Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro terça, 17 de março de 2020

PROSEANDO NA SOMBRA DO JUAZEIRO

 

PROSEANDO NA SOMBRA DO JUAZEIRO

Declamação deste colunista. Fundo Musical Biu do Pife do (CD) Pife do Biu:

 
 
 

Nessa vida de poeta
Já cantei em palco e praça,
Com um bom cachê ou de graça
Querendo alcançar a meta,
Mas de maneira discreta
Vou mudando o meu roteiro,
Com esse jeitão roceiro
De mansinho fui chegando
E já estou “Proseando
Na sombra do Juazeiro”!

A natureza me inspira
E dela faço usufruto,
Pois um poeta matuto
Não deixa de ser caipira,
Sempre fala em macambira
Umburana e marmeleiro,
Mandacaru e facheiro
Mas ao longo do caminho
Para e descansa um pouquinho
Na sombra do Juazeiro.

Pois essa brisa arejada
Tão refrescante e gostosa,
Convida a gente pra prosa
Que já começa animada,
A poesia embalada
Nesse clima alvissareiro
Manda inspiração ligeiro
Para o poeta cantante
Que aqui repousa um instante
Na sombra do Juazeiro!

O gado também desfruta
Dessa sombra acolhedora,
Que é a grande protetora
E de forma absoluta
Qualquer animal disputa
O espaço desse sombreiro,
Até o velho umbuzeiro
Vai passar despercebido
Pois o lugar preferido
É a sombra do Juazeiro!

Ali procuram descanso
O besouro e a abelha
A vaca, a cabra, a ovelha,
A galinha, o pato, o ganso,
Cavalo, jegue, boi manso,
O sabiá prazenteiro,
O galo deixa o poleiro
Aonde vai pernoitar
E também vem se abrigar
Na sombra do Juazeiro!

Eu aproveitando o clima
De bonança e calmaria,
Versejo com alegria
Dando um capricho na rima
Aqui tem matéria prima
Pra cantar um dia inteiro,
Esse ambiente fagueiro
A qualquer um só faz bem.
Caro leitor, vem também,
Pra sombra do Juazeiro!


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro terça, 10 de março de 2020

8 DE MARÇO – DIA DA MULHER (CORDEL DE CALOS AIRES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

8 DE MARÇO – DIA DA MULHER

Deus fez a mulher, tão forte, tão linda,
E proveu-lhe ainda, de fertilidade!
Para que procrie, povoando o mundo,
Deu-lhe o dom fecundo da maternidade.

Não lhe fez rainha, nem lhe fez escrava,
Fez-lhe forte brava, franca, obstinada,
Mesmo que aparente, ser frágil, ser leve,
Não pode e nem deve, ser subjugada.

Deu ao seu semblante, meiguice, candura,
Afeto, ternura, graça e sedução,
Por conter beleza, no corpo e no rosto,
Causa ao sexo oposto desejo e atração.

Sempre é espancada pelo companheiro,
Que por ser grosseiro só lhe causa dor,
Violenta, estupra, persegue, extermina,
Com a mão assassina cheia de furor.

E sendo a mulher um ser tão completo
Carece de afeto, carinho e amor,
E não da bruteza do homem ingrato
Que dar-lhe maltrato desprezo e rancor.

Todas as mulheres merecem respeito
Por lei, por direito, de forma irrestrita,
Tanto a nobre e rica que habita a mansão
Quanto a do lixão, beco ou da palafita.

Mulher, não merece sofrer preconceito,
Adote o conceito de dar-lhe valor,
Portanto não deve fazer-lhe ameaça
Alegando a raça, o credo ou a cor.

Nesse oito de março da mulher é o dia,
Venho com alegria parabenizar,
Todas as mulheres, e a minha querida,
Meu amor, minha vida, e dona do meu lar.


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro terça, 25 de fevereiro de 2020

UM APELO AO TEMPO

 

UM APELO AO TEMPO

Tempo ingrato, mordaz e inclemente,
Tu, com tua atitude inconsequente,
Corroestes tão progressivamente
O luzir dos meus dias joviais!
Sem dar chance pra uma escapatória
Desmanchastes a minha farta história
Meus momentos de êxito, de vitória,
Tu levaste, e não trará jamais.

Minha face contém profundas rugas
As carquilhas, as pregas e verrugas,
Não me dão uma chance para fugas,
Minha cara já está desfigurada,
O espelho é sincero! Não me ilude,
Já me disse que agiste em plenitude,
Enviando-me para a decrepitude
De uma forma brutal, despudorada.

Deste cabo da minha mocidade
Sem ternura, sem maviosidade,
E o transporte sem freio da idade
Pela estrada da vida me conduz,
Vou seguindo em paz, resignando,
No caminho por Deus determinado,
Redimido, contido e sufocado,
Com o peso excessivo dessa cruz.

Mas em meio a tanto desalento,
Não reclamo, lastimo nem lamento,
Ao tempo, eu apelo no momento,
Pra que tenha comigo a sensatez,
De um viver que contenha qualidade
Dando a aura, a possibilidade,
Pra ceder-me a oportunidade
De chegar ao final com lucidez.


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro terça, 18 de fevereiro de 2020

JAMAIS PERCA A FÉ EM DEUS

 

JAMAIS PERCA A FÉ EM DEUS

Quem está tristonho, arrasado, deprimido,
Acha que a vida perdeu todo o seu sentido,
Que é azarado, um infeliz que não tem sorte,
Sem ter prazer, nem quer viver, prefere a morte?
Se, incriminar, se censurar ou se culpar,
Eu lhe garanto que não vai adiantar,
Pra lhe ajudar, tentar curar os males seus!
Dou-lhe um conselho, dobre o joelho e ore a Deus!

Não interessa se o seu Deus é um Deus pagão!
Pois Deus é Uno em qualquer religião,
Quem crê em Deus necessita força e fé,
Para o que crê, não importa Deus quem é,
Seja Deus Pai, seja Jesus, ou seja, Alá,
Deus de Abraão, Deus de Jacó ou Jeová,
Seja Orixá, ou se é Javé, Deus dos hebreus,
Quem implorar alcançará graças de Deus.

Então implore, faça fé na sua crença,
Deus vai ouvir e vai curar sua doença!
Vai dar-lhe apoio, lenitivo, subsídio,
Na hora infausta que planeja um suicídio!
Jamais esqueça que Deus é eficiente,
Onipresente, Onipotente, Onisciente,
E até aquele que se diz um antideus,
Ao crer em si passa a ser seu próprio Deus.

Deus está pronto pra tirá-lo do abismo,
Sem requerer paga, cota, taxa ou dízimo,
Deus é clemência, é bondade, é paz, amor,
Sem definir nação, credo, raça ou cor,
Mesmo que esteja em missa, culto ou oração,
Faça a morada de Deus em seu coração,
Não se proclame um ser maior, um semideus!
Só os humildes estarão perto de Deus.

Deus não só está nos altares da igreja
Deus lhe protege em qualquer lugar que esteja!
Deus não se agrada de algazarra e alarido,
Quem pede a Deus em silêncio, é mais ouvido,
Quem ora a Deus confiante, com firmeza,
Deus vai ouvi-lo e socorre-lo, com certeza!
E na mensagem que passei nos versos meus
Deixo um alerta! Jamais perca a fé em Deus.


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro terça, 11 de fevereiro de 2020

AS COISAS DO MEU LUGAR

 

Ó Senhor! Como eu queria,
Retornar ao meu rincão,
Pra sentir a brisa fria
Que em noites de verão
Chega pra nos refrescar!
E no pomposo arrebol
Escutar o rouxinol
Contente a cantarolar
Na hora do sol nascer!
Eu bem queria rever,
E outra vez me embevecer,
Com as coisas do meu lugar.

Ouvir do vento o açoite,
Banhar-me lá no regato,
E em cada boca de noite
Sentir o cheiro do mato,
Que com seu odor ameno
Em contraste com o sereno
Inebria o nosso olfato.
Daqui fico a implorar
Pedindo a Deus um aprovo,
Pra que eu volte de novo,
Pra curtir junto ao meu povo,
As coisas do meu lugar.

Ver a lua majestosa
Despontar por trás da serra,
Tão imponente e garbosa
Prateando a minha terra,
Espalhando no baixio
Um lençol fino e macio,
Onde a beleza se encerra.
Eu, estando a contemplar,
Tenho a fiel impressão
Que o Autor da Criação
Atingiu a perfeição
Nas coisas do meu lugar.

Como eu queria morar
Na casa grande, alpendrada,
Para outra vez me acordar,
No final da madrugada
Escutando os passarinhos,
Que ao deixarem seus ninhos
Pra saudar a alvorada
Declamam seu poetar
Sem que saia do esquema.
Cada um com seu poema,
Na dissertação do tema?
As coisas do meu lugar.

Hoje vivo tão distante
Da minha terra querida,
Sendo um mero viajante,
Pelas estradas da vida,
Deus que tudo determina,
Fará com que minha sina
Um dia seja cumprida,
Jamais canso de esperar!
Peço a Deus por caridade
Que me dê a liberdade,
Pra que eu mate a saudade,
Das coisas do meu lugar.

Meu desejo é só um sonho
Não passa de uma quimera,
Mas, meditando eu suponho,
Quem sabe o mesmo prospera?
Se esse é meu objetivo
Vou tentar mantê-lo vivo,
Implorando, ah! Quem me dera
Que eu pudesse retornar!
Praquele meu solo amado,
Aonde eu deixei guardado,
No cofre do meu passado,
As coisas do meu lugar.


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro terça, 04 de fevereiro de 2020

ESSE BRASIL DA GENTE

 

ESSE O BRASIL DA GENTE

 

O nosso Brasil possui
Dimensões continentais,
Mas, os bens são divididos,
Em proporções desiguais
De um lado a elite nobre
Que dispõe de ouro e “cobre”
Não tem do que reclamar!
Usa perfume francês,
E com o vinho português
Degusta um bom caviar.

Do outro lado a pobreza
“Rala” pra sobreviver!
E rende graças a Deus
Quando arranja o que comer,
Paga caro a condução,
Só come arroz com feijão,
Macaxeira, mungunzá,
Salame, cachorro-quente!
Esse o Brasil da gente
Daqui, do lado de cá!

A vida é bem diferente
Do que vive no outro lado,
Que veste roupas de marca,
Passeia em carro importado,
Desfruta do privilégio
De estudar em bom colégio.
Se acaso acomete um mal
Que venha a lhe incomodar?
Vai depressa se tratar
No mais pomposo hospital.

Do lado de cá a vida
É dura, e não tem padrão,
Que estabeleça uma norma
Mínima, pra que o cidadão,
Sinta um breve refrigério.
Se, adoece, o caso é sério,
Tem que apelar pra Jesus
Pra que venha o socorrer,
Porque senão vai morrer
Na espera pelo SUS.

Só tem do lado de lá
Promotor, advogado,
Prefeito, vereador,
Governadores de estado,
Deputados, senadores,
Além dos grandes gestores
Que mandam nessa nação,
Cheios de pompas e brilhos
Já vão preparando os filhos
Pra dar continuação.

 

Porém do lado de cá,
Está o trabalhador,
Que de fato é quem faz tudo
Mas ninguém lhe dá valor,
Não passa de um empregado
Que vive subjugado
Sob as ordens do patrão,
Com vida boa, nem sonha,
De tão pouca faz vergonha
Sua remuneração.

Mas é do lado de lá
Que está a força motriz!
Pois são eles que decidem
Sobre os rumos país,
Tem político mercenário
Que “assalta” o nosso erário
De modo amplo, irrestrito,
E se alguém denunciar?
Nada vai adiantar
Fica o dito por não dito.

Do lado de cá a vida
É um real desafio!
O pobre desalojado
Passa fome, sede e frio,
Pede um pão, lhe é negado,
Sem ter dinheiro, o coitado,
Rouba um quilo de feijão,
Com essa atitude feia
Vai amargar na cadeia
Dez anos de reclusão.

O dinheiro do de lá
Vai muito além do provento!
Acharam mais de cinquenta
Milhões num apartamento!
Numa ganância voraz
O rombo da Petrobras
Quase que quebra a nação!
E teve um tal de Rodrigo
Que na mala pra um amigo
Levava meio milhão.

Aqui do lado de cá
É outra a realidade!
O pobre cria seus filhos
Com baixa escolaridade,
Falta leito em hospitais
A insegurança é demais
Não se faz investimento,
E o que mora lá no morro
Sem que lhe prestem socorro
Morrem num deslizamento.

Mas, o do lado de lá,
Sequer fica apoquentado!
Habita um prédio bonito
Num condomínio fechado,
No trigésimo quinto andar,
Respirando o puro ar
Sem conter poluição
Na tranquila cobertura
Vive de forma segura
A muitos metros do chão.

E nós do lado de cá,
Moramos numa favela,
Num terreno alagadiço,
Num beco ou numa viela,
Naqueles dias nublados
Ficamos preocupados
Sem ter pra quem apelar,
Quando a tragédia acontece
É que o gestor aparece
Só pra se justificar.

