Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar segunda, 15 de março de 2021

NOVOS TEMPOS PÓS-PANDEMIA, CRÔNICA DE FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVE, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

 

NOVOS TEMPOS PÓS PANDEMIA

Passadas as emoções, alegrias e entusiasmos pela posse do presidente Joe Biden, nos Estados Unidos, o mundo inteiro principia a binoculizar seus amanhãs pós COVID-19 com o novo mandatário.

Milhões e milhões já se preparam para estruturar seus futuros, exceto as nações possuidoras de dirigentes insanos e incultos que persistem em continuar negativando fatos para aparecer nas telas como maior que os promotores das vacinas salvadoras.

Cansando-se diante da mediocridade estratégicas do Ministério da Saúde, comandado por um nunca médico metido a general, e no das Relações Exteriores, sob comando de um alucinado, um povo pra lá de arretado de ótimo, o brasileiro, gerado por três raças distintas entrelaçadas, já percebeu que os próximos tempos, a partir das eleições de 2022, serão de vital importância para uma efetiva caminhada na direção de um desenvolvimento social e econômico mais ajustado às necessidades das diversas áreas geográficas.

Três questões necessitarão de especiais atenções nos novos tempos, a partir de 2023: um ajuste estrutural do setor público, uma maior criatividade empresarial do setor privado e a consolidação de um novo modelo de desenvolvimento nacional, priorizadas as vertentes que dizem respeito aos princípios da cidadania e da profissionalidade.

O professor Antônio Kandir, em trabalho editado pela Editora Atlas, Brasil Século XXI – Tempo De Decidir, definiu as reformas estruturais que possibilitarão ao país ingressar num pós 2022 com uma classificação socioeconômica mundial menos incômoda, mais respeitada e menos espúria, digna por derradeiro: a) ajuste patrimonial do Estado; b) reforma fiscal que redefina competências e receitas entre as esferas federal, estaduais e municipais; c) reforma administrativa que eleve os níveis de competência técnica do funcionalismo público; d) reforma da Previdência Social que reequilibre financeiramente o sistema, impossibilitando a chegada de um déficit inadministrável; e) reforma tributária que estimule a modernização produtiva e multiplique a eficiência e a base da arrecadação, melhor distribuindo o peso dos impostos; f) reforma do setor produtivo estatal, elevando o nível de investimento e a eficiência em setores-chaves da infraestrutura; g) reforma política que estimule a constituição de partidos fortes e de um sistema político menos fragmentado, mais estável, a favorecer uma governabilidade dinamicamente democrática.

As diretrizes acima, discutidas e aprovadas por um Congresso Nacional devidamente pressionado pelas mais cidadanizadas partes da população brasileira, seguramente favorecerão os caminhos brasileiros na direção de um porvir mais próximo de uma configuração primeiro-mundista, sem as patologias sociais que hoje vitimam as áreas mais prósperas do planeta, consequência direta de um capitalismo que soube gerar dividendos, muito embora historicamente desatento ao todo planetário.

Particularmente, acredito que algumas iniciativas deverão ser classificadas como de prioridade máxima. A primeira delas relacionada está diretamente com uma urgente reestruturação constitucional, eliminando-se as obsolescências paternalistas e as minudências administrativas, estas mais propícias para regulamentações meramente administrativas.

A segunda, favorecendo o amadurecimento da cidadania coletiva, posiciona-se na direção de uma ampla reforma partidária, evitando-se prostituições eleitoreiras oportunistas. Com redução das representações na Câmara e no Senado, além de um número menor de agremiações políticas..

E uma terceira, intercomplementar com as duas primeiras, diz respeito ao rejuvenescimento do minguante sistema educacional brasileiro, hoje já bastante caquético, ainda que, aqui ou ali, trajando camisa de linho puro algodão, caneta Mont Blanc e telefone celular, embora tudo abaixo de um pescoço acima do qual se encontra uma mentalidade de décadas passadas.

Acredito no futuro brasileiro, sem falsos pieguismos, nem moralismos hipócritas. Como muitos milhões de outros companheiros, entendendo que a vontade de continuar sem medo de ser feliz não deve ser apenas vista como um simples mote de campanha política de outrora.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar segunda, 08 de março de 2021

SOLTOS E CONEXOS (FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES É COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

 

SOLTOS E CONEXOS

1. Em tempos de pandemia, desconfiar das posturas políticas enganosas e das ruidosas esculhambações sectárias dos mandatários nunca messiânicos é um bom começo de consciência cidadã. E o Betinho, aquele sociólogo ainda muito recordado, disse certa feita com muita propriedade: “Somos cidadãos de um mesmo mundo e num único tempo e país. É fundamental apoiar tudo o que nos leva à democracia e resistir por todos os meios a tudo o que nos impeça de chegar até lá pelo caminho da inteligência, do diálogo e da luta firme por construí-la com a participação ativa do conjunto da sociedade e formas mais conscientes e inovadoras de mobilização popular”.

2. Num pedaço de papel almaço, amarelado bem conservado: “O xiita é um síndico do mundo e odeia seus inquilinos”. E o pior xiita é aquele que se fantasia de amigo dos desfavorecidos, mas nunca se apresenta com posturas solidárias.

3. Jean Paul Sartre, escritor francês morto em 1980, marido da Simone de Beauvoir, bem que merecia ser amplamente relembrado alto e bom som: “Detesto as vítimas que respeitam seus carrascos”. Em tempos de auxílios emergenciais, todo cuidado com bandidos fantasiados de liberais.

4. Para a turma da Saúde do Brasil 2021, um pensamento de Pierre Janet, psiquiatra francês falecido logo depois de terminada a Segunda Guerra: “Se o paciente é pobre, é internado num asilo como ‘psicótico’. Se pode pagar uma clínica, o diagnóstico é ‘neurastenia’. Se é rico o suficiente para tratar-se em casa, aos cuidados de médicos e enfermeiras, trata-se de um ‘excêntrico’”. E se for presidente de país, não pode ser dotado de bazófias alucianadas.

5. Para os sectários de todos os matizes que anseiam ver o circo pegar fogo, desde que aplicadas suas maluquices, o pensar do Mahatma Gandhi é oportuníssimo: “Que diferença faz para os mortos, para os órfãos e para os despossuídos se aquela louca destruição se deu em nome do totalitarismo ou do santo nome da liberdade e da democracia? Em caso de pandemia, então…

6. A opinião de Eugene Ionesco, notável teatrólogo, emerge com uma força danada: “Em nome da religião, constroem-se piras. Em nome das ideologias, pessoas são torturadas e mortas. Em nome da justiça, são injustiçadas. Em nome do amor a um país ou uma raça, outros países e raças são desprezados, discriminados ou massacrados. Em nome da igualdade e da fraternidade, praticam-se a perseguição e o ódio. Não há nada em comum entre os meios e os fins. Os meios vão muito mais longe que os fins. Na verdade, religião e ideologia são apenas álibis para esses meios”.

7. Saibamos bem diferenciar reclamos sinceros de mimimis escrotos de oportunistas, como os que queriam apregoar como uma “simples gripezinha”, uma pandemia filha da puta que já excluiu o Brasil do ranking dos maiores PIBs, situando-o a direção das nações todafu. E sempre com os combustíveis dando “aquela subidinha” vez por outra, arrastando o preço do etanol pra cima, embora ele pouco tenha a ver com as altas internacionais do petróleo.

8. Será que seremos eternamente BBB: Babacas, Burraldos e Beócios? Pacíficos diante dos mimimis merdálicos presidenciais?


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar segunda, 01 de março de 2021

ICAT INICIATIVA URGENTE (ARTIGO DE FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

ICAT – INICIATIVA URGENTE

Fernando Antônio Gonçalves

 

 

Percebi, nos meus últimos decênios, que muitos companheiros de caminhada ainda não descobriram a essência das suas missões individuais, por sempre impossibilitarem a emersão de seus sentimentos nobilitantes, os únicos capazes de amordaçarem horóscopos e amuletos, falsos brilhantes, raposices, fingidos e amacacados. E imaginei como seria útil a atuação de um ICAT – Instituto de Conexões Aparentemente Tardias, entidade com a finalidade única e precípua de explicitar, mesmo que sob vieses desconcertantes, os “enxergamentos” mínimos para os encontros vivenciados de mãos nunca sujas, quilômetros distanciados das torres de marfim que asfixiam e cegam, subestimam, mitificam, enclausuram e mumificam.

Nos estatutos do ICAT, alguns parâmetros germinais favoreceriam contínuos reposicionamentos, para se evitar um viver morrendo destemperado e virótico, também letal e neurótico:

1. O bem-querer terá prevalência sobre todas as lógicas destrutivas;

2. Os méritos serão sempre coletivos e jamais fingidos, nunca individualizados;

3. As amizades conquistadas são o maior patrimônio de todo ser humano em contínua evolução em direção à Luz;

4. Esmagar potencialidades é crime de lesa-convivialidade;

5. Jamais abandonar um aprender-desaprender-reaprender que ressalte as diferenças substantivas entre permanência e mutação;

6. Tornar-se águia sem mentalidade de galinha, por mais emplumada que esta seja;

7. Entender que mente saudável, além de saber fazer, faz também acontecer;

8. Saudades bem sentidas, nostalgias contidas;

9. Umbrais ultrapassados, sonhos recuperados;

9. Para se ver no futuro, saber enxergar-se nos demais tempos;

10. A meta maior é o somatório de inúmeras e pequeninas outras metas, também importantes.

Nos seus eventos pioneiros, o ICAT enalteceria seu mandamento primeiro: os talentos são recursos que devem ser utilizados para a felicidade de todos, posto que solitariamente jamais se conviverá prazerosamente com a Vida e com os demais Mundos.

No mais, o ICAT retemperaria seus buscadores, enaltecendo a qualidade do sal, a busca constante pela viabilização do aparentemente impossível, as complementaridades do gênero humano. E ainda almejaria a paz nunca cemiterial, os objetivos cósmicos, artes e espaços nunca dantes navegados. Ampliando, sem pedanterias, as fronteiras da autoestima, tornando-se vocacionalmente misericordioso com os ananzados e os fanfas, principalmente se portadores de muita jactância e poucos neurônios em posturas televisivas.

No ICAT não teriam vez nem voto os merdalhosos, os insinceros, os babaovistas, os fuxicosos, fakenewseiros, os não-caminhantes, tampouco os que nunca leram a reflexão do Dostoievski: “O mistério da existência humana não está em apenas se manter vivo, mas em encontrar algo pelo que viver.”

O ICAT seria uma Ong nunca obscurecida pelos amerdalhamentos dos eventos bbbostélicos das televisões nada criativas, apenas lucrativas diante das alienações de milhões.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar segunda, 22 de fevereiro de 2021

GESTÃO DO CONHECER PARA INFORMAR(ARTIGO DE FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

GESTÃO DO CONHECER PARA INFORMAR

Impressiona a ânsia com que algumas personalidades do meio técnico-científico-cultural brasileiro se arvoram de conhecedoras de tudo, mal sabendo diferenciar dado, informação e conhecimento, ignorando por completo, posto que contaminadas por inadequadas vaidades comunicacionais, o alerta sempre oportuno de Sydney J. Harris: “O verdadeiro perigo não é que os computadores comecem a pensar como seres humanos, mas que os seres humanos comecem a pensar como computadores”.

A advertência acima me faz recordar algumas panaceias e fórmulas mágicas mirabolantes oferecidas por lustrosos ispecialistas, os quais imaginam, equivocada ou convenientemente, que qualquer tecnologia de ponta pode dispensar a qualidade e a avaliação de um trabalho humano experiente e consolidado cientificamente. Fruto de anos de pesquisas e reflexões submetidas a um saber-fazer consistente e de efeitos sociais duradouros.

Os que ainda não se hipnotizaram pelos que torcem por uma informática-fim, nunca apenas meio, se encontram convencidos de que a única vantagem sustentável que uma organização possui é aquilo que ela coletivamente domina, a eficiência com que ela usa o que sabe e a prontidão com que ela adquire e usa os novos conhecimentos, apreendidos de um modo integral e perscrutador, sem os imediatismos cretinos provocados pela pandemia do COVID-19. Tudo isso a ratificar o pensar de Peter Drucker, segundo o qual o conhecimento está sendo identificado como a nova viga mestre da competitividade na sociedade pós-capitalista, posicionando-se essencialmente imbricado com atividades crescentemente comunitárias. Uma opinião que se consolida no ideário de Paul Romer, Prêmio Nobel, renomado economista de Stanford, segundo o qual o conhecimento é, hoje, o único ativo que aumenta com o uso, sendo considerado um recurso ilimitado. Ele era economista, nunca economerda.

