Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Quincas Macedo - Megaphone quarta, 17 de outubro de 2018

GEOGRAFIA DAS MÚSICAS - MANGARATIBA

 

 
GEOGRAFIA DAS MÚSICAS – MANGARATIBA

Mangaratiba- RJ

Quando miúdo ouvia muito “Mangaratiba”, na voz de Luiz Gonzaga, parceria do rei com Humberto Teixeira.

A vitrola ficava acesa o dia inteiro. O aparelho servia para tocar a trilha de cada um dos que se hospedavam ali, na faixa, na casa de vovô, no bairro de São José, Recife-PE

Eram Gonzagão, Jakcson, Gordurinha, Ary Lobo, Marinês, Nelson, Ãngela Maria, Dalva, Marlene, Emilinha, Trio Irakitan, Dick Franey, Lucio Alves e uns novatos – Edu Lobo, Chico Buarque, Ivan Lins, João Donato, Zimbo Trio, além de outro bocado de músicas de todos os gêneros.

Eu, parcularmente, era muito chato e usava da prerrogativa de ser neto do dono da casa para interromper Orlando Dias, por exemplo…

Uma música que sempre me deixou curioso foi “Mangaratiba”, principalmente pelo título que me parecia muito próximo da prosódia e de um termo de origem nordestina e não conhecia, não sabia se era cidade, fruto ou nome de um pau.

Mais tarde, vim saber que era um dos mais belos balneários do Rio, lugar onde todo high-society carioca tinha casa, mansão.

Mangaratiba é um munípio da microrregião de Itaguaí-RJ, contíguo à Regiao Metropolina do Rio de Janeiro, estado do Rio. Está a 85 km da capital e possui cerca de 40 mil habitantes, segundo o IBGE.

Mangaratiba é um termo originário do Tupi antigo e significa “ajuntamento de mangarás”, da junção de mangará (termo que designa plantas da famílias da aráceas) e tyba (ajuntamento).

Mangaratiba (Luiz Gonzaga-Humberto Teixeira), com Gonzagão

 

 

 

 

Prá falar a verdade, fiquei sabendo das peculiaridades de Mangaratiba há pouco tempo. Além de originária de um povoado de pescadores, depois tornado um dos mais bonitos templos do litoral do Rio, a escondida cidade ficou muito famosa para nós, não fluminenses, principalmente por conta da presença da nata da máfia da corrupção nacional, incluindo o ex-governador Sergio Cabral e o interessante Fernando Cavendish.

Sim, Neymar também está lá numa bela mansão, tratando do dedinho, tão valioso, que poderá nos ajudar a ganhar mais uma Copa. Mas, este não é um meliante, ganha seu dinheiro fazendo gols e lances mágicos pelos campos do mundo inteiro…

Semana que vem, tem mais...


Quincas Macedo - Megaphone quinta, 11 de outubro de 2018

DIA DO NORDESTINO: 8 DE OUTUBRO

 

DIA DO NORDESTINO (8 DE OUTUBRO)

Ontem, segunda-feira, 8 de outubro, foi o “Dia do Nordestino”, criado em São Paulo, data instituída em 2009.

Homenageia o centenário do nascimento de Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido como “Patativa do Assaré”, poeta popular, compositor e cantor cearense.

“Vozes da Seca”, de Zé Dantas e Luiz Gonzaga

 

 

 

 

Escolhi “Vozes da Seca” para comemorar nosso dia. A épica canção continua dizendo mais do que tudo sobre a região nordestina.

Nas eleições em curso, o Nordeste permanece como ponto de desequilíbrio entre os pretendentes à presidência.

Ora para ser taxado de curral eleitoral do PT, ora como alvo imediato dos anseios do candidato do PSL.

Quando a região terá voz ativa e independente, deixando de ser uma massa uniforme de interesses imediatos eleitorais e não um território de 9 estados pronto a recusar “esmolas” e seguir seu destino de progresso e igualdade social, sufocados por clichês e generalizações malditos?

Parece que ainda está longe esse momento…


Quincas Macedo - Megaphone quarta, 03 de outubro de 2018

GRANDES MÚSICOS/COMPOSITORES ERUDITOS-POPULARES DO NE – ANTONIO MADUREIRA

 

 
GRANDES MÚSICOS/COMPOSITORES ERUDITOS-POPULARES DO NE – ANTONIO MADUREIRA


Antonio Madureira e ponto!

Poucos estados oferecem tanta gente boa para as artes e o pensamento brasileiros com o Rio Grande do Norte. Apenas para refrescar a memoria: Cussy de Almeida, os Madureira, Câmara Cascudo e por aí vai.

Hoje, me redimo e finalmente falo de Antonio Madureira, a quem sempre admirei, respeitei, mas nunca o tinha trazido para esta coluna individualmente.

Antônio José Madureira nasceu em Macau (RN), em 1949, mudando-se para o Recife aos 19/20 anos.

É músico, maestro, violonista e compositor, que associou a música erudita à, em 1970, juntamente a Ariano Suassuna.

Ponteado – Antonio Madureira

 

 

 

 

Integrou o Quinteto Armorial, com o qual lançou quatro discos: “Do Romance ao Galope Nordestino” (1974); “Aralume” (1976); “Quinteto Armorial” (1978); e “Sete Flexas” (1980).

Nordestina – Antonio Madureira

 

 

 

 

Pesquisador nato das mais profundas raízes da música popular do nordeste, fez além do curso de violão na Escola de Belas Artes do Recife/PE, o curso de contraponto e harmonia na Escola Jaime Padre Diniz e Etnomusicologia e regência.

Romance da Nau Catarineta – Antonio Madureira

 

 

 

 

Alguns trabalhos de Antonio Madureira com Instrumentos populares do nordeste ; “O Baile do menino Deus”; “Bandeira de São João”; “Opereta do Recife”; “Brasílica, o romance da Nau catarineta”.

 

Antonio Jose Madureira

Após à dissolução do grupo, continuou sua carreira musical, marcada pela convergência entre o erudito e o popular, através dos discos Brasílica – O Romance da Nau Catarineta (1992), com Cecília Didier; Romançário (1996), com Rodolfo Stroeter; da criação do Quinteto Romançal, com os discos Ancestral (1997) e No Reino da Ave dos Três Punhais (1999); e mais recentemente no disco Segundo lançou Romançário (2009), com Sérgio Ferraz.

Movimento Armorial

Mestre Ariano

O Movimento Armorial foi uma iniciativa artística de se criar uma arte erudita, a partir de elementos da cultura popular do Nordeste Brasileiro.

Um dos seus fundadores e diretores foi o escritor Ariano Suassuna. Procura orientar para esse fim todas as formas de expressões artísticas: música, dança, literatura, artes plásticas, teatro, cinema, arquitetura, entre outras expressões.

“A Arte Armorial Brasileira é aquela que tem como traço comum principal a ligação com o espírito mágico dos “folhetos” do Romanceiro Popular do Nordeste (Literatura de Cordel), com a Música de viola, rabeca ou pífano que acompanha seus “cantares”, e com a Xilogravura que ilustra suas capas, assim como com o espírito e a forma das Artes e espetáculos populares com esse mesmo Romanceiro relacionados”. (Texto de Ariano Suassuna, no Jornal da Semana, Recife, 20 maio 1975).

O Movimento surgiu com a colaboração de um grupo de artistas e escritores do Nordeste do Brasil e o apoio do Departamento de Extensão Cultural da Pró-Reitoria para Assuntos Comunitários da UFPE – Universidade Federal de Pernambuco.

Teve início no âmbito universitário, mas ganhou apoio oficial da Prefeitura do Recife e da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco.

Foi lançado oficialmente, no Recife, no dia 18 de outubro de 1970 (fará 48 anos este mês), com a realização de um concerto e uma exposição de artes plásticas, realizados no Pátio de São Pedro, no centro do Recife.

Segundo Suassuna, “armorial” é o conjunto de insígnias, brasões, estandartes e bandeiras de um povo, a heráldica é uma arte muito mais popular do que qualquer coisa.

Desse modo, o nome adotado significou o desejo de ligação com essas heráldicas raízes culturais brasileiras.


Quincas Macedo - Megaphone terça, 25 de setembro de 2018

GRANDES MÚSICOS E COMPOSITORES DO NORDESTE - MARCONI NOTARO

 

 
GRANDES MÚSICOS E COMPOSITORES DO NORDESTE – MARCONI NOTARO

Marconi Notari: um talento da psicodelia pernambucana anos 1970

Poeta e músico brasileiro, Marconi Notaro nasceu em Garanhuns, em julho de 1949 Foi um representante da cena musical psicodelica do Recife, na década de 1970.

Fez trabalhos com Ave Sangria, Zé Ramalho, Lula Côrtes, Lailson, Robertinho de Recife e outros.

Sua obra mais conhecida é o álbum “No Sub Reino dos Metazoários”, de 1973.

Fidelidade – Marconi Notaro – Álbum “No Sub-reino dos Metazoários (1973)

 

 

 

 

Recolho aqui texto do jornalista Fernando Rosa, do site “Senhor X”: – o LP ‘No Sub Reino dos Metazoários’ enquadra-se na linhagem de obras como os discos de Lula Côrtes & Lailson – ‘Paebirú’ e ‘Satwa’, clássicos da psicodelia nacional.

Em alguns momentos, ultrapsicodélico o disco abre com o samba ‘Desmantelado’ (composto por Notari em 1968), com regional formado por Notari, Robertinho de Recife, Zé Ramalho e Lula Côrtes.

A segunda faixa, ‘Ah Vida Ávida’, com ‘Notaro jogando água na cacimba de Itamaracá’, mais Lula na ‘cítara popular’ e Zé Ramalho na viola indicam o que vem a seguir, um misto de alucinada psicodelia com pinceladas da mais singela música popular, como o frevinho ‘Fidelidade’.

Desmantelado – Marconi Notaro – Album “No Sub-reino dos Metazoários” (1973)

 

 

 

 

O momento mais radical do álbum é a quinta faixa, ‘Made in PB’, parceria de Notaro com Zé Ramalho, um rockaço clássico, destacando a guitarra distorcida de Robertinho de Recife.

As músicas ‘Antropológicas 1’ e ‘Antropológica 2’, como a maioria das outras canções, são improvisos de estúdio, reunindo os músicos já citados, com ótimo resultado sonoro e poético.

O álbum, do catálogo da Rozenblit, espera uma cuidada reedição oficial. O LP original é praticamente impossível de ser encontrado, mas uma ótima cópia em CD já circula no universo de colecionadores.

Estampa do movimento: uma febre na época

A capa é um desenho de Lula Côrtes, tão chapado esteticamente quanto o som que o tosco papelão embalava, com uma foto de Marconi Notaro no centro, com o rosto dividido entre a capa frontal e a contracapa

“Antropologica 1”, de Marconi Notaro – Coletânea inglesa de música brasileira, lançada em 2011

 

 

 

 

Com produção do pessoal do grupo multimídia de Lula Côrtes e sua mulher Kátia Mesel, o disco foi gravado nos estúdio da TV Universitária de Recife e da gravadora Rozenblit, também na capital pernambucana.

Marconi Notaro faleceu no Recife, em 24 de outubro de 2000.

 

 
 

Quincas Macedo - Megaphone quarta, 19 de setembro de 2018

OS GRANDES MÚSICOS E COMPOSITORES DE NOSSA REGIÃO – ZÉ MANOEL

 

OS GRANDES MÚSICOS E COMPOSITORES DE NOSSA REGIÃO – ZÉ MANOEL

Zé Manoel: uma das grandes revelações da música brasileira

José Manoel de Carvalho Neto – Zé Manoel – é de Petrolina-PE, onde nasceu em 1980. Compositor, cantor e pianista lançou, em 2015, o elogiado disco “Canção e Silêncio”, com patrocínio do Natura Musical, produção musical de Carlos Eduardo Miranda e produção das bases adicionais de Kassin. Arranjos de orquestra de Fabio Negroni, Mateus Alves e Letieres Leite.

É considerado uma das gratas revelações da música pernambucana e brasileira. Zé Manoel estudou piano clássico com a professora Lúcia Costa, que lhe apresentou compositores como Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Zequinha de Abreu, Chopin, Bach. Essa mistura de referências lhe aguçou o interesse pelas valsas, choros, tangos e lhe levou à música popular.

Água Doce – Álbum Canção e Silêncio – Zé Manoel

 

 

Aprendeu harmonia ouvindo Tom Jobim, standards de Jazz e tocando na noite. Aos 13 anos, foi recebido com surpresa pelos jurados do concurso para escolha do hino do centenário de Petrolina, presidido pelo também petrolinense Geraldo Azevedo, onde chegou até a final.

Por volta dos 18 anos, iniciou suas atividades profissionais fazendo piano bar. Em seguida, montou o grupo Chaleira Blues (com a cantora Camila Yasmine e o violonista e compositor Eugênio Cruz), onde iniciou as suas pesquisas sobre a música brasileira, especialmente a que foi produzida na década de 70.

Integrou, como acordeonista, a banda Matingueiros, além de acompanhar diversos artistas locais e de participar da banda dos musicais Pocket Shows do diretor de teatro Cássio Lucena.

Sol das Lavadeiras – Zé Manoel e Grupo Bongar

 

 

Em 2004, participou pela primeira vez do Festival Edésio Santos da Canção em Juazeiro – BA, onde foi premiado com a segunda colocação. Nesse mesmo festival, voltou a ser premiado com o terceiro lugar por 2 vezes e primeiro lugar por 4 vezes, nos anos posteriores.

Em 2005, escreveu e acompanhou ao piano a música tema do evento ”Um Mundo para a Criança e o Adolescente do Semiárido, da UNICEF”, cantada por um coral de 120 crianças num evento realizado na Ilha do Fogo, entre os estados de Pernambuco e Bahia, com a presença de representantes políticos, de comunidades e o embaixador da UNICEF no Brasil Renato Aragão, visando discutir projetos voltados para as crianças e adolescentes que vivem em situações de risco no semiárido brasileiro.

Em 2007, Zé Manoel muda residência para a capital pernambucana, onde inicia seus estudos acadêmicos na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no curso de Música – Licenciatura. Logo em seguida, sai em excursão no navio espanhol Sky Wonder, pela costa brasileira e uruguaia, onde atuou como pianista do quarteto de MPB Sobre As Ondas, liderado pelo cantor Gean Ramos.

Em 2009, grava o seu primeiro EP, homônimo, onde toca e canta suas próprias composições, com produção musical do também petrolinense radicado em Recife, Albérico Júnior.

Este trabalho lhe rendeu participações no projeto Observa e Toca Malakoff, no Festival RecBeat ambos em Recife, no Festival de Inverno de Garanhuns – PE e no festival Pré-Amp, que tem como premiação a gravação de um CD.

Com a premiação do Pré-Amp foi gravado o primeiro álbum do artista com as participações de músicos como Gilu Amaral da Orquestra Contemporânea de Olinda, Adelson Silva, baterista da Spok Frevo Orquestra do Grupo Bongar, Sergio Campelo do SaGrama, dentre outros, com produção de Carlinhos Borges e Albérico Júnior.

“Quem não Tem Canoa Cai N’Água – Zé Manoel

 

 

Este disco também foi lançado no Japão pela editora Dessinne. A partir desse lançamento, várias portas se abriram para a carreira do pianista fora do estado e do Brasil.

Passou a integrar o casting da produtora francesa V.O. Music junto a artistas como Esperanza Spalding, Spok Frevo Orquestra, Milton Nascimento, Angelique Kdjo.

Participou como intérprete do álbum Beauty of The Night, do produtor alemão Meeco, junto a artistas como Eloisia (Nouvelle Vague), Joe Bataan, Jaques Morelenbaum, Freddy Cole, entre outros.

Teve duas músicas suas como parte da trilha sonora da série televisiva “Louco por Elas”, do diretor pernambucano João Falcão e lançou o Livro – CD infantil O Inventor do Sorriso, com o escritor Pernambucano Walther Moreira Santos, pela editora Melhoramentos.

Foi selecionado pelo edital Natura Musical 2013. Seu novo CD intitulado Canção e Silêncio (2015), quando contou com a presença do lendário Tutty Moreno.

O disco conta com arranjos do maestro baiano Letieres Leite, do pernambucano Mateus Alves e do carioca Fabio Negroni e tem as participações especiais de Juliano Holanda (Guitarra), Pupillo (Bateria), do percussionista Johann Brehmer e da cantora pernambucana Isadora Melo.


Quincas Macedo - Megaphone quarta, 12 de setembro de 2018

OS CLÁSSICOS E ERUDITOS DE NOSSA REGIÃO - INALDO MOREIRA

 

 
OS CLÁSSICOS E ERUDITOS DE NOSSA REGIÃO – INALDO MOREIRA

Inaldo Moreira

Falecido em 2017, aos 79 anos, o artista estava internado devido a um acidente doméstico, e faleceu após um quadro de infecção.

Inaldo iniciou sua formação musical aos 12 anos, estudando clarinete.

Com doutorado na França, foi professor de Economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), mas nunca abandou o gosto pela música.

Após a aposentadoria, na década de 1990, ele passou a compor com muita frequência, criando mais de 400 obras, entre frevos, choros, valsas e arranjos sinfônicos.

Helielton Nascismento – Inaldo Moreira – Iris e su Tromba Chorona

 


 

O flautista Lucas Tiné, que conheceu o compositor nos corredores do Conservatório Pernambucano de Música, instituição que frequentava, embora não fosse professor de lá, lamentou o falecimento. “Ele era uma pessoa incrível, sempre animado, apresentando os discos que ele produzia sem patrocínio. Tenho certeza que só levarei lembranças boas dele”, declara o músico.

Com mais de 15 discos lançados de forma independente, Inaldo teve composições gravadas por nomes como Maestro Spok, Fernando Müller e Coral Edgard Moraes, além de vários blocos carnavalescos. No terraço de sua casa, no bairro do Cordeiro, ele criou a Praça do Choro.

No espaço, recebia diversos representantes do gênero musical em saraus esporádicos. Inaldo deixou três filhos: o jornalista Iúri Moreira e as musicistas Maíra e Moema Macêdo, que são irmãs gêmeas e fazem doutorado em Música em Portugal.


Quincas Macedo - Megaphone quarta, 05 de setembro de 2018

OS CLÁSSICOS E ERUDITOS DE NOSSA REGIÃO - FERNANDO MULLER

 

 
 
OS CLÁSSICOS E ERUDITOS DE NOSSA REGIÃO – FERNANDO MULLER

Fernando Muller, o pianista paranaense, radicado em Pernambuco

Nascido no Paraná, Fernando Müller é professor de piano no Conservatório de Música de Pernambuco.

Ele também lecionou como professor adjunto na Universidade Federal de Pernambuco, onde atualmente trabalha como pianista de seu corpo.

De 2003 a 2013, foi pianista da Orquestra Sinfônica do Recife.

Como solista e músico de câmara, Fernando Müller atuou em várias cidades do Brasil, Alemanha e Canadá, compartilhando com o público a música do Brasil.

Preludio – de Fernando Muller, com o mesmo

 

 

Participou de muitos festivais e máster-classes, com pianistas renomados.

Em 2005, Müller gravou o “Concerto para piano”, de José Alberto Kaplan com a Orquestra da Paraíba.

Deneil Laranjeira e Fernando Muller – Miudinho II

 

 

Gravou composições de Inaldo Moreira em três CDs, entre 2009 e 2015.

O CD “Arruar” foi lançado em 2012 com peças para piano de compositores de Pernambuco.

Em 2014, lançou o CD “Território XXI” com o Grupo de Percussão do Nordeste.

“Sarau Roliudiano – Choro para Clarinete e Piano”, de Inaldo Moreira, com Fernando Muller ao Piano e Jaílson Raulino, no Clarinete

 

 

Fernando Müller concluiu seus estudos de graduação na Universidade Federal da Paraíba (UFPA) e obteve seu mestrado pela Universidade de Montreal (Canadá).

 

 

Megaphone do Quincas quinta, 30 de agosto de 2018

OS CLÁSSICOS E ERUDITOS DE NOSSA REGIÃO - VÍTOR ARAÚJO

 

 
 
OS CLÁSSICOS E ERUDITOS DE NOSSA REGIÃO – VITOR ARAÚJO

Vitor Araujo: prodígio e virtuose – erudito e popular, além de extravagante; alvirrubro militante!

Soube da existência de Vítor Araújo de forma prosaica. Não sabia que havia surgido um novo virtuose no Recife.

Não foi coisa de indicação ou chamamento para conhecer uma grande e alvissareira novidade musical.

O que me chamou a atenção foi que um garoto de 17 anos, este virtuoso, torcia por meu velho e conhecido Náutico, de esquadrões históricos no anos 1960, embora mais recentemente não conquistasse nada de grande relevância, a não ser alguns dos sempre honrosos títulos estaduais (aliás, domingo, na Arena, o time deixou de conquistar o acesso à série B – com público de 27 mil fanáuticos!).

Vitor me abriu os olhos para romper um pouco essa coisa de que jovem só se associa aos vencedores de momento. Com tradição, clube de 1901, paixão e uma pitada de imponderável, é possível angariar torcedores onde existe hegemonia financeira e política em prol de uma só agremiação.

Nosso grande pianista era mais que um expoente torcedor, era um militante, como vemos nessas imagens, em que doa a camisa timbu para seu ídolo, Chico Buarque:

 

 

Vitor chegava mesmo a incluir em seus concertos a execução do frevo “Como Dorme”, do magistral Nelson Ferreira, o hino informal do Clube Náutico Capibaribe.

Canto n.3 – primeiro single do disco “Levaguiã Terê”

 

 

O pianista e compositor Vitor Araújo surgiu como o menino-prodígio que tocava Radiohead pisando no piano.

Começou a tocar aos 9 anos de idade e lançou seu primeiro álbum aos 18, resultado de um gosto musical eclético, que transita entre a música contemporânea, o popular e o erudito.

Já gravou ou dividiu o palco com diversos nomes – Otto, Junio Barreto, Mombojó, Seu Chico e Rivotrill – fazendo apresentações em várias cidades do Brasil.

Em 2008, recebeu o Prêmio de Revelação, da Associação Paulista de Críticos de Arte.

Samba e Amor, de Chico Buarque

 

 

Uma nota – nas redes sociais – do músico Felipe Ventura (Baleia, Xóõ) convocando o público carioca para o show de lançamento de “Levaguiã Terê”, terceiro disco de Vitor Araújo, no Solar de Botafogo, chamava atenção pela maneira como o amigo categorizava o pianista e compositor pernambucano: “ex-menino prodígio, atual jovem adulto prodígio”.

Como foi dito aqui, Vitor despontou muito cedo como músico virtuoso. Aos 17 anos, ele já lançava seu primeiro disco, o DVD “Toc – Ao vivo no Teatro de Santa Isabel” (2005, Deck).

Ali aparecia basicamente como intérprete de releituras de Luiz Gonzaga (“Asa branca”), de Villa-Lobos (“Dança do índio branco”) e até de Radiohead (“Paranoid android”).

O reconhecimento de seu talento fez o músico rodar o Brasil, seja com apresentações solo ou com a banda “Seu Chico”, que fazia versões de Chico Buarque. Apesar do retorno – financeiro, inclusive – o sucesso instantâneo cobrou seu preço.

Miudinho – Bachianas nº4 / Trenzinho Caipira (Villa-Lobos) | Instrumental SESC Brasil

 

 

Passaram quatro anos entre o seu primeiro disco e o “A/B” (2012, independente), quando viveu momento de muita agonia: tinha estagnado em seus estudos e não desenvolvera ainda uma linguagem própria, como reafirmou o músico. Era o reconhecido por algo com o qual não se identificava mais.

Só depois de lançar o “A/B” e participar de trabalhos de outros amigos, peças, filme é que se acalmou.

Capas dos dois primeiros discos:

Quatro anos depois, Vitor, agora com 28 anos, reapareceu com “Levaguiã Terê” (Natura Musical), disco que o consolida como o compositor que todos esperavam – é o primeiro trabalho em que ele escreveu para orquestra.

Inicialmente idealizado como um estudo do candomblé, o álbum foi se moldando durante seu longo e trabalhoso processo de composição e orquestração até se tornar o que o próprio músico define como uma ideia de sincretismo entre o indígena, o africano e o europeu.

Produzido pelo carioca Bruno Giorgi (“esse, sim, um prodígio”, define Vitor), o disco surge como um dos grandes destaques dos lançamentos do ano na nova música brasileira.

Para o concerto no Rio, Vitor revezou entre piano, synths e as vozes que ecoam por algumas faixas do trabalho.

Na complexa missão de adaptar o disco para apresentações ao vivo, o acompanharam Felipe S, vocalista e compositor da banda Mombojó (guitarra, baixo e MPC), o supracitado Felipe Ventura (guitarra), Hugo Medeiros (bateria), Rafa Almeida e Amendoim, ambos na percussão.


Megaphone do Quincas quarta, 22 de agosto de 2018

OS CLÁSSICOS E ERUDITOS DE NOSSA REGIÃO - ANTÔNIO MENEZES

 

 
OS CLÁSSICOS E ERUDITOS DE NOSSA REGIÃO – ANTÔNIO MENESES

Antonio Meneses: o virtuoso que Pernambuco deu ao mundo!

 

Uma coisa puxa a outra. Encerrado o concerto da OSESP sábado retrasado, era inevitável visitar a loja de discos, cds, dvds e outras mídias da Sala São Paulo.

O problema dessa loja é que a visita despretensiosa se torne sedução irresistível e você decida comprar algum produto. Como são quase 100% importados, os preços ficam muito altos, inacessíveis mesmo.

Acabara de ouvir peças de Richard Wagner e Béla Bartok, com a Sinfônica de São Paulo e estava ainda com a audição aberta em plenitude.

No caixa, para não sair de mãos abanando, encontrei um cd de Antonio Meneses, com o pianista André Mehmari, por R$ 20,00.

Antonio Meneses e André Mehmari executam “Baião de Dois”, de Mehmari

 

 

Na apresentação do cd, Danilo Santos de Miranda, diretor geral do SESC de São Paulo, que produziu o disco, afirmou que era o primeiro trabalho de Meneses com repertório de música popular, gravado no Brasil.

De imediato, coloquei no som do carro e continuei ouvindo música de altíssima qualidade, agora em trânsito para casa.

 

Meneses e Mehmari

O disco traz Bach, Astor Piazzolla, Tom Jobim, André Vitor Correa. Entre estas, um frevo, uma valsa, um choro e um baião, de autoria de Mehmari, dando o tom da busca de Antonio Meneses por uma música mais próxima de sua juventude.

Antonio Meneses – Bach – Sarabande

 

 

Antonio Meneses nasceu no Recife, em 23 agosto de 1957 (aniversaria, portanto, esta semana) e é radicado na Suíça.

Filho do trompista João Jerônimo Meneses, foi morar no Rio de Janeiro no primeiro ano de vida. O pai foi convidado para integrar o elenco do Theatro Municipal do Rio.

Começou a aprender violoncelo, participando de vários concursos. Aos 17 anos, foi estudar na Europa. Torna-se aluno da Escola Superior de Música de Düsseldorf, depois de Stuttgart, ambas na Alemanha.

Em 1977, venceu o Concurso Internacional de Munique, derrotando, por unanimidade, 40 candidatos. Apresentou-se com as Orquestras Filarmônicas de Moscou, São Petersburgo, Nova York e Israel, além das Sinfônicas de Londres, da BBC e Viena, bem como da Concertgebopuw, de Amsterdã e da Suisse Romande. Participou de gravações com a Filarmônica de Berlin e Herbert Von Karajan.

Antonio Meneses em Maringá (PR) – Villa-Lobos: Bachianas Brasileiras No. 5 Aria (Cantilena)

 

 

Seu instrumento é um Matteo Goffriler, do século 18 (equivalente, entre os violoncelos, ao violino Stradivarius).

Em 2011, os jornalistas João Luiz Sampaio e Luciana Medeiros entrevistaram Antonio Meneses, em decorrência de uma pausa forçada causada por um tumor benigno no pulso direito. A entrevista resultou no livro “Antonio Meneses – Arquitetura da Emoção”, acompanhado de um CD com obras solo e com participação do pianista Luiz Fernando Benedin.

André Mehmari

Pianista, arranjador, compositor e multi-instrumentista, músico de destaque no cenário nacional, é autor de composições e arranjos para algumas das formações orquestrais e câmera mais expressivas do país, como OSESP, Quinteto VIlla-Lobos, OSB, Quarteto de Cordas da Cidade de S.P, entre outros.

Como instrumentista, já atuou em importantes festivais brasileiros como Chivas, Heineken, Tim Festival e no exterior, como Spoleto USA e Blue Note Tokyo. A discografia já reúne oito cds solo, além de participações em numerosos projetos.

André Mehmari nasceu em Niterói em 22 de abril de 1977 e encontra a música ainda na primeira infância, influenciado pela mãe, a quem assistia tocar piano na sala de casa. O interesse pela música persiste e aos oito anos, ingressa numa escola de música em Ribeirão Preto, para onde a família havia se mudado.
Nessa época, descobre o jazz e a improvisação. Aos 11 anos, inicia carreira profissional e aos 13, integra trios, quartetos e faz apresentações solo em casas especializadas em jazz.

Desta época, datam as primeiras composições e arranjos para grupos musicais da cidade.

A precocidade do jovem músico vira notícia na TV, jornais e revistas. Ainda adolescente, começa a ensinar música e compõe pequenas peças de caráter didático, a convite de uma escola de música local. O resultado, 21 Peças Líricas um moderno complemento para musicalização infantil, aplicado com grande sucesso.

Por duas vezes, é selecionado para participar como bolsista do Festival de Inverno de Campos do Jordão (1993 e 1994).

Em 93, é orientado por Roberto Sion e Gil Jardim, integrando a big band do festival, com a qual atuou até 96.

Em 94, tem a oportunidade única de conhecer o lendário maestro Moacir Santos, participando de sua classe de arranjo.

Depois, realiza seu primeiro concerto com composições próprias no Festival Internacional Música Nova, em Ribeirão Preto (1995).

Pouco depois, retornaria para o Festival de Inverno de Campos do Jordão como solista, acompanhado pela Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo (1999).


Megaphone do Quincas terça, 14 de agosto de 2018

OS CLÁSSICOS E ERUDITOS DE NOSSA REGIÃO

 

OS CLÁSSICOS E ERUDITOS DE NOSSA REGIÃO

Cussy de Almeida

Cussy de Almeida era conterrâneo e contemporâneo de minha mãe, igualmente papa-jerimum, dona Dagô.

Como minha primeira professora de história da música, mamãe me apresentou a todos os grandes músicos regionais e nacionais – de Cussy de Almeida a Anastácia; de Marlos Nobre a Jackson do Pandeiro; de Antonio Meneses a Gilberto Gil.

Sempre estive na audição de Cussy. Hoje – pelo assunto que estou visitando – fui buscar mais dados sobre o grande maestro.

Natural de Natal-RN foi um recifense, de coração. Aos seis anos, revelou-se um menino prodígio ao iniciar-se na arte musical, conforme testemunho dos seus professores de violino, Carlos Tavares e José Monteiro, ao apresentar-se no primeiro recital público, acompanhado ao piano por sua irmã Hilza de Almeida, no Teatro Carlos Gomes, hoje Alberto Maranhão.

Aboio – Camerata Candela – Trecho do concerto de estreia – 01/2010 na Haute École de Musique de Genebra, Suíça.

 

 

Em 1947, com 11 anos, fez a primeira tournée de concertos nas cidades de Mossoró-RN, Natal, João Pessoa, Recife e Salvador, obtendo grande êxito.

Aos 14 anos, foi residir no Recife, matriculando-se no Colégio Oswaldo Cruz. Passou a estudar violino com o maestro Vicente Fitipaldi e ingressou na Orquestra Sinfônica do Recife.

Em 1958, por recomendação de Villa-Lobos, foi cursar em Paris, o “Conservatoire Superieur de Musique”, com o mestre René Benedetti. Lá, recebeu o prêmio “Albert Lulin”, destinado ao aluno de maior talento.

Dois anos depois, ganhou o cobiçado “Premio de Virtuosidade do Consertório de Genebra” (Suíça).

Arrial do Cabo, com o mesmo ao violino. Disco “Mergulhador”.

 

 

Ingressou, por concurso, na “Orchestre de la Suisse Romande”, sob a regência de Ernest Anserment, com a qual participou dos festivais de Montreux, Lausanne, Viena e Atenas. Integrou a gravação da obra orquestral de Claude Debussy (me iniciado também por Dagô).

De volta ao Brasil, dedicou-se ao magistério, lecionando nas universidades do Rio Grande do Norte e da Paraíba.

Maestro Cussy de Almeida

Pesquisou e estudou a música Nordestina em suas raízes e manifestações populares, associando-a ao barroco religioso e à temática folclorica urbana do país, quando criou a Orquestra Armorial de Câmera.

Realizou trabalhos em parceria com os compositores Guerra Peixe, Capiba, Clovis Pereira e Jarbas Maciel.

Nascido em Natal-RN em março de 1936, morreu no Recife, em julho de 2010, aos 74 anos.

Um dos maiores legados de Cussy foi o incentivo à formação e o trabalho à frente da Orquestra Cirança Cidadã, projeto de inclusão social idealizado pelo juiz de direito João José Rocha Tarquino.

Música de Cussy de Almeida, álbum “Orquestra de Cordas Dedilhadas de Pernambuco” (1984); do Projeto Nelson Ferreira – FUNARTE

 

 

Cussy foi o primeiro diretor artístico da orquestra e seu principal mentor. A iniciativa é a profissionalizaçao musical de crianças e jovens que vivem no bairro do Coque, no Recife.

PS – Orquestra de Cordas Dedilhadas de Pernambuco: Adelmo de Oliveira Arcoverde viola 10 cordas; Geraldo Fernandes Leite percussão; Henrique Annes violão; Inaldo Gomes da Silva percussão; Ivanildo Maciel da Silveira bandolim; João Lyra viola Marco Cesar de Oliveira Brito bandolim; Marcos Silva Araújo contrabaixo; Mário Moraes Rêgo cavaquinho; Nilton Machado Rangel viola 10 cordas; e bandolim Rossini Ferreira.


Megaphone do Quincas terça, 07 de agosto de 2018

OS CLÁSSICOS E ERUDITOS DE NOSSA REGIÃO

 

OS CLÁSSICOS E ERUDITOS DE NOSSA REGIÃO

Josefina Aguiar: pianista pernambucana, amante de Grieg, executava Capiba e Nelson Ferreira

Pesquisava compositores e instrumentistas eruditos e classicos regionais, como o potiguar Cussy de Almeida, os pernambucanos Marlos Nobre, Antonio Meneses, Inaldo Moreira, entre outros.

Quase envergonhado pela desinformação, encontrei Josefina Aguiar, que, segundo os dicionários Ricardo Cravo Albin e Renato Phaelante e textos da Fundação Joaquim Nabuco, foi uma das mais completas pianistas brasileiras.

Josefina iniciou cedo sua carreira artística, conseguindo logo uma notória consagração pública.

Sua primeira audição foi aos 8 anos, na presença de amiguinhos, como o futuro político Marcos Freire.

O Recife, porém, só a ouviu tocar, pela primeira vez, no rádio. O pai a levara ao programa de Nelson Ferreira, na Rádio Clube de Pernambuco. Sem saber que estava no ar, tocou o adágio da Sonata ao Luar, de Beethoven.

O episódio rendeu-lhe fama imediata e um ilustre fã, o multiacadêmico, dramaturgo e escritor Valdemar de Oliveira, que viria a ser seu mentor.

A dificuldade em encontrar vídeos ou registros sonoros com Josefina Aguiar, levou-me a dispor de notícia do NETV de 2013 para apresentar um pouco de sua história e talento.

Clique aqui para ver: “Para Josefina Aguiar”, homenagem à pianista pernambucana (2013) – Coreografia feita pela neta da artista, Bárbara Aguiar

Com sólida formação musical recebida no Recife, Salvador, Rio de Janeiro, na Suiça e na Austria, foi a primeira menina solista a tocar na Orquestra Sinfonica do Recife (OSR), aos 11 anos.

É considerada um dos raros talentos que despontaram na década de 1940, em Pernambuco.

Sua garra em preservar a música classica tornou-a conhecida como “a dama da resistência” e de “leoa do Norte”.

Josefina Aguiar fundou o curso de música da Universidade Federal de Pernambuco, atuando nas áreas de piano, transposição e acompanhamento, solfejo, prática de conjunto, música de câmara e nas salas de canto e instrumentos melódicos.

Foi finalista do 12º Concurso Internacional de Munique, Alemanha, recebeu a medalha do mérito Joaquim Nabuco e o troféu cultural do Conselho de Cultura da Cidade do Recife.

Fez parte do TAP (Teatro de Amadores de Pernambuco) e atuou ao lado de grandes nomes internacionais, como Marion Mathaus, Claudio Santoro, Michael Haran e Corine Sertilange, entre outros.

Constam de seu repertório obras importantes, como a de Edward Grieg (Concerto em Lá Menor para Piano e Orquestra) – sua interpretação é conhecida como uma das mais famosas do Brasil.

Em dupla ou individualmente, Josefina era uma artista especial. As apresentações no Brasil foram inúmeras, incluindo a Escola Nacional de Música, no Rio de Janeiro.

Valorizava os compositores pernambucanos como Capiba, Nelson Ferreira, Alfredo Gama, Zuzinha, Misael Domingues e um desconhecido chamado José Capibaribe, que na verdade era um pseudônimo de Valdemar de Oliveira, aquele que se tornara seu fã desde a primeira apresentação na Rádio Clube de Pernambuco.


Megaphone do Quincas quarta, 01 de agosto de 2018

POR ONDE ANDAM? - FLORA PURIM

 

POR ONDE ANDAM?

Por onde anda Flora Purim?

Para nós, que acompanhamos Flora Purim desde os anos 1970, ela é musa, música e beleza.

Flora nasceu no Rio, em 06 de março de 1942. Desde miúda, convivia com a música, já que seu pai tocava violino e sua mãe era uma pianista amadora.

Ainda jovem, gostava de cantar, tocar piano e violão. Suas influências foram Billie Holiday, Dinah Washington, Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan.

Open your eyes you can flay (Neville Porter/ Chick Corea) – 1976

 

 

Em 1967, Flora Purim mudou-se para os Estados Unidos, para estudar música na Califórnia. Cinco anos mais tarde, casou-se com o percussionista Aírto Moreira.

Trabalhou ao lado de artistas como Stan Getz e Gil Evans e integrou o conjunto “Return to Forever”, que excursionou com êxito pelos Estados Unidos, no início dos anos 70.

Em 1973, partiu para carreira-solo com o disco “Butterfly Dreams”, seguido por outros pela gravadora Milestone. Entre seus discos, destacam-se “Light a Feather” e “Return do Forever”.

Em 1973, foi presa nos Estados Unidos sob a acusação de posse de drogas e, depois de recorrer da sentença, acabou detida em 1974, passando 18 meses na prisão e 12 anos em liberdade condicional, sem poder deixar o país.

Esquinas, de Djavan – 1986

 

 

O caso de Flora Purim suscitou protestos na classe artística, que a elegeu, por meio de um grupo de críticos, a melhor cantora de jazz dos EUA – de 1974 a 1977, em parte como instrumento de pressão para sua libertação, mas principalmente por seu talento.