E diz: esse povo pobre,
Que invade esse lugar
E por aqui fica erguendo
Construção irregular
Sem ter planta e nem projeto
Sem aval de um arquiteto
Nem visto de um engenheiro
Faz uma obra insegura,
Depois culpa a prefeitura
Pelo trabalho fuleiro.

Que nós do lado de cá
Não tem valor, isso eu noto,
Pois só somos procurados
Na hora que o nosso voto
Vai servir de pedestal
Para o “fulano de tal”
Ganhar dinheiro e poder!
Quando são favorecidos
Logo somos esquecidos
Sequer vêm agradecer.

Vocês do lado de lá
Negam os nossos valores,
Porém eu tenho um alerta
Para fazer aos senhores
A água sem impureza
O pão farto em sua mesa
É a plebe quem lhe traz,
Então, não nos desmereça,
Pense um pouco e reconheça
O bem que a gente lhe faz.

Eu faço parte da plebe
E vivo muito contente,
Gosto de falar “prumode”
“Pruque” “pruvia” e “oxente”,
Candeeiro é a minha luz,
Gosto de comer cuscuz
Angu de milho e xerém,
Fava com ovo e jabá,
E é nesse lado de cá
Que me sinto muito bem!


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro terça, 28 de janeiro de 2020

VIDA E MORTE FRENTE A FRENTE

 

 

VIDA E MORTE FRENTE A FRENTE

Na frente do cemitério
Tem uma maternidade,
Achei que era muito sério
Aquela fatalidade,
Infeliz coincidência
Ou total incompetência?
Quem sabe, falta de sorte,
Ficar em contrapartida
De um lado a casa da vida
Do outro a casa da morte.
Na primeira a esperança
Renova-se a cada instante,
Vindo à luz uma criança
Do ventre de uma gestante,
Dando o seu primeiro passo
Para um futuro brilhante,
Traz confiança e alegria,
Que momento interessante!
Na segunda, é a tristeza,
Que ali vive impregnada,
Os prantos rolam nas faces,
A saudade faz morada,
Onde se escuta lamentos
De dor e de sofrimentos
E é ali que a criatura
Deixou a missão cumprida
E o corpo baixa sem vida
Numa fria sepultura.
Assim em lados opostos
Situações diferentes,
A primeira traz a vida
Que nos deixa bem contentes,
Na segunda, menos sorte,
É a casa que abriga a morte
Pra o descanso eternamente.


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro terça, 21 de janeiro de 2020

O BEIJA-FLOR (POEMA DE CARLOS AIRES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

 

O BEIJA-FLOR!!!

Um beija-flor pequenino
É grande a sua bravura!
Parece que o seu destino
É viver nessa aventura!
Corre risco o valentão,
Ao bater num gavião
Quando voa a grande altura,
Pois tem coragem de sobra,
Ao fazer essa manobra.
Ele encara e é bom que diga
Que além de ser bom de briga,
Para se livrar da cobra
A sua grande inimiga
Encontra logo um jeitinho
Para construir seu ninho
Nos galhos de um pé de urtiga.
A sua plumagem única
Realça sua beleza,
E essa tão bela túnica
Recebeu da natureza,
Ave polinizadora
Tornou-se uma defensora
Das obras da criação!
Beija o pistilo das flores
Deleita-se com seus sabores
E ativa a procriação,
Sua utilidade é tanta
Que Deus se enleva e se encanta
Com essa sua invenção.
Eu, como um simples poeta,
Acho que atingi a meta
Fazendo a dissertação.


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro terça, 14 de janeiro de 2020

UM PEDIDO AOS FILHOS MEUS

 

 

UM PEDIDO AOS FILHOS MEUS

 
 
 

Eu hoje olhando no espelho é que me dei conta
Que o peso dos anos fizeram-me afronta
E que a juventude a tempo eu perdi,
Partiu sem me dar a chance de evasiva ou fugas
Deixando na face carquilhas e rugas
Dando sinais claros que eu envelheci.

Meus passos estão muito lentos e fora de escala
Recorro ao auxilio de uma bengala
Pra com segurança me locomover,
Mas essa é a lei da vida que a todos conduz
Nasce cresce nutre-se e se reproduz
Deixa a descendência pra depois morrer.

Meus filhos no fluir da vida rascunhei os traços
Conquistei vitorias amarguei fracassos
Tive encantamentos e desilusões,
Mas hoje olhando o passado é que compreendo
Que muitas pendências fiquei lhes devendo
Isso é o que me causa tantas frustrações.

Não deixo fortunas fazendas, ou se quer poupança,
Porem com orgulho deixo como herança
Para que prossigam com seus ideais,
A marca da minha humildade para ser seguida
Os muitos conselhos e as lições de vida
Que aprendi na infância com meus velhos pais.

Então filhos meus agora lhes faço um pedido
Cuidem desse velho que já foi vencido
Pelo tempo ingrato que sem condolência,
Causou uma enxurrada de tombos e trancos
Meus cabelos loiros ora já estão brancos
Enturvando o brilho da minha aparência.

Portanto eu quero que saibam que estou coeso
Que jamais pretendo transformar-me em peso
Nem num embaraço que encubra a essência,
No seio das suas famílias sombreando os brilhos
Então o que peço pra vocês meus filhos
É bastante calma e muita paciência.

Meus filhos aqui eu encerro esse meu poema
E cada mensagem que passei no tema
Servirá pra um dia na posteridade,
Vocês lembrarem de mim como um pai modesto
Mas com o nome limpo e um passado honesto
Que deu bons exemplos para humanidade.

 


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro terça, 07 de janeiro de 2020

APOLOGIA AO MATUTO

 

 

APOLOGIA AO MATUTO!!!

 
 

Matuto iletrado, da mão calejada,
Do cabo da enxada, da luta do gado,
Jamais imagina o que é vaidade,
E a felicidade mora em seu roçado.

Sente-se feliz, vivendo na roça,
Na pobre palhoça, de barro e sapé,
Morando distante, da modernidade,
Que tem na cidade, nem sabe o que é.

Se o homem da rua, zomba do teu jeito,
Não chega ao teu peito, o ódio, o rancor,
Tua alma é pura, não guarda maldade,
Só tem na verdade, lugar para o amor.

Teu suor salgado, tem gosto de terra,
No teu Pé-de-Serra, tu és tão feliz,
A vida roceira, não troca por nada!
Pois lá está fincada, a tua raiz.

Pois, o que chasqueia, e até te destrata,
Despreza, maltrata, renega teu nome,
Não vê que é da roça, cheia de impureza,
Que leva pra mesa, de tudo que come?

Por isso te exalto! Oh nobre matuto!
Presto-te um tributo, te dou nota cem,
Por ser oriundo, das brenhas, do mato,
Assim sou de fato, matuto também!

Portanto, te orgulha, matuto brejeiro!
Do jeito matreiro, do teu linguajar,
Do lugar que vive, no aceiro da mata,
Ouvindo a cascata, e olhando o luar.

E não te aborreça, se te chamam “Jeca”,
“Caipira sapeca”, “Zé do interior”,
Quem sabe se tocam, e até compreendem,
Que em tudo dependem desse lavrador!


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro quarta, 01 de janeiro de 2020

GLOSAS (CORDEL DE CARLOS AIRES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

 

GLOSAS

Mote:

Quem for novo aproveite a mocidade
A velhice é um mal que não tem cura.

Um alerta a quem goza a juventude
Pra que esteja em plena consciência!
Que esta fase que está em florescência
Em que esbanja vigor, força e saúde,
Breve passa, e a decrepitude,
Com o acúmulo dos anos lhe procura,
Transformando de vez sua figura
Com o peso do fardo da idade,
Quem for novo aproveite a mocidade
A velhice é um mal que não tem cura.

Todo jovem na sua caminhada
Preconiza a beleza em que ostenta,
Quando sobe a ladeira dos quarenta
Ver que a face de vez foi transformada,
Sua pele que era acetinada,
Escarpada está, e a desventura,
Se, apodera daquela criatura,
Pra roubar-lhe o luzir da vaidade,
Quem for novo aproveite a mocidade
A velhice é um mal que não tem cura.

No outrora comigo foi assim
Eu pensava que não envelhecia,
Mas um dia seguido de outro dia
Com uma noite nomeio fez de mim
Um vetusto que já avista o fim
Da estrada sombria e muito escura,
Que se encerra na fria sepultura
Onde irei habitar pra eternidade,
Quem for novo aproveite a mocidade
A velhice é um mal que não tem cura.

A idade aos poucos nos transforma
Desviando os nossos ideais,
Que oscilam de formas desiguais
Indo além dos padrões de regra e norma,
Nem sequer uma chance pra reforma
O período do tempo lhe assegura,
Um conselho pra geração futura!
Usufrua da jovialidade,
Quem for novo aproveite a mocidade
A velhice é um mal que não tem cura.


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro terça, 19 de novembro de 2019

A CASA QUE NASCI NELA (FOLHETO DE CARLOS AIRES)

 

A CASA QUE NASCI NELA

 

Numa viagem recente
Que fiz ao meu Pé-de-Serra
Pra visitar minha terra
Achei tudo diferente,
Senti a dor comovente
Por não ver mais a cancela
E nem a casa amarela
Que foi a minha morada,
Hoje não resta mais nada
Da casa que nasci nela.

Vendo a macabra tapera
Fiquei bastante abalado
Apagou-se o seu passado
Não demonstra mais quem era,
No embalo dessa quimera
Concentrei-me com cautela
Lembrando o quanto era bela
De saudade até chorei,
E num papel rabisquei
A casa que nasci nela.

Devagar imaginando
Fui seguindo passo a passo
Juntando cada pedaço
Conforme ia me lembrando,
E aos poucos restaurando
Como um pintor que pincela
Fiquei dando uma olhadela
E riscando no papel,
Para ilustrar meu cordel
Da casa que nasci nela.

Daquele alpendre imponente
Não vi sequer os sinais
Como também os portais
Ou ao menos um batente,
Não encontrei tão somente
Um ferrolho, uma tramela,
Senti a cruel sequela
Pesar por sobre meus ombros,
Ao revirar os escombros
Da casa que nasci nela.

 

Não vi sequer um pedaço
De ripa ou da cumeeira,
E de uma valha cadeira
Encontrei só o bagaço,
Como também o retraço
Dos cacos de uma tigela,
Uma beira da gamela
Onde comia um cevado,
Fez-me lembrar do passado
Na casa que nasci nela.

Fechei os olhos, tristonho,
E a cena causou incômodo
Lembrei-me de cada cômodo
Como se fosse num sonho,
O motivo eu nem suponho
Porque demoliram ela,
Relembrei cada janela
Fiquei emocionado,
Ao recordar o passado
Da casa que nasci nela.

Ainda lembro a fachada
Numa visão excelente,
Tão linda era a sua frente
Cinco esteios na calçada,
Trago a imagem guardada
Na mente em forma de tela
E jamais se desmantela
Porque não tenho coragem,
De apagar a imagem
Da casa que nasci nela.

De um quarto ligado a sala
E mais dois no corredor,
Lembrei com tanto langor
Que até me embargou a fala,
O meu coração se embala
E a saudade me atropela,
Ao encontrar a fivela
Do cinturão de papai,
Meu peito em pranto se esvai
Na casa que nasci nela.

A languidez me provoca
E até me desencanta,
Lembrando a sala de janta
E o quarto da muriçoca,
O meu pensar se desloca
E vai esbarrar naquela
Cozinha, aonde a panela,
Cheinha de feijão quente,
Matava a fome da gente
Na casa que nasci nela.

E nesse monte de entulho
Envolto nos matagais,
Aqui vivi com meus pais
Disso tenho muito orgulho,
Ainda escuto o barulho
Do latido da cadela
Que estava de sentinela
Pronta para reagir,
Com quem tentasse invadir
A casa que nasci nela.

Lembrei-me da velha mesa
Da jarra, o pote, a quartinha,
Dos dois banquinhos que tinha
Não esqueço com certeza,
Duma lamparina acesa,
No oratório uma vela,
Cada evidência revela
Um tudo que hoje é nada,
É em que está transformada
A casa que nasci nela.

O velho fogão a lenha
Onde mamãe cozinhava
Com gravetos que encontrava
Nas capoeiras da brenha,
Quando escutava a resenha
De futebol ou novela
No rádio, sob a tutela,
Que pai estabelecia
Era assim o dia a dia
Na casa que nasci nela.

Desse outrora de bonanças
Restam as reminiscências
Pra garantir as essências
Daquelas boas lembranças,
E como amargas heranças
Resta o furor da procela
Que o tempo sem ter cautela
Deixou por pura maldade
Somente a dor da saudade
Da casa que nasci nela.