Se, por exemplo, um profissional de razoável bagagem militar se considera capaz de exercer suas funções gerenciais em qualquer área, até mesmo no setor da saúde pública, poderá ele estar sendo vitimado por uma fixidez funcional, também denominada de “psicoesclerose”, um endurecimento de atitudes burocráticas, que inevitavelmente o levará a se manifestar, sempre da mesma maneira em qualquer ambiente de trabalho, através de justificativas superadas, sem um mínimo de criatividade executiva. É por isso que o professor-médico e psiquiatra John Kao, da Harvard Business School afirma em documento que “a teoria administrativa tradicional é analítica, movida por uma disposição mental administrativa tradicional, podendo causar danos irreparáveis em ambientes movidos pela criatividade”.

Concordo com entusiasmo com quem considera a informática um dos insumos mais revolucionários de todos os tempos, se bem utilizada para o aprimoramento do todo, sem as BOI – Bostejadas Opinativas Informacionais dos que anseiam por meros segundos televisivos.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar segunda, 15 de fevereiro de 2021

DESOPILAÇÃO DA MODA (ARTIGO DE FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

 

DESOPILAÇÃO DA MODA

Os tempos internéticos têm proporcionado um gigantesco crescimento dos conhecimentos técnico-científicos, a multiplicação de “talentos cibernáuticos”, a mundialização de algumas idiotices e a aparição de umas tantas vaidades dinossáuricas neste Brasil de meu Deus, com algumas grosserias presidenciais que revelam um nível cultural amplamente deficitário. Mais ou menos idênticas à daquele recém pós-graduado sulista que está inserindo na rede Internet capítulos e mais capítulos de sua tese de doutorado, patrocinada por uma fabriqueta de bolachas.

Mas a maior alegria na Internet está acontecendo com a emersão de centenas de taglines, pequenas frases que revelam trocadilhos, gozações, deboches e desmoralizações com ideários tidos e havidos como de ontens que não mais retornarão.

Classifiquei uma vintena de taglines, para proporcionar a todos uma avaliação acerca da criatividade brasileira, apesar de todos os pesares e desatenções educacionais possíveis. Ei-la:

1. Não há nada no escuro que você possa ver;

2. Mulher é um conjunto de curvas capaz de levantar um segmento de reta;

3. Parte do automóvel que é vendida no Egito: os faraóis;

4. A ejaculação precoce era conhecida na Antiguidade como mal que mela;

5. Nunca ligou para dinheiro, quando ligou estava ocupado;

6. Rouba dos ricos e dá aos pobres, além de ladrão é gay;

7. Barganhar: receber um botequim de herança;

8. Se barba impusesse respeito, bode não teria chifres;

9. Deus criou o homem antes da mulher para não ouvir palpites;

10. Já que a primeira impressão é a que fica, use uma impressora laser;

11. Abelha morre eletrocutada numa rosa-choque;

12. Estouro: bovino que sofreu operação de mudança de sexo;

13. Menstruação é ruim? Pior é quando ela não vem!;

14. A zebra disse pra mosca: você está na minha lista negra;

15. Se bebida curasse alguma coisa, cachaça tinha bula;

16. Tudo na vida é passageiro, menos motorista e cobrador;

17. Loira Gelada é só uma mulher esticada numa mesa do IML;

18. No dia que chover mulher, quero uma goteira em cima da minha cama;

19. Meu gato morreu em miados do ano passado;

20. Virgindade é que nem picolé: acaba no pau.

Homenageio, transcrevendo as taglines acima, um notável pesquisador, pioneiro na coleta do que havia de mais pitoresco em para-choques de caminhão: Marcos Vinicios Vilaça, hoje personalidade consagrada internacionalmente. Ele revelou ao país inteiro, em 1961, a criatividade e o humor, as ironias e as farpas dos caminhoneiros brasileiros nos para-choques dos seus caminhões. Algumas:

– “Não sou pipoca, mas pulo um pouco”;

– “Cerveja só gelada, mulher só quente”;

– “Mulher e parafuso, comigo é no arrocho”;

– “Sem amar não sem vive”;

– “Mulher feia e urubu, comigo é na pedrada”.

As tiradas de ontem e as de agora são sinais vitais da vivacidade intelectiva de um povo, o brasileiro, apesar das boçalidades bolsonáricas. Um povo criativo por excelência, pronto para desenvolver o seu território pátrio, se lhe derem vez, voto, vacina, emprego, renda, terra, enxada e mais democracia participativa.

 

 


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar segunda, 08 de fevereiro de 2021

MEGAS IDIOTAGENS (CRÔNICA DE FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

 

MEGAS IDIOTAGENS

Nada me irrita mais que papo de abilolado, aquele que se encontra integralmente desligado de tudo e de todos, como se o tempo tivesse estacionado.

Vez por outra me deparo com um, de carro zerinho, relógio gota serena e celular dos mais tampas, olhar de desdém para com o resto da humanidade e frases pré-fabricadas, tiradas geralmente de um senso comum defasado que não bota mais ninguém pra frente.

Ano passado, numa capital nordestina, praieira por excelência e bem atraente turisticamente, “enfrentei” duas horas de convivência com um “homus bobus” sulista, travestido de entendido em fatos e feitos da conjuntura contemporânea, “especializado” em merda muita e despreocupado com as regras gramaticais e as estruturas lógico-formais da epistemologia.

Racista por derradeiro, embora nitidamente não-branco, confessava sua irritação com todos aqueles que defendiam os menos favorecidos, por ele considerados farinha de mesmo saco. Explicitamente equino nas Ciências Humanas, não compreendia nadica-de-nada de penas alternativas, e acreditava que a pena de morte seria a melhor das soluções para os atuais índices de criminalidade, não admitindo tampouco a ação do Estado na proteção e fomento dos despossuídos. E ainda considerava que o objetivo último do bem viver estava intrinsecamente vinculado a três fatores: mulher, dinheiro e poder, o viver sendo melhor usufruído por quem melhor soubesse conciliar o “trinômio” acima.

Indagado sobre as leituras feitas nos últimos três anos, esboçou um sorriso debochoso, quase me deixando convencido da existência de um pedaço da humanidade que não teria seguido à risca os parâmetros evolucionais de Darwin. E perguntou de supetão, se valia a pena ler, quando outros meios de comunicação estavam à disposição de qualquer um.

Devidamente adentrado nos anos trinta, corpo bronzeado e olhos bem negros, confessou malhar duas horas por dia, caminhar oito quilômetros e cumprir sesta de duas horas todas as tardes, religiosamente, embora não acreditasse em nada relacionado com o além-vida, ainda que, no pulso esquerdo, exibisse duas fitinhas amarelas que pareciam bem amarradas, embora quase apodrecidas.

Ao lhe dizer o que eu fazia ensino e pesquisa, espantou-se sem relinchar: “Como você aguentou ser isso?” E olhou-me como se eu fosse uma espécie raríssima, certamente um “homo-imbecilis”, desses que perdem muito tempo com um monte de besteiras: vocação docente, cultura, empregabilidade, democracia, dignidade, ética, desenvolvimento de todos, direitos humanos e cenários futuros.

No abraço final, respeitosamente me aconselhou: “Tás ainda ágil, amigo. Entra numa boa, que dê muito ibope, tutu e mulher, que é o que hoje vale. O resto é cascata pura, cada um devendo procurar o melhor para si, sem se preocupar em dar colher de chá pros outros”.

Almocei com um amigo de infância paraibano ainda sentindo a sensação de ter encontrado uma espécie não-rara do atual cenário brasileiro. Que será amplíssima maioria, caso as autoridades responsáveis pelos nossos destinos, juntamente como os demais segmentos comunitários, não binoculizarem estratégias educacionais compatíveis com as metas de um desenvolvimento econômico-social que privilegie um saber-fazer lastreado numa responsabilidade solidária jamais individualista, conservadas as peculiaridades típicas de cada um.

Se isso não acontecer, os BBBs serão cada vez mais frequentados por idiotas chorões, incultos, ególatras e acafajestados, sem uma mínima criatividade estratégica.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar segunda, 01 de fevereiro de 2021

NEGATIVISMOS (ARTIGO DE FERANDO ANTÔNIO GONÇALVES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

NEGATIVISMOS

Não existe gente mais azeda do que aquela que carrega na ponta da língua um monte de nãos recheados de um pessimismo gota serena de cretino. Que se assusta com qualquer peido-do-meio, não se desgrudando das preocupações mais abestadas, sempre transformando tudo em odiosas acusações prenhes de derrotismos, sempre culpando a imprensa pelas suas merdalidades diárias. Quando tal negativismo desagregador se instala, o azedume é explícito, risível, fazendo aflorar, em alguns, um saudosismo da bexiga-lixa, em outros uma vontade mórbida de se escafeder, sem qualquer esperança num melhor amanhã, havendo aqueles que se valem de um andar de motoca para afugentar as bosteiras cometidas.

Os negativistas, hoje seita bastante crescidinha, são, regra quase geral, mal amados, possuem uma estupidificante insuficiência cultural, apesar dos bens adquiridos e parcerias já concluídas. De muito ínfima razão crítica, portadores de crasso egoísmo, envenenam-se com as mentiras que enaltecem seus pseudo-sucessos e/ou empobrecem políticos que despudoradamente se auto-anistiam ou cinicamente se portam como xeleléus chupadores.

O reinado dos negativistas se robustece quando a parte menos protegida do corpo social se acostuma com os sintomas de uma perversa decadência moral, apavorada com a possibilidade de ser tragada em definitivo por um ciclo econômico onde apenas refestelam-se os eleitos de um autofágico mercado financeiro. Diante de uma acomodação cínica, acreditam os negativistas que voar e rastejar são verbos destinados a categorias sociais distintas, com as exceções que se fazendo necessárias apenas para confirmarem a regra geral.

Sem uma educação cidadã, colonizados e colonizadores não domesticarão seus instintos primários. A lição do mais que notável Albert Einstein baliza quem busca propósitos altaneiros: “Se os homens, como indivíduos, cedem ao apelo de seus instintos básicos, evitando a dor e buscando satisfação apenas para si próprios, o resultado para todo o seu conjunto é, forçosamente, um estado de insegurança, medo e sofrimento geral. Se, além disso, eles usam sua inteligência numa perspectiva individualista, isto é, egoísta, baseando suas vidas na ilusão de uma existência feliz e descompromissada, as coisas dificilmente podem melhorar. Em comparação com os outros instintos e impulsos primários, as emoções do amor, da piedade e da amizade são fracas e limitadas demais para conduzir a sociedade humana a uma condição tolerável”.

Cultivar amizade com pessoas de espírito elevado, ainda que de opiniões divergentes, eis ainda um grande mote revivificador. Admirar pessoas de pensamentos não nostálgicos, criadoras de uma atmosfera sadia, que abjuram ser donas da verdade, cultivando serenas apreensões, oxigenadoras de salutares estratégias de superação de situações conflituosas, faz civicamente muito bem.

Estejamos sempre aptos para destruir os comodismos e as boçalidades, os principais adversários da inovação, tratando todos com equidade de direitos e prestígios individuais e coletivos. Reconhecendo que as vassouras novas, além de novas, devem estar de pelagem luzidia, sem pregos-esporões nem enviesamentos cavilosos, mesmo que travestidos de liberais.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar segunda, 25 de janeiro de 2021

TERRA DE ALTOS COQUEIROS (CRÔNICA DE FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

TERRA DE ALTOS COQUEIROS

Diante das últimas patacoadas públicas praticadas por presidente, ministros e governador de estado rico, o palmarense Luiz Berto, autor do lido, relido e sempre muito atual O Romance da Besta Fubana, está coberto de razão: “Pode-se perdoar tudo num homem, menos que não bote força para deixar de ser burro”. E se juntar tal ensinamento com outra sabedoria dele – “Humildade demais não faz bem ao caráter de um cidadão decente” – pode-se inferir, sem medo de errar, que as duas vertentes parecem estar ausentes há anos do cotidiano da vida pernambucana, da terra dos altos coqueiros, imortal, imortal. Para tristezas múltiplas dos hoje recifensizados, que para aqui se deslocaram nos anos cinquenta. E que se sentem tão maurícios quanto os outros, até com mais responsabilidades, posto que, “estrangeiros”, buscam social e profissionalmente retribuir da melhor maneira a hospitalidade oferecida pelos daqui.

O Mário Souto Maior, pesquisador da cultura popular, também daqui deslocado para o Alto, vindo de Bom Jardim, cidade natal de gente boa, tinha a consciência plena de não deixar esborralhar as trilhas fecundantes já percorridas por Luiz da Câmara Cascudo, Edison Carneiro, Napoleão Figueiredo, Manuel Diegues Junior e tantos outros que estudaram o nosso folclore, sempre atentos para a erradicação dos alienados de sempre, deseducados e eternos adoradores acríticos de feitos e fatos alienígenas.

No Nordeste, para evitar a multiplicação dos parlapatões, o Mário Souto Maior, contemplado com duas citações no Dicionário Aurélio Eletrônico For Windows, Editora Nova Fronteira, exerceu um eficaz papel de “desabestalhador”, evitando que se fique “despido de respeito” quando o regional for aflorado em conversas acadêmicas ou mundanas. Num dos seus livros, Riqueza, alimentação e folclore do coco, edição custeada do próprio bolso, ele possibilita ao leitor uma visão da cultura do coco na Zona da Mata, das suas páginas se podendo extrair várias iniciativas.

Uma das ilações da pesquisa do Souto Maior prende-se à área alimentar. Os restaurantes do Recife, tão avaros em sobremesas regionais, encontrariam no livro sobre a cultura do coco um montão de sugestões deliciosas. Quem não apreciaria, findo almoço ou janta, provar uma baba-de-moça? Ou uma cocada, a branca feita com açúcar cristalizado e a preta com mascavo, ambas de deixar água na boca, rememorando Nando Cordel, esse danado de bom do forró. Quem sabe fazer uma fritada-de-camarão sem o próprio, que está caro pra caralho, reservado apenas para os dias de comemoração festiva? No livro do Mário, a receita se encontra detalhada tim-tim por tim-tim, sem um mil-réis de omissão. E muitas outras preciosidades de inundar o céu de boca, mesmo em época de pandemia bravia: quejadinha, sabongo, beiju, bolo-caroço-de-jaca, quindins, lelê e vira-vira, ficando por aqui para não deixar leitor do JBF babando.

A medicina empírica também marca presença na publicação do Mário: lavar a cabeça, manhã bem cedinho, com água de coco, dá ótimos resultados; chá da bucha de coco para hepatite; óleo de coco pra chulé de menino e adulto; azeite de coco para bicho-de-pé e mijada-de-potó; chá de estopa de coco para urina solta. Inúmeras outras mostram a utilização extra alimentar do coco e seus derivados.

O texto do Souto Maior destina-se aos bravos guerreiros, de soberbo estendal, que desejam ser modernos, século 21, sem perder as características regionais mais marcantes, sem jogar na lata dos imprestáveis os contextos folclóricos que sedimentaram um caminhar comunitário mais que tricentenário, arretado de muito ótimo.

A partir de uma leitura do livro do Mário, sabe-se de muitas coisas, não se torna um coco-de-pau de qualquer enjoado-como-farinha-de-coco. Nem se deixa levar-no-coco por qualquer catemba-de-coco travestida de doce-de-coco, que busca tirar-o-coco com os mais desatentos, sem camisinha alguma.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar segunda, 18 de janeiro de 2021

OS PAUS DD MÁRIO (CRÔNICA DE FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

OS PAUS DO MÁRIO

Todas as quintas-feiras muito me divirto assistindo um evento internético coordenado pelos notáveis escrotólogos Maurício Assuero e Luiz Berto, onde a cultura popular é explicitada sem mas-mas-mas por personalidades especializadas, belas mulheres de QI arretados e homens idem, advindos de todas as regiões brasileiras. Que declamam, contam estórias, relatam acontecidos molecais, enaltecem o seu derredor regional e ainda divulgam fatos pitorescos inesquecíveis dos nossos ontens brasileiros não oficiais, que jamais deveriam ser relegados.

Rendo minhas homenagens aos construtores da cultura popular brasileira. Ela ainda não bateu pino graças aos esforços de muitos abnegados, que efetivam suas mostras tirando dos magérrimos próprios bolsos o necessário para divulgação dos seus estudos, feitos e fatos.

Nesse resistente universo, o lugar do folclorista pernambucano Mário Souto Maior, já na eternidade, está no primeiríssimo escalão. Os seus livros Nomes Próprios Pouco Comuns, Dicionário do Palavrão e Dicionário Folclórico da Cachaça, subsidiam centenas de estudiosos, que necessitam de trilhas seguras e honestas, distanciadas dos embusteiros macunaímicos e vivaldinos.

Integrando a trilogia acima, o Souto Maior, certa feira, fez entrega à sociedade, de um guia pra lá de arretado de ótimo: Geografia Popular do Pau Através da Língua Portuguesa. Trezentas e cinquenta expressões analisadas, sem resvalar para o chulo e o grotesco. Sem obscenizar seu meticuloso ensaio, ele demonstra como o pau contribuiu para as manifestações do nosso brasileiríssimo dia-a-dia, ainda não de todo tragado pelos importados modismos primeiromundistas colonizadores.

Imaginei logo uma pessoa distanciada das raizes da nossa gente entender o significado da frase “no largo da feira de Casa Amarela encontrei o Dr. Fulano a-meio-pau, caindo pelas tabelas”. Ou outra, querelosa com os atuais anos de bunda esfregada nos bancos da póspósgraduação, ao não entender o pensar de um companheiro de universidade: “o deputado fulano de tal está sujo-que-nem-pau-de-galinheiro na CPI do orçamento”.

Outro dia, uma faxineira declarava para uma madame perua que era pau-pra-toda-obra, indo logo por-cima-de-paus-e-pedras quando algum afoito desejava por-os-pauzinhos-ao-sol. E o marido da soçaite quase cai em desespero, ao ouvir da auxiliar, alto e bom som, que estava de olho grande num pauzão e que por conta disso já estava ajeitando o pauzinho-do-matrimônio. E que o casório aconteceria rapidamente, pois gostava mesmo era de pau-na-égua. Pedia apenas ao dono da casa, autoridade de primeira entrância, que fosse na sua vara bulir-com-os-pauzinhos, pois, mais que ninguém, o patrão era habituado a conhecer-o-pau-pela-raiz .

Para não fazer-casa-com-pau-bichado, li muitas vezes, de cabo a rabo, o imperdível livro do Mário Souto Maior. Também não desejando ser pau-de-amarrar-égua, nem tolerando os que adoram viver-à-sombra-do-pau, fiz questão de ganhar-os-paus para me deliciar com a leitura da pesquisa do Mário, meu ex-companheiro da Fundação Joaquim Nabuco, pai do Jan, esse arretado da informática, consultor de tudo que é gente, inclusive burra que nem eu, um metido, vez por outra, a descobrir-o-mel-de-pau na minha área de trabalho.

Tomei ciência que souto, em Portugal, é bosque espesso. E o Mário Souto Maior, folclorista popular de primeira linha, nunca desejou mudar-de-pau-pra-cacete, ficando sempre no bosque dele, convencido que nem-todo-pau-dá-esteio.

Não desejando deitar-os-pauzinhos-fora, este texto é uma demonstração de querer bem a um intelectual que jamais quis ser um dois-de-paus, em tempo algum desejando disputar-pau-a-pau com quem quer que fosse.

Um autêntico sábio nordestino, o Mário Souto Maior. Agrestino, jamais negou que se um-dia-é-do-pau-o-outro-é-do-machado. Ele certamente faria um sucesso arretado todas as quintas-feiras no Bordel do Berto gerenciado pelo Assuero.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar segunda, 11 de janeiro de 2021

BALIZAMENTOS PARA 2021, ARTIGO DE FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

BALIZAMENTOS PARA 2021

Todo início de ano serve para se redimensionar ações, atitudes e comportamentos. Reestruturar é o verbo mais conjugado, ainda que uma minoria prossiga conjuminando-o num modo sempre amanhã, como se o agora jamais dele se ressentisse. Em plena pandemia da COVID-19, vigente e sem vacinas, inúmeros dirigentes econômicos se olvidam de uma notável advertência do economista nordestino Celso Furtado, aqui não sendo listados os que, em mandatos maiores, não entendem da chita nem um tiquinho: “Não podemos fugir à evidência de que a sobrevivência humana depende do rumo de nossa civilização, primeira a dotar-se dos meios de autodestruição. Que possamos encarar esse desafio sem nos cegarmos, é indicação de que ainda não fomos privados dos meios de sobrevivência. Mas não podemos desconhecer que é imensa a responsabilidade dos homens chamados a tomar certas decisões políticas no futuro. E somente a cidadania consciente da universalidade dos valores que unem os homens livres pode garantir a justeza das decisões políticas ” (Celso Furtado ).

Percebe-se, sem qualquer esforço, que a sociedade civil brasileira, hoje cambaleante entre uma expressividade oportunista e uma politização incompleta, necessita revigorar-se, como alicerce, para uma nova edificação estrutural, a chicotada do australiano Robert Hughes, sendo mais que oportuna: “A velha divisão de direita e esquerda acabou se assemelhando mais a duas seitas puritanas, uma lamentosamente conservadora, a outra posando de revolucionária mas usando a lamentação acadêmica como maneira de fugir ao comprometimento no mundo real “.

Dever dos mais conscientes é militar por um 2021 repleto de muita cidadania, para a felicidade geral e soberana sobrevivência do todo nacional, com vacinas aplicadas em todo território, sem esbanjar energias com penduricalhos inúteis e projetos populistas de bolorentos ontens.

Para os primeiros dias deste janeiro ainda sem qualquer programação vacinal instituída por uma tecnocracia embasada de muita incompetência, onde o branco dos aventais se curva diante do verde e do coturno, pediria vênia para recomendar com muito entusiasmo a leitura de dois livros indispensáveis para quem busca entender o atual panorama mundial. A ordem é meramente aleatória, sem qualquer preferência:

1. O NAUFRÁGIO DAS CIVILIZAÇÕES, Amin Maalouf, São Paulo, Vestígio, 2020, 253 p.

As páginas refletem uma análise profunda sobre o nosso tempo para entender as três feridas do mundo moderno: as conflitos identitários, o islamismo radical e o ultraliberalismo.

Segundo o Financial Times, “Maalouf é exatamente o tipo de interlocutor necessário ao período atual. Ele penetra profundamente em veios inexplorados da história cultural, escavando elegantemente e desafiando os clichês e o senso comum.”

Os livros do Maalouf já foram traduzidos para mais de cinquenta idiomas. E ele foi eleito, em 2011, para a Academia Francesa, ocupando a cadeira que pertenceu a Claude Lévi-Strauss.

O livro citado possui um posfácio do autor para a edição brasileira.

2. SEM DATA VENIA: UM OLHAR SOBRE O BRASIL E O MUNDO, Luís Roberto Barroso, Rio de Janeiro, História Real (intrínseca), 2020, 272 p.

O autor, ministro do Supremo Tribunal Federal, atualmente também presidente do Tribunal Superior Eleitoral, analisa a atual situação brasileira, a partir de uma reflexão sua pra lá de significativa: “A elevação pública e da ética privada no Brasil é trabalho para mais de uma geração. A notícia boa é que começou.”

O livro é composto de três partes, além da Introdução: I – Uma visita ao passado; II – Um olhar para o mundo; III – Um olhar sobre o Brasil.

Nas páginas finais, uma declaração de muita coragem: “O Brasil vive um momento difícil e complexo. Além disso, encontra-se dividido, polarizado, com discursos agressivos de parte a parte. Devemos buscar consensos mínimos, capazes de aglutinar as pessoas em torno de alguns denominadores comuns patrióticos.”

O ministro propõe três grandes pactos: um Pacto de Integridade, um Pacto de responsabilidade fiscal, econômica e social, e um Pacto pela educação.

Leituras que fortalecem a cidadania brasileira e consolidam uma militância em prol de uma humanidade mais fraterna, justa socialmente e mais civilizada.

SABENDO LER MAIS, PARA SER BRASILEIRO CAPAZ, SEM MAS-MAS-MAS.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar segunda, 04 de janeiro de 2021

REFLEXÕES PARA UM 2021 CHEGADO (ARTIGO DE FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

REFLEXÕES PARA UM 2021 CHEGADO

Morremos muitas vezes ao longo dos doze meses passados quando amigos se vão, diante dos punhais cravados pelos parentes aparentes, pelas animalidades praticadas pelos dirigentes de mentirinha, pelos preconceitos vários praticados, pelas merdalidades machistas presidenciais contra uma ex-presidenta, pelas arrogâncias dos cretinos que corroem um muito debilitado humanismo século XXI, quando dirigentes megalomaníacos se passam por salvadores do mundo ou quando sectários sem mínima cultura buscam jogar povos e nações uns contra os outros pela internet, depois apagando a brabeza todos cagados.

Ao longo das nossas vidas, diante da inexorabilidade da morte, tomamos quatro atitudes diferentes. Quando crianças, a morte nos é indiferente. Nutrimos por ela uma curiosidade idêntica às demais sentidas diante do imprevisto. Nenhum valor específico lhe atribuímos, posto que ela não provoca reação mais profunda. Um acidente da vida como outro qualquer. O escuro, quando se é criança, provoca muito mais medo que a própria morte. Para não falar das almas do outro mundo. Brinca-se até de morto como se brinca de bandido ou de mocinho. Ou de professor. Ou de dona de casa, as meninas-da-casa fazendo comidinha para as meninas-visitas, as mais sabidas.

Na adolescência, entretanto, principiamos a pensar na morte. Idealizamos a morte, mitificamos a morte. Começamos a pensar na própria morte. E principiamos a morrer, diante dos primeiros desmoronamentos provocados em nosso castelo-derredor. Mas ainda encaramos a morte como final de uma aventura, sem tropeços nem maldades, apenas coroamento, sem as pedras do caminho. Na juventude, a morte torna-se companheira quase brincante. Conceito romântico, substituindo a indiferença da primeira idade.

A inimizade se inicia na porteira da maturidade. A morte torna-se a maior inimiga, temida, mais analisada filosófica e religiosamente. A indagação de São Paulo inquieta: “Morte, onde está tua vitória?” A morte é término ou passagem? Túmulo ou túnel, como magistralmente um admirável pastor costumava dizer em suas pregações. Com crença ou sem ela, a agonia da morte se torna presente e o viver um contínuo e resoluto foco de resistência.

No último quadrante da vida, entretanto, “a mesa está posta e a cama feita”, como nos dizia o poeta Bandeira, que vivia aos trancos e barrancos com a Última Dama. Nessa fase, exige-se muita serenidade, capacidade de rever caminhadas menos felizes, emergindo a convicção de que bem outras seriam algumas das estratégias tomadas se os fatos fossem encarados com a mentalidade de agora.

Creio que a concepção da morte é determinada pela concepção que se faz da vida. Superar a morte, eis o desafio maior dos libertos dos encantamentos supérfluos, das prestimosidades dos lambetas, das “influenciadoras” sabichonas, dos burregos tecnocratas que desconhecem os valores de uma sociedade emergente e dos recalcados que se imaginam eternas vítimas, cordeirinhos imolados de um mundo que não os compreende.

Que 2021 nos proporcione, já bem vacinados, reflexões capazes de favorecer um caminhar dignamente resoluto, solidário, fraterno e bem mais humanístico na direção do ômega chardiniano. Sem medo de ser feliz, sob nenhuma hipótese. Sabendo dormir sem arma alguma e de mente pacificadora sem culpas nem complexos. Tampouco sem os machismos escrotos dos incultos e mentalmente ananicados. E com memoráveis encontros fubânicos, sempre sob as batutas do Luiz Berto e do Maurício Assuero, o primeiro idealizador e o segundo gerente geral da escrotaria.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar segunda, 28 de dezembro de 2020

INOCÊNCIAS (ARTIGO DE FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

INOCÊNCIAS

Vez por outra o meu nível irritacional se situa acima da normalidade. Alguns fatores tornaram-se provocadores por derradeiro. Um deles, o blá-blá-blá melosamente academicista de políticos em algumas falas à Nação Brasileira, como se todos nós fôssemos uns ouvintes atoleimados, crentes na existência de Papai Noel, Perna Cabeluda e Comadre Fulosinha.

Outro eficaz estopim é a “inocência” que algumas personalidades nordestinas transmitem em seus pronunciamentos, posando de eternas desligadas, desconhecendo causas e efeitos, desmoralizando até os seus próprios neurônios, numerosos, embora cínicos. Com a maior cara-de-pau, aqueles “nenéns políticos” continuam imaginando que a culpa das nossas desditas socioeconômicas e culturais é da seca, da mistura das raças, da vontade do Criador, da pouca assistência que nos é dada pelo empresariado e mil outras desculpas babaquaras. A falta de roxidão colhuda, um fator sempre olvidado, inclusive na COVID-19.

Diante das últimas sandices, multiplicadas às vésperas das manifestações eleitorais, recordo-me de um chamamento feito, há muitos anos, pelo Souza Barros, ex-Secretário Geral da ASCOFAM – Associação Mundial de Luta Contra a Fome, pernambucano, sociólogo e economista: “O Norte e o Nordeste não poderão continuar numa situação de completo alheamento dos seus problemas, pois essa atitude corresponde, politicamente, a uma espécie de menoridade. Não basta, porém, que se coloque o problema do ponto de vista de uma ação lamento, de um constante clamor contras as causas climatéricas, as causas físicas”.

A irritação também se avulta quando constatamos, Brasil afora, um festival de eventos on line técnico-tabacudos, a arregimentar lesos, semi-lesos, idiotas e amalucados, abilolados todos. Um deles, vez por outra anunciados como a quinta-maravilha do Cosmos, foi devidamente denunciado pelo médico Nelson Spritzer, MSc em cardiologia e PhD em nefrologia, detentor da máxima graduação em PNL-Programação Neurolinguística (Trainer): “Infelizmente, a PNL, como toda a tecnologia poderosa, tem atraído ‘aventureiros’ que, após cursos de um fim de semana se julgam aptos a transformarem-se nos mais novos arautos das boas vindas”. O Dr. Nelson Spritzer, inclusive, ratifica denúncia do insuspeito Dr. Richard Bandler, um dos criadores da PNL: “Uma das coisas mais sórdidas que fizeram com a PNL foi mistificá-la e complicá-la a tal ponto que só iniciados ou privilegiados intelectuais possam praticá-la corretamente”.

Acredito que uma das vacinas mais utilizadas no combate às inocências dinossáuricas é a compreensão sólida da reflexão do saudoso economista Celso Furtado, um dos nossos cientistas sociais mais lúcidos: “Não podemos fugir à evidência de que a sobrevivência humana depende do rumo de nossa civilização, primeira a dotar-se dos meios de autodestruição. Que possamos encarar esse desafio, sem nos cegarmos, é indicação de que ainda não fomos privados dos meios de sobrevivência. Mas não podemos desconhecer que é imensa a responsabilidade dos homens chamados a tomar certas decisões políticas no futuro. E somente a cidadania consciente da universalidade dos valores que unem os homens livres pode garantir a justeza das decisões políticas”.

Que nunca tenhamos vergonha de Pernambuco, berço da nacionalidade brasileira, posto que de Guararapes agigantou-se a vontade de nunca se dobrar, apesar dos homens da força. E dos tecnocratas do Planalto.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar segunda, 21 de dezembro de 2020

NASCIMENTO DO MENINO (CRÔNICA DE FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

NASCIMENTO DO MENINO

De repente, num dia qualquer de um final de dezembro, completou-se o tempo da parição. O casebre era rústico, de taipa e chão de barro batido. No apertado quintal, duas árvores e um pedaço de jornal velho que noticiava estrondoso baile de carnaval, gastos alibabásticos, desbunde total, os vários sexos em desvairamentos faraônicos, desprezadas as criancinhas famintas da localidade.

A dor apertando mais. Calor brabo, três da tarde, um domingo. Ao lado do magro colchão de palha estendido no chão do único dormitório, a Elisabete, prima também descendente de Aarão, aguardava o instante maior. Possuía tanta bondade que até o seu filho João iria anunciar a Boa Nova, há muito já profetizada por santos homens já desencarnados, que pregavam a libertação de todos. Com Maria – a prima parturiente – e os demais familiares, acreditava que um dia os famintos seriam cumulados de bens e os maus ricos despedidos de mãos vazias. Lembrando-se do dito pelo Papa Francisco em 2019 – “O cardeal Martini, na sua última entrevista dada poucos dias antes de morrer, disse palavras que nos devem interpelar ‘A Igreja ficou atrasada duzentos anos. Como é possível que não se alvorace? Temos medo? Medo, em vez de coragem? No entanto, a fé é o fundamento da Igreja. A fé, a confiança, a coragem … Só o amor vence o cansaço.’” –, que orgulhava-se de pertencer a uma população sul-americana ansiosa por um desenvolvimento social mais justo.

Elisabete também sabia que só blá-blá-blá não resolveria problema algum, a solução sempre adviria da organização e da união de todos para a concretização dos sonhos acalentados. Segundo ela, proclamando muitos estavam, embora ficassem restritos aos sonhos, não aceitando críticas nem propostas novas , partindo para os desaforos como se todos fossem moleques de rua, sem a serenidade das lideranças consolidadas.

A parteira chegara. Os panos e as toalhas, fervidos em caldeirão sobre carvão, a postos. As contrações ampliadas, embora a felicidade muito atenuasse as dores sentidas. Em minutos, Emmanuel exteriorizou-se rapidamente, sendo logo envolto em faixas e deitado numas palhas doadas pelos da redondeza, solidariedade presente e sempre atenta aos gritos de fome e de angústia dos desempregados, das prostitutas, dos negros e índios de todos os gêneros, que terão prioridade de ingresso na Festa de Encerramento e dos chacinados por uma violência desenfreada, efeito maior de uma injustiça cinicamente mantida pelos que controlam um sistema financeiro há muito instalado na contramão da História.

Sadio, Emmanuel chegara. Foi circuncidado no oitavo dia e apresentado ao Chefão de Tudo, conforme recomendava uma cartilha muito lida: “Todo macho que abre o útero será consagrado ao Senhor”. E dos muitos testemunhos, o de Simeão, um velho estivador aposentado por invalidez, foi o que calou mais fundo: “Esse Menino foi colocado para a queda e para o soerguimento de muitos”.

A aparência luminosa do garoto contagiava. Os vizinhos vibraram com a chegada do Filho da Maria. E prometiam ser d’Ele companheiros de Vida, para a difusão de um amor sem preconceitos, sem opressores, sem ódio e sem medo, onde ninguém fosse menos que ninguém, sem consumismos desenfreados, num agir corajoso e viril, fruto indispensável de uma evangelização essencialmente libertadora para os futuros que já chegaram.

PS. Um Feliz Natal para todos aqueles que depositam irrestrita confiança nas promessas do Emmanuel. E para os demais, independentemente de credo religioso, também filhos muito amados da Criação. E para a Rejane, companheira muito amada, facho de luz do meu caminhar, que verá o 2021 mais humano e solidário. Sem pandemias nem idiotices presidenciais. Um ano novo bem mais arretado.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar segunda, 14 de dezembro de 2020

MAIS UM CADINHO DE PERNAMBUQUÊS (CRÔNICA DE FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

MAIS UM CADINHO DE PERNAMBUQUÊS

Ler os “causos” do João Silvino da Conceição, um gota serena muito arretado que certa feita conheci no bairro do Recife, onde então quase tudo se resumia num entra-e-sai noturno muito mal remunerado e de pouca felicidade, me deixa bem melhor com a vida, quase liberto das tricas e futricas do cotidiano medíocre dos horários televisivos sem qualquer criatividade a quase totalidade.

Os rascunhos memoriais do Silvino estão quilômetros distanciados dos “estilos oficiais” recheados de outrossimnão obstante e ademais, entre outras bosteiras, de odores já inclusos até na própria grafia. O texto abaixo, deitado numa folha de papel pautado das grossas, bem que poderia servir para testar o nível pernambuquês dos fubânicos desta gazeta escrota, comandada magistralmente pelo escritor Luiz Berto. Ei-lo:

“De jeito maneira aquele cara me deixaria afolozado. Mesmo sendo meio zarolho, já botei gaia em muito marido de tribufu, pouco me lixando para os cus-de-boi que ficavam na pendência. Não me aperreava com nadica de nada, nem me arreganhava diante dos metidos a cavalo do cão, os acochados da paróquia. Mas um dia, de tanto subir em pé de coentro sem curvar seu caule, levei uma chapuletada de um galego, ficando sem ir chamegar na zona por um bocado de semanas.

O seguinte foi esse: num arrasta-pé de final de semana, deparei-me com a Zelma, uma zambeta toda amostrada, que deixava todo mundo aperreado com umas amostrações de peito que arrochavam que só os peguentos fechecléres dos beneficiados. Avexado, imaginando que o sujeito cangaia ao seu lado só tinha leseira, resolvi botar uma graxinha a mais no peritônio dela, elogiando seus teréns e imaginando-me o supra sumo do cu do pato. De repente, mal reparando que o macho da Zelma estava com a bubônica, dei com a cara numa moringa estacionada num canto do salão, vitimado por um tapa daqueles que estralam fazendo eco. O cabra-de-peia, sem carecer de mas ou meio-mas, me deixou liso de coragem, numa pindaíba moral de fazer pena, estatalado que só um aruá.

Sentindo a catinga exteriorizar-se dos meus interiores vestimentais, e ainda todo ralado, arribei-me do local, arrodeado de muita vaia, indo me arrumar nos cafundós de Judas, no oitão da casa da Romilda, uma peitica pixaim que apreciava um sai-e-entra com muita zoada. E que ainda me perguntou se eu tinha visto a sua cunhada Zelma, que saíra com seu irmão campeão de karatê.

Percebi-me num mato sem cachorro, borrado todo, por completo na jante, um peba tamborete de zona. E sem um tostão furado, prometi nunca mais bulir com gente, por mais ouriçada que estiver a macaxeira. Torar aço, nunca mais”.

O florentino Nicolau Maquiavel, autor de O Príncipe, permanente fonte de consulta para os politizados de todos os calibres, dividia os cérebros dos humanos em três categorias: a dos que pensam por si mesmo, a dos que discernem a partir do entendimento dos outros e a dos que não entendem nem a partir de si nem a partir dos outros. Na categoria última, situados estão os que perderam suas individualidades através de uma prática egocêntrica mórbida, os fins valendo todos os meios, o “ainda não” sempre substituindo o “por fim”. Mas na primeira, certamente, se classificaria o meu dileto amigo João Silvino da Conceição, um QI nunca azoretado, que já comeu muita brocha, cabrochas e jerimuns, jamais marreteiro, refinado especialista em chamego buliçoso, filho querido de um pai que muito amou.

PS. Para todos aqueles que aprendem a ficar com Pernambuco no coração.

 


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar segunda, 07 de dezembro de 2020

IDIOMA PERNAMBUQUÊS (CRÔNICA DE FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

 

IDIOMA PERNAMBUQUÊS

Confesso a minha alegria na quinta-feira passada, quando disse umas palavrinhas online para um grupo seleto, comandado pelo Maurício Assuero, sobre termos utilizados nas diversas camadas sociais de Pernambuco.

Com base em pesquisas de vários notórios, exponho abaixo algumas expressões, dispostas como são pronunciadas.

Uma amostra legítima de uma cultura pra lá de muita valia, apresentada em ordem alfabética e sequencial, para não ocupar espaço deste site que muito orgulha todas as mentes independentes.

Abestalhado – bobo / Abilolado – abestalhado / Acochado – apertado / Afolosado – frouxo / Agoniado – inquieto, nervoso / Amulegar – pegar / Aperreado – preocupado / Arengar – discutir, brigar / Arrastapé – forró / Arretado (1) – muito bom, excelente, maravilhoso / Arretado (2) – irritado, com raiva de algo ou alguém / Arribar – ir embora / Arrodear – dar a volta / Arroxa – aperta / Atabacado – bobo / Avexado – apressado / Avoar no mato – jogar fora / Azuretado – confuso, no mundo da lua

Bicado – bêbado / Biliro – grampo de cabelo / Bizu – dica / Borocochô – triste / Buchuda – grávida / Bulir – mexer em algo, seduzir / Buliçoso – aquele que gosta de mexer em tudo

Caba – homem / Cabra safado – pessoa ruim, tratante / Cabueta – delator, dedo duro / Cabuloso – pessoa chata / Cambitos – pernas finas / Cangalha – pessoa com as pernas arqueadas / Carecer – precisar de algo / Catabil – solavanco provocado por buraco / Chamegar – namorar / Chapoletada – tapa forte / Com a mulesta dos cachorro – empolgado / Comer brocha – passar por apuros / Cotôco – resto, pedaço

Dar pinote – pular / De jeito maneira – de modo algum / Desembestado – apressado /

Eita – exclamação / Emburacar – entrar sem licença / Encabulado – com vergonha / Enrolar – mentir / Estar com a bexiga lixa – estar com o diabo no couro / Estar com a bobônica – igual a estar com bexiga lixa / Estrupiado – machucado

Fechecler – zíper / Folote – folgado / Fi duma égua – xingação de filho da mãe / Ficar tocaiando – vigiar / Frisos – enfeites cromados de um carro / Frouxo – medroso / Fuleiro – de má qualidade (objeto), sem vergonha (pessoa) / Fuxico – fofoca

Gaia – chifre / Gaitada – gargalhada / Galalau – pessoa alta / Garapa – água com açúcar / Gazear – faltar à escola / Gréia – zoação

Iapôis – concordância, é mesmo / Imendar – consertar / Inhaca – catinga, mau cheiro / Interar – completar / Invocado – com raiva

Leseira – abestalhamento, idiotice / Leso – bobo / Liso – pessoa sem dinheiro

Malamanhado – desarrumado / Malassombro – assombração / Maloqueiro – menino de rua, pivete / Maneiro – leve, sem peso / Mangar – rir de alguém / Matuto – caipira, pessoa do interior / Metido a cavalo do cão – pessoa metida a valente / Moringa – vaso de barro para armazenar água / Munganga – careta

Nó cego – problema de difícil solução, pessoa difícil / Nos cafundós do Judas – lugar distante, longe

Oxe, oxente – interjeição de espanto

Pantim – ficar com frescura, criar caso / Peba – coisa ruim, de má qualidade / Pegar o beco – ir embora / Peguento – suado / Peitica – insistência / Pereba – ferimento na pele / Pindaíba – situação difícil, sem dinheiro / Pipoco – estouro / Pitó – elástico de cabelo / Pitoco – botão de som / Pirangueiro – pão duro

Que nem – igual a, tal qual / Queijudo – pessoa fresca / Quenga – mulher sem vergonha ou de programa

Rala-buxo – festa onde se pode dançar / Raparigueiro – mulherengo / Remela – secreção de olho / Rolo – confusão

Sarará – formiga pequena avermelhada / Se abrir – gargalhar, confessar algo / Se lascar todinho – se dar mal / Segurar vela – acompanhar casal de namorados / Sem um tostão furado – sem dinheiro / Sentar a mão – bater em alguém / Solto na bagaceira – estar solteiro / Suvaqueira – mau cheiro nas axilas

Tabacudo – bobo / Tamburete de zona – pessoa baixa / Tampa – pessoa que faz algo muito bem feito / Tirar o cabaço – desvirginar / Torar aço – ter medo intenso / Toró – chuva forte / Traquino – levado, afoito, treloso / Tribufu – pessoa feia

Vara pau – pessoa alta e magra / Vôte, Vixe – interjeição de espanto

Xexêro – pessoa que não paga, devedor / Xôxo – pessoa pequena e magra

Zambeta – pessoa de pernas tortas / Zarolho – vesgo / Zona (1) – local de baixo meretrício / Zona (2) – bagunça, confusão / Zuada – barulho forte.

Pernambucar é amar Pernambuco, falando um pernambuquês arretado de ótimo!!


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 01 de dezembro de 2020

CARTA DE EX-ALUNO (CRÔNICA DE FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

 

CARTA DE EX-ALUNO

Prezado professor:

Envio-lhe, estando de quarentena desde abril, alguns textos de pensação, intitulados Para um pós COVID-19, publicados num site carioca. São reflexões escritas desde 2005 para ir complementando a minha passagem por este mundão de Deus. Espero que o que escrevi possa auxiliar pessoas mais desavisadas e as que estão com uma cidadania incompleta ou necessitando de um novo enxergamento profissional para os anos próximos. Abaixo, alguns dos meus pitacos.

1. Hoje, já quase beirando os cinquenta anos, tenho a convicção plena de que o pior envelhecimento é o mental e a pior praga da Terceira Idade é a acomodação, agindo como se o mundo já tivesse acabado.

2. Não sei bem a razão, mas para a burocracia, genialidade é aberração. Muitos dos seus componentes adoram carimbar um monte de papéis e se acham os reis da cocada preta, adorando procrastinar decisões através de despachos mediocremente sensaborões. A obsessão deles, principalmente os de nível superior, é transformar todos em ninguém, com um carimbo qualquer sempre à sua inteira disposição.

3. Preocupa-me as manifestações neo-nazistas que estão emergindo por todos os recantos do planeta, nos últimos tempos. Percebo que elas são a sequela maior de uma escassa criatividade dos responsáveis pelo desenvolvimento sociocultural do mundo. Escassez quase desanimadora, excludente, alienante mesmo, muito preocupante. E como os comportamentos alienantes levam a um descomprometido com tudo e todos, inclusive com os procedimentos democráticos, as atenções devem ser redobradas, coibindo-se os messiânicos salvadores da pátria dos atuais regimes políticos.

4. Penso que a questão universitária, no Brasil, ainda não foi devidamente “fotografada”. O ensino superior se encontra multifacetado, havendo cursos bons e cursos medíocres, públicos e privados. E o pior é que todos estão sendo tratados da mesma maneira. Há cursos que poderiam ser ainda melhores se fossem trabalhados como deveriam ser. Uma estratégia diferenciada é um procedimento mais que justo, posto que tratar desiguais igualmente nunca foi uma postura consistente. Chegada está a hora de se separar o joio do trigo, enaltecendo os melhores e obrigando os menos qualificados a um aprimoramento não-embromatório, densamente efetivo. Uma Universidade somente sobreviverá, nos próximo anos, se alcançar um excelente nível de convivialidade entre os especialistas das suas diversas áreas. Um docente que se preze não pode ser um especialista destituído de consistente cultura geral, como também não deve ser um superficial generalista.

5. Costumo dividir a atual classe docente em três grandes categorias: a dos instrutores, a dos professores e a dos educadores. Ser educador é preparar, preparando-se também, para um juízo crítico das alternativas pedagógicas propostas através de processos diferenciados integrativos. Somente através dos educadores, situados muitos furos acima das funções meramente instrutivas, se reestruturará o todo educacional brasileiro, possibilitando a criação de um integrador projeto nacional, os esforços voltados para as diferenças e não para as semelhanças, para a criatividade cidadã, nunca para a mera reprodução de passados.

6. Sou radicalmente a favor dos que querem, sempre dando uma solução, enquanto os que nada querem só desculpas oferecem.

SABENDO EDUCAR, O BRASIL PRA MELHOR FICARÁ!


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 17 de novembro de 2020

PROVINCIANISMOS (ARTIGO DE FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

 

PROVINCIANISMOS

Nunca escondi de ninguém a minha estima pelo escritor português Fernando Pessoa, um legítimo poeta-aguilhão, que jamais se deixou mumificar nas torres de marfim de um intelectualismo sensaborão, contemplador do próprio umbigo, saudosista por derradeiro. Suas intervenções na realidade cultural, social e política do seu tempo, cáusticas algumas, recheadas de humor outras tantas, são minuciosamente analisadas, hoje, por cientistas sociais das mais variadas especialidades e graus acadêmicos, José Paulo Cavalcanti Filho um dos mais talentosos, admiração intelectual minha de décadas, desde os bancos universitários.

Em setembro de 1928, num artigo publicado no Notícias Populares, Pessoa busca alertar seus patrícios acerca do provincianismo lusitano, considerado por ele “o mal superior português”. Um mal que também aflige outros países, “que se consideram civilizantes com orgulho e erro”. Segundo o poeta, a síndrome provinciana se caracteriza por três sintomas: a. O entusiasmo e admiração pelos grandes meios e pelas grandes cidades; b. O entusiasmo e admiração pelo progresso e pela pós modernidade; 3. A incapacidade de ironia, na esfera superior.

O poeta explica o primeiro dos sintomas, afirmando que um parisiense não admira Paris, ele gosta de Paris. Não se pode admirar aquilo do qual se faz parte. “Ninguém se admira a si mesmo, salvo um paranoico com o delírio das grandezas”. Um trumpalhão descompensado.

Para o segundo sintoma, Pessoa é taxativo: “Os civilizados criam o progresso, criam a moda, criam a modernidade; por isso não atribuem importância de maior. Ninguém atribui importância ao que produz. Quem não produz é que admira a produção”. Traduzindo: quem já é civilizado, não necessita arrotar grandezas ufanosas, vangloriando-se disso e daquilo, tal e qual um pavão de rabo muito lindo e pés nada charmosos. E por ser civilizado, comporta-se como os demais das outras áreas, sempre prescrevendo futuros, jamais desejando ver coisas pretéritas, como pólvora, por exemplo.

No sintoma terceiro , a incapacidade de ironia, Fernando Pessoa diz que aí reside o traço mais fundo do provincianismo mental. Na definição do notável pensador, por ironia “entende-se, não o dizer piadas, como se crê nos cafés e nas redações, mas o dizer uma coisa para dizer o contrário”. Recentemente, por exemplo, um ex-presidente nosso disse que ia dar um banho no sertão do Nordeste. E um outro exemplo notável foi dado por Swift, considerado o maior de todos os ironistas. Durante uma fome cruel na Irlanda, ele propôs como solução, uma sátira brutal à Inglaterra, alimentar todos pela utilização de crianças de menos de sete anos. Com a maior seriedade possível, sem possibilitar ver, nas entrelinhas, a ironia mortal. Espera-se, com esta explicação, que ninguém pense, por aqui, que a proposta é verdadeira, como auxílio emergencial.

Um exercício de primeira necessidade, eu recomendaria aos nordestinos mais civilizados, mormente os pernambucanos que estão numa luta feroz pelo soerguimento da imagem empreendedora do estado: leituras reflexivas sobre provincianismo. E mais: sobre a artificialidade do apenas progresso e os arrotos grandiloquentes de um já-fui-bom-nisso que apenas inspiram lamuriantes compadecimentos, sem nada de proveitoso.

No mais é continuar caminhando, analisando a vontade do Povo Brasileiro nas eleições de 15 de novembro, buscando reerguer-se com a disposição de perder cada vez menos, jamais abandonando a convicção do compositor Geraldo Vandré: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 10 de novembro de 2020

SABER, FÉ E HUMOR (ARTIGO DE FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

SABER, FÉ E HUMOR

Revisitei online o querido companheiro João Silvino da Conceição, amigão de muitas caminhadas, nordestino arretado de sabido, paupérrimo de letras e reais, milionário em criatividade, de deixar PhD de tese que ninguém leu sem glossário e de cueca sem money. Num casebre devidamente preservado das chuvaradas últimas, acompanhado da patroa, de uma filha separada e de dois pirralhos metidos a netos, o Silvino parece duplicar, a cada ano, seu saber, sua fé e seu admirável senso de humor, como que a consolidar seu maior título, o de filho amado da Criação.

Como sempre, encareço seus apontamentos últimos, sapiências explicitadas em garranchos escritos em cadernos populares. Todos datados e devidamente sincronizados com os acontecimentos.

Interesso-me por dois assuntos: Jesus Cristo e a esquerda, assuntos diferentes, de cenários distintos, sem quase nada a ver um com o outro. E o meu espanto se inicia com a tranquilidade do Silvino. Pede para começar pela figura do Homão da Galileia, segundo ele o maior líder revolucionário da humanidade de todos os tempos. Para Silvino, o Nazareno deixou uns “recados” para os seus seguidores. Tomei nota de alguns:

1. Não critique por criticar, colabore, atravessando o rio em que você está;

2. Nunca se omita, sempre participe, renegando os macaquinhos chineses, entendendo o alcance da parábola dos talentos;

3. Nunca prenda seu navio numa âncora, pois quem perde a sua coragem perde tudo;

4. Sinta-se sempre vivo, jamais azedo, possuindo uma serenidade comportamental que nulifica tentativas dos fuxicosos;

5. Resolva os problemas da sua área, sem dela se arredar, para num engrossar o cordão dos cavilosos;

6. Haja sempre como irmão, nunca como fiscal, supervisor, auditor ou inquisidor, como se fosse o único dono da verdade.

Complementando os apontamentos, anotações bíblicas, estão correlacionadas com os recados acima:

“Quando eu era criança, agia como criança, racionava como criança. Agora que sou adulto, ajo como adulto e raciocino como adulto”;

“Aconteça-me segundo a tua vontade”;

“Esqueço-me do que fica para trás e avanço para o que está na frente”;

“Examinem tudo e fiquem com o que é bom”.

No tocante às esquerdas, o Silvino tem um respeito incomum pelos que se dedicam anos a fio pelas causas populares. Mas nutre uma aversão fulminante aos “esquerdopatas”, aqueles sectários que denigrem sem construir, mentem descaradamente mesmo contra suas próprias convicções, possuem uma prática populista idêntica aos demais, são autoritários e não desejam uma nova ordem, pois lutam pela manutenção da desordem generalizada, ninguém sendo ninguém no frigir dos ovos, caldo ótimo para suas sobrevivências. Num canto de uma página, encontrei uma afirmação de Guerreiros Ramos:

“No Brasil de hoje há poucos homens de esquerda, porém muitos esquerdeiros. Estes vivem da gesticulação revolucionária e de ficções verbais”.

O Silvino torna-se cada vez mais cidadão. E com radinho de pilha, sempre ao alcance do braço, a voz do Lulu Santos parecia surgir num instante combinado: “Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”…..

 


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 03 de novembro de 2020

CONTO E CONTRAPONTOS NO DIA DOS MORTOS (ARTIGO DE FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

PONTOS E CONTRAPONTOS NO DIA DOS MORTOS

1. Um dos mais notáveis líderes de todos os tempos, o Mahatma Gandhi, afirmava que “mais perigoso que o pouco conhecimento, é o grande conhecimento acoplado à ausência de um caráter forte e com princípios, posto que desenvolvimento intelectual sem o desenvolvimento interno do caráter condizente é a mesma coisa que entregar um potente carro esporte nas mãos de um adolescente drogado”. Lição notabilíssima para todos aqueles que possuem responsabilidades de bem conduzir a vida social de uma comunidade. Com vocabulário próprio de homem público culto e de bom caráter.

2. Após a COVID-19, os mapas estão definitivamente superados. O instrumento ideal para perscrutar os horizontes do amanhã é a bússola, ícone do homem público contemporâneo. Ela aponta direções, subsidia orientações estratégicas, fortalece lideranças e consolida posturas inovadoras. E também baliza as avaliações acerca das quebras de hierarquias, dos caos desagregadores e das iniquidades e injustiças que violentam a dignidade do ser humano, seja quem for.

3. Estamos vivenciando dias de turbulência bastante significativos. E o fenômeno é universal, com características mais marcantes nos países menos desenvolvidos, detentores de imaturidades as mais diferenciadas. E a mais gigantesca das imaturidades é a imaturidade emocional-cognitiva, matriz de quase todas as demais, posto que uma das causas primeiras de todo e qualquer atraso governamental. Nós, brasileiros, como civilização que ainda ensaia seus primeiros passos, às vezes nos posicionamos como detentores de uma contemporaneidade embasada num aprendizado efetivado há muitos anos. Tornamo-nos, com frequência, inflexíveis, fundamentados em lições apreendidas em contextos outros, muito diferenciados dos atuais, vinculados a ontens e anteontens que não mais retornarão, nem pelas mão de simples capitão.

4. Certa feita, o saudoso economista Celso Furtado declarou: “O mercado é um instrumento maravilhoso, mas ele não desempenha todas as funções. Quando se trata de resolver conflitos numa sociedade heterogênea, a saída não pode ser pelo mercado. Tem que ter a mão de quem defenda o interesse público, a solidariedade social. É importante que as duas formas de conceber a organização social caminhem juntas. O mercado baseia-se no heroísmo, na iniciativa, na astúcia, para dar dinamismo ao processo. Já o Estado busca a solidariedade, tem que proteger os fracos. Isso é que forma uma sociedade moderna”. Multipliquemos os Celsos Furtados no cenário nacional, abjurando bundões, chinfrins e blá-blá-bladores travestidos de liberaloides olavianos.

5. A classe média brasileira necessita melhor direcionar e redimensionar sua postura estratégica de formatar cenários futuros. Sua capacidade associativa está a exigir um reposicionamento mais consequente, para diferenciar bem coalizões necessárias de associações espúrias, demagógicas, populistas e eleitoreiras. Cada vez engolfada por alguns desencantos do cotidiano, ela precisa voltar a apreender melhor a realidade social do país, redimindo-se das mancadas cometidas, ampliando seu atual nível de criticidade binoculizadora.

6. O momento que estamos vivendo não permite apenas meras contemplações. Os mais responsáveis estão incentivando a ampliação da participação de todos. Faz-se necessário ampliar a enxergância pós pandemia, para que mudanças aconteçam, eliminando-se os sectarismos inconsequentes e as marginalizações espúrias, obtendo-se um agir menos hedonista, rejeitadas as ingenuidades de todos os naipes. Para a felicidade de todos, os de paletó, farda, macacão ou vestes religiosas.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 27 de outubro de 2020

FERNANDO PESSOA - CITAÇÕES DE UM TALENTO POR OUTRO TALENTO

 

 

CITAÇÕES DE UM TALENTO POR OUTRO TALENTO

Quarentenado, fiz uma arrumação nas minhas estantes, para dar uma nova visibilidade nos meus livros preferidos, e eis que me deparo com um livro que me foi oferecido em 2013 por um talento pernambucano que admiro desde os tempos de Universidade Católica de Pernambuco, ele cursando brilhantemente o Curso de Direito, herdando a experiência do pai, eu fazendo Economia, admirando entusiasmado as exposições analíticas do professor Germano de Vasconcelos Coelho, nosso paraninfo da turma e futuro prefeito consagrado de Olinda, transformada em sua gestão em Patrimônio Cultura da Humanidade.

 

O livro que me foi presenteado, à minha então mulher e a mim, tinha tinha um título sedutor: Fernando Pessoa – o livro das citações, era editado pela Record, e seu autor chamava-se José Paulo Cavalcanti Filho, hoje também colaborador semanal do Jornal do Commercio e do Jornal da Besta Fubana, este coordenado pelo escritor Luiz Berto, autor do extraordinário O Romance da Besta Fubana, já na quarta edição, sempre lido, relido, rabiscado, comentado e gargalhado.

Confesso que a releitura do livro do Zepaulinho, como muitos o chamam, me trouxe recordações muitas, saudades infindas e múltiplos balizamentos novos para os tempos contemporâneos de COVID-19, quando o mundo se prepara uma fecunda reestruturação planetária, minimizando as diferenças de rendas entre povos e nações, erradicando preconceitos e discriminações, favorecendo uma Educação Fundamental Libertadora pública e gratuita para todas as crianças e adolescentes.

Com a devida permissão de todos os fubânicos, reproduzo abaixo algumas citações que muito poderiam consolidar caminhadas cidadãs e militâncias mais solidárias em prol de uma economia essencialmente mais humanizante e nada esquizofrênica. Citações de quem, em seu tempo, se encontrava anos-luz de sua comunidade, a lusitana, profundamente conservadora e provinciana à época. Ei-las, encarecendo alguns bons instantes de reflexão e construção de propósitos, tudo balizado numa reflexão imaginada pelo poeta luso, emitida por um seu homônimo, Bernardo Soares, no Livro do Desassossego, que recomendo como uma complementação d’alma, após bem assimiladas as citações pesquisadas pelo Zepaulinho: ”Penso às vezes, com um deleite triste, que se um dos dia, num futuro a que eu já não pertença, estas frases que escrevo, durarem com louvor, eu terei enfim a gente que me compreenda, os meus, a família verdadeira para nela nascer e ser amado.”

As frases abaixo foram acolhidas por quem, pernambucanamente, sem medo e sem ódio, nariz arrebitado por merecimentos e aplausos, também mente acasalando porrilhões de neurônios, fez “a mais completa e detalhada reconstituição que jamais se fez da vida do artista”:

“Quanto mais eu abro as asas mais sei que não sei voar.”

“Só as criatura que nunca escreveram uma carta de amor é que são ridículas.”

“Quem se esquiva a travar um bom combate não é derrotado nele. Mas moralmente é derrotado , porque não se bateu.”

“Eu tenho Deus em mim,”

“Não sejamos sínteses, sejamos somas: a síntese é Deus.”

“Ninguém ainda provou que a abolição da escravatura fosse um bem social.”

“Todo hoje tem um amanhã.”

“Fui educado pela Imaginação / Viajei pela mão dela sempre / Amei, odiei, pensei sempre por isso.”

“A ironia é o primeiro indício de que a consciência se tornou consciente.”

“Nada pequeno é justo e bom.”

“Sou o intervalo entre o que desejo ser e o que outros fizeram.”

“Nós somos nossos sonhos.”

Reflexões de um poeta arretado, citadas por um jurista pra lá de também muito arretado !!


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 20 de outubro de 2020

FAROFAGENS ELEITORAIS (CRÔNICA DE FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

FAROFAGENS ELEITORAIS

Tenho uma patológica aversão a um tipo de gente que se imagina sempre gota-serena, muito embora viva nostalgicamente voltada para não sei quantos anos atrás. Completamente mofada, com ideias vagaluminosas, aquelas que somente reluzem pela parte rabolativa.

Mas a minha antipatia se quintuplica quando vejo uma pessoa belle époque arrotando grandezas mil, fantasistas todas, não imaginando jamais que o germe mais maléfico da atual crise brasileira é o do faz-de-conta, aquele que somente aumenta o cordão dos adeptos de uma baita alienação política, nunca analisando com seriedade não sectária os caminhos necessários para o desenvolvimento nacional amplamente integrador, sem populismos e demagogias viróticas.

O farofeiro se reinventa pra trás. Adepto de bugigangas televisivas e falas idióticas pela redes sociais, é individualista por excelência, sempre buscando subverter Fernando Pessoa, ao alardear, pelo comportamento aparentemente civilizado, que “tudo vale quando a alma é muito pequena”. E nunca assimilando, porque inculto e imediatista, o significado da advertência de Karl Mannheim: “Toda nossa tradição educacional e nosso sistema de valores ainda estão adaptados às necessidades de um mundo paroquial e no entanto espantamo-nos porque as pessoas se saem mal quando têm de agir num plano mais amplo”.

Todo farofeiro alimenta uma nada sutil detração pelos que pensam mas são financeiramente frágeis, o pensamento nunca fazendo parte do interior do farofeiro metido a arretado. Todo farofeiro chama de “sonhador” aquele que não sabe levar vantagem em tudo. E menospreza, quase xingando, os que pensam como Georg Groddeck: “Acredito que os homens que, nas fantasias tornam possível o impossível realizam mais e melhor, não mais sendo atormentados pela ambição há muito satisfeita”.

O farofeiro compra obra de arte por metro quadrado, não tem o hábito da boa leitura, menospreza o humor inteligente, é puritano de carteirinha e não percebe que a ignorância é a maior multinacional do mundo. E certamente repreenderia Graciliano Ramos, então revisor do Correio da Manhã, por ele ter instruído um repórter que usara a palavra “outrossim” da seguinte maneira: “Outrossim é a puta que pariu!”.

E o riso “hiênico” de um farofeiro? Alguém já reparou o quanto ele se esforça para rir quando não entende bulhufas de um crítica inteligente? Qualquer pessoa pode fazer tal experiência. Recordo sempre que posso, para os farofeiros, uma reflexão inesquecível do Eduardo Galeano, consagrado autor de As Veias Abertas da América Latina: “Nos últimos anos, duplicou-se a brecha que separa o Norte do Sul. Será preciso inventar um novo dicionário para o século que vem. A chamada democracia universal pouco ou nada tem de democrática, como o chamado socialismo real pouco ou nada tinha de socialista. Nunca foi tão antidemocrática a distribuição de pães e peixes”.

Numa pandemia histórica e histérica, “simples gripezinha” para desligadões da ambiência científica, gostaria de dizer a cada farofeiro: como filho da Criação, saiba diferenciar-se pela capacidade de integrar-se solidariamente consigo mesmo, em primeiro lugar. Entendendo que somente aquele que tem a mão de alguém para segurar sobrepujará modismos embriagadores. Saiba desafiar-se e encontre alguma coisa humana para fazer todos os dias, acercando-se de gente de QI ajustado aos desafios de um futuro que já se encontra entre nós. E sem jamais esquecer o ensinamento do rabino Harold Kushner: “Não há jeito de evitar a morte. Mas a cura para o medo da morte é o sentimento de ter vivido”.

Para todos aqueles que continuam sinceramente pugnando por um Outro Mundo, sem sectarismos nem medoe e ódios, nordestinados cada vez mais, a lição deixada por um deles, o inesquecível Celso Furtado: “Num triângulo, o quadrado da hipótese é igual à soma dos quadros dos outros dois lados. Mas será que o triângulo será mesmo retângulo?”


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 13 de outubro de 2020

CAFAJESTADAS BRASILEIRAS (CRÔNICA DE FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

 

CAFAJESTADAS BRASILEIRAS

Às vezes fico a imaginar por que o brasileiro reclama de tudo e de todos, nada prestando para ele, posto que, na sua caminhada existencial, ele é autor de uma série de cafajésticas posturas e desabridas malandragens. Vejamos as mais frequentes praticadas por todas as classes sociais, de norte a a sul do país:

1 – Coloca nome em trabalho acadêmico que não participa.

2 – Coloca em aula nome de colega ausente na lista de presença.

3 – Paga para alguém fazer seus deveres escolares.

4 – Saqueia cargas de veículos acidentados nas beiras das estradas.

5 – Estaciona nas calçadas, muitas vezes debaixo de placas proibitivas.

6 – Suborna ou tenta subornar quando é pego cometendo ilicitude.

7 – Troca voto por areia, cimento, tijolo, e até dentadura, quando não por alguns reais.

8 – Fala no celular enquanto dirige veículo.

9 – Usa o telefone da empresa onde trabalha para ligar para o celular dos amigos.

10 – Trafega pela direita nos acostamentos num congestionamento.

11 – Para em filas duplas e triplas em frente das escolas.

12 – Viola a lei do silêncio, buzinando em frente de hospitais, altas madrugadas.

13 – Dirige após consumir bebida alcoólica.

14 – Fura filas nos bancos, utilizando-se das mais esfarrapadas desculpas.

15 – Espalha churrasqueira e mesas nas calçadas públicas, como se fossem suas.

16 – Pega atestado médico sem estar doente, só para faltar alguns dias ao trabalho.

17 – Faz “gato” de luz, de água e de TV a cabo.

18 – Registra imóveis no cartório num valor abaixo do comprado, para pagar menos impostos.

19 – Compra recibos médicos para abater na declaração de imposto de renda.

20 – Muda a cor da pele para ingressar na universidade através do sistema de cotas.

21 – Quando viaja a serviço pela empresa, pede notas superfaturadas.

22 – Comercializa objetos doados nas campanhas de solidariedade.

23 – Estaciona descaradamente em vagas exclusivas para idosos ou portadores de deficiências.

24 – Adultera o velocímetro do carro para vendê-lo como se fosse pouco rodado.

25 – Compra produto pirata com plena consciência de que é pirata.

26. – Diminui a idade do filho para que passe por baixo da roleta do ônibus.

27 – Emplaca o carro fora do seu domicílio para pagar menos IPVA.

28 – Frequenta os caça-níqueis e faz uma fezinha no jogo de bicho.

29 – Leva das empresas clipes, envelopes, canetas, lápis… como se isso não fossem furtos.

30 – Comercializa os vales transporte e refeição que recebe das empresas onde trabalha.

31 – Falsifica tudo, tudo mesmo… só não falsificando ainda o não foi inventado.

32 – Quando volta do exterior, mente sempre quando o fiscal pergunta o que traz na bagagem.

33 – Quando encontra algum objeto perdido, na maioria das vezes não devolve.

34 – Só cumprimenta bem quem lhe é hierarquicamente superior.

35 – Se manifesta quando somente enxerga benefícios assistencialistas.

36 – Fala bem alto nos restaurantes, rindo que nem uma hiena.

37 – Limpa os dentes de boca aberta, sem a menor discrição social.

38 – Arrota grandezas descaradamente mentirosas

39 – Desrespeita ostensivamente as recomendações sanitárias contra o COVID-19.

40 – Entrevista dirigente público ou empresariais, tratando-os, sem pudor mínimo, por você.

E AINDA QUER QUE OS POLÍTICOS SEJAM HONESTOS….


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 06 de outubro de 2020

MÁRCIA CASTRO: PESQUISADORA BRASILEIRA ARRETADA DE ÓTIMA

 

PESQUISADORA BRASILEIRA ARRETADA DE ÓTIMA

Recentemente, uma patrícia me deixou com uma vontade de ser mais brasileiro, apesar das merdalidades ambientais cometidas por travestidos de ministros que imaginavam engabelar a inteligência nacional, fazendo passar ilícitos por debaixo dos panos e das ventas da criticidade pátria, desejando castrar o meio ambiente.

Não a conheço, mas a entrevista concedida pela demógrafa Márcia Castro, professora da Universidade de Harvard, publicada na FSP, domingo 27/09, deveria ser reproduzida nos jornais todos, numa época eleitoral onde milhares de desinformações se postam, como a daquele candidato a vereador, de sobrenome Furico e de lema Não Prometo, Dou Sempre!

Sem lero-leros, ela pontifica com pertinência histórica: “A época em que professores tinham sua salinha, davam sua aula, publicavam seus artigos e ficavam famosos já era.” Segundo ela, o momento é de engajamento com políticos, companheiros docentes, líderes comunitários e também com os discordantes, para um combate às desinformações sobre a pandemia no Brasil, posto que ainda existem milhares de abilolados que proclamam que a COVID-19 é apenas uma simples gripezinha, nunca uma pandemia fodona.

No departamento que chefia, na Universidade de Harvard, Márcia Castro estrutura um amplo programa de estímulos e debates no combate às múltiplas desigualdades que humilham mundo afora, a demógrafa se especializando na batalha contra às doenças contagiosas, malária uma delas, que afetam os mais carentes, negros a maioria.

Ela conta uma história acontecida com ela que ilustra a imbecilização gritante que campeia nos quatro cantos terrestres. Na Carolina do Sul, onde ensinava, um aluno seu, branquinho, riquinho e jumentinho, tirou nota baixa numa avaliação. Pedindo reavaliação, obtendo a mesma nota. Não satisfeito, escreveu para ela desaforadamente: “Volta pra Cuba!”. Interpretando mal a origem do seu sobrenome Castro e demonstrando uma dupla estupidez, comportamental e cultural, pois seu sobrenome Castro é originário de Portugal, dado seu pai ter emigrado para o Brasil.

A professora Castro lamenta os docentes que se deslocam para trabalhar em instituições estrangeiras e não mais se relacionam com seus pares brasileiros, muitos deles tratando até mal o contexto pátrio, como se aqui nada prestasse.

Ela tem toda razão quando diz: “Se a gente só conversa com quem concorda com a gente, não se muda a cabeça de ninguém.” E explica: “É importante para entender o que faz cada um pensar do jeito que pensa. Ajuda a encontrar a melhor forma de falar, os melhores argumentos”.

Sobre os estupidificantes movimentos anti-vacinas, ela se declara altamente preocupada, pois já se percebe em algumas regiões um retrocesso percentual da cobertura vacinal. E revela que o índice de confiança na vacina contra dengue, do Instituto Butantã, que era de 76% em 2015, atualmente se situa na faixa de apenas 56%.

As pesquisas da Dra. Márcia Castro atualmente se concentram na identificação de riscos sociais, biológicos e ambientais associados a doenças transmissíveis por vetores nos trópicos, identificando estratégias de combates efetivas. Na Amazônia, por exemplo, ela atualmente estuda a mobilidade humana e infecções assintomáticas de malária e seus impactos potenciais na transmissão da doença. E também reclama de programas de Saúde da Família travados por implicâncias políticas entre prefeitos e governadores.

Um economista sueco famoso, Gunnar Myrdal, já proclamava que “o pior subdesenvolvimento é o mental”. E quanto esse subdesenvolvimento vem acompanhado de sectárias e fundamentalistas posturas políticas ou religiosas, não tem fundo que aguente, como dizia minha avó Zefinha, já do outro lado da rua, que muito me tem auxiliado nas minhas enxergâncias binoculizadoras, separando saberes de safadezas, grandezas posturais de miudezas cagânicas.

 


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 29 de setembro de 2020

SAUDADE DE UM TALENTO: RONILDO MAIA LEITE

 

SAUDADES DE UM TALENTO

Fui um contumaz leitor de Ronildo Maia Leite, um cronista arretado de ótimo do Jornal do Commércio. Sua coluna BOM DIA, RECIFE, sempre historicamente acidorresistente, despertavam os abilolados, desnudavam hipócritas, arrebicavam oportunistas e posturas fingidoras, dilacerando uma macacaria que apenas desejava levar vantagens político-eleitoreiras, aproveitando-se da mitografia de alguns manhosos.

Diante das maracutaias vergonhosas que ainda continuam circunvizinhando na atual quadratura política brasileira , onde uma desmesurada bandidagem parece asfixiar a honradez e a dignidade de milhões de eleitores brasileiros, tenho quase certeza que o notável Ronildo andou se abeberando num livrinho de humor tão corrosivo quanto inteligente, por mim lido e relido várias vezes.

Com sucessivas edições italianas , brasileiras, castelhanas e catalãs, francesas e belgas, o Discurso Sobre o Filho-da-Puta, do lusitano Alberto Pimenta, em primorosa tiragem da Fenda Edições, está aliviando sobremaneira as angústias individuais e coletivas dos que ainda têm vergonha, nesta quarentena pandêmica. 

A edição por mim compulsada retrata, com refinada ironia, os comportamentos hipócritas, públicos e privados. Segundo Pimenta, sobre o FDP múltiplas lendas são contadas. O autor do Discurso estabeleceu, para iniciação dos ainda leigos no assunto, algumas linhas que servem para pressentir a presença de um deles . O saudoso Ronildo seguramente sabia, de trás pra frente, tais grandes linhas, posto que suas deliciosas e oportuníssimas crônicas estão repimpadas de mortíferas entrelinhas.

Para os ex-leitores do Ronildo, como eu, torno públicos alguns dos parâmetros do Alberto Pimenta, para possibilitar uma melhor identificação dos que estão merecendo levar umas cipoadas cidadãs, não mais fazendo de besta os eleitores de um estado já muito politicamente sacrificado:

1. O FDP existe e está em todas as partes. Nunca se define à primeira vista. Não usa sinais explícitos, nem distintivos, sempre dizendo o que pretendia dizer o maioral seu chefe.

2. O FDP não consente na despreocupação. Pretende chegar a todos os lugares sem chegar a sair pra lugar nenhum, vocacionado para não deixar fazer.

3. Os FDP conhecem-se bem. Sabem comunicar-se muitíssimo eficazmente uns com os outros. E têm sempre um bom motivo coletivo para os seus atos particulares e um excelente motivo particular para seus atos públicos.

4. Todo FDP detesta o sucesso das investigações dos outros e se preocupa obsessivamente com a ascensão profissional dos companheiros de trabalho, jamais se aperfeiçoando porque jamais se desligou das caminhadas bem sucedidas dos seus colegas , de infância, de trabalho ou de comunidade.

Ao relembrar o Ronildo Maia Leite lendo seus artigos, todos eles recheados de oportuníssimas vergastadas, creio que o melhor indicador para os atuais isolamentos é a releitura bem mastigada das notas do Alberto Pimenta. Para melhor identificar os “vocacionados“. E também para não se converter em mais um deles . Mas sobretudo para poder trabalhar prevenido em ambientes onde eles pululam , quase todos travestidos de coadjuvantes da construção do bem estar social … deles.

O Ronildo era um baita cronista diferenciado. Daqueles que absorveram eficazmente o balizamento magistral de Bernard Shaw : “Alguns homens vêm as coisas como são e perguntam POR QUE? Eu sonho com as coisas que nunca existiram e pergunto POR QUE NÃO?”


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 22 de setembro de 2020

UMA ONG PARA A PÓS-COVID-19

 

UMA ONG PARA A PÓS-COVID-19

Apavorado, amigo de longa data, tempos recifenses, me liga quase desesperado para o telefone da minha salinha residencial de trabalho. Declarando-se de pernas bem fechadas, tronco semi-curvado a la frei Damião e olhos arregalados, foi logo desabafando: “Nando, quando é que vão instituir o SOS Pinto, uma ong para salvaguardar os interesses dos que ficam, na maior parte da vida útil , de cabeça baixa?. Não se pode ser omisso, ficando de pernas cruzadas, diante das giletadas, mordidas, foiçadas, águas ferventes, torcidas propositais e unhadas mórbidas que estão no noticiário jornalístico diário, praticadas por todos os gêneros, do hétero ao LGTBSDTYZ”.

Avaliando, do meu canto, o medo estampado nas duas cabeças do amigo querido, boemia frente e verso e muito mel de décadas, recomendei-lhe tomar um chá bem frio (quente ele poderia entender como uma intenção mórbida!) e busquei introduzi-lo num assunto menos cacete para o momento. Pedi esclarecimentos, assegurando-lhe que estava pronto para o que desse e viesse, pau pra toda obra.

O que eu ouvi merece a criação, em regime de urgência, de uma Ong especializada no combate aos que atentam para a integridade física de um dos responsáveis, sejamos diretos e duros, pela perpetuação da espécie humana, que paulatinamente vem se assenhoreando da História Cósmica. Os relatos dele, sob hipótese alguma, não deixam água na boca. Não respeitam qualquer tamanho, vitimando encapuzados e carecas. Maculando até os derredores, simples containers de material liquefeito.

E o amigo de longa data ainda revelou um outro inconveniente: todos os dirigíveis vitimados não tinham caixa preta, impossibilitando qualquer anotação acerca do acontecido durante os preliminares procedimentos de subida.

Imaginei algumas iniciativas atenuadoras:

1. Proibição, nos locais adequados e específicos, de portar qualquer instrumento cortante, estrangulante ou perfurante, inclusive dentaduras e pontes;

2. Instalação, nas portas de entrada dos ambientes lovelescos, daqueles detectores de metais utilizados nos aeroportos e bancos, recolhendo-se canivetes suíços, beliros de cabelo, tesourinhas, alicates de unhas, correntes de todos os tamanhos, fios dentais, alfinetes, canetas de pena, clips de metal, cadarços de sapatos e fivelas de todas as marcas;

3. Posicionar, ao lado de cada uma das portas de entrada, funcionária devidamente capacitada, que ajustaria os tamanhos das unhas da clientela, deixando-as em grandeza inofensiva.

Na área judicial, acredito que as mais diversas varas também ficarão sensibilizadas com a problemática, devendo erguer-se duramente na defesa das vítimas de dentadas erradicadoras, decepações simples, decepações com esmagamentos, estrangulamentos e beliscões dolosos e culposos.

Os seguros-saúde com certeza reformatarão suas apólices, autorizando cirúrgicos remendos, restaurações e transplantes de pintos novos e velhos, cada solicitação devendo ser avaliada por uma junta cujos membros entendam do riscado, sabendo rapidamente decidir, sem frigir os ovos.

Que o SOS Pinto seja brevemente inaugurado, favorecendo nobilíssimas missões de cabeças erguidas, para que todos possam continuar desbravando interiores de todos os tipos, cuspindo sempre com muita energia, apesar dos perigos. Pois adentrar é preciso, embora viver não o seja tanto.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 15 de setembro de 2020

NOME E SOBRENOMES

 

NOMES E SOBRENOMES

Nas varas especializadas de família, os processos correm em segredo de justiça, embora alguns casos, por não possibilitarem constrangimentos, sejam passíveis de divulgação.

No mundão lusófono, como nas demais localidades do planeta, acontece cada coisa que até o Homão lá de cima duvida. Agora mesmo, amigo fraterno de Oeiras, uma das mais hospitaleiras cidades portuguesas, me envia cópia de uma petição, fato acontecido em plena África de língua camoniana, com um não menos interessante despacho de magistrado reconhecido pela sensatez dos seus pronunciamentos.

A petição tem o seguinte teor, resguardada a identidade da sede da comarca e também do país:

Sincranópolis, 5 de março de 2002.
Ao Senhor Juiz da Vara e Família.
Assunto: Solicitação para mudança de nome.

Eu, Maria José Pao, casada, do lar, gostaria de saber da possibilidade de se bulir no sobrenome Pao de meu nome, já que a presença do Pao tem me deixado embaraçada em varias situações. Desde já antecipo agradecimento e peço deferimento. Maria José Pao.

Em resposta, o douto magistrado lhe remeteu a seguinte correspondência:

Cara Senhora Pao:

Sobre sua solicitação de remoção do Pao, gostaríamos de lhe informar que a nova legislação permite a retirada do seu Pao, mas o processo é deveras complicado. Se o Pao tiver sido adquirido após o casamento, a retirada é mais fácil, pois, afinal de contas, ninguém é obrigado a usar o Pao do marido se não quiser. Se, entretanto, o Pao for do seu genitor, o caso se torna ainda mais difícil de solução imediata, pois o Pao a que nos referimos é de família e vem sendo usado por várias gerações. Se a senhora tiver irmãos ou irmãs, a retirada do Pao a tornaria diferente do resto da família. Não seria agradável cumprimentar todos com Pao, menos a sua pessoa. Por outro lado, cortar o Pao de seu pai deverá magoá-lo de modo irreversível, deixando-o decididamente infeliz. Outro problema, porém, está no fato de seu nome completo vir a conter apenas dois nomes próprios, ficando esquisito caso não haja nada para colocar no lugar do Pao. Isso sem falar que as demais pessoa s estranharão muito ao saberem que a senhora não possui mais o Pao do seu marido. Uma opção bastante viável seria a troca da ordem dos nomes. Se a senhora colocar o Pao na frente da Maria e atrás do José, o Pao pode restar mais escondido, porque a senhora poderia assinar o seu nome como Maria P. José. Nossa opinião é a de que o preconceito contra este sobrenome já acabou há muito tempo e que, já que a senhora usou o Pao do seu marido por tanto tempo, não custa nada usá-lo um pouco mais. Eu mesmo possuo Pao, sempre usei e muito poucas vezes o Pao me causou embaraços. Atenciosamente, Desembargador Joaquim Manoel Pao, Vara de Família do Tribunal de Justiça.

Em tempos pandêmicos como os atualmente vivenciados planetariamente, provocando uma veloz mediocrização mundial, a desvalorização do sobrenome da jovem peticionária é por demais sintomática. Em nosso país, por exemplos, diante de uma rabolatria que substitui as posturas artísticas mais sensíveis em programas televisivos, percebe-se a urgência de se noticiar iniciativas mais ajustadas às irreversíveis reestruturações sociais de todos os quadrantes terrestres, favorecendo debates sementeiros que erradiquem os execráveis níveis educacionais que apenas conduzem as massas populares para charcos nada sobrevivenciais.

A responsabilidade não é só da área pública. Ainda ontem, vi uma propaganda televisiva pernambucana, onde o proprietário da empresa pinotava e fazia caretas imitando um macaco em plena floresta, o símio com desempenho muito bem representado pelos gestos tresloucados do empresário-saguim.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 08 de setembro de 2020

HUMOR JUDAICO

 

HUMOR JUDAICO

Confesso minha felicidade em ter um montão de amigos judeus pelos quatro cantos do Brasil, alguns do outro lado do Atlântico e uma meia dúzia nos Estados Unidos, sempre enviando notas e análises sobre as Trumpalhadas de um careca emperucado que almeja uma reeleição presidencial mesmo desprezando a etnia negra que se prepara para não decepcionar o ideário deixado pelo inesquecível Martin Luther King, aquele que pronunciou o muitas vezes por mim lido Eu Tive um Sonho.

E de todos eles, sem exceção, guardo uma característica, a de um humor inteligente, muitas vezes até voltado contra si mesmos.

De um deles, o Jacozinho, folião que nem eu do carnavalesco Bloco da Saudade quando tínhamos resistências musculares para os desfiles momescos. Ele sempre costumava repetir o que tinha lido num livro que me presenteou no ano retrasado: “Se alguém te diz ‘és um burro’, não dês importância. Mas se duas pessoas te disserem a mesma coisa, atrela-te a uma carroça”.

Profissionalmente altamente qualificado na área tecnológica, ele possuía uma programação de leituras de textos humanísticos nacionais e estrangeiros, possuindo um sólido nível cultural que o fazia indispensável em todas as reuniões sociais que participava.

Nós detestávamos hipócritas, fingidos, babaovistas, boçais, farofeiros e merdálicos, aqueles que se imaginam nunca se imaginam inseridos nos interiores penicais do mundo.

O livro que foi presenteado por ele – Do Éden ao Divã: Humor Judaico, Companhia Das Letras, organizado por Moacyr Scliar, Patrícia Finzi e Eliahu Toker – contém deliciosas historietas pejadas de humor inteligente.

Nas últimas eleições de Israel, conta-me Jacozinho, um chassid – um acendedor de lampiões que sabe que a chama não lhe pertence – foi conversar com seu rabino. E logo foi dizendo: Rabi, sonhei que liderava trezentos chassidim. Ouviu o rabino uma recomendação pra lá de arretada: – Volta quando trezentos chassidim sonharem que és o líder dele.

O que eu mais apreciava, quando desfilava no Galo da Madrugada com Jacozinho, era ouvir suas historietas, prá lá de cáusticas algumas, que ele desfiava sem parar não deixando quieto ou extenuado quem estivesse ao seu derredor. Lembro-me de algumas até hoje, que me deixam com uma saudade danada dos papos daquele amigo, hoje sediado na capital paulista. Enumero algumas delas, homenageando toda a gente hebraica, de quem sou irmão desde Salomão, Isaac e Jacob. Apenas como aperitivos:

1. Dois judeus estão sentados em silêncio num banco de praça há mais de duas horas. Finalