamente desnorteado! Quem pratica atividade física assiduamente, sabe que ela, além de benéfica, vicia.

 Felizmente, a Doutora Cristina Calegaro foi a primeira, dentre os proprietários de academias em Brasília, a ter o bom senso de não arriscar a vida de seus alunos, mesmo antes da ordem governamental, desativando a VitalRecor. Para fazê-lo, distribuiu, entre alguns de nós, mediante empréstimo, os aparelhos e equipamentos, visando a desocupar o espaço.

 A mim couberam uma bike ergométrica, dois pesos, duas caneleiras, um elástico, uma correia para alongamento, um colchonete e duas almofadas para cabeça. Assim municiado, iniciei a malhação caseira, sempre orientado pelos professores acima mencionados.

 Mas ainda me ressentia da falta de caminhada, uma vez que não me ariscarei a fazê-lo pelos calçadões de minha quadra, e o espaço em meu apartamento é muito reduzido para tanto. Assim, providencie a aquisição de uma esteira elétrica, da marca Movement, a mesma usada na VitalRecor, deste modo ficando equipada minha academia:

  

Pelo andar da carruagem, essa quarentena vai se prolongar por muito tempo. Por isso, vou procurando não ficar inativo nem sedentário, para que a Academia VitalRecor ao reabrir suas portas, me receba com a mesma condição física de quando a deixei no dia 13 de março.

  

Ao redigir esta matéria, recebi a triste notícia de que o amigo Octaviano se encantou. Ele e a Margarida, sua mulher, foram pioneiros na malhação em nossa Academia. Há muito tempo ele vinha padecendo, ultimamente numa UTI montada em seu apartamento. No ano passado, a Professora Luciene, o Hipérides, o Cândido e eu fomos visitá-lo. Pelo que observei, ele já não nos reconheceu!

 Amigo Octaviano, segure na mão de Deus e vá!

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 09 de maio de 2020

OITO ANINHOS, SEM DIREITO A FESTA, TANQUE CHEIO, NEM MESMO UM BANHO DE LAVA-JATO!

9 DE ABRIL DE 2012

NOSSO ENCONTRO, FIRMANDO UMA PARCERIA PARA SEMPRE!

NA COPA DE MUNDO DE 2018

EM 2020, NA GARAGEM, LEVANDO POEIRA

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 27 de março de 2020

DIA MUNDIAL DO CIRCO: É PALHAÇADA, COM RAIMUNDO FLORIANO E SUAS FILHAS


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 05 de março de 2020

DOBRADO CAPITÃO SILVA NÉTO

 

DOBRADO CAPITÃO SILVA NÉTO

Raimundo Floriano

Símbolo do Exército

  

O Capitão Pedro José das Silva, da Guarda Nacional, meu avô paterno, teve 17 filhos, a saber:

Com Otília Raimundina Ribeiro Soares, 1ª esposa:

01 - Raimundo Ribeiro da Silva; e

02 - João Ribeiro da Silva.

Com Isaura Maria de Sousa e Silva, 2ª esposa:

01 - Fructuoso José da Silva;

02 - José, nascido a 28.10.1884 e falecido no mesmo dia;

03 - Firmino José da Silva;

04 - Bernardino José da Silva:

05 - Ondina de Sousa e Silva;

06 - Olindina Maria de Sousa e Silva;

07 - Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, meu pai;

08 - Maria Isaura de Sousa e Silva;

09 - Ana Aparecida de Sousa e Silva, falecida aos 3 anos de idade;

10 -Lucialina Maria de Sousa e Silva;

11 - Evarista de Sousa e Silva;

12 - Manoel, nascido a 29.11.1897 e falecido no mesmo dia;

13 - José de Sousa e Silva, o Cazuza Ribeiro;

14 - Júlia de Sousa e Silva; e

15 - João Clímaco da Silva.

 

 Pedro José da Silva e Isaura Maria de Sousa e Silva

 

Alguns desses filhos nomearam um dos seus em homenagem ao pai. Assim, tivemos: Pedro Ribeiro, de Raimundo Ribeiro; Pedro José da Silva Néto, de João Ribeiro; Pedro Del Pretes, de Fructuoso; Pedro Apóstolo, de Ondina; Pedro Silva, de Rosa Ribeiro; Pedro Maranhense, de Evarista; e Pedro Ivo, de Cazuza Ribeiro.

 

Um deles, Pedro José da Silva Néto, que alcançou o posto de Coronel, da Arma de Infantaria, foi o primeiro de nossa família a seguir a carreira militar, tornando-se inspiração para toda a prole do avô, da qual muitos de nós, mirando em seu exemplo, escolheram o Exército Brasileiro em sua vida profissional. Como eu e meu saudoso irmão Bergonsil.

 

 Coronel Pedro José da Silva Néto

 

Era filho, como já disse, de João Ribeiro da Silva e Maria Pereira da Silva, a Marica Pereira, pioneiros chegados a Balsas (MA) 8 anos antes de sua emancipação, casal que teve 10 filhos, sendo um adotado.

 

 João Ribeiro e Marica Pereira

 

A prole de João Ribeiro e Marica Silva

O Coronel Pedro José da Silva Néto, nascido em Balsas, casou-se com Maria Celeste Ferreira da Silva Néto, de Guaratinguetá (SP), tendo com ela 10 filhos: quatro meninas e seis meninos.

 

Uma das meninas faleceu aos dois anos e idade. Das demais, duas são Pedagogas-Psicólogas e uma, Professora.

 

Um dos meninos faleceu com 7 dias de nascido. O demais – todos os cinco! – abraçaram a Carreira Militar, ingressando no Exército Brasileiro, na Arma de Infantaria. Um deles chegou ao posto máximo de General de Exército. Os outros conquistaram a patente de Coronel. Alguns de seus descendentes também seguiram o mesmo caminho, de modo que hoje, no Brasil, não existe Quartel de Infantaria em que um Silva Néto não tenha servido.

 

 

Símbolo da Infantaria

 Para homenagear o Patriarca Pedro José da Silva Néto, o Maestro Aureliano Ribeiro de Brito compôs o dobrado Capitão Silva Néto, que vocês ouvirão a seguir, com a Banda de Música do 5º Batalhão de Infantaria, sediado em Lorena (SP):

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 28 de fevereiro de 2020

TRUMP ESTÁ COM TUDO E NÃO ESTÁ PROSA

Nota do Editor: Com dez notas dessas daí, nestes tempos de eleição, acho que me elegeria até Síndico do meu Bloco.


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 06 de fevereiro de 2020

CORONAVÍRUS - r$

 

CORONAVÍRUS
 
R$ 140 milhões para equipamentos

 

Publicação: 06/02/2020 04:00

Tripulações dos jatos da Presidência se despedem antes da viagem rumo a Wuhan, para resgatar os brasileiros (Marcelo Camargo/Agência Brasil)  
Tripulações dos jatos da Presidência se despedem antes da viagem rumo a Wuhan, para resgatar os brasileiros


No mesmo dia em que a operação de repatriação dos brasileiros em Wuhan começou, com a partida dos dois jatos da Presidência da República, ontem, por volta das 12h30, o Ministério da Saúde anunciou que disponibilizará R$ 140 milhões para compra de equipamentos de proteção individual contra o novo coronavírus. A pasta havia anunciado, na última sexta-feira, que dera início à aquisição, por meio de licitação, de máscaras, toucas, luvas descartáveis, protetores oculares, entre outros equipamentos.

A compra dos equipamentos acontecerá, mesmo se não houver casos confirmados no Brasil. “Há três cenários possíveis e nós vamos, inicialmente, trabalhar com um cenário intermediário de pacientes. O custo estimado dessas aquisições ficará em R$ 140 milhões. Este é o recurso que estamos disponibilizando para a licitação desses insumos de proteção individual”, afirmou o secretário executivo do ministério, João Gabbardo, acrescentando que ainda não está decidido se a pasta gastará todo o valor disponibilizado.

O secretário executivo afirmou que, diante do desabastecimento do mercado nacional desses insumos, o objetivo da pasta é buscá-los fora do Brasil. “O projeto de lei que está sendo aprovado no Congresso Nacional nos dá prerrogativa de fazer aquisições de importações mesmo sem registros. Se nós não conseguirmos abastecer no mercado nacional, nós vamos poder imediatamente abrir uma licitação para fazer uma importação direta mesmo sem registro”, explicou.

PL aprovado

No Senado, o plenário aprovou, por unanimidade, o projeto de lei que regulamenta as medidas de combate ao coronavírus (PL 23/20). Entre elas está o resgate de brasileiros que se encontram na cidade chinesa de Wuhan, epicentro da epidemia, e pediram ajuda do governo para retornar ao Brasil. A matéria tramitou em regime de urgência no Congresso e, logo após a aprovação no Senado, seguiu de imediato para a sanção do presidente Jair Bolsonaro. A sessão contou com a presença do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

“O texto foi o mínimo a ser feito e dá as condições legais para a gente atravessar com segurança as medidas que têm que ser tomadas no caso de termos necessidade de usá-las”, disse Mandetta. O PL que havia sido aprovado pela Câmara, terça-feira, propõe, por exemplo, isolamento, quarentena e fechamento de portos, rodovias e aeroportos para entrada e saída do Brasil em caso de emergência de saúde pública provocada pelo coronavírus.

Mandetta, aliás, disse que a pasta vai enviar até o próximo dia 11, ao Congresso, outro projeto de lei, mais amplo, para propor medidas a serem adotadas a todos os tipos de situações de emergência sanitária.

Quarentena

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que os militares da Força Aérea Brasileira (FAB) que embarcaram para resgatar os brasileiros em Wuhan também serão submetidos ao período de quarentena de 18 dias, quando retornarem ao país. Mas não informou se os militares cumprirão a quarentena no mesmo local dos civis, na base aérea de Anápolis.

Apenas 11 casos continuam sob suspeita do Ministério da Saúde. Com cinco indicações, o Rio Grande do Sul é o estado com o maior número de casos investigados. São Paulo vem em seguida, com quatro, e Rio de Janeiro e Santa Catarina têm um cada. Entre os suspeitos, seis pessoas já passaram pelos testes de vírus respiratórios comuns — considerados os primeiros para a constatação do diagnóstico — e agora foram encaminhadas para uma investigação específica. Cinco continuam na primeira fase dos exames. (Ingrid Soares, Maria Eduarda Cardim, Augusto Almeida e Jorge Vasconcelos)


Portugal acaba com o  visto gold
O Parlamento português aprovou o fim da concessão da Autorização de Residência para Investimento, o visto gold, para os estrangeiros que comprarem imóveis em Lisboa e no Porto. Para cidadãos de fora da Europa, as autorizações funcionavam como um sistema de concessão de residência portuguesa em troca de investimento imobiliário a partir de 500 mil euros. O Brasil é o segundo país com mais concessões do benefício, que é suspeito de ser usado para crimes financeiros. O visto era alvo de críticas da União Europeia em questões de segurança e corrupção. Em março de 2019, o parlamento da UE apelou aos Estados-membros para que o programa fosse revogado, afirmando que as vantagens não compensam os sérios riscos de segurança e evasão fiscal. Segundo a Transparência Internacional, o visto também poderia ser utilizado por criminosos e corruptos. Desde que o programa entrou em vigor, em 2012, Portugal concedeu mais de 8 mil vistos dessa modalidade. Mais da metade foi destinado a chineses, seguidos pelos brasileiros. Entre outras maneiras de se obter o visto gold, estão a transferência de pelo menos 1 milhão de euros para Portugal, a criação de dez postos de trabalho ou investimento de 350 mil euros em pesquisa científica ou no patrimônio cultural e artístico do país.

Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 25 de dezembro de 2019

PRONUNCIAMENTO OFICIAL DE FINAL DE ANO DO PRESIDENTE JAIR BOLSONARO

Acompanhe o pronunciamento oficial de final de ano do presidente @jairbolsonaro, veiculado em Rede Nacional de Televisão e Rádio nesta noite, com a participação da primeira-dama, Michelle Bolsonaro


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas terça, 24 de dezembro de 2019

VOLTEI! EU SOU O FORRÓ!

 

Prezados amigos, durante quatro dias, estive fora do ar, por motivo de saúde. Hoje, com a Graça de Deus e o desvelo de minha mulher e minhas filhas, volto ao batente!

 

PARA TODOS,

FELIZ NATAL!

 

 
 
EU SOU O FORRÓ - ROJÃO, NA VOZ DE CRISTINA AMARAL


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 20 de dezembro de 2019

Ausência

Prezados,

Por motivo de força maior estarei fora por tempo indeterminado.


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 13 de novembro de 2019

13 DE NOVEMBRO DE 2019! 97º ANIVERSÁRIO DE MEU IRMÃO PEDRO SILVA

 

 
PEDRO SILVA, O MENESTREL DO SERTÃO SUL-MARANHENSE

Raimundo Floriano

 

Pedro Silva e seu amigo violão

                        Pedro Albuquerque e Silva, o Pedro Silva, meu irmão, nasceu em Balsas (MA), no dia 13 de novembro de 1922. Filho de Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, é o primeiro varão e segundo de uma prole de dez, da qual eu sou o sétimo.

 

                        Completando 92 anos em novembro próximo, pode-se afirmar que este sertanejo é, depois de tudo, um forte, eis que continua em plena atividade, fazendo tudo de que gosta, como se tantos anos não lhe pesassem nas costas. É nosso herói!

 

                        A seguir, a fotografia mais antiga da família, batida em 1929:

 

Rosa Ribeiro, Maria Bezerra, José, Pedro Maria Isaura e Maria Alice

 

                        Passou toda sua infância em Balsas, levando vida sadia e cheia de peripécias e traquinagens, como de todo menino do sertão. Já nesse tempo, começou a aprender a “bater” o violão, ou seja, acompanhar-se cantando, Arte que o acompanha desde antes, agora e sempre.

 

                        Aprendeu as primeiras letras e concluiu o Curso Primário nas escolas da Dra. Maria Justina, Melquíades Moreira Ferraz, Dr. Domingos Tertuliano e Educandário Coelho Neto, do Professor Joca Rêgo. Em Teresina, foi aprovado no Exame de Admissão para o Liceu Piauiense, onde cursou o Ginasial, após o qual, naquele primeiro quarto do Século XX, se considerou preparado para o exercício de sua verdadeira vocação: a atividade comercial.

 

                        Voltando para Balsas, começou a trabalhar como caixeiro na loja de José de Sousa e Silva, nosso Tio Cazuza Ribeiro, atendendo os fregueses no balcão. Tio Cazuza, vendo sua habilidade e tino para o comércio, designou-o para viajar pela Região Tocantina, para comprar gêneros de exportação - couros, peles silvestres, produção agrícola – e vender sal a comerciantes e fazendeiros. Era responsabilidade imensa para um adolescente naquelas plagas.

 

                        Lembro-me bem da chegada dele de uma dessas viagens. Trouxe uma lata, tipo de leite em pó, cheia de moedas de valores diversos, chamou os irmãos mais novos, derramou o dinheiro na mesa de jantar e mandou que fôssemos pegando, um de cada vez, em rodízio. Eu, por exemplo, só escolhia os patacões. Já o Bergonsil traquejado, primeiro olhava o valor, para pegar as dele. Essas atitudes de bom irmão faziam com que nós, os menores, o chamássemos de padrinho – Padim Pêdo –, numa espécie de sadio puxa-saquismo familiar.

 

                        Depois de um certo tempo, trabalhou, por conta própria, nos garimpos cristal de rocha em Xambioá, Piaus e Dois Irmãos, região ainda goiana, onde contraiu impaludismo, difícil de ser curado. Com a ajuda de Deus venceu essa moléstia assaz ceifadora.

 

                        Em 1945, aos 23 anos de idade, abriu uma casa comercial em Miracema, em sociedade com o Tio Cazuza, vendendo produtos industrializados e comprando as matérias-primas produzidas na cidade e em suas imediações. Nas horas vagas, o violão e a seresta eram seu lazer.

 

                        Pedro tinha um dom inato, que nele aflorou desde o tempo de rapazinho. Para discorrer sobre isso, mostro-lhes duas fotografias dele na juventude:

 

Pedro Silva no tempo de rapaz solteiro 

                        Como viram, era um sertanejo comum, sem nada de especial a não ser o dom acima citado: um visgo para atrair o sexo feminino. Quem o conhecia ficava perplexo, abismado, já não digo invejoso. Onde quer que chegasse, as pequenas choviam-lhe em profusão. Nem precisava que ele se esforçasse. Galante e dançarino de primeira, era o preferido nos salões. Houve até um amigo seu que um dia lhe falou: – Pedro Silva, não sei o que há com minha namorada. Quando dança comigo, é toda durona, sem jeito, parece que engoliu uma alavanca. Mas quando tu tiras ela pra dançar, aí a coisa muda de figura! Fica toda mole, se requebrando, se rindo, parece até que tá no céu! Por que será?

 

                        Se eu estivesse por perto, na ocasião, teria explicado: – É o visgo, rapaz, é o visgo! –, porque Pedro Silva era o verdadeiro Porta-Estandarte do Amor.

 

                        Em termos de namoro, não precisava se mexer. Era como o Mar Oceano, para onde correm todos os rios. Era como o Sol, a atrair os astros em seu derredor. Com esse imenso poderio, colheu, um dia, a mais bela flor morena da sociedade miracemense: Naide Noleto, com quem se casou, no dia 7 de outubro de 1949, e com quem teve cinco filhos: Ceres, Pedro Silva Júnior – o Silva –, José Emídio, Luís Ernesto e Jânio.

 

Pedro Silva e Naide: simpatia e elegância do jovem casal 

                        Mudou-se para Carolina (MA), a 9 de fevereiro de 1951, iniciando suas atividades comerciais à Praça Goiás, nº 55, onde construiu esta confortável casa com linda vista para o majestoso Rio Tocantins, na qual até hoje reside:

 

                         Em Carolina, sempre em sociedade com o Tio Cazuza, praticava o comércio de estivas em geral e gêneros exportáveis da região: couros bovinos, peles silvestres, crinas, penas de ema, arroz, babaçu, algodão e outros. Fez parte de diversas sociedades e empreendimentos vários até que passou a operar por conta própria, dedicando-se com mais afinco à pecuária. Paralelamente, foi nomeado Servidor da Prefeitura Municipal de Carolina, atuando no Setor de Finanças e no Departamento de Administração.

 

                        A Música, como sempre, era seu principal derivativo. Fundou a Escola de Samba Unidos de Carolina, que desfilou pela primeira vez no Carnaval de 1963.

 

Belinha, Porta-estandarte em 1977 

                        Em outubro de 1975, inspirado no grupo musical que acompanhou Carmen Miranda para os Estados Unidos, Pedro criou o conjunto Bando da Lua, com o objetivo principal de divulgar e promover a MPB em nossa região. Sem aparelhagem eletrônica, contava com uma sanfona, pau, corda, percussão e as vozes de seus integrantes, no gogó. A seresta, então, viu-se revigorada naquele sertão. Mais tarde, incluíram-se teclado, guitarra, contrabaixo, metais, palhetas, bateria e aparelhagem, para que alguns integrantes provessem o ganha-pão. Adiante, o Bando da Lua em sua feição seresteira:

 

Inácio, pandeiro; Djael, voz; Adelino, cavaquinho;

Luzimar, sanfona; Pedro Silva, violão; e Sitônio, surdão 

                        Pedro Silva tem também sua veia literária. Orador oficial da família, é cronista, articulista, compositor, escritor e cordelista. Adiante, a capa de seu livro Som e Ritmo da Terra, onde narra toda sua trajetória musical, com dados biográficos, e do cordel Navaiadas, elogiando políticos amigos e descendo o cacete nos adversários.

 

 

                        Ao aposentar-se do Serviço Público, Pedro Silva continuou em plena atividade econômica, como dono de caminhões e jipes, de embarcações fluviais, do Sítio Tangará, fornecendo leite para o consumo da cidade, das Fazendas Santa Maria e Jacaracy, especializadas na criação de gado Nelore e mestiço. Nessa última, construiu, no alto dum morro, o Santuário de Nossa Senhora da Conceição, de quem é devoto.

 

Detalhes do Sítio Tangará e da Fazenda Santa Maria

 

Santuário de Nossa Senhora da Conceição e Motor São Pedro de Alcântara 

                        Nestes 75 anos de árdua labuta, Pedro Silva exerceu, além das já citadas, as seguintes atividades: Fundador da Companhia Industrial do Tocantins - CITOCAN, para extração de óleo de babaçu, 1ª Sociedade Anônima da região, sendo seu Diretor-Presidente por 9 anos; Fundador da Liga Esportiva Carolinense, sendo um dos construtores do Estádio Alto da Colina; Fundador da Associação Recreativa de Carolina - ARCA; Fundador e Primeiro Presidente da Associação Comercial e Industrial de Carolina; Fundador da Loja Maçônica Caridade e Justiça, ocupando cargo de direção; Fundador da primeira Loteria Esportiva em Carolina; Fundador e Primeiro Presidente Municipal da ARENA, partido político; Fundador da Empresa Telefônica de Carolina, que presidiu; Diretor-Presidente da Comissão de Implantação do Sistema de Televisão em Carolina; e Suplente de Juiz de Direito, nomeado em outubro de 1973.

 

                        Recentemente, analisando essa rica trajetória, ele comentou comigo: – Raimundo, durante todo esse tempo, eu nunca tirei um dia sequer de férias do trabalho! Ao que eu acrescento: Nem da Boemia Seresteira! Nem de Porta-Estandarte do Amor, pois em suas serestas muitos casamentos foram engatilhados! Isso explica a razão de sua longevidade, atestada nestas duas imagens, uma colhida em julho de 2006, na comemoração de meus 70 anos, e a outra, em novembro de 2012, na festinha de seus 90:

 

Pedro Silva, aos 84, comigo, em meu Forrozão/70, e com sua Turma, ao festejar seus 90 

                        Carolina, hoje, mantém dois movimentos culturais preservadores de suas legítimas tradições. Uma delas é o Clube das Onze.

 

Clube das Onze: aguardando a chegada de seus membros 

                        Situado na Praça Alípio Carvalho, em frente ao quiosque Lanche Bar, em área adredemente cimentada para tal fim, é o ponto de reunião da Velha Guarda Carolinense. De segunda-feira a sábado, às 10h30, Lindomar, dono do quiosque, onde se bebe a cerveja mais gelada, e a cachaça mais pé-de-serra, com tira-gosto do pastel mais saboroso e crocante da paróquia, dispõe mesas e cadeiras, conforme se vê na foto acima, à espera dos membros que, aos poucos, vão chegando. Quando a frequência é maior, cadeiras e mesas adicionais são disponibilizadas. Às onze horas em ponto, começam os trabalhos que, ao meio-dia, impreterivelmente, são encerrados, seguindo cada membro para sua residência. Fundadores como Luiz Braga, Achiles, Hermógenes, Paulo Noleto, Alfredo Maranhão, Genésio, Maninho, Agnelo Jácome, Raimundinho Caetano, Zé Biô, Ulisses Braga e Darwin Noleto já não comparecerão, sendo representados pela nova geração que os sucede. Por ser o decano, Pedro Silva é, tacitamente, considerado o Presidente do Clube. 

 

                        O outra é o Conjunto Ouro & Couro. Como o próprio nome insinua, é formado por instrumentos de cordas – o ouro – e percussão – o couro. Fundado por Pedro Silva, que atua no violão e no vocal, conta ainda com os artistas Inácio, no pandeiro; Maria do Amparo, no violão e no vocal; Adelino, no cavaquinho; e Mangueirinha, na percussão. Essa turma, que mantém a tradição seresteira carolinense, está também pronta, a qualquer hora do dia ou da noite, para levar animação a todo tipo de função musical, seja um simples aniversário infantil ou uma festa de arromba.

 

                        Pelo conjunto da obra, Pedro Silva foi agraciado, a 13.11.2002, pela Câmara Municipal de Carolina, como o título de Cidadão Carolinense.

 

                        O CD Cheiro de Mato, artesanal, sem grandes recursos técnicos, mostra um pouco do trabalho desses sonhadores. Escolhi para ilustrar esta matéria o samba-canção que lhe empresta o título, Cheiro de Mato, composição recente de Pedro Silva, que o interpreta como vocalista principal:

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 31 de outubro de 2019

A: ENERGIA BOA E CELEBRAÇÃO

 

Energia boa e celebração
 
 
Além de oficinas gratuitas de dança africana, escrita afetiva e composição, o Festival Yalodê reúne artistas para comemorar a ancestralidade africana

 

Irlam Rocha Lima

Publicação: 31/10/2019 04:00

Áurea Martins
 (Mariza Lima/Divulgação)  
Áurea Martins
 
No dialeto yorubá, a palavra yalodê designa quem lidera as mulheres da cidade. A expressão dá nome ao festival que ocorrerá de amanhã a domingo, abrindo a celebração do mês da Consciência Negra em Brasília, com uma programação artística de shows e oficinas, protagonizada por cantoras e compositoras afrodescendentes.
 
O público poderá apreciar gratuitamente vozes, ritmos, estilos, identidades e trajetórias e gerações diversas, proporcionados por mulheres do samba, jazz, hip-hop, da música luso-africana e da cultura popular, numa intensa troca de experiências e conhecimentos. A sambista brasiliense Cris Pereira, por exemplo, terá como convidada a veterana Áurea Martins, celebrada intérprete carioca de jazz; enquanto a cantora candanga Letícia Fialho vai dialogar com a francesa Anaïs Sylla.
 
“Uma yoladê lidera e potencializa outras mulheres, de acordo com a cosmovisão de matriz africana, e esse festival é um espaço para o encontro das múltiplas e potentes identidades artísticas de mulheres negras da diáspora”, afirma Sara Loiola, produtora e idealizadora do encontro, na área externa do Museu da República, com o patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) do Distrito Federal.
 
Atividades formativas, com oficinas gratuitas de dança africana, escrita afetiva e composição, além de painel sobre carreira e trajetória no mercado musical serão oferecidas no transcorrer do festival. Amanhã, na abertura da programação de shows, Cris Pereira e Áurea Martins farão abertura dos trabalhos. Em seguida subirão ao palco Fanta Konate (Guiné Conacri), que mostrará, numa viagem musical, aspectos da cultura tradicional do povo mandên. A baiana Larissa Luz fecha a primeira noite, com o show Trovão, pela primeira vez na capital. 
 
Cris Pereira
 (Guto Martins/Divulgação)  
Cris Pereira
 
Santo de casa
 
Domingo, quem se apresentará primeiro é a rapper Realleza, do Sol Nascente. Outra representante brasiliense no festival, Letícia Fialho, que desenvolve um trabalho multi-rítmico, receberá a francesa Anaïs Sylla. No encerramento do Yalodê, Mariene de Castro trará para o brasiliense o elogiado espetáculo Santo de casa, baseado no samba de roda da Bahia, com o qual celebra a cultura popular brasileira.
 
Para Cris Pereira, além de abrir a celebração do mês da Consciência Negra na capital federal, o Yoladê se caracteriza pela diversidade de estilos, apresentados, em sua especificidade, pelas artistas participantes do festival. “Vou receber Áurea Martins, uma grande intérprete, com longa e sólida carreira na música popular brasileira. Juntas faremos um show de samba-jazz, acompanhadas por Lucas de campos (violão e direção musICAL), Igor Diniz (contrabaixo acústico), José Cabrera (piano), Leander Motta (bateria) e Leandro Barcelos (sopros)”, anuncia.
 
Áurea, que em 2018 participou de um festival de jazz na cidade, acredita que iniciativas como o Yoladê fortalecem a cultura negra do país, representada por várias vertentes musicais. “Vou começar a gravar um CD com o pianista Cristovão Bastos, cantando de Tito Madi a Vinicius de Moraes. Nesse show em Brasília vou interpretar canções do meu repertório, com a levada jazzística, que caracteriza meu estilo interpretativo”, adianta.
 
Fanta Konate (Tato Comunicação/Divulgação)  
Fanta Konate
 
Maravilha marginal, nome do show de Letícia Fialho, deu título ao álbum que ela lançou em 2018. “Composições autorais desse disco estarão lado ao lado de outras do EP Purpurina anzol, que saiu recentemente. Terei como convidada Anaïs Sylla, artista francesa com um trabalho eletroeletrônico interessante, a quem conheci em São Paulo, onde chegamos a compor juntas”, elogia. “Teremos a companhia em cena da Orquestra da Rua e do sanfoneiro Rodrigo Zolete”, acrescenta.
 
Larissa Luz, que tem viajado pelo país com o musical Elza (homenagem a Elza Soares), num raro momento de folga aceitou o convite para participar do Yalodê. “Já estive em Brasília outras vezes, mas ainda não havia apresentado na capital o Trovão, meu novo projeto solo. Esta vai ser uma oportunidade para mostrar esse show, como parte de um festival dessa importância”, ressalta.
 
 
 
Festival Yalodê 
Programação de shows: sábado, a partir das 20h30, shows de Cris Pereira e Áurea Martins, e Fanta Konate e Larissa Luz, sábado, a partir das 20h30. Antes se apresentam os DJs Savana e Pati Egito. Domingo, a partir das 19h30, shows de Realleza, Letícia Fialho e Anïs Sylla, Mariene de Castro. Antes se apresentam DJ Savana e no encerramento 9o DJ Pati Egito. Na área externa do Museu da República, na Esplanada dos Ministérios. Amanhã haverá oficina de dança com Fanta Konate, às 18h30; e um painel sobre carreira e trajetória musical com Áurea Martins, Cris Pereira, Lídia Taillet, tendo Aryane Sánchez como mediadora, no auditório do Museu da República. Todos os eventos têm entrada franca.
 
 
 
Entrevista/ Mariene de Castro
 
 (Thiago Castro/Divulgação)  
 
Que avaliação faz dos seus de 20 anos de carreira artística?
Olhando minha história, só tenho o que agradecer. Sou uma mulher negra, nordestina, canto a cultura de meu povo, sou filha de Oxum e hoje posso dizer que já tenho 20 anos de carreira e lindas vitórias. Um caminho de muita fé, força, coragem, resiliência e amor.
 
 
O samba de roda, marca registrada do seu trabalho, a fez se aproximar de Roque Ferreira. Que importância ele teve para você como cantora e intérprete?
Roque é minha alma gêmea na música. Ele escreve o que minha alma precisa dizer. Assim sempre foi e assim pra sempre será.
 
 
A mudança de Salvador para o Rio de Janeiro lhe trouxe que tipo de ganho?
O Rio me deu muitas coisas lindas! E eu, de braços e coração abertos, só agradeço.
 
 
Com três discos de estúdio, dois ao vivo e dois DVDs, qual é  o seu projeto atual?
Vivo um momento em que cultivo algumas flores nesse meu jardim. Roda a baiana é meu projeto com o Jongo da Serrinha. Acaso casa acabo de lançar com Almério. O Santo de Casa é o projeto de minha vida. Seguirei levando a cultura popular pelo Brasil afora.
 
 
O que representa para você participar do Festival Yalodê, evento que propõe o fortalecimento da cultura negra no país? 
Eu me sinto honrada e agradecida! Desejo que seja iluminado e sagrado. Um projeto com esse nome só traz boas energias.

Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas segunda, 02 de setembro de 2019

EU SOU O FORRÓ - ROJÃO, NA VOZ DE CRISTINA AMARAL


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 27 de abril de 2019

UM PRESIDENTE MUITO GENTE BOA, PEDRA 90

 

No Domingo de Páscoa, em evento na Praça dos Três Poderes, o filho e uma de minhas primas,  digamos, um sobrinho meu, vindo de Fortaleza (CE), estava lá com Safira,  sua filha caçula, de 10 anos, ansiosa para conhecer o Presidente.

Para posicioná-la melhor, colocou-a no colo.

O Capitão, ao passar por eles, perguntou:

– Tá pesada?

– Tá sim! – Respondeu meu sobrinho.

– Pois me dê ela aqui!

E o resultado pode-se ver nesta foto:


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 25 de abril de 2019

A MULA DE PADRE (POEMA DO PERNAMBUCANO ASCENSO FERREIRA)

A MULA DE PADRE

Ascenso Ferreira

 

Um dia no engenho,
Já tarde da noite
Que estava tão preta
Como carvão...
A gente falava de assombração:

— O avô de Zé Pinga-Fogo
Amanheceu morto na mata
Com o peito varado
Pela canela do Pé-de-Espeto!
— O cachorro de Brabo Manso
Levou, sexta-feira passada,
Uma surra das caiporas!
— A Mula de Padre quis beber o sangue
Da mulher de Chico Lolão...

Na noite preta como carvão
A gente falava de assombração!
Lá em baixo a almanjarra,
A rara almanjarra,
Gemia e rangia
Oue o Engenho Alegria
É bom moedor...

Eh Andorinha!
Eh Moça-Branca!
Eh Beija-Flor. . .

Pela bagaceira
Os bois ruminavam
E as éguas pastavam
Esperando a vez
De entrar no rojão...
Foi quando se deu
A coisa esquisita:
Mordendo, rinchando,
As pôpas e aos pulos
Se pondo de pé
Com artes do cão,
Surgiu uma besta sem ser dali não...

— Atallia a bicha, Baraúna!
— Sustenta o laço, Maracanã!
E a besta agarrada
Entrou na almanjarra,
Tocou-se-lhe a peia
Até de manhã ...

E depois que ela foi solta
Entupiu no oco do mundo!
Num abrir e fechar dolhos
A maldita se encantou...

De tardinha.
Gente vinda
Da cidade
Trouxe a nova
De que a ama
De seu padre
Serrador
Amanhecera tão surrada
Que causa compaixão!

.....................................

Na noite tão preta como carvão
A gente falava de assombração


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 19 de abril de 2019

DIA DO ÍNDIO: 19 DE ABRIL – SENHOR DA FLORESTA, COM MARIA BETHÂNIA, E MEU CABOCLO, COM ROLANDO BOLDRIN

SENOR DA FLORESTA, COM MARIA BETHÂNIA

MEU CABOCLO, COM ROLANDO BOLDRIN


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas segunda, 31 de dezembro de 2018

COSTA MARQUES (RO), A FILHA DUM TAPIRI

 

COSTA MARQUES (RO), A FILHA DUM TAPIR

Raimundo Floriano

 

Costa Marques - Vista aérea

 

Vocês sabem o que é um tapir? Não sabem? Pois eu vou explicar! Tapiri é um tipo de palhoça ou choupana construída provisoriamente para abrigar seringalistas, lavradores, pescadores, garimpeiros, etc., geralmente na margem de um curso d’água. Como esta aqui:

 

Pois bem, no início do século XX, Francisco Chianca, seringalista, um dos desbravadores da região do Rio Guaporé, construiu um tapiri à beira daquele rio, na foz do rio São Domingos, no local conhecido como Porto da Barra de São Domingos. No dia 19 de janeiro de 1920, o Dr. Espiridião da Costa Marques, engenheiro e ilustre político mato-grossense, descia o Guaporé, com destino ao Posto Fiscal de Guajará-Mirim e, ao cair da tarde, parou para pernoitar no tapiri de Chianca. O anfitrião, impressionado com a cultura do visitante, após a sua partida no dia seguinte, escreveu, num pedaço de caixa de sabão, Porto Costa Marques, fixando a tabuleta à beira do barranco. Daí surgiu o nome da futura cidade.

 

Costa Marques, portanto, é um município brasileiro do estado de Rondônia. Fica a 708 km da Porto Velho, a capital. Limita-se com os municípios rondonienses de Guajará Mirim, Seringueiras, São Miguel do Guaporé e São Francisco do Guaporé. Na margem oposta do rio, fica a Bolívia.

 

Sua população, em 2010, era de 13.700 habitantes. Calcula-se que, hoje, chegue aos 18 mil. Oficialmente, foi fundada em 16 de junho de 1981.

 

Algumas imagens de Costa Marques:

Ministério Público

 Rio Guaporé

Praia de Costa Marques

Tartarugas em desova

 Embarcações em Costa Marques - Do outro lado, a Bolívia

 Vista Parcial

 Paisagens históricas

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 27 de dezembro de 2018

OMFDI

 

 
INDULTO DE NATAL É UM ACINTE AOS BRASILEIROS

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 27 de dezembro de 2018

OMFDI

 

 
INDULTO DE NATAL É UM ACINTE AOS BRASILEIROS

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas segunda, 19 de novembro de 2018

QUINCAS ENCANTOU-SE

 

QUINCAS PARTIU

QUINCAS MACEDO

(18.11.1954 – 17.11.2018

 

Encantou-se ontem à noite o querido colunista Quincas Macedo, titular da Coluna Megaphone do Quincas, Neste Almanaque e no Jornal da Besta Fubana.

Sua última coluna foi aqui publicada no dia 17 de outubro passado.

No dia 15 de outubro, ele foi internado na UTI.  Partiu muito jovem: ontem, dia 18 de novembro, ele completaria 64 anos de idade.

 

Quincas foi cremado agora há pouco, às 12 horas, horário de verão, em São Paulo.

 

Amigo quincas, segure na não de Deus e vá!

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 13 de outubro de 2018

DIA DO FISIOTERAPEUTA - CORDELZINHO DE UM FISIOTERAPATA AGRADECIDO

CORDELZINHO DE SEU FULÔ,

FISIOTERAPATA AGRADECIDO

Raimundo Floriano

Equipe cuidadora de Seu Fulô

 

A Chefe, Ayda Jamal

Tem milagre em cada mão

Com firmeza e com doçura

Massageia o coração

Se morasse no Oriente

Lá seria, certamente

Favorita do Sultão

 

Apoiado em duas mulatas

Duas muletas, na verdade

Karina me encontrou

E me tratou com vontade

É um anjo em minha vida

Amiga muito querida

Um exemplo de bondade

 

Bárbara, a Tiazinha

Para o hidroterapata

É o xodó, o carinho

Pelo jeito que nos trata

Seu sorriso é contagiante

Com massagem aliviante

A qualquer dor desacata

 

Hoa é minha Assessora

Memorial Onomástica

E também tem um jeitão

De quem fez muita ginástica

Com mãos macias no aperto

Eu digo com muito acerto:

Sua massagem é fantástica

 

Luciana, a Japinha

Vai ser mãe dentro de um mês

Desejo-lhe muita sorte

Mas eu digo pra vocês

Pra criar bem a menina

Vamos ver se ela lhe ensina

Nove e meio e japonês

 

O Professor Juliano

Parece até lutador

Porém toca clarineta

Tendo à Música muito amor

Com excelente desempenho

Esta opinião eu tenho:

Vai bem longe esse doutor

 

Alzira é a Secretária

Que agora se apresentou

Fica na burocracia

Onde tudo organizou

Dizem que por causa dela

Não há erro nem balela

E o Mundo não se acabou

 

(P. S. - Para os não poliglotas:

9 e meio em japonês é

ku-di-rã)


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 20 de setembro de 2018

DUAS MEDALHAS QUE MUITO ME ENVAIDECEM

 

DUAS MEDALHAS QUE MUITO ME ENVAIDECEM

Raimundo Floriano

 

 

Cheguei a Brasília no dia 7 de dezembro de 1960, ano da inauguração, com o firme propósito de consolidar minha vida profissional e ajudar a formar a população católica da nova Capital Federal. Éramos só Deus e eu!

 

Hoje, aos 82 anos de idade, com a bênção do Pai Celestial, considero-me completamente realizado. Conquistei tudo o que almejava, interagi, com meu trabalho e meus estudos, no cenário literomusical brasiliense, alegrei as ruas com a Banda da Capital Federal, escrevi livros, mantenho um site cultural e, o que é mais importante, construí uma família que hoje, com 10 integrantes, é o motivo de meu maior orgulho dentre tudo o que realizei.

 Vinícius, genro, Mara, filha, Veroni, Raimundo, Elba, filha e Fábio, genro

José Victor, neto, Zezinho, filho, Paula, nora, e Anna Paula, neta

 

 Cumpri dignamente os deveres para com Deus, a Pátria, a Família e a Sociedade. No dizer de São Paulo, combati o bom combate nesta Brasília que me acolheu, razão pela qual, a 30 de setembro, fui agraciado com esta comenda:

 

 

 Hélio Beltrão, Presidente do Clube dos Pioneiros, Veroni e Raimundo

 

Eis a primeira medalha que muito me envaidece:

  

Este ano, no dia 22 de março, Balsas, minha cidade natal, completou seu Primeiro Centenário, tendo eu ali nascido a 3 de julho de 1936, quando o município ainda era um adolescente. Nestas 8 décadas de minha existência, tenho dedicado imenso amor a esse querido torrão. Alegrei suas ruas e o Clube Recreativo com minha música e, em livros, contei sua história, abrangendo a navegação fluvial Balsas – Oceano Atlântico, com fotos de diversas embarcações e perfis dos principais homens que viveram essa linda saga, além dos homens e fatos que fizeram a grandeza da memória balsense.

 

Por isso, nas comemorações do Primeiro Centenário de Balsas, fui lembrado como um dos personagens que contribuíram para sua grandeza, conforme adiante se constata:

 

No ato da condecoração, fui representado pela sobrinha Maria Isaura da Silva Fonseca, a Isaurinha,  residente em Balsas,  em virtude da impossibilidade momentânea de minha presença, por motivo de saúde.

 

Eis o segundo troféu que me enche o peito de desvanecimento:

 Para honrar tanta deferência a minha pessoa, será com grande júbilo que passarei a ostentar no peito essas duas condecorações, em qualquer solenidade oficial que venha a comparecer.

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 22 de agosto de 2018

RONDÔNIA GRITA COM FORÇA: SOMOS BRASILEIROS!

 

RONDÔNIA GRITA COM FORÇA: SOMOS BRASILEIROS!

Raimundo Floriano

 

 Consta do livro Mad Maria, de Márcio de Souza lançado em 1980: Em 1911, a cidade de Porto Velho talvez fosse um fenômeno especial na América do Sul. Era uma cidade artificial e servia principalmente de escritório central da firma que estava construindo a ferrovia chamada Madeira – Mamoré. Era uma cidade muito peculiar, onde não se comemorava o Carnaval, mas se festejava o Dia de Ação de Graças. O dia 7 de setembro não era lembrado, mas a cidade engalanava-se no 4 de julho. No mês de junho, quando ventos frios vinham dos Andes, não havia folguedos tradicionais como bumba-meu-boi ou caninha verde, mas em agosto brincava-se animadamente o Dia das Bruxas, embora ali não vivessem crianças. Porto Velho tinha sido projetada, era artificial como quase tudo nos trinta e seis mil e seiscentos quilômetros quadrados de terras concedidas ao grupo (do americano) Percival Farquhar. A língua oficial era o Inglês e se tivesse sido feito um levantamento acurado ficaria constatado que poucas eram as pessoas que falavam o Português. Da simples concentração de tendas, Porto Velho foi ganhando ares de vilarejo. E era inteiramente habitada por funcionários da Madeira – Mamoré Railway Company. Por isso, não havia rua do comércio, nem bares, nem restaurantes. Em Porto Velho, imperava o suprassumo da iniciativa privada: tudo o que existia ali era monopólio do Sindicato Farquhar, incluindo a lei.

 

Consultando o Google, obtive informações mais abrangentes: Porto Velho foi criada por desbravadores por volta de 1907, durante a construção da E. F. Madeira – Mamoré. Fica nas barrancas da margem direita do rio Madeira, o maior afluente da margem direita do rio Amazonas. Desde meados do século XIX, nos primeiros movimentos para construir uma ferrovia que possibilitasse superar o trecho encachoeirado do rio Madeira (cerca de 380km) e dar vazão à borracha produzida na Bolívia e na região de Guajará Mirim, a localidade escolhida para construção do porto onde o caucho seria transbordado para os navios, seguindo então para a Europa e os EUA, foi Santo Antônio do Madeira, província de Mato Grosso. As dificuldades de construção e operação de um porto fluvial, em frente aos rochedos da cachoeira de Santo Antônio, fizeram com que construtores e armadores utilizassem o pequeno porto amazônico localizado 7km abaixo, em local muito mais favorável. Em 15/01/1873, o Imperador Pedro II assinou o Decreto-lei n.º 5.024, autorizando navios mercantes de todas as nações subirem o Rio Madeira. Em decorrência, foram construídas modernas facilidades de atracação em Santo Antônio, que passou a ser denominado Porto Novo. O porto velho dos militares continuou a ser usado por sua maior segurança, apesar das dificuldades operacionais e da distância até S. Antônio, ponto inicial da EFMM. Percival Farquhar, proprietário da empresa que, afinal, conseguiu concluir a ferrovia em 1912, desde 1907 usava o velho porto para descarregar materiais para a obra e, quando decidiu que o ponto inicial da ferrovia seria aquele (já na província do Amazonas), tornou-se o verdadeiro fundador da cidade que, quando foi afinal oficializada pela Assembleia do Amazonas, recebeu o nome Porto Velho. Após a conclusão da obra da EFMM, em 1912, e a retirada dos operários, a população local era de cerca de 1.000 almas. Então, o maior de todos os bairros era onde moravam os barbadianos – Barbadoes Town – construído em área de concessão da ferrovia. As moradias abrigavam principalmente trabalhadores negros oriundos das Ilhas Britânicas do Caribe, genericamente denominados barbadianos. Ali residiam, pois vieram com suas famílias, e, nas residências construídas pela ferrovia para os trabalhadores, só podiam morar solteiros. Era privilégio dos dirigentes morar com as famílias. Com o tempo, passou a abrigar moradores das mais de duas dezenas de nacionalidades de trabalhadores que para lá acorreram. Essas frágeis e quase insalubres aglomerações, associadas às construções da Madeira-Mamoré, foram a origem da cidade de Porto Velho, criada em 02 de outubro de 1914. Muitos operários, migrantes e imigrantes moravam em bairros de casas de madeira e palha, construídas fora da área de concessão da ferrovia. Assim, Porto Velho nasceu das instalações portuárias, ferroviárias e residenciais da Madeira – Mamoré Railway...

 

Com esses dados na cuca, embarquei num avião em Brasília, onde moro, rumo a Porto Velho, não só com o intuito de conhecê-la, como, principalmente, para assistir à posse dos 12 Promotores de Justiça recém-nomeados, dentre os quais Elba Albuquerque, minha primogênita, todos aprovados em concurso público.

 

O que encontrei apagou-me da mente qualquer aspecto negativo porventura formado. Uma cidade ordeira, pacífica e acolhedora, com população em muito assemelhada à de Brasília, altamente diversificada, composta pelos nativos e por brasileiros vindos dos quatro cantos do país. Amostra disso são os 12 novos promotores: Felipe Miguel, Lucilla e Bruno, do Paraná; Analice, Natalie e Rafaela, de Rondônia; José Paulo e Elba, do Distrito Federal; Marcos, de Mato Grosso do Sul; Felipe Magno, da Paraíba;  Naiara e Daeane do Rio Grande do Sul.

 

Do passado, restam, em Porto Velho, apenas lembranças, como a desativada Estação da Estrada de Ferro Madeira – Mamoré, algumas locomotivas, como a 12, monumentos e logradouros públicos, que relembram os bandeirantes pioneiros.

 

 Raimundo Floriano Veroni e Fábio, com a velha Mad Maria

 Raimundo Floriano na Recepção do Larison Hotel

 

Se, em 1911, não havia crianças em Porto Velho, tudo mudou, e sua população atual, em torno de 520 mil habitantes, é composta eminentemente de jovens, a exemplo dos 12 novos Promotores:

 

 Confraternização dos 12, depois da posse

 

Supremacia do belo sexo

 

Durante minha estada em Porto Velho, três especiais aspectos se fizeram notar, diferenciadores das demais grandes cidades por onde já passei: ausência de mendigos nas ruas, de flanelinhas nos estacionamentos e de pichações nas paredes.

 

O Brasão do Estado de Rondônia ostenta duas datas: 1943 e 1981. A primeira representa o ano em que sua área foi desmembrada do Amazonas e de Mato Grosso, configurando nova Unidade da Federação, o Território de Guaporé; a segunda, o ano em que Guaporé foi transformado no Estado de Rondônia, recebendo essa denominação em homenagem ao Marechal Rondon, glorioso desbravador daqueles sertões.

 

Devido aos primórdios citados por Márcio de Souza, e sua proximidade com a Bolívia, os demais povos consideravam, pejorativamente, Guaporé/Rondônia como terra estrangeira. Por isso, o Hino de Rondônia, de autoria de José de Melo e Silva e Joaquim de Araújo Lima, instituído pelo Decreto-lei nº 007, de 31 de dezembro de 1981, faz questão de desfazer esse lamentável engano:

 

HINO DO ESTADO DE RONDÔNIA

CÉUS DE RONDÔNIA

 

Quando nosso céu se faz moldura

Para engalanar a natureza

Nós, os bandeirantes de Rondônia,

Nos orgulharmos de tanta beleza.

 

Como sentinelas avançadas,

Somos destemidos pioneiros

Que nestas paragens do poente

Gritam com força: somos brasileiros!

 

Nesta fronteira de nossa pátria,

Rondônia trabalha febrilmente

Nas oficinas e nas escolas

A orquestração empolga toda gente.

 

Braços e mentes forjam cantando

A apoteose deste rincão

Que com orgulho exaltaremos,

Enquanto nos palpita o coração

 

Azul, nosso céu é sempre azul.

Que Deus o mantenha sem rival,

Cristalino muito puro

E o conserve sempre assim.

 

Aqui toda vida se engalana

De belezas tropicais,

Nossos lagos, nossos rios

Nossas matas, tudo enfim.

 

Vamos ouvi-lo:

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 11 de agosto de 2018

MINISTÉRIO PÚBLICO RONDONIENSE EM FESTA: POSSE DE 12 NOVOS PROMOTORES

 

MINISTÉRIO PÚBLICO RONDONIENSE EM FESTA:

POSSE DE 12 NOVOS PROMOTORES DE JUSTIÇA

 

 

 

Hoje, 11 de agosto, é o Dia do Advogado e, também, o Dia do Estudante, duas efemérides que nos levam a pensar, de imediato, na Juventude Brasileira. Juventude essa que ora se encontra premiada com a bonita festa preparada pelo Ministério Público de Rondônia, conforme se vê neste convite:

 

 

 

Tenho a imensa alegria de ser pai da Elba, que agora deixa nosso convívio, a saia da mãe, o colo do pai, o aconchego do lar, para a assunção de novo posto em sua vida funcional, prêmio da educação que Deus nos propiciou lhe transmitir, dentro do princípio que norteou sua formação: raízes para ficar, asas para voar e motivos para voltar. Fábio, seu marido, hoje um filho que ganhamos, também é partícipe dessa felicidade que impregna a todos nós.

 

As imagens a seguir são pequena amostra do que foram as comemorações:

Airton Pedro Marin Filho

Procurador-Geral de Justiça de Rondônia

 

 A família: alegria, alegria!

 

Promotora Elba Souza de Albuquerque e Silva Chiappetta

 

Ia-me esquecendo: é o maior presente que recebo amanhã, segundo domingo de agosto,

DIA DOS PAIS!

Promotora Elba e seus pais

HINO DO ESTADO DE RONDÔNIA


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas domingo, 08 de julho de 2018

CHORO NA COPA

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Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas segunda, 02 de julho de 2018

ORLANDO TEJO SE ENCANTOU

 

ORLANDO TEJO SE ENCANTOU

Raimundo Floriano

Orlando Tejo, Campina Grande, 1935 – João Pessoa, 2018

 

Orlando Tejo era poeta, repentista, escritor, jornalista, bacharel em Direito, guru da intelectualidade brasileira e funcionar aposentado do Senado Federal

 

Quando residia em Brasília, era amigo de minha casa e de minha família, além de companheiro de saraus que varavam a madrugada, armações inesquecíveis e memoráveis presepadas, uma delas narrada em meu livro Do Jumento ao Parlamento.

 

Encantou-se anteontem, 1º de julho de 2018, entregando a alma ao Pai Eterno. Foi encontro da Príncipa, como carinhosamente chamava a Josimar, sua amada esposa.

 

Dentre as joias literárias que nos deixou, tenho aqui comigo os livros A Hora e a Vez do Jumento, peça teatral em parceira com Esmeraldo Braga, e Zé Limeira, o Poeta do Absurdo, clássico da literatura nordestina, no qual se constata ter sido ele portador de um dom sobrenatural, sua magnífica memória: desde menino, sem dispor de gravador, após presenciar uma cantoria ou peleja entre repentistas, a reproduzia fielmente, transcrevendo-a em seus cadernos.

 

A seguir, alguns de seus poemas, inclusive Não Aguento Mais, deplorando a invasão de termos estrangeiros na Língua Portuguesa, que vocês lerão ao final.

 

Soneto dos Dedos que Falam

 

Que importa que foguetes cruzem marte

E bombas de hidrogênio acabem tudo,

Se aos meus dedos, teus dedos de veludo

Ensinam que o amor é também arte?

 

Não desejo mais nada além de amar-te

E em êxtase viver, absorto e mudo,

Sorvendo da ternura o conteúdo

Que antes te buscava em toda parte!

 

Esses dedos que afago entre meus dedos,

Que acaricio a desvendar segredos

De amor nestes momentos que nos prendem,

 

Têm qualquer coisa que escraviza e doma,

Porque teus dedos falam num idioma

Que só mesmo meus dedos compreendem!

 

Conceição 63

 

Rua da Conceição, sessenta e três

A artéria tem o ar de um cais comprido

Aqui, anos sem fim tenho vivido

Buscando a infância azul que se desfez.

 

Talvez seja isso um sonho, mas talvez

Este meu velho abrigo tenha sido

Da mesma argila minha construído,

Porque é a mesma a nossa palidez!

 

Ele a mim se assemelha: é ermo e triste.

No jardim, no quintal, no chão, no teto

Em tudo a mesma semelhança existe.

 

No tempo, entanto, aos céleres arrancos,

O seu telhado vai ficando preto

E os meus cabelos vão ficando brancos

 

Impasse

 

Se ficar onde estou não faço nada,

Se sair por aí corro perigo,

Se me calo minh’alma é sufocada,

Se disser o que sei faço inimigo…

 

Se pensar vou trair a madrugada

E se sonho demais vem o castigo,

Se quiser subo até o fim de escada,

Mas precisa brigar, e eu não brigo!

 

Se cantar atropelo o contracanto,

Se não canto maltrato o coração,

Se me faço sofrer me desencanto,

 

Se reprimo o ideal perco a razão,

Se perder a razão, resta-me o pranto

E meu pranto não faz uma canção.

 

Não Aguento Mais

 

Eu saí da Paraíba,

Minha terra tão brejeira,

Pra fazer publicidade

Na Veneza Brasileira

Onde a comunicação

É toda em língua estrangeira.

 

É uma ingrizia só

O jeito de se falar,

O que a gente não compreende,

Passa o tempo a perguntar

E assim como é que eu vou

Poder me comunicar?

 

É bastante abrir-se a boca

O “Inglês” fala no centro,

Nessa Torre de Babel

Eu morro e não me concentro

Até parece que estamos

De Nova Iorque pra dentro!

 

Lá naquele fim de mundo

Esse negócio tem vez

Porque quem vive por lá

O jeito é falar Inglês,

Mas, se estamos no Brasil

O jeito é falar Português!

 

Por que complicar a guerra

Em vez de se esclarecer?

E se “folder” é um folheto

Por que assim não dizer?

Pois quem me pedir um “folder

Eu vou mandar se folder.

 

Roteiro é “story board

Nesse vai e vem estrangeiro,

Parece até palavrão

Que se evita o tempo inteiro...

Porque seus filhos das putas,

A gente não diz roteiro?

 

Estão todos precisando

Dos cuidados do Pinel

Será feia a nossa língua?

É chato nosso papel?

Por que esse tal de “out door

Substituir painel?

 

É desrespeito à memória

De Camões que foi purista

E esse massacre ao vernáculo

Não aguenta o repentista

Pois chamam “lay out-man

O homem que é desenhista!

 

Matuto da Paraíba,

Aqui juro que não fico,

Onde até se tem vergonha

De um idioma tão rico

Por que se chamar de “free-lancer

Um sujeito que faz bico?

 

Publicidade de rádio

Apelidaram de “spot

E tem outras besteiradas

Que não cabem num pacote.

Acho que acabou o tempo

De acabar esse fricote!

 

Por exemplo: “body type

Midia”, “top”, “merchandising”,

Checking list”, “past up

(Que se diga de passagem)

Brieffing”, “Top de Marketing”,

Tudo isso é viadagem!

 

Já é hora de parar

Com esse festival grosso

Para que o nosso idioma

Saia do fundo do poço.

Para isso eu faço esse “raff”,

Isto é –perdão! – esboço!


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas domingo, 17 de junho de 2018

POR ONDE ANDARÁ ZÉ BENEDITO?

 

POR ONDE ANDARÁ ZÉ BENEDITO?

Raimundo Floriano

(Matéria publicada em no dia 7 e junho de 2010)

  

                        No final desta semana, começa a 19ª Copa do Mundo de Futebol!

 

                        De 11 de junho a 11 de julho, será o assunto que dominará a atenção de todo o Planeta Terra, fazendo com que a mídia, num passe de mágica, esqueça todos os problemas que afligem a humanidade, como doenças, terremotos, guerras, inundações, vazamentos de petróleo, desastres, com os olhos voltados apenas para o resultado de cada rodada e as previsões para as seguintes. Será um mês inteirinho de completo e descarado oba-oba!

 

                        E eu, do alto do meu bestunto, ou da minha privilegiada clarividência, ouso declarar: esta Copa é nossa, seremos Hexa! Baseado em quê? – perguntar-me-á o leitor. E eu respondo: em dedução irrebatível, como adiante justificarei.

                       

                        Só lamento é que, no dia 11 de julho, após a Decisão, eu não tenha perto de mim o cidadão Zé Benedito, para exibir-lhe a Taça e esfregar-lhe na cara a nossa faixa de Hexacampeões. E quem é Zé Benedito? É o que vocês voltarão a me interrogar. E eu lhe digo: calma no Brasil! Quem muito quer saber, mexerico quer fazer! Devagar, chegamos lá!

 

                        Por ora, posso adiantar-lhes que esse senhor, num certo momento de minha vida, fez, coberto de razão, com que eu me sentisse um caretão malaca desvairado, um perfeito cara de tacho!

 

                        Até hoje, no limiar de nova Copa, sou questionado pelo fato de, tendo fundado a Banda da Capital Federal em 1972, colocando-a na rua para animar as torcidas desde então, mesmo sem expectativa alguma da conquista final, como em 1974, deixei passar em branco as Copas de 1982 e 2006. Se é para esclarecer, esclarecerei!

 

                        Em 2006, depois daquela apoteótica comemoração em 2002, quando festejamos o Penta e os 30 anos de fundação da Banda, uma festa maior, pelo menos para mim, encontrava-se em preparação: os meus 70 anos a completar no dia 3 de julho, uma segunda-feira.  Com o pensamento todo voltado para o churrasco/forró que anteciparíamos para o dia 2, domingo, aqui em casa não tínhamos cabeça para mais nada.

 

                        Dentre os 705 convidados, dos quais compareceram 520, havia mais de 30 músicos, com os quais eu combinaria a saída da Banda no dia da Decisão. Mas isso não veio a ocorrer, pois na véspera, sábado, 1º de julho, Brasil foi eliminado pela França.

 

                        Em 1982, minha festa pessoal era outra, a maior em minha vida. No dia 17 de julho, iria me casar com a jovem que escolhi para acompanhar-me pelo resto dos meus dias. O meu entusiasmo pelo grande passo, que mudaria por completo a minha vida errante de solteiro, aliado à onda de patriotismo que se apoderou de todo o povo brasileiro naquela Copa, era o prenúncio de uma saída triunfante da Banda da Capital Federal no dia conquista do Tetra.

 

                        Ao ver a lista do Técnico Telê Santana com os nomes dos convocados para a Seleção Brasileira, uma pequena frustração. Roberto Dinamite, a estrela do Vasco, meu time, dela não constava. Mas como? Se ele fora o artilheiro do Campeonato Carioca anterior, com 31 gols? Se, aos 28 anos, ele se encontrava no auge de sua forma física e técnica? Meu descontentamento foi superado pelo patriotismo do qual me encontrava imbuído. Torceria pelo Brasil com Dinamite ou sem Dinamite.

 

                        Esta era a Seleção: Valdir Peres, Leandro, Oscar, Luizinho, Toninho Cerezo, Junior, Paulo Isidoro, Sócrates, Serginho Chulapa, Zico, Éder, Paulo Sérgio, Edvaldo, Juninho Fonseca, Falcão, Edinho, Pedrinho, Batista, Renato, Careca, Dirceu e Carlos. Esquadrão imbatível! Já na Espanha, Careca se contundiu, e Telê foi obrigado a convocar aquele que faltava, o Dinamite. Porém só para constar, pois ele não participou de qualquer dos jogos.

 

                        Na minha despedida de solteiro, no dia 3 de julho, um sábado, a Banda da Capital Federal dela participou e ficou decidida a próxima reunião no dia da Decisão, para abrilhantarmos o povão que nas ruas festejaria a grande conquista.

 

                        Mas aí veio o que se passou a denominar A Tragédia do Sarriá, referência ao estádio do mesmo nome. No dia 5, segunda-feira, Roberto Dinamite nem para o banco de reservas fora escalado! E aquele inexpugnável elenco, que batera a União Soviética por 2x1, a Escócia por 4x1, a Nova Zelândia por 4x0, e a Argentina por 3x1, foi surpreendido, quando lhe bastaria o empate, pela Esquadra Azurra, perdendo por 2x3, três gols do reserva Paolo Rossi.

 

                        Quase toda a Nação Brasileira caiu em pranto, e muitos dos torcedores mais exaltados, ou inspirados pelo álcool, rasgaram a camisa amarelinha e queimaram a bandeira brasileira. Isso eu vi, lá na Rua do Beirute.

 

                        Mais ou menos às 21h00 daquele dia, correu, como um estopim, por todo o País, a notícia de que a Fifa anularia o resultado e daria a vitória para o Brasil, devido a terem descoberto, no exame antidoping, que Paolo Rossi jogara dopado e, consequentemente, seus gols não seriam computados.

 

                        Imediatamente, tratei de espalhar a boa nova, ligando, primeiramente, para minha noiva, e, depois disso, para a minha inteira agenda, anunciando essa ressuscitada esperança. Mas foi só fogo de palha. Naquela mesma noite, a Rede Globo jogou água fria em nossas cucas, desmentindo o boato. Frustrado fui dormir e mais frustrado ainda rumei na manhã seguinte para o trabalho.

 

                        Ao abrir o jornal Última Hora, me deparo com esta carta, que guardei por todos esses anos, porque parece ter sido endereçada a mim:

  

 

                        – Foi comigo! – Pensei – foi comigo! Esse cara me conhece e fez uma carta toda ela dedicada à minha pessoa! Fica vermelha, cara sem-vergonha! – Falei de mim para comigo.

 

                        Depois disso, conquistamos o Tetra e o Penta. E agora, com a seleção do Técnico Dunga, seremos Hexa! E não é só pela qualidade dos excelentes jogadores convocados não, é por um infalível vaticínio para o qual só agora vim a atentar, do qual lhe falarei ao término desta.

 

                        Eis o Esquadrão Predestinado de 2010: Julio César, Doni, Gomes, Maicon, Daniel Alves, Lúcio, Juan, Luisão, Thiago Silva, Gilberto, Michel Bastos, Gilberto Silva, Felipe Melo, Josué, Elano, Ramires, Kleberson, Kaká, Julio Baptista, Robinho, Nilmar, Luís Fabiano e Grafite.

 

                        Como é de praxe, líquido e certo, a Seleção Brasileira partiu para a África do Sul depois de ser abençoada pelo Presidente da República e tirar a foto histórica:

 

 

                         E isso me faz lembrar que existem Presidentes pés-frios e Presidentes pés-quentes. Dos Presidentes pés-frios não vou falar. A História já os carimbou. Ocupo-me, com muito prazer futebolístico, apenas dos Presidentes pés-quentes.

 

                        Vejamos os grandes sortudos: Juscelino Kubitscheck, Campeão em 1958; João Goulart, Bi em 1962; Garrastazu Médici, Tri em 1970; Itamar Franco, Tetra em 1994; e Fernando Henrique, Penta em 2002.

 

                        E, confiando em quê, eu desejo encontrar Zé Benedito, no dia da Partida Final desta Copa, para exibir-lhe nossa taça de Hexacampeões? Em que me baseio para ter tanta certeza da conquista? Apenas num pequenino detalhe, para o qual só atinei nos tempos atuais. Taí ele:

 

                        Nunca antes na História Democrática deste País um Presidente da República perdeu duas Copas Mundiais seguidas. Fernando Henrique perdeu a de 1998, mas ganhou a de 2002. O atual Presidente perdeu a de 2006, logo, o Hexa tá no papo!

 

                        Só isso!

 

                        Em que pese a bola, ou apesar dela! Tanto faz!

 

(COMENTÁRIO DO AUTOR ANTES DO PRIMEIRO JOGO DO BRASIL NA COPA DE 2018: Como viram, queimei a língua. O que nunca fora visto antes na História Democrática deste País, aconteceu, um Presidente da República perdeu duas Copas Mundiais seguidas. Aliás, enquanto a dupla Itamar/FHC ganhou duas copas e foi vice em uma, a dupla Lula/Dilma perdeu três encarriladas)


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas domingo, 24 de dezembro de 2017

CRÔNICA DE UMA SERESTA NATALINA BALSENSE

 

CRÔNICA DE UMA SERESTA NATALINA BALSENSE

Raimundo Floriano

 

Noite enluarada no sertão brasileiro

 

                        Aconteceu há quase 54 anos, noite de 23 para 24 de dezembro de 1960, sexta-feira, antevéspera do Natal.

 

                        Numa cidade em que não havia televisão, e a iluminação pública apagava por volta das 22 horas, a opção noturna para o encontro da mocidade em férias se resumia nas festas dançantes que realizávamos no Clube Recreativo Balsense ou em alguma casa de família, com iluminação a petromax e música a cargo do conjunto de Martinho Mendes. A cota arrecadada entre os rapazes cobria todas as despesas.

 

                        Estávamos radiantes com a festa que realizaríamos no clube naquela noite, quando recebemos um balde de água fria: o bispo da Prelazia, Dom Diogo Parodi, proibira qualquer dança no período natalino, por ser uma época de recolhimento e orações, como afirmava. E não houve jeito de contornar o assunto. A presidência do clube caçou-nos a licença já concedida, o Martinho tirou o corpo fora, e nenhuma casa de família se atreveu a contrariar a ordem episcopal. Diante do impasse, resolvemos partir para uma serenata.

 

                        Marcamos o ponto de reunião no coreto – hoje inexistente – da Praça da Matriz e, enquanto aguardávamos a lua sair e a chegada dos seresteiros, demos início ao consumo de bebidas quentes – licor Perobina, cachaça Jararaca, conhaque São João de Barra, Martini, quinado Cinzano e rum Bacardi –, ao mesmo tempo em que entoávamos cantigas em altos decibéis, para acordar o pessoal da Casa Paroquial, verdadeira pirraça em desagravo.

 

                        Um dos seresteiros era o preto velho Fuçura, guarda municipal e vigia dos jardins da praça. Dávamo-lhe boas doses de pinga e mandávamos que ele gritasse bem alto DOM DIOGO!, porém ele, respeitoso por demais, repetia: PÃO DE OURO! Outro companheiro a chegar foi o Thucydides Miranda, filho da Jeruza, entrado na adolescência, mas todo metido a rapaz. Ele e o Fuçura ficaram responsáveis pelo transporte das garrafas sobressalentes – as cheias, evidentemente.

 

                        Pela meia-noite, a trupe estava completa: José Bernardino, Gonzaguinha, Antônio Pires, Cazuzinha, Aluizio Soares, Raimundo Chaves, Raimundo Solino, Arenaldo, Otaviano do Zé do Joca, Nonato do Souzinha, Mestre Rubens, Pedro Correia e João Batista, seu irmão, Luizão, Pedro Nilo, Fonsequinha, João Emigdio, Zé Farias, que chegara de Brasília em teco-teco fretado, além de mim no violão, meu irmão Afonso Celso na sanfona, Possidônio na flauta e Régis, novo morador balsense, no cavaquinho.

 

                        A casa escolhida para início da jornada foi a de Seu Araripe, na Rua Isaac Martins, por motivos óbvios: grande concentração de moças bonitas e dos sonhos de alguns. O próprio Araripe veio à porta, ofereceu-nos bebidas e, após nossos cânticos, ele e seu filho José, o Sampaio, incorporaram-se ao cortejo.

 

(É oportuno relembrar que a residência de Seu Araripe e Dona Tercília, sua mulher, era o ponto de reunião da juventude balsense em férias. Dançava-se à luz de candeeiros ou lamparinas, ao som dum rádio de pilha – foi ali que aprendi a dançar. Em noites de claridade lunar, dispunham-se, no terreiro em frente, num grande círculo, cadeiras arrecadadas na casa e na vizinhança, onde se realizavam diversas brincadeiras sertanejas, como a do anel, a da berlinda e a do amigo secreto, sempre sob a direção das filhas daquele querido e simpático casal cearense. Uma delas, por sinal, recém-nascida em 1960, participou, 18 anos mais tarde, do concurso Miss Brasil, representando o Estado do Ceará).

 

                        A seguir, cantamos na porta de Marica Rocha, Salomão Ahuad, Moisés Coelho, Chico Florentino, Doutor Gonzaga, Augusto Pires, Absalão da Maroca e, por solicitação de Seu Araripe, na de Dionel Souza, do Banco da Amazônia, grande cantor de modinhas, o qual também a nós se juntou. Seu ponto forte era a valsa Uma Grande Dor não se Esquece, de Ernani Campos e Antenógenes Silva, gravação de Carlos José e Gilberto Alves, que ele entoou uma porção de vezes durante o percurso, atendendo a pedidos:

 

Choro a lágrima fremente

O pranto cruciante

Que rola internamente

Choro a lágrima sentida

A lágrima dorida

Que verte o coração

Sinto o espinho da saudade

E sofro a realidade

Da grande ingratidão

E na imensidão da dor

Eu sofro só o meu amor

 

Menestrel apaixonado

Eu vivo desolado

Chorando a minha dor

Choro a lágrima dorida

A lágrima sentida

Que sai do coração

Sinto a dor que mora n'alma

A dor que não se acalma

A dor que eu não esqueço

Sofro, eu sofro e não mereço

A dura ingratidão

Que me devora o coração

 

                        Continuando a seresta, paramos na porta do Coronel Fonseca, Pedro Inácio, Odilon Botelho, Jocy Barbosa, Luiz Fonseca e Theodorico Fernandes, onde topamos com o Antônio José da Úrsula, munido de uma radiola a pilha, em seresta particular, com discos em que dominavam os nomes de Lindomar Castilhos, Agnaldo Timóteo e Waldick Soriano. Deixamo-lo no local, curtindo uma grande paixão, e seguimos até a próxima parada, a casa de Seu Silvério Sampaio.

 

                        Dali, seguimos para a casa de Dona Nemézia Pereira, que veio nos receber, abriu sua mercearia e nos abasteceu de bebidas quentes, cujo estoque estava quase a zero.

 

                        Nesse momento, baixou em Dionel a personalidade do Cabo Didi, ao qual passamos a obedecer, principalmente no que tangia ao consumo das quentes. Quando ele achava que era chegado o momento apropriado, cada um pegava sua garrafa e executava estas ordens sob seu comando:

 

                        – Atenção!

                        – Preparar! – Todos segurávamos a garrafa pelo gargalo.

                        – Apontar! – Encostávamos a boca da garrafa nos lábios.

                        – Fogo! – Nem preciso dizer.

 

                        Da porta de Dona Nemézia, fomos até a de Dona Belinha Coelho, que nos serviu tira-gostos de queijo e cujo marido, Tenente Pedro Segundo, também se juntou a nós. Mas antes, a pedido de Dona Belinha, cantamos a toada Luar do Sertão, melodia de João Pernambuco e letra do maranhense Catulo da Paixão Cearense, a música mais repetida naquela noite.

 

                        Apenas quem mora em locais onde não há iluminação elétrica pode avaliar a beleza duma noite enluarada. E foi nessa pureza sem poluição tecnológica que Catulo se inspirou para fazer sua mais bela poesia. Luar do Sertão é o Hino da Seresta Maranhense. Eis a parte mais conhecida:

 

Oh, que saudade do luar da minha terra

Lá na serra branquejando, folhas secas pelo chão

Este luar cá da cidade tão escuro

Não tem aquela saudade do luar lá do sertão

 

Não há, oh gente, oh não,

Luar como este do sertão!

Não há, oh gente, oh não,

Luar como este do sertão!

 

Se a lua nasce por detrás da verde mata

Mais parece um sol de prata prateando a solidão

A gente pega na viola que ponteia

E a canção é a lua cheia a nos nascer no coração

 

Não há, oh gente, oh não,

Luar como este do sertão!

Não há, oh gente, oh não,

Luar como este do sertão!

 

Coisa mais bela neste mundo não existe

Do que ouvir-se um galo triste, no sertão, se faz luar

Parece até que a alma da lua é que descanta

Escondida na garganta desse galo a soluçar

 

Não há, oh gente, oh não,

Luar como este do sertão!

Não há, oh gente, oh não,

Luar como este do sertão!

 

Ai, quem me dera que eu morresse lá na serra

Abraçado à minha terra e dormindo de uma vez

Ser enterrado numa grota pequenina

Onde à tarde a sururina chora a sua viuvez

 

                        Faziam parte de nosso repertório Noite Cheia de Estrelas, de Cândido das Neves, A Volta do Boêmio, de Adelino Moreira, Chão de Estrelas, de Orestes Barbosa e Sílvio Caldas, Noite Feliz, de Franz Gruber, versão brasileira de Mário Zan e Arlindo Pinto, Boas Festas, de Assis Valente, e outras canções no gênero consagradas.

 

                        Altas horas, próximo à porta de Justiniano Fonseca, onde íamos cantar, deparamos com o negro De Pau – assim era conhecido –, deitado numa calçada, dormindo de roncar e agarrado a seu violão, nessas alturas só com duas cordas. Era a terceira serenata daquela noite que, para o negão, se acabava ali.

 

                        Na mercearia de Zé Dué, reabastecemos o estoque de quentes.

 

                        Demais casas em cujas portas cantamos: Joaquim Coelho, Joca Rêgo, Tarcísio Moreira, Lourdes Pires, Constâncio Coelho, Omar Ribeiro, Salvador Coelho, Chico Valentim, Miriam Rocha, Rafael Sabonete, Antônio Sepúlveda, Luzia Félix, Emília Câmara, Santo Coelho, Edna Pires, Gesner Soares, Didácio Santos, Dolores Lima, Ritinha Pereira, Evísio Botelho, Iaiá Gomes, Naninha Cansanção, Mestre Carlos, Sinharinha Florentino, Maria Luísa Solino e Zé Marques.

 

                        Em cada parada, o por todos ansiado comando do Cabo Didi: Atenção! Preparar! Apontar! Fogo! A certa altura, demos com a falta do Thucydides, ao notarmos que ele repassara ao Fuçura as bebidas sob sua guarda. Mandamos procurá-lo, sendo ele encontrado na Rua do Zé Bento, escornado na calçada do Major Lisboa. Aí, descobrimos que, invariavelmente, ao ser comandado, também o garotão fazia fogo. Reanimado a troco de água fria na cara, foi conduzido à casa da Jeruza, e a ela entregue, para especiais cuidados maternais.

 

Última parada na seresta natalina

 

                        Quase raiando o dia, chegamos à porta de Seu Rosa e Dona Maria Bezerra, meus saudosos pais, onde, depois de cantarmos a Valsa da Despedida, de Robert Burns, versão de Braguinha e Alberto Ribeiro, a turma se dispersou, finalizando a seresta.

 

                        Na maioria das residências onde paramos, as meninas-objeto de nosso romantismo vieram à janela para ouvir-nos, sorrir-nos e, em muitos dos casos, acenar-nos com venturosas esperanças.

 

                        Os menestréis éramos quase todos nós. Meu carro-chefe seresteiro sempre foi a toada Rancho de Serra, de Herivelto Martins e Blecaute, gravada em 1956 pelo Trio de Ouro.

 

                        No dia seguinte, para que a população balsense identificasse as ruas por onde a seresta passou, bastava seguir a trilha de garrafas vazias deixadas pelo caminho.

 

                        Para vocês, duas das canções acima citadas:

 

Rancho da Serra, toada de Herivelto Martins e Blecaute, com Rolando Boldrin:

 

 

Luar do Sertão, toada de Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco, com Inezita Barroso:

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas domingo, 10 de dezembro de 2017

PERUCAS QUE MUDARAM A VIDA DE MUITAS CRIANÇAS

COM AGRADECIMENTOS A MINHA CUNHADA MARIA DO SOCORRO LIA, QUE ME ENVIOU ESTE VÍDEO:


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 07 de dezembro de 2017

O RIO BALSAS, PATRIMÔNIO NOSSO, PEDE SOCORRO


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 06 de dezembro de 2017

TIRIRICA ENVERGONHA-SE COM A POLÍTICA BRASILEIRA E RENUNCIA AO MANDATO DE DEPUTADO FEDERAL


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas segunda, 04 de dezembro de 2017

DESQUITADA, MARCHINHA, COM CLÉRIO MORAES - 1963

 

 

Desquitada, marchinha de Carlos Mores e Luiz de Carvalho, com Clério Moraes - 1963:

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 05 de outubro de 2017

RESPEITO É BOM E EU GOSTO!

RESPEITO É BOM E EU GOSTO!

Raimundo Floriano

 

Seu Rosa Ribeiro, meu saudoso pai, nasceu no ano de 1891, ou seja, no século retrasado. Por aí vocês podem deduzir o sistema em que eu fui criado. Tomar a bênção pela manhã, acatar os mais velhos, não se meter na conversa dos adultos sem pedir licença, obedecer aos professores, não falar de boca cheia, pedir permissão para fazer a barba pela vez primeira, honrar a palavra dada, e por aí vai.

 

Mas isso são coisas ultrapassadas. No mundo atual, parecem até mentira esses costumes tirados do fundo do baú do esquecimento. Devemos nos adaptar aos ditames da modernidade: em terra de sapo, de cócoras com ele.

 

Este ano, fui alvo de maravilhosa surpresa. Minha prima Magnólia Baptista, residente em Teresina, nonagenária, enviou-me este belo presente, onde narra a história de sua vida que, por extensão, é a de grande parte da dos Sousa e Silva e dos Albuquerque e Silva:

 

 É um poema em prosa, condizente com a sensibilidade artística e poética da prima Magnólia, e, ao mesmo tempo um tratado de sociologia, quando discorre sobre os tempos de sua infância vivida na Fazenda Brejo, do Capitão Pedro José da Silva, nosso avô.

 

Magnólia nada esconde, desde os mínimos detalhes, como a higiene pessoal na fazenda, onde não se dispunha de papel higiênico, passando pelos momentos vitoriosos de sua vida, com eventuais desprazeres, como a perda de uma filha e o autopadecimento de enfermidade considerada quase incurável.

 

Com muita graça, referindo-se ao sistema em que fomos criados, relembra dois episódios ocorridos em Floriano, que aqui reproduzo, escaneando-os, para não cometer lapsos na transcrição:

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 29 de setembro de 2017

MARIA RODRIGUES, NOSSO ANGELITO NEGRO

MARIA RODRIGUES, NOSSO ANGELITO NEGRO

(29.09.1929 – 09.11.2013)

Raimundo Floriano

 

 Maria Rodrigues

 

                        Maria Rodrigues da Silva nasceu em Floriano (PI), no dia 29.09.1929, filha de Laurindo Rodrigues da Silva e Cesária Maria da Conceição. Aos três anos de idade, ficou órfã de pai e mãe. Dona Cesária morreu em decorrência de males oriundos de sua intensa exposição ao calor nas bocas dos fornos das olarias onde trabalhava. Seu Laurindo, também, vítima de infecção no calcanhar, provocada pela mordida de um gato, no rabo do qual pisara.

 

                        Seu irmão mais velho, num total de sete, Fernando, já casado e com três filhos, residente em Uruçuí (PI), ciente dos demais irmãos desamparados, foi buscá-los. A viagem de volta, num percurso de 208 km, foi feita a pé, levando seis dias na caminhada. Um dos pousos foi a Fazenda Brejo, antiga propriedade do meu avô paterno, Capitão Pedro José da Silva, hoje em poder do meu primo Airton, médico residente em Teresina, filho do Comandante João Clímaco, o Tio Joãozinho.

 

 Maria Rodrigues e Comandante Puçá

 

                        Maria Rodrigues era irmã de José Rodrigues dos Santos, o Comandante Puçá, que a trouxe para Balsas na Década de 1940, quando começou a tripular embarcações pertencentes a armadores de nossa cidade.

 

                        Sua família está, desde o início da Década de 1950, intimamente ligada à minha. Fernando é o pai da Maria Júlia, que foi morar conosco em 1951, ainda menina, sendo, praticamente, criada por Dona Maria Bezerra, minha mãe. Seguiu ela com minha irmã Maria Alice para Engenheiro Dolabela (MG), quando esta se casou, acompanhando-a nas mudanças para Brotas (SP), Anápolis (GO), e, finalmente, Balsas. Em 1974, veio cuidar de minha residência aqui em Brasília. Mais tarde, casou-se com Odílio Silva, seu primo, antigo craque da Seleção Balsense de Futebol, com o qual teve um filho, o Reinaldo, meu afilhado, hoje Engenheiro da Computação, todos residentes em Anápolis, Odílio já falecido, e ela aposentada pelo INSS.

 

                        Maria Rodrigues, a Maria, como sempre a chamei, veio a ser um forte esteio para minha gente em Balsas, nas ocasiões mais delicadas. Fechou os olhos de minha mãe, em seu último suspiro, tendo-a velado como se parente fosse. Igualmente, esteve à cabeceira de Seu Rosa Ribeiro, meu pai, até que expirasse. Desde 1969, constituiu-se em amiga, conselheira, companheira, praticamente mãe de minha irmã Maria Alice, falecida de mal súbito em 2002.

 

                        Lembram-se daquele filme Mary Poppins, em que uma fada apareceu do espaço sideral, navegando em seu guarda-chuva, para dar jeito numa família inglesa toda desnorteada? Pois bem assim aconteceu conosco!

 

                        Na madrugada de 17 de fevereiro de 1969, estávamos todos os irmãos perplexos, apavorados, inertes, diante do leito de morte de nossa mãe – era o primeiro ente querido que perdíamos na família –, quando se materializou no quarto, enviado pelo firmamento celeste, aquele angelito negro, que se impôs perante nós e os demais presentes, encomendando a alma de Maria Bezerra aos braços do Senhor, fechando-lhe os olhos, dando-lhe banho, amortalhando-a, colocando-a no caixão e passando, desde então, a cuidar de todos nós.

 

                        Depois da Missa do Sétimo Dia, retornamos às cidades onde morávamos, ficando em Balsas apenas a Maria Alice, que lá exercia o cargo de Tabeliã do 2° Ofício.

 

                        Maria Bezerra deixou-nos para sempre, mas sua partida legou-nos outra Maria que passou a substituí-la no papel de nossa mãe. Aos 40 anos de idade, Maria Rodrigues assim se impunha pelo carisma e pela dedicação demonstrada até seus momentos finais.

 

                        Maria Alice, desde o início dessa maravilhosa simbiose, teve a premonição de que um dia deixaria o mundo antes de Maria Rodrigues. Por isso, a partir de quando foi por ela perfilhada, passou a contribuir para o INSS em seu nome, garantindo-lhe futura aposentadoria. E mais, ao constatar que o valor de seus proventos seria ínfimo, conseguiu, com o prestígio de que gozava, sua nomeação como funcionária pública do Estado do Maranhão. Dessa forma, ao completar 70 anos, Maria se aposentou com duas fontes de renda.

 

                        Há muito, Maria se constituíra como arrimo de Raimunda, sua irmã, e de grande quantidade de sobrinhos e parentes afins que ainda batalhavam na luta pela subsistência.

 

                        Nesse tempo, residia na Rua Nova, em casa alugada, bem distante da Rua do Frito, hoje 11 de Julho, onde Maria Alice morava. Esta, visando a garantir uma velhice tranquila para Maria e sua irmã, mandou construir, na metade do terreno onde morava, belíssima casa de esquina, na Rua Isaac Martins, que lhe foi entregue com escritura passada em cartório. Adiante, a frente da simpática moradia, escondida por um muro, exigência de segurança no modernismo balsense:

  

                        Pelos arbustos floridos que a enfeitam, pode-se avaliar como seria o jardim, entre sua casa e a de Maria Alice, do qual Maria cuidava com esmero, sendo o local preferido para a foto oficial dos casais menos apercebidos que contraíam matrimônio no Cartório, situado na esquina da Rua do Frito.

 

 Maria Rodrigues em seu impecável jardim 

                        Maria era pessoa antenada com os acontecimentos da cidade e com a sociedade balsense. Zeladora do Sagrado Coração de Jesus, como foram Maria Bezerra e Maria Alice, participava, anualmente, da Comissão Organizadora dos Festejos de Santo Antônio.

 

                        Maria viveu num tempo em que não havia esse negócio chamado selfie, e as raras fotografias que temos dela são todas esmaecidas, razão pela qual pedi ao amigo Juarez Leite, artista plástico, que as reproduzisse, dando-lhes mais vigor.

 

                        Maria Alice, como previra, foi embora primeiro. No dia 3 de março de 2002, partiu mansamente, como dito acima. Maria, que já desempenhara competentemente o papel de sua mãe, irmã e amiga, assumia, tacitamente, esse mesmo papel junto a seus filhos. A seguir, vêmo-la, já em idade avançada, em companhia do Doutor Raimundinho, filho da Maria Alice, que, diariamente, tomava refeições em sua casa.

 

 Maria Rodrigues e Raimundinho 

                        Maria teve um grande amor na vida. Chamava-se Camilo. Durante a construção de Brasília, ele para aqui arribou, com a promessa de mandar buscá-la tão logo se ajeitasse financeiramente, porém jamais deu notícia. Por essa razão, Maria nunca mais quis saber de homem.

 

                        No dia 9 de novembro de 2013, aos 84 anos de idade, nosso angelito negro encantou-se, voltando à Casa do Pai, de onde viera para cuidar de todos nós.

 

                        Hoje, 29 de setembro, Maria Rodrigues comemora mais um aniversário. Desta vez no Paraíso, juntamente com sua grande amiga, como todos os anos acontecia em sua vida terrena. Lá no Céu, em singelo congraçamento, enquanto ela corta o bolo, Maria Alice canta-lhe “Parabéns pra você”.

 

 O Angelito e Maria Alice: Festa no Céu 

                        Para musicar essa festa, nada melhor que um bolerão das antigas, como Angelitos Negros, poema do venezuelano Adrés Eloy Blanco, com letra do mexicano Manuel Álvarez Macisto, na interpretação da madrilenha Nati Mistral. Vamos ouvi-lo:

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas segunda, 18 de setembro de 2017

LIMPÍADA É O CACETE!

LIMPÍADA É O CACETE!

(Publicada no dia 15.08.2016)

Raimundo Floriano

 

(Desculpem a crase: nem tudo no Google é perfeito)

 

                        Meu colega José Nêumanne Pinto, no dia 6 de agosto, em sua coluna aqui no Jornal da Besta Fubana, arrepiou cipoadas no lombo de certos personagens da mídia que teimam em usar a palavra “olimpíadas”, referindo-se a um só evento. Aproveito a deixa para também dar uma palhinha em tema que, há algum tempo, vem me aborrecendo por demais.

 

                        Eu fico puto dendascalças, chega me dá um tic-tic nervoso, diante da macaquice, mania de imitação de meus patrícios de agora, assimilando tudo que vem de fora, sem o menor raciocínio, apenas para igualar-se ao nível inferior, por acharem bonito, por ser atual.

 

                        Foi-se o tempo da pureza brasiliense, em que curtíamos a vida adoidado no Centro Comercial Gilberto Salomão. Agora, é shopping center para todo lado que se vai. As meninas candidatas ao estrelato, ou mesmo comemorando seus 15 anos, já não providenciam um álbum fotográfico, pois a moda é o book, que mais nada o é. E as redundâncias são até dignas de riso: moda fashion – se a tradução de fashion é moda, o resultado é moda moda; calça jeans – se jeans é calça, o alienado está se referindo à calça calça. Pleonasmos pra mais de metro! E por aí vai!

 

                        No ano de 1960, foi realizada em Roma, pela primeira vez, a Paraolimpíada, maior evento esportivo mundial envolvendo pessoas com deficiências físicas – de mobilidade, amputações, cegueira, paralisia cerebral. Teve origem em Stoke Mandeville, Inglaterra, onde ocorreram as primeiras competições esportivas para deficientes físicos, como forma de reabilitar militares feridos na Segunda Guerra Mundial

 

                        Em decorrência, surgiu a denominação Jogos Paraolímpicos, que o Brasil adotou até 2012, conforme vocês veem na imagem que abre esta matéria.

 

                        Mas, um dia, lá no Estrangeiro, suponho, um cara raciocinou assim: – Ora, se esses jogos são para deficientes físicos, a maioria composta de amputados, vamos amputar uma letra em sua denominação! Daí, Olimpíada virou Limpíada, donde Jogos Paraolímpicos viraram Jogos Paralímpicos (até o corretor ortográfico do Word avermelhou de raiva).

 

                        E, no Brasil, ninguém chiou, pelo contrário, os próceres aceitaram os quícios, dobraram-se ante a novidade, ajoelharam-se, e a Paraolimpíada de 2016 ficou com este símbolo:

 

 

                        Ora, minha gente, a Bandeira, o Hino, a Constituição e o Idioma Nacionais são os símbolos mais sagrados de um povo, característicos de uma Nação e, para serem modificados, necessitam de lei específica para tanto. Os Países Lusófonos – nos quais a Língua Oficial dominante é o Português – englobando Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, têm envidado hercúleos esforços para a preservação de nosso idioma e, visando à unificação, periodicamente realizam Acordos nesse sentido, para os quais são convocados os mais eruditos filólogos de cada um deles.

                       

                        Assim foi que, em 1942, em linhas gerais, acabaram com o som de “f” em ph, – farmácia em vez de pharmácia –; com o acento agudo nas palavras oxítonas terminadas com as letras “u” e “i”, antecedidas de consoantes – caju em vez de cajú, buriti em vez de burití – e criaram o acento diferencial, estabelecendo que, nas palavras homógrafas – escritas do mesmo modo –, porém heterófonas – com sons diferentes – levariam acentos as que tivessem pronúncia fechada – almôço, substantivo e almoço, verbo, além de disciplinar o uso do hífen nos prefixos gregos.

 

                        Em 1971, novo Acordo acabou com o acento diferencial e com acento grave em certas palavras – cafezinho, em vez de cafèzinho, por exemplo.

 

                        Recentemente, em 1990, os Países Lusófonos celebraram novo Acordo, dando uma mexida geral em nossa lexicografia, acabando com o trema, modificando a acentuação e introduzindo novo uso do hífen nos prefixos.

 

                        Decorrente desse Acordo, foi editado o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), aprovado em Lisboa pela Academia das Ciências de Lisboa, pela Academia Brasileira de Letras e por delegações de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, com adesão da delegação de observadores de Galiza. “Com ele, a Língua Portuguesa deixa para trás a condição de ser um idioma cujo peso cultural e político encontra, na vigência de dois sistemas ortográficos oficiais, incômodo entrave a seu prestígio e difusão internacional”.

 

 

                        Aqui no Brasil, o Novo Acordo foi promulgado pelo Decreto n° 6.583, de 29 de setembro de 2008, que estabeleceu ficarem “sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam resultar em revisão do referido Acordo, assim como quaisquer ajustes complementares que, nos termos do art. 49, Inciso I, da Constituição, acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional”.

 

                        Viram? Só uma lei derriba outra lei!

 

                        Na página 620 do atual Acordo, constam estes vocábulos, pertinentes a esta matéria, que sublinhei:

  

                        Está na cara! Nada mais a declarar!

 

                        Quanto a esses primativos – imitadores, à moda dos primatas –, tenho algo a lhes dizer. Se eu tivesse o poder que tem Michel, fá-los-ia temer! Chamá-los-ia às ordens, mandá-los-ia obedecer aos ditames da Língua Pátria e, em caso de persistência, ordená-los-ia que enfiassem essa tal de Limpíada no local mais conveniente, ou seja, onde a Tocha traz!


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 16 de setembro de 2017

MINHA CAMISA ARTÍSTICA E BRILHOSA

MINHA CAMISA ARTÍSTICA E BRILHOSA

(Publicada no dia 18.01.2016)

Raimundo Floriano

 

 Eu e ela 

                        Todos os anos, há muito tempo, não dava outra: no mês de dezembro, eu saía adoidado, procurando nas lojas, butiques e feiras uma camisa brilhante para usar na passagem do ano, mas tudo em vão. No Réveillon de 2014/2015, tive de me contentar com esta, branca misturada com amarelo:

 Elba, Raimundo, Veroni e Mara 

                        Mas tomei vergonha. Jurei que seria a última vez e que, no primeiro dia útil de 2015, eu partiria para comprar o tecido e produzir, com meu alfaiate, a tão ansiada vestimenta. Assim, no dia 2 de janeiro, uma sexta-feira, fui à luta.

 

                        Embora o comércio de Brasília seja rico e variado, ainda é meio incipiente quando se trata de viadagem. Depois e pesquisar à exaustão na Rua dos Tecidos, cheguei ao único estabelecimento que me apresentou variadas opções para escolha. Este daí:

  

                        Olha, gente, sou macaco velho, quenga-do-rabo-esfolado quando o assunto se refere a compra de tecidos. Como meu é corpo é por demais irregularmente curvilíneo, calças, pijamas, bermudas e sungas para meu uso não se encontram em confecções prêt-à-porter, de carregação, no linguajar sertanejo. Exigem a mão de obra de costureira ou alfaiate na produção de trajes personalizados. Para calças e bermudas, por exemplo, um pano do tipo Oxford, ou Panamá, atualmente importado da China, não chega 20 reais o metro.

 

                        Nessa condição de expert no assunto, quando a vendedora expôs as peças no balcão e botei o olho na que me agradou, nem perguntei o preço, fui logo falando: – Tire dois metros!

 

                        A moça espantou-se: – Dois metros!?

 

                        Respondi: – Dois metros! Costumo guardar pequena sobra para o caso de futuro defeito ou necessidade de ajuste motivado por engorda!

 

                        Na hora de efetuar o pagamento, quando vi Nota Fiscal, o espanto foi meu:

  

                        Não sou de dar o braço a torcer, quando o vacilo é meu! Como eu não perguntara o preço antes e mandara cortar a peça, era sinal de que eu arrostaria com minha inconsequência. Apenas, solicitei uma explicação quanto ao inusitado valor da operação.

 

                        A vendedora me deu uma aula sobre tecidos de alto gabarito, corriqueiro na high society. Aquele era um paeté macramé, inteiramente estampado com lantejoulas, cujo metro custava R$710,00 que, multiplicados por dois, alcançaram o a cifra de 1.420,00. Os R$35,80 restantes se referiam ao acompanhamento do indispensável forro.

 

                        A bronca é a arma do otário! Satisfeito com as razões apresentadas, paguei sem bufar, agradeci e fui cuidar da segunda fase do projeto.

 

                        E aí é que foi parada pra desmantelo! Liguei para o Santos, maranhense que, há muitos anos, produz minhas roupas, estabelecido na Galeria Alvorada, à Quadra 511 Sul, mas o telefone estava mudo. Depois de muito tentar, fui lá pessoalmente, por várias vezes, encontrando o atelier fechado. Diante disso, resolvi procurar qualquer artista da tesoura para resolver o assunto.

 

                        Que nada! Nenhum profissional, homem ou mulher, nem mesmo o Moreira, maranhense de São João dos Patos, com alfaiataria no Polo de Modas, dispunha de máquina provida de agulha para costurar sobre as lantejoulas da peça. Diante do fato, resignei-me com a desdita, guardei o paetê em casa e desliguei-me do frustrado desejo. Não sou de chorar sobre o leite derramado!

 

                        Uns quatro meses depois, vou passando de carro pela W/3 Sul, quando vejo o Santos na calçada em frente à Galeria Alvorada. Estacionei onde pude e corri para saudá-lo. E qual não foi minha surpresa ao saber que, durante todo aquele tempo, seu telefone estivera em algum momento com defeito, mas que a alfaiataria jamais deixara de funcionar, tendo sido grande azar meu a ocorrência de tão lamentável desencontro.

 

                        Restabelecido o contato, o Santos, de imediato, se propôs a confeccionar a camisa, dentro de seu altíssimo padrão de qualidade, e eu nem estranhei o “santíssimo” preço cobrado pelo feitio: quatrocentos reais!

 

                        E o resultado ai está! Além da estreia no Réveillon 2015/2016, a maravilhosa camisa transformou-se em meu vestuário artístico, que passarei a ostentar em todas as apresentações doravante, notadamente a 5 de abril próximo, no Restaurante Carpe Diem, no lançamento nacional de meu livro Caindo na Gandaia, e em Balsas, na noite de 12 de junho, no Arraial do Festejo de Antônio, nosso Padroeiro, no lançamento umbilical.

 

                        O que mais me emocionou, nesse episódio, não foi a ansiada realização de meu almejado sonho sonhado, mas o sentimento de orgulho, de patriotismo bairrista até, de meus familiares, por terem um parente adornado por tão selecionado vestuário, digno de barões, duques, príncipes e quiçá reis, como se pode ver nas fotos a seguir:

 

 Com Veroni, minha mulher - Com Ana Alice, comadre e sobrinha

 Com Elba, minha filha – Com Fábio, meu genro

 

  Com Mônica, sobrinha – Com Paulinha, sobrinha

 

  Com Larissa e Laís, sobrinhas – Com Duda, sobrinha

 

  Com Lara, sobrinha e afilhada – Com Ima Aurora, sobrinha

 

                        Finalmente, o momento em que eu, como o macróbio em nossa festança familiar, na casa da sobrinha e comadre Ana Alice, dava início à tradicional ceia da virada:

 

 Fazendo o prato – Com a drumstick do peru

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 15 de setembro de 2017

MARIA REGINA ALBUQUERQUE, CORAÇÃO IPIRANGUISTA

 

24 DE NOVEMBRO: ANIVERSÁRIO DA PRIMA MARIA REGINA, CUJA IDADE ELA NÃO REVELA NEM A PAU, JUVENAL!

 

MARIA REGINA ALBUQUERQUE, CORAÇÃO IPIRANGUISTA

(Publicado no dia 23.11.2015)

Raimundo Floriano

 

 Maria Regina, a Tita 

                        Maria Regina Carvalho de Albuquerque Tokuda, minha querida prima, é Patrimônio Inalienável e Intangível da Família Albuquerque. Amanhã, 24 de novembro, comemoramos, festivamente, com toda pompa e circunstância, mais um Aniversário de seu nascimento.

 

                        Se você quiser ouvir um sonoro NÃO É DE SUA CONTA, pergunte-lhe o ano de seu natalício. Isso não revela, sob hipótese alguma, nem mediante tortura. Para dar uma ideia de sua longevidade, presumo que regula com Pedro Silva, meu irmão mais vivido, cujo perfil aqui foi publicado, no dia 24.3.14.

 

(Para continuar com esta matéria, devo esclarecer uma questão semântica. Ipiranguense é o habitante de Ipiranga, cidade piauiense deveras perspicaz eleitoralmente, haja vista que, no 2º Turno das Eleições de 2014, nossa presidenta ali recebeu 88,14% dos sufrágios; ipiranguista é o habitante do Bairro Paulistano do Ipiranga, nem tão evoluído politicamente, eis que, por lá, a atual governanta foi alvo de meros 31% dos votos de seu eleitorado.)

 

                        Prossigamos!

 

                        Filha de Joaquim Leal de Albuquerque e Alita Lygia Carvalho de Albuquerque, Maria Regina nasceu em Santo André (SP), mas, ainda pequena, se transferiu para a Capital, acompanhando a família, cujo chefe era militar. Desde cedo, após mudanças, fixou residência na Rua Labatut, no Bairro do Ipiranga, onde até hoje mora.

 

                        Moça prendada como soía serem as meninas bem orientadas de sua época, formou-se em Datilografia, Taquigrafia e Secretariado, requisito que a habilitaram a trabalhar como Secretária em grandes empresas, tendo se aposentado na Indústria de Papel Simão, localizada à Rua Manifesto, nº 931, onde hoje se encontra instalado o Supermercado Atacadão.

 

                        Como ipiranguista, acompanhou o espetacular desenvolvimento do Bairro, em todos os setores. Presenciou a chegada do Metrô, o surgimento de grandes empreendimentos imobiliários, com a cruel verticalização, a inauguração de escolas, faculdades, bares, restaurantes, entidades beneficentes, bem como o desenvolvimento do comércio local, com a chegada de famosos magazines, e a expansão dos maiores estabelecimentos de lá para outras regiões da cidade.

 

                        A 17.04.1982, Maria Regina se casou com o japonês Mário Tokuda, de saudosa memória, proprietário de uma confecção de roupas infantis, falecido no dia 02.09.2009.

 

 Maria Regina e Mário Tokuda 

                        O casal não teve filhos biológicos. Maria Regina, em feliz compensação, foi adotada como mãe por sua sobrinha Márcia Regina Albuquerque, pedagoga, casada com José de Sá Lopes, funcionário público, e por seus três filhos: Marcelle Regina, nutricionista, Michelle Regina, advogada – vejam a forte ligação afetiva nos nomes –, e Marcel José, também advogado. Todos a chamam, carinhosamente, de Tita. A seguir, um flagrante dela com os filhos adotivos:

 

 Marcel, Márcia, Marcelle, Maria Regina e Michelle 

                        Maria Regina é garota sapeca, espoletada, pimenta malagueta, rastilho de pólvora, pavio curto, banana de dinamite pedindo que lhe acendam estopim! Com resposta pronta para tudo, topa qualquer parada! Aniversário em Brasília? Ela vem! Casamento em Pirenópolis! Ela não perde! Romaria a Aparecida? Contem com ela! Festa do Peão em Barretos? Ela pega touro à unha! E sempre acompanhada pela trupe de adotivos!

 

                        E é com essa trupe que desfila na Escola de Samba Imperador do Ipiranga, Sociedade Cultural, orgulho do Bairro, que ajudou a fundar, em 27 de setembro de 1968, a qual vive numa gangorra, ora subindo, ora descendo. No ano de 2009, por exemplo, foi vice-campeã no Grupo de Acesso, com o enredo A Comunidade na Fé em São Jorge Guerreiro Contra os Dragões da Maldade, o que a credenciou a, no ano seguinte, 2010, desfilar no Grupo Especial. A seguir, parte da trupe, no Carnaval de 2010, com Márcia e Michelle, de leque, à direita:

  

                        No ano de 1974, quando se comemoraria o 420º Aniversário da Fundação da Cidade de São Paulo, a Divisão do Arquivo Histórico da Secretaria Municipal de Educação e Cultura promoveu o VII Concurso de Monografias Sobre a História dos Bairros Paulistanos. Maria Regina concorreu, e seu belo, completo e vencedor trabalho, abordando o Bairro do Ipiranga, foi publicado, em forma de Folhetim, no mesmo ano, por nove semanas consecutivas, no jornal Gazeta do Ipiranga.

 

                        Essa importantíssima peça literária não poderia cair no esquecimento. Por isso, em 2014, 40 anos depois, foi transformada em livro:

 

 

                        O lançamento aconteceu no dia 24 de novembro, data de seu aniversário:

 

                        Vejamos um flagrante do lançamento:

 

                        O livro ganhou fama, porém Maria Regina não deitou na cama! Virou globe-trotter, participando de noites de autógrafos, feiras e a acontecimentos congêneres.

 

                        No dia 18 de setembro passado, no evento Miss Mundo São Paulo Capital & Miss Ipiranga 2015/2016, realizado pela MAP Produções, Maria Regina recebeu homenagem especial das mãos de Madalena Almeida, Coordenadora do Concurso, configurada numa placa onde se lê esta inscrição: “Mulheres de Ouro do Ipiranga”.

 

                         Ainda há pouco, na IX Feira do Livro de São Paulo, Maria Regina foi uma das estrelas, como adiante se vê:

 

                        O Ipiranga, hoje considerado o Altar da Pátria, bairro de classe média e da classe média alta paulistana, com população superior a 460 mil habitantes, segundo levantamento global realizado pela Subprefeitura Ipiranguista, em 2010, era praticamente desconhecido até a Proclamação da Independência.

 

                        Servia, apenas, como refrigério para os viajores que faziam o percurso de Santos para São Paulo, ou vice-versa. Por uma casualidade, dessas que descem do além, “havia uma pequena chácara às margens do riacho, e a mais notável construção da época, que pertencia ao Coronel João de Castro Canto e Mello, pai da futura Marquesa de Santos. Chefe de família numerosa, para viver, fizera ele da chácara pouso de tropas”. Era o que, naquele tempo, no Velho Oeste Americano, se denominava livery stable, ou seja, garagem para carroças e pensão para cavalos, jumentos, burros e alimárias outras.

                         Leiam o livro! Vocês vão adorar e também se ilustrar! 

                        Em homenagem o Bairro do Grito da Independência, aqui vai a marcha cívica Sesquicentenário, de Miguel Gustavo, na voz de Miltinho, sucesso absoluto no ano de 1972:

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 14 de setembro de 2017

TEREZINHA FONSECA, MINHA PRIMA AMERICANA

TEREZINHA FONSECA, MINHA PRIMA AMERICANA

(Publicada no dia 09.11.2015)

Raimundo Floriano

 

 Terezinha Fonseca 

                        Esta linda história, a saga dos Albuquerque Fonseca, teve início com o raiar do século passado, no sertão sul-maranhense.

 

                        Em Balsas, oriundo de Loreto, velha povoação ali pertinho, morava o casal José Bezerra de Farias e Ana Isabel Albuquerque Bezerra, a Donana, com seus filhos, Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, minha saudosa mãezinha, nascida em Loreto, a 5 de janeiro de 1902, Alice, nascida em Balsas, a 3 de janeiro de 1910, João e Antônio, também balsenses, dos quais poucos dados se conhecem, pioneiros na colonização, pois a cidade seria emancipada apenas em 1918.

 

                        Naqueles árduos tempos, surgiu um novo Eldorado Brasileiro, o Centro-Oeste, para onde se dirigiam os que procuravam conquistar seu pedaço de terra para prover a subsistência da família e a educação dos filhos. Nessa ilusão, Donana convenceu José Bezerra a incorporar seu povo a uma caravana de seringueiros que partia rumo à conquista desse ideal.

 

                        Era em 1915, com Alice contando apenas 5 anos de idade. Maria Bezerra, então com 13, preferiu ficar em Balsas, ajudando sua tia Maria Angélica, irmã de Donana.

 

                        Não havia estradas. Como aos velhos marinheiros, apenas o Sol, de dia, e as Estrelas, à noite, indicavam à caravana o rumo a seguir. Com os adultos viajando a pé, e as crianças, nas costas de jumentos e muares, que carregavam também o vestuário, ferramentas, utensílios de cozinha e gêneros de primeira necessidade, a jornada histórica e épica levou alguns anos. Enfrentando índios, feras, intempéries e cruzando rios caudalosos, vivendo da caça e da pesca, os peregrinos, às vezes, paravam em algum local para cultivar, em pequenas roças, os gêneros alimentícios que lhes garantissem a matalotagem no inóspito percurso.

 

                        Para ter-se uma ideia da duração dessa aventura, basta saber que o quinto filho de José Bezerra e Donana, o José, o Cazuza, nasceu no Pará, a 19 de março de 1922, e Cidalina, a última, em Aruanã (GO), fronteira com Mato Grosso, a 15 de novembro de 1923.

 

                        Ainda naquele Estado, José Bezerra, nosso avô, aceitou o emprego de capataz numa fazenda, tendo Donana, nossa avó, se rebelado contra aquela mudança de planos, motivo pelo qual o abandoou e seguiu com os filhos para Goiás Velho, então capital do Estado, naquela época centro cultural, onde ela queria educá-los. Não existindo foto do casal, aqui vai a da Matriarca:

 

 Donana, nossa avó materna

 

                        Em Goiás Velho, negociando com couro, parte da família prosperou: Cidalina, mediante concurso publico, tomou posse no cargo de Fiscal Federal, e Cazuza, no de Funcionário da Receita Federal. João faleceu ainda jovem, e Antônio sumiu-se nos garimpos dos arredores, não dando mais notícia desde então.

 

                        Residindo ainda em Goiás Velho, Alice casou-se, em 1931, com José Garibaldi da Fonseca, telegrafista, nascido em Itaberaí (GO), a 21 de janeiro de 1910. Esse era um dos melhores empregos do Brasil. Em 1938, com o estrondoso progresso de Goiânia, inaugurada a 24 de outubro de 1933, o casal para lá se mudou, permanecendo Garibaldi como telegrafista e abrindo uma loja de confecções, a Exposição Goiana, na Avenida Anhanguera, coração da nova capital esmeraldina.

 

 Alice, Garibaldi e Willer, o primeiro filho 

                        Garibaldi e Alice tiveram 5 filhos: Willer, Engenheiro; Weles, Funcionário da UFG - Universidade Federal de Goiás; Terezinha, Professora, sobre quem adiante me alongarei; Wilton, Jornalista de O Século, e fundador do jornal O Sábado, em Portugal, com serviços prestados à ONU em Angola, Indonésia e Burundi; e Maria Alice, Psicóloga e especialista em Artes e Cultura.

 

 Willer, Terezinha e Weles 

                        Garibaldi viveu um lance muito interessante, que não pode passar em branco. Seu pai, telegrafista, ensinou aos filhos, ainda crianças, o Código Morse, de forma que a molecada vivia a se divertir, “falando” mal dos que estavam por perto, na maciota, digitando piadas ou sacanagens nos braços uns dos outros. Também pegavam eles no pesado, quando o pai, viciado em política, os deixava manipulando no Telégrafo, enquanto discutia a situação do País com os amigos.

 

                        Aos catorze anos, em 1925, certa madrugada, após levar uns tabefes, viu-se ele sequestrado, amarrado e conduzido por um tenente à Coluna Prestes, que necessitava de um telegrafista pelas cidades e vilas onde acampava – vejam só a delicadeza do recrutamento! O Chefe da Coluna gostou dele, ficou seu amigo, mas logo chegou o telegrafista efetivo, Garibadi foi dispensado, e o mesmo tenente, enciumado, pegou de uma espingarda e deu-lhe um tiro na perna esquerda, razão pela qual o menino ficou levemente mancando para sempre.

 

                        Outros filhos de Garibaldi e Alice:

 

 Wilton e Maria Alice 

                        No ano de 1954, Garibaldi foi designado para chefiar a Estação de Rádio do Arpoador, no Rio de Janeiro (RJ), de comunicação com navios, o que o fez encerrar as atividades comerciais em Goiânia e mudar-se com a família para a capital fluminense.

 

                        Nesta edificante história, houve um trágico acontecimento. Em 1975, Weles, funcionário da UFG, dirigia-se, com colegas de serviço para o trabalho, quando a kombi que os transportava parou num sinal vermelho, atrás dum caminhão-tanque, cheio de gasolina. Na frente dos dois veículos, um automóvel bateu no poste do semáforo, que caiu sobre o caminhão-tanque, o qual se incendiou e explodiu, tendo as chamas atingido a kombi, matando carbonizados todos os passageiros. Weles estava com menos de 40 anos.

 

                        Falemos agora da Terezinha, personagem principal desta crônica. Com a mudança da família para o Rio de Janeiro, completou, ali, sua formação universitária. Para não perder tempo com entretantos, aqui vai seu currículo.

 

                        Especializou-se em Literatura Inglesa, na Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil. Completou o Mestrado, com uma tese sobre as comédias de Shakespeare, na Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, onde lecionou vários anos antes de sair do Brasil. Recebeu o Grau de Mestre da University of California (Berkley) e de Doutor, com distinção, da New York University (NYU), onde prosseguiu seus estudos de Literatura Inglesa do Período Elisabetano. Continuou sua carreira profissional na NYU (Queensborough Community College), onde se aposentou como Titular Emérita. Publicou, entre livros e ensaios, Literature Across Cultures (coautoria), introdução aos romances Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf, e Persuasão, de Jane Austen, Pathways to College Writing e Love and Sexuality in Literature. Capa de um deles:

  

 

                        É mole, ou quer mais? 

                        Terezinha iniciou a carreia internacional em 1969, quando conheceu Richard Crumb, o Dick, funcionário do Bank of America, Sociólogo, que se encontrava no Brasil escrevendo sua Tese de Mestrado sobre nosso País. Casaram-se em 1970, moraram dez anos pela América Latina – Venezuela, Bolívia, Equador, Panamá –, e, em 1980, fixaram residência definitiva nos Estados Unidos. Hoje, o casal reside em Fort Lauderdale, Flórida.

 

 Richard Crumb, o Dick 

                        Terezinha é irmã consanguínea de Goiânia, 6 anos mais nova. Ambas cresceram juntas, compartilhando suas experiências, qualidades e segredos. E é com minúcias que Terezinha nos apresenta sua querida mana em seu mais recente livro, lançado em Goiânia, no ano passado, 2014, nas comemorações dos 80 anos do Willer:

 

 

 

                        O livro poderia se chamar À Moda de Casa, tal é a intimidade com que Terezinha fala da cidade onde nasceu. Nunca um escritor se dedicou tanto a estudar e contar as minúcias da vida cotidiana, dos costumes triviais de uma comunidade que se formou na primeira metade do século passado. Contos Goianos é, em suma, também, a história dos Albuquerque Fonseca.

 

                        Vejamos flagrantes de seu lançamento:

 

 Terezinha e sua Quitanda de Livros – Wilton, Maria Alice e Terezinha 

                        A glória não se detém por aí. Em setembro deste no, Terezinha participou do III Encontro Mundial de Escritores Brasileiros no Exterior, ocorrido no King Juan Carlos I of Spain Center, na New York University, como adiante vemos nas imagens da entrega dos certificados pelo Professor Domício Coutinho, Presidente de Biblioteca Brasileira de Nova York, e Professora Else Vieira, da Universidade de Londres, a ela e a Roseli Ximanyi, escritora alemã:

 

 Professor Coutinho, Terezinha e Professora Else – Coutinho, Roseli e Else 

                        Para finalizar esta saga dos Albuquerque Fonseca, aí vai a imagem dos brindes – o livro recém-lançado – na festa dos 80 anos do Willer, a quem À Moda da Casa - Contos Goianos é dedicado com este emocionante depoimento: “Existem irmãos verdadeiros – de sangue, de alma e de sentimentos. Você, Willer, é um deles. Sinto-me para sempre devedora na balança de amor e carinho que lhe dedico.”

  

                        Metendo minha colher de pau na conversa, apresento-lhes, para que vocês conheçam, o bonito Hino do Estado de Goiás, de Joaquim Thomas Jayme e José Mendonça Teles, composto em substituição ao anterior que, formado por 18 estrofes, ninguém conseguia decorar:

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 13 de setembro de 2017

NEOLOGISMOS DE SEU MUNDINHO

NEOLOGISMOS DE SEU MUNDINHO

(Publicada no dia 19.10.2015)

Raimundo Floriano

 

Charge inspiradora

 

                        A ilustração acima, de autoria do chargista paranaense Sponholz, colaborador assíduo Jornal da Besta Fubana, despertou em mim o desejo de falar sobre as palavras novas que tenho inventado para melhor fazer-me entender em meus escritos, diante da pobreza da Língua Portuguesa que, às vezes, exige três ou mais termos para definir o que poderia ser resumido num só.

 

                        Diante dessa minha produção neologista, fruto de minha embasbacante sapiência lexiológica, Chico Fogoió, meu Aspone piauiense, não conteve sua perplexidade e seu chaleirismo:

 

                        – Mundinho, tu podias te candidatar a uma vaga na Academia Brasileira de Letras! – Ao que respondi:

 

                        – Chico, ABL, não! Quem pode mais, pode menos! Se já sou Titular da Cadeira Número 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, como me sujeitaria a descer no nível de minha imponência para associar-me a um sodalício inferior importância? Para mim, só o Nobel de Literatura que, além de me projetar internacionalmente, trar-me-ia uns bons caraminguás, na casa do mi, em dólar, é bom dizer, o que magnifica, por demais, a importância de sábios que nem eu!

 

                        Falar nisso, quero deixar aqui consignados meu aplauso e agradecimento aos Imortais da ABL que, ao elaborarem o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, mantiveram os termos paraolimpíada e paraolímpico, desprezando os nefastos paralimpíada e parlímpico, macaquice tão em moda nos dias atuais.

 

                        Diante desse irrebatível argumento, Fogoió concordou comigo, mas instou que, para justificar minha pretensão, eu desse a público a relação do que tenho maquinado em prol da Língua Pátria. E, para o conhecimento e ilustração de todos os Países Lusófonos, assinantes do último Acordo Ortográfico, aí vai a enriquecedora produção com que tenho iluminado minhas páginas. São palavras que, até agora, não constam de dicionários, tratados de Direito ou de Medicina:

 

Apilodar - Estocar músicas em sites de busca.

Atricósico - O mesmo que glabro, alopécico, falacrosiano e careca.

Daunlodar - Baixar músicas de site de busca.

Bengalante - Aquele ou aquela que faz uso de bengala.

Binubês - Condição de quem, legalmente, se casou duas vezes.

Biquiaberto - Sentimento de estupefação vivenciado por pessoa bicuda.

Curyosidades - Fatos interessantes na vida de mau amigo Said Cury.

Falacrosiano - O mesmo que glabro, alopécico, atricósico e careca.

Fisicopedeuta - Educador Físico.

Fisioterapata - Paciente de Fisioterapia.

Flatófilo - Cheirador de bufa ou de peido.

Ginecófago - Aquele ou aquela que come – devora – a mulher.

Gupsósfago - Comedor de giz em salões de sinuca ou em salas de aula.

Hetairófilo - Raparigueiro.

Hidrossaponiterapia - Tratamento à base de água e sabão, eficaz em quase todo tipo de doença.

Hidroterapata - Paciente de Hidroterapia.

Homogamia - Casamento entre duas pessoas do mesmo sexo.

Inélido - Escritor não lido.

Precipúcio - Empreitada na qual o sujeito corre grande risco de ficar sem o prepúcio.

Repetivo - Que se repete uma vez.

Repetitivo - Que se repete duas vezes.

Repetititivo - Que se repete três vezes, e assim sucessivamente.

Terceiridoso - Pessoa pertencente ao grupo da melhor idade.

Trinubês - Condição de quem, legalmente, se casou três vezes, e assim sucessivamente.

Uroprestígio - Respeito, encanto ou sedução conseguido através das vias urinárias.

Urubucídio - Matança de urubu.

Urubusservação - Estudo sobre as aves ciconiiformes.

 

                        E, para terminar, a imagem que me inspirou esta crônica, aqui repetida para que fique bem gravada na mente de meus queridos leitores:

  

Pterofalo - Caralho de asas.

 

                        Devo, nesse processo de criação, os ensinamentos de meu saudoso colega e amigo Sebastião Corrêa Côrtes, filólogo, latinista, poliglota e helenista, um de meus espelhos na vida, cuja segura orientação nos assuntos etimológicos e semânticos agora muita falta me faz.

 

                        Mas nem eu, nem o Côrtes, jamais chegaríamos à perfeição nobelística do cara que, neste ano de 2015, criou um neologismo, o qual, de imediato, se incorporou ao linguajar jurídico e caiu na boca do povo de modo indelével, permanente, definitivo. Refiro-me ao iluminado inventor do vocábulo que, em si, já diz o que é, entendido até pela massa ignara, dispensando qualquer explicação: pixuleco!

 

                         Com ele, forçosa e reconhecidamente, dividirei a grana do Nobel!


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