Nada do que tinha antes
Mais nesse lugar existe,
A paisagem tão triste
Apaga os tempos brilhantes,
São tão desinteressantes
Que a mente até se esfacela,
Ao dar aquela olhadela,
Deu um piripaque em mim,
Ao ver o macabro fim
Da casa que nasci nela.

Do seu passado eu preservo
As doces recordações,
Que me traz as emoções,
E no meu peito as conservo,
Daquele outrora reservo
O carinho de quem zela,
Inda acendi uma vela
Para guardar os sinais
Que mostra os tristes finais
Da casa que nasci nela.

Aonde a felicidade
Trazia tantos encantos
Cedeu lugar para os prantos
Pra solidão e a saudade
Perdeu a identidade
Hoje não é mais aquela.
Nessa pequena parcela
Da poesia que fiz
Mostro o quanto fui feliz
Na casa que nasci nela!


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro terça, 05 de novembro de 2019

A ESTRADA E O POETA (POEMA DE CARLOS AIRES)

 

 

A ESTRADA E O POETA

Essa estrada reta, qual é sua meta,
E aonde é seu fim? De forma discreta,
Por favor, poeta, responda pra mim!
Sendo um andarilho, não acha empecilho,
Para me dizer, por ser viajante,
Sei que num instante, vai me responder.

E logo o poeta, de forma completa,
Respondeu assim, essa estrada é linda,
E lhe digo ainda, que ela não tem fim,
É uma porta aberta, que de forma certa,
Serventia tem, encanta e atrai,
Servindo a quem vai, e servindo a quem vem.

Pra o caminhoneiro, pra o aventureiro,
Para o caminhante, que por ela passa,
Com charme e com graça, pra perto ou distante,
Cansado ou disposto, carrega no rosto,
Sorriso ou saudade, pela estrada larga,
Transportando a carga, de felicidade.

Leva a alegria, leva a poesia, por onde passar,
Leva o sofrimento, a mágoa, o lamento,
Leva o bem-estar, passam vales, rios,
Tantos desafios, nessa caminhada,
Com fé no Divino segue o seu destino,
Qualquer peregrino, que vai nessa estrada.

 


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro quarta, 23 de outubro de 2019

SANTA DULCE DOS POBRES (FOLHETO DE CARLOS AIRES)

 

SANTA DULCE DOS POBRES

 

Peço a Deus a sublime inspiração
Pra narrar em poema de cordel,
Sobre a vida e a canonização
De uma Freira baiana tão fiel
Irmã Dulce dos Pobres é seu nome
Seu legado é enorme e não se some
Pois na luta incansável contra a fome
Soube bem acatar o seu papel.

Como um bom general em seu quartel
Irmã Dulce lutava bravamente!
Enfrentava a batalha mais cruel
Protegendo o pedinte e o carente,
Ajudar os mendigos foi seus planos,
Pra tirá-los dos torpes desenganos,
Começou muito cedo, aos treze anos,
Dando abrigo e apoio àquela gente.

Ajudava ao que estava doente
Com remédio comida e agasalho,
Foi um “anjo da guarda” certamente,
Sem jamais cometer um ato falho,
Muitas vezes sendo incompreendida,
Irmã Dulce seguiu de fronte erguida,
Dando amparo a pessoa desvalida,
Fez da causa dos pobres seu trabalho.

Seguiu firme sem procurar atalho
Irmã Dulce na sua caminhada,
Não temia entrave ou atrapalho
Nem espinhos, naquela longa estrada,
Enfrentou desagrados, dissabores,
Mágoa, afronta, tristeza e desamores,
Mas, colheu nos jardins as belas flores,
No extenso trajeto da jornada.

Parecia ser tão fragilizada
Irmã Dulce, porém era tão forte!
Nessa luta excessiva, exagerada,
Seu intuito era sempre dar suporte,
Ao menor que vivia abandonado,
Ao pedinte faminto e flagelado,
Ao que em droga já estava viciado,
Ajudava encontrar seu rumo norte.

Apesar de conter pequeno porte
Foi gigante Irmã Dulce em sua ação,
Pra que a plebe, pudesse dar aporte,
Deus doou-lhe um enorme coração!
Alentada, audaz e destemida,
De coragem imensa e desmedida,
Em defasa dos pobres dava a vida,
No fiel cumprimento da missão.

 

Irmã Dulce na sua formação
Foi dileta e honrada professora,
Porém não prosseguiu na profissão
Preferiu ser dos pobres protetora,
Com a sua coragem sem limites
Ia à busca de auxílio nas elites,
Persistia arriscando seus palpites,
Como uma insistente transgressora.

Com a alma bastante acolhedora
Irmã Dulce tentava na verdade,
Ser aquela ferrenha defensora
Dos humanos, pregando a igualdade,
Conversando fazia seus desdobres,
Implorando a ajuda dos mais nobres,
Pra doar suprimentos para os pobres,
Dependentes da sua caridade.

Pela periferia da cidade
Sempre andava atenta e vigilante,
Afastando do mundo da maldade
O menor delinquente e meliante,
Irmã Dulce ofertava o seu abraço,
Acolhia o pivete em seu regaço,
Albergando o pequeno em seu espaço,
Para assim redimi-lo doravante.

Bem disposta e de forma triunfante
Como freira cumpriu seus ideais,
Foi pacata, não foi deselegante,
Paciente, Irmã Dulce foi demais!
Muitas vezes sofreu decepções,
Os ultrajes e as humilhações,
Ao pedir patrocínio a os “ricões”,
Pra tocar suas obras sociais.

No reduto dos grandes hospitais
“Santo Antônio”, eu cito em Salvador!
Irmã Dulce ali lutou demais
Para erguer essa obra de valor,
Onde era um galinheiro antigo,
Hoje o pobre encontra um ombro amigo,
Aconchego, resguardo, além de abrigo,
Pra curar de uma vez a sua dor.

Outro feito retrata com amor
Irmã Dulce na sua trajetória,
Por legado deixou esse primor,
Pra tornar mais brilhante a sua história,
Pois se trata de um grande orfanato,
Como exemplo explícito de bom trato,
Essa obra benéfica é de fato,
Mais um marco a polir a sua Glória.

A Bahia preserva na memória
Irmã Dulce dos Pobres certamente,
Que viveu sem alarde e sem vanglória
Sua vida pacata humildemente,
Ajudando ao mais necessitado,
Que da nata ricaça é rejeitado,
Mas por ela não foi abandonado,
Teve apoio e defesa fartamente.

Pequenina, mas muito coerente,
Irmã Dulce foi dona da razão,
Quando um dia um sujeito prepotente,
Por deboche cuspiu na sua mão,
Quando um dote pediu-lhe, mas enfim,
Disse ao homem tacanho bruto e ruim,
Nessa mão esse cuspe foi para mim,
Mas coloque na outra a doação.

Sempre forte na firme devoção
Não cansava na sua maratona,
Foi taxada sem justificação
De invasora, de chata e de pidona,
Mentirosa, afrontosa e indiscreta,
E por ser tão perfeita e tão correta!
Irmã Dulce buscando a sua meta,
Não ficava sentada na poltrona.

Ela sempre tocava na sanfona
A serviço da evangelização,
Além disso, Irmã Dulce era a dona,
Do mais nobre e mais puro coração,
No fluir da missão no seu ofício,
Encarava abismo e precipício,
Enfrentando obstáculo ou sacrifício
Com a força da prece e da oração.

Concedia o indulto do perdão
Para quem de má fé lhe injuriava,
Irmã Dulce estendia a sua mão
Mesmo para o que lhe esbravejava,
Revidava o destrato com amor,
Sem ter mágoa remorso e nem rancor,
Desprezava a ação do agressor,
E o insulto esquecia e relevava.

O acumulo dos anos já pesava
E a doença também lhe acometeu,
Irmã Dulce aos poucos definhava
Pra desgosto e pesar do povo seu,
Veio a morte sombria e sorrateira,
Dia treze de março sexta feira, (1992)
Pôs um fim no viver daquela freira
Que em vida aos pobres defendeu.

Irmã Dulce na vida em que viveu
Dedicou-se para a filantropia,
E essa prática modesta lhe rendeu
A alcunha de “Anjo da Bahia”,
Anjo bom, bem provido de clemência,
Um exemplo de fé e penitência,
Com bravura e com muita competência,
A missão que Deus deu ela cumpria.

Já no leito de morte padecia
Irmã Dulce com fé e devoção,
A mais nobre visita recebia
Recheada de amor e gratidão,
Foi o Papa João Paulo Segundo,
Que ao vê-la em estado moribundo,
Antes que ela partisse desse mundo,
Aplicou-lhe a sagrada extrema-unção.

Mas aquele tão nobre coração
Só parou de bater, mas não morreu,
Mesmo estando em outra dimensão
Irmã Dulce milagres concedeu,
O primeiro prodígio eminente,
Foi cessar um derrame incontinente,
Em que Claudia a mulher parturiente,
O milagre primeiro recebeu.

Porém outro milagre aconteceu
Foi a cura de um cego em desenganos,
De Maurício a vista escureceu
Já havia mais de quatorze anos,
No apelo duma amenização,
Pra Irmã Dulce pediu com devoção
Houve a cura da dor e a visão
Restaurou totalmente sem ter danos.

Ao tornar-se a santa dos baianos
Santa Dulce dos Pobres no altar,
Dá suporte pra nós seres humanos
Na Bahia como em qualquer lugar,
Pelo Papa ela foi canonizada,
E agora que está santificada,
Amplamente vai ser glorificada,
Para o povo aclamar e venerar.

Os meus versos aqui vão terminar
Mas prossigo com a minha devoção,
Santa Dulce dos Pobres vai me dar
Muito apoio, suporte e proteção!
Por saber que protege os desvalidos,
É com fé que lhe faço meus pedidos,
Na certeza de que são atendidos,
Pela força da sua intercessão.


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro quinta, 17 de outubro de 2019

A SAGA DO CARROCEIRO

 

 

A SAGA DO CARROCEIRO

Veja aquele carroceiro
Que vai seguindo ligeiro
Puxando a sua carroça,
Num viver amargurado
Vive mal alimentado
Seu abrigo é uma choça,
Relegado ao desdém
Sempre nesse vai e vem
Mora na periferia,
Mas vive alegre e contente
Porque luta honestamente
Pelo pão de cada dia.

Você que vai num carrão
Por favor, preste atenção,
Naquele trabalhador
Que lhe falta quase tudo
Não teve acesso ao estudo
E nem tem anel de doutor,
Porém vive satisfeito
Mesmo humilde desse jeito
Fazendo seu quebra-galho.
Cumpre bem sua rotina
Sem falcatrua ou propina
Só come do seu trabalho.

Quando por ele passar
Ao invés de buzinar
Ou lhe fazer xingação,
É bom que medite um pouco
Não o classifique de louco
Mas analise a questão.
Note q’ele vai suado
E o suor derramado
Que escorre pelo seu rosto
É a marca registrada
Da luta amarga e pesada
Que enfrenta por ser disposto.

Sendo um homem de coragem
Encarou a reciclagem
Como a sua profissão,
Com garra força e capricho
Vive recolhendo o lixo
Que gera poluição,
O seu trabalho legal
Ajuda o rio e o canal
A menos se obstruir
Ao invés de debochá-lo
Criticá-lo ou chasqueá-lo
É bem melhor aplaudir.

Com o seu trabalho decente
Preserva o meio-ambiente
E tira a sujeira da rua,
É um cidadão de bem
Vive do pouco que tem
Sem trapaça ou falcatrua,
O que arruma em sua lida
Mal dá pra comprar comida
Nunca lhe sobra dinheiro,
Vive de bolsos vazios
Mas contém cunho e brios
Viva o nobre carroceiro.


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro terça, 08 de outubro de 2019

AS MAZELAS DE SEU JOAQUIM (CORDEL DE CARLOS AIRES)

 

AS MAZELAS DE SEU JOAQUIM

 

Mi proguntaro ôto dia
Cumé qui tutais Juaquim?
Respondi sem arrilia
E foi mais ou meno assim,
Eu tô mei disleriado
Os mocotó tá inchado
Tô sintinno um farnizin
Pió qui pirão de sebo,
Andano iguarmente um bebo
Sem mi aprumá no camim.

Um gôgo me aperriano
Queu tusso pra mi lascá,
Um insporão me furano
Bem no mei do caicanhiá
Qui me dexa essa manquera,
Tomém sinto uma cocêra
Aqui nas parte da frente,
Vivo anssim nessa quizila
Num tenho a vida tronquila
Quiném tinha antigamente.

Sofro de dô incausada,
De ispinhela caída,
De junta descunjuntada,
Na canela uma firida
Qui vevi a martratá eu,
Já virô “sarou morreu”
Disso tô ciente e certo,
Arre cum quanta mazela!
Tô cum pigarro na guela,
Tomém cus’peitos aberto.

Tô tumano uma meizinha
Qui seu Mané fêis pra eu,
Cum titica de galinha,
Cidrêra, eiva-doce, breu,
Tem casca de quixabêra,
De pau-carrasco, aruêra,
Raspa de pau-angelim,
Jucá, jatobá, angico,
Catuaba, grão-de-bico,
Feijão-de-boi e gergelim.

Mé de abêia jataí,
Cravo do reino, pimenta,
Semente de calumbí,
Tem jurubeba, água benta,
Tem foia de maiva-rosa,
Inté baba de babosa
Ali Seu Mané butô!
Tumei cum todo coidado
Num rugime insagerado
E as mazela num passo.

Aí eu dixe tá rim
Pos tô cada veis pio,
Minha véia dixe assim
Acho quisso é catimbó,
Vai lá no congá de Lica
Que toda essa trumbica
Qui tu tem vai se acabá,
Sinti assim um receio
Mai sigui o seu cunceio
Fui direto pro Congá.

 

Dona Lica proguntô
Uqué qui voismicê tem?
Dixe: é as mão cum tremedô
Os pés tremeno tomem,
Disarranjo de institino,
Meu pescoço já tá fino
E o bucho incho e cresceu,
Nos uvido inscuito uns grilo,
Nem me alembro mai daquilo
Num sei o qui acunteceu!

Sinto um fastí disgamado
Uma sede da bixiga
Amarelo, dicorado,
Arroto-choco, lumbriga,
Vista curta dô de uvido,
Cum o coipo esmurecido
Sem corage sem alento!
Dona Lica, eu sofro tanto
Pois se dói conde eu levanto
Tomém dói conde eu me asscento.

Uma inxaqueca incremente
Um drifuço disgraçado,
Sarna, impimge, dô de dente,
Me acordo todo mijado
Qui inté pareço um minino,
Vivo nesse disatino
E já to pensano assim
Qui todo esse dirmantêlo
Qui parece um pasadêlo
É arte do coisa ruim.

E pru tê acumitido
Tanta praga, tanto azá
Já quaje disiludido
Resorvi lhe apercurá
Mim dixeor cá sinhora
Inspanta quaique caipora
Qui icomoda o sujeito
Minha mulé mi atiçô
Foi conde eu dixe, eu vô
Lá vê se incrontoo defeito.

Ela dixe insperaí
Queu vô vê se dô um jeito,
Pru favô se assente ali
Incaloque a mão no peito
E arripita o que digo,
Pra mode eu vê se eu cunsigo
Discubri o qui se passa
Nessa sua mente fraca,
Acho q’essa urucubaca
É um feitiço da disgraça,

Pegô rezá uns bendito
Cuns gai de arruda bateno,
Quaje qui nun acredito
Naquilo queu tava veno,
Ela chorava gemia
A boca fechava e abria
Suava de riba a baxo,
Passô uma meia hora
Dispois disse vassimbora
Vou lhe aprontá um dispacho.

Amenhã ditardezinha
Voismicê torne a vortá,
Mi traga quato galinha
Um bode mode matá
Qui é pra vê se agrada o santo,
E afugenta esse quebranto
E tudo o qui o sinhô sente,
E além do que já foi dito
Nesse papé tá inscrito
Os zoto zingridiente.

Dalí saí ligerin
Vortei pra casa cansado,
No otô dia cedin
Tudo qui tava anotado
Comprei lá in “Seu Bigode”,
Peguei as galinha, o bode,
Juntei tudo e fui in frente
Cum aquelas mercadoria
E bem no finar do dia
Eu cheguei lá novamente.

Fiz a intrega do pedido
O qui acunteceu num sei,
Mai já tô arrepindido
Pois in nada miorei,
Se o santo num se agradou
Ô se Lica num honrô
O cumpromisso selado,
Feiz um seviço fulêro
Eu só fiz gastá denhêro
E continuei lascado.

Num tomo meizinha mai
Nem vô pra catimbozêro,
Pruque milaigre quem fai
É nosso Deus verdadêro
Que é pai e superiô!
Vou procurá um dotô
Pra vê se fico curado,
Cum meizinha e catimbó
Gastei dinhêro qui só
Sem ter nenhum resultado.


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro terça, 01 de outubro de 2019

PINTANDO A PINTA

 

 

PINTANDO A PINTA

Confesso que desenhar
Nunca foi a “praia” minha,
Porém vi uma pintinha
E resolvi lhe pintar,
Comecei a esboçar
Mas logo que iniciei
De repente me empolguei,
Pra pintar com qualquer tinta,
Nem toda pinta se pinta
Mas essa pinta eu pintei.

Pra pinta fiquei olhando
E fazendo o meu rabisco,
Aqui ali mais um risco
O melhor ia deixando,
O pior ia apagando,
Mas pouco a pouco tracei,
As horas, não calculei,
Sei que foram mais de trinta,
Nem toda pinta se pinta
Mas essa pinta eu pintei.

Depois da pinta pintada
Nela fiz uma revista,
Estava faltando a crista
Eu coloquei na danada,
E dando outra examinada
Eu vi que ali não botei
A orelha, e coloquei,
Pra que melhor se pressinta,
Nem toda pinta se pinta
Mas essa pinta eu pintei.

Nem mesmo parede eu pinto
Pois sou ruim de pincelar,
Mas resolvi me arriscar
Meio sem jeito, não minto,
Preparei bem o recinto,
Olhei, medi, calculei,
Foi aí que comecei
De maneira bem sucinta,
Nem toda pinta se pinta
Mas essa pinta eu pintei.


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro sábado, 14 de setembro de 2019

A ÁRVORE AMIGA

 

 

A ÁRVORE AMIGA

Hoje é sobre a árvore amiga
A narrativa em cordel,
Esse ser que a natureza
Atribuiu-lhe o papel
De nos dar para usufruto
A sombra, a flor, e o fruto,
De forma ampla e fiel.

E peço ao leitor amigo
Que pondere e pense bem,
Sobre a vasta serventia
Que qualquer árvore contém,
Reflita sobre o conceito
E se sinta no direito
De preservá-la também.

Toda árvore é importante
Para humanos e animais,
Pra que prevaleça a vida
Elas são essenciais,
Então evite as queimadas
E nem faça derrubadas
Clandestinas e ilegais.

Eu sei da necessidade
Que tem de se utilizar,
A madeira de uma árvore
Para a mobília do lar,
Mas, quando isso acontecer,
Pra flora não perecer
Plante outra no lugar.

O corte indiscriminado
Só causa devastação,
Quando uma árvore frondosa
É jogada sobre o chão
Fica a clareira na mata
E essa atitude insensata
Contribui pra a extinção.

A copa d’árvore frondosa
Contém em sua ramagem
Bons frutos para o consumo
Além de densa folhagem
Que servem de arejamento
Como também de alimento,
Pra os animais, é pastagem.


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro domingo, 12 de novembro de 2017

APRESENTAÇÃO POÉTICA

 

Meu amigo “Papa Berto”,
Que é um sujeito bacana,
Diretor dessa “gazeta”
“Jornal da Besta Fubana”
Publique aí os perfis
Desse trabalho que fiz
Com muita dedicação
E que já está a venda.
Pra que façam encomenda
Deixo aqui a instrução.

Acima tem o E-mail
Para quem se interessar,
Em adquirir um livro
Eu logo irei lhe enviar,
Entre em contato comigo,
Que seja amiga ou amigo,
Que o poeta capricha,
Pra lhe enviar sem mutreta,
Ao leitor dessa “gazeta”
Boa da “bixiga lixa”.

Apresento pra o leitor,
Com prazer e alegria,
O livro que intitulei
“Meu Sertão em Poesia”
E essa pequena obra
Contém estrofes de sobra
Pra sua apreciação,
E como o título bem diz,
No calhamaço que fiz
Só falo do meu sertão.

Logo no início um convite!
“Vem Ver Como a Vida é Bela”,
Depois cito “A Baraúna”,
Que já foi frondosa e bela,
Na recordação fagueira
Também cito “A Quixabeira”,
Nessa minha narração,
E prosseguindo com o tema
Logo depois o poema
“Sou a Imagem do Sertão”.

“Saudade… Muita Saudade”,
Também está no roteiro,
Depois faço uma homenagem
Ao “Meu Lindo Juazeiro”,
E ao longo da caminhada
“Terra Minha, Terra Amada”,
Vai tocando o barco em frente,
E na jornada prossigo
E em alto brado lhes digo
“Esse é o Nordeste da Gente”.

“Meu Pedacinho de Terra”
Versei sem que houvesse falha,
Depois dele fui chegando,
No “Meu Ranchinho de Palha”
Vivendo nessa palhoça,
“Na Calmaria da Roça”
Vou contando essa façanha,
Para seguir adiante,
Eu vou subir confiante
“Nas Encostas da Montanha”.

Desci daquelas alturas
Porque todo o meu desejo,
Agora era assistir,
“Um Arrebol Sertanejo”,
Onde o caboclo roceiro
Cedo levanta ligeiro,
Pra cuidar da sua luta,
E com muita capacidade
Demonstra a “Autenticidade
Original e Matuta”.

“Minúcias da Minha Terra”
Vou descrevendo na reta,
Depois disserto o poema,
“O Passarinho e o Poeta”
Lembrando meu Pé-de-Serra,
“Saudade da Minha Terra”
Numa canção doce e pura,
Logo após que terminei,
Muito contente eu fiquei,
“Observando a Natura”.

Eu citei da Natureza
A particularidade,
Falei da Vida na Roça,
Com sua tranquilidade,
Do anoitecer sertanejo,
Bem visto no lugarejo,
Pela beleza e elegância,
Num versejar primoroso,
Eu escrevo pesaroso,
“Saudades da Minha Infância”.

Estou só sintetizando
Um pouco do meu escrito,
Mas são cem páginas contendo,
Um versejado bonito,
Se você adquirir
Um livro, e se me aplaudir,
Vou ficar lisonjeado,
E como um simples poeta,
Por ter atingido a meta,
Digo-lhe “Muito Obrigado”.

* * *

Nota do Editor:

Meu caro colunista fubânico, saiba que é um privilégio editar um jornal que tem como colaborador um poeta popular do seu quilate.

Desejo que você faça muito sucesso com o seu livro.

Os leitores que quiserem fazer contato com Carlos Aires, podem usar este endereço eletrônico: poetacarlosaires@hotmail.com

 

Poeta Carlos Aires

 


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro terça, 10 de outubro de 2017

RECORDANDO MEU LINDO JUAZEIRO

Juazeiro, lindo juazeiro!
Hoje estou relembrando de ti,
Enfeitavas aquele terreiro,
Quantas vezes eu sentei ali,
Me abrigando do sol escaldante,
Na sombra abundante e tão arejada,
Tu nem sabe o prazer que eu sentia,
Pois dali eu via minha namorada.

Juazeiro hoje estás destruído
Tua sombra não existe mais,
Faço versos pra ti, comovido,
Os bons tempos não voltam jamais,
Hoje olho praquele terreiro
Sem meu juazeiro, eu sinto uma dor,
Em saber que já foi demolido,
E ali foi vivido meu primeiro amor,

 

 

Juazeiro, conto a tua historia
Por de ti sentir muita saudade,
Inda guardo na minha memória,
Bons momentos de felicidade,
Hoje estás por mim sendo lembrado,
Pois o meu passado ao teu se juntou,
Não há nada que o tempo não mude
Minha juventude também lá ficou.

Juazeiro tu hoje és passado
Mas de ti guardo recordação,
Como prova de que estou lembrado,
Te dedico essa minha canção,
A garota que era namorada
Comigo é casada, e só me dá carinhos,
Completando essa felicidade
Da nossa amizade “nasceu” três filhinhos.

Juazeiro, refiz teu retrato,
Em memória da tua beleza,
A lembrança me mostra esse fato,
A saudade me causa tristeza,
Eu recordo, quanto era imponente,
Mas, resta somente o lugar no terreiro,
E por ser um poeta matuto
Presto-te um tributo lindo juazeiro


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro segunda, 02 de outubro de 2017

A ESPERANÇA NA CRIANÇA

 

Ser criança sem infância
Pra mim foi realidade
Pois desde muito pequeno
Que a educabilidade
Ao garoto era aplicada
E a lição mais ensinada
Era ter dignidade.

Eu com seis anos de idade
Não pegava no pesado
Nem trabalhava de enxada
Nas lavouras do roçado
Porém durante a semana
Servia de cerca humana
No pastoreio do gado.

Não fui escolarizado
Como deveria ser
Porque quem nasce na roça 
Não depende do querer
Já que a escola era rara
Tinha que meter a cara
Pra’lguma coisa aprender.

Os pais sentiam prazer
Em ensinar aos seus filhos
Que é com honestidade
Que se adquirem brilhos
E é através do trabalho
Que se encontra o atalho
Pra por a vida nos trilhos.

E não causava empecilhos
Toda aquela rigidez
Pois o rigor evitava 
Que errasse a primeira vez
Pra não ficar viciado,
Porém hoje isso é chamado
De burrice e estupidez.

Imagino que talvez
A educação de outrora
Mesmo sendo rigorosa
E considerada caipora
Por fazer muita cobrança
Mas, educava a criança,
Melhor do que educa agora.

 

A cada dia piora
Esse novo aprendizado
Pois se a escola não conta
Com o apoio do estado
E não havendo incentivo
Encontra farto motivo
Pra um ensino degradado.

Das lembranças do passado
Que guardo em minha memória,
Uma é que alcancei
O tempo da palmatória
Que era temida e malvada,
E hoje se encontra arquivada
Nos anais da nossa história.

Não havia escapatória
Pra fugir desse instrumento
Era aplicado o castigo
E sem compadecimento
No aluno que errasse
Ou por outra apresentasse
Algum mau comportamento.

Se hoje em algum momento
Um professor reclamar
Que o aluno está errado
Ele tende em revidar
Agindo com rebeldia
Segue pra diretoria
Pra o mestre denunciar.

Se o pai quer aconselhar
Ao filho, ele diz assim,
Ou você me deixa em paz,
Ou posso até dar-lhe fim
E é bom que esteja certo
Não quero vê-lo por perto
O senhor não manda em mim.

Esse tratamento enfim
É ousado e diferente
Porque no outrora o filho
Ao pai era obediente
Ele nunca reclamava
Pois só um olhar bastava
Sequer ralhava com a gente.

Do passado pra o presente
A diferença é total
Pois hoje a modernidade
De uma forma radical
Mudou o comportamento
Do jovem, pra violento,
E os pais estão sem moral.

E de maneira banal
É hoje tratada a vida
Até crianças ingressam
Dentro da área bandida
Atiram de mão armada 
E a população coitada!
Morre de bala perdida.

Hoje a multidão sofrida
Num mar de medo se afoga
Nosso país vive em guerra
Na disputa pela droga
Aonde os probos plebeus
Sempre confiando em Deus
Apelando, em prece roga.

Outro assunto está em voga
E ao jovem compromete
É o uso incontrolado
Do acesso a internet
E o que nesse vício insiste
Indiferente assiste
Algo que não lhe compete.

No tempo em que fui “pivete”
“Nada disso tinha não”
A gente se contentava
Com carrapeta e pinhão,
Jogava bola de gude,
Pescar peixe no açude,
Era a nossa diversão.

Com um tablete na mão
A o mundo tendo acesso
A garotada de hoje
Vive a era do progresso
Isso me deixa inseguro
A pensar se no futuro
Eles irão ter sucesso.

Não sou contra, mas confesso,
Que com tanta evolução
Tanta tecnologia
A sua disposição
Temo que não se interesse
Ou até lhe cause estresse
Deixar essa profissão.

Essa é minha opinião
Um palpite tão somente.
Mas acredito no jovem
Que é bem mais inteligente
Hoje, essa técnica incrível,
Gera farto combustível
Pra tocar o barco em frente.

No jovem vejo a semente
Eclodir em seu perfil
E por está confiante
Dou-lhe a minha nota mil
E estou bastante seguro
Que a eles cabe o futuro
Da nossa pátria, o Brasil.

Minha vivência infantil
Da de hoje é diferente
Pois o garoto do mato
Era ingênuo e inocente
Ora não é mais assim,
A evolução enfim
Por lá já se faz presente.

Espero que brevemente
Haverá uma inversão
Pra que a criança possa
Caminhar em direção
Da sonhada honestidade
Pondo um fim na tempestade
De roubo e corrupção.

Aqui findo a narração
Que dissertou a criança
Confiante na medida
Em que nosso tempo avança
Nosso crédito nela aumenta
Pois sei que ela representa
Pra o futuro a esperança.


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro quinta, 28 de setembro de 2017

O BIOMA DA CAATINGA EM CORDEL

 

Eu por ser um catingueiro
Vou falar do seu bioma
E pra isso me transformo
Num “biólogo sem diploma”
Que ganhou experiência
Ao longo da existência
Por viver nos carrascais
Com essas vivências tantas
Aprendi falar das plantas
E também dos animais.

Como astuto campesino
Eu estou entre os demais
Que ganhou lições de vida
Herdada dos ancestrais
Que viveram na campina
E usavam por medicina
Chá, meizinha, e cozimento,
A benzedeira rezava
E o camponês curava
Seus males, em cem por cento.

Catingueira (Caesalpinia pyramidalis)

É uma árvore autocórica
Que pelo pequeno porte,
É taxada como arbusto
E a sua madeira forte
Tem uma função geral,
Dentro da érea rural
Nossa nobre catingueira,
Serve pra lenha, carvão,
Estaca. E outra função,
É a medicina caseira.

As folhas flores e cascas
Servem para o tratamento,
De infecções catarrais.
E é ótimo medicamento,
Também pra disenteria, 
A catingueira alivia
Até cólicas menstruais,
Com sua rusticidade
Essa planta na verdade
Tem serventia demais.

Marmeleiro (Croton sonderianus)

No agreste o marmeleiro
Essa árvore pequenina
Causa uma função estrema
Para a luta campesina
Transforma-se em joia rara
Pois qualquer cerca de vara
Faz-se com sua madeira
Também como combustível
Tem uma missão incrível
No fogão, essa madeira.

 

Para o menino do mato
Marmeleiro dá seu grau!
Porque é com a sua haste
Que faz cavalo de pau
Pra correr no dia a dia.
E a sua folha macia 
Também tem outro atributo
Pois para o roceiro autêntico
Vira papel higiênico
Pra o asseio do matuto.

Juazeiro (Ziziphus joazeiro)

Nosso lindo Juazeiro
Na caatinga é majestade
Sua sombra aconchegante
Nos causa felicidade
É árvore de grande porte
Além disso, é muito forte,
Pois o calor do verão
Com alta temperatura
Não abala a estrutura
Do grande “herói do sertão”.

No âmbito da medicina
Juazeiro está presente,
Para o broco sertanejo
É sabão, pasta de dente,
Sua fruta é comestível
Com sabor inconfundível
Sempre muito apreciado,
Esse fruto catingueiro
Logo alimenta o carneiro
A cabra, o cavalo e o gado.

Baraúna (Schinopsis brasiliensis)

Outra sertaneja forte
É a Baraúna bela!
Pois o morador da roça
Faz quase tudo com ela,
Usando a sua madeira
Faz o mourão da porteira,
Os portais do casarão,
As peças para o telhado,
O cabo para o machado,
Pra enxada, a foice e o facão.

Atinge até quinze metros
Não é árvore pequenina,
A semente é voadora,
E na produção de resina
O saguim faz sua festa!
Preservar o que ainda resta
É a nossa obrigação
A espécie está escassa
Pois existe a ameaça
De que haja a extinção.

Quixabeira (Sideroxylon obtusifolium)

A quixabeira é remédio
Potente nessa paragem
Quando alguém leva uma queda
Com a casca faz a bandagem
Pra sarar o ferimento.
E o chá serve como alento
Pra curar o hematoma,
E além dessas qualidades
Tem outras propriedades
Que a medicina se soma.

É árvore de farta fronde
Que causa sombra arejada,
Sua fruta é pequenina
Porém muito apreciada
Por humanos e animais,
Hoje quase não tem mais
Essa planta em nossa terra
O homem com ambição
Causou a devastação
Dela no meu Pé-de-Serra.

Jucá (Caesalpinia férrea)

O Jucá é milagroso
Na área medicinal
Da vagem se faz tintura
Para sanar qualquer mal
Causado por ferimento,
Ameniza o sofrimento
O chá quando utilizado
Pra hemorragia e garganta,
O que destrói essa planta
Só sendo amaldiçoado.

É uma árvore que ostenta
Elegância e formosura
E quando adulta ela alcança
Uns trinta metros de altura
Todo ano ela renova 
A casca, assim dando a prova,
Que com essa mutação
Ficará muito mais bela,
Com sua flor amarela
Odorando a região.

Umbuzeiro (Spondias tuberosa)

O umbuzeiro é o símbolo
Da caatinga estou ciente,
Chega a se fingir de morto
Tentando enganar a gente,
As folhas caem no chão
E é em pleno verão
Quando se dá a florada
O fruto é delicioso
O doce é bem saboroso
E tem nome de umbuzada.

Assim falei um pouquinho
Do bioma catingueiro
Propicio da região
Do Nordeste brasileiro
Citei tão somente a flora
Da fauna falo outra hora
Talvez noutra ocasião,
Pra manter a chama acesa
Fazendo sempre a defesa
Da natura em meu rincão.


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro quarta, 20 de setembro de 2017

UM ADEUS A MARCELO REZENDE

 

 

Hoje a TV brasileira
Está repleta de saudade
Porque Marcelo Rezende
Partiu para eternidade.
Fazendo o “Cidade Alerta”
De forma ampla e aberta
Entrava no submundo
Onde predomina o crime,
Com sua equipe, seu “time”
Mostrava tudo pra o mundo.

Encarava o jornalismo
Com muita seriedade
Publicando as reportagens
Com imparcialidade
Por ter atitude nobre
Jamais esnobou do pobre
E nem bajulou a riqueza
Sendo franco e recatado
Sempre mandou seu recado
Com solidez e firmeza.

Marcelo ganhou destaque
No Jornal Nacional
Com a sua reportagem
Lá na Favela Naval
Onde dez policiais
De formas cruéis, brutais,
Causando angústia e tortura,
Com seus gestos desumanos
Provocaram morte e danos
Sofrimento e amargura.

“Linha Direta”na Globo 
Era sob o seu comando,
Ali Marcelo Rezende
Seu público foi conquistando
Com esforço e sem excesso
Logo alcançou o sucesso
Porque foi merecedor
Pois tudo que ele fazia
Usava de primazia
Calma, bonança e amor.

 

Em começo de carreira
Trabalhou na Rádio Globo
No jornal foi copidesque 
Demonstrando não ser bobo
E na Revista “Placar”
Marcelo viu prosperar
Seu instinto aventureiro
E por ser fenomenal
Foi chefe da sucursal
Lá no Rio de Janeiro.

Na Band e Rede TV 
Passou, e ali fez figura,
Seu sucesso a cada dia 
Ganhava mais estrutura
Agindo com coerência
Conquistava a audiência
Com muita tranquilidade
Porque “Marcelão” agia
Tranquilo na calmaria
Evitando a tempestade.

Apresentou lá na Band
O “Tribuna na TV
De cativar a plateia
Conquistou essa mercê
Com seu jeito extrovertido
Foi sempre bem recebido
Em âmbito nacional
E assim em qualquer programa
Marcelo ganhava fama
Prevalecendo a moral.

Depois na rede Record
Seguiu até o final
Fazendo o “Cidade Alerta”
Ao lado de Percival
Com quem ele caçoava
Vez por outra até “zombava”
Dele, muito gentilmente,
Dizendo que era um defunto
Dando gracejo ao assunto,
Por brincadeira somente.

Percival por sua vez
Sempre foi seu grande amigo,
Na mais sublime bonança
Ou no mais severo perigo
Sempre estava do seu lado,
Com seu instinto apurado
Por ser grande jornalista
Comentava e debatia
Demonstrando que sabia
Sem ser sensacionalista.

Marcelo se destacava
Por ser muito extrovertido
Em todos da sua equipe
Colocava um apelido
E usando esse atributo
Em Luiz Bacci, que é astuto,
E virou seu ancoradouro,
Por ser bem conceituado
Logo foi apelidado
Pelo “Menino de Ouro”.

Já, com Fabíola Gadelha,
Sem dolo ou maracutaia
Ele carinhosamente
Chamava “Rabo de Arraia”.
Por pleno merecimento
Liliane Nascimento
Logo virou “Capitão”
Bruno de Abreu é “Peruca”.
Não era ideia maluca
Era só por diversão.

E nos bordões que criava
Logo se ouvia dizer
“Põe exclusivo minha filha,
Dá trabalho pra fazer”,
Ao descrever um relato
Depois que mostrava o fato
Marcelo ficava assim
Bem firme na sua base
E dizia aquela frase
Por favor, “Corta pra Mim”.

Outro amigo inseparável
Que o deixava bem feliz
Âncora do “Domingo Show”
Grande Geraldo Luiz,
Um colega tão perfeito
Que Marcelo satisfeito
Sempre ia ao seu programa
Quando era convocado.
Construía o seu legado
Mas sem buscar glória ou fama.

Bem no início de maio
De dois mil e dezessete
Marcelo Rezende sente
Que a doença lhe acomete
Logo que se sentiu mal
Procurou um hospital
Por estar incomodado
Passou por sérios exames 
Além de grandes vexames
Ao ser diagnosticado.

E sem que usasse rodeios
O médico lhe foi enfático,
Sua doença Marcelo!
É um câncer pancreático,
E ele resignado
Fez logo um comunicado
Pela rede social
Disse: estou muito doente
Orem, façam uma corrente,
Com fé, pra curar meu mal.

Em dezesseis de setembro
Bem próximo do sol poente,
Vencido pela doença
Marcelo deixou a gente,
Partiu pra eternidade
Deixando muita saudade
Foi pra sagrada mansão.
A sua honradez foi alta!
Irá fazer muita falta
Em nossa televisão.


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro sábado, 09 de setembro de 2017

MENINO DA ROÇA

Nasci no Pé de uma Serra
Lá nas brenhas do sertão,
E lembro quando menino
Toda minha diversão,
Foi um cavalo de pau
A carrapeta e o pinhão.

E assim naquele “alazão”
Corria pelo terreiro,
Muito mais ancho do que
Qualquer valente vaqueiro,
Mesmo esse cavalo sendo
Uma vara de marmeleiro.

Sequer valia dinheiro
A carrapeta que eu tinha,
Mas pra mim era um tesouro
Pois era minha mãezinha,
Quem fazia ela pra gente
Com um carretel de linha.

Eu lembro quando a tardinha
Ela sentava no chão,
Segurando o carretel
Com uma faquinha na mão,
Pra fazer as carrapetas
Pra mim e pra meu irmão.

E do meu velho pinhão
Eu não me esqueço um segundo,
Foi daquele pé de angico
Na beira do grotão fundo,
De onde se tirou um galho,
Quem o fez foi Tio Raimundo.

Quem da roça é oriundo
Não conheceu regalia,
O canto dos passarinhos
Era a música que se ouvia,
Além do som dos chocalhos
Do gado na pradaria.

 

Rádio por lá não havia
Nem outro entretenimento,
Sem ter carro pra o transporte
Era grande o sofrimento,
Quando pra feira se ia 
De pés ou em um jumento.

Sem haver planejamento
Como em tempos atuais,
Nem também preservativos
Sem prevenção os casais,
Geravam enorme prole
Com quinze filhos ou mais.

Com sacrifício esses pais
Criavam a filharada,
Sem ter comida abundante
E a água bem limitada,
Sem estudo, pois escola,
Na roça era descartada.

Muito cedo a criançada
Já pegava no pesado,
Mesmo tendo que deixar
A sua infância de lado,
Para cuidar da lavoura
Ou pra pastorar o gado.

E mesmo tendo enfrentado
O sol quente, o calorão,
De enfado nem se queixava,
Porque já tinha noção
Que pra ter dignidade
Tem que ter ocupação.

Carreguei água em galão
Com nove anos de idade,
De levar as latas cheias
Não tinha capacidade
Mas mesmo assim eu levava
Com um pouco mais da metade.

Nunca ia pra cidade
Nem mesmo em dia de feira,
Lá uma vez ia a missa
Na capela da ribeira,
Quando havia uma festinha
Em louvor da padroeira.

Uma velha benzedeira
Logo atendia o chamado,
Pra rezar algum menino
Que estivesse incomodado,
Com fraqueza ou com quebranto,
Com feitiço ou mau-olhado.

Naquele tempo atrasado
Que nem doutor existia,
A mulher engravidava
E nenhum exame fazia,
Pelas mãos de uma parteira
É que a criança nascia.

Quando a menina crescia
Que se tornava mocinha,
Não podia namorar
Nem tão pouco andar sozinha,
Por cem metros de distância
Pra casa de uma visinha.

Degustar uma galinha
Não era um ato frequente,
Só se chegasse visita
Importante e de repente,
Ou por outra se em casa
Estivesse alguém doente.

Tinha um viver diferente
A garotada do mato,
Não vestia roupa fina
Nunca calçava um sapato,
Não continha vaidade
Nem sabia o que era trato.

O perfume era um “extrato”
Que na feira se comprava,
Com um odor vagabundo
Fedia mais que cheirava,
Ninguém queria está perto
De quem o utilizava.

Um bom almoço era fava
Misturada com toucinho,
Com uma dose de cachaça
Ou com um copo de vinho,
Só em dias de domingo
Se chegasse algum vizinho.

Usar a roupa de linho,
Que é tecido grã-fino 
O matuto nunca usava,
Porque desde pequenino
Vestia calça de “caque”,
E camisa de “tricolino”.

O roceiro nordestino
Desde pequeno já sabe,
Respeitar o que é dos outros
Só entrar onde lhe cabe,
Manter de pé seu direito
Antes que a moral desabe.

Luta pra que não se acabe
A decência, a integridade,
Mesmo sendo pobre e broco
Preserva a dignidade,
Pra que algum dia não seja
Privado da liberdade.

Mesmo sem ir à cidade
Nosso garoto da roça,
Não protesta e nem reclama
Da mão calejada e grossa,
E vive bem satisfeito
Morando numa palhoça.

Faz parte da vida nossa
E já se tornou rotina,
Acordar todos os dias
Quatro horas da matina,
Pra dá início ao trabalho
No curral ou na campina.

A criança pequenina
Que no mato é residente,
Se um dia for à cidade
Acha tudo diferente,
Diz, pai eu quero ir embora,
Pra palhoçinha da gente.

Talvez por ser inocente
Acha tudo muito estranho,
O movimento dos carros
Causa um barulho tamanho,
Que a sua audição coitada,
Só tem perda e nenhum ganho.

Melhor cuidar do rebanho
Na cocheira ou pastoreio,
Pois o que viu na cidade
Só lhe causou aperreio,
Não passa em sua cabeça
Jamais viver nesse meio.

E sempre terá receio
De habitar lá pela rua,
Porque sua “matutagem”
Favorece e insinua,
Que ele viva no seu rancho
Contemplando a luz da lua.

Aqui não tem falcatrua
Nem roubo e nem ladroagem,
Pois o roceiro prefere
Ser tachado de selvagem,
Que viver de vigarice
Usando a picaretagem.

Quem vive de malandragem
Até pode se dar bem,
Mas o matuto não ousa
Fazer isso com ninguém,
Pois prefere ser honesto
Honrando o nome que tem.

Eu podia ir mais além
Mas vou parar meu versejo,
Talvez por ser do sertão
Eu defenda o sertanejo,
Que ele continue honesto
Isso é tudo que desejo.


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro sábado, 15 de abril de 2017

SEU CAZUSA, O BENZEDOR

 

 

Seu Cazusa, um preto velho,
Da região de Caieira,
Era neto de africanos
Filho de uma benzedeira,
De quem herdou esse dote,
E foi desde molecote
Que começou a rezar,
Sua reza era tão forte
Que só a maldita morte
Podia lhe atrapalhar.

Por mais que a doença fosse
Braba, sem jeito e sem cura,
Cazusa se preparava,
E armava a sua estrutura,
Com um charuto, uma vela,
E água numa tigela,
Não sei se era benta ou não,
Na boca um cachimbo aceso,
E os males sentia o peso,
Da sua forte oração.

 

Com uns galhinhos de arruda
Ele ficava rezando,
Com os olhos bem fechados
E o “raminho” balançando,
O velho gesticulava,
E a entidade invocava,
Cheio de fé e confiança
Por mais que fosse a mazela
Saía dessa procela
E entrava em plena bonança.

Conseguiu muitas proezas
Com sua oração potente,
Curava dor de barriga,
Dor de mulher, dor de dente,
Caxumba, frieira, inchaço,
Puxado, dor de espinhaço,
Olhado e pé desmentido,
Nascida, íngua, queimor,
Pereba, enjoo e tumor,
Bucho inchado e dor de ouvido.

Luxação e calo seco
Verruga e carne trilhada,
Pé rachado, passamento,
E junta desconjuntada,
Se caísse a espinhela,
Ou se surgisse remela
Nos olhos do cidadão,
Ou mesmo uma dor no peito.
Seu Cazusa dava um jeito
Em qualquer situação.

Arroto choco, tersol,
Gripe, nariz entupido,
Pipoca roxa, soluço,
Engasgado, esmorecido,
Maleita, tremor, cirrose,
Bronquite, tuberculose,
Tosse braba e dor no rim.
Chegasse se lastimando,
Seu Cazusa ia rezando,
E os males levavam fim.

Argueiro, artrite e artrose,
Calombo, bucho quebrado,
Bicho de pé, caduquice,
Defluxo, dor de viado,
“Estalicido”, papeira,
Entojo, gogo, e tonteira,
O nó na tripa, o cobreiro,
Cazusa quando benzia
O mal desaparecia,
Na mesma hora, ligeiro.

O bico de papagaio
Ou mesmo a escoliose,
Torcicolo, hérnia de disco,
A tosse braba, a fimose,
A dor no pé da barriga,
O desarranjo, a lombriga,
Dor nas cruzes, “inquizila”,
Seu Cazusa quando orava,
A pessoa se acalmava,
Ficando bem mais tranquila.

E o idoso que perdeu
O vigor, a rigidez,
Procurava seu Cazusa,
E na metade de um mês
Estava recuperado,
Com o defeito reparado,
E a masculinidade
Da reza sentindo o efeito,
E ele bem satisfeito
Curtindo a virilidade,

E não eram só mazelas
Do povo, que ele curava,
Pois toda e qualquer encrenca
Cazusa desencrencava,
Um casamento desfeito,
Uma máquina com defeito,
Alguém desaparecido,
Um namoro desmanchado,
Se fosse solicitado
O freguês era atendido.

Escutava com cuidado
Qualquer solicitação,
Tomava uma providência
E logo entrava em ação,
Pra que armasse seu plano,
Sem que houvesse nenhum dano
Pra seu nome e seu prestígio,
E na força da sua prece
Sem cansaço e sem estresse
Encontrava algum vestígio.

Além disso, ele sanava,
Qualquer desordem no pasto,
Curava berne, bicheira,
E até capava no rasto,
Algum bicho fugitivo
Se estivesse morto ou vivo
A oração indicava
Como um recado, um aviso,
De modo muito preciso
Onde aquele bicho estava.

Cazusa rezava tudo
Que ofendesse ao vivente,
Fosse mordida de cobra,
Ou de cachorro doente,
Ou mesmo de escorpião,
Até cavalo do cão
E aranha caranguejeira,
Se alguém fosse atacado
Ele estava preparado
Com aquela oração certeira.

O viciado em cachaça,
Ou mesmo na cocaína,
Nos estragos que o fumo
Causava com a nicotina,
Se a droga fazia efeito
E não encontrava um jeito
Pra se livrar desse mal,
Seu Cazusa era chamado
E o vício era eliminado
De uma maneira geral.

Hoje tem doutor pra tudo
Por conta da evolução,
E os velhos benzedores
Estão quase em extinção,
Logo a classe se extermina.
Admiro a medicina!
E todo o bem que ela traz,
Mas, aquelas rezas fortes,
No outrora, deram suportes,
Aos nossos ancestrais.

E assim foi seu Cazusa
Esse velho benzedor,
Jamais cobrou um centavo
O que fez foi por amor,
Ou para ajudar alguém,
E aquele que faz o bem
Como Seu Cazusa fez,
Ao partir pra eternidade
Vai deixar muita saudade
E no céu terá voz e vez.

 


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro terça, 14 de março de 2017

O DIA DA POESIA
 


Hoje é quatorze de março
E a data reverencia
A grande obra de Deus
Que só nos causa alegria
E é claro que estou falando
Da sagrada poesia.

E já que hoje é seu dia
É necessário lembrar,
Que a poesia encanta
E provoca bem-estar
Desde a mais sofisticada
Até a mais popular.

O poeta vai buscar
Por meio da inspiração
Tudo que está disponível
E nessa composição,
Contém essência da alma
Provinda do coração.

A varinha de condão
É quem produz a magia,
Que dá força e consistência
E a paz que contagia
Pra que o poeta possa
Fazer bela poesia.

Quando a verve propicia
Matéria prima a vontade
Dando vez para o poeta
Dar asas a liberdade,
Vai surgir belos poemas
Com graça e com qualidade.

Com essa celebridade
Estou sempre em sintonia,
E sou muito grato a Deus
Por me dá sabedoria
E dom, pra que eu exalte,
Hoje a santa poesia.


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro domingo, 19 de fevereiro de 2017

VERSANDO A VIDA E A MORTE

De repente, descobri que minha filha Vera Lucia Aires dispunha de um farto dom poético, convidei-a para debater comigo ela aceitou e saiu isso daí, estou publicando para avaliação dos amigos e pra divulgar a nova “cria” que tá adentrando no mundo poético.

 

* * *

A vida do ser humano
É uma oferta divina,
Que tem início ao nascer
E o ciclo só termina
Quando a malfadada morte
Nosso viver elimina.

Carlos Aires

E são tantos os percalços
Que teremos que enfrentar
Desde a hora que se nasce
Até a vida findar
Que só mesmo nossos sonhos
Pra nos fazer caminhar.

Vera Aires

Os sonhos são proveitosos
No trajeto, com certeza,
Porém a vida prossegue
Sempre em total incerteza
Já que a morte muitas vezes
Vem atacar de surpresa.

Carlos Aires

Na vida e também na morte
Podemos tirar lição
Mas que fique aqui bem claro
Qual é minha opinião
Gosto de falar de vida
De morte, não gosto não.

Vera Aires

Respeito a alternativa
Mas em nosso itinerário
Falar das duas eu acho
Que é bastante necessário
Já que morte e vida fazem
Parte do mesmo cenário.

Carlos Aires

Pode ser primordial
Tenho que admitir
Mas não quero me deter
Nesse assunto por aqui
Falar de vida é melhor
Para a gente prosseguir.

Vera Aires

A vida é maravilhosa
Já a morte é detestável
Porém deixar de citá-la
Nesse versejar louvável
Não pode, pois no final,
Ela é sempre inevitável.

Carlos Aires

Se a morte é uma certeza
Não tem porque falar nela
Eu prefiro a incerteza
Dá vida que é tão bela
Com tristeza ou alegria
Minha escolha é sempre ela.

Vera Aires

A vida é uma passagem
Que se dá em curto espaço
Mas precisa coerência
Pra não fugir do compasso
Pois a morte oportunista
Só aguarda algum fracasso.

Carlos Aires

A vida é maravilhosa
Seja ela como for
Sua importância é imensa
Temos que dar seu valor
Já a morte trás consigo
Sempre sofrimento e dor.

Vera Aires

A vida é uma hipoteca
Para nos dar consistência,
Passaporte que conduz
Pela estrada da vivência
Já a morte nos transporta
Pra o final da existência.

Carlos Aires

A vida é sem garantia
A morte, única certeza,
Pensar nisso todo dia
Só me dá medo e tristeza
Quero é desfrutar dá dádiva
Contemplado a natureza.

Vera Aires

Tenho que admitir
Que a vida é fenomenal
Mas no decurso da mesma
A morte é tão natural
Pois, no conto do viver,
Coloca um ponto final.

Carlos Aires

Não me acostumo com a morte
Isso posso lhe afirmar
Embora saiba que um dia
Teremos que a enfrentar
Admiro mesmo a vida
E quero ela aproveitar.

Vera Aires

A vida só trás prazer
Para qualquer criatura!
A morte causa terror,
Desgosto e até tortura,
Apaga o lume da vida
E envia pra sepultura.

Carlos Aires

Morte e vida são assuntos
De importâncias iguais
Aqui tratamos das duas
Mantendo os ideais
Mas concordamos que a vida
Sempre é boa demais.

Vera Aires

 

N.  E. - Filha de peixe, peixinho é! Vera tem talento, imaginação e sabedoria para responder ao pai sem ofender, ou melhor, embelezando seus motes. Espero contar com mais poesias dela aqui neste Almanaque, que já se sente enriquecido com esta participação especial. 

Parbéns à família, e, principalmente, ao pai-coruja!

"


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro segunda, 13 de fevereiro de 2017

O TRISTE RELATO DE UM SABIÁ

Seres humanos malvados
Com seus instintos daninhos
Deixam aprisionados
Inocentes passarinhos,
Que no decorrer das trilhas
Sucumbem em armadilhas
E por infelicidade
Passam a viver sozinhos
Bem distante dos seus ninhos
Privados da liberdade.

É o cumulo da maldade
Se prender um inocente
Colocá-lo atrás da grade
Sem ter motivo aparente
Ainda mais na covardia,
E a vítima da ironia
E mártir da traição,
Passa a viver indefeso
Sofrendo mágoa, desprezo,
Na maior desilusão.

Numa certa ocasião
Que não esqueço jamais
Eu adentrei num galpão
Onde se vende animais,
Subjugada aos entraves,
Eu vi ali várias aves
No mais cruel cativeiro,
Que assim a revelia
Viraram mercadoria
Pra se trocar por dinheiro.

Eu passei um dia inteiro
Ali naquele ambiente
Num momento alvissareiro
Deparei-me de repente
Com uma ave solitária
Que estava naquela área
A olhar triste pra mim,
Assim como quem pedia:
Me livra dessa enxovia
Antes que chegue o meu fim.

 

E se lamentava: enfim
Qual foi o mal que eu fiz?
Pra ter um viver assim
Nesse castigo infeliz?
Porque é que se reprime
A quem não cometeu crime
E nenhuma atitude má?
Eu, bastante comovido
Logo atendi ao pedido
Do infausto sabiá.

E ao sairmos de lá
Desse lugar tenebroso
Notei que o sabiá
Já calmo, menos nervoso,
Tinha algo a me dizer,
E eu querendo saber
Tudo sobre o passarinho
Disse: não tema perigo
E pode abrir-se comigo
Pois eu sou seu amiguinho.

Ele relatou: meu ninho
Era numa laranjeira
Eu tinha um lindo filhinho
Uma bela companheira,
Um dia eu saí contente
A procura de semente
Pra nossa alimentação
Numa emboscada escondida
Caí, daí minha vida
Transformou-se em aflição.

Sem nenhuma explicação
Eu me vi ali detido
Sem saída, sem ação,
Imaginei, estou perdido,
Mas, a hora mais ingrata,
Foi quando deixei a mata
Seguindo outra diretriz
Meu peito se encheu de luto
Ao me afastar do reduto
Aonde fui tão feliz!

O meu amigo concriz
Também teve a mesma sina,
A juriti, a perdiz,
Canário, galo-campina,
O xexéu de bananeira,
A guriatã fagueira,
O caboclinho, o “sofreu”,
Goladinha e azulão,
Mesmo o esperto cancão
Dali desapareceu.

Todos, assim como eu,
Foi um por um enganado
O homem que nos prendeu
Com o bolso abarrotado
Pelo farto numerário,
É um maldito salafrário!
Burla a lei e ignora
Que o seu ato tirano
Causa um deplorável dano
Para a fauna e para a flora.

Diga meu amigo, agora,
Se me entendeu ou não,
Minha fé se revigora
Pois sinto em seu coração
Os princípios da bondade,
Da mais pura lealdade
Por isso é que lhe dei crença,
Sei que fui compreendido
E ora lhe faço um pedido
Revogue a minha sentença.

Ali na sua presença
Eu disse emocionado
A pena já está suspensa
Você vai ser libertado,
Pra voar pelas baixadas
Cantar com as passaradas
Curtir esse clima seu
Voltar a fazer seresta
No seio dessa floresta
O lugar em que nasceu.

A triste historia envolveu
Um passarinho inocente,
Ao ser que um dia o prendeu
Com seu ato inconsequente
Peço, que tenha clemência,
Não cometa essa imprudência
Pra que tenhamos certeza
E a plena convicção,
Que quem faz preservação
Engrandece a natureza.


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro segunda, 06 de fevereiro de 2017

A QUIXABEIRA



quixabeira

Velha amiga quixabeira
São tantas recordações
Que ao longo da vida inteira
Não contive as emoções.
Já que as lembranças infindas
Vêm me apontar coisas lindas
De um passado tão feliz
Vou remexer a memória
Para narrar tua história
Relatando os teus perfis.

A tua fronde aprazível
Dona de farta ramagem
Estava bem compatível
Com a tua bela paisagem.
Eras sempre aconchegante
Que quem chegasse ofegante
Vencido pelo cansaço
Logo se revigorava
Depois que ali se abrigava
Acolhido em teu regaço.

Estavas bem situada
Ao lado do casarão
Na cerca localizada
Bem pertinho do oitão.
Onde belos passarinhos
Vinham construir seus ninhos
E trinar seus belos cantos
Eu ficava inebriado,
Absorto, extasiado,
Escutando esses encantos.

Vinha o gado e ali ficava
Na hora do sol a pino
Já que a sombra assegurava
Um agasalho divino.
No conforto se deitavam
Bem tranquilos ruminavam
Nesse abrigo acolhedor,
E tu no mais doce enleio
Abrigava-os no teu seio
Com carinho e muito amor.

Em ti eu guardei os sonhos
Da minha infantilidade
E em momentos tristonhos
Recorro a minha saudade
Pra que me leve outra vez
Com a maior rapidez
Quem sabe assim eu consiga,
Matar minha nostalgia
Refazendo a alegria
Junto a quixabeira amiga.

Em momentos de retiro
Na doce alucinação
Dou um profundo suspiro
E na rememoração
Com muito orgulho me ufano
Ao rever eu e meu mano
Brincando ali novamente
Essas lembranças castigam
Provocam e até instigam
Para a tristeza plangente.

O ser humano é terrível
Pois só pensa em depredar
Com seu instinto insensível
Decidiu por não poupar
A quixabeira querida
Onde iniciei a vida
Na doce recreação
Nada mais dela hoje existe,
Só a saudade persiste
Dentro do meu coração.

Essa quixabeira bela
Já não subsiste mais
Para não me esquecer dela
Vou arquivar nos anais
Essa minha narrativa
Pra que permaneça viva
Mesmo em forma de saudade
E ao evocar tempos idos
Lembrar momentos vividos
Com muita felicidade.


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro sexta, 03 de fevereiro de 2017

NUMA FEIRA DO SERTÃO

Um esperto mangalheiro
Vende laranja e banana,
Ali perto uma cigana
Lê mão, e ganha dinheiro,
Embolador com o pandeiro
Faz sua improvisação,
Um velho vende feijão,
Milho, farelo e farinha,
Peru, guiné e galinha,
Numa feira do sertão.

Na bodega de Seu Doca
Tem tudo que se procura,
Pirulito, rapadura,
Broa, bolo e tapioca,
Confeito, alfenim, pipoca,
Biscoito, bolacha e pão.
Cachaceiro no balcão
Saboreando a manguaça
Pra se lascar na cachaça
Numa feira do sertão.

Na banquinha de seu Zeca
Tem corda para viola
Caldeirão e caçarola
Tigela, alguidar, caneca,
Bola de gude, peteca,
Ponteira boa e pinhão,
Ratoeira e alçapão
Martelo, preguinho e tacha,
Tudo isso a gente acha
Numa feira do sertão.

Tem muita comida boa
Noutro banco mais na frente
Paçoca, cachorro quente,
Biscoito, bolacha e broa,
E para quem não enjoa
Carne gorda com pirão.
Rabo de galo, quentão,
Sarapatel e buchada,
Carne de sol bem passada
Numa feira do sertão.

 

Caldo de cana madura
Praquele que aprecia
Mamão, manga e melancia,
Mel de abelha e rapadura
Umbu, lá tem com fartura,
Colhido na região
Também se encontra melão,
Caju, cajá e goiaba,
Pitomba e jabuticaba,
Numa feira do sertão

A verdureira Zefinha
Com a banca bem no centro
Vendendo cebola, coentro,
Repolho, couve, abobrinha,
Berinjela, cebolinha,
Acelga, alface, agrião,
Maxixe tem de montão
O tomate e a beterraba,
Quiabo que não se acaba,
Numa feira do sertão.

Tem estoque variado
Na banca de seu Monteiro
Lamparina, candeeiro,
Corrente pra cadeado,
Parafuso para arado,
Enxada ancinho e facão,
Caixote, carro de mão,
Peixeira de qualidade
Você encontra a vontade
Numa feira do sertão.

Seu Catota em sua banca
Vende tudo quanto é tralha,
Esteira, pau de cangalha,
Foice, machado e chibanca,
Pé de cabra e alavanca,
O fogareiro, o carvão,
Bombril, sapólio, sabão,
Pão francês e pão crioulo,
Cachimbo e fumo de rolo,
Numa feira do sertão.

Na banca de Dona Lola
Se, está procurando arreio,
Encontra a sela e o freio,
O rabicho e a rabichola,
Manta, cabresto e argola,
Chapéu de couro e gibão,
Careta pra barbatão,
Botas boas pra calçar
Tudo isso vai achar
Numa feira do sertão.

Chapéu de palha, alpercata,
Relho do bom, landuá,
Garajáu e caçuá,
Corda de couro e chibata,
O pote de barro, a lata,
Também o pau de galão
O tanoeiro, o surrão,
Bisaco e baleadeira
Isso é coisa corriqueira
Numa feira do sertão.

Dona Benta logo cedo
Arma o toldo do “mosqueiro”
Acende seu fogareiro
Cata o feijão, lava o bredo,
Não guarda nenhum segredo
Preparando a refeição,
Guisa a carne de um capão
Pra depois ser consumida
É assim que se faz comida
Numa feira do sertão.

E quando a feira se finda
Os garis dão um capricho
Varrem todo aquele lixo
Deixando a cidade linda.
Mas, é muito cedo ainda,
E o feirante faz questão,
De passar no barracão,
Pra tomar uma “lapada”,
E assim dou por terminada
Uma feira do sertão.

"


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro quarta, 01 de fevereiro de 2017

ASSIM É UMA FARINHADA

Chamei Zé e Damião
Rosa, Maria e Joaquina
Pedro, Zéfa, e Severina
Antonio e Sebastião
Fomos todos pra o grotão
Com saco, balaio, enxada,
A jumenta encangalhada
Pra que se dê o confronto
Acho que está tudo pronto
Pra fazer a farinhada.

Uns vão quebrando a maniva
Outros puxando a touceira,
Não arranque a macaxeira
Nem a mandioca nativa,
Que essa a gente cultiva
Pra depois da invernada
Agora, não rende nada,
Então não vamos mexer
Pois tem que amadurecer
Pra fazer a farinhada.

Rosa repara o rodeite
O caititu, fuso e fio,
Pra ficar tudo macio
Coloca sebo e azeite,
Ou Pedro você ajeite
A lenha que está molhada
Nela dê uma esquentada
Deixe o forno que eu atiço
Faz parte do meu serviço
Na hora da farinhada.

Joaquina lava a gamela
Severina arruma a prensa
Zé Damião vê se imprensa
Que a massa está amarela
Deixa no pote e panela
A manipueira guardada
Estando a goma assentada
Escorre, enxuga e entoca,
Para se fazer tapioca
Durante essa farinhada.

Rosa vem para engenhoca
Mas, tenha muito cuidado,
O rebolo é amolado
Veja se nele não toca
Na ceva da mandioca
Tem que está bem concentrada
Pois se estiver descuidada
Logo irá se machucar
E não pode continuar
Na luta da farinhada.

Com a tora junto ao fuso
Aperte mais o brinquete
Até que saia um filete,
Porém não cometa abuso,
Pra que não fique confuso
Depois vá lá na latada
Traga uma faca afiada
E as embiras no bisaco
Que é para amarrar o saco
No final da farinhada.

Junta toda a “cabroeira”
Para raspar mandioca,
Sebastião tu mesmo toca
A roda que está maneira,
Zefa fica na peneira
Quero a massa bem quebrada
Ficando bem peneirada
Como a regra determina
Teremos farinha fina
Ao longo da farinhada.

Zefa limpe o caititu
Que já findou a moenda,
E depois para a merenda
Venha aprontar um beiju
Lá na moita de bambu
Tem uma sexta amarrada
Dentro tem carne salgada
Asse e traga bem quentinha
Pra cabroeira todinha
Se fartar na farinhada.

O forno já está quente
Joga a massa e pega o rodo
Que eu quero aproveitar todo
O calor do ambiente
Dou um pouco de aguardente
Para essa turma animada
A quantia é limitada
Pra ninguém se embebedar
E venha a prejudicar
O fluir da farinhada.

Quando a farinha está pronta
Logo entrego a encomenda
Lá para o dono da venda
Para pagar minha conta.
Depois que tudo desconta
Não me sobra quase nada
E assim que a conta é somada
Com o que sobra pago ao povo
E conto com eles de novo
Para a próxima farinhada.


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro quarta, 01 de fevereiro de 2017

UM ARCO-ÍRIS NO CHÃO

A saudade bate forte
Que o velho peito lateja
Madrugadas sertanejas
Porque ficaram pra trás?
Alvoradas tão serenas
As brisas doces amenas
Que vinham nos refrescar
Vinda da serra imponente
Que mandava de presente
Ar puro pra respirar.

Ouvia-se a melodia
Da diversa passarada
Que dava a ti! Madrugada
Um som que não se traduz!
E aqueles fachos de luz
De brilhos incandescentes
Confundindo as nossas mentes
Com as fagulhas douradas
Se espalhando nas baixadas
Iluminando os cascalhos
Deixando gotas de orvalho
Num cenário colorido
Que pelo o sol refletido
Dava a fiel impressão
Que na Divina mansão
Deus tenha se descuidado
E ali deixou derramado
Um arco-íris no chão.


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro quinta, 26 de janeiro de 2017

AH! COMO EU QUERIA!



Como eu queria rever
Aquela terrinha amada
Correr nos campos floridos
Acordar de madrugada
Para exalar os primores
Do cheiro vindo das flores,
Deleitar-me nesse escol!
Vendo o sol rasgar o manto
Intocável, sacrossanto,
Eclodindo no arrebol.

Como eu queria voltar
Pra casa velha alpendrada
Caminhar no seu terreiro
Sentar naquela calçada
Contemplando a linda serra,
Retornar a minha terra
Reaver minha raiz
Matando aquela saudade
Da doce infantilidade
Aonde eu fui tão feliz.

Como eu queria outra vez
Divagar pela devesa
Escutar os passarinhos,
Livres pela natureza,
Ouvir o som das cigarras,
Ver periquitos, gangarras,
Revoar pelas campinas,
E um lençol de brancas neves
Com suas camadas leves
Se estender sobre as colinas.

Como eu queria sentir
O frescor da brisa fria,
No crepúsculo vespertino
Quando a noite se inicia,
Olhar para os horizontes
Quando montanhas e montes
Envoltos pelos negrumes
Ficam na opacidade
Para a luminosidade
Afluir dos vagalumes.

Como eu queria entender
Porque é que o tempo passa
Tão depressa como fosse
A cortina de fumaça
Que o vento vem e dispersa,
Numa suave conversa
Que nem dá pra perceber
Que ela ao trazer a velhice
Leva embora a meninice
E jamais irá devolver.

Como eu queria poder
Por ali rever meus pais
Que foram pra eternidade
E não voltam nunca mais,
A sequidão que devora
Botou-me de lá pra fora
E hoje vivo pesaroso.
Porém enquanto eu viver
Jamais irei esquecer
Do meu Sítio Frutuoso!


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro quarta, 25 de janeiro de 2017

TEMPOS DE CRIANÇA

 

A criancice é um tesouro
Guardado em nossa memória
Que vale mais do que ouro
Cada um tem sua história.
Porém minha meninice
Não foi de tanta meiguice
Mas, não deixou cicatriz.
Dela, já estou a distancia.
Não esqueço a tenra a infância
Tempo em que fui tão feliz

Jamais se ouvida o passado
Que viveu intensamente
Aquele sonho dourado
Permanece em nossa mente
Mesmo com o passar das eras
Essas saudosas quimeras
Ninguém consegue apagar
E em momentos saudosos
Instantes tão gloriosos
Vale a pena recordar

Eu mesmo, jamais esqueço
Da minha infantilidade
Daquele feliz começo
Resta a gostosa saudade.
Revivo os tempos risonhos
E esse mundo de sonhos
Que exibe tantas facetas.
Nesse baú de ilusões
Fui buscar os meus pinhões,
E as modestas carrapetas.

Os meus cavalos de pau
As pescas lá no açude
Toquei o meu berimbau
Brinquei com bolas de gude.
São essas recordações
Que traz-nos as emoções
De um viver tão inocente
Mas o tempo impiedoso
Por não ser tão generoso
Destorce a vida da gente.

Em outras ocasiões
Esse mundo era de mitos
Cheios de contradições
E contos tão esquisitos.
Invenções do bicho-homem.
Papa-figo, lobisomem.
Mãe-d’água, Bicho-papão
Saci-Pererê, Caipora.
Se andasse fora de hora!
Encontrava assombração.

Lembro as cantigas de roda
Pular corda, amarelinha.
Já está fora de moda
Coelho na toca, adivinha,
Pega rabo, cabra-cega.
As brincadeiras de “pega”
Charadas e passa anel
Barbante (Cama de gato)
Eis o perfeito retrato
De uma infância de mel

Nesse pequeno exemplar
Da meninada sapeca
Inda faltou colocar
Estátua, pipa, peteca
Par ou impar, Bambolê
Eu não entendo o porquê
Esses brinquedos sutis
No outrora, tão queridos.
Hoje já estão esquecidos
Não mostram mais seus perfis.

Coisas do tempo imponente
Com suas inovações
Já contamos no presente
Com centenas de opções.
Os brinquedos eletrônicos
De modos simples, irônicos.
Trouxeram tais circunstancias.
E os avanços da ciência
Roubaram toda a essência
Típica, das nossas infâncias.


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro terça, 24 de janeiro de 2017

UM SABIÁ PRISIONEIRO

 

Tomei ciência de um fato
E vou fazer o relato
No decorrer da canção
Da historia de uma ave
Que encontrou um entrave
Num ato de traição
Trata-se de um sabiá
Que num pé de jatobá
Tinha a sua moradia
Mas o homem traiçoeiro
Fez dele um prisioneiro
Num ato de covardia.

Esse pobre passarinho
Era feliz em seu ninho
E na sua vida modesta
A toda hora cantava
Com prazer sobrevoava
Sobre as arvores da floresta
Sem jamais sair da linha
Tão prazeroso ia e vinha
Gozando da liberdade
E assim nosso sabiá
Ia pra lá e pra cá
Na maior felicidade.

Lá no velho cajueiro
Quem hoje é prisioneiro
Vinha procurar comida
Depois voava pra fonte
Que fica por trás do monte
Onde encontrava a bebida
Dali saía contente
A procura de semente
Pra levar pra sua amada
Que esperava com carinho
Cuidando do filhotinho
Com quem vivia ocupada.

E assim nosso cantador
Cuidava do seu amor
E do seu filho estimado
Quando não ia ou voltava
Num galho fino pousava
Pra trinar seu gorjeado
Pousado nesse garrancho
Ele ficava tão ancho
E com muita maestria
Com seu gorjeio suave
Em notas aguda ou grave
Cantava uma melodia

Solfejava com encanto
Que quem ouvia seu canto
Ficava a admirar
E por ser belo demais
Mesmo os outros animais
Queriam ouvi-lo a cantar
E durante aquela rota
Jamais errava uma nota
Sequer no seu gorjeado
Pois o nosso seresteiro
Tornou-se um mensageiro
Ao declamar seu trinado.

Porém a ganância humana
Chega de forma tirana
Causando devastação
Visa o lucro financeiro.
E o que só pensa em dinheiro
Faz-se escravo da ambição
Ao longo da sua trilha
Vai colocando armadilha
Esse terrível caipora
Por ter a alma vazia
Destrói em seu dia a dia
Nossa fauna e nossa flora.

Pois o sabiá cantor
Foi vitima de um traidor
Pra sua infelicidade
Não valeu sua esperteza
E foi pego de surpresa
Pelos laços da maldade
Por ser inocente e puro
Achava-se bem seguro
Naquele meio-ambiente
Pensando que estava ileso
Foi assim que ficou preso
Atroz e covardemente.

Aquele pássaro galante
A partir daquele instante
Não teve mais alegria,
Ficou fraco e indisposto
Sofrendo o maior desgosto
Dentro daquela enxovia
Vivendo tais sofrimentos
Lembrava belos momentos
Do seu passado feliz
Chateado e desgostoso
Nesse cárcere rigoroso
Indaga o que foi que eu fiz!

Passou dias, meses, anos.
Porém os seus desenganos
A cada hora aumentava
Num ambiente sombrio
Sem conseguir dá um pio
Pouco a pouco definhava
Sozinho, sem companhia
No fim de uma noite fria
Quando o dia amanheceu
Entre tantos dissabores
Sem suportar mais as dores
Abriu o bico e morreu.

O passarinho citado
Teve o fim antecipado
Por conta de um ser vilão
Com seu impensado ato
Impôs um brutal maltrato
Colocando na prisão
Aquela ave inocente
Que vivia tão contente
Habitando os matagais
E hoje não mais existe.
Peço a Deus que a cena triste
Não se repita jamais.


Carlos Aires - Proseando na Sombra do Juazeiro terça, 24 de janeiro de 2017

INSPIRADO NO GALO DE CAMPINA

 

Galo campina,
Esse teu cantar charmoso
Lembra o outrora saudoso
Na fazenda em que nasci,
E essa lembrança,
Tão singela e tão modesta,
Traz à tona a linda festa
Das alvoradas dali.

Tu, meu campina,
Ainda parda a madrugada
Acordava a passarada
Com estalos colossais,
E obedecendo
Teus chamados fervorosos
Dando gorjeios saudosos
Se escutava os sabiás,

 

 

E sonolento
Dava o seu pio o concriz
Despertando os bem-te-vis
E o xexéu de bananeira,
Enquanto isso,
Cantava muito gabola
A patativa de gola
Lá no alto da palmeira.

E os canários,
Também deixavam seus ninhos
Junto aos outros passarinhos
Cantavam suas canções,
O inhambu piava lá pela margem
Do riacho, e na ramagem,
Gorjeava os azulões.

Os pintassilgos,
Papa-capins, juritis,
Demonstram como é feliz
O alvorecer no sertão,
E a neblina,
Cobrindo a face da serra
Quanta beleza se encerra!
Nas brenhas do meu torrão.

E na montanha,
Que se eleva bem ao lado
Vem surgindo o sol dourado
Espalhando seu tesouro,
Pelas campinas,
Pelos vales e baixadas,
Estende suas camadas
Finas, de um manto de ouro.

E as sete cores
Vindas do arco-celeste
Se espalham pelo agreste
Formando a linda paisagem,
É o orvalho,
Com a luz que contracena
Enche de beleza plena
Com esplendor a pastagem.

Pra descrever
Essa orquestra tão divina
Foi o galo de campina
A fonte de inspiração,
Como poetas,
Temos vidas peregrinas
E assim cumprimos as sinas
De exaltar nosso Sertão

"


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