Nos anos 70, Flora Purim gravou ainda com Carlos Santana, Hermeto Pachoal, Chick Corea e muitos outros, encantados com sua extensão vocal e capacidade de improvisação.

Nada será como antes 

 

 

Nos anos 1980, gravou poucos discos solo (a maioria com Aírto Moreira) e, em 1994, lançou “Speed of Light”.

Em 2002, Flora Purim recebeu, juntamente com Aírto, a “Ordem do Rio Branco”, das mãos de Fernando Henrique Cardoso.

Hoje, uma senhora de 76 anos, Flora divide seu tempo entre Curitiba-PR, onde mora, e apresentações pelo mundo.


Megaphone do Quincas quarta, 25 de julho de 2018

POLÊMICA MUSICAL – NOEL ROSA X WILSON BATISTA

  

POLÊMICA MUSICAL – NOEL X WILSON BATISTA

 

Polêmica: Noel Rosa x Wilson Batista

 

Algumas polêmicas musicais tiveram importância artística e lúdica na trajetória do cancioneiro brasileiro. 

A que resultou da momentosa separação de Herivelto Martins e Dalva de Oliveira, contribuiu com sambas arrebatadores, trágicos e doridos…..” Errei sim, manchei o teu nome….” eram frases resgadas no peito, cantadas para emoldurar o fim de um amor eterno.

As letras do marido em dor eram todas do grande Herivelton Martins. As respostas e réplicas já criadas ou encomendadas para alimentar a polêmica, feitas por craques como Ataulfo Alves, Nelson Cavaquinho e Paulo Soledade.

Na edição de hoje, trago a fantástica polêmica entre Noel Rosa e Wilson Batista. Ao ouvir essa gravação, narrada por Henrique Cazes e interpretação deste e de Cristina Buarque, verão o quanto uma briga – polêmica – pode contribuir artisticamente para o infinito acervo da criativa musica brasileira…

Polêmica entre Noel Rosa e Wilson Batista, com Henrique Cazes e Cristina Buarque

 

 

Lenço no pescoço-Rapaz Folgado-Mocinho da Vila/Feitico da Vila- Conversa Fiada -Palpite Infeliz/ Frankenstein da Vila – Terra de Cego/ Deixa de ser convencida (única parceria dos dois)

A polêmica Noel Rosa (1910-1937) x Wilson Batista (1913- 1968) durou menos de três anos, mas rendeu músicas interessantes e virou parte do folclore musical brasileiro.

Quando o entrevero começou, na década de 1930, o músico da Vila já era um respeitado compositor, frequentador da Lapa, amigo de famosos e com nome feito no meio radiofônico.

Já o garoto Wilson ainda era um aprendiz, candidato a malandro e disposto a qualquer coisa para se tornar conhecido. Justamente por isso, muitos até hoje não entendem por que Noel começou a briga.

Semana que vem, tem mais…


Megaphone do Quincas terça, 17 de julho de 2018

MEUS MELHORES BREGAS – FOLHETIM

 

MEUS MELHORES BREGAS – FOLHETIM

 

Folhetim: brega original de Chico Buarque

“Folhetim” focaliza a figura da prostituta que oferece seus encantos– “se acaso me quiseres/ sou dessas mulheres/ que só dizem sim” – tema idêntico ao da composição “Love for Sale”, de Cole Porter, proibida e depois liberada nos anos 1930.

Essa composição, de Chico Buarque, me encanta desde que foi lançada na “Ópera do Malandro”, baseada na “Ópera dos Três Vinténs”, de Kurt Weil e Bertold Brecht, e na “Ópera dos Mendigos”, de John Gay.

É o caso típico de uma música brega, acomodada passivamente numa obra linda de um compositor de griffe: Chico Buarque. Na versão-standard, participação de Wagner Tiso e arranjo de Perinho Albuquerque e Jorginho Ferreira da Silva, em intervenção ao sax-alto (show).

Folhetim, com Gal Costa, Acustico – MTV – 1992

 

 

Não é mais uma música sobre mulher, considerada uma das mais importantes correntes témáticas de Chico – músicas em alusão ao feminino, ou do feminino mesmo.

Mesmo antes de terminá-la para o personagem da Ópera do Malandro, CB já pensava em entregá-la a Gal Costa para gravar.

É música trabalhada por encomenda, gente, para compor essa versao maravilhosa da opera original.

Pode ou não fazer parte daquela lista interminável das músicas femininas de Chico, como “Geni e o Zeppelin’ e “O Meu Amor”, que também compõem a Ópera.

Folhetim, com Tania Alves, Lucinha Lins e Virginia Rosa

 

 

“Folhetim” é pura metalinguagem. O brega e mais popular possível nas palavras de um mestre das letras.

“Folhetim” não é uma mera avaliação semiótica de como se faz uma canção com esse tema, nesse gênero.

Ela pode e deve ser cantada a plenos pulmões, de forma desabrida e despudorada, como a personagem que se dispõe em corpo e alma para sempre dizer sim.

Ah, importante notar: a “Ópera dos Mendigos”, uma sátira à sociedade inglesa do século XVIII, é considerada uma obra revolucionária por ter levado canções populares ao teatro operístico.

Agora, com Vanusa:

 

 

Semana que vem tem mais...


Megaphone do Quincas terça, 10 de julho de 2018

MEUS MELHORES BREGAS – NEGUE

 

MEUS MELHORES BREGAS – NEGUE

Brega é estado de espírito

Ouço “Negue”, do português Adelino Moreira e do paulista Enzo de Almeida Passos, desde a gravação de Nelson Gonçalves.

Aliás, na casa de vovô, no Recife, só tinha uma vitrola para vários moradores e seus gostos musicais. Um chegava com Orlando Dias, outro com Genival Lacerda, outros com Lana Bittencourt.

Os integrantes do fã-clube de Nelson Gonçalves, o maior cantor do Brasil abasteciam nosso acervo. Eram “Flor Do Meu Bairro”, “Deusa do Asfalto”, “A Volta do Boêmio”, e a insuperável “Negue”, na época, digamos, ainda num limbo entre um grande bolero, samba-canção e um brega envergonhado. A confusão fazia parte do enquadramento careta dos ‘experts’ da música, então. Ou é bom e MPB. Ou é brega, de qualidade duvidosa.

Na verdade, era tudo questão de estado de espírito: quando cheguei um dia com “Pedro Pedreiro”, de Chico, perguntaram: quem fez essa coisa sem graça. Isso vinha acompanhando de um “então, não ouça mais nossos bregas, tá!”.

Meu problema era Nelson. Tive que voltar aos bregas tradicionais para restabelecer minha relação com Nelson:

 

 

O inverso também me aborrece muito! É quando um sujeito como Peninha, que não busca títulos, nem paetês – somente o reconhecimento de seu trabalho – só passam a ter músicas como ‘Sonhos’ e ‘Sozinho’ reconhecidas, depois que Caetano as grava. É muita hipocrisia..

Numa terceira via, cantores extraordinários, como Cauby Peixoto, são forçados a sair de seu repertório comum para gravar, por imposição de produtores e gravadoras, músicas como “Bastidores”, que seria linda na voz de qualquer um, numa tentativa de elevar o music-status do grande intérprete. Imaginem com Cauby. Tentaram a fraude com Nelson e Ângela Maria também. Não deu certo!

A gravação que elevou “Negue” ao patamar de clássico da MPB foi a de Maria Betânia, que, de resto, sempre cantou tudo o que quis e como quis.

 

 

Agora, para finalizar, gostaria que observassem como se destrói uma música, seja ela de que gênero for e com qual estado de espírito seja ouvida. Vejam que porcaria:

 

 

Sem mais, semana que vem tem mais…


Megaphone do Quincas terça, 03 de julho de 2018

GEOGRAFIA DAS MÚSICAS - CACHOEIRO DO ITAPEMIRIM

 

Raul Sampaio: “Meu Pequeno Cachoeiro”

Tenho uma relação antiga, quase umbilical, com o Espírito Santo. Ainda guri, anualmente, um dos grandes eventos era reunirmos-nos na casa de tia Alice e ti Agenor, para receber tio Jorge, Marita, e os meninos (alternadamente) Gilton, Nicinha, Eduardo, Bolivar, Beth e Jenny, pernambucanos com sabor capixaba.

Tio Jorge Marques era funcionário de alta patente do Banco do Brasil, lotado no estado capixaba. Naquela época, ser funcionário do BB e com posição de proeminência, equivalia a um título de nobreza.

Mas para mim, Zeca, Robinson, Sandra, Ricardinho e outros primos nos interessava menos a patente de ti Jorge do que o que ele trazia na bagagem como presente: caixas e mais caixas de chocolate Garoto – do antigo, não essa coisa malamanhada de hoje em dia. Era dia da festa a chegada de tio Jorge, de Vitória-ES.

Outros tantos episódios consolidaram minha ligação atávica com os capixabas. Com a grande generosidade e cuidado de meu primo Eduardo Marques, pude passar tempos de depuração e limpeza dos desenganos da vida, ainda em 1975. Arranjou-me trabalho e vida em fazenda do sogro Augusto (pai de Bel) na bela Santa Tereza. Foram momentos de cura e reflexão importantes para o meu proseguir.

Depois, só voltei a Vitória-ES, agora no ano 2000, quando eu e Eva dormimos na área do porto e curtimos a passagem do século na praia de Camburi, com vista para Tubarão.

Sempre tive na ala capixaba da família uma parte alegre e solidária entre meus parentes.

Raul Sampaio

Por tudo isto, vez por outra, lembro de “Meu Pequeno Cachoeiro”, do excelente compositor cachoeirense Raul Sampaio. Verdade que conheci a cidade de Rubem Braga, Sérgio Sampaio e Roberto Carlos muito de pressa, quase sem ver o Itapemirim.

Raul Sampaio está com 89 anos, nascido em Cachoeiro, em 6 de julho de 1928 e mora em Marataízes-ES.

“Meu Pequeno Cachoeiro”, com Raul Sampaio

 

 

Autor de mais de 200 canções, Raul Sampaio participou em duas formações do Trio de Ouro, composto por ele, Dalva de Oliveira e Herivelto Martins.

Em 1969, o conterrâneo Roberto Carlos tornou famosa nacionalmente a canção de Raul, que desde 1966 é também o hino da cidade.

“Meu Pequeno Cachoeiro”, com Roberto Carlos

 

 

Semana que vem tem mais….


Megaphone do Quincas terça, 19 de junho de 2018

VOU DANADO PRA CATENDE E OUTRAS DE ASCENSO

 

Alceu Valença traz Ascenso Ferreira para a atualidade. Um trabalho intransferível

Hora de comer — comer!
Hora de dormir — dormir!
Hora de vadiar — vadiar!
Hora de trabalhar?
— Pernas pro ar que ninguém é de ferro!

Ascenso Ferreira

Poemas são muitos, sempre bons, a descoberta dos sons atrás das palavras e a onomatopéia que sonoriza o barulho dos objetos e se som não tiverem ele acabará por inventá-los. Este foi o grande Ascenso:

“Oropa, França e Bahia”

Para os 3 Manuéis:
Manuel Bandeira
Manuel de Souza Barros
Manuel Gomes Maranhão

Num sobradão arruinado,
Tristonho, mal-assombrado,
Que dava fundos prá terra.
(“para ver marujos,
Ttituliluliu!
ao desembarcar”).

…Morava Manuel Furtado,
português apatacado,
com Maria de Alencar!

“Oropa, França e Bahia”, com Alceu Valença

 

 

Maria, era uma cafuza,
cheia de grandes feitiços.
Ah! os seus braços roliços!
Ah! os seus peitos maciços!
Faziam Manuel babar…

Vou Danado pra Catende (Trem de Alagoas), com Alceu, Zé Ramalho, Lula Cortes e parte do Ave Sangria – De Ascenso Ferreira, adapt. Alceu Valença – 1975 – Festival Abertura

 

 

De Alceu falarei pouco. A época de cada um encarregou-se de separar a pífia mídia do primeiro para a barulhenta do segundo.

Ascenso Ferreira, poeta, boêmio, escritor e jornalista, nasceu em Palmares, zona da Mata de Pernambuco, em 09 de maio de 1895, filho único do comerciante Antônio Carneiro Torres e da professora Maria Luiza Gonçalves Ferreira, cujo apelido era Dona Marocas.

Faleceu a 5 de Maio de 1965, na cidade de Recife, PE. Em 1917, aquele menino, registrado como Aníbal Torres, decidia mudar o seu nome para Ascenso Carneiro Gonçalves Ferreira. Aprendera a ler e a escrever graças aos esforços de Dona Marocas, uma dedicada professora de escola pública, porque aos 6 anos de idade ficara órfão de pai.

Aos 13 anos, devido à carência de recursos materiais, aquele jovem tinha que trabalhar 10 horas por dia: havia se empregado como balconista na loja ‘A Fronteira’, de propriedade de Joaquim Ribeiro, seu padrinho de batismo.

Trem de Alagoas (c/Vou Danado pra Catende), com Inezita Barroso

 

 

Aprenderia muito na vida vendendo meias quartas de carne seca, bicadas de aguardente, cuias de farinha e meias garrafas de querosene.

Em 1911, publica no jornal A Notícia de Palmares, o seu primeiro poema, “Flor Fenecida”.

No ano de 1916, juntamente com outros poetas, Ascenso fundava a sociedade “Hora Literária”. Mas, por defender o abolicionismo, ele passava a ser perseguido politicamente. Mais tarde, sobre essa fase da vida, o poeta escreveria:

“Mamãe foi demitida com 25 anos de serviço! Tivemos a casa pichada; fui vaiado um dia na rua; corrido acintosamente pela polícia; ameaçado de prisão… O estabelecimento de meu padrinho, devido a sua morte, entrara em liquidação. Fiquei sem emprego e sem ter ninguém em Palmares que me quisesse aproveitar os serviços, pois todos tinham receio de desagradar os senhores da situação.”

Em 1920, mudou-se para o Recife, conseguiu um emprego administrativo, indo trabalhar como escriturário do Tesouro do Estado de Pernambuco. Como poeta, entretanto, ele era lançado pelos estudantes da Faculdade de Direito do Recife, que o obrigaram, em certa ocasião, a declamar seus versos no palco do Teatro Santa Isabel. Passa a colaborar com o Diário de Pernambuco e outros jornais.

Em 1921, no Recife, Ascenso Ferreira se casa com a jovem palmarense Maria Stela de Barros Griz, filha do poeta Fernando Griz. No ano seguinte, publicava seus poemas nos jornais Diario de Pernambuco e A Província. Tornava-se um grande amigo de Luís da Câmara Cascudo, Joaquim Cardozo, Souza Barros e Gouveia de Barros.

Em 1925, participa do Movimento Modernista de Pernambuco e, em 1927, publica seu primeiro livro, Catimbó, incentivado por Manuel Bandeira. Viaja a vários estados brasileiros para promover recitais. No ano seguinte, saía no Recife a segunda edição do seu livro, que já tinha sido lançado no Rio de Janeiro e em São Paulo. Nesta cidade, o poeta dava um recital no Teatro de Brinquedos, sendo muito aplaudido, e fazia amizade com vários intelectuais e artistas do sul do País: Mário de Andrade, Cassiano Ricardo, Anita Malfatti, Eugênia Alvaro Moreira, Oswald de Andrade, Olívia Penteado, Afonso Arinos de Melo Franco e Tarsila do Amaral.

Ascenso publicou seu segundo livro Cana Caiana, em 1939, com as ilustrações de Lula Cardoso Ayres. Nessa época, tornara a viajar para o Rio de Janeiro, onde conheceu Cândido Portinari, Sérgio Milliet, Osvaldo Costa, entre outras personalidades.

No início da década de 1940, Ascenso se aposentava como diretor da Receita do Tesouro do Estado de Pernambuco e, já um homem maduro, vem a se apaixonar por uma jovem adolescente – Maria de Lourdes Medeiros – indo viver em sua companhia.

Em 1948, nasceria a sua filha Maria Luíza. Esta menina foi a sua maior fonte de preocupação na fase final da vida, porque ele temia não viver mais tanto tempo e ter que deixá-la, ainda bem nova, órfã de pai.

Em 1941 o terceiro livro Xenhenhém está pronto para ser editado, mas só sairia em 1951, incorporado à edição de “Poemas”, com o título de Poemas e xenhehém, que foi o primeiro livro surgido no Brasil apresentando disco de poesias recitadas pelo seu autor – a edição continha, ainda, o poema “O Trem de Alagoas”, musicado por Villa Lobos.

Dessa vez, ele viajou para o Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, por um período de três meses, para realizar conferências, gravações e dar recitais. No Congresso de Escritores, ocorrido em Goiânia, ele se tornou amigo do célebre Pablo Neruda.

Em 1955, participa ativamente da campanha presidencial de Juscelino Kubitschek, inclusive participando de comícios no Rio de Janeiro.

Em 1966, é nomeado por JK para a direção do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, no Recife, mas a nomeação é cancelada dez dias depois, porque um grupo de intelectuais recifenses não aceita que o poeta e boêmio irreverente assuma o cargo.

É nomeado, então, assessor do Ministério da Educação e Cultura, onde só comparecia para receber o salário.

O poeta assinou um contrato com José Olympio Editora, em 1956, para uma nova edição dos seus poemas. Pouco tempo depois, lançava um álbum duplo de discos com as suas obras completas “64 poemas escolhidos e 3 historietas populares”, com a apresentação de Câmara Cascudo. Além do mais, ele seria o quarto poeta brasileiro a ter a sua voz gravada para a Biblioteca do Congresso, em Washington.

Semana que vem tem mais…..

 

 

 


Megaphone do Quincas quarta, 13 de junho de 2018

GEOGRAFIA DAS MÚSICAS - PETROLINA-PE, JUAZEIRO-BA

 

Petrolina-PE e Juazeiro-BA: Pólo de turismo, cultura, produção agrícola,
vinícolas e o São Francisco no meio!

Na época de caixeiro-viajante, anos 1970, dei um pulo em Petrolina-PE, decisão tomada de última hora quando me preparava para voltar ao Recife, pela BR-232.

Tinha à disposição para exercer as vendas de tecidos, confecções, artigos de armarinho, pelas industrias Jomack S.A e Sigra S.A., uma imenso território – do Oeste do Maranhão ao Sul da Bahia, ou seja o Nordeste inteirinho.

Estiquei até Petrolina por saber que iria faturar bem – cidade grande, pólo regional – e principalmente para conhecer aquele lugar ainda não encaixado nas poções de Nordeste que conhecia bem: litoral, mata, agreste, sertão.

Panorâmica de Petrolina, vista de Juazeiro-BA

Que mistérios guardaria uma cidade do Alto Sertão, banhada pelo São Francisco e ainda vizinha da Bahia.

Foi tudo bom, as vendas e os passeios. Paixão à primeira vista.

Só voltei à região agora em 2015, em férias com a família.

Petrolina Juazeiro – Fagner e Jorge de Altinho, do olindense Jorge de Altinho

 

 

Conhecia outras travessias do Velho Chico, importantes e históricas: Penedo-AL-Neópolis-SE; e Propriá-SE-Porto Real do Colégio-AL. Estas por conta de passeios avulsos ou rotas de trabalho.

Petrolina Juazeiro, com Trio Nordestino

 

 

As duas cidades são férteis como berço de grandes nomes da Música Brasileira: Juazeiro é terra de João Gilberto, Ivete Sangalo e Galvão (Novos Baianos). Petrolina, nos deu o consagrado Geraldo Azevedo e o novo expoente do piano bossa-novista Zé Manoel.

Semana que vem, tem mais.


Megaphone do Quincas terça, 05 de junho de 2018

GEOGRAFIA DAS MÚSICAS - EDU LOBO - CORDÃO DA SAIDEIRA

 

Cordão da Saideira: a lembrança do bonde de Olinda-PE

Nasci na rua Jose de Alencar, na Boa Vista, cidade do Recife. Na época, meus pais moravam na Yputinga, Norte do município.

Era uma época de mudanças, de progresso econômico e social para a família. Fomos residir no Umuarama – bairro popular de Olinda – e depois Boa Viagem, na rua dos Navegantes, outro padrão, status.

O super bairro ainda se desenhava, em 1966. Foi nessa época que Edu Lobo lançou “No Cordão da Saideira”.

Com 12 anos, comecei a descobrir as melhores peculiaridades e atrações turísticas de nossa Capital metropolitana – Recife/Olinda, que sempre tiveram diferenças históricas irreversíveis, mas nunca deixaram ser irmãs siamesas.

No Cordão da Saideira – Coral Madeira de Lei – part. esp. Naná Vasconcelos

 

 

Aquele bonde a que se referia Edu, eu tomava de vez em quando. Pongava o bonde com meu pai, o que me trazia imensa alegria.

Depois, encaixei a letra em todas as referências que vivia e já conhecia: “agulha frita, munguzá, cravo e canela. Cheiro de lança no lar. Me lembro tanto que é tão grande a saudade, que até parece verdade que o tempo ainda pode voltar….”

Sempre tive a sensação de que Edu fosse pernambucano. Sua fase de Corrida de Jangadas, Candeias, Casa Forte me induzia a pensar assim.

Edu Lobo & Metropole Orkest – No Cordão Da Saideira

 

 

Cantor, compositor, arranjador e instrumentista, Edu Lobo, nasceu no Rio de Janeiro em agosto de 1943 (74 anos).

Filho do jornalista e compositor pernambucano Fernando Lobo (Chuvas de Verão), era a cara do pai e passava todas as férias esscolares entre o Recife e Olinda, com seus familiares.

Reconhecido e admirado em todo o mundo, Edu Lobo era chamado jocosa e respeitosamente por Tom Jobim de “neto de Heitor Villa-Lobos”.

Fernando, Bena e Edu Lobo

Ah, curiosidade: Edu Lobo criou “Cordão da Saideira”, no gelado frio de Paris, no Inverno de 1966…

Semana que vem, tem mais

 

 

 


Megaphone do Quincas quarta, 30 de maio de 2018

GEOGRAFIA DAS MÚSICAS - BRANT E MILTON

 

Itamarandiba-MG, preciosidade do Vale do Jequitinhonha

Itamarandiba-MG, afamada e feita canção pelo excelente Fernando Brant (morto em 2015) e Milton Nascimento, é município possui extensa e diversificada área no Alto Vale do Jequitinhonha, sendo um dos principais municípios da região que estende-se sobre os domínios da Mata Atlantica – a leste – e Cerrado.

O relevo é marcado pelas grandes chapadas e pela Serra do Espinhaço – designada Reserva da Biosfera pela UNESCO.

A origem do município remonta ao século XVII, com a chegada do bandeirante Fernão Dias – o caçador de esmeraldas – no processo de expansão da América Portuguesa. A etimologia da palavra é de origem indígena e significa “pedra miúda que rola juntamente com as outras pedras”.

Antiga sede da prefeitura

Em 1997, Itamarandiba recebeu o título de Cidade Solidária do Brasil, pela presidência da República. A implantação de programas sociais, ligados à agricultura familiar, e a crescente preocupação com a assistência social no município levaram à conquista.

Itamarandiba, de Fernando Brandt e Milton Nascimento

 

 

A cidade hoje possui dois grandes centros sociais, instalaçoes da APAE e Ginásio Poliesportivo.

Itamarandiba abriga várias associações de assistência, entre elas a “Fazenda de Recuperação de Dependentes Químicos”, referência nacional no assunto.

Semana que vem, tem mais.


Megaphone do Quincas quarta, 23 de maio de 2018

GEOGRAFIA DAS MÚSICAS - I WANNA TO GO BACK TO BAHIA

  

 

Paulo Diniz: inglês de Joel Santana, numa letra homenageando Caetano Veloso

Alguns tinham-no como desparecido, outros como morto, havia ainda os que, precisos nas minúcias, falavam de doença terminal.

Nos últimos tempos, Paulo Diniz vinha realizando shows em cidades do interior, mas a doença que o acometeu (esquistossomose) agora já não o premite sair de casa, inspirar-se com o cotidiano.

Diniz compôs e cantou muitos sucessos nacionais, principalmente entre os anos 1970 e 1980.

O seu maior grande hit foi a canção “I wanna to go back do Bahia”, na qual homengeou Caetano, então auto-exilado em Londres.

 

 

De 12 aos 16 anos, Diniz trabalhou numa fábrica de doces da sua cidade natal Pesqueira-PE.

Mais tarde, mudou-se para o Recife, onde tentou ganhar a vida engraxando sapatos, como crooner e baterista em casas noturnas, locutor de casas comerciais e, em seguida, locutor e ator da Rádio Jornal do Commercio.

Do Recife seguiu para Caruaru-PE, depois para Fortaleza-CE. Em 1964 foi para o Ro de Janeiro.

Nascido em 1940 (78 anos), Paulo Diniz compôs inúmeros sucessos como: Chorão, Ponha um Arco-Iris na sua Moringa, Pingos de Amor, “E agora, José” (poema de Drummond), Um chopp para distrair, entre outros. Odibar foi o principal parceiro de Paulo Diniz.

Suas canções foram gravadas por Clara Nunes, Emílio Santiago e Simone.

Eu Vim de Piri-Piri (Paulo Diniz/Odibar)

 

 

Semana que vem, tem mais.

 


Megaphone do Quincas terça, 15 de maio de 2018

GEOGRAFIA DAS MÚSICAS - RIACHO DO NAVIO

 

 

Riacho do Navio, caminho para o Pajeú; de lá ao São Francisco

O riacho do Navio é um curso d’água intermitente e afluente do rio Pajeú, atravessando o sertão pernambucano.

Sua fama se deve à música “Riacho do Navio”, composta por Luiz Gonzaga e Zé Dantas.

O riacho recebe esse nome por causa de uma pedra – na Fazenda dos Algodões, na zona rural de Floresta-PE, que lembra um navio.

A música propõe a filosofia de voltar para o simples, quando sugere que “se fosse um peixe” trocaria o imenso mar pela simplicidade do riacho do Navio. Para isso, porém, o tal peixe, mencionando na música, teria que nadar contra as águas.

Riacho do Navio – Luiz Gonzaga/Zé Dantas, com Gonzaga

 

 

Semana que vem tem mais..


Megaphone do Quincas quarta, 09 de maio de 2018

GEOGRAFIA DAS MÚSICAS - PINDURADO NO VAPOR

 

 

“Pindurado no Vapor”: o rock rural magistral de Sá, Rodrigues e Guarabyra

“Pindurado no Vapor” é uma das mais lindas melodias produzidas por Sá, Rodrix e Guarabyra, o ponto alto do movimento de rock-rural brasileiro. Tomo a liberdade de chamá-los de fundadores da road-music nacional, mesmo que a viagem seja de trem ou de vapor.

O trio aparece num momento pouco antes ou pouco depois, do ocaso precipitado do samba-canção, da nova onda, a bossa-nova, da música de protesto, dos festivais, da psicodelia e por aí vai.

Ecológicos de primeira hora, poetas do vento, do pó da estrada, e da madeira dos vapores, sabiam da importância das matas ciliares e da necessidade da conservação de um Brasil rural, por preservação e contemplação.

É possível que tenham deixado escola – Renato Teixeira, Almir Sater e indicado professores – Helena Meirelles – mas como eles e com tanta qualidade não vi tantos.

Sá e Guarabyra – já sem a presença fundamental de Rodrix – continuam na estrada e nos palcos, pois os rock-rural ainda não acabou.

“Pindurado no Vapor”, Sá Rodrix e Guarabyra (1973)

 

 

Em Pindurado no Vapor, os três cantores-compositores-músicos-arranjadores, descrevem uma longa e aventureira viagem no vapor Benjamim Guimarães (o úlimo a funcionar), de Bom Jesus da Lapa, na Bahia, a Pirapora, em Minas.

Foram cinco dias pendurados no vapor, subindo a correnteza do rio São Francisco. Ninguém registrou isso melhor do que eles..

Velho Chico: Trecho entre Bahia e Minas Gerais

O ‘Benjamim’, foi um dos três últimos dos tradicionais vapores que há mais de um século, desde 1871, singravam as águas do rio São Francisco. Na época, os vapores tinham extrema importância para o transporte de passageiros e mercadorias, atuando como forte fator de integração social e econômica no país.

Vapor que fez o trajeto Bom Jesus da Lapa-BA a Pirapora-MG

Esse tipo de embarcação se tornou parte integrante da paisagem, compondo a cultura e o imaginário popular de todo o trecho médio e alto da da Bacia do São Francisco.

Chegaram a coexistir mais de 30 vapores de linha, fazendo o trajeto de Pirapora, em Minas, até os sertões nordestinos.

Em meados do século passado, foram considerados obsoletos e antieconômicos.

Substituídos por rebocadores a diesel, foram enconstados, sucateados e desmantelados. A hegemonia do transporte rodoviário foi o golpe de misericórdia.

Para quem não conhece, vale a pena escutar com atenção o som dos meninos. Um bônus com outros trabalhos do trio:

Casa no Campo/Caçador de Mim/Espanhola

 

 

Semana que vem, tem mais.."

 


Megaphone do Quincas quarta, 25 de abril de 2018

O MENINO DE BRAÇANÃ

 

Braçanã, Rio Bonito-RJ

Braçanã é um distrito de Rio Bonito, no Rio de Janeiro. Ali está a Cachoeira de Braçanã, nome conhecido nacionalmente pela belíssima canção do caruarense Luiz Vieira, em parceria com Arnaldo Passos.

 

 

Localizada em Braçanã de Baixo, a cerca de 3 quilômetros da entrada da BR-101, a bela cachoeira recebe milhares de visitantes no verão. As águas, do rio Caceribu, formam o Salto e suas piscinas naturais.

Agora ouçam a mesma melodia com Rita Lee:

 

 

O manancial abriga remanescentes da Mata Atlântica e também uma captação de água, que é tratada e abastece parte do 3º distrito de Rio Bonito, Basílio, e o vizinho município de Tanguá.

Luiz Vieira nasceu em Caruaru-PE, em outubro de 1929, contando, portanto hoje com 89 anos. Pode-se dizer que Vieira era a música nordestina e sertaneja na Baixada Fluminense. Autor de “Menino Passarinho” (Prelúdio Pra Ninar Gente Grande), em 1962. No ano seguinte gravou outro grande sucesso “Paz do Meu Amor” (prelúdio nº 2). Chegou a fazer 5 programas de televisão, ao vivo, por semana. Viajava do Ceará ao Rio Grande do Sul, semanalmente. Atualmente, é locutor da Rádio Manchete. Não gosta de ser chamado de cantor e sim de cantador.

De Arnaldo Passos, o que se sabe é que era um divulgador de músicas, entrando eventualmente em parceiras, a partir de 1930, a era do rádio.

Mais uma versão de Braçanã:

 

 

E com Betânia, como fica o clássico?

Semana que vem, tem mais...

 


Megaphone do Quincas quarta, 18 de abril de 2018

GEOGRAFIA DAS MÚSICAS - BODOCONGÓ

Bodocongó, Campina Grande-PB

 

O açude de Bodocongó é um reservatório criado na cidade de Campina Grande-PB, para dar conta da escassez de água na região, vez que os açudes Novo e Velho já não supriam as necessidade da população.

Além disso, Bodoncongó fica muito distante dos antidos açudes, podendo abastecer gente que morava longe do centro da cidade.

O início de suas instalações se deu no antigo sítio Ramada. Em 1915 foi iniciada sua construção, que terminou em janeiro de 1917, sendo entregue à população.

Em seu entorno foram surgindo industrias de transformação e, por fim o bairro que recebeu esse nome, por causa do riacho.

Na década de 1950, existia um clube aquático no Açude de Bodocongó, porém ele faliu nos anos 1960.

Popularmente, o bairro foi ocupando toda a área do bairro Universitário.

Assim, Bodocongó é conhecido por ter as duas universidades públicas da cidade, bem como a Escola Técnica Redentorista.

Além do mais, há ali pelo menos 4 escolas estaduais e 2 municipais, 2 unidades básicas de saúde da família e um tradicional mercado público, a feirinha do Conjunto Severino Cabral.

O bairro possui níveis de qualidade de vida extremamente variados, sendo a parte centro-leste do bairro mais rica e próspera que o sul, norte e oeste do bairro.

Bodocongó, de Humberto Teixeira e Cícero Nunes (1966) – com Jackson do Pandeiro

 

 

Agora, na voz de Elba Ramalho, com participação de Dominguinhos.

 

 

Semana que vem, tem mais…


Megaphone do Quincas quarta, 28 de março de 2018

QUE BONITO É, OUTRA MÚSICA QUE NÃO SAI DA CABEÇA



“Que Bonito É”: a trilha do futebol que o Canal 100 eternizou

Falar em Luiz Bandeira é lembrar imediatamente de “Voltei, Recife”, “É de Fazer Chorar” (Ó Quarta-feira Ingrata) e outros tantos sucessos.

É assim: a senha para sentir-se um local ao chegar no Carnaval do Recife e de Olinda é saber de cor e salteada a letra de pelo menos um destes clássicos frevos-canção.

Na Cadência do Samba (“Que Bonito É”) – de Luiz Bandeira, 
com Waldir Calmon e sua Orquestra

 

 

Luiz Bandeira, cantor, musico e compositor pernambucano nasceu em 25 de dezembro de 1923, falecendo em 22 de fevereiro de 1998, um domingo de Carnaval do Recife.

Passou parte de sua infância em Maceió-AL, onde participou de grupos de repentistas nas feiras locais.

Estreeou sua carreira artística em 1939, num programa de calouros da Rádio Clube de Pernambuco, que o contratou em seguida. Foi violonista, radioator e crooner.

Em 1950, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estreou nas noites cariocas como cantor de orquestra no Copacabana Palace.

Foi nesse período que Bandeira compôs “Na Cadência do Samba” (Que Bonito É), por muitos anos executada como tema de fundo de jogos de futebol, exibidos pelo jornal de cinema, o famoso Canal 100.

Não confundir com “Na Cadência do Samba”, de Ataulfo Alves, Paulo Gesta/ Matilde Alves, como podem comparar abaixo:

Na Cadência do Samba – de Ataulfo Alves/Paulo Gesta/Matilde Alves, 
com Elizeth Cardoso

 

 

Bandeira é considerado um dos maiores compositores de frevo, além de sucessos gravados por Luiz Gonzaga, “Onde tu tá, Neném’, por Clara Nunes, “Viola de Penedo” e muitos outros nomes da música popular brasileira.

Para que não se diga que Bandeira fez aquele samba, de forma incidental, ouçam essa melodia (Apito no Samba), executada pelo maestro Moacir Santos, um conterrâneo de alto quilate (Ouro Negro).

O Apito no Samba, de Luiz Bandeira, interpretação do Maestro Moacir Santos

 

 

Durante sua carreira, gravou alguns discos e ganhou prêmios por seus frevos. No final dos anos 80, aposentou-se e voltou a morar no Recife.

Outras composições de Luiz Bandeira: Maria Joana, baião (Continental, 1952); Sincopado, choro (Continental, 1953); Bom Danado, frevo canção em parceria com Ernani Seve (Continental, 1954); Marcha da pipoca (Todamérica, 1954); O que os olhos não vêem, samba (Continental, 1955); Recado de Olinda, samba (Continental, 1958); Samba com Luciano (Continental, 1959); Açucena (Continental, 1959); Nossa timidez, bolero em parceria com Alberto Lopes (RCA Victor, 1960).

Semana que vem tem mais…..

Fontes: Dicionário Renato Phaelante; Dicionário Ricardo Cravo Albin; Fundaj; Wikipedia; Pernambuco de A a Z.


Megaphone do Quincas quarta, 21 de março de 2018

AVE SANGRIA - AS MÚSICAS QUE NÃO ESQUEÇO - 21.03.18

 

Ave Sangria é o nome de um conjunto musical brasileiro de Rock Psicodélico, um dos principais expoentes da cena psicodelicapernambucana, dos anos 1970, junto com Alceu Valença, Flaviola e o Bando do Sol, Lula Côrtes, Alceu Valença, Flaviola e o Bando do Sol, Marconi Notari e Lailson.

Chamado inicialmente de Tamarineira Village, o grupo mudou de nome por sugestão de uma cigana que os integrantes conheceram no Interior da Paraíba.

Formado por Marco Polo (vocais), Ivson Wanderley (guitarra solo e violão), Paulo Raphael (guitarra base, sintetizador, violão, vocal), Almir de Oliveira (baixo), Israel Semente (bateria) e Agrício Noya (percussão), seu trabalho mais conhecido é o álbum Ave Sangria de 1974.

O grupo foi alvo da censura governo militar. A ilustração da capa do primeiro e único disco da banda sofreu modificações, sendo definida pelos integrantes como um “papagaio drag queen”. 

Ave Sangria – “Lá Fora É”

 

 

O álbum de estréia da banda teve suas principais músicas compostas Marco Polo. Eles usavam batom, beijavam-se na boca em pleno palco, faziam uma música suja, com letras falando de piratas, moças mortas no cio.

E eram muito esquisitos; “frangos”, segundo uns, e uma ameaça às moças donzelas da cidade, conforme outros. Estes “maus elementos” faziam parte do Ave Sangria, ex-Tamarineira Village, banda que escandalizou a Recife de 1974, da mesma forma que os Rolling Stones a Londres de dez anos antes. Com efeito, ela era conhecida como os Stones do Nordeste.

“Isto era tudo parte da lenda em torno do Ave Sangria” – explica, 25 anos depois, Rafles, o ministro da informação do grupo. “O baton era mertiolate, que a gente usava para chocar. Não sei de onde surgiu esta história de beijo na boca, a única coisa diferente na turma eram os cabelos e as roupas.” Rafles por volta de 68, era o “pirado” de plantão do Recife. Entre suas maluquices está a de enviar, pelo correio, um reforçado baseado, em legítimo papel Colomy, para Paul McCartney. Meses depois, ele recebeu a resposta do Beatle: uma foto autografada como agradecimento.

Foi Rafles quem propôs o nome Tamarineira Village, quando o grupo tomou uma forma definitiva, com a entrada do cantor e letrista Marco Polo. Isto aconteceu depois da I Feira Experimental de Música de Fazenda Nova. Até então, sem nome definido, Almir Oliveira, Lula Martins, Disraeli, Bira, Aparício Meu Amor (sic), Rafles, Tadeu, e Ivson Wanderley eram apenas a banda de apoio de Laílson, hoje cartunista do DP.

Marco Polo, um ex-acadêmico de Direito, foi precoce integrante da geração 65 de poetas recifenses. Com 16 anos, atreveu-se a mostrar seus poemas a Ariano Suassuna e a Cesar Leal.

Foi aprovado pelos dois e lançou seu primeiro livro em 66. Em 69, iniciou-se no jornalismo, como repórter do Diário da Noite. Logo ganhou o mundo. Em 70, trabalhou por algum tempo no Jornal da Tarde, em São Paulo, mas logo virou hippie, trabalhando como artesão na desbundada praça General Osório, em Ipanema.

O primeiro show como Tamarineira Village foi o Fora da Paisagem, depois do festival de Fazenda Nova. Vieram mais dois outros shows, Corpo em Chamas e Concerto Marginal. A partir daí a banda amealhou um público fiel.

“Seu Valdir” – Marco Polo, com Mey Matogrosso

 

 

A mudança do nome aconteceu quando o grupo passou a ser convidado para apresentações em outros Estados. Os músicos cansaram-se de explicar o significado de Tamarineira Village. Aí veio a história da cigana: “Ela gostou de nossa música e fez um poema improvisado, referindo-se a nós como aves sangrias. Achamos legal. O sangria, pelo lado forte, sangüíneo, violento do Nordeste. O ave, pelo lado poético, símbolo da liberdade do nosso trabalho.

Na época, o som do Quinteto Violado era uma das sensações da MPB. Não tardou para as gravadoras mandarem olheiros ao Recife em busca de um novo quinteto. A RCA foi uma delas. O Ave Sangria foi sondado e recusou a proposta (a RCA contratou a Banda de Pau e Corda).

O disco viria com a indicação da banda, pelo empresário dos Novos Baianos, à Continental, a primeira gravadora a apostar no futuro do rock nacional. Antecipando a gozação por serem nordestinos, os integrantes da banda chegaram no estúdio Hawai, na Avenida Brasil, Rio, todos de peixeira na mão: “Falamos para o pessoal ter cuidado, porque a gente vinha da terra de Lampião”, relembra Almir Oliveira. Foi um dos poucos momentos de descontração ali, naquele momento. Com exceção de Marco Polo, nenhum dos integrantes conhecia o Rio e jamais haviam entrado num estúdio de gravação.

Ave Sangria – “Georgia, A Carniceira”

 

 

Como agravante, quem produziu o disco foi o pouco experiente Marcio Antonucci. Ex-ídolo da Jovem Guarda (formou a dupla Os Vips, com o irmão Ronaldo), Antonucci ficou perdido com o som que tinha em mãos, e o pôs a perder:

“Ele não entendeu nada daquela mistura de rock e música nordestina que a gente fazia, e deixou as sessões rolarem. O diabo é que a gente também não tinha a menor experiência de estúdio”, conta o guitarrista Paulo Rafael. Resultado: o disco acabou cheio de timbres acústicos. O Ave Sangria, involuntariamente, virou uma espécie de Quinteto Violado udigrudi. E adulterado não foi apenas o som. A gravadora não topou pagar pela arte da capa e colocou em seu lugar um arremedo do desenho original, assinado por Laílson.

O disco, mesmo pouco divulgado, conseguiu relativo sucesso no Sudeste, e vendeu bastante em alguns estados do Nordeste.

Uma das músicas que fizeram mais sucesso, e polêmica, foi o samba-choro Seu Waldir. “Seu Waldir o senhor/ Machucou meu coração/ Fazer isto comigo, seu Waldir/ Isto não se faz não… Eu quero ser o seu brinquedo favorito/ Seu apito/ Sua camisa de cetim…” Numa época em que a androginia tornava-se uma vertente da música pop.

Lá fora com o gliter rock de David Bowie, Gary Glitter e Roxy Music com Alice Cooper, aqui com o rebolado dos Secos & Molhados, ‘Seu Waldir’ foi considerado pelos moralistas pernambucanos como uma apologia ao homossexualismo, quando não passava de uma brincadeira do irreverente do Ave Sangria.

Seu Waldir por pouco não vira mito. Uns diziam que era um senhor que morava em Olinda, pelo qual o vocalista do Ave Sangria apaixonara-se. Outros, que se tratava de um jornalista homônimo. Enfim, acreditava-se que o tal Waldir era um personagem de carne e osso. Marco Polo esclarece a história do personagem “Eu fiz Seu Waldir, no Rio, antes de entrar na banda. Ela foi encomendada por Marília Pera para a trilha da peça A Vida Escrachada de Baby Stomponato, de Bráulio Pedroso, que acabou não aproveitando a música”.

O Departamento de Censura da Polícia Federal não levou fé nesta versão. Proibiu o LP e determinou seu recolhimento em todo território nacional. A proibição incitada, segundo os integrantes do Ave Sangria, pelo hoje colunista social do Diário de Pernambuco, João Alberto: “Ele tocava a música no programa de TV que ele apresentava e comentava que achava um absurdo, que uma música com uma letra daquelas não poderia tocar livremente nas rádios”, denuncia Rafles. Almir Oliveira diz que lembra dos comentários do jornalista na televisão: “Mas não atribuo diretamente a ele. Se não fosse ele, teria sido outra pessoa, a música era mesmo forte para a época”, ameniza. A proibição, segundo comentários da época, deveu-se a um general, incentivado pela indignação da esposa, que não simpatizou com a declaração de amor a seu Waldir.

O disco foi relançado sem a faixa maldita, mas aí o interesse da mídia pelo grupo já havia passado. A Globo, por exemplo, desistiu de veicular o clipe feito para o Fantástico, com a música Geórgia A Carniceira. O grupo perdeu o pique: “A gente era um bando de caras pobres, alguns já com filhos, a grana sempre curta. No aperto, chegamos até a gravar vinhetas para a TV Jornal (uma delas para o programa Jorge Chau)”, relembra Marco Polo.

Semana que vem tem mais!!!


Megaphone do Quincas terça, 13 de março de 2018

AVE SANGRIA - AS MÚSICAS QUE NÃO ESQUEÇO

Ave Sangria é o nome de um conjunto musical brasileiro de Rock Psicodélico, um dos principais expoentes da cena psicodelicapernambucana, dos anos 1970, junto com Alceu Valença, Flaviola e o Bando do Sol, Lula Côrtes, Alceu Valença, Flaviola e o Bando do Sol, Marconi Notari e Lailson.

Chamado inicialmente de Tamarineira Village, o grupo mudou de nome por sugestão de uma cigana que os integrantes conheceram no Interior da Paraíba.

Formado por Marco Polo (vocais), Ivson Wanderley (guitarra solo e violão), Paulo Raphael (guitarra base, sintetizador, violão, vocal), Almir de Oliveira (baixo), Israel Semente (bateria) e Agrício Noya (percussão), seu trabalho mais conhecido é o álbum Ave Sangria de 1974.

O grupo foi alvo da censura governo militar. A ilustração da capa do primeiro e único disco da banda sofreu modificações, sendo definida pelos integrantes como um “papagaio drag queen”. 

Ave Sangria – “Lá Fora É”

 

 

O álbum de estréia da banda teve suas principais músicas compostas Marco Polo. Eles usavam batom, beijavam-se na boca em pleno palco, faziam uma música suja, com letras falando de piratas, moças mortas no cio.

E eram muito esquisitos; “frangos”, segundo uns, e uma ameaça às moças donzelas da cidade, conforme outros. Estes “maus elementos” faziam parte do Ave Sangria, ex-Tamarineira Village, banda que escandalizou a Recife de 1974, da mesma forma que os Rolling Stones a Londres de dez anos antes. Com efeito, ela era conhecida como os Stones do Nordeste.

“Isto era tudo parte da lenda em torno do Ave Sangria” – explica, 25 anos depois, Rafles, o ministro da informação do grupo. “O baton era mertiolate, que a gente usava para chocar. Não sei de onde surgiu esta história de beijo na boca, a única coisa diferente na turma eram os cabelos e as roupas.” Rafles por volta de 68, era o “pirado” de plantão do Recife. Entre suas maluquices está a de enviar, pelo correio, um reforçado baseado, em legítimo papel Colomy, para Paul McCartney. Meses depois, ele recebeu a resposta do Beatle: uma foto autografada como agradecimento.

Foi Rafles quem propôs o nome Tamarineira Village, quando o grupo tomou uma forma definitiva, com a entrada do cantor e letrista Marco Polo. Isto aconteceu depois da I Feira Experimental de Música de Fazenda Nova. Até então, sem nome definido, Almir Oliveira, Lula Martins, Disraeli, Bira, Aparício Meu Amor (sic), Rafles, Tadeu, e Ivson Wanderley eram apenas a banda de apoio de Laílson, hoje cartunista do DP.

Marco Polo, um ex-acadêmico de Direito, foi precoce integrante da geração 65 de poetas recifenses. Com 16 anos, atreveu-se a mostrar seus poemas a Ariano Suassuna e a Cesar Leal.

Foi aprovado pelos dois e lançou seu primeiro livro em 66. Em 69, iniciou-se no jornalismo, como repórter do Diário da Noite. Logo ganhou o mundo. Em 70, trabalhou por algum tempo no Jornal da Tarde, em São Paulo, mas logo virou hippie, trabalhando como artesão na desbundada praça General Osório, em Ipanema.

O primeiro show como Tamarineira Village foi o Fora da Paisagem, depois do festival de Fazenda Nova. Vieram mais dois outros shows, Corpo em Chamas e Concerto Marginal. A partir daí a banda amealhou um público fiel.

“Seu Valdir” – Marco Polo, com Mey Matogrosso

 

 

A mudança do nome aconteceu quando o grupo passou a ser convidado para apresentações em outros Estados. Os músicos cansaram-se de explicar o significado de Tamarineira Village. Aí veio a história da cigana: “Ela gostou de nossa música e fez um poema improvisado, referindo-se a nós como aves sangrias. Achamos legal. O sangria, pelo lado forte, sangüíneo, violento do Nordeste. O ave, pelo lado poético, símbolo da liberdade do nosso trabalho.

Na época, o som do Quinteto Violado era uma das sensações da MPB. Não tardou para as gravadoras mandarem olheiros ao Recife em busca de um novo quinteto. A RCA foi uma delas. O Ave Sangria foi sondado e recusou a proposta (a RCA contratou a Banda de Pau e Corda).

O disco viria com a indicação da banda, pelo empresário dos Novos Baianos, à Continental, a primeira gravadora a apostar no futuro do rock nacional. Antecipando a gozação por serem nordestinos, os integrantes da banda chegaram no estúdio Hawai, na Avenida Brasil, Rio, todos de peixeira na mão: “Falamos para o pessoal ter cuidado, porque a gente vinha da terra de Lampião”, relembra Almir Oliveira. Foi um dos poucos momentos de descontração ali, naquele momento. Com exceção de Marco Polo, nenhum dos integrantes conhecia o Rio e jamais haviam entrado num estúdio de gravação.

Ave Sangria – “Georgia, A Carniceira”

 

 

Como agravante, quem produziu o disco foi o pouco experiente Marcio Antonucci. Ex-ídolo da Jovem Guarda (formou a dupla Os Vips, com o irmão Ronaldo), Antonucci ficou perdido com o som que tinha em mãos, e o pôs a perder:

“Ele não entendeu nada daquela mistura de rock e música nordestina que a gente fazia, e deixou as sessões rolarem. O diabo é que a gente também não tinha a menor experiência de estúdio”, conta o guitarrista Paulo Rafael. Resultado: o disco acabou cheio de timbres acústicos. O Ave Sangria, involuntariamente, virou uma espécie de Quinteto Violado udigrudi. E adulterado não foi apenas o som. A gravadora não topou pagar pela arte da capa e colocou em seu lugar um arremedo do desenho original, assinado por Laílson.

O disco, mesmo pouco divulgado, conseguiu relativo sucesso no Sudeste, e vendeu bastante em alguns estados do Nordeste.

Uma das músicas que fizeram mais sucesso, e polêmica, foi o samba-choro Seu Waldir. “Seu Waldir o senhor/ Machucou meu coração/ Fazer isto comigo, seu Waldir/ Isto não se faz não… Eu quero ser o seu brinquedo favorito/ Seu apito/ Sua camisa de cetim…” Numa época em que a androginia tornava-se uma vertente da música pop.

Lá fora com o gliter rock de David Bowie, Gary Glitter e Roxy Music com Alice Cooper, aqui com o rebolado dos Secos & Molhados, ‘Seu Waldir’ foi considerado pelos moralistas pernambucanos como uma apologia ao homossexualismo, quando não passava de uma brincadeira do irreverente do Ave Sangria.

Seu Waldir por pouco não vira mito. Uns diziam que era um senhor que morava em Olinda, pelo qual o vocalista do Ave Sangria apaixonara-se. Outros, que se tratava de um jornalista homônimo. Enfim, acreditava-se que o tal Waldir era um personagem de carne e osso. Marco Polo esclarece a história do personagem “Eu fiz Seu Waldir, no Rio, antes de entrar na banda. Ela foi encomendada por Marília Pera para a trilha da peça A Vida Escrachada de Baby Stomponato, de Bráulio Pedroso, que acabou não aproveitando a música”.

O Departamento de Censura da Polícia Federal não levou fé nesta versão. Proibiu o LP e determinou seu recolhimento em todo território nacional. A proibição incitada, segundo os integrantes do Ave Sangria, pelo hoje colunista social do Diário de Pernambuco, João Alberto: “Ele tocava a música no programa de TV que ele apresentava e comentava que achava um absurdo, que uma música com uma letra daquelas não poderia tocar livremente nas rádios”, denuncia Rafles. Almir Oliveira diz que lembra dos comentários do jornalista na televisão: “Mas não atribuo diretamente a ele. Se não fosse ele, teria sido outra pessoa, a música era mesmo forte para a época”, ameniza. A proibição, segundo comentários da época, deveu-se a um general, incentivado pela indignação da esposa, que não simpatizou com a declaração de amor a seu Waldir.

O disco foi relançado sem a faixa maldita, mas aí o interesse da mídia pelo grupo já havia passado. A Globo, por exemplo, desistiu de veicular o clipe feito para o Fantástico, com a música Geórgia A Carniceira. O grupo perdeu o pique: “A gente era um bando de caras pobres, alguns já com filhos, a grana sempre curta. No aperto, chegamos até a gravar vinhetas para a TV Jornal (uma delas para o programa Jorge Chau)”, relembra Marco Polo.

Semana que vem tem mais!!!


Megaphone do Quincas terça, 13 de fevereiro de 2018

SÉRIE TRILHAS E MÚSICAS DE FILMES NACIONAIS - HUMBERTO TEIXEIRA II



Humberto Teixeira: O Homem Que Engarrafava Nuvens

Humberto Teixeira ganha uma segunda, por não caber numa só edição. Tocaremos mais músicas que fazem parte do filme “O Homem que Engarrafava Nuvens”, dirigido por Lírio Ferreira e produzido por Denise Dumont, atriz e filha de Humberto Teixeira.

Paraíba Masculina – no filme “O Homem que engarrafava Nuvens”

 

 

Nascido em Iguatu em janeiro de 1915, foi fundador e presidente da Academia Brasileira de Música Popular.

Foi casado com Margarida Teixeira (a atriz “Margot Bittencourt”), que depois separaria dele para se casar com Luís Jatobá. Da união, nasceu a atriz Denise Dumont, mãe de seus dois netos.

Chamada para o filme “O Homem que Engarrafava Nuvens”, com cena de Humberto Teixeira e Gonzagão na mesa de bar

 

 

Filho de João Euclides Teixeira e Lucíola Cavalcante Teixeira, aos 13 anos, depois de ter editado sua composição “Miss Hermengarda”, tocava flauta na orquestra que musicava os filmes mudos no Cine Majestic, de Fortaleza.

Aos 15, radicou-se no Rio de Janeiro, onde, aos 18 anos, em 1934, foi premiado com “Meu Pecadinho!, pela revista “O Malho”, num concurso de música carnavalesca.

Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade Nacional de Direito, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na época, já tinha composto sambas, marchas, xotes, sambas-canções e toadas e tentava lançar o ritmo nordestino “balanceio”, tocado pelo parceiro Lauro Maia, com quem compôs “Deus Me Perdoe” e “Vamos Balancear”.

“No Meu Pé de Serra”, com Gilberto Gil, dentro do filme “O Homem…”

 

 

Depois de compor e produzir alguns dos grandes sucessos de sua carreira com Luiz Gonzaga, como “Asa Branca”, em 1954, Teixeira candidata-se a deputado federal, passando dois meses fazendo campanha no sertão cearense, ao lado de Gonzaga. Estiveram em Iguatu para uma força a candidato a prefeito, dr. Meton Vieira, a quem presentearam com uma música para a campanha.

Outro documentário “Doutor do Baião” – vários artistas

 

 

Eleito, com 12 mil votos, teve destaque na Câmara Federal, quando do seu empenho na defesa dos Direitos Autorais. Conseguiu aprovar a “Lei Humberto Teixeira”, que permitia maior divulgação da música brasileira no exterior por meio das caravanas musicais, financiadas pelo Governo Federal. A iniciativa levou muita gente boa, como Valdir Azevedo, Poly, Radamés Gnatalli e Sivuca, entre outros.

Eleito três vezes consecutivos o melhor compositor do Brasil, Humberto Teixeira morreu, aos 64 anos em 1979.

Saímos para um descanso e voltamos em março. Até lá!


Megaphone do Quincas quarta, 31 de janeiro de 2018

SÉRIE GRANDES TRILHAS E MÚSICAS DE FILMES NACIONAIS - ESTRADA DA VIDA

 

“Estrada da Vida”, o grande sucesso de Milionário e Zé Rico, virou filme de Nelson Pereira dos Santos

Milionário e Zé Rico formaram uma dupla de cantores de música sertaneja (breganeja), que surgiu na transição da velha e boa música de raiz da primeira metade do século passado – Inezita Barroso, Tonico e Tinoco, Cascatinha e Inhana e outros tantos representantes da época.

Chegaram depois destes e ainda se encontraram com o chamado sertanejo universitário, passando o bastão para Marciano, Mathias e Robertinho, tornando-se inspiração para as nascentes duplas atuais.

Considerada uma das mais famosas do país, foram conhecidos nacionalmente como “As gargantas de ouro do Brasil”.

Com 42 anos de carreira, a dupla vendeu cerca de 35 milhões de exemplares de seus 29 discos gravados, desde 1973.

“Coração de Pedra”, com Milionário e Zé Rico

 

 

Além disso, gravaram dois DVDs e participaram de dois filmes “Estrada da Vida”, de 1980, dirigido por Nelson Pereira dos Santos e “Sonhei com Você”, de 1988, com direção de Ney Sant’anna, filho de Nelson.

Em 1970, coincidentemente, Romeu Januário de Matos (Milionário), nascido em Monte Santos de Minas-MG, em 1940 e José Alves da Silva (Zé Rico), nascido em São José do Belmonte-PE, em 1946, foram, ao mesmo tempo, para São Paulo, para tentar o sucesso em suas respectivas carreiras de cantores.

Também por coincidência, os dois se hospedaram no Hotel Rio Preto, conhecido com o “Hotel dos Artistas”.

Quando os dois se encontram, no Hotel, ao serem apresentados, Zé Rico, que já era tinha esse apelido, ouviu de Romeu: “então, se você é Zé Rico, eu sou tubarão”. Mais tarde, em programa de calouros, Silvio Santos chamou-os de Zé Rico e Milionário, em alusão ao carnê milionário.

A partir daquele momento, o destino havia preparado o que todos iriam conhecer a partir de 1973.

Com o interesse de Zé Rico pelos mais variados estilos musicais como o gaúcho, mexicano, paraguaio e cigano, dotou a dupla de um estilo próprio e inconfundível. Usavam harpas, trompetes e acordeom.

Saudade de Minha Terra – Goiá/Belmonte, com Milionário e Zé Rico

 

 

A música “Estrada da Vida” vendeu 30 milhões de cópias e originou o roteiro do filme “Estrada da Vida” baseado na própria vida da dupla e dirigida pelo grande diretor Nelson Pereira dos Santos. O filme é interpretado pelos próprios artistas.

Em 1991, após a gravação do LP, volume 20, com o título “Vontade Dividida”, ocorreu a separação da dupla por um período de três anos.

Durante esse tempo, Zé Rico gravou dois discos. O último show da dupla, onde foi anunciada a separação, foi em Ipuã/SP.

Milionário formou então dupla com o Mathias (da dupla Mathias e Matogrosso) e também gravou um disco com Robertinho (da dupla Léo Canhoto e Robertinho).

Zé Rico, por sua vez, tenta a carreira solo, gravando dois discos. Em 1994, Milionário e Zé Rico se uniram novamente e gravaram o LP Volume 21, com o título “Nasci para te Amar”

Zé Rico morreu em março de 2015, vítima de um infarto, em Americana-SP. Milionário remanesce com a dupla que formou em 2016, com João Mineiro.

Estrada da Vida, música tema do filme “Estrada da Vida”, de N

 

 

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Megaphone do Quincas quarta, 24 de janeiro de 2018

SÉRIE TRILHAS E MÚSICAS DE FILMES NACIONAIS – FEBRE DO RATO



Febre do Rato

“Febre do Rato” é dirigido por Claudio Assis, o mesmo de “Baixio das Bestas” e “Amarelo Manga”.

Lançado em 2012, a sinopse do filme diz que o título refere-se a uma expressão popular do Recife (predominantemente), para dizer que “algo é ruim”, “está fora de controle”.

 

 

Conta, numa película filmada em preto e branco e com ritmo frenético/alucinante, a história de Zizo, poeta que publica um tabloide.

Com fins lucrativos, o poeta resolve viver em um mundo particular, em que ajuda os menos afortunados e também faz muitas maldades, até que conhece Eneida, menina de boa educação, interpretada por Nanda Costa.

Aliás, um dos pontos fortes do filme é seu elenco, que tem Nanda Costa, Irandhir Santos, Juliano Cazarré, Mateus Nachtergaele, Conceição Camarotti, Ângela Leal, além do cantor Jonny Hooker e o pianista Victor Araújo.

“Tubarão de Bacia”, da trilha sonora de “Febre do Rato”

 

 

Venceu o “Festival de Paulínia de Cinema”, de 2011, em diversas categorias: Melhor Filme (Crítica e Público); Melhor Ator – Irandhir Santos; Melhor Atriz – Nanda Costa; Melhor Fotografia – Walter Carvalho; Melhor Montagem – Karen Harley; Melhor Direção de Arte – Renata Pinheiro; e Melhor Trilha Sonora – Jorge Du Peixe.

“Passione”, de Junio Barreto e Jorge Du Peixe

 

 

Um cartaz

O filme foi concebido durante as filmagens de “Amarelo Manga”, em 2003. Em 2005, o roteiro foi apoiado pelo “Fundo Hubert Bals”, do Festival de Roterdã, na Holanda.

Cláudio Assis

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Claudio Assis nasceu em Caruaru, PE, em 1959. Do início de sua carreira como ator e cineclubista na cidade natal, até a direção do seu primeiro longa – “Amarelo Manga”, o diretor construiu uma trajetória que inclui a direção de curtas, documentários e longas. O trabalho é resultado de profunda reflexão sobre a linguagem do cinema e seus meios de produção.

Seus filmes são projetos de baixo orçamento, embora na tela não transpareçam as dificuldades e limitações enfrentadas para a realização.

Ganhou, entre outros, os prêmios de: Melhor Longa de Ficção por “Big Jato”, no Festin de Lisboa, em 2012; Melhor Filme de Ficção com “Febre do Rato”, em Paulínia, 2011; Fórum do Cinema Novo do Festival de Berlim, com “Amarelo Manga”, em 2003; Melhor Filme e Prêmio dos Críticos no Festival de Brasília, de 2006, por “Amarelo Manga”; além do “Tigre de Ouro de Melhor Filme”, por “Baixio das Bestas”, no Festival Internacional de Amsterdã, com “Baixio das Bestas”; Melhor Primeiro Trabalho, por “Amarelo Manga”, no Festival de Havana.

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Megaphone do Quincas quarta, 17 de janeiro de 2018

SÉRIE GRANDES TRILHAS E MÚSICAS DE FILMES NACIONAIS - DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL

 

Deus e o Diabo na Terra do Sol: obra-prima, mesmo que você não goste

“Deus e o Diabo na Terra do Sol”, filme brasileiro, dirigido por Glauber Rocha, é considerado um marco do Cinema Novo, e apontado por muitos como a maior película nacional de todos os tempos, incluido na lista da Abraccine – a Associação Brasileira de Críticos de Cinema.

Músicas “Perseguição” – com falas de Antonio das Mortes (Mauricio do Valle) e Corisco (Othon Bastos) – e “O Sertão Vai Virar Mar”, do filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. Letras de Glauber e músicas de Sérgio Ricardo

 

 

Resumo

O sertanejo Manoel e sua mulher Rosa levam uma vida sofrida no interior do país, uma terra desolada e marcada pela seca.

Manoel, no entanto, tem um plano: usar o lucro obtido na partilha do gado com o coronel para comprar um pedaço de terra.

Quando leva o gado para a cidade, alguns animais morrem no percurso. Chegado o momento da partilha, o coronel diz que não vai dar nada a Manoel, porque o gado que morreu era dele, enquanto o que chegara vivo era seu. Manoel se irrita, mata o coronel e foge para casa. Ele e sua esposa resolvem ir embora, deixando tudo para trás.

Manoel decide juntar-se a um grupo religioso liderado por um santo (Sebastião) que lutava contra os grandes latifundiários e em busca do paraíso após a morte. Os latifundiários decidem contratar Antônio das Mortes para perseguir e matar o grupo.

Música “Abertura”, do filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. Letras do diretor Glauber Rocha, música de Sérgio Ricardo. A música não foi à versão final do filme

 

 

O Impacto de Deus e o Diabo

“Deus e o Diabo na Terra do Sol” foi realizado em meio à convulsão política do país, de 1963 e 1964, e estreou em três cinemas do Rio de Janeiro, há quase 54 anos, em 10 de junho de 1964.

Suas primeiras sessões privadas, realizadas nos meses anteriores, já haviam provocado assombro nos convidados do jovem diretor Glauber Rocha (então com 25 anos).

“É um grande filme, cruel, muitas vezes desconcertante, mas irresistivelmente envolvente”, escreveu Ely Azeredo, da Tribuna da Imprensa (em texto reproduzido no livro “Olhar Crítico”), editado pelo Instituto Moreira Salles, em 2010. O mesmo crítico afirma que, mesmo “sem ser como querem alguns exagerados, deixa muito para trás a quase obra-prima de Nelson Pereira dos Santos, citando “Vidas Secas” e mais “Os Fuzis” (Ruy Guerra, 1964), que comporiam a trilogia sertaneja que constitui a essência e a excelência do Cinema Novo Brasileiro”.

Yoná Magalhães em Deus e o Diabo na Terra do Sol

Exibido em Cannes na mesma edição para a qual foi selecionado “Vidas Secas”, “Deus e o Diabo na Terra do Sol” levou seu diretor a estreitar os laços com a prestigiosa crítica francesa, além de apresentar o Cinema Novo ao circuito dos grandes festivais europeus (“O Cangaceiro”, em 1953, e o “Pagador de Promessas”, de 1962), ofereceram experiências diferentes da produção do país.

Música “Antonio das Mortes”, da trilha sonora do filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. Letras de Glauber Rocha, música de Sérgio Ricardo

 

 

Em que pese a grande repercussão de “Deus e o Diabo..”, foi com o “Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro” (1969), que Glauber ganhou o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes. Mas foi com “Deus e o Diabo…” que ele efetivamente mudou a história do cinema nacional.

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Megaphone do Quincas quarta, 10 de janeiro de 2018

SÉRIE GRANDES TRILHAS E MÚSICAS DE FILMES NACIONAIS - QUANDO O CARNAVAL CHEGAR

 

 

 

 

Quando o Carnaval Chegar

Quando o Carnaval Chegar” é um filme brasileiro, de 1972, musical, dirigido por Cacá Diegues e com roteiro de Cacá, Hugo Carvana e Chico Buarque.

Lourival é o empresário de um grupo mambembe de cantores (Paulo, Mimi e Rosa), que viaja pelo país num antigo ônibus “Sheila”, dirigido por Cuíca.

Com a proximidade do Carnaval, Lourival consegue um contrato com um empresário para o grupo e também para Cuíca, para apresentações no evento “A Festa do Rei” (que depois se revela como Frank Sinatra numa suposta viagem ao Rio).

“Frevo”, de Tom e Vinícius, com Chico Buarque, Quando o Carnaval Chegar

 

 

Uma série de desavenças e discussões internações, porém, provocadas pelos romances inesperados de Paulo (com Virgínia) e Cuíca (com uma atriz francesa) põe em risco o cumprimento do contrato para o desespero de Lourival, que avisa que o contratante é o chefão do crime organizado (provavelmente bicheiro) “Anjo”, que os ameaçará de diversas formas.

Quando o Carnaval Chegar, com Nara Leão

 

 

A trilha sonora do filme é composta, em sua maior parte por Chico Buarque. Conta também com a participação de Maria Betânia, Nara Leão, entre outros.

“Baioque”, de Chico Buarque, com Chico e Betânia, 1972

 

 

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Megaphone do Quincas terça, 02 de janeiro de 2018

SÉRIE TRILHAS E MÚSICAS DE FILMES NACIONAIS - BYE BYE BRASIL

 



 

“Bye Bye Brasil” é uma comédia nacional, de 1979, dirigida por Cacá Diegues, considerada por muitos como das mais importantes produções brasileiras da década de 1970.

Em 2015, o filme entrou na lista da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.

 

 

Salomé, Lorde Cigano e Andorinha são três artistas mambembes que cruzam o país com a Caravana Rolidei, fazendo espetáculos para o setor mais humilde da população brasileira, que não tem ainda acesso à televisão.

 

 

A eles se juntam o acordeonista Ciço e sua esposa, Dasdô, com os quais a caravana cruza a Amazônia pela rodovia Transamazônica, até chegar a Altarmira-PA.

José Wilker: Lorde Cigano

 

Ele deu o Rádio, Genival Lacerda

 

 


Megaphone do Quincas terça, 26 de dezembro de 2017

SÉRIE GRANDES TRILHAS E MÚSICAS DE FILMES NACIONAIS - LISBELA E O PRISIONEIRO

 

Lisbela e o Prisisioneiro

“Lisbela e o Prisioneiro” é um divertida comédia romântica baseada na obra de Osman Lins e conta a história do malandro, aventureiro e conquistador (Selton Mello) e da mocinha sonhadora Lisbela (Débora Falabela), que adora filmes americanos e sonha com o heróis do cinema.

Lisbela está noiva e de casamento marcado, quando Leléu chegou à cidade. O casal se encanta e passa a viver uma história cheia de personagens tirados do cenário nordestino.

“Espumas ao Vento”, de Aciolly Neto (port mortem), por Elza Soares

 

 

Eles vão sofrer pressões do meio social e também de suas próprias dúvidas e hesitações.

Mas uma reviravolta final, cheia de bravura amor, eles seguem seus destinos. Como a própria Lisbela diz, a graça é não saber o que acontece’.

“Você não ensinou a te esquecer”, de Fernando Mendes, José Wilson e Lucas, com Caetano Veloso

 

 

Osman Lins foi escritos, autor de contos, romances, narrativas, livros de viagens e peças de teatro.

Pernambucano de Vitória de Santo Antão, nasceu em 5 de julho de 1924 e morreu em São Paulo, em 8 de julho de 1978.

O projeto literário de Osman Lins mescla-se com sua biografia e fatos que marcaram sua história pessoal aparecem de maneira recorrente em sua obra.

Um desses fatos, e talvez o mais importante, foi a perda da mãe logo após seu nascimento.

Seu romance Avalovara (1973) é uma obra de engenharia narrativa, construído a partir de palíndromo latino dentro de uma espiral, a partir do qual vão sendo desenvolvidos todos os capítulos do livro.

Lisbela e o Prisioneiro, texto para teatro de 1961, foi adaptado para televisão pela Globo (1994), com os atores Diogo Vilela E Giulia Gam, sendo depois adaptado por Guel Arraes para o Cinema, com Selton Mello e Débora Falabella (2003).

O arquivo pessoal de Osman Lins foi doado pela viúva do escritor, também escritora Julieta de Godoy Lacerda (1927-1997), a duas instituições brasileiras: Fundação Casa de Ruy Barbosa (Rio de Janeiro) e Instituto de Estudos Brasileiros, da USP.

“O Amor é Filme” Animação em estilo de cordel da música do filme Lisbela e o Prisioneiro, composta por Lirinha do Cordel do Fogo Encantado.

 

 

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Megaphone do Quincas terça, 19 de dezembro de 2017

BAILE PERFUMADO

 

Depois de um bom tempo sendo instado, quase coercitivamente, a ter em casa o NetFlix, acabei me rendendo ao tal canal múltiplo e infinito, segundo seus defensores e entusiastas.

Não sou daqueles que vai à primeira sessão de Star Wars – os últimos Jedi, à meia noite do primeiro dia.

Não substituo celulares com a ansiedade de quem está ganhando o primeiro presente de Papai Noel. Esta norma vale para quase tudo.

Gosto de ver os aficionados descobrirem que o n° 8 e XX não são tão avançados assim. E que perderam dinheiro com a ansiedade. Adquiro um tempo depois e após muito convencimento.

Bem, falo destas facetas do consumo para dizer que depois de alguns anos de – “Macedo, você tem que ter um”, – “tem tudo”, é “quase de graça”, resisti enquanto pude.

Instalado, treinado e quase todo pronto para usar (faltam algumas conexões) o danado do Netflix, que tem tudo.

Fui direto ao ponto: aprendiz de cinéfilo como sou, puxei da memória 3 filmes, que, sem buscar eventuais curtas desconhecidos da Coréia do Norte, imaginei seriam clássicos de home-page no tal canal sabe tudo.

Busquei “M”, o vampiro de Dusseldorf”, de Fritz Lang; “Blow-up”, de Michelângelo Antonioni; e Decamemon, de Pasolini. Para mim, o tal do canalzinho estaria reprovado no quesito filme clássico, cult e categoria óbvio.

Mas sou new Netflix e resolvi navegar pelas outras demandas que o dispositivo criou para nós preenchermos as horas vagas. É bonzinho, com ele e o Yoube, podemos ver filmes em ótima qualidade, músicas variadas, uma gama de opções de entreter…

Ainda xingando com minha mulher: “que é que esse Netflix” acrescenta em alguma coisa, ela uma das entusiastas e promotoras da aquisição da coisa.

Quando, na quarta tentativa, só para me desmentir, apareceu “O Sol É Para Todos” (To kill a Mokinbird), uma das obras-primas do cinema, com história de racismo, direitos das pessoas e costumes mediáveis, que teve seu livro, no qual baseou-se o filme, adotado em todas as escolas dos EUA. Hoje, já há uma grande discussão sob a permanência da obra nos colégios americanos.

Trata-se de um dos melhores, senão o melhor trabalho de Gregory Peck, como o advogado viúvo, dois filhos, referência de dignidade e coragem, numa cidadezinha cruel do Alabama.

Pois foi maravilhoso vê-lo pela terceira ou quarta vez. Para mim, uma película marcante, tanto quanto uma pintura de Rembrandt ou de Monet, uma escultura de Rodin ou Abelardo da Hora, o urbanismo e o paisagismo de Lucio Costa e Burle Marx e as letras dos grandes romancistas e pensadores.

Rever filme destes, a cada ciclo, é reapreciar uma obra de arte. Além de não fazer mal, é um exercício monumental de memória e emoção.

Faço uma introdução pouco alongada para despejar os ensinamentos revisados e incorporar a mudança que um fim de semana produz.

Netflix para lá, filme de TV para cá, um dvd/blue-ray no meio, contabilizei a assistência de três filmes muito bons: além de “O Sol é Para Todos”, “A Menina que Roubava Livros” e, o mais importante de todos para o momento: “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, de João Guimarães Rosa. Trata-se de um dos 12 contos/novelas tirados do livro Sagarana. Buscando histórias e conexões, li que Guimarães Rosa escreveu carta para João Condé, autor de Terra de Caruaru, para receber opiniões do pernambucano.

Luiz Carlos Vasconcelos e Zuleica Ferreira

Resolvi, a partir deste pacote, iniciar sequência de trilhas sonoras que ficam na cabeça, como grude, ou que se espaçam com o tempo. Não começarei com “A Hora e a Vez…”, mas com outra revisitação: o clássico “Baile Perfumado”, de Lírio Ferreira e Paulo Caldas.

Sangue de Bairro – Chico Science e Nação Zumbi

 

 

Lançado em 1996 é considerado um marco da retomada do Cinema Pernambucano. Em novembro de 2015, o filme entrou na lista feita pela Abracine – Associação Brasileira de Críticos, dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos. A aludida retomada é consequência do chamado “Ciclo do Cinema do Recife – 1923-1932”, assunto a que voltarei noutra hora.

Conta a saga real do libanês Benjamin Abrahão, mascate responsável pelas únicas imagens de Virgulino Ferreira, o Lampião, quando viveu no sertão brasileiro.

Amigo íntimo de padre Cícero, Benjamin mascateava pelo sertão e exercitou seu espírito mercantilista, convivendo de perto com o bando de Lampeão. Infiltrou-se no grupo para colher imagens e vender os registros do famoso criminoso pelo mundo afora.

Baile Perfumado – Stela Campos

 

 

No elenco, Duda Mamberti, Luiz Carlos Vasconcelos, Aramis Trindade, Chico Dias, Jofre Soares, Claudio Manberti, Germano Haiut, Zuleica Ferreira.

A história é pontuada pelas imagens originais do protagonista, e apenas onze minutos do filme exibem um Lampião bem diferente do herói dos pobres: aburguesado, maravilhado com modernidades como a máquina fotográfica e a garrafa térmica, tomando uísque e banhando-se em perfume francês, além do bando que também ia aos bailes no meio do sertão, daí a origem do título do filme.

Para quem gosta de saber como foi feito o filme, aí vai um bônus imperdível:

 

 

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Megaphone do Quincas quarta, 13 de dezembro de 2017

MULHERES CANTORAS E COMPOSITORAS DE PERNAMBUCO - NERISE PAIVA

 

Nerize Paiva

A mesma dificuldade que o colega Luciano Hortêncio encontrou ao pesquisar uma biografia fechado ou mesmo textos soltos para falar e retratar Nerize Paiva, eu sinto agora ao concluir esta série que faço sobre “Cantoras e Compositoras de Pernambuco”.
Vou aqui beliscando textos, informações, dados e acervos destes colegas, o Luciano, o Bruno Negromonte, o Nirez, Abílio Neto, Samuel Machado Filho e assim por diante.

Eu Quero é me Virar, frevo-canção de Alvim

 

 

A única vantagem que tenho sobre os desconhecedores por completo de Nerize é que a ouvi inúmeras vezes no rádio e fui a shows de auditório, acompanhando minha mãe, Dagô.

Também esperava o momento de levantar as saias – danadinha – e gostava muito de ouvi-la cantar.

Os apresentadores a anunciavam como “A bomba atômica do Nordeste”. Viveu 82 anos (1932-2014). Sua morte, em 2014 foi assim sentida por Luciano Hortêncio “Nerize Paiva festejou esse Natal no céu. Foi chamada pelo menino Jesus, em 24 de dezembro. Havia sofrido muito, tanto de dores físicas, quanto pelo ostracismo a que foi relegada. A cantora pernambucana não fugiu à regra aplicada no Brasil, de se esquecer o artista tão logo deixe de atuar.

Paulo da Portela dizia: ‘O meu nome já caiu no esquecimento. O meu nome não interessa a mais ninguém’.

Como não havia praticamente nada na internet sobre Nerize – continuou Luciano -consegui fotos, fonogramas, informações e dados gerais com os amigos citados acima”.

Aruê, Aruá, de Catulo da Paixão Cearense, com Nerize Paiva

 

 

Com apenas 1,60 de altura, quando subia no palco da Rádio Jornal do Commercio levava o público, principalmente os homens – à loucura. O “Furacão do auditórios reinava entre as décadas de 1950 e 1970, época de ouro do rádio pernambucano.

Com a chegada da televisão, os castings das rádios tiveram uma baixa e aí começou o ocaso de Nerize Paiva. Quando sua mãe faleceu, Nerize foi morar no Rio de Janeiro e lá conheceu um gaúcho, descendente de alemão, o sargento da Marinha Gercy Rutz.

Foi amor à primeira vista. Em março de 1991, se casaram, em Manaus e foram morar no Recife, com Rutz até onde deu.

Na comemoração do seus aniversário de 2010, sua turma mais chegada foi até a Imbiribeira, no Recife-PE, levada por Carmem Tovar. Daquela Nerize, que era ovacionada no auditório da Jornal do Commercio não tinha quase nada – testemunha Luciano, um dos presentes.

Nerize – Foto Fernando Machado

No lugar de cantar “Sebastião, Meu Bem”, preferiu interpretar “Bom Dia, Tristeza”, Adoniran Barbosa.

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Megaphone do Quincas terça, 05 de dezembro de 2017

MULHERES CANTORAS E COMPOSITORAS DE PERNAMBUCO - NANAU NASCIMENTO

 

Nanau Nascimento

Começou a cantar aos quatro anos de idade. Durante a carreira, passou por diversos programas de shows de calouros, sendo revelada por seu bairro, a Várzea, no Recife-PE, pelo projeto “Rádio do Povo”, da Rádio Jornal, em 1995.

Com passagem pela Banda Mistura de Amor (cujo CD foi produzido pelo sanfoneiro Gennaro), Nanau participou também das bandas “Anjo Bom” e “Luminar”.

Com uma bela e expressiva voz, a cantora trabalhou com grandes nomes da cena pernambucana como Nonô Germano, Genival Lacerda e João Lacerda e fez turnê com Marinês, a rainha do xaxado.

Conversa, de Getúlio Cavalcanti, com Nanau Nascimento

 

 

A convite de Roberto Silva, defendeu seu frevo “Encanto do Poeta”, no Concurso de Músicas carnavalescas da prefeitura do Recife de 2005. Com arranjo do maestro Duda, conquistou em 2008, no mesmo concurso 1º lugar, interpretando o caboclinho “Aruanã”, de Roberto Silva.

Em 2010, gravou mais um CD Roda Viva com sambas de morro e frevos contagiantes, homenageando o carnaval do Recife.

Janaina, de Vania Veríssimo, com Nanau Nascimento

 

 

Embora tenha participado sempre dos grandes eventos carnavalescos, dentro e fora do Carnaval e seja uma cantora de todos os ritmos, posso afirmar que Nanau Nascimento é quem melhor canta o samba em Pernambuco…

Meu mundo é hoje, Wilson Batista, com Nanau Nascimento

 

 

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Megaphone do Quincas terça, 28 de novembro de 2017

MULHERES CANTORAS E COMPOSITORAS DE PERNAMBUCO - TECA CALAZANS

 

Teca Calazans

Nascida no Espírito Santo, neta de maestro, filha de uma bandolinista e irmã de pianistas, Teca Calazans conviveu com a música desde cedo.

Foi criada no Recife-PE, onde começou a estudar violão. Interessou-se pela música local, como as cirandas, cocos, xangôs e fez contatos importantes com a Banda de Pífaros de Caruaru.

Ao estudar arte dramática, fundou em 1964, com outros atores e artistas pernambucanos o “Grupo Construção”, que apresentava teatro e música, contando com figuras como Geraldo Azevedo e Naná Vasconcelos.

Em 1967, gravou seu primeiro disco, um compacto simples pela Rozenblit (Mocambo) com “Aquela Rosa” (Geraldo Azevedo e Carlos Fernando) e “Cirandas”, pesquisa e adaptação de Teca -, canção que popularizou a figura de Lia de Itamaracá.

 

 

Em 1968 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como atriz no “Opinião” e na TV Globo.

Ano seguinte, viajou para a França, onde conheceu Ricardo Villas, formando a dupla Teca & Ricardo.

Gravaram cinco LPS na França, entre eles “Musiques et Chantes du Brésil”. A dupla voltou ao Brasil em 1979 e gravou dois LPs pela EMI, “Povo Daqui” (1980) e “Eu Não Sou Dois” (1981).

Desfeita a dupla, Teca retomou a carreira solo, tendo músicas gravadas por Milton Nascimento, Gal Costa e Nara Leão. Em 1982, gravou o LP “Teca Calazans” e, no ano seguinte participou do Projeto da Funarte, em memória aos 80 anos de Mário de Andrade, que resultou no LP “Mário, 300,350”, no qual interpreta repertório folclórico. Teca fez “Mina do Mar”, em 1984 e, em 1988, participou do projeto “100 anos de Heitor Villa-Lobos”, registrado no disco “Villa-Lobos – Serestas e Canções – Intérprete Teca Calazans”, lançado nos mercados europeu e norte-americano. No mesmo ano, fez “Intuição”, disco independente com direção musical de Maurício Carrilho, lançado na Europa em 1993.

“Caicó”, com Teca Calazans e participação de Dominguinhos

 

 

Teca voltou à França em 1989, onde passou a morar definitivamente. Lá, lançou os CDs “Pizindin” – 100 anos de Pixinguinha” (1990) e o “Samba dos Bambas”, com o “Trio”, apresentando obras de compositores clássicos do samba” e “Firoliu” (1996), predominantemente autoral.

Em 2002, lançou, ao lado de Elomar, Xangai, Pena Branca e Renato Teixeira, o disco “Cantoria Brasileira.

“Secretário do Diabo”, de Osvaldo Oliveira e Reinaldo Costa, com Teca Calazans e Heraldo do Monte

 

 

Suas mais recentes obra-prima foi o CDs “Teca & Heraldo do Monte, gravado em 2003, e “Impressões Sobre Maurício Carrilho e Meira”, de 2017.

Terezinha João Calazans – Teca Calazans nasceu em Vitória-ES, em outubro de 1940. Criadora, pesquisadora, parceira de grandes poetas e músicos, de apurado gosto musical, Teca cantou de tudo e de tudo o melhor que pode tirar: ouvir “Aquele Rosa” e “Se Você Jurar”, de Ismael Silva, mostra o ecletismo e inquietação desta grande cantora brasileira.

Se você Jurar, de Ismael Silva, Nilton Bastos e Francisco Alves

 

 

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Megaphone do Quincas quarta, 22 de novembro de 2017

MULHERES CANTORAS E COMPOSITORAS DE PERNAMBUCO - DALVA TORRES

Dalva Torres

 

Pernambucana de Moreno, na Região Metropolitana do Recife, Dalva Torres é cantora, compositora e arranjadora.

Formada em Direito, pela Universidade Católica de Pernambuco, iniciou seus estudos de música, aprendendo a tocar piano com os pais, aos quatro anos.

Estudou harmonia jazzística, com o maestro Nenéu Liberalquino. Tem na bagagem também curso de harmonia avançada e arranjo musical com o professor Thales Silveira, pelo método da escora de Berklee.

Como intérprete, participou de vários festivais de música, obtendo sempre as primeiras colocações.

Com a Orquestra de Cordas Dedilhadas, participou da comemoração do 6º Centenário de Aldemar Paiva, participou de vários shows realizados nas cidades da região do Minho, Portugal, em 1990.

Em 1994, apresentou-se em 11 cidade de Portugal, pelo projeto “Cumplicidades”.

Foi premiada no “Recifrevo” com o caboclinho ”Senhora das Águas”, em parceria com João Araújo.

“O Amor e a Rosa”, de Antônio Maria

 

 

Profunda Admiradora de Antônio Maria, dedicou-se a realizar alguns trabalhos sobre a obra do grande artista pernambucano.

Em 1989, participou de um trabalho fonográfico sobre Antônio Maria, ao lado de Nora Ney, Luiz Bandeira e Claudionor Germano.

Com Renato Phaelante, Vanda Phaelante e Henrique Annes, gravou para TV Universitária, de Pernambuco, um documentário sobre Maria.

Em 2007, gravou CD somente com as composições de Antonio Maria. É fundadora do bloco lírico “Um Bloco em Poesia”, no qual foi diretora musical, arranjadora e regente da orquestra e coral da agremiação.

“Manhã de Carnaval”, Antônio Maria e Luiz Bonfá

 

 

Ainda no ano Passado, agosto de 2016, a cantora revisita repertório do recifense Antônio Maria, no qual Xico de Assis faz participação especial.

O poeta traduziu como poucos o amor e suas dores. Poeta de coração partido e dos sentimentos exacerbados, ganhou esta homenagem de Dalva Ferreira Torres, como já foi dito, grande admiradora de sua obra, no show “Ao Amor, Onde o Amor é Demais”, no Teatro Arraial Ariano Suassuna.

Na apresentação, que teve direção geral de Gonzaga Leal, Dalva fez um apanhado do legado de Maria, dando relevo tanto às músicas do cancioneiro, quanto ás joias pouco conhecidas do repertório.

Antônio Maria praticamente se autobiografava, tratava a noite com uma intimidade que só os amantes se permitem, noite essa que ele proclamava ser tão grande que nela caberíamos todos nós, sobretudo, aqueles que faziam da solidão um nobre companheira.

Sim, caberiam todas as canções que ele espalhou ao sete ventos por meio das vozes memoráveis de Aracy de Almeida, Elizeth Cardozo e Nora Ney. E agora Dalva Torres. Este Espetáculo é uma louvação/tributo a um Brasileiro profissão Esperança, a Um menino Grande que enganosamente escreveu que ninguém o amava, que ninguém o queria. Antônio Maria amava a noite e ela, com largueza, correspondeu a esse amor.

Mas Dalva teve outros parceiros e trabalhos como o que que fez com Jards Macalé, em preciosas interpretações de Ismael Silva, no disco “Peçam Bis”.

“Antonico”, de Ismael Silva, com Jards Macalé e Dalva Torres

 

 

O engraçado nisto tudo é que eu, bem pertinho dela, só consegui reconhecer essa grande cantora e intérprete quando Dalva Torres estava para defender música de meu irmão, compositor e violonista, Zeca Macêdo e o grande poeta amigo Eduardo Diógenes, a canção “De um Adeus”, em festival.

Finalista no “3º MusiSesc-TV Tribuna”, em 1997, com a música “De um Adeus”, não pode concorrer por problemas técnicos na hora da apresentação.

Finalista no “3º MusiSesc-TV Tribuna”, em 1997, com a música “De um Adeus”, não pode concorrer por problemas técnicos na hora da apresentação. Na fita demo, na voz de Dalva Torres, a música ficou assim: De um adeus

Sem mais, semana que vem tem mais.


Megaphone do Quincas quarta, 15 de novembro de 2017

MULHERES CANTORAS E COMPOSITORAS DE PERNAMBUCO - AIRÔ BARROS

 

 

 Airô Barros

Cantora, compositora, pintora e poeta, Airô Barros, aos 8 anos, já era responsável por aprender canções e ensinar para os alunos do Colégio Nossa Senhora de Lourdes, em Palmares-PE, onde foi interna por 8 anos.

Antes de completar 15 anos, já cantava em casamentos e festas comemorativas, além de recitar poemas.

Pós-graduada em Artes pela UNESP, tem vários quadros selecionados em salões de arte. Tanto a capa do livro, quanto à capa do “CD – Terra em Transe” são de sua autoria.

“A Natureza das Coisas”, de Aciolly Neto, Arranjo de Fernando Merlino, com Airô Barros

 

 

Airô nasceu em 28 de agosto de 1962, no município de Capoeiras-PE. Fez violão no Conservatório Pernambucano de Música, além de ter estudado Teoria Musical na Ordem dos Músicos do Brasil. Costuma dizer que “como violonista, é uma boa cantora”.

Aluna de canto de Sonia Campos, Cecília Valentin, Maria Alvin e Paulo Menegon. Participou dos corais de PUC, CUCA, e do Coral da FESP. Tem pós-graduação em Artes pela UNESP-SP.

Iniciou a carreira profissional, em 1985, em show na Casa da Cultura do Recife.

Depois disso começou a cantar na noite. Mas para Airô, “cantar na noite é andar para trás. Os donos de bar, de um modo geral, querem sempre levar vantagem em cima do grupo musical. Uma vergonha. Agora só me apresento em locais, quando fechamos um valor antes e combinamos que o receberemos no final da apresentação”.

“Terra em Transe”, de Gladir Cabral, com Airô Barros

 

 

Natural de Pernambuco, é uma andarilha por vocação, levando sua arte Brasil afora. Além de São Paulo, Airô tem raízes também fincadas também no Paraná.

Artista múltipla, que passa pelo canto, composição, artes plásticas e poesia, torna-se um alento, em tempos barulhentos, ter sua voz mansa, clara e madura.

“De Volta pro meu Aconchego”, de Dominguinhos e Nando Cordel, com Airô Barros

 

 

Semana que vem, tem mais…

Fontes:

Cana Musical;
Ritmo Maelodia;
Wikipedia;
Youtube;
Acervo pessoal


Megaphone do Quincas terça, 07 de novembro de 2017

MULHERES CANTORAS E COMPOSITORAS DE PERNAMBUCO - TIA AMÉLIA BRANDÃO

Tia Amélia: a primeira mestra

 

 

Amélia Brandão Nery já esteve aqui em nossas páginas, brilhando noutra série dita assim “Os Quase Anônimos Grandes Nomes da Música Brasileira”, publicada em agosto de 2015.

Quando relembrarem do trabalho, carreira, vida e talento verão porque “Tia Amélia” está também – obrigatoriamente – aqui, como estaria em tantos outros títulos e tópicos que se viesse a escrever sobre música pernambucana e brasileira.

Ficou conhecida do grande público, por breve tempo, por meio da canção “Minha Tia”, de Roberto e Erasmo Carlos, gravada em 1976. No início da carreira, quando Roberto foi morar no Rio, ficou hospedado na casa de tia Amélia, lá na Vila da Tijuca, recebendo influência sua nos primeiros passos.

O apelido “Tia Amélia”, que alguns creditam a Roberto, na verdade foi consagrando em crônica escrita em 1953, por Vinícius de Moraes.

Quem “descobriu” Amélia Brandão para mim foi Zeca Macedo, irmão, músico e que guarda uma bela memória musical.

Pois bem, passei semanas lendo e ouvindo tudo o que tinha sobre Amélia.

 

Casa onde residiu Amélia Brandão, na Rua Duque de Caxias, em frente a Pça Santos Dumont,

próximo aos Correios de Jaboatão-Centro

 

Nascida em Jaboatão-PE (hoje, Jaboatão dos Guararapes) em 25 de maio de 1897, morreu em Goiânia-GO, em 18 de outubro de 1983.

Pianista e compositora, começou a carreira como pianista erudita, mas passou a dedicar-se sobretudo à música brasileira, particularmente, ao choro, sendo muitas vezes comparada a Chiquinha Gonzaga (Rio, 1847-1935), de quem foi contemporânea.

Amélia nasceu em família de músicos. O pai era violonista, clarinetista e regente da banda da cidade, enquanto a mãe tocava piano. Aos 4 anos, Amélia já tocava piano de ouvido; aos 6, iniciou aulas de música; e aos 12 anos, compôs a valsa “Gratidão”.

Enquanto caminhamos em sua biografia, podemos começar a entender melhor “Tia Amélia”, com o belíssimo maxixe “Bordões ao Luar”, com André Mehmari (piano) e Marco Aurélio (bandolim) de 1959.

 

 

Bordões ao Luar, de Tia Amélia, Seu desejo era ser artista, mas o pai e, depois o marido, tentaram impedir que seguisse carreira. Mesmo assim, Amélia fazia pesquisas sobre o folclore brasileiro, que serviriam, mais tarde, de tema para suas composições.

Casou-se aos 17 anos com um rico fazendeiro, escolhido pelo pai. Deixou o engenho Jardim, em Moreno-PE, município vizinho a Jaboatão, onde foi morar, na fazenda do sogro, que morreu dois anos depois do casamento do filho. Atolado em dívidas, o engenho teve de ser vendido, bem como a fazenda.

Após a perda dos bens, o marido de Amélia não existiu e morreu, vítima de colapso, deixando-a viúva aos 25 anos, com quatro filhos para criar. Chegou a vender o próprio piano para ajudar nas despesas de casa.

Amélia Brandão – Maestríssimo Cipó

 

 

Certa vez, ao se apresentar em recital de caridade deixou entusiasmado com sua interpretação, o governador do estado, que lhe concedeu apoio para empreender uma turnê, durante a qual pode se realizar como pianista internacional.

Em 1929, foi ao Rio de Janeiro para esclarecer uma questão de direitos autorais relacionados com uma composição sua, gravada sem autorização pela Odeon. Na capital federal, contratada para se apresentar em um concerto no antigo Teatro Lírico, obteve enorme sucesso. Trabalhou em diversas emissoras de rádio e tocou piano com Ernesto Nazareth.

Na Odeon, além de recebido seus direitos autorais, foi convidada para a gravação de um disco.

Casa de Farinha, de Amélia Brandão Nery – com Stefana de Macedo, gravação de 1930

 

 

Em 1933, a convite do Itamaraty, Amélia fez uma excursão pelas Américas, com sua filha, a cantora Silene de Andrade. Em Washington, EUA, chegou a jantar com presidente Franklin Roosevelt e esteve com celebridades como Greta Garbo e Shirley Temple.

Representava o Brasil, a pedido de Getúlio Vargas. Sua última gravação em 1980, aos 83 anos, foi pelo selo Marcus Pereira.

Semana que vem tem mais…

Fontes:

1. Site ‘Famosos que Partiram’ – Tia Amélia;
2. DE MORAES, Vinícius. Samba Falado (crônicas musicais). Miguel Jost, Sérgio Cohn e Simone Campos (Org.). Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2008;
3. Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira;
4.Amélia Brandão por Semira Adler Vainsencher;
5. Portal Luiz Nassif.


Megaphone do Quincas terça, 31 de outubro de 2017

MULHERES CANTORAS E COMPOSITORAS DE PERNAMBUCO - MYRIAM BRINDEIRO

Myriam Brindeiro: dama da música e da poesia

 

A música é sua vida, começou cedo, ainda garota adorava ouvir a mãe ao piano e passaria a estudar o instrumento com a professora Núzia Nobre de Almeida.

Nosso personagem de hoje, Myriam Brindeiro, nascida no Recife em 26 de junho de 1937, é membro da Academia Pernambucana de Música e da União Brasileira de Escritores.

Poetisa, compositora, pesquisadora, fez parte da “Geração 65” e foi uma das lideranças nas atividades das “Edições Pirata” (1979/1983), fazendo de sua residência em Apipucos o local onde eram encadernados os livros desse movimento editorial, e no qual se reuniam seus participantes.

O movimento era liderado pelos poetas Jaci Bezerra, Alberto Cunha Melo, integrantes da “Geração 65” e a escritora Eugênia Menezes. Também estavam ali os escritores Maria do Carmo de Oliveira, Nilza Lisboa, Amarindo Martins de Oliveira, Andrea Mota, Vernaide Vanderley, Ednaldo Gomes e Celina de Holanda.

Os livros eram produzidos às escondidas, ou seja, pirateados, na gráfica da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). Posteriormente, seus editores adquiriram uma impressora de segunda mão e alugaram um local para instalar o equipamento.

“Desencanto”, de Manuel Bandeira, com Myriam Brindeiro

 

 

Licenciada em Ciências Sociais pela FAFIRE – Faculdade de Filosofia do Recife -, em 1959, realizou cursos de aperfeiçoamento e especialização em planejamento educacional e em televisão educativa.

Diretora da Divisão de Estudos e Pesquisas Sociais do Centro Regional de Pesquisas Educacionais do Recife INEP/MEC, foi também pesquisadora assistente e diretora da Divisão do Departamento de Educação do antigo Instituto de Pesquisas Sociais da Fundação Joaquim Nabuco.

Depois dos primeiros passos no violão, Myriam começou a aprender com afinco o instrumento com o professor Gerson Borges, no Recife.

Filha primogênita do médico Djair Falcão e de Judite Brindeiro, seu pai, conhecido pela competência profissional, era famoso entre as mulheres pela beleza.

Inesperadamente, entrou na política quando, na qualidade de suplente, teve de assumir a cadeira de Senador da República, na vaga de Etelvino Lins, que se afastou do Parlamento, para governar Pernambuco.

Myriam, aos quinze anos, passou a residir no Rio de Janeiro, onde trocou o Curso de Pedagogia pelo Científico, voltando ao Recife depois.

“Recife das Pontes”, letra e música de Myriam Brindeiro

 

 

Casou-se, ainda jovem, com o engenheiro agrônomo e advogado Alberto de Moraes Vasconcelos, que por muitos anos ocupou o cargo de delegado do Ministério da Agricultura, em Pernambuco.

O casamento com Alberto a levou para uma vida mais boêmia. Seu marido fazia acompanhá-lo em todos os recantos da vida noturna do Recife e de Olinda.

Dona de uma bela voz e de uma vocação natural, Myriam desabrochou e começou a se destacar na música e na poesia. Nessa época, conheceu e se tornou amiga de cordelistas, pintores, escritores, poetas, cantores e outros artistas dos idos dos anos 1960.

“Forró Ligeiro”, de Myriam Brindeiro, interpretada pela mesma

 

 

Possui mais de 200 composições, entre as quais se destacam “Ladeiras de Olinda”, de 1978; “Recife das Pontes”; “A Paz Acalanto para Gilberto”, homenagem ao sociólogo Gilberto Freire; e “Canto dos Emigrantes”. Musicou ou fez parceiras com Carlos Pena Filho, Manuel Bandeira, Vinícius de Moraes e Alberto da Cunha Lima.

Semana que vem, tem mais….

Fontes: MPB – “Compositores Pernambucanos/100 Anos de História – Renato Phaelante”; Arquivo Pessoal; Wikipedia; Fundação Joaquim Nabuco – FUNDAJ.


Megaphone do Quincas terça, 24 de outubro de 2017

MULHERES CANTORAS E COMPOSITORAS DE PERNAMBUCO - NENA QUIROGA

Nena Queiroga: carnaval na veia; música da cabeça aos pés

 

Quando iniciei esta série, pensava em reunir 10 grandes nomes de cantoras e compositoras de Pernambuco, mesmo que nascidas em outros estados.

Tal qual a mineira Irah Caldeira – ultima crônica – agora trago Nena Queiroga, que nasceu fora – no Rio -, mas é pernambucana por adoção e na formalidade do título de cidadã.

Também me trouxe grande satisfação as sugestões do público, que como se diz, teve participação interativa. Exemplo: Lia de Itamaracá, foi sugestão caseira, de minha revisora, E.Podolski. Agora trago Nena, por indicação de minha fiel leitora, a querida Rejane Ferreira.

O engraçado é que estes dois nomes estariam obrigatoriamente em qualquer lista com este tema, mas havia passado batido. Esta integração é a melhor resposta que se pode ter quando nos metemos a criar temáticas, como diria o amigo Bruno Negromonte.

Mas vamos a Nena: Maria Consuelo Gama de Queiroga nasceu no Rio de Janeiro, junho de 1967 e é considerada a “rainha do Carnaval de Pernambuco”.

Duda no Frevo, de Senô, com Nena, só no gogó

 

 

Criada no Recife, em 2011, recebeu o título de Cidadã Pernambucana. De família intensamente musical, Nena Queiroga é filha do radialista, compositor e humorista Luiz Queiroga e Mêves, cantora. Ambos renomados artistas da “Era de Ouro da Rádio Pernambucana”.

Aos 12 anos, já acompanhava sua mãe no trabalho e começou a gravar voz infantil. Na mesma época, fez parte do “Grupo Quarto Crescente”, liderado por seu irmão mais velho, o cantor e compositor Lula Queiroga.

Com 16 anos, começou a cantar em orquestras, animando bailes de carnaval nos clubes da cidade do Recife. Sua estreia como cantora foi com a orquestra do maestro Duda. Logo depois, assumiu o posto de “crooner” da orquestra do maestro Guedes Peixoto.

Ainda muito jovem, começou a cantar na então disputada casa de shows “Som das Águas”, onde conheceu entre tantos amigos que a influenciaram profissionalmente, como o Maestro Spok e o compositor André Rio.

Em 2005, começou oficialmente a puxar um dos trios do Galo da Madrugada, considerado pelo “Guiness Book” como o maior bloco do mundo.

Passou a ser conhecida como a Rainha do Carnaval de Pernambuco por ser a única mulher a ter seu próprio trio e a cantar o desfile inteiro sem parar, além do destaque nos shows do período carnavalesco.

Nena Queiroga – Por-pourri de Frevos de Bloco

 

 

Em fevereiro de 2014, gravou seu primeiro DVD “Pernambuco para o mundo”, evento que reuniu público de 60 mil pessoas no Cais da Alfândega, no Recife antigo.

O show contou com os convidados especiais: Ivete Sangalo, Maria Gadú, Lenine, Elba Ramalho, Luiza Possi, André Rio, Ed Carlos, Gustavo Travassos, Maestro Forró, Maestro Spok, Ylana Queiroga, coral Edgard Moraes e Orquestra dos Prazeres.

Além de músicas do Carnaval, Nena tem uma grande inserção na música interiorana, São João, xotes, forrós e baiões.

Seu primeiro CD, “Xotes e Forrós”, levou-a para a final do “Prêmio Tim de Música Brasileira 2006”, competindo com álbuns de Ivete Sangalo e Daniela Mercury.

Nena é mãe de Ylana Queiroga, cantora e compositora, e de Yuri Queiroga, músico guitarrista, arranjador e produtor musical premiado com trabalhos de álbuns de artistas como Elba Ramalho, Lula Queiroga e outros.

Desse fruto vieram os netos, Bento Queiroga, Tomé Queiroga filhos de Ylana e Flora, filha de Yuri.

Frevos do Galo da Madrugada, com Nena Queiroga

 

 

Segundo a própria cantora, sua maior realização de vida além de ser artista, mãe e vó, é poder ter parte de seu tempo dedicado a trabalhos sociais, além de participar com frequência de shows e eventos beneficentes.

Nena tem seus próprios projetos e, há bastante tempo, promove eventos que arrecada renda pras duas instituições que ela adotou e faz parte “Creche Manoel Quintão – Olinda/PE” e “Projeto Sertânia sem fome – Sertânia/PE”.

Em 2016, Nena foi convida pela amiga Ivete Sangalo para puxar seu trio no tradicional “Arrastão” na Quarta de Cinzas que encerra o carnaval de Salvador – BA. Foi um marco – rompendo assim, a questão de rivalidade nas cidades carnavalescas de uma vez por todas.

(Infelizmente neste dia, Ivete passou mal, e por motivos de doença não conseguiu cumprir o evento e Nena juntamente com outros artistas comandaram o trio da cantora por ela).

Este articulista lembra que, no sentindo inverso, Moraes Moreira também fez um link bem produtivo com o carnaval pernambucano.

Semana que vem, tem mais…


Megaphone do Quincas terça, 17 de outubro de 2017

MULHERES CANTORAS E COMPOSITORAS DE PERNAMBUCO - IRAH CALDEIRA

Irah Caldeira: o trajeto do São Francisco

Como o Velho Chico, Irah Caldeira começou seu trajeto, quando resolveu viajar pelo norte e nordeste do país, a fim de pesquisar e aprender ritmos musicais do Maranhão, Pará e Bahia. Finalmente, fixou residência em Pernambuco.

A caminhada de Irah refez em sentido histórico o mesmo percurso do rio São Francisco em sua trajetória em direção ao mar.

Nascida em Minas Gerais, iniciou sua carreira como cantora na década de 90, obtendo grande respeito da crítica especializada pela forma com que interpreta as canções, com espontaneidade, técnica e também pela qualidade com que seleciona as canções que compõem seu repertório.

Ao longo da carreira, gravou músicas de compositores como Zé Marcolino, Petrúcio Amorim, Accioly Neto, Maciel Melo e Anchieta Dali, entre outros.

Lançou seu primeiro CD em 1999, que recebeu o título de “Mistura Brasil”, no qual interpretou músicas “A natureza das coisas”, de Accioly Neto; “Canto do rouxinol”, de Caxiado; “Mentiras do vento” e “Cantar dor”, de Roberto José; “Eu fiz que não te vi”, de Totonho; “Siá Filiça”, de Bira Marcolino e Fátima Marcolino; “Ilusão”, de Roberto Lintz; “Ciência popular”, de Domingos Accioly e Jucéia Vilella, em faixa que contou com as participações especiais de Rogério Menezes e Raimundo Caetano; “A lata do lixo”, de Zé Marcolino; “Cidades gêmeas”, de Fabiano Otoni Vieira; “Reggae do sol”, de Paulo Long e Jucélio Vilella, e “Mais fundo que qualquer raiz”, de Ricardo Cardoso.

Irah Caldeira, Oração do Sanfoneiro, de Xico Bizerra – com mestre Camarão. Primeiro “DVD – GIRASSOL DE DESEJOS”, de 2009

 

 

Continuou realizando shows pelo estado de Pernambuco e, em 2001, lançou seu segundo CD, “Canto do rouxinol”, com produção sua e de Carlos Firmino, no qual cantou as músicas “A cartilha da canção”, de Fátima Marcolino e Mariua da Paz; “Tributo a Zé Marcolino”, de Maciel Melo; “Bole bole da sanfona”, de Abel Carvalho e Patrick Jr.; “Faz de conta”, de Maria da Paz e Jotta Moreno; “Festejos de beija-flor”, de Anchieta Dali; “Canto do rouxinol”, de Tita Caxiado; “Sina de baião”, de Diego Reis e Camarão; “Pra ganhar teu coração”, de Félix Porfírio e Noel Tavares; “Cidade grande”, de Petrúcio Amorim; “Noquinha da Lagoa”, de Manoel Santana e Reginaldo Moreira; “A cura”, de Ancieta Dali e Bia Marinho; “Cantador de coco”, de Valdir Santos; “Noite de festa” e “Forró mineiro”, de Edgar Mão Branca, e “Apreço ao meu lugar”, de Paulo Matricó.

Em 2004, lançou, com produção sua e Jorge Ribbas, o CD “Irah Caldeira canta Maciel Melo” no qual interpretou 15 composições de Maciel Mello: “Caia por cima de mim”; “Cheiro de terra molhada”; “Feira de sonhos”; “Jeito maroto”; “Tama de pedra”, faixa que contou com a participação do próprio Maciel Melo; “Que nem vem-vem”; “Não é brincadeira”; “Caboclo sonhador”; “Firirim fom fom” e “Um veio d’água”, todas composições solo de Maciel Melo, além de “Minha fala”, de Maciel Melo e Nico Batista; “A poeira e a estrada”, de Maciel Melo e Cláudio Almeida, que contou com a participação especial de Dominguinhos; “Pra ninar meu coração”, de Maciel Melo e Luiz Fidélis; “Coco peneruê”, de Maciel Melo e Jessier Quirino, e “Retinas” e “Nos tempos de menino”, de de Maciel Melo e Virgílio Siqueira.

Aperto o Nó – de Fred Monteiro, com Irah Caldeira

 

 

Em 2006, lançou o CD “Entre o calango e o baião”, que teve produção e direção musical suas e no qual cantou as músicas “Quero ter você”, de Pekin e Mourão Filho; “Aperta o nó”, de Fred Monteiro; “Oceano do querer”, de Maria da Paz e Xico Bizerra, com participação especial de Dominguinhos; “Me perguntaram, eu respondi”, de Herbet Lucena e Xande Raséc; “Faça isso não”, de Biguá; “Porteira da saudade”, de Bira Marcolino e Fátima Marcolino; “Sem chance”, de Rogério Rangel e Petrúcio Amorim; “Segura o forró”, de Félix Porfírio; “Avoante”, de Accioly Neto; “Ainda é tempo”, de Alexandre Leão e Manuca Almeida; “Nordestinês”, de Reginaldo Moreira; “Machado cortador”, de Zé Marcolino; “Sabiá alcoviteiro” e “Chama”, de Selma Santos; “Queimei seu travesseiro”, de J. Miciles, e “Grãos de sonho”, de Roberto José.

Em 2007, realizou uma longa temporada de shows que resultou no CD “Irah Caldeira e banda – ao vivo”, no qual interpretou 36 sucessos do cancioneiro popular nordestino. No ano seguinte, lançou o CD “Irah Caldeira e banda – ao vivo volume 2”.

Já em 2009, gravou no Teatro da UFPE o DVD “Girassol de Desejos” com direção musical de Sandro Maia e com as participações especiais de Bia Marinho, Mestre Camarão, Josildo Sá, Maciel Mello, Petrúcio Amorim e Santana, o Cantador, entre outros.

No mesmo ano lançou o CD “Marias… Das Dores… Daluz! Mulheres compositoras do Nordeste”, um projeto aprovado pelo Funcultura e no qual, acompanhada de sua banda, cantou obras de 17 compositoras nordestinas: Socorro Lira; Dona Maria do Horto; Flávia Wenceslau; Terezinha do Acordeon; Adryana BB; Bia Marinho; Joésia Ramos; Haidée Camelo; Anastácia; Liana Ferreira; Kelly Benevides; Rita de Cássia; Selma do Coco; Khrystal e Jussara Kouryh, além de composições de sua autoria. Em 2012, participou da coleção tripla de CDs “Pernambuco forrozando para o mundo – Viva Dominguinhos!!!”, produzida por Fábio Cabral, cantando, ao lado de Dominguinhos, a música “A poeira e a estrada”, de Claudio Almeida e Maciel Melo.

A coletânea trouxe forrós diversos interpretados por 48 artistas, e que fazem referência aos 50 anos de carreira do seu inspirador: Dominguinhos. Interpretando músicas de compositores em sua grande maioria pernambucanos, fizeram parte do projeto também artistas como Acioly Neto, Adelzon Viana, Dudu do Acordeon, Elba Ramalho, Jorge de Altinho, Petrúcio Amorim, Liv Moraes, Hebert Lucena, Geraldo Maia, Sandro Haick, Spok, Jefferson Gonçalves, Chambinho, Joquinha Gonzaga, Maciel Melo, Luizinho Calixto, Silvério Pessoa, Walmir Silva, entre outros, além do próprio Dominguinhos.

Agora Irah Caldeira, com a melhor intepretação dessa música que é meu xodó “Tareco e Mariola”…

 

 

Mineira, radicada no nordeste, Irah Caldeira canta o forró, e outros ritmos nordestinos, com a alegria e leveza de uma autêntica filha da terra.

Para Irah, a música regional não está limitada a um estado e sim a todo o povo brasileiro, entendendo que a cultura de qualquer ponto do país, é patrimônio de toda a nação.

Com uma carreira artística consolidada em Pernambuco, Irah segue a mesma estética musical que nos presenteou com o canto de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Marinês, Dominguinhos e outros tantos que perpetuaram o autêntico canto sertanejo em forma de xote, baião, côco, xaxado, forró e toadas, espalhando para todo Brasil, poesia e beleza em forma de canção.

Semana que vem, tem mais…..


Megaphone do Quincas terça, 10 de outubro de 2017

MULHERES CANTORAS E COMPOSITORAS DE PERNAMBUCO - LIA DE ITAMARACÁ

 

Lia de Itamaracá

Quando surgiu a ideia de fazer Lia, na série “Cantoras e Compositoras de Pernambuco”, pensei: que baita responsabilidade.

Por quê? Ora, poderia atribuir esse cuidado a alguns títulos e elegias feitos a Lia mundo afora. Querem ver? O New York Times denominou-a “Diva da Música Negra”; Lia é “Patrimônio Vivo de Pernambuco”, título registrado pela FUNDARPE; pelo Ministério da Cultura, recebeu prêmio “Medallha do Mérito Cultural”.

Mas os títulos e formais e honorários são resultado de um trabalho artístico inédito, incomum e de beleza especial.

Lia de Itamaracá sintetiza o som da beira da praia, da areia, o ritmo sincopado de vai-e-vem das ondas do mar.

Porém, como tudo que é mito, ícone e encantado, já houve quem duvidasse da existência real de Lia.

Para muita gente, trata-se de uma personagem que vive apenas nos versos “Essa ciranda quem me deu foi Lia, que mora na Ilha de Itamaracá”, menção à música extraída do folclore, citada por Teca Calazans, em 1963.

Mas Lia é real e tem 73 anos. Maria Madalena Correia do Nascimento é dançarina, compositora e referência como cantora da ciranda brasileira. Nasceu em janeiro de 1944, na Ilha de Itamaracá, Pernambuco.

“Mamãe Oxum/Ciranda do Amor, 2011, no Circo Voador

 

 

Lia sempre morou na Ilha de Itamaracá e, ainda criança, começou a participar das rodas de ciranda. É considerada a mais famosa cirandeira do Brasil. Trabalhou como merendeira de uma escola pública da Ilha.

Gravou seu primeiro disco em 1977, pela Rozemblit, intitulado “A Rainha da Ciranda”. Em 1998, apresentou-se no “Abril Pro Rock”, o que a fez famosa nacionalmente. No início dos anos 2000, lançou “Eu Sou Lia”, distribuído também na França.

Moça Namoradeira, com Lia de Itamaracá

 

 

Participou do curta do cineasta pernambucano Kleber Mendonça (Aquarius) “Recife Frio”. No filme, aparece cantando sua famosa ciranda “Eu Sou Lia e Preta Cira”, vestida com roupas de frio na praia de Itamaracá.

Em 2003, a cineasta carioca Karen Akerman começou a registrar a vida da cirandeira, para um documentário sobre Lia.

 

O jornal francês Le Parisien comparou sua voz à da cabo-verdiana Cesária Évora
Enorme mulher de 1m80: surpreendeu-se Hermínio Bello de Carvalho ao conhecer Lia

Ciranda

É uma dança típica das praias que começou a aparecer no litoral norte de Pernambuco. Uma das cirandeiras mais conhecidas é a Lia de Itamaracá. Surgiu também, simultaneamente, em áreas do interior da Zona da Mata Norte do Estado.

É muito comum no Brasil definir ciranda como uma brincadeira de roda infantil, porém na região Nordeste e, principalmente, em Pernambuco ela é conhecida como uma dança de rodas de adultos. Os participantes podem ser de várias todas as faixas etárias.

Há várias interpretações para a origem da palavra ciranda, mas segundo o Padre Jaime Diniz, um dos pioneiros a estudarem o assunto, vem do vocábulo espanhol zaranda, que significa instrumento de peneirar farinha e que seria uma evolução da palavra árabe çarand.

A ciranda, assim como o coco em Pernambuco, era mais dançada nas pontas-de-rua e nos terreiros de casas de trabalhadores rurais, partindo depois para praças, avenidas, ruas, residências, clubes sociais, bares, restaurantes. Em alguns desses lugares passou a ser um produto de consumo para turistas.

É uma dança comunitária que não tem preconceito quanto ao sexo, cor, idade, condição social ou econômica dos participantes, assim como não há limite para o número de pessoas que dela podem participar. Começa com uma roda pequena que vai aumentando, a medida que as pessoas chegam para dançar, abrindo o círculo e segurando nas mãos dos que já estão dançando. Tanto na hora de entrar como na hora de sair, a pessoa pode fazê-lo sem o menor problema. Quando a roda atinge um tamanho que dificulta a movimentação, forma-se outra menor no interior da roda maior.

A homenagem de Capiba

Minha Ciranda, de Capiba, com o Coral Madeira de Lei

 

 

Os participantes são denominados cirandeiros, havendo também o mestre, o contra-mestre e os músicos, que ficam no centro da roda.

Voltados para o centro da roda, os dançadores dão-se as mãos e balançam o corpo à medida que fazem o movimento de translação em sentido anti-horário. A coreografia é bastante simples: no compasso da música, são quatro passos para a direita, começando-se com o pé esquerdo, na batida forte do bombo, balançando os ombros de leve no sentido da direção da roda.

O bombo ou zabumba, mineiro ou ganzá, maracá, caracaxá (espécie de chocalho), a caixa ou tarol formam o instrumental mais comum de uma ciranda tradicional, podendo também ser utilizados a cuíca, o pandeiro, a sanfona ou algum instrumento de sopro.

O mestre cirandeiro é o integrante mais importante da ciranda, cabendo a ele “tirar as cantigas” (cirandas), improvisar versos, tocar o ganzá e presidir a brincadeira. Utiliza um apito pendurado no pescoço para ajudá-lo nas suas funções.

O contra-mestre pode tocar tanto o bombo quanto a caixa e substitui o mestre quando necessário. As músicas podem ser as já decoradas, improvisadas ou até canções comerciais de domínio público transformadas em ritmo de ciranda.

Pode-se destacar três passos mais conhecidos dos cirandeiros: a onda, o sacudidinho e o machucadinho. Alguns dançarinos criam passos e movimentos de corpo, mas sempre obedecendo a marcação que lhes impõe o bombo. Não há figurino próprio. Os participantes podem usar qualquer tipo de roupa e a ciranda é dançada durante todo o ano.

A partir da década de 70, as cirandas começaram a ser dançadas em locais turísticos do Recife, como o Pátio de São Pedro e a Casa da Cultura, modificando um pouco a dança que se tornou mais um espetáculo. O mestre, contra-mestre e músicos saíram do centro da roda para melhor se adaptarem aos microfones e aparelhos de som, passando também a haver limite de tempo para a brincadeira. Compositores pernambucanos como Chico Science e Lenine enriqueceram seus repertórios, utilizando a ciranda nos seus trabalhos.

Semana que vem tem mais…

Fontes: Wikipedia; Acervo Pessoal; Fundaj; Hermínio Bello de Carvalho.


Megaphone do Quincas terça, 03 de outubro de 2017

MULHERES CANTORAS E COMPOSITORAS DE PERNAMBUCO - SELMA DO COCO

Selma do Coco

Arrrrrá!!!! Dona Selma do Coco, nascida na Zona da Mata, conviveu com a música tradicional pernambucana, em especial o coco de roda, desde a infância, nas festas juninas que frequentava com seus pais.

Selma Ferreira da Silva nasceu em Vitória de Santo Antão-SP, em dezembro de 1935, falecendo em maio de 2015.

Aos 10 anos, mudou-se com a família para o Recife. Casou-se muito jovem, depois de ter dois filhos, ficou viúva. Selma criou ainda 14 sobrinhos. Morou 15 anos no bairro da Mustardinha, na capital pernambucana. De lá, foi morar em Olinda, onde vendia tapioca. Para atrair os turistas e aumentar o faturamento, cantava o coco enquanto trabalhava.

“Dá-lhe Manoel”, com Selma do Coco

 

 

Ganhou fama nos anos 90, quando foi descoberta pelo pessoal do Manguebeat, como Chico Science, que começaram a elogiar suas músicas. Passou a apresentar-se em festas populares, nas quais vendia fita cassete, gravadas artesanalmente com seus trabalhos.

Em 1996, apresentou pela primeira vez para um grande público, no Festival Abril Pro Rock. No ano seguinte, seu coco “A Rolinha” fez sucesso no carnaval do Recife e de Olinda. Gravou seu primeiro CD, em 1998, com músicas compostas em parceria com Zezinho. O trabalho lhe rendeu, no ano seguinte, o Prêmio Sharp.

Santo Antonio, com Selma do Coco

 

 

Em 2000, apresentou-se no Festival Lincoln Center, Nova York e no Festival de Jazz de Nova Orleans, além de fazer shows na Alemanha, Bélgica, Espanha, Suíça e Portugal.

Durante a excursão pela Europa, atendendo a um convite do Instituto Cultural de Berlim, gravou o disco “Heróis da Noite”, ao lado de cantores africanos.

Em vida, recebeu o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco.

O Coco

É um ritmo típico da região Nordeste do Brasil. Sua origem é atribuída a três estados: Pernambuco, Paraíba e Alagoas.

O nome refere-se também à dança, ao som desse ritmo. Com influência indígena e africana, é uma dança de roda, acompanhada de cantoria e executada em pares, fileiras ou círculos durante festas populares do litoral e do sertão nordestino.

Recebe várias nomenclaturas como pagode, coco de usina, coco de roda, coco de embolada, coco de praia, coco do sertão, coco de umbigada e ainda denominações ligadas ao instrumento mais característico da região: coco de ganzá e coco de zambê.

O som característico do coco vem de quatro instrumentos (ganzá, surdo, pandeiro e triângulo), mas o que marca mesmo a cadência do ritmo é o repicar acelerado dos tamancos (que imitam o barulho do coco sendo quebrado).

A “sandália” de madeira é quase como um quinto instrumento, além disso, a sonoridade é completada com as palmas.

Existe também a hipótese de que a dança teria surgido nos engenhos ou nas comunidades de catadores/tiradores de coco. São figuras notáveis do coco: Amaro Branco, o grupo Raízes de Arcoverde; Jackson do Pandeiro; Jacinto Silva; e d. Glorinha do Coco.

Pot-Pourri com tributo a Jackson do Pandeiro, com Selma do Coco e Lenine,
em Especial da TV Globo

 

 


Megaphone do Quincas terça, 26 de setembro de 2017

MULHERES CANTORAS E COMPOSITORAS DE PERNAMBUCO - MARINÊS

 

Marinês

A diferença de Marinês (e sua gente) para Almira e Anastácia – nossos personagens anteriores -, é que, embora também casada com músico – o paraibano de Taperoá, o excelente Abdias dos 8 Baixos -, é provável que tenha sido mais famosa que seu parceiro de grupo, ao menos na mídia nacional.

Inês Caetano de Oliveira era o nome de nascimento de Marinês, nascida em São Vicente Ferrer-PE, em novembro de 1935 e morta em maio de 2007, no Recife, aos 71 anos. Seu sepultamento se deu em Campina Grande, na Paraíba.

Marinês morou em Campina e fez sua carreira quase toda no sertão da Borborema.

Cantora, seu repertório incluía forró, xaxado, baião, entre outros ritmos. Filha de pai seresteiro, iniciou a carreira na banda “Patrulha de Choque” do Rei do Baião, que formou com o marido Abdias e o zabumbeiro Cacau, para se apresentar na abertura dos shows de Luiz Gonzaga.

“Peba na Pimenta”, de João do Vale, Adelino Rivera e José Batista

 

 

Foi em 1956 que gravou o primeiro disco à frente do grupo “Marinês e sua Gente”, com o qual se consagrou. A canção que marcou Marinês no início foi “Peba na Pimenta”, de João do Vale, José Batista e Adelino Rivera, causando polêmica na época que foi gravada, devido ao seu duplo sentido. Ela aparece cantando a música no filme “Rico ri à Toa”, de 1957.

Então, eu digo: “Imaginem de fosse hoje, com esse falso moralismo que nos assola”.

“Peba na Pimenta”, gravação de 1957, com João do Vale

 

 

Leia esse importante depoimento do pesquisado Ricardo Cravo Albin. Eis: “Marinês merece – e sempre mereceu – todas as homenagens que nossos ouvidos, às vezes por demais urbanizados, se negam a prestar ao nordeste e a seu povo. Ainda sobre essa coisa abominável, que é o preconceito contra o simples, o puro, o visceral, a raiz, assaltou-me inda agorinha uma conversa lapidar com o sábio Luiz da Câmara Cascudo.

Dele ouvi, numa das últimas visitas que lhe fiz em Natal, mais ou menos o seguinte:

“ – Mas, mestre, e esses críticos que ridicularizam a música de raiz, dizendo que raiz é mandioca crua, que só dá dor de barriga, se comida?”

“ – Não se avexe, não, meu filho. Esses pobres diabos não sabem nada de nada, ao propor frases idiotas para maus propósitos. E de mais a mais, comer macaxeira só faz bem e dá sustança, tanto quanto a música de raiz. Não esqueça que é ela que sustenta e molda o caráter nacional.

Negá-la é negarem-se os pilotis do Brasil, para ficar só com o forro. Muitas vezes de material tão ruim, que qualquer ventinho mais afoito leva lá pros cafundós.”

Na semana seguinte, já no Rio, visitei outro brasileiro monumental, Luiz Gonzaga. Contei-lhe da conversa com Cascudo, que de imediato o comoveu.

E enquanto Gonzaga desembaçava os óculos suados pela emoção incontida, fez-me um pedido surpreendente:“ – Pois o senhor saiba que eu preciso de seu apoio para uma macaxeira de lei, pura raiz, que se chama Marinês, a quem estou convidando para uma turnê comigo pelo país todo.”

“Pisa na Fulô”, de Ernesto Pires e João do Vale

 

 

Além de João do Vale, Gonzaga, Abdias dos 8 Baixos, Marinês gravou Antonio de Barros, Vicente Barreto, Alceu Valença, João Silva, Nando Cordel, Lenine, Geraldo Azevedo em 35 discos originais lançados em toda a carreira.

Semana que vem, tem mais.


Megaphone do Quincas terça, 19 de setembro de 2017

MULHERES COMPOSITORAS DE PERNAMBUCO - ANASTÁCIA


Anastácia

Tal qual Almira Castilho (com Jackson do Pandeiro), Anastácia foi casada e formou uma grande parceria musical com outro dos grandes nomes da música brasileira, mestre Dominguinhos.

Se Almira cantou, compôs e participou de dezenas de filmes, Anastácia teve uma carreira solo, antes e depois de seu casamento.

Anastácia (Lucinete Ferreira, cantora de compositora, nasceu no Recife-PE, em maio de 1941. Seu interesse pela música surgiu muito cedo, aos sete anos de idade.

Nesse tempo, acompanhava um cantador de cocos, na Macaxeira, bairro da capital pernambucana.

Iniciou a carreira em 1954, cantando na Rádio Jornal do Commercio, interpretando canções criadas e gravadas no Sudeste, principalmente os sucessos de Celly Campello.


Anastácia e Dominguinhos, em 1976, programa especial, de Fernando Faro

Em 1960, transferiu-se para São Paulo, onde passou a cantar gêneros nordestinos. Fez shows pelo interior, participando da “Caravana do Peru que Fala!, com Silvio Santos. Em seguida apresentou obras da dupla pernambucana Venâncio e Corumba.

Foi nessa época que recebeu o nome de Anastácia, dado pelo produtor, cantor e compositor Palmeira, então diretor da Chantecler.

Gravou seu primeiro disco em 1960, com as músicas “Noivado Longo”, de Max Nunes, além de “Chuleado”, “A Dica do Deco” e “Forró Fiá”, todas de Venâncio e Corumba.

Em meados da década de 1960, conheceu Dominguinhos, num programa de Luiz Gonzaga, na extinta TV Continental do Rio de Janeiro. Casou-se com Dominguinhos e participou de uma caravana artística com o “Rei do Baião!. Compôs com seu parceiro mais de 50 músicas, das cerca de 200 que escreveu.

Eu Só Quero um Xodo (Anastacia/Dominguinhos), com Anastacia

 

 

Em 1969, lançou pela RCA Victor o disco “Caminho da Roça!”, com a participação de Luiz Gonzaga nas faixas “Minha Gente”, “Eu Vou Me Embora”, de Antonio Barros, e Feira do Podre, de Onildo Almeida (o mesmo de “A Feira de Caruaru).

Gilberto Gil gravou “Eu Só Quero um Xodó, parceria dela com Dominguinhos, numa clássica versão, em 1973. Essa música recebeu mais de 20 regravações. Gil também gravou o sucesso “Tenho Sede”, de Anastácia e Dominguinhos, regravando-o em 1994 no disco Unplugged.

“Tenho Sede” (Dominguinhos/Anastácia), com Arismar do Espírito Santo, Robertinho Silva, Heraldo do Monte, Dominguinhos e Gil

 

 

Anastácia lançou cerca de 30 discos, constituindo-se num dos maiores nomes do forró. Suas músicas foram gravadas por Nana Caymmi, Claudia Barroso, Jane Duboc, Dóris Monteiro, José Augusto, Ângela Maria, Gal Costa e outros.

Semana que vem tem mais


Megaphone do Quincas terça, 12 de setembro de 2017

MULHERES CANTORAS E COMPOSITORAS DE PERNAMBUCO - ALMIRA CASTILHO

Almira Castilho

 

Lembrei-me das “mulheres de Tejucupapo”, que até hoje simbolizam a bravura das mulheres pernambucanas.

Aqui, mesmo tocando sempre no tema musical – em tese, aberto a todos os gêneros – pouco falo da participação feminina no cenário pernambucano.

Nesse plano, Chiquinha Gonzaga, está na posição de vanguarda. Podemos pleitear pioneirismo no choro, nas músicas do século XIX, inventados por João Pernambuco, de Sons Carrilhões, Luar do Sertão e Cabocla de Caxangá.

Mas, de parte das mulheres, talvez nossa grande desbravadora seja a magnífica Tia Amélia, a quem já dediquei uma coluna deste Megaphone e dedicarei mais.

Num rápido apanhado de nomes antigos e de gente nova – por favor, aguardo contribuição dos leitores – listei como mulheres cantoras e compositoras pernambucanas ou que fizeram carreira no solo na “Terra de Altos Coqueiros”, Almira Castilho, Anastácia, Marinês (e sua Gente), Tia Amélia, Clarice Falcão, Selma do Coco, Lia de Itamaracá, Teca Calazans (capixaba), Nena Queiroga (carioca, filha de Lula Queiroga), Ylana Queiroga, Glorinha do Coco, Isaar, Irmãs Acioman, Dalva Torres, Nanau Nascimento..

Começo com Almira Castilho, mulher de Jackson do Pandeiro por 12 anos, mas que, por certo, tem um lugar especial nesse universo, além do ultrapassado clichê “atrás de todo grande homem, há uma grande mulher”.

Num raciocínio rápido e superficial, posso pensar em Alma, esposa e mais que palpiteira, uma verdadeira parceira do marido, Alfred Hitchkock; Maria Bonita e Lampião. A conversão deste apotegma se estabelece com Bonnie and Clyde; d. Maria Tereza e Jango; Rita e Roberto de Carvalho, por exemplo.

Cantora. Compositora. Dançarina. De beleza brejeira e nordestina, era linda de se ver no palco, ao lado do exuberante pandeirista, cantando, dançando e arrebatando olhares e sorrisos de Jackson do Pandeiro, seu parceiro e marido.

Antes de seguir a carreira artística, atuou como professora. Dançava e cantava bem, também compunha e ficou famosa exatamente pela parceria com Jackson do Pandeiro, que ela conheceu em 1952, na rádio Jornal do Commercio, onde era rádio-atriz e cantora.

 


Chiques com chapéu de couro

 

Sua última aparição pública se deu 2009, quando, na cidade de Recife, recebeu homenagem em nome de Jackson do Pandeiro. Faleceu aos 87 anos, vítima de mal de Alzheimer.

“Chiclete com Banana”, de Gordurinha e Almira (1958), com Jackson do Pandeiro

 

 

Na opinião deste escriba, “Chiclete com Banana” se insere no contexto do antes e depois do modernismo-psicodelismo e tropicalismo da música brasileira. É um grande manifesto, com uma linguagem panfletária de cordel…

Olindense, Almira Castilho nasceu em agosto de 1924, deixando-nos quando já morava no Recife, em fevereiro de 2011, foi cantora, compositora e dançarina brasileira.
Parceira de Jackson do Pandeiro, com quem foi casada, sua carreira pontuou em composições e apresentações no rádio e no cinema. O casal esteve junto por 12 anos, de 1955 a 1967.

Forró Quentinho, de Almira Castilho

 

 

Almira Castilho era professora. Iniciou sua carreira artística em 1954, participando do coro na apresentação de “Sebastiana” por Jackson do Pandeiro. Foi rumbeira e rádioatriz na Rádio Jornal do Commercio, além de ter participado de algumas dezenas de filmes nacionais.

“Chiclete com Banana”, com Marjorie Estiano e Gilberto Gil

 

 

Fez mais de 30 músicas na parceria de Jackson, Gordurinha e Paulo Gracindo. “Chiclete com Banana” é o ponto alto de sua carreira. Foi a primeira que se usou o termo samba-rock na terminologia musical brasileira. Como se costuma fazer até hoje, a mídia em geral não registra os nomes dos compositores, arranjadores e produtores musicais, ficando a visibilidade maior para quem aparece e canta no palco do rádio e das televisões, nos CDs, DVDs, Spotify e mídias afins.

 

Muitas capas com Almira

 

Por que comecei esta série com Almira? Por um motivo muito pessoal. Era (e continuo) vidrado em Jackson, o rei do ritmo. Para mim, sempre esteve no patamar de Gonzagão, Humberto Teixeira e Zé Dantas, no que diz respeito a música nordestina.

Certa ocasião, Dagô – minha mãe e primeira professora da história da música que tive -alertou: “Junior, você adora Jackson, mas não esqueça que, “por trás dele existe uma artista de primeira grandeza chamada Almira Castilho”.

Penso que d. Dagô chamava a atenção para duas injustiças: a compositora Almira, que ficava mais escondida; e uma boa dose de feminismo pleiteando o espaço da mulher no universo da música nordestina.

Semana que vem, tem mais das mulheres de Tejucupapo da música regional….


Megaphone do Quincas terça, 05 de setembro de 2017

QUEM NÃO CONHECE LUIZ DE FRANÇA!

Luiz de França

Existem músicas que não saem da cabeça nem que a vaca tussa. Falo das canções que ouvimos na infância e por toda uma vida. Muitas vezes, canções regionais como “Eu Vou Prá Lua”, do famosíssimo intérprete e compositor paraense Ary Lobo, em parceria com o pernambucano Luiz de França, Boquinha, têm esse dom.

Formaram aquela famosa linha de cocos, emboladas, rojões e baiões, lida e relida pelos fabulosos Jackson do Pandeiro, Gordurinha, Rosil Cavalcanti, Jacinto Silva, entre outros.

Eu Vou Pra Lua, de Luiz de França e Ary Lobo, com Ary Lobo

 

 

A letra deste rojão me traz à lembrança o Recife antigo, do Campo do Jiquiá, onde pousavam os Zeppelin, na década de 1930. Ainda hoje o único atracadouro de dirigíveis daquele porte, de pé, em todo o mundo.

Da corrida espacial mais recente, os autores trouxeram o soviético Sputnik, verdadeira febre dos interessados em feitos espaciais daquele momento.

São criações, fantasias que juntam um improvável lançamento de um foguete-satélite num atracadouro de Zeppelin.

Eu Vou Pra Lua, com Zé Ramalho, Elba e Geraldo Azevedo

 

 

Tudo que se enrola e desenrola na letra é para fazer contraposição aos dias de dureza que se passava aqui na terra, Brasil. Em alguns momentos, parece que estamos em tempos atuais. A ideia de ir para o nosso satélite natural para fugir, expressada nos versos: “Já estou enjoado aqui da terra; Onde o povo a pulso faz regime; A indústria, roubo, a fome, o crime; Onde os preços aumentam todo dia; O progresso daqui a carestia; Não adianta mais se fazer crítica; Ninguém acredita na política; Onde o povo só vive em agonia”.

 

 

Perfis:

ARY LOBO (GABRIEL EUSEBIO DOS SANTOS LOBO)

Nascido em 14 de agosto de 1930, foi um músico de forró, natural de Belém, Pará. Ary Lobo foi daqueles gênios que não nascem mais nos dias de hoje, o maior compositor de forró da história, com mais de 700 músicas gravadas por ele e outros cantores, músicos e intérpretes. Um defensor solitário (ou quase) da música nordestina de raiz. Suas gravações são o retrato disso, a começar pelos instrumentos usados, ele não ousava muito, já tinha sua fórmula montada. De estilo semelhante ao de Jackson do Pandeiro, cantando derivativos do baião, entre cocos e rojões, Ary Lobo lançou vários sucessos nos anos 50 e 60 em seus nove LPs na RCA. Retratava a vida e os costumes nordestinos em diversas canções, como Cheiro da gasolina, Vendedor de Caranguejo, Eu vou pra Lua, Suplica Cearense, Evolução, Menino Prodígio, entre outros..

LUIZ DE FRANÇA – BOQUINHA

Compositor popular, Luiz de França nasceu em junho de 1911, no bairro do Torreão, no Recife, onde, ainda adolescente tornou-se ídolo, cantando suas músicas. Foi um dos grandes divulgadores do Coco, gênero musical preferido. Morreu em junho de 2008.

Também como conhecido como Luiz Boquinha, trabalhou durante 35 anos como carpinteiro na Aeronáutica e durante 16 anos participou de programas de auditório na Rádio Clube de Pernambuco, onde apresentava o programa “A Reportagem da Semana”, que interpretava os acontecimentos por meio de músicas.

Autor de vários folhetos de Cordel, sua canção de maior sucesso foi a parceria com Ary Lobo, “Eu Vou Prá Lua”.

Semana que vem, tem mais….


Megaphone do Quincas terça, 29 de agosto de 2017

MÚSICOS DE UMA CANÇÃO SÓ QUE FIZERAM ETERNO SUCESSO NACIONAL - OTÁVIO DE SOUZA, COM A VALSA ROSA

Otávio de Souza

O maior exemplo de compositor de uma música só é Otávio de Souza, co-autor de “Rosa” que se tornou hino lírico brasileiro. Em seu caso, a sorte o abençoou ao fazer poesia, puxada para o parnasiano, para o rebuscado e, que, casada com música de ninguém menos que Pixinguinha, tornou-se letra dessa obra-prima do cancioneiro nacional.

A peça, instrumental, foi feita 1917, segundo Alfredo da Rocha Viana Filho (Pixinguinha), que informou que seu título original foi “Evocação”.

Como manda a tradição do chorinho (gênero musical de Pixinguinha), a música foi composta em três partes.

Mais tarde, recebeu letra e ficou apenas com a primeira e a segunda partes. Muitas vezes foi gravada e regravada na versão original com três partes e sem letra, com Choro Carioca e Musica do Brasil, da Acari.

Nosso improvável célebre Otávio de Souza era um mecânico de profissão, que morreu jovem e nunca compôs nada parecido com Rosa.

Rosa – Instrumental (1917) – com Paulo Sérgio Santos, João Carlos de Assis Brasil e Henrique Cazes

 

 

Conta a lenda que Otávio se aproximou de Pixinguinha enquanto o mestre bebia em uma bar, do subúrbio carioca de Engenho de Dentro, para falar que havia uma letra que não saía de sua cabeça toda vez que ouvi a valsa. Pixinguinha ouviu e ficou maravilhado.

A gravação de Orlando Silva foi a responsável pela popularização de Rosa, com erro de concordância e tudo no trecho “sândalos dolente”.

Francisco Carlos e Carlos Galhardo deixaram de gravar Rosa por terem se recusado a gravar Carinhoso (coisas de gravadora).

“Rosa” era a música preferida da mãe de Orlando, dona Balbina. Após sua morte, em 1968, Orlando Silva jamais voltou a cantar a música.

Rosa, com Orlando Silva – 1937

 

 

 

Rosa, com Marisa Monte – 1990

 

 

Segundo estudiosos, “Rosa” é uma valsa de breque, de difícil interpretação vocal, especialmente para o uso de legatos (maneira de tocar uma frase musical), já que as pausas naturais são preenchidas por segmentos que restringem os espaços para o cantor tomar fôlego.

Quanto à letra, é também um exemplo do estilo poético rebuscado em moda na época. O desafio de regravar “Rosa” foi tentado por alguns intérpretes, sendo talvez o melhor resultado obtido por Marisa Monte, em 1990, com pequenas alterações melódicas.

Semana que vem tem mais.

Fontes: Site Poemas & Canções; Acervo Pessoal; Wikipedia; Dicionário Ricardo Cravo Albin

Tu és divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor


Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito teu

Tu és a forma ideal
Estátua magistral. Oh, alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas um amor
O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza

Perdão se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus o quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia
Ao pé do altar
Jurar, aos pés do onipotente
Em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer
De todo fenecer


Megaphone do Quincas terça, 22 de agosto de 2017

MÚSICOS DE UMA CANÇÃO SÓ QUE FIZERAM ETERNO SUCESSO NACIONAL

André Filho/Cidade Maravilhosa

André Filho foi ator, violonista, bandolinista, banjoísta, violonista, pianista, compositor e cantor.

O múltiplo artista Antonio André de Sá Filho nasceu no Rio de Janeiro em 21 de março de 1906 e morreu na mesma cidade em 2 de julho de 1974, é o autor de “Cidade Maravilhosa”, escrito e com arranjo original de Silva Sobreira.

A marcha imortal de André Filho não tem uma origem consensual. São, pelo menos, duas versões para o nascimento da música.

Uma diz que a marcha foi lançada por ocasião da “Festa da Mocidade”, em outubro de 1934, não obtendo nenhum sucesso. Teria ganhado o segundo prêmio da prefeitura do então Distrito Federal, para o Carnaval de 1935.

De acordo com o “Dicionário Universal de Curiosidades”, foi o escritor Coelho Neto quem primeiramente denominou o Rio de Janeiro como “cidade maravilhosa”, num artigo publicado em 1908, no jornal “A Notícia”, onde enaltecia as belezas e os contornos da cidade. É possível que André Filho tenha se inspirado nessa crônica para criar a marcha que não só representou um dos grandes sucessos de 1935, mas se tornou o Hino Oficial da Guanabara (hoje Rio de Janeiro).

Aurora Miranda gravou a canção por sugestão de sua irmã, Carmen, que pretendia lançá-la no cenário artístico e no meio radiofônico. Carmen passou a incluir Aurora em todos os seus shows e no coro de suas gravações.

Quando o compositor André Filho mostrou-lhe a música “Cidade Maravilhosa”, Carmen também achou que aquela seria uma oportunidade de ouro para a irmã. André concordou imediatamente e gravou a marchinha, acompanhando Aurora.

 

 

Em outra versão de sua origem, o hino da cidade do Rio de Janeiro é chamado de “Cidade Maravilha”, o epíteto para a cidade usado pela escritora francesa Jane Catulle Mendès em seu livro de poemas “La Ville Merveilleuse”, publicado em Paris, em 1913, como uma homenagem às suas belezas naturais.

O título foi adotado num programa radiofônico de grande sucesso, apresentado por Cesar Ladeira, onde este lia as “Crônicas da Cidade Maravilhosa”, escritas pelo futuro imortal da Academia Brasileira de Letras, Genolino Amado.

No mais, tudo igual à primeira versão: André mostra a Carmen que sugere que a música seja interpretada por sua irmã, Aurora.

Polêmica pelo hino

O Rio esteve perto de perder seu hino em fins de 1967, quando o deputado Frederico Trotta apresentou um projeto, sugerindo à Assembleia a criação de um concurso para a escolha de um novo, em substituição a Cidade Maravilhosa.

O nobre deputado argumentava que a marcha tinha “música alegre, balanceante, carnavalesca e irreverente para o ritual de solenidades sérias e imponentes, às quais se torna forçoso o comparecimento de autoridades e personalidades notórias.

Registre-se que, com a criação do estado da Guanabara, “Cidade Maravilhosa” foi oficializada como “marcha oficial da cidade do Rio de Janeiro”, por meio da Lei nº 5, de 05 de maio de 1960.

O povo carioca protestou contra a ideia do parlamentar. Quando começou a tramitar o projeto do Trotta, no início de 1968, diversos articulistas e artistas, como Aracy de Almeida, Fernando Lobo e Grande Otelo vieram a público manifestar sua indignação.

Finalmente, em agosto de 1968, o presidente da Assembleia voltou atrás e sancionou a lei que restituía “Cidade Maravilhosa” à condição de hino oficial da cidade.

André Filho confessou depois, em 25 de setembro do mesmo ano que era também o autor de marchas que homenageavam outras duas cidades: Cambuquira (Cidade Morena, hino oficial); e Buenos Aires (Ciudad em Sueno). André Filho disse ainda que, por amor ao Rio, recusara-se a fazer uma marcha para Brasília.

O compositor foi autor de cerca de uma dúzia de músicas, algumas de relativo sucesso, mas nada que se comparasse à magistral “Cidade Maravilhosa”.

É pretensão da série apresentar os casos – não são poucos – de compositores, que ao longo da carreira fizeram dezenas de canções, mas apenas uma alcançou um sucesso arrebatador. Este é o caso de André Filho, por conta de Cidade Maravilhosa. É o caso do mecânico Otávio de Souza, com “Rosa’, em parceira com Pixinguinha. É, aliás, o contrário de Dorival Caymmi, que fez “poucas”, mas todas obras-de-arte. Por isso, embora não se comparem fama/sucesso, não posso deixar de reproduzir aqui “Filosofia”, de Noel Rosa, que tem, vejam bem, André Filho, como parceiro.

 

 Semana que vem, tem mais…


Megaphone do Quincas terça, 15 de agosto de 2017

ASA BRANCA, HINO NACIONAL DO NORDESTE

Asa Branca: 70 anos

O pernambucano Luiz Gonzaga e o cearense Humberto Teixeira compuseram “Asa Branca”, há 70 anos. A história deste hino só se renova. A primeira gravação, de 03 de março de 1947, pela RCA, é impecável, na voz de Gonzagão.

Antes de iniciar o artigo de hoje, tive o cuidado de verificar nos arquivos de nosso “Besta Fubana” o que o portal-jornal já havia produzido neste ano especial sobre a matéria.

Sim, claro, como veículo que aborda de política a futebol, de economia a culinária, mas principalmente por ser a voz digital mais importante do país no que se refere a coisas da terra – Pernambuco, Nordeste -, registrando, descobrindo, compilando, traduzindo e explicando de onde vem tanta criatividade, inventividade e originalidade do artista nordestino, procurei não ser redundante.

O “Besta Fubana” tem mesmo o diferencial de trazer entre seus colaboradores, articulistas, caricaturistas, ensaístas colunistas, alguns grandes artistas que de punho próprio escrevem para o veículo, como Jessier, Xico Bizerra e outros da música, da poesia, do cordel, das artes plásticas, do repente, das danças e dos ritmos.

Entre os artigos que trataram já neste ano do septuagésimo aniversário do clássico está o do nosso pesquisador, estudioso e agitador cultural, o amigo Bruno Negromonte, que trouxe um delicioso compêndio de gravações de “Asa Branca”, cantadas em 7 línguas estrangeiras. Muito bom, Bruno….

Aqui, trago minha contribuição para essa efeméride, com três vídeos, que considero marcantes na trajetória da canção de Gonzaga e Teixeira.

A gravação original, de 1947; a versão com onomatopaicos de gemidos, do exílio de Caetano Veloso, em Londres, que imprimiu status internacional à obra de Gonzaga e Teixeira, em 1971; e a versão lapidada e completa da música, feita pelo Quinteto Violado, de 1972:

1 – Original

 

 

2 – Com Caetano

 

 

3 – E a do Quinteto Violado.

 

 

Eu também gosto muito de “A Volta de Asa Branca”, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas.

Noutro dia, a gente fala sobre isso.

Semana que vem, tem mais.


Megaphone do Quincas terça, 08 de agosto de 2017

MARLOS NOBRE, NOSSO ERUDITO, COM FREVOS, MARACATUS E CABOCLINHOS



Marlos Nobre, a erudição pernambucana

Em 2005, Marlos Nobre recebeu por unanimidade o importante Prêmio Tomáz Luís de Victoria, na Espanha. O consenso aconteceu pela primeira vez na história do prêmio.

Na entrega da distinção, foi lançado o livro “Marlos Nobre: El Sonido del Realismo Mágico”, de Tomás Marco, editado pela Fundação Autor de Madrid, 222 páginas.

Marlos Nobre de Almeida é pianista, maestro e compositor brasileiro, nasceu no Recife, em 18 de fevereiro de 1939. Foi o primeiro brasileiro a reger a Royal Phillarmonic de Londres, em 1990.

Entre outras orquestras conduziu a Orchesttre Philarmonique de l’ORTF, em Paris; a da Suisse Romande; a de Nice; a do Teatro Colon; a Sinfônica do México; a de La Habana, Cuba.

Ocupa, atualmente, a cadeira nº 1 da Academia Brasileira de Música.

O Regente:

A Flauta Mágica (abertura), Mozart – Orquestra Sinfônica do Recife

 

 

Uma das maiores contribuições de Marlos à música brasileira são suas obras inspiradas, relidas ou recriadas, a partir do imenso universo da música popular brasileira, notadamente a nordestina e mais fortemente, a pernambucana.

O Frevo nº 2

 

 

Este Frevo nº 2 foi escrito em homenagem aos 80 anos do escritor Ariano Suassuna, grande amigo de Marlos Nobre. Este vídeo registra a 1ª Audição Mundial desta 1ª versão da obra pelo compositor ao piano no Teatro de Santa Isabel, Recife, Pernambuco, X Festival Internacional de Musica VIRTUOSI, Dezembro 2007. Ariano estava na plateia.

O catálogo completo de Marlos Nobre alcança, no presente, um total de 246 obras, todas editadas por sua própria editora, a Marlos Nobre Edition.

Ocupou a direção musical da Rédio MEC (1971) e do Instituto Nacional de Música da Funarte (1976).

Aqui o caboclinho, em sua erudição:

Caboclinhos Opus 43/1 – Nº 1 do IVº Ciclo Nordestino para piano, Opus 43 em cinco partes: Caboclinhos, Cantilena, Maracatu, Ponteado e Frevo. – Pianista: Victor Asunción- no Santa Isabel – Recife, PE.

 

 

Entre 1985 e 1987 esteve na presidência do Conselho Internacional de Música da UNESCO, em Paris Depois, passou a dirigir a Fundação Cultural de Brasília, em 1988. Dirigiu a Fundação Cultural do Distrito Federal entre 1986 e 1990.

Marlos Nobre recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais. Foi condecorado com a Medalha do Mérito Cultural de Pernambuco e a de Oficial da Ordre des Arts e des Lettres da França.


Megaphone do Quincas terça, 01 de agosto de 2017

LEVINO FERREIRA, UM DOS PRIMEIROS MESTRES

 

Levino Ferreira, um dos fundadores do frevo

Embora seja um dos fundadores do frevo, Levino Ferreira escreveu sua grande obra: “A Dança do Cavalo Marinho”, por volta de 1940, feita especialmente para a Orquestra Sinfônica do Recife. A obra tornou Levino famoso no mundo inteiro.

Considerada música erudita, de tema do folclore pernambucano, foi apresentada pela Grande Orquestra da P.R.A.- 8, dirigida por Felipe Caparrós, pela BBC de Londres e pela Orchestre Symphonique International, em Paris, 1958, sob a regência do maestro Mário Câncio.

A Dança do Cavalo Marinho, de Levino Ferreira, Orquestra Jovem da Universidade Federal da Paraíba, regência de Guedes Peixoto

 

 

O Maestro Levino nasceu no dia 2 de dezembro de 1890 (morreu em janeiro de 1970, no Recife), numa modesta casa da antiga rua da Lama, na cidade de Bom Jardim – terra dos Pau d’arcos, berço natal de grandes musicistas – em Pernambuco.

Aos oito anos de idade, Levino Ferreira da Silva começou a apresentar-se na banda do maestro Tadeu, tocando trompa. Mais tarde aprendeu a executar outros instrumentos de sopro e todos os instrumentos da banda, passando a substituir automaticamente qualquer componente que faltasse aos ensaios ou apresentações.

Em 1910, com 20 anos de idade e já reconhecido como exímio instrumentista, transferiu-se para a cidade de Queimados, atualmente Orobó, em Pernambuco, para assumir o cargo de mestre da banda da cidade. Atuou ainda na mesma década, como mestre da banda ‘Vinte e Dois de Setembro’, recebendo em decorrência disso diversos convites para organizar e dirigir bandas no interior de Pernambuco.

Nesse período começou a compor músicas para o carnaval, embora não apresentasse ainda as influências do frevo. Em 1919, fez sua primeira viagem a Recife. Durante toda a década de 1920 e até meados da década seguinte, apresentou-se em festas e dirigindo bandas, como a de Limoeiro. Já no começo da década de 1930, suas composições começaram a se tornar conhecidas em Recife, uma vez que eram editadas pela ‘Casa de Música Azevedo Júnior’.

Em 1935, aos 45 anos, a convite do maestro Zumba, mudou-se para Recife. No mesmo ano, teve seu frevo “Satanás na onda” escolhido como vencedor do Concurso de Frevos do Recife, sendo, em seguida, gravado pela Orquestra Odeon. Seus frevos passaram a ser cantados por quase todos os blocos e clubes carnavalescos da capital. Passou a ser conhecido como ‘Maestro Vivo’.

Em 1937, teve sua composição “Diabinho de saia” gravada para o carnaval pela Orquestra Diabos do Céu. Trabalhou em diversas rádios recifenses, fazendo parte da Orquestra da Rádio Clube de Pernambuco e da Orquestra Sinfônica do Recife. Integrou ainda o conjunto Ladário Teixeira, do maestro Felinho, como saxofonista e trompetista. Foi escolhido pelos fundadores do Centro da Música Carnavalesca de Pernambuco como patrono do Museu do Frevo que recebeu o seu nome. Em 2007, “Mexe com tudo” foi incluída no DVD “Passo de anjo ao Vivo”, gravado pela mesma orquestra, no Canecão (RJ).

Em janeiro de 2008, teve dois de seus frevos relançados pela ‘Spok Frevo Orquestra’, no CD “Passo de anjo ao vivo”, gravado ao vivo no Teatro Santa Isabel, na cidade de Recife: “Último dia”, que contou com a participação especial de Armandinho Baiano, e “Lágrima de folião”, que teve a participação de Léo Gandelman.

“Mexe com Tudo”, – Orquestra Spok em Montreux

 

 

Viveu e morreu pobre, deixando como única e inalienável riqueza toda sua obra composta de Valsas, Frevos, Maracatus, peças folclóricas e religiosas, que, para desgosto de todos, não conhecemos a sua totalidade.

 

Capa de disco de Levino

Concluo com relato de nosso companheiro fubânico Leonardo Dantas Silva.:

 

 

Último Dia, com maestro Duda

“Numa manhã de verão, levado por João Santiago, eu conheci o Mestre Vivo. Morara no Cordeiro e me pareceu uma figura simples, conversando com um tom de ironia em suas observações.

Era um tipo mulato baixo, mais para gordo, tinha a camisa por fora das calças, trazia no rosto as marcas da varíola e usava um chapéu de massa, mesmo dentro de casa, complementando assim o tipo comum do nosso homem da Zona da Mata.

Estava diante do Rei do Frevo! O lendário Mestre Vivo!

Ninguém foi maior do que Levino Ferreira da Silva, no gênero frevo de rua. Nisso, concordam outros nomes de nossa música, como Capiba, Luiz Bandeira, José Menezes, Edson Rodrigues, Mário Mateus, Mario Guedes Peixoto, Ademir Araújo, Duda e uma infinidade de outros monstros sagrados de nosso frevo instrumental.

Mestre Vivo – Levino Ferreira passa a ser conhecido pelo apelido, que na versão do próprio maestro surgiu assim: ‘Era mestre da banda de música de Limoeiro, quando sofreu um ataque de catalepsia. Tomado por morto, com respiração imperceptível, seu corpo foi colocado num ataúde, ao mesmo tempo em que a comoção tomava conta da cidade e das redondezas.

Tarde da noite, quando familiares e amigos pranteavam seu desparecimento, eis que o morto voltou a si e, sentando-se no caixão exclamou: – Minha gente querem me enterrar vivo!. Ao susto do início, seguiu-se a alegria, o velório transformou-se em Carnaval e um apelido marcou o episódio: ‘Mestre Vivo’”.

Semana que vem, tem mais.

Fontes: O Nordeste; Overmundo (Abílio Neto); Dicionário Ricardo Cravo Albin; Wikipedia.


Megaphone do Quincas terça, 25 de julho de 2017

RILDO HORA, MESTRE DA GAITA, COMPOSITOR E PRODUTOR



Rildo Hora, mestre da gaita ou do realejo, como dizemos no Recife

A gaita de boca (realejo) – não confundir com a gaita gaúcha – talvez tenha recebido mais atenção desde que Bob Dylan recebeu, ano passado, o Prêmio Nobel de Literatura. Afinal, o poeta americano, tocador de violão, auxiliado por uma gaita afixada acima do instrumento de cordas, fez a pequena harmônica tornar-se conhecida em todo o mundo, via country.

Rildo Hora é um dos maiores talentos brasileiros no instrumento. É apontado pelos colegas gaitistas (inclusive Toots Thielemans) como um dos principais instrumentistas em atividade.

Possui CDs lançados no Brasil e nos EUA. No show “Espraiado”, Rildo apresenta clássicos da MPB com arranjos que transitam entre o erudito e o popular. No repertório, canções próprias e de compositores como Milton Nascimento, Tom Jobim, Edu Lobo e Toots Thielemans.

“O Ovo” (Hermeto Pascoal), com Rildo Hora, gravado em 1987

 

 

Rildo Alexandre Barreto da Hora nasceu em Caruaru-PE, em 20 de abril de 1939 (78 anos). É gaitista, violonista, cantor, compositor, arranjador, maestro e produtor musical.

Seu pai, Misael Sérgio Pereira da Hora, alagoano, foi dentista, e a mãe, Cenira Barreto Hora, pernambucana, foi sua primeira professora de teoria musical e piano.

Em 1945, mudou-se com a família para a cidade do Rio de Janeiro, indo morar no subúrbio carioca de Madureira.

Aos seis anos de idade, interessou-se por harmônica de boca. Autodidata, passou a estudar o instrumento, mesmo sem mestre. Desenvolveu a sua técnica tocando frevos e choros que ouvia no rádio.

Estudou harmonia, contraponto e composição na Escola de Música Pró-Arte com o maestro Guerra Peixe, que escreveu especialmente para ele “Suite quatro coisas”. Teve aulas de violão com Meira e com Oswaldo Soares e freqüentou outros cursos no Centro de Estudos Musicais.

Ainda criança, frequentava o botequim do seu João Valentim e o bar do Nozinho, próximos à sua casa, em Madureira, apreciando o samba dos mestres Candeia, Waldir 59, Chico Santana, Alvaiade e Manacéa, entre outros da Portela.

Aos 11 anos, tocava em festas populares pelos subúrbios do Rio de Janeiro. Apresentou-se na Rádio Mayrink Veiga, no Programa Trem da Alegria, comandado pelo “Trio de Osso” (Lamartine Babo, Heber de Boscoli e Iara Sales). Nesta época, conheceu o violonista Mão de Vaca (Manoel da Conceição) e apresentou-se no programa “A Hora do Pato”, na Rádio Nacional, passando a frequentar a emissora.

Adulto, em 1961, quando trabalhava na Boate Carioca ‘Cangaceiro’, compôs com Clóvis Melo “Canção que nasceu do amor”, lançada por Cauby Peixoto e regravada mais tarde por Elizete Cardoso.

No ano seguinte Alaide Costa gravou, dele e Gracindo Junior, “Como eu gosto de você”, com arranjo de César Camargo Mariano. Acompanhou Elizete Cardoso, como violonista, em shows por todo o Brasil de 1965 a 1967.

A partir do ano de 1968 passou a trabalhar como produtor musical, a convite de Geraldo Santos, na gravadora RCA. Sua primeira produção foi o LP ‘Música Nossa’, seguida dos discos de Antonio Carlos e Jocafi, João Bosco, Martinho da Vila e Maria Creuza. A partir daí foi estudar harmonia, contra ponto e composição com o maestro Guerra Peixe.

“Visco de Jaca” (Rildo Hora e Sérgio Cabral), com Céu

 

 

 

Em 1973, participou como gaitista, da gravação do LP “Pérola Negra”, de Luiz Melodia, na música “Estácio Holly Estácio”. No mesmo ano, foi produtor do LP “João Bosco”, disco de estreia do cantor e compositor mineiro.

Produziu em 1978 o disco “Tendinha” de Martinho da Vila, no qual se destacou o sucesso “Amor não é brinquedo” (Martinho da Vila e Candeia). Depois, fez Ataulfo Alves Júnior, “Velha-Guarda da Portela” e “Os Meninos da Mangueira”, estas últimas compostas com Sérgio Cabral (pai).

Último Desejo, de Noel Rosa – Maysa e Rildo Hora

 

 

Em 1987, executou na Sala Cecília Meireles, no Rio, o “Concerto para Harmônica e Orquestra”, de Villa-Lobos, sob a regência do maestro Davi Machado. Em 1988, interpretou a “Suíte quatro coisas” de Guerra Peixe, escrita e orquestrada especialmente para ele. Desde então, trabalhou com vários artistas brasileiros tais como: Martinho da Vila, Mariza Rossi, Luiz Gonzaga, Jair Rodrigues, Carlos Galhardo, Vicente Celestino, Clara Nunes, Maria Creuza, Chiquinho do Acordeom, entre outros.

Em 1992, lançou o CD “Espraiado”, pela gravadora “Caju Music”, no qual interpretou “Cabriola”, “Pipoca no fogo”, “Chorinho nervoso pro Hermeto Pascoal”, “Cóe, cóe”, todas de sua autoria, e ainda “A implosão da mentira ou o episódio do Riocentro”, “Canção que nasceu do amor”, além da faixa-título, “Espraiado”. O disco contou ainda com uma composição de seu filho Misael, “Baião de flor”.

Distribuído nos Estados Unidos pela etiqueta Milestone, foi incluído pela crítica americana entre os 10 melhores discos de jazz latino.

Em 1998, a gravadora “Visom” compilou dois CDs de sua autoria, pela série “Virtuoso”, a saber: “Rildo Hora e Cia. de Cordas” e “Rildo Hora e Romero Lubambo”. Fez a produção do primeiro disco solo de Walter Alfaiate, pela gravadora Alma.

Lançou no ano de 2000 o “Casa de samba volume 4”, com a Velha Guarda da Portela e Alcione, Dudu Nobre e João Bosco, Noite Ilustrada e Cássia Eller, entre outras duplas inusitadas.

Em 2001, fez a produção do disco “Chorinho” para a gravadora alemã Teldec. Deste disco participaram Altamiro Carrilho, Carlos Malta, Sivuca, Henrique Cazes, “Época de Ouro”, Pedro Amorim, Joel Nascimento, Maria Teresa Madeira e Ademilde Fonseca.

Semana que vem, tem mais..


Megaphone do Quincas terça, 18 de julho de 2017

SEVERINO ARAÚJO - ORQUESTRA TABAJARA

Maestro Severino Araújo

A rigor, em país que guarda sua memória e zela por seus grandes valores, essa introdução seria desnecessária.

Por mim, reproduziria duas ou três grandes execuções da orquestra, regida por Severino Araújo, quem sabe lembrando “Espinha de Bacalhau”, “Nivaldo no Choro” e outros.

Desconfiando que muita gente desconheça sobre o que falo, vou descrever alguns dados para situar nossos leitores.

A Big Band (americana) ou Orquestra (Brasil) pode ser dividida em antes e depois de Severino Araújo e a Orquestra Tabajara.

Espinha de Bacalhau (Severino Araújo), com Orquestra Tabajara

 

 

Nascido em Limoeiro-PE, em 1917, morreu no Rio de Janeiro, em agosto de 2012 (95 anos). Foi músico, compositor, maestro e clarinetista.

Foi regente por cerca de 70 anos da Orquestra Tabajara, que assumiu aos 21 anos de idade. Eu disse 70 anos à frente da banda.

Um dos pioneiros na fusão de elementos do jazz e do choro na música brasileira, além de ter criado arranjos para Big Band de músicas dos mais variados ritmos, Severino começou a estudar com o pai, José Severino, conhecido como mestre “Cazuzinha”, que era mestre de banda militar e também dava aulas de música.

Em 1936, Severino Araújo foi para a Banda da Polícia Militar da Paraíba como primeiro clarinetista e a partir daí começou sua vida profissional. Um ano depois, compôs seu mais famoso choro: “Espinha de Bacalhau”, um dos mais executados no Brasil e no exterior e considerado peça de primeira linha. Agora, com o “Sujeito a Guincho”:

 

 

Substituiu o maestro Olegário de Luna Freire, com a morte deste, em 1938. Em agosto de 1944, foi para o Rio de Janeiro, a convite de Assis Chateaubriand.

Entre as suas mais de 50 composições, as mais conhecidas são: Espinha de Bacalhau, 1937; Gafanhoto Manco, 1937; Um Chorinho Modulante, 1937; Mumbaba, 1943; Um Chorinho Delicioso, 1947; Um Chorinho pra Você, 1947; Simplesmente, 1948; Mirando-te, 1950; Além do Horizonte, 1952; Pensando em Você, 1953; Um Chorinho em Montevidéu, 1955; Nivaldo no Choro, 1956.

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Megaphone do Quincas terça, 11 de julho de 2017

DUPLAS SERTANEJAS DE ANTANHO

DUPLAS SERTANEJAS D'ANTANHO

Fábrica de músicas duvidosas

A coisa esquentou mesmo foi esse ano. A rinha vinha fervendo de outros são joões, mas em 2017 a pirotecnia foi maior.

A questão é muito mais antiga e profunda do que se apresenta hoje. Qualquer música regional pode e tem o direito de ser assimilada por outros rincões.

Os dois processos mais conhecidos são: o natural reconhecimento popular e a demanda espontânea por artistas que estão bombando; e a famosa máquina de criar duplas, ídolos, mitos, por meio do velho jabá e dos atuais centros de fabricação de sertanejos, que entram numa linha de montagem – geralmente no Centro-Oeste, Paraná e Interior de São Paulo – destinada a transformar porcaria em algo palatável.

O raciocínio vale para o sabão em pó, Bombril e a música romântica universitária sertaneja – ou como queiram rotulá-la. Por qualquer três ou quatro milhões (cash), dois irmãos bonitinhos, dupla com, no máximo uma voz afinada, o molde, o modelo, o empresariadismo, os acordos comerciais de presença em tudo que é canto ao mesmo tempo e a badalação. Nós, pobres cristãos, de tanto ouvir onipresentemente esses mantras nos flagramos a cantar “Fio de Cabelo” e até “É o amor”, exceções num cancioneiro insosso e padrão.

Neste último São João, a discussão voltou, de novo, à baila e Caruaru-PE e Campina Grande-PB, mecas das festas juninas do Nordeste, disputaram à ponta de faca quem traria mais atrações como “Mariulza e Marielza”, Marília Mendonça – nova musa – e os tradicionais e indigestos, que me permito aqui omitir.

Concorrência desleal, como sentar em cima do disco do outro para quebrar (como me ensinou o amigo Pelão), comprar o espaço do sucesso na mídia e implantar um chip de lavagem cerebral nos desatentos, já é prática de muito tempo. No fundo, a estrutura mental é a mesma: destruir a cultura alheia e assentar em cima os seus fakes, para angariar dividendos.

Esse assunto me dá náuseas, como diria o procurador. Apenas para não deixar batido, mostro aqui dois momentos mais originais e mais antigos desse gênero que até gostava de ouvir. Tire-se desse libelo, por favor, a linhagem representada por Inezita e tantos outros craques.

Venâncio e Corumba – “Chuleado da Vovó” – Bem Brasil – 1982

 

 

Venâncio e Corumba nasceram no Recife, em Pernambuco, sendo autores também, de, entre outros sucessos de “Último Pau de Arara”.

Milionário e Zé Rico

A Estrada da Vida – Milionário e Zé Rico

 

 

O mineiro Milionário e o pernambucano Zé Rico (já falecido) foram motivo de dois filmes, um dos quais “A Estrada da Vida”, de Nelson Pereira dos Santos.

Semana que vem, tem mais.


Megaphone do Quincas terça, 04 de julho de 2017

CAPIBA, PARA ALÉM DOS GRANDES FREVOS

 

Quem ler, de relance o nome de Capiba aí em cima no título, poderá dizer: “ah, esse eu já conheço, eu quero é novidade”…

 

Em primeiro lugar, não há dúvida que o maior compositor pernambucano é eterno e, portanto, será sempre uma novidade, com fundadas tradições.

O disco que Raphael Rabelo produziu e executou pouco tempo antes de morrer tão precocemente, é prova nacional do interesse pelo nome e pelo legado musical.

Aqui, entre nós, fubânicos, é bem possível, que essa frase soe repetitiva, porém muito além dos grandiosos frevos “Ó Bela”, “De Chapéu de Sol Aberto” ou “Madeira de Lei que Cupim não Rói”, mas entre os não tão fubânicos assim talvez poucos conheçam as belíssimas valsas, sambas-canção e boleros que ele fez.

Como aqui assumo a condição de também registrar os dados básicos de todos os homenageados, lá vai: Lourenço da Fonseca Barbosa (Capiba) nasceu em Surubim, em 28 de outubro de 1904, encantando-se em 31 de dezembro de 1997, no Recife, aos 93 anos.

Maria Bethânia – Com Nelson Gonçalves e Caetano Veloso

 

 

“Cais do Porto”, com maestro Guerra Peixe e Orquestra e “Titulares do Ritmo”, nos vocais

 

 

Lourenço da Fonseca Barbosa (Capiba), 1904-1997

Capiba era aquele cara que, quando numa roda de bar, surgia o ranking dos maiores compositores do Brasil, sacava-se do Sul, Lupicínio Rodrigues, da Bahia, Dorival, do Rio, Noel ou Tom, de São Paulo, Adoniran e Geraldo Filme, entre os capixabas, Roberto Carlos, do Maranhão, Catulo da Paixão Cearense, do Piauí, Torquato Neto, do Ceará, o Pessoal, incluindo Belchior e assim por diante.

Capiba é patrimônio musical pernambucano e nacional, título outorgado por aquelas que apreciam a boa melodia, músicos, estudiosos e historiadores.

Apesar de seu ecletismo, ficou conhecido mesmo como o maior compositor de frevos do Brasil.

A Mesma Rosa Amarela (Capiba/Carlos Pena Filho), com Maysa

 

 

Capiba nasceu em uma família de músicos – seu pai, Severino Atanásio foi maestro da Banda Municipal de Surubim e, aos oito anos já tocava trompa. Ainda pequeno, mudou-se com a família para a Paraíba. Lá, ainda criança trabalhava como pianista em cinemas.

Chegou a jogar como zagueiro no Campinense, time de Campina Grande-PB, porém abandonou os gramados e aos 20 anos gravou seu primeiro disco, com a valsa “Meu Destino”. Era torcedor declarado do Santa Cruz, do Recife.

Com 26 anos, mudou-se para o Recife. Aprovado em concurso, tornou-se funcionário do Banco do Brasil, o que lhe rendeu sustento financeiro e permitiu tempo para aprimorar-se como músico.

Em 1938, concluiu o curso da Faculdade de Direito do Recife, mas nunca apanharia o diploma e nunca seguiu carreira.

Em 1950, funda a Jazz Band Acadêmica e, com Hermeto Pascoal e Sivuca e cria o trio “O Mundo Pegando Fogo”.

Semana que vem tem mais.


Megaphone do Quincas terça, 27 de junho de 2017

MOACIR SANTOS - III

O maestro e sua big-band americana, Moacir Santos Band, na Califórnia, em 1970

Neste terceiro e último artigo sobre Moacir Santos, tomei a liberdade de reproduzir excelente material da Enciclopédia Itaú Cultural sobre o assunto. Diz o texto:

Assim como outros maestros do rádio, entre os quais Radamés Gnattali e Lyrio Panicalli, Moacir Santos produz uma obra na fronteira entre a música popular e a erudita. Obrigado a dominar os diferentes estilos orquestrais em voga nos anos 1940 e 1950, do jazz ao folclorismo sinfônico, passando por ritmos latinos como a rumba e o merengue e por gêneros brasileiros, como o samba, a marcha e o choro, ele desenvolve um estilo eclético.

Tamanha versatilidade transparece tanto em seus arranjos como em suas composições, áreas que se confundem em sua obra.

Após duas décadas de profícua atuação como orquestrador e maestro, Santos vê seu campo de trabalho diminuir sensivelmente na segunda metade dos anos 1960, quando o desaparecimento das orquestras de rádio e TV, somado à valorização da canção com letras de cunho político na cena musical brasileira pós-1964, reduz o espaço para a música instrumental no país.

Nesse contexto, ele integra o grupo de músicos que, ligados à Bossa Nova ou ao samba-jazz (gêneros considerados “alienantes” num meio musical fortemente politizado), seguem carreira na Europa e, principalmente, nos Estados Unidos, como Naná Vasconcelos, Baden Powell, Sérgio Mendes, João Donato, Airto Moreira e a cantora Flora Purim.

Gravado num momento em que o compositor já atingira a maturidade, o álbum Coisas (1965), considerado um marco na música instrumental brasileira, sintetiza as principais características da obra de Moacir Santos. A começar pela valorização da cultura negra, perceptível tanto na atenção dispensada pelo compositor à percussão, com a incorporação de instrumentos pouco usuais (como berimbau, kalimba, atabaque, agogô e afoxé), como na invenção de uma base rítmica original, ligada a matrizes africanas.

Sou Eu (Moacir Santos/Nei Lopes) cantaVirginia Rodrigues e Tiganá Santana

 

 

Nesse sentido, o uso de deslocamentos rítmicos e métricos, hemíolas e polirritmias constitui um gesto deliberado para que sua música “soe negra”, efeito igualmente obtido no plano melódico-harmônico por meio do emprego de escalas modais e da ambiguidade no uso das terças – ora maiores, ora menores.

Vale destacar que, ao “africanizar” a música brasileira, Santos age em sintonia com iniciativas semelhantes ocorridas na época: no mesmo ano do lançamento de Coisas, Elizeth Cardoso grava um disco só com sambas de morro (Elizeth sobe o morro), pondo em evidência a negritude da música brasileira; no ano anterior, são lançados Samba Esquema Novo, de Jorge Ben, e Tem “Algo Mais”, de Wilson Simonal, e Hermínio Bello de Carvalho revela Clementina de Jesus, com seu repertório repleto de cantos de escravos e pontos de macumba; no ano seguinte, Baden Powell e Vinícius de Moraes gravam seus Afro-sambas, inspirados no candomblé e na capoeira. Vinícius de Moraes, aliás, é um dos precursores da valorização musical da cultura afro-brasileira, ao conceber, em 1956, a “tragédia negra carioca” Orfeu da Conceição.

 

 

Além da valorização da cultura afro-brasileira, a obra de Moacir Santos se caracteriza ainda por certo hibridismo, em que ritmos regionais cariocas ou nordestinos (como o samba, o xaxado, o coco, o baião e o maracatu) são reelaborados de maneira singular, por meio de levadas oriundas do jazz, dos gêneros latino-americanos e da música de concerto brasileira ou internacional.

Embora “Coisas” seja comumente classificado como um álbum de samba-jazz, suas músicas dificilmente se enquadram nesse gênero, pois não seguem sua estrutura padrão, nem se atêm a seus cânones rítmicos (também chamados de “levadas”). Segundo Zuza Homem de Mello, o disco “não se encaixa em nenhum estilo da música popular brasileira de sua época”, dialogando com diferentes tradições.

Foi com este trecho da Enciclopédia Itaú que resolvemos encerrar nossa série-homenagem a Moacir Santos.

Ah, um bônus, coisa linda:

 

 

Aproveitem. Até a semana que vem.


Megaphone do Quincas quarta, 21 de junho de 2017

MOACIR SANTOS II - NOSSO GENIAL MAESTRO

Busto do compositor Moacir Santos, inaugurado em março de 2011, erguido em praça à margem do Rio Pajeú,

em Flores, sertão de Pernambuco. A obra apresenta falta de manutenção, e vem se deteriorando.

 

Nascido em 26 de julho de 1926, em Flores, cidade lindeira ao rio Pajeú, em Pernambuco, Moacir José dos Santos ficou órfão de mãe, Julita, aos 3 anos. Morreu em 2006, aos 80 anos, na Califórnia.

Perder a mãe, ainda tão cedo, só agravou a sobrevivência dos quatro irmãos – três meninas e um menino. O pai de Moacir, José, abandonou o seio familiar para aderir a uma Força Volante que empreendia caçada ostensiva a Lampião.

Entregues à própria sorte, os irmãos foram adotados por famílias de Flores. A guarda de Moacir ficou sob a responsabilidade de sua madrinha Corina. Depois, foi tutelado pelas famílias Lúcio, aos cuidados da filha Ana, moça solteira que o colocou na escola e permitiu sua proximidade com a banda musical da cidade.

Autodidata, nos intervalos dos ensaios, Moacir aprendeu a tocar vários dos instrumentos usados pelos músicos. Aos 10 anos já lidava com trompa, saxofone, percussão, clarineta, violão, banjo e bandolim.

Aos 14 anos, sentindo-se uma espécie de escravo da família Lúcio, embora Ana Lúcio tenha lhe assegurado boa formação, Moacir já gozando de prestígio local em apresentações musicais como “Neguinho de Flores”, tomou a decisão de fugir de casa e peregrinar pelo sertão nordestino, em mais de uma dezena de cidades.

Coisa nº 5 – (Nanã), Moacir Santos e Mario Telles, canta Céu, 2007

 

 

Depois de um roteiro de incertezas e privações – ele chegou a passar fome e dormir na rua – resolveu ir para o Rio de Janeiro, no início de 1948, com a mulher Cleonice. Ali cessaram suas piores privações.

Este artigo conta com a imprescindível boa parte dos dados da biografia “Moacir Santos, ou os caminhos de um músico brasileiro” (editora Folha Seca), da flautista e pesquisadora Andrea Ernest Dias.

O trabalho em que apoio esta coluna persegue a trajetória internacional de Moacir, mas também retrocede às suas décadas de formação, entre os anos 1930 e 1940. Mostra uma história de altivez e superação que beira o inverossímil, tamanhas as agruras enfrentadas pelo adolescente Moacir, dos 14 aos 18 anos.

Seu depoimento ao Museu da Imagem e do Som, no Rio de Janeiro, em 1992, ajudou bastante a refazer sua caminhada.

Sou Eu (Luanne), de Moacir Santos/Nei Lopes, canta Moacir Santos.
No
 trombone Frank Rosolino

 

 

Moacir consagrou-se como um dos maiores compositores e arranjadores populares da música instrumental mundial. Seus quatro álbuns americanos – três pela Blue Note (The Maestro, de 1972; Saudade, de 1974 e Carnival of Spirits, de 1976) e um pela Discovery Records (Opus 3, nº 1, de 1979), não deixam dúvidas do do legado grandiloquente deixado pelo maestro nascido em berço humilde em pequena cidade do interior de Pernambuco.

Semana que vem mais coisas para nós…


Megaphone do Quincas terça, 13 de junho de 2017

MOACIR SANTOS I - DO PAJEÚ PARA A MÚSICA MUNDIAL

Moacir Santos: genial artista pernambucano, quase um desconhecido, 

ante a obra e talento monumentais

Quando João Bosco apresentou para amigos músicos, ali pela metade dos anos 1960, alguns trabalhos do maestro Moacir Santos, a reação foi uma só: “não nos perdoamos por não tê-lo conhecido antes”.

No meu caso pessoal, tive a mesma reação ao conhecê-lo somente há 15 anos. Se fosse mais atento não teria deixado passar a quase sutil citação de Vinícius de Moraes, em parceria com Baden Powel, no “Samba da Bênção”, de 1965. Ali, um verso já bradava alto e bom som: ”A bênção, maestro Moacir Santos, que não és um só, és tantos, tantos como meu Brasil de todos os santos”.

Embora já contasse com admiradores tão ilustres e um primeiro álbum arrebatador – “Coisas” – também lançado em 1965, Moacir Santos – pernambucano da região do Pajeú – não viu grandes perspectivas de trabalho em seu próprio país e migrou para os EUA, em 1967.

 

 

“Coisa nº 1”, do Álbum “Coisas”, Moacir Santos/Clovis Mello, lançado em 1965, pelo selo Forma e produzido por Roberto Quartin

As peças “Coisas” vão de 1 a 10, mas são dispostas em seu disco original fora de ordem. O LP foi eleito em uma lista da versão brasileira da revista Rolling Stones como o 23º melhor disco brasileiro de todos os tempos.

Nas três décadas seguintes, o maestro seguiu praticamente anônimo para a maioria dos brasileiros. Felizmente, desde a redescoberta de “Coisas”, em 2001, por meio do projeto “Ouro Negro”, Moacir tem sido cada vez mais absorvido pelos artistas jovens.

Idealizado pelo maestro Mario Adnet e o saxofonista Zé Nogueira, o projeto resultou num CD Duplo, em 2001, e um DVD, de 2005, de que falei acima.

Tanto um como outro tiveram participação de amigos e admiradores, como João Bosco, Djavan e Ed Motta. Somem-se a eles, outras iniciativas como lançamento de uma biografia e de outro álbum em homenagem ao maestro.

Sem falar na valorização de seu repertório por iniciativa de jovens músicos. Vamos ouvir, então, já do álbum novo “Ouro Preto”, a canção Oduduá, em parceria com Ney Lopes, com João Bosco:

 

 

Para alguns historiadores, como Zuza Homem de Mello, o longo hiato de invisibilidade talvez de justifique pelo vanguardismo de Moacir do que por sua partida para os EUA. Em 2005, no artigo “Coisas Afro-Brasileiras”, Zuza defendeu a tese: “Coisas é o mais desconcertante disco instrumental dos anos 1960. É natural que suas consequências ficassem para muito depois. Na obra do maestro, o primitivo encontra o futuro. O ontem o amanhã”.

Aqui, faço um registro para aplacar a curiosidade de tantos, que quanto eu, se perguntaram por que a maioria de suas músicas era tituladas como “Coisa nº 1”, “Coisa nº 2”, “Coisa nº-8”, etc.

A terminologia “coisa”, para 10 de suas principais peças, nada mais era do que a substituição de opus, que significa número. O próprio Moacir Santos explica no “DVD Ouro Negro”, de 2005, que, até pensou em opus, mas sua modéstia o levou a não se apropriar de termo tão ligado ao erudito, embora não negasse seu desejo de chegar a este patamar.

PS: Nei Lopes

Nascido no Rio de Janeiro, em maio de 1942, Nei Braz Lopes é compositor, cantor, escritor e estudioso das culturas africanas no continente de origem e na diáspora africana.

Notabilizou-se como sambista, principalmente em parceria com Wilson Moreira. Ligado ao Salgueiro e à Vila Isabel, é compositor desde 1972. Vem, desde os anos 90, esforçando-se para romper a barreira que separa o samba da chamada MPB, em parcerias com Guinga, Zé Renato e Fátima Guedes.

Participou do projeto musical “Ouro Negro”, em homenagem ao ilustre maestro Moacir Santos, escrevendo letras para cinco temas do homenageado, em canções como “Nação do Amor”, “Navegação”, “Sou Eu”, “Oduduá” e “Orfeu”.

Semana que vem mais coisas de Moacir….


Megaphone do Quincas terça, 06 de junho de 2017

BEZERRA DA SILVA - DOSE DUPLA

Bezerra da Silva: sambista, malandro, carioca típico, nascido no Recife-PE

Alguns dos maiores ícones artísticos, políticos, intelectuais e avulsos de vários países e regiões não são naturais do país ou local em que são ídolos.

O caso mais clássico que me vem à mente é de Carlos Gardel, o maior representante do tango e certamente o maior ícone da cultura popular argentina. Presume-se que nasceu em Paris; há quem garanta que é uruguaio de nascença, mas poucos se atrevem a negar-lhe a identidade nacional argentina.

Prefira-se, então, para evitar confusões, a formulação que ele mesmo fez para afastar-se dessa incômoda questão: “senhor Gardel, afinal, onde de fato o senhor nasceu”, perguntou o entrevistador. Rápido, como as nuances de um tango, disse “sou nascido na Argentina desde os 4 anos”.

Há o caso conhecido de Milton Nascimento, o mais mineiro das Alterosas. Nascido, porém no Rio de Janeiro.

Mas aquele que mais chamou a atenção foi Anthony Quinn, ator de mais de 150 filmes, entre os quais “As Sandálias do Pescador”, “Lawrence da Arábia” e “Zorba, o grego”, o belíssimo filme que colocou Quinn, ainda em 1964, no patamar dos grandes atores épicos.

À parte a ligação direta com o nome do filme, até bem pouco tempo tinha Quinn como grego mesmo, quem sabe, talvez, originário de algum dos países balcânicos, hoje Iugoslávia. Pois bem, Quinn é conterrâneo de Mario Moreno, o Cantinflas, portanto, um mexicano.

Mas essa coisa não chega a ser tão incomum assim, não. Quando quero zoar com os cariocas, afirmo que 3 (três) dos maiores sambistas do Rio são mineiros: Ataulfo Alves, João Bosco e Ary Barroso.

Nesta linha trago para a coluna de hoje um dos maiores e mais originais sambistas cariocas. Da linhagem de Moreira da Silva e Dicró, Bezerra da Silva compôs um álbum parodiando os três tenores – Pavarotti, Carreras e Placido Domingo.

Ok, Bezerra da Silva é mesmo patrimônio do samba de partido alto, do fundo de quintal e do bom pagode do Rio de Janeiro.

Pois bem, José Bezerra da Silva é sim um carioca da gema, nascido no Recife em 23 de fevereiro de 1927, falecendo no Rio, em janeiro de 2005.

Foi cantor, compositor, violonista, percussionista, oficialmente intérprete dos gêneros coco e samba em especial partido alto.

No princípio, dedicava-se a gêneros nordestinos, principalmente o coco, até se transformar num dos principais expoentes do samba.

Por meio do samba, cantou os problemas sociais encontrados dentro das comunidades, apresentando-se no limite da marginalidade e da indústria musical.

Bezerra da Silva estudou violão clássico por 8 (oito) anos e passou outros 8 (oito) anos tocando na orquestra da TV Globo, sendo um dos poucos partideiros que lia partituras.

Gravou seu primeiro compacto em 1969 e o primeiro disco em 1975. Lançou 28 álbuns em toda a carreira, que venderam mais de 3 (três) milhões de cópias. Ganhou 11 Discos de Ouro, 3 (três) de platina e um de platina duplo (?).

Apesar de ser um dos artistas mais populares do Brasil, foi praticamente ignorado pelo “mainstream”.

 

 

 

– Aos 15 de idade, depois de ser expulso da Marinha Mercante, Bezerra viajou ao Rio, com o objetivo de encontrar o pai (separado de sua mãe) e fugir da pobreza. Teria encontrado o pai, mais a relação não foi boa e acabou ficando sozinho.

Passou a trabalhar na construção civil, como pintor de paredes e tinha como endereço a obra na zona central do Rio. Pelos idos de 1949, foi morar com uma dona no Morro do Cantagalo, na Zona Sul.

Parece que Bezerra da Silva seria, hoje, muito atual

Juntamente com o trabalho de pintor, começou a desenvolver a verve musical, a partir do coco de Jackson do Pandeiro e logo ingressou na bateria do bloco carnavalesco “Unidos do Cantagalo”, tocando tamborim.

Boêmio e malandro foi detido dezenas de vezes pela polícia e acabou desempregado, em 1954. Durante muitos anos, viveu como morador de rua em Copacabana, quando chegou a tentar o suicídio.

Ligou-se a um terreiro de Umbanda e lá descobriu sua mediunidade. Sua mãe-de-santo teria lhe confirmado que seu destino era a música.

O sambista pernambucano foi tema do livro “Bezerra da Silva – Produto do Morro”, de Letícia Viana, lançado em 1998.

O cantor Marcelo D2 prestou-lhe uma homenagem, 2010, com o Álbum “Marcelo D2 canta Bezerra da Silva”.

Em 2012, foi lançado o documentário “Onde a Coruja Dorme”, de Marcia Deraik e Simplício Neto, que destaca os compositores de suas músicas, trabalhadores anônimos, que abordavam em suas letras temas da realidade brasileira como o malandro, o otário, o alcaguete, a maconha.

Foi casado com Regina de Oliveira, também sua empresária e até mesmo uma de sua compositoras, sob o pseudônimo de Regina do Bezerra. Antes de se fixar como grande nome do partido alto, Bezerra fez cocos como este:

 

 

 

Semana que vem, tem mais…..


Megaphone do Quincas terça, 30 de maio de 2017

ANTÔNIO MARIA II - FREVOS CLÁSSICOS COM DOSE DUPLA


Antonio Maria: em uma de suas moradas

Além de cronista, jornalista, caricaturista e produtor de rádio e tv, Antônio Maria também fez belíssimos frevos. Aqui, vou chamá-los de frevos de autoexílio, por entender que tais sentimentos descritos nas letras destas músicas só podem ser vividos por quem deixou o Recife para trás.

Vamos caminhar com Maria em seus primeiros passos, os grandes sucessos internacionais, a fama, e, o que me interessa hoje – mostrar aos leitores desta coluna, três frevos maravilhosos de Maria. Eis logo o primeiro:

Frevo nº 1, Antonio Maria, 1951, com Coral Madeira de Lei e Naná Vasconcelos 

 

O nosso personagem passou a infância entre o engenho do avô e o velho sobrado da cidade. Estudou piano e francês, No final da adolescência, já era amigo de vários compositores, a exemplo de Fernando Lobo, Arlindo Gouveia e Hugo “Peixa”. Enveredou pela boemia, passando a buscar os prazeres noturnos no “Cabaré Imperial” e num pequeno bar chamado Gambrínus.

Tornou-se locutor e apresentador de programas musicais na Rádio Clube de Pernambuco. Seu nome passou a se destacar ao lado de profissionais da época, como Nelson Ferreira, Helio Peixoto e Aloísio Pimentel.

Em 1940, foi trabalhar no Rio, como locutor esportivo na Rádio Ipanema. Em 1944, uma reviravolta, voltou para o Nordeste, casou-se com Mariinha Gonçalves Ferreira, e foi morar em Fortaleza, passando a trabalhar na Rádio Clube do Ceará. Além de Fortaleza, trabalhou em rádio na Bahia.

Em 1948, retornaria ao Rio, como diretor de produção da Rádio. Depois, com o mesmo cargo na TV Tupi, em 1951.

Antônio Maria não tocava instrumento algum. Costumava cantarolar as músicas e fazer as letras na medida em que criava as melodias. O seu primeiro frevo – intitulado Frevo nº 1 do Recife (trabalho integrante de uma série de cinco). Depois fez o número 2 o 3. Não consegui levantar a série de cinco a que se refere sua discografia. Vamos, então, ouvir o nº2:

Frevo nº 2, Antonio Maria, com Coral Madeira de Lei 

 

Compôs em parceria com dezenas de compositores, sendo chamado de “O Rei do Samba-Canção, entre as décadas de 1940 e 1950. Entre seus parceiros, estão Manezinho Araújo, Vinicius de Morais, Evaldo Gouveia, Moacir Silva, Paulo Soledade, Zé da Zilda, João Pernambuco, João Roberto Kelly e Luís Bonfá. Escreveu trilhas para “O Auto do Frade”, “Orfeu do Carnaval” e “Brasileiro: Profissão: Esperança”.

Capa de coleção da Abril com os maiores compositores da MPB

Além dos frevos que hoje estamos realçando, fez sucesso nacional e internacional com “Ninguém me Ama”, “Suas Mãos” e “Manhã de Carnaval”. Entre os maiores intérpretes Ângela Maria, Nora Ney, Aracy de Almeida, Emilinha Borba, Eliseth Cardoso, Jamelão. Agostinho dos Santos, Claudionor Germano e Luiz Bandeira. Frank Sinatra, Stan Getz e Nat King Cole também gravavam Maria. Vamos ao maravilhoso Frevo nº 3.

Frevo nº 3, de Antonio Maria, com Geraldo Maia

 

Amigos leitores, importante lembrar que estes três frevos são bastante conhecidos, cantados em várias versões e com diversos arranjos, ora puxando para o frevo de bloco, ora puxando para o frevo rasgado.

O número 1, por exemplo, tem uma belíssima versão, tocada originalmente no filme “Saravá”, de Pierre Baroucch, que apresenta Maria Betânia cantando o nº 1. Há porém, uma série de erros na letra, que na minha maneira de ver, não chegam a estragar a peça de Antônio Maria.

Preferi, no entanto, mostrar os frevos o mais fidedignamente, vez que eles já vêm metidos em outras confusões. Os frevos nº 1 (Ô,ô saudade, saudade tão grande etc) é costumeiramente confundido com o de nº 2 de Antônio Maria, que diz (“Ai que saudades tenho do meu Recife, da minha gente que ficou por lá”).

Para fechar o assunto, o nº 3, talvez o mais lírico é que introduz com (“sou do Recife com orgulho e com saudade, sou do Recife com vontade de voltar”). Vejo até mesmo cantores profissionais da noite do Recife trocarem os nomes. Por favor, gente….

Até semana que vem…..


Megaphone do Quincas terça, 23 de maio de 2017

ANTÔNIO MARIA - COM DOSE DUPLA

Antonio Maria: radialista, cronista, compositor

Confesso que Antônio Maria esteve mais presente na minha vida depois que me mudei para São Paulo.

As canções de autoexílio, representadas pelos frevos nº 1, 2 e 3 não me saíam da cabeça quando encarava os primeiros momentos – desafios – da grande metrópole paulistana.

No silêncio de casa, na solidão em multidões, embaixo do chuveiro ou fazendo trilha musical de instantes de alegria infinda ou, mais presentes, de saudades frequentes, o remédio eram os frevos de Maria. Quem de Pernambuco, estando fora, não cantou: “Sou do Recife, com orgulho e com saudades, sou do Recife com vontade de voltar”; ou “Ô, saudade, saudade tão grande, saudade que eu sinto do Clube das Pás, Vassouras, passistas traçando tesouras, nas ruas repletas de lá”.

Mas, Antônio Maria, que viveu apenas 43 anos (nascido em 1921, no Recife, e morto em 1964, no Rio), além dos belos frevos que deixou, foi considerado o “rei do Samba-Canção”, nas décadas de 1940 e 1950; era um boêmio inveterado; foi produtor, radialista, poeta, cronista, compositor e produtor e apresentador de TV.

Muito alto, grande, com alma de criança, Antônio Maria, era conhecido como “Menino Grande”. Embora não fosse um galã, era um grande conquistador. Tirou de Samuel Wainer a bela e inteligente Danuza Leão, que voltou para os braços do jornalista, responsável pelo Última Hora, algum tempo depois.

Antônio Maria compôs diversos sucessos populares, em parceira com vários amigos. Na sequencia, seu maior clássico, em parceria com Luiz Bonfá, “Manhã de Carnaval”, na voz de Nara Leão.

 

 

Manhã, tão bonita manhã
Na vida, uma nova canção
Cantando só teus olhos
Teu riso, tuas mãos
Pois há de haver um dia
Em que virás
Das cordas do meu violão
Que só teu amor procurou
Vem uma voz
Falar dos beijos perdidos
Nos lábios teus

Canta o meu coração
Alegria voltou
Tão feliz a manhã
Deste amor

Com Nora Ney, Antônio Maria tomou conta das paradas das rádios brasileiras que tocaram “Menino Grande” e “Ninguém me Ama”.

São também de Maria “Valsa da Cidade” e “Canção da Volta”. Fez parceria magistral com Luiz Bonfá que criaram os clássicos Manhã de Carnaval e Samba do Orfeu, para o filme “Orfeu do Carnaval”, de Marcel Camus, baseado na peça “Orfeu da Conceição”, de Vinícius de Moraes.

Em seu vasto repertório, destacam-se ainda “As suas Mãos”, “O Amor e a Rosa” e “Se eu Morresse Amanhã”. Suas canções foram gravadas por Nat King Cole, Frank Sinatra e Stan Getz.

Entre seus outros parceiros – cerca de 60 músicas – estão Fernando Lobo, Moacir Silva, Vinícius de Moraes, Zé da Zilda.

Muitos gravaram suas músicas, além de Nora Ney, Dolores Duran, Elizeth Cardoso, Lucio Alves, Agostinho dos Santos, Jamelão, Ângela Maria, Luiz Bandeira e Claudionor Germano.

Ouça agora “Manhã de Carnaval” com Frank Sinatra:

 

 

Antônio Maria já era apresentador de programas musicais na Rádio Clube de Pernambuco. Em 1940, muda-se para o Rio de Janeiro no Ita “Almirante Jaceguai”. No Rio, tornou-se locutor esportivo da Rádio Ipanema.

Maria morou no Edifício Souza, na Cinelândia, onde era vizinho dos conterrâneos Abelardo Barbosa (Chacrinha) e Fernando Lobo (Chuvas de Verão). Também moravam ali Dorival Caymmi e o pintor Augusto Rodrigues.

Trabalhou ainda no Ceará e na Bahia, onde foi diretor das Emissoras dos Diários Associados, ocasião em que conheceu Di Cavalcanti e Jorge Amado.

Ao lado de Paulo Pontes e Dolores Duran, é o autor do grande espetáculo “Brasileiro: Profissão Esperança”.

Semana que vem os frevos de Antônio Maria…


Megaphone do Quincas terça, 16 de maio de 2017

FERNANDO LOBO, JORNALISTA, RADIALISTA, COMPOSITOR, PAI DE EDU



Fernando Lobo, jornalista, radialista, compositor. 

Quem não conhece “Chuvas de Verão”?

 

Clássico da MPB, “Chuvas de Verão” é uma composição de Fernando Lobo, feita em 1949.
O pernambucano Fernando de Castro Lobo nasceu no Recife, em 1915, e faleceu no Rio, em dezembro de 1996.

Entre tantas canções, a primeira com Nelson Ferreira e outras que viraram grande sucesso de carnaval, Fernando Lobo costumava dizer que “não fora a versão gravada por Caetano Veloso, duas décadas depois, talvez “Chuvas de Verão” não se tornasse um clássico.

Fernando foi plural em parcerias: tem canções com os conterrâneos Antonio Maria, Manezinho Araújo, além de Dorival Caymmi, Joel de Almeida e Paulo Soledade. A primeira gravação de Chuvas de Verão foi de Francisco Alves (ouça abaixo). Entre o “Rei da Voz” e o mano Caetano, foi gravada por Orlando Silva, Nelson Gonçalves e Silvio Caldas, entre outros.

Chuvas de Verão, de Fernando Lobo, 1949, na voz de Chico Alves

 

 

Na minha playlist de memória musical sentimental, “Chuvas de Verão” está na primeira fila, por sua simplicidade, beleza e por trazer um sentimento que todos temos ou tivemos em nossas vidas.

Fernando Lobo foi criado em Campina Grande-PB, onde iniciou seus estudos musicais. Sua mãe tocava bandolim.

De volta ao Recife, passou a estudar Direito. Nesse período, teve aulas de violino, atuando também como crooner e violinista da Orquestra Jazz Band Acadêmica de Pernambuco.

Trabalhou na imprensa pernambucana até 1939, ano em que se transferiu para o Rio de Janeiro, onde continuou a carreira jornalística. Atuou nas redações das revistas “Carioca”, “O Cruzeiro” e a “Cigarra”.

Foi diretor da rádio Tamoio e produtor de diversas emissoras de rádio, especialmente da Nacional. Em 1945, foi para os EUA, onde trabalhou nas cadeias de rádio e televisão CBS e NBC.

 

Fernando, ao lado do filho, Edu Lobo, e do neto Bena

Em 1957, já de volta ao Brasil, passou a trabalhar na televisão, além de continuar escrevendo na imprensa carioca. A partir da década de 1970, e durante os 80 e 90, produziu e apresentou inúmeros programas, na TVE do Rio, de resgate da memória musical brasileira, atuando até sua morte. Foi ainda entrevistador do projeto “O Som do Meio Dia”, no Teatro Cândido Mendes, no centro da cidade.

Chuvas de Verão, de Fernando Lobo, com Caetano Veloso

 

 

Podemos ser amigos simplesmente
Coisas do amor nunca mais
Amores do passado, do presente
Repetem velhos temas tão banais
Ressentimentos passam como o vento
São coisas de momento
São chuvas de verão
Trazer uma aflição dentro do peito.
É dar vida a um defeito
Que se extingue com a razão
Estranha no meu peito
Estranha na minha alma
Agora eu tenho calma
Não te desejo mais
Podemos ser amigos simplesmente
Amigos, simplesmente, nada mais

Fontes: Dicionário Ricardo Cravo Albin; Wikipedia; e Blog Museu da Canção.

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Megaphone do Quincas terça, 09 de maio de 2017

JAYME FLORENCE, O MEIRA, PERNAMBUCANO, PROFESSOR DE MÚSICA BRASILEIRA



Jayme Florence, professor de Baden Powell, Rafael Rabelo e Maurício Carrilho, entre outros

 

Violonista, compositor, professor, Jayme Florence, o “Meira”, iniciou-se no violão orientado por seu irmão Robson.

Em 1927, passou a integrar com o irmão o conjunto “Voz do Sertão”, organizado pelo bandolinista Luperce Miranda, do qual também faziam parte Minona Carneiro como cantor e José Ferreira no cavaquinho.

Em 1928, transferiu-se para o Rio de Janeiro. Logo que chegou ao Rio, residiu por um período com João Pernambuco, seu conterrâneo. Tornou-se um apaixonado torcedor do São Cristóvão. Foi vizinho de Noel Rosa, no bairro de Vila Isabel, com quem participava de apresentações na Casa de Caboclo.

Molambo (Jayme Florence-Augusto Mesquita), com Nelson Gonçalves-1988

 

 

Aos dezoito anos, já residia em Recife. No ano seguinte, mudou-se para o Rio de Janeiro e, em 1937, passou a integrar o regional de Benedito Lacerda, junto com Garoto e Dino.

Embora jamais tenha gravado um disco próprio, suas composições foram gravadas por diversos intérpretes como Elizeth Cardoso, Nana Caymmi, Orlando Silva, Luiz Gonzaga, Elza Soares, Nélson Gonçalves, Isaurinha Garcia, Zezé Gonzaga, Taiguara e Danilo Caymmi.

Seu choro “Primavera” – mais tarde renomeado “Arranca Toco” – foi gravado por Benedito Lacerda em 1934. Com Dilermando Reis gravou diversos discos de 78 rpm entre 1941 e 1949.

As comemorações do seu centenário de nascimento, em 2009, praticamente inexistiram. Em 26/9/2013, o violonista Mauricio Carrilho publicou, no Blog do IMS (Instituto Moreira Salles), um inédito e emocionante texto intitulado “Baden e Meira – O encontro do moderno violão brasileiro”.

Molambo (Jayme Florence/Augusto Mesquita), com Yamandu Costa e Dominguinhos-2013

 

 

Eu sei que vocês vão dizer
Que é tudo mentira, que não pode ser
Que depois de tudo o que ela me fez
Eu jamais poderia aceitá-la outra vez
Eu sei que assim procedendo
Me exponho ao desprezo de todos vocês
Lamento, mas fiquem sabendo
Que ela voltou e comigo ficou
Voltou pra matar a saudade
A tremenda saudade que não me deixou
Que não me deu sossego um momento sequer
Desde o dia em que ela me abandonou
Voltou pra impedir que a loucura
Fizesse de mim um molambo qualquer
Ficou dessa vez para sempre
Se Deus quiser

Regional do Canhoto: Luperce Miranda, Meira, Jorginho do Pandeiro, Canhoto e Dino

Semana que vem, tem mais.

Fontes: Laura Macedo (nossa colega colunista do MB); Dicionário Ricardo Cravo Albin; e Wikipedia.


Megaphone do Quincas terça, 02 de maio de 2017

DI MELO, APRESENTAÇÃO, SURPRESA E AMIZADE
 

Di Melo, o encontro

Descobrir o cantor e compositor Di Melo foi um presente de ouro da Marina, a filha que sabe que sou um caçador de pernambucanidades importantes, fatos, personalidades, efemérides, muitas vezes sem o reconhecimento nacional, quiçá local.

Numa dessas datas comerciais, me mandou o LP original do artista. Sou contra datas comerciais, mas adoro presentes bem escolhidos. Por sua vez, a Marina recebeu a dica do cineasta Pedro Severien, que costuma garimpar essas preciosidades.

 

Disco clássico, gravado em 1975

 

A partir daí, comecei a procurar os shows que Di Melo começava a fazer em São Paulo. Sesc-Pinheiros, Belenzinho, casas noturnas. Shows e mais shows e viagens agendadas pelo país.

Comecei a segui-lo nas redes sociais, acompanhar sua carreira, fazer minha parte. Justamente pela crença de que ali estava um artista especial.

É com esta convicção que me sinto impelido a falar do seu trabalho. É pluralizar a música de qualidade, que me faz bem.

Ainda que tivesse vindo “apenas” com o disco de 1975, os registros do uso de suas músicas por DJs internacionais, além da grande carreira de gravações no exterior – notadamente no Japão – tivesse vindo com esse conteúdo no matulão, já teria lugar no setlist das canções de qualidade da música brasileira.

Mas Di Melo continua fértil e sua obra ainda está em construção. Já depois de sua volta que o tornou “imorrível”.

 

Barulho de Fafá, “Di Melo Imorrível – 2016

 

 

Houve que formamos uma amizade boa e sadia, a partir de nossos referenciais, via redes sociais e, principalmente, pelos shows. Uma amizade despretensiosa e assaz afetuosa.

Quando do lançamento de “São Paulo, um estado de emoções”, meu primeiro livro, lá estava Di Melo, com toda a sua alegria, expansividade e energia, dando um brilho extra ao evento.

Agora, como bônus aos que passaram a se interessar pelo trabalho de nosso Di, vai o seu hit de apresentação “Kilariô”. Som, soul, suingue impossível de se ouvir, sem se mexer…

Kilariô, de Di Melo, pelo mesmo. Arranjos Hermeto Pascoal – 1975

 

 Espero que se divirtam. Até semana que vem.

Megaphone do Quincas terça, 25 de abril de 2017

“DI MELO, O IMORRÍVEL”, O FILME, O GRANDE TALENTO
 

Quem ainda não conhece o som de Di Melo, o Imorrível, deveria conhecer. Melhor representante do Soul brasileiro, o cantor e compositor não se restringe ao suingue. Trafega, com naturalidade, pelo tango, a balada, a black music, o samba e os gêneros que são apenas suporte formal para suas canções criativas, balançadas, ritmos cativantes, de quem conviveu e ouviu muito Tim Maia, Jorge BenJor e Wilson Simonal, misturando parceria até com o sisudo e extraordinário Geraldo Vandré.

Sua obra-prima data de 1975, reeditado agora pela Odeon, “série 100 ANOS”. Depois de anos, desaparecido, mas vivo, Di Melo voltou a partir do ótimo documentário que mostra sua “toca”, com dona Jô e a linda filha Gabi. O filme mostra o homem comum, a intimidade do homem que já rodou muitas estradas – tem vários discos gravados no Japão e é um dos preferidos dos DJs europeus – e expõe os diversos momentos da carreira do resistente e novo-veterano grande artista.
Desta vez, deixo o filme para que conheçam melhor a figura. Depois sigo, nos próximos artigos, com a trajetória deste – dimelisticamente falando – grande moço da música internacional.

Documentário realizado em 2009, por Alan Oliveira e Rubens Pássaro

 

 

Confesso que, quando estou de lundu, ouço “A vida em seus métodos, diz calma” que, como diria o autor, é um bálsamo relaxante para todas as horas. Ei-la:

 

 

Semana que vem, tem mais.


Megaphone do Quincas quarta, 19 de abril de 2017

PANORAMA IV - SÃO JOÃO DEL REI



Ordem Terceira de São Francisco, em São João Del Rei

A espichada até São João Del Rei era para cumprir o roteiro completo que havíamos traçado para a visita às cidades históricas de Minas Gerais.

No fundo, também queria conferir onde estavam os restos mortais de Tancredo Neves. O presidente eleito do Brasil – ainda pelo colégio eleitoral – foi o principal personagem daquele momento em que o país começava o processo de saída da Ditadura Militar e passava para uma nova experiência democrática.

Como se sabe, Tancredo morreu antes de assumir e, parte de uma composição ainda com os representantes diretos do regime militar, assume José Sarney, figura tenebrosa que vinha a ser o vice-presidente.

A agonia e morte de Tancredo Neves foi o momento maior de boa parte dos jornalistas que participaram das grandes coberturas dos anos 1980.

Da peregrinação do esquife levando o corpo do presidente morto, que partiu de São Paulo, foi a Brasília e terminou em sua São João Del Rei.

Foi uma das maiores coberturas jornalísticas ocorridas no país. Era abril de 1985 e estavam aqui para acompanhar as exéquias do presidente eleito e morto centenas de representantes da mídia brasileira e mundial. Pela rádio que trabalhava – a Excelsior AM – ficamos eu e o repórter Hélvio Borelli, no teto da ala oficial do aeroporto de Congonhas. A Excelsior era puro jornalismo e a cobertura foi de grandes dimensões – cerca de 30 profissionais de todas as áreas, 24 h p/ dia.

As remoções de Tancredo morto só devem ter sido menos intensas e extensas que as de Eva Peron, a trágica heroína argentina.

Cemitério da Ordem Terceira de São Francisco

Tenho o hábito de fazer turismo em necrópoles. Coisa tratada com desdém e até com preconceito por muitos. É estranho porque em cidades como Paris e Buenos Ayres, esse tipo de visita está incorporado nos roteiros de viagem. Quem já foi ao cemitério da Recoleta, onde está Eva Peron, ou ao Pére Lachaise, em Paris, sabe do que estou falando.

Em São Paulo mesmo, somente no cemitério da Consolação e dr. Arnaldo, além da visita de contrição e orações que são feitas naturalmente, o visitante comum pode apreciar obras de escultura de alto nível, de artistas como Vitor Brecheret.

Uma trilha mineira, latino-americana e bela…

San Vicente (Milton e Fernando Brandt), com Milton e Naná Vasconcelos

 

 

A cidade mineira de São João Del Rei fica na região do Campo das Vertentes e é uma das maiores setecentistas daquele estado. Levantada por bandeirantes paulistas, tem como fundador Tomé Portes del-Rei.

Dotada de uma vasta diversidade arquitetônica, São João não se restringe apenas ao Barroco. Mesmo no centro histórico, é possível observar diversas linhas arquitetônicas. São João é conhecida também por ser uma cidade universitária, com vários institutos e faculdades, abrigando grandes números de repúblicas estudantis.

Além de Tancredo Neves, nasceram em São João Del Rei, dom Lucas Moreira Neves, Otto Lara Resende, o padre José Maria Xavier, compositor sacro, Francisca de Paula de Jesus, que passa por processo de canonização pelo Vaticano.

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Megaphone do Quincas quarta, 12 de abril de 2017

MINAS - PANORAMA III

 



Museu da Loucura: Barbacena

Barbacena também é conhecida por “Cidade das Rosas”. Mas é certo que o município mineiro ficou, indelevelmente, marcado como a “Cidade dos Loucos”.

Embora já pudesse encerrar o circuito das cidades históricas de Minas Gerais, com o pouso em Tiradentes, não ficaria satisfeito se não visitasse nem que por algumas horas Barbacena. Com cerca de 130 mil habitantes, está a 169 km de Belo Horizonte e foi fundada em maio de 1791.

Nasceu na cabeceira do Rio das Mortes – premonição? – onde moravam os índios puris. Localizada na Serra da Mantiqueira, região Campo das Vertentes.

Seu clima, ameno com temperaturas médias abaixo das demais regiões do Brasil, foi motivo para que psiquiatras e médicos especialistas considerassem essa característica um ambiente melhor para o tratamento de loucos.

Máquinas de Eletrochoque; cartaz

No início do século XX, logo se instalaram ali vários hospitais e sanatórios. Os maus-tratos que foram marca dos hospitais dali – com destaque para o Hospital Colônia – arrancaram a vida de 60 mil pessoas, que ficou conhecido como “Holocausto Brasileiro”, livro e filme que mostraram a realidade dos manicômios. É importante ressaltar que, entre os 60 mil mortos, cerca de 70% dos pacientes do Colônia não possuíam diagnóstico de transtorno psicológico algum.

Balada do Louco, Arnaldo Baptista e Rita Lee, de 1972, gravado por Arnaldo em Tiradentes-MG, 1994

 

“Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz.
Se eles são bonitos, sou Alain Delon
Se eles são famosos, sou Napoleão!
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz.
Eu juro que é melhor
Não ser o normal…
Se eu posso pensar que
Deus sou eu…
Se eles têm três carros, bem…
Eu posso voar!
Se eles rezam muito, eu já estou no céu
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz.”

Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu

Sim, sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, eu sou feliz

Muitos dos internos eram apenas alcoólatras, andarilhos, amantes de políticos, crianças indesejadas, epiléticos, inimigos políticos da elite local, prostitutas, homossexuais, vítimas de estupro e pessoas que simplesmente não se adequavam aos padrões da sociedade. Boa parte da população era negra.

Entre os motivos que me impeliram a conhecer Barbacena foi o filme “Holocausto Brasileiro: vida, genocídio e 60 mil mortes no maior hospício do Brasil”, a retomada dos estudos sobre Nise da Silveira e o filme “Heleno”.

Botafoguense desde cedo e aficionado pelas histórias de grandes do futebol, o filme Heleno me fez reconhecer o lendário Heleno de Freitas, supercraque da estrela solitária, que jogou no Boca Juniors e Seleção Brasileira. Boêmio, boa pinta e rebelde, ele faleceu em 1959 em hospício de Barbacena, onde fora internado seis anos antes, com sífilis, em 1953, com o apoio da família.

Semana que vem tem mais..

 

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Megaphone do Quincas terça, 04 de abril de 2017

MINAS - PANORAMA II


Estátua de Tiradentes na cidade com seu nome

Os textos oficiais informam que “ao ser proclamada a República, o governo precisava de símbolos que representassem o novo regime. Deste modo, a cidade que se chamava São José, em homenagem ao príncipe d. José I, de Portugal, passou a chamar-se Tiradentes, que combateu o governo monárquico”.

Tornou-se um dos centros históricos da arte barroca mais bem preservados do Brasil, criando uma demanda turística, a partir da metade do século XX. A cidade de Tiradentes é patrimônio histórico nacional.

Bom ressaltar que Tiradentes, o alferes, nasceu na Fazenda do Pombal, hoje município de Ritápolis. Na época, as terras eram disputadas por São João Del Rei e São José do Rio das Mortes. Ainda hoje, porém, existe uma disputa entre Ritápolis, São João Del Rei e Tiradentes sobre qual seria considerada a cidade natal do mártir.

Pousada D´Óleo de Guignard

Em Tiradentes, escolhemos ficar na Pousada D´Oleo de Guignard, verdadeira chácara-pomar com ar paradisíaco, clima do interior e uma infraestrutura, sofisticadamente simples, que nos deixou em estado de calma e contemplação por cinco dias. A escolha da pousada poderia ter sido pelo belo nome, indicando a conexão do grande pintor mineiro, nascido no estado do Rio, e a idealizadora do lugar. Mas também pode ter sido pela ótima relação custo/benefício oferecida, face à outra dezena de hotéis e hospedarias da cidade.

Fato é que, ao nos hospedarmos ali, convivemos com a memória da criadora do recanto, Karin Ellen Von Smigay, onde, a seu tempo, Guignard tirou das madeiras de árvores especiais das terras da pousada o óleo para uso em boa parte de sua pintura. Karin destacou-se com trabalhos em torno da violência de gênero, sendo doutora em psicologia social, da UFMG. Nasceu em 1948 e faleceu em 2011, em Belo Horizonte.

A ligação dessa militante do movimento feminista brasileiro, em Minas Gerais, em plena Ditadura Militar, e o pintor, nos trouxe de volta o registro do artista que melhor registrou as paisagens históricas de Minas, Alberto da Veiga Guignard, que havíamos conhecido mais amiúde em Ouro Preto, onde está o Museu Casa de Guignard e os Passos de Guignard – nove pontos da cidade donde retratava as entranhas, morros e arruados da antiga Vila Rica.

Paisagens de Ouro Preto-MG

Paisagem da Janela, de Lô Borges e Fernando Brant, com Flavio Venturini

 

 

Guignard

Alberto da Veiga Guignard nasceu em Nova Friburgo-RJ, em 1896 e faleceu em 1962. Foi o pintor brasileiro que ficou famoso por retratar as paisagens mineiras.

Guignard nasceu com uma abertura total entre as boca, o nariz e o palato (lábio leporino), causando horror e compaixão a seus pais. Ficou órfão de pai, ainda menino, e a mãe casou-se em seguida com um barão alemão arruinado, bem mais jovem que ela, com quem se mudaram para a Alemanha.

A formação de Guignard foi sedimentada na Europa, pois viveu ali dos 11 aos 33 anos. Frequentou as academias de Belas Artes de Munique e de Florença.

De volta ao Brasil, nos anos 20, tornou-se um nome representativo dessa década e da seguinte, juntamente com Cândido Portinari, Ismael Nery e Cícero Dias.

Foi um artista completo, atuando em todos os gêneros da pintura – de naturezas mortas, paisagens, retratos até pinturas com temática religiosa e política, além de temas alegóricos.

Sou grato a José Salles, que me apresentou Tiradentes, antes mesmo que pudesse conhecê-la.


Megaphone do Quincas terça, 28 de março de 2017

MINAS - PANORAMA I

Ouro Preto. Segunda capital de Minas. A cidade símbolo das Minas Gerais

Maior que a França, pouco menor que a Ucrânia, Minas Gerais é 4º estado em tamanho do Brasil, um continente.

Portanto, Minas possui o território de um país de boas proporções. E o que mais chama a atenção é que faz divisa com sete outros. Com isso, consegue, na minha percepção, acolher, abraçar e dar guarita a todos os vizinhos que vão de Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás, Distrito Federal e Mato Grosso do Sul.

A coisa é tão séria que Minas chega a fazer parte da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), por conta do Vale do Jequitinhonha, uma região muito pobre.

Engraçado, é ver os moradores de cidades próximas ao estado do Rio, sendo torcedores fanáticos de times fluminenses, esquecendo-se América, Atlético e Curitiba. Mais para baixo, o encontro é com a cultura de São Paulo e sua influência.

A simbiose é bonita. Enquanto Drummond, Guimarães Rosa, Ziraldo, JK, Fernando Sabino e tantos outros vêm de Minas, um dos maiores, senão o maior símbolo musical de Minas é o carioca Milton Nascimento.

Essas trocas fronteiriças fazem de Minas um estado especial, amalgamado pela influência dos territórios lindeiros, forte demais em cultura, história e características que podemos chamá-lo de uma maquete territorial do Brasil.

Vamos ver agora alguns flashes de grandes momentos vividos em Minas Gerais, por 18 dias, abrangendo cerca de 20 cidades e agregando informações e emoções só assimiladas, in loco, a olho nu. 

Oh, Minas Gerais, na voz de Renato Teixeira 

 

– Escolhi para estes textos finais a música “Oh, Minas Gerais”, tão conhecido de todos e reconhecido como hino informal do estado.

– A canção é originária da valsa italiana “Viene Sur Mare, com letra adaptada por José Duduca de Moraes, cantor e autor de mais de 200 músicas. A obra italiana chegou ao Brasil por meio das companhias líricas que aqui se apresentavam no fim do século XIX e início do XX. Uma versão foi escrita por Eduardo das Neves, em homenagem ao ‘Couraçado Minas Gerais’.

Ouro Preto

Praça Tiradentes, Casa da Ópera e Vista do Mirante Hotel

Mariana

Camara de Mariana, a primeira capital mineira; trem Ouro-Preto; e mina da passagem, a maior do País, aberta mas sem atividade comercial


Megaphone do Quincas terça, 21 de março de 2017

SÉRIE "AS MINAS GERAIS" - COZINHA MINEIRA
 
 

Cozinha Mineira: café da manhã; chá da tarde

Aqui em São Paulo há algumas décadas, tinha convicção de que o ‘Tutu à Mineira’ era a matriz do meu habitual ‘Virado à Paulista’.

Vamos começar esta parte da viagem desfazendo essa máxima. Saibam todos que aqui me ouvem que os bandeirantes levaram o virado para Minas Gerais, onde o prato se converteu no tutu à mineira.

E a grande diferença é que o tutu mineiro é feito com feijão moído e o virado a paulista feito com grãos inteiros. (Está nos compêndios de gastronomia). O pior é que aprendi a versão errada justamente na capital bandeirante.

Pois bem, nesta passagem por um dos pontos mais importantes de Minas e do Brasil, as cidades históricas que compõem a Estrada Real e a dos Inconfidentes pensava em passear, conhecer os lugares, os museus-cidade, a prosódia, as alterosas, os pontos de atração, as obras do Aleijadinho, o moderníssimo acervo e saudável ambiente de Inhotim, mas não pontuei um dos quesitos mais característicos da terra, que é a gastronomia.

Sabor é memória, memória é cheiro, cheiro é sensualidade. Descobrimos a diferença gritante do tutu para o virado e um punhado de comidas, comidinhas, guloseimas e muita novidade.

Restaurante mineiro: mais um frango com quiabo

Para mim, a maior delas foi a dupla, presente em quase todos os restaurantes, self service, lanchonetes e botecos foi ‘frango com quiabo’. Sei que não há unanimidade quanto ao quiabo (longe disso), mas sou quiabo-maníaco, desde que morei na Bahia, nos 1970.

Cafezinho gostoso no CBBB, praça da Liberdade

Um panorama da comida mineira:

A carne de porco é muito presente, sendo famosos o ‘tutu com lombo de porco’, costelinha de e o ‘leitão à pururuca’. São apreciados a ‘vaca atolada’, o feijão tropeiro com torresmo, a ‘canjiquinha com carne (de boi ou de porco)’, linguiça e couve, o frango ao molho pardo com angu de fubá, o ‘franco com quiabo ensopado e arroz com pequi’.

São famosos os doces mineiros, especialmente o doce de leite (hum), a goiabada e a paçoca. O pão de queijo (vá no natural, fuja das franquias), os queijos (e o seu modo artesanal de preparo) e o café também estão entre as principais referências da cozinha mineira.

Muitos pratos têm origens indígenas, cuja culinária era predominantemente à base de mandioca e milho e teve incremento dos costumes europeus, com a introdução dos ovos, do vinho, dos quentes e dos doces.

 

 

Alguns dos melhores

É passeio, mas vale a pena dar nota e classificar pelos itens tradicionais de sabor, variedade, higiene geral, ambiente, físico e de receptividade, relação preço/consumo e assim por diante. Faço isso pelo prazer de ressaltar os que mais gostei e, quem sabe, indicar a algum amigo que por aquelas terras vá passar. Nem fiz freela pela 4Rodas.

01) ‘Sabor Rural’, tudo feito na hora, comida mais primitiva de Tiradentes – nota 10;

02) ‘Parada do Conde’, em Ouro Preto; foi um encontro de sabores, amizades e simpatias recém concebidas. O Ricardo e a Poliana fazem o casal perfeito no atendimento, graça e profissionalismo, sem perder o humor. Eu degluti ou degustei um prato de carne, mas fiquei encantada com a polenta, deliciosa e esparramada no prato. Foi mais que um grande almoço meus amigos. Trilha sonoro de primeira – nota? 10.;

03) “O Bar do Museu do Clube da Esquina’, do qual aqui já falei em outras colunas é imperdível. Falem com a Virginia, sabe tudo, amiga de todos os Borges – 10, claro;

04) Por fim, o ‘Tamboril’, principal restaurante do Instituto Inhotim. Primeiro, conhecer d. Naílde, uma figura simpaticíssima e disposta a tirar todas as dúvidas dos clientes sobre os cordeiros e demais iguarias. Afinal, ela é a Chief do Tamboril e de todos os locais de alimentação do Inhotim, inclusive do Helio Oiticica. Outro 10.

Semana que vem, tem mais…


Megaphone do Quincas terça, 14 de março de 2017

SÉRIE "AS MINAS GERAIS" - CONGONHAS
 
 

 

 

Os 12 profetas, de Aleijadinho, em Congonhas-MG

Ao deixar BH e seguir pelo segundo roteiro programado – uma parte mineira da Estrada Real. Ainda a partir da capital mineira, fizemos Sabara e descemos ate Brumadinho, onde conhecemos Inhotim.

Depois, cidade após cidade, pousamos em Ouro Preto, de que falaremos noutra hora. Ouro Preto foi escolhida para segunda sede por sua posição estratégica, ao lado de Mariana e perto de Congonhas.

Como o Elevador Lacerda, em Salvador, as pontes do Recife ou a Pampulha, em Belo Horizonte, o Santuário do Bom Jesus do Matosinhos e o cartão-postal de Congonhas e, praticamente, fixamos que a bela cidade resume-se a impecável obra de Aleijadinho e mestre Ataíde.

Ledo e surpreendente engano. Congonhas e muito mais que o Santuário (obra incomparável), pois possui ainda As Capelas dos Passos – obra de alto nível artístico de Aleijadinho e o moderno Museu de Congonhas.

Congonhas – Clube da Esquina – Milton Nascimento

Dois ângulos do Santuario do Bom Jesus do Matosinhos

Com cerca de 60 mil habitantes, e formada por três distritos – sede, Alto Maranhao e Lobo Leite.

A região é atravessada pelo rio Maranhão, que recebe as águas dos córregos Santo Antônio, Goiabeiras e Soledade. É do encontro do rio Maranhão com o córrego Santo Antônio que tem-se início o rio Paraopeba. O solo é rico em minério de ferro de alto teor, sendo que no passado também já foi expressiva a mineração em busca de ouro, metal encontrado até nos dias atuais, apesar de não ser em escala industrial.

Ha 70 km quilômetros de Belo Horizonte, Congonhas possui um expressivo conjunto de riqueza barroca do maior artista do gênero no Brasil: Antônio Francisco Lisboa, o apelido Aleijadinho.

No adro do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, Aleijadinho esculpiu em pedra-sabão as famosas imagens de doze profetas em tamanho real que são visitadas anualmente por milhares de turistas do Brasil e de todo o mundo.

Os 12 profetas – Santuario do Bom Jesus do Matosinhos

A partir deste paragrafo, começo a falar de atrações imperdíveis que não estão no lindo porem estático símbolo da cidade.

O Jardim dos Passos em frente à basílica representam a via Sacra com belíssimas imagens esculpidas, em cedro por Aleijadinho.

Em 1985, todo este conjunto foi tombado pela UNESCO e transformado em patrimônio cultural da humanidade.

Jardim dos Passos – Uma ode escultural a via sacra – Aleijadinho

Antes de ser a “Cidade dos Profetas”, Congonhas foi e ainda é um grande centro de peregrinação. Todo ano, o município reúne milhares de fiéis em busca de cura das suas aflições. São, aproximadamente, cinco milhões de peregrinos que visitam Congonhas entre sete e catorze de setembro, período em que é comemorado no município o dia do Senhor Bom Jesus do Matozinhos.

Dentro das capelas

A terceira e expressiva visita que não se deve perder em Congonhas e o moderníssimo, tecnológico e interativo Museu de Congonhas, um equipamento novo e que enche os olhos do visitante.

O museu, comparável aos melhores que conhecemos nas capitais, condensa os principais dados e informes sobre as obras de Aleijadinho, as obras e os profetas, com grande interatividade e acesso aos usuários.

Museu de Congonhas – um espetáculo

Antes de deixar a bela Congonhas, tive oportunidade de participar de um agradável bate-papo com os colegas da Radio Congonhas AM-1020 e FM, OT 4775 khz.

Ali mesmo na praça do Santuário, a radio, muito bem organizada, possui instalações e equipamentos modernos e programação eclética – musica, programas, jornalismo e ate futebol. A radio pertence a Arquidiocese.

Na radio Congonhas, uma comunicação moderna e bucólica

Semana que vem, tem mais…


Megaphone do Quincas terça, 07 de março de 2017

SÉRIE “AS MINAS GERAIS” – INHOTIM-II
 
 


Inhotim, de John Ahearn, 2006

Na última coluna, deixei uma pergunta para nossos leitores: “que palavras formavam o termo ‘Inhotim’.

A maioria sabe que “nhô” substitui a palavra senhor, na linguagem do caipira e e até do sertanejo. Completando, a área onde hoje está o Instituto pertenceu a um certo senhor Timóteo. Daí, “Inhotim”.

Continuando o passeio pela vastidão do parque biológico e museu de arte contemporânea e mais algumas obras.

Luiz Zerbini, Sem Título (Bangu), 2006

Música do Uakti para acompanhar o passeio pela vastidão do parque biológico e museu de arte contemporânea.

 

 

Quando vi a obra abaixo, achei esquisita, entre o non sense e o rudimentar. Depois de ler a origem e a tradição, tive melhor compreensão.

Obra de Gui Tuo Bei, de Zhang Huan (2001)

Na cultura chinesa, monumentos monolíticos carregados por uma tartaruga são comuns em lugares sagrados e espaços públicos, servindo como fonte de contextualização histórica do local e simbolizando poder político ou religioso.

A tartaruga representa longevidade, resistência e solidez, daí sua presença em tais monumentos.

Na obra Gui Tuo Bei (2001), Zhang Huan parte dessa tradição, entretanto, ao libertá-la de um contexto histórico cultural pré-estabelecido, ele amplia seus significados. Situada num ponto de destaque em Inhotim, ao final da alameda que originalmente conduzia à sede da antiga fazenda, Gui Tuo Bei (2001) contrasta com as demais esculturas do parque. O estranhamento não se dá apenas pela escrita chinesa, mas também por algo de ancestral, de atemporal que a obra evoca. O texto gravado na pedra narra a história de um homem, que apesar da idade avançada, consegue com a ajuda de seus descendentes mover as montanhas que bloqueavam o caminho de sua casa.

Narcissus garden Inhotim (2009) é uma nova versão da escultura-chave de Yayoi Kusama originalmente apresentada em 1966 para uma participação extra-oficial da artista na 33a Bienal de Veneza.

Naquela ocasião, Kusama instalou, clandestinamente, sobre um gramado em meio aos pavilhões, 1.500 bolas espelhadas que eram vendidas aos passantes por US$ 2 cada. A placa alojada entre as esferas – “Seu narcisismo à venda” – revelava de forma irônica sua mensagem crítica ao sistema da arte e seus sistemas de repetição e mercantilização.
 intervenção levou à retirada de Kusama da Bienal, onde ela só retornou representando o Japão oficialmente em 1993.

Na versão de Inhotim, 500 esferas de aço inoxidável flutuam sobre o espelho d’água do Centro Educativo Burle Marx, criando formas que se diluem e se condensam de acordo com o vento e outros fatores externos e refletindo a paisagem de céu, água e vegetação, além do próprio espectador, criando, nas palavras da artista, “um tapete cinético”.

É uma das artistas mais importantes surgidas na Ásia no período pós-guerra e sua produção estabelece relação com movimentos como o minimalismo, a arte pop e o feminismo. Diferentes versões de Narcissus garden foram criadas para exposições em museus e espaços públicos nos últimos anos e, em Inhotim, a obra faz sua primeira aparição no Brasil. Evocando o mito de Narciso, que se encanta pela própria imagem projetada na superfície da água, a obra constrói um enorme espelho, composto por centenas de pequenos espelhos convexos, que distorcem, fragmentam e, sobretudo, multiplicam a imagem daquele que a contempla – contemplando, assim, necessariamente a si próprio.

Semana que vem Estrada Real e o Ciclo do Ouro

 

Megaphone do Quincas terça, 28 de fevereiro de 2017

SÉRIE "AS MINAS GERAIS" - INHOTIM
 

Inhotim, o maior museu a céu aberto do mundo: na entrada, obra “Abre a Porta”, de John Ahearn e Rigoberto Torres, 2006

Instado frequentemente por Marina, minha filha, rata de museus e galerias e atenta às artes em geral, que sempre me intimou a conhecer Inhotim, no município de Brumadinho-MG, sinto-me agora ”com o dever cumprido”. Faz alguns anos que cobra a viagem!

Deu-se o momento. Queria conhecer Minas, sua parte histórica e ver tudo o que a terra de Guimarães Rosa e Carlos Drummond tem para dar, lincando aí a ida a Brumadinho.

Então fomos, eu e minha navegadora, traçar os planos: deixamos BH como sede-principal e começamos os dois roteiros. Primeiro Sabará, parte importante das cidades histórias – que nenhum de nós sabia pertencer à grande Belo Horizonte e, – dia seguinte, viagem para o museu-floresta.

Chegamos muito cedo, antes mesmo de abrir. O clima já estava mais agradável que em BH, uns dois graus a menos.

No burburinho da entrada – por mais bem sinalizada que fosse a recepção e oferecidas instruções, sempre surgem as perguntas, como “quer dizer que aqui tem um pouco de tudo?’ – pergunta um brasileiro que nunca fora a Minas, como eu! – “Me disseram que junta Serra do Mar (Hum), Serra do Espinhaço, Mata Atlântica e Serra da Mantiqueira, respondeu um cidadão de óculos, aparentando meia idade, com cara de entomologista!” (Foi colega de Vanzolini).

Doutro lado, num barranco que dava acesso à entrada, ainda impedida pelo guarda da instituição, pois a hora certa para abrir era às 9h30 e nós chegamos às 9h10, portanto com tempo para jogar conversa fora. Mas do outro, como dizia, as senhoras, moças e juvenis procuravam logo se assegurar dos banheiros mais próximos, mapas de toaletes e indicações para lavabos, no caso de refazer a cútis ou lavar as mãos. Tão prudentes, quanto corretas, as nossas companheiras de aventura.

Nosso guarda, vai com sua maneirice mineira que Deus lhe deu, e avisa: pronto, tá aberto! Como quem diz: “ôh gente apressada essa que vem por aqui, ainda nem perceberam que tão no mato”. Certamente, penso eu, ainda nem se deram conta dos 140 hectares de terra e das obras de arte de 700 artistas de 200 países que estão ali para ver.

– Sempre que tenho a felicidade de conhecer um novo lugar, mágico, sinto a necessidade de alcançar, descobrir o som perfeito, correspondente, que aproximaria meu companheiro de leitura ao lugar, pela música, com sons da natureza, reproduzindo cheiro, cor, ventos, sensações. Achei Villa-Lobos apropriado, inda mais tocada por este fantástico grupo mineiro “Uakti”, que me ensinou o gosto brasileiro da flauta de pan. Reproduzo aqui, se quiser usar o fone de ouvido:

Ária 5, de Bachianas Brasileiras, de Villa-Lobos, interpretada pelo grupo mineiro Uakti (1978-2015)

 

 

A primeira intervenção que vimos foi a que mais deu o que falar desde que Inhotim foi inaugurado, há alguns anos. É o cartão-postal.

Troca Troca, Jarbas Lopes, 2002

De fato, ao ver apenas por foto, a gente sai com aquele tradicional “oxente, que diabo é isso – todo mundo não conhece o fusquinha?” – É meu camarada, mas fuscas assim, envelhecidos pelo tempo e todinho colorido, antes mesmo de Romero Britto se tornar um nome mundial, isso eu nunca tinha visto não. E não é que gostei!

Helio Oiticica, 1977, “A Invenção da Cor – Square Magic 5”

Helio Oiticica era da minha geração, tinha o maior respeito pelo trabalho dele, um dos pioneiros da Arte Contemporânea no Brasil. Pena que a foto esteja distante, mas esse trabalho é muito bonito.

Beam Drop Inhotim, de Chris Burden, 2008

Na medida em que a gente vai invadindo e se deixando tomar pela brisa e o ar incolor de Brumadinho, com um céu quase imaculado, percebe-se que dali em diante nunca mais Inhotim vai deixar você.

Nos 140 hectares, subimos de 725m a 970m. O Museu abre de terça a domingo das 9h30 às 16h30 ou 17h30. Às quartas, é totalmente gratuito. Os mapas e orientações para visitação indicam a necessidade de que as pessoas devem levar de 2 a 4 dias para visitar o museu o jardim botânico.

Importante informar que o Instituto oferece um serviço de transporte, bem ao gosto dos gramados e trilhas de lá, que pode levar os visitantes por todas as atrações. Claro que é indispensável para idosos, pessoas com dificuldades de locomoção e pacientes de DPOC, como esse amigo que vos fala. É uma mão na roda…

Carrinhos de golfe estão sempre à disposição para a locomoção dos visitantes (4 e 6 lugares)

Em Brumadinho, existem inúmeras pousadas e hotéis. Em breve, o Instituto terá dois hotéis dentro de suas instalações.

História

O Instituto Inhotim começou a ser idealizado pelo empresário mineiro Bernardo de Mello Paz a partir de meados da década de 1980. A propriedade tornou-se um lugar singular, com um dos mais relevantes acervos de arte contemporânea do mundo e uma coleção botânica que reúne espécies raras e de todos os continentes.

Os acervos são mobilizados para o desenvolvimento de atividade educativas e sociais para públicos de faixas etárias distintas.

Brumadinho

Localizada no Vale do Paraobepa, Brumadinho possui belezas naturais, riquezas históricas e culturais. Com uma população de 35 mil habitantes, a cidade tem uma área de 634,4 km² e está situado no maciço do Espinhaço e início do Tabuleiro do Oeste. Começou a ser colonizado quando os “insubmissos” da Guerra dos Emboabas se dirigiram para lá, fugindo da repressão, a fim de garimpar ouro, livre dos elevados tributos da Coroa.

– Ah, deixo aqui um QUIZ (sem trema, né!) para a próxima coluna: Como se formou a palavra “Inhotim”. Até lá…

 


Megaphone do Quincas terça, 21 de fevereiro de 2017

SÉRIE "MINAS GERAIS"

 

Vi o Clube da Esquina, dentro do Som Imaginário e os batuques de Minas, olhando para a Serra do Curral, vivendo, imaginando..

Estávamos finalizando nosso primordial passeio ao conjunto arquitetônico da Pampulha, quando veio à mente procurar por resquícios do “Clube da Esquina”, movimento da música mineira que extrapolou, por qualidade, as fronteiras gerais, inclusive as brasileiras.

Eram 3h da tarde, conseguimos achar ali mesmo, pelo móbile, algo parecido com museu e bar do clube da esquina. A alegria foi tão grande que, mesmo sem a exigência, pedimos que reservasse uma mesa. Tudo no pacote: couvert, consumo, astral de clube noturno e uma expectativa enorme.

O sol de 30 e tantos graus, a curta caminhada de 4 quilômetros que fizemos às margens da Pampulha, o vislumbre da Igreja de São Francisco de Assis, de Niemeyer, Portinari e outros mestres, nos cansou. Quando disse curta caminhada é porque a lagoa da Pampulha tem humildes 18 quilômetros de corredores às margens. É grande mesmo. Mas, de Pampulha falarei mais tarde, pois trata-se de uma reserva biológica tão rica e diversa e de um depoimento arquitetônico-escultural tão singular, que só poderei fazê-lo em uma ou mais duas outras colunas.

Pois bem, diante da energia já consumida e da alegria antecipada de mim e minha parceira em ver o Clube da Esquina, restávamos voltar ao hotel – BH é quente! visse – e aguardar a hora para sair ao encontro da noite.

Sim, descansamos, mas não relaxamos. Na minha cabeça, eram cerca de 40 anos de intimidade, música a música, Som Imaginário, Clubes da Esquina, Milton, Lô e Brandt. Voltar ao passado? Que nada, viver o presente eterno e clássico som magistral de Minas, a marca feita por mineiros, mas que cabia gente de toda a parte desde o carioca Milton até o pernambucano Novelli.

Estávamos moderninhos – nem velho metido a guri, nem ex-hippie com cocó nos cabelos milagrosamente longos rs. Para nós era uma cerimônia. E foi.

Chegamos cedo demais – que agonia – umas 20h15. O show para começar as 21h e o burburinho às 23 horas.

Bem, como se diz por aí, relaxamos. Enxerido, fui me apresentando, primeiro identificando Neide, que nos atendeu ao telefone, depois garçons, logísticas e a Virgínia, proprietária da casa. Trocamos e-mails e lhe afirmei que aquele lugar era uma grande atração em Belô.

Numa das fotos aí de baixo (3) pode-se ver na parede cópia da capa do Clube da Esquina nº 2. Significava que, naquela noite, os músicos – ainda produzindo com Milton e outros craques – iriam tocar o disco inteiro de 1978 (nº2). Tão cedo chegamos que ainda flagramos os músicos ensaiando. Que culpa tenho eu!!!

Lá funciona assim, cada dia da semana, executa-se um dos discos do Clube da Esquina, do Som Imaginário, de algum dos músicos da turma em solo, MPB boa demais, até porque seria incompatível coisa menor.

O Bar do Museu do Clube da Esquina, imperdível: em Santa Teresa, perto da Serra do Curral, onde BH nasceu. Quando se sai do universo do ‘Clube da Esquina’, não se levante! Ali, naquele museu sagrado do som, só músicas de excelentes compositores são executadas por músicos de qualidade.

Petiscos, passa e passa, acústica boa para um bar, atendimento de primeira, clima da plateia 10 (ah, às 22 horas, lotou). Público de 8 a 80, diversidade de estilos e origens diferenciadas. Ah, preço honesto para o que se é oferecido!

Nas paredes, escadas, corredores referências a granel aos grandes fazedores do movimento mineiro.

No palco, numa conexão melódica e espiritual com os excelentes Pablo e Beto (violões e teclado). Mas, minha atenção era toda para o palco: melodias, movimentos, vozes, acordes e letras singulares e belas.

Tocaram “Ruas da Cidade”, que recolhi no Youtube.

 

 

Guiacurus Caetés Goitacazes
Tupinambás Aimorés
Todos no chão
Guajajaras Tamoios Tapuias
Todos Timbiras Tupis
Todos no chão
A parede das ruas
Não devolveu
Os abismos que se rolou
Horizonte perdido no meio da selva
Cresceu o arraial
Passa bonde passa boiada
Passa trator, avião
Ruas e reis
Guajajaras Tamoios Tapuias
Tupinambás Aimorés
Todos no chão
A cidade plantou no coração
Tantos nomes de quem morreu
Horizonte perdido no meio da selva
Cresceu o arraial

Enfim, foi pura emoção! Se for a Belô, não perca!

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Megaphone do Quincas terça, 14 de fevereiro de 2017

SÉRIE "ESTRADA REAL" E "CIRCUITO DOS INCONFIDENTES", MG

 

Impossível ir a Minas sem pensar em JK

Entre os anos 50 e 60, meu pai, em sua rixa pessoal com Belo Horizonte e Salvador, ficava fulo, quando se dizia que a capital mineira estava ultrapassando o Recife em população e, portanto, empurrando a capital nordestina para a quarta posição importância, além de São Paulo e Rio.

Nesses anos aí, Recife começou a receber uma leva de cento e tantos ônibus elétricos de BH, cidade que possuía uma topografia ruim para o uso dos silenciosos e bojudos veículos.

Eu não sei por que cargas d’água, nem quem era o marqueteiro da época. Tiveram a audácia de colocar uma faixa enorme na frente dos veículos: “PROCEDENTE DE BELO HORIZONTE”. Pronto, meu pai bufou; quis saber o que era aquilo, que diferença fazia o mesmo elétrico de Minas para os elétricos de Pernambuco etc. Fulo da vida, seu Joaquim nunca subiu os degraus de um desses ‘PROCEDENTES’. Vingou-se à sua maneira.

Passadas algumas décadas, as rivalidades já reduzidas, meu pai convivendo com os mineiros falecidos lá no céu, me pus eu, e minha eterna parceira, Eva, a visitar as Minas Gerais. Para mim, que gosta de ser viajar, era uma lacuna não conhecer Bel’ Horizonte e as Minas.

Deixarei para falar de culinária, futebol, hospitalidade, prosódia, cultura e tudo o mais no próximo “Megaphone”.

Desta vez, fico com o encanto anímico, atmosférico e astral que BH causa. Ao lado de nosso hotel, no bairro Savassi, ao lado da praça da Liberdade, ponteada pelo Palácio de mesmo nome e um verde sombreando ruas, travessas, avenidas e becos.

Agradável é palavra pouca para descrever o que senti em BH: um povo para lá de simpático, sô. Sem o contagio da megalópole, embora já seja.

A um quarteirão do hotel estava construído o que a nós nos parecia um réplica do Copan de São Paulo. Será que Niemeyer fez uma série de prédios tortuosos por aí? Vejam:

Edifício Niemeyer, em BH – Construído em 1954/55 para fim residencial

Edifício Copan, em SP – Construído por Niemeyer, a partir de 1951, concluído em 1966

O que mais me chamou a atenção no legado de JK como homem público foi a capacidade de congregar gente da mais alta qualidade em cada área de atuação.

Não vou ficar aqui apontando erros, equívocos que cometeu, por exemplo, ao dar prioridade às rodovias, em detrimento das ferrovias; na construção de Brasília, muitas lacunas orçamentárias a ser respondidas.

Permito-me, nesse momento, homenagear o médico, o militar, o homem público que foi prefeito biônico de Belo Horizonte, eleito de Minas Gerais e eleito presidente da República. Tantas outras mortes que estranhas que levaram outros personagens da história, sugaram também JK.

A mim, me parece correto dizer que estava sempre cercado dos melhores, Burle Marx, Portinari, Guignard, Niemeyer, Joquim Cardoso, Lucio Costa e muitos outros. A cultura era sua linguagem principal e com ela identificou um certo novo Brasil.

Bem, tem muito para contar. Fora dos guias e panfletos de turismo da cidade não havia a indicação do “Bar do Museu do Clube da Esquina”, no bairro, onde perto dali todas as turmas dos Clubes da Esquina, Minas, Gerais, Som Imaginário mantêm, com o empenho e a garra da Virgínia, um lugar especial onde quiser ouvir música de ótima qualidade, no clima e na linguagem da época e ficará alucinado como eu fiquei. E mais: os músicos, descendentes diretos dos ‘esquineiros’ estão lá todos os dias para tocar o que for bom, além da fabulosa música das Minas, é claro.

Semana que vem tem mais. Aí um gostinho para lembrar….

Girassol da Cor de Seu Cabelo, de Lô Borges e Milton Nascimento, 1972

 

 

Vento solar e estrelas do mar
A terra azul é a cor de seu vestido?
Vento solar e estrelas do mar
Você ainda quer morar comigo?

Se eu cantar não chore não
É só poesia
Eu só preciso ter você
Por mais um dia
Ainda gosto de dançar
Bom dia
Como vai você?

Sol, girassol, verde, vento solar
Você ainda quer morar comigo?
Vento solar e estrelas do mar
Um girassol é a cor de seu cabelo?

Se eu morrer não chore não
É só a lua
É seu vestido cor de maravilha nua
Ainda moro nesta mesma rua
Como vai você?
Você vem?
Ou será que é tarde demais?

O meu pensamento tem a cor de seu vestido?
Ou um girassol que tem a cor de seu cabelo?


Megaphone do Quincas segunda, 13 de fevereiro de 2017

SÉRIE DOSE DUPLA – CRÔNICAS, HUMOR, SÁTIRA E O JOCOSO NA MPB - NOEL ROSA

Noel e suas deliciosas cronicas e letras jocosas

Ói eu aqui de novo, me deliciando com as obras de Noel Rosa, que tão bem se encaixam na temática desta última série que resolvemos compilar – “Dose Dupla, com Crônicas, Humor, Sátira e o Jocoso na MPB”.

A permanência em três colunas sucessivas trazendo Noel é mais que justificada. Posso afirmar que ainda vou ficar devendo muita coisa.

No caso de “Gago Apaixonado” tenho a canção e principalmente a sugestiva letra de memória desde que o MPB-4 a gravou em 1970, no disco “Deixa Estar”.

Foi desse jeito que aprendi, mas existe uma dezena de outras versões.

 

 

Curiosamente, pesquisando o assunto, deparei-me com trabalho de Aquiles, um dos membros fundadores do MPB-4, que estava envolvido em projeto sobre o “Gago”.

Produziu um áudio-livro-pôster reunindo três experiências em uma plataforma: é ao mesmo tempo um pôster da letra “Gago apaixonado”, que Aquiles aponta como samba genial e inventivo composto por Noel Rosa em 1930, cuja concepção poética, repleta de repetições próprias da gagueira, leva a efeitos sonoros e gráficos que anteciparam em décadas o experimentalismo na poesia brasileira.

Não à toa – continua Aquiles – o escritor Mário de Andrade (1893-1945) autor da contemporânea obra Macunaíma (1928), era fascinado por Noel.

Inclui também dois textos inéditos escritos por Aquiles Rique Reis, desde sua fundação, em 1964: um tem função de apresentação biográfica; o outro vai ao humor para recriar ficcionalmente a rixa entre Noel e o também cantor e compositor Wilson Batista (1913-1968).

A terceira experiência, propiciada por “Gago apaixonado”, é auditiva: por meio do recurso QR Code, disponível em smartphones, é possível ouvir a gravação original de Noel Rosa, de 1931.

O flerte com a tecnologia também pode, quem diria, nos transportar ao passado. A arte do poema “Gago apaixonado” ocupa uma área de 62 x 43 cm e foi pensada como um pôster para, desdobrado – e aí está uma função táctil, que antecede à visual -, poder ser emoldurado. Custa R$ 10,00 e está à disposição na Banca Tatuí, São Paulo, capital.

A outra interpretação que trago para hoje é do excelente e sempre sincopado João Bosco, de humor, ritmo e riqueza de canções também de enorme valor:

 

 

Mu-mu-mulher, em mim fi-fizeste um estrago
Eu de nervoso estou-tou fi-ficando gago
Não po-posso com a cru-crueldade da saudade
Que que mal-maldade, vi-vivo sem afago

Tem tem pe-pena deste mo-moribundo
Que que já virou va-va-va-va-ga-gabundo
Só só só só por ter so-so-sofri-frido
Tu tu tu tu tu tu tu tu
Tu tens um co-coração fi-fi-fingido

Mu-mu-mulher, em mim fi-fizeste um estrago
Eu de nervoso estou-tou fi-ficando gago
Não po-posso com a cru-crueldade da saudade
Que que mal-maldade, vi-vivo sem afago

Teu teu co-coração me entregaste
De-de-pois-pois de mim tu to-toma-maste
Tu-tua falsi-si-sidade é pro-profunda
Tu tu tu tu tu tu tu tu
Tu vais fi-fi-ficar corcunda!

Semana que vem, tem mais.

Feliz Ano Novo para todos os fubânicos, amigos e leitores…


Megaphone do Quincas quarta, 01 de fevereiro de 2017

NANDO CORDEL - FAZENDO GRANDES HITS, NEM TANTO CONHECIDO ASSIM

 

nando

Nando Cordel, um senhor compositor

Diz o ditado: “Casa de ferreiro, espeto de pau”. Caí direitinho nele, quando comentei com meu mano Zeca (compositor e instrumentista) “que música linda, linda e de acalanto essa canção de Dominguinhos. No que Zeca, de imediato completou: “de Dominguinhos e de Nando Cordel”, aquele de “Gostoso Demais”.

Faz muito tempo, claro que conhecia esta e tantas outras deste compositor pernambucano, nascido, em 13 de dezembro de 1953, na cidade de Ipojuca. (a coincidência com a data de nascimento de Luiz Gonzaga deve lhe causar orgulho).

Nando é filho de um comerciante que também era poeta e repentista, Seu Manoel do Posto, e de uma dona de casa, Dona Nata,

Nando é o mais velho de 14 irmãos. O sobrenome Cordel surgiu a partir do momento em que iniciou a carreira profissional e a gravadora disse que seu nome não venderia discos, fazendo com que ele usasse o nome artístico “Nando (apelido de Fernando) e Cordel (junção do início de seus sobrenomes Correia e Manoel).

Prefiro a versão que remete à homenagem à literatura de cordel, arte que veio da Europa, se instalou rapidamente e é patrimônio cultural do nordeste brasileiro.

“Gostoso Demais”, de Nando Cordel e Dominguinhos – com Lucy Alves,
gravado em Guarabira-PB

 

 

Tem suas canções gravadas por grandes figuras da música popular brasileira com Elba Ramalho, que transformou em sucesso sua primeira parceria com Dominguinhos, “De Volta pro Aconchego”:

 

 

Correspondendo ao que sugeria, sua fama como compositor é bem maior que a como intérprete. Já teve músicas gravadas por Chico Buarque, Zizi Possi, Fagner, Maria Betânia, Fabio Jr, Martinho da Vila, Fafá de Belém e Ivete Sangalo, entre outros.

 

 

Como intérprete, já lançou cerca de 25 discos e um coleção de 12 CDs dedicados a músicas para meditação e relaxamento.

Nessa fase, produz discos, cujos títulos definem muito bem o que se vai ouvir, a coleção para meditação é composta por músicas instrumentais: Doces Canções, Doce Harmonia, Doce Paz, Doce Luz, Doce Natureza, Dedicado às Flores, Dedicado a Vida, Dedicado à Beleza, Dedicado à Voz e Iluminando a Alma.

 

 

Com trabalhos focados na cultura musical pernambucana e nordestina, como forrós e xotes, Nando sofreu influência de outros ritmos como a salsa e o reggae, o artista compõe para diferentes estilos e gerações de intérpretes.

Por isso, suas composições são bem diversificadas, românticas, dançantes e até infantis.
O primeiro violão, aos 15 anos, foi o pontapé inicial para a carreira artística. Nando ganhou o instrumento do pai e aprendeu a tocar sozinho. Com 17 anos, já fazia parte de uma banda de baile. Aí começaram as apresentações profissionais.

Foi aí que sentiu vontade de criar um estilo próprio e passou a compor. Desde então, assinou centenas de canções e teve mais de 500 músicas gravadas por grandes artistas.

O sucesso nacional de Nando Cordel, chegou com as trilhas para novelas da Rede Globo de Televisão em Roque Santeiro, Tieta, Pedra sobre Pedra, Sexo dos Anjos, além de ter sido tema de abertura de “Tropicaliente” e “A Indomada”.

Também com olhar voltado aos problemas sociais do país, Nando Cordel criou a “Fundação Lar do Amanhã”. Nando ainda participa de outros projetos sociais, como os shows pela paz, que reúnem milhares de pessoas.


Megaphone do Quincas sexta, 27 de janeiro de 2017

SÉRIE DOSE DUPLA – CRÔNICAS SÁTIRAS E LETRAS JOCOSAS – PAULO VANZOLINI



Paulo Vanzolini, nosso zoólogo e compositor

Entre os indvíduos da zoologia que receberam seu nome estão Alpaida vanzolinii; Alsodes vanzolinii; Amphisbaena vanzolinii e Anolis vanzolinii.

Paulo Emílio Vanzolini se encaixaria perfeitamente no dito popular que afirma “a ciência perdeu uma grande nome, mas a música ganhou um mestre”.

Qual nada, Paulo Vanzolini, embora sempre afirmasse ser um cientista em primeiro lugar e que fazia música, de vez em quando, pela vocação de boêmio, foi grandioso nas duas atividades.

Um compositor de observação aguda do cotidiano, cronista, que fez também músicas belíssimas e marcantes.

Um dos fundadores da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), Vanzolini foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico; e premiado pela Fundação Guggenheim, em Nova Iorque, em virtude de suas contribuições para o progresso da ciência.

Entre suas grandes contribuições, adaptou a ‘Teoria dos Refúgios’, a partir de estudos com o geógrafo Aziz Ab’Saber e o norte-americano Ernest Williams.

Feitas as devidas e necessárias referências ao cientista Vanzolini, passemos a parte que aqui queremos abordar. Paulistano de 1924 (faleceu em 2013) fez muito mais do que ‘Ronda’, ‘Volta Por Cima’ e ‘Praça Clovis’. É compositor, por exemplo, de ‘Samba Erudito’.
Aliás, como boa parte dos ouvintes comuns, eu não tinha a mínima ideia de que ‘Ronda’, com Bola Sete e Marcia e ‘Volta por Cima’, por Noite Ilustrada eram da autoria de um zoólogo.

Primeiro aprendi a cantar e memorizei a deliciosa “Samba Erudito”, na voz, vejam só, de Chico Buarque, que nem tinha tirado ainda a carteirinha de cantor..

Mas ouvi demais. Achava as informações históricas surpreendentes para uma canção popular. Ficava muito confuso quando se referia a um “tal” de velho Pickard?”. Eu sei lá quem é Picar, rapaz!

Fui à enciclopédia e aprendi. Ouçam como ouvi a primeira vez….

Samba Erudito, de Paulo Vanzolini, 1967, com Chico Buarque

 

 

Andei sobre as águas
Como São Pedro
Como Santos Dumont
Fui aos ares sem medo
Fui ao fundo do mar
Como o velho Piccard
Só pra me exibir
Só pra te impressionar

Fiz uma poesia
Como Olavo Bilac
Soltei filipeta
Pra ter dar um Cadillac
Mas você nem ligou
Para tanta proeza
Põe um preço tão alto
Na sua beleza

E então, como Churchill
Eu tentei outra vez
Você foi demais
Pra paciência do inglês
Aí, me curvei
Ante a força dos fatos
Lavei minhas mãos
Como Pôncio Pilatos

Andei sobre as águas (…)

Samba Erudito, de Paulo Vanzolini, 1967, pelo autor

 

 

Ah, ia me esquecendo. Afinal quem foi o tal Piccard, a que Vanzonlini, entre tantos inventores, descobridores e personalidades da história, introduziu em seu samba?

Confesso que, além de desconhecer o Piccard referido, digo que a família do sujeito é enorme e todos com alguma história para contar.

Vamos, então a ela: Auguste Antoine Piccard (é assim que escreve). Nasceu na Basileia, na Suíça, em 1884, e morreu em Lausanne, em 1962. Foi físico, inventor e explorador suíço.
Entre suas principais invenções está o batiscafo, espécie de submarino, utilizado para pesquisas em grandes profundidades. Ele e seu irmão gêmeo (olha aí!) Jean Picard foram também balonistas.

Calma, tem mais: seu filho, Jacques Piccard, desceu ao fundo das ‘Fossas Marianas’, no Pacífico, além de ser conhecido como hidronauta e explorador. Sim, tem mais: Bertrand Piccard foi aeronauta e balonista; Jean-Felix Picard, químico orgânico, aeronauta e balconista; Jeanette Piccard (mulher de Jean Felix) aeronauta e balonista; e dom Piccard, balonista. Espero ter sido fiel à brilhante família!!!

Feliz ano novo! Semana que vem tem mais…


Megaphone do Quincas quarta, 25 de janeiro de 2017

SÉRIE DOSE DUPLA – CRÔNICAS SÁTIRAS E LETRAS JOCOSAS – “17.700”



Dezessete e Setecentos: que conta difícil prá daná!

Essa é uma das melhores da série. O acontecido é rotina do cotidiano. Questão de troco, aritmética rápida, somar e diminuir em dois tons.

A gente, nossa, lá de cima, adora um presepada, um embaraço, um pergunta charada, para, ‘quebrar o gelo’. Por isso, o dialeto lá do meu Nordeste é recheado de cifras e segredos.

Dia desses, me vi numa enrascada: há quase 40 anos aqui em São Paulo, vez por outra vem um vocábulo que está na memória mais ancestral. Eu disse: “Oh, Eva, tu tens um birilo para eu tentar futucar um buraco aqui e encontrar um pitoco” – Minha mulher, Eva, virou-se e aparvalhada, pediu: “Dá para repetir a frase inteira?. Eu só entendi a palavra buraco”.

É verdade que Evinha tem pequena deficiência auditiva, mas já nos entendemos pelo olhar. Pois bem, parece que o problema não foi nem futucar e nem mesmo pitoco. A questão foi a palavra que biliro, que confesso, não me lembro de pronunciar desde a infância. Minha avó, Maria, usava muito para fazer o cocó no cabelo.

Rápida no gatilho, minha mulher, agora com mania de google para cá, google para acolá, ameaçadora, disse: “Vamos ver se existe essa palavra!”, resmungou.

Ainda fiz um embargo declaratório: “Vá direto ao dicionário, que é o lugar correto de ser aprender o significado das palavras, mesmo os regionalismos”. Ela insistiu no ‘gugo’ e veio o metal berilo, por aproximação.
Insisti no dicionário – Aurélio, Houaiss, até Jânio servia -. O Michaelis resolveu: “birilo – (reg PB-PE) espécie de grampo para amarrar cabelo”.

Se estivesse jogando “forca”, estaria a um pé do cadafalso. Minha amada, então, só se ria. Salvei-mei pela convicção. Questão de memória afetiva, vocês entendem não é! Morrendo de medo…..

Afinal, ela não tinha birilo, nem grampo, não pude futucar, nem achar o pitoco (vernáculo eternizado nacionalmente pelo genial Antônio Nóbrega, que tem entre seus músicos um rapaz com esse singelo apelido).

Hoje, estou aqui para reproduzir aos senhores uma das canções que mais me encantam na série “Dose Dupla” – Crônicas, o humor, o jocoso etc.

Esse introito foi conversa de beira de calçada, ou de mesa de bar, que o encadeamento de ideias me impeliu registrar no papel.

Perdão, pois, se me alonguei. Mas, como diria Chicó, “tudo que disse acima é a pura expressão da verdade, embora não saiba nem dizer o porquê” (Ariano Suassuna).

A história da música “Dezessete e Setecentos” é longa e ensejará a feitura de mais um “Megaphone” que explicará, amiúde, os caminhos, inusitados por onde está canção de Luiz Gonzaga e Miguel Lima fizeram nos anos 1940. Trata-se, como citei acima de uma conta trivial de somar e diminuir, atrapalhada pela semelhança fonética das possibilidades de troco, para quem deu 20 mil réis para pagar 3 mil e 300…O jogo de palavras, a ligeireza, o contraponto de melodia e aliteração chegam as nos “embananar”. Eu já me embanenei….Ouçam com Gonzaga:

Dezessete e Setecentos, de Luiz Gonzaga e Miguel Lima,com Luiz Gonzaga –
Álbum “Chamego”, de 1958

 

 

Eu lhe dei vinte mil réis
Prá pagar três e trezentos
Você tem que me voltar
Dezesseis e setecentos!
Dezessete e setecentos!
Dezesseis e setecentos!…

Mas se eu lhe dei vinte mil réis
Prá pagar três e trezentos
Você tem que me voltar
Dezesseis e setecentos!
Mas dezesseis e setecentos?
Dezesseis e setecentos!
Porque dezesseis e setecentos?
Dezesseis e setecentos!…

Sou diplomado
Frequentei academia
Conheço geografia
Sei até multiplicar
Dei vinte mango
Prá pagar três e trezentos
Dezessete e setecentos
Você tem que me voltar…
É dezessete e setecentos!
É dezesseis e setecentos!
É dezessete e setecentos!
É dezesseis e setecentos!

Mas se eu lhe dei vinte mil réis
Prá pagar três e trezentos
Você tem que me voltar
Dezesseis e setecentos!
Mas dezesseis e setecentos?
Dezesseis e setecentos!…

Eu acho bom
Você tirar os nove fora
Evitar que eu vá embora
E deixe a conta sem pagar
Eu já lhe disse
Que essa droga está errada
Vou buscar a tabuada
E volto aqui prá lhe provar…

Você tem que me voltar
Dezesseis e setecentos!
É dezessete e setecentos!
É dezesseis e setecentos!…

Mas se lhe dei vinte mil réis
Prá pagar três e trezentos
Você tem que me voltar
Dezesseis e setecentos!
Porque dezesseis e setecentos?
Dezesseis e setecentos!…

Não, pera aí
Mas se lhe dei vinte mil réis
Prá pagar três e trezentos
Você tem que me voltar
Dezesseis e setecentos!
Mas porque
Dezesseis e setecentos?
Dezesseis e setecentos!…

Mas olha aqui rapá
Dezesseis e setecentos!
Dezesseis e setecentos?
Dezesseis e setecentos!
Mas não é dezessete e setecentos?
Dezesseis e setecentos!
Dezesseis e setecentos?
Dezesseis e setecentos!…

Então deixa
É por isso que não gosto
De discutir com gente ignorante
Por isso é que o Brasil
Não “progrede” nisso…

Aqui uma versão do grande Jackson do Pandeiro, mestre do coco, das emboladas, sambas, dono de grandes sucessos nacionais:

 

 

Sobre Miguel Lima, sabe-se que foi o primeiro grande parceiro de Gonzagão, antes mesmo de Humberto Teixeira. Os dois fizeram dezenas de parcerias, entre elas “Chamego”, gravado em 1944, por Carmem Costa.

As informações sobre sua origem e biografia são limitadas. Nem mesmo o “Dicionário de Ricardo Cravo Albin” consegue iluminar seus dados artísticos e biográficos…

Poderia ter recorrido a Abílio Neto, Bruno Negromonte, Xico Bizerra, Pelão e alguns mestres-pesquisadores amigos. Mas não deu tempo….

Semana que vem, tem mais….


Megaphone do Quincas terça, 24 de janeiro de 2017

SÉRIE DOSE DUPLA – CRÔNICAS SÁTIRAS E LETRAS JOCOSAS – “17.700”- II



‘Dezessete e Setecentos’ em produção estrangeira

Retorno a “Dezessete e Setecentos”, sucesso de Gonzaga e Miguel Lima, tão aclamada na coluna da semana passada por sua curiosidade aritmética, seu jogo de palavras e seu ritmo balançado e gostoso de ouvir.

Esta semana, conto um pouco mais da história da música, que chegou a ser reproduzida em filme estrangeiro.

Pecadora (1947) Poster

Em 1947, os Anjos do Inferno, participaram do filme mexicano “Pecadora”, do diretor José Diaz Morales, com roteiro de Pedro Calderon e do próprio diretor.

No elenco, Ramón Armengod, Emilia Guiú, e Ninon Sevilha. Na parte musical, Agustin Lara, Ana Maria Gonzales e o nosso grupo “Anjos do Inferno”.

 

Anjos do Inferno, Dezessete e Setecentos,
de Luiz Gonzaga e Miguel Lima (Pecadora, 1947)
 

 

A sinopse dizia: “Em Ciudad Juárez, uma prostituta decide deixar seu amante, quando ele, traficante, é preso. She marries a rich man, but a pimp from her past reappears unexpectedly. Ela casa com um homem rico, mas um cafetão do seu passado reaparece inesperadamente”.

Os Anjos do Inferno

Era o nome de um conjunto vocal e instrumental brasileiro de samba e marchinha de carnaval, formado em 1934.

Os “anjos” tiveram diversas formações ao longo de uns trinta anos, mas, mesmo assim conseguiu criar uma identidade sonora típica, caracterizada pelo piston. O nome veio como ironia à orquestra “Diabos do Céu”, dirigida por Pixinguinha e muito popular nos anos 30.

O auge da carreira dos “Anjos do Inferno” teria sido nos anos 40, na ‘época de ouro’ do rádio.

Foram contratados pelas principais emissoras de rádio do Brasil, tocaram em cassinos e gravaram diversos sucessos de carnaval. O conjunto excursionou pela América Latina e Estados Unidos, onde acompanhou Carmen Miranda. No total, os “Anjos do Inferno” gravaram 86 discos pelos selos Colúmbia, Continental, Copacabana e RCA.

Curiosamente a mesma música foi gravada no mesmo ano pelo conjunto “Quatro Ases e um Coringa”, rival de “Anjos do Inferno”.

 

Dezessete e Setecentos, com “Quatro Ases e um Coringa”, 1947 

 

Quatro Ases e um Curinga

 

Os “Quatro Ases e Um Curinga” foram um conjunto vocal e instrumental brasileiro, formado no Rio de Janeiro. Ao lado dos “Anjos do Inferno”, foram o grupo de maior sucesso na dita “era do ouro” do rádio brasileiro, principalmente nos anos 40.

No começo, todos os seus integrantes eram de Fortaleza, Ceará: Evenor Pontes de Medeiros . violonista e compositor; José Pontes de Medeiros, violonista e cantor; Permínio Pontes de Medeiros, gaitista e cantor; André Batista Vieira, o curinga pandeirista; e Esdras Falcão Guimarães, o Pijuca.

Em 1939, os irmãos Pontes de Medeiros, que estudavam no Rio de Janeiro, decidiram formar um quarteto vocal e instrumental com o amigo André Vieira, chamado de “melé”.

Depois de se formar em Química, dois anos depois, Evenor e os outros três viajam para Fortaleza, onde se apresentam na Ceará Rádio Clube, com o nome de Bando Cearense.

Foi então que se juntou a eles o violonista Esdras Guimarães. Por sugestão de Demócrito Rocha, eles adotaram o nome de ‘Quatro Ases e um Melé’. De volta ao Rio, entraram em contato com César Ladeira, diretor da Rádio Mayrink Veiga, que mudou o nome do grupo para “Quatro Ases e um Curinga, vez que ‘melé era um termo desconhecido no Rio de Janeiro.

Semana que vem tem mais…

PS: Samba-Calango mineiro, lançado em 1945 por Manezinho Araújo e que mereceu, dois anos mais tarde, este registro dos Quatro Ases e um Coringa, feito na Odeon em 18 de abril de 1947 e lançado em julho seguinte, disco 12784-B, matriz 8213.


Megaphone do Quincas terça, 24 de janeiro de 2017

SÉRIE DOSE DUPLA – CRÔNICAS SÁTIRAS E LETRAS JOCOSAS – MANEZINHO ARAÚJO



Manezinho Araújo, muitos já ouviram falar, mas poucos sabem quem é:

gênio da embolada e pintor de mão cheia

 

Manezinho Araújo é daqueles artistas que muitos já ouviram falar, mas poucos conhecem o homem de verdade.

Considerado o “Rei da Embolada”, nasceu em setembro de 1910, no Cabo de Santo Agostinho-PE e morreu em maio de 1993, em São Paulo.

Segundo o arquivo da Fundaj – Fundação Joaquim Nabuco – Manezinho, ainda adolescente, conheceu Minona Carneiro, um grande cantador de emboladas que foi seu professor e incentivador.

No início dos anos 1930, Manezinho foi para o Rio de Janeiro, onde chegou a passar fome e, para sobreviver, cantava em cabarés. Por sorte, conheceu alguns músicos e começou a se apresentar em programas de rádio, como cantador de emboladas.

Hospitaleiro, o compositor teve a ideia de montar um restaurante – o “Cabeça Chata” – cujos quitutes eram elaborados por sua esposa Alaíde – a dona Lalá.

Seu restaurante chegou a ser frequentado por inúmeras personalidades nacionais e internacionais, como Edit Piaf, Yul Brinner, Carmen Miranda, Villa-Lobos, Cacilda Becker e Raquel de Queiroz.

Dos anos 30 até a década de 1950, Manezinho gravou mais de 50 discos 78 rpms e 4 LPs. Suas canções foram gravadas por vários cantores brasileiros. Manezinho trabalhou nas rádios Tupi, Guanabara e Mayrink Veiga. Em São Paulo, na Record.

Ainda de acordo com a Fundaj, pode-se afirmar que o interesse dos sulistas pela música popular nordestina se deve a Manezinho Araújo, que participou de vários filmes nacionais, bem como de 22 cinejornais da Atlântida. Em 1945, gravou o calango “Dezessete e Setecentos”, de Luiz Gonzaga de Miguel Lima.

– A embolada é uma das formas mais originais das músicas do folclore do Nordeste. De maneira humorística, o embolador discorre sobre pessoas e fatos, contando vantagens, como se fosse um cronista. Alguns consideram que a embolada tem sua origem na literatura de Cordel.

Polivalente, Manezinho veio a se tornar um dos artistas mais conceitos do Brasil passando a se dedicar, no início dos anos 1960 à pintura. Começou com aquarela e guache, sem orientação alguma e culminou pintando com tinta a óleo.

Em estilo primitivo puro, Manezinho passava para as telas cenas da infância, da juventude e da maturidade, retratando as raízes do Nordeste.

Além de estar presente em museus brasileiros, tem duas telas expostas no Museu Calouste Gulberdian, em Lisboa, Portugal.

“Feira de Caruaru”, Manezinho Araújo, 1971

 

Escolhi para ilustrar o som de Manezinho Araújo a saborosa e trava-línguas embolada “Para Onde Vai Valente”, gravada pelo autor em 1938:

 

 

Pra onde vai, valente?
Vou pra linha de frente,

Tava na venda
C’a pistola e um cravinote
0 muleque deu um pinote
Me chamou mode brigá.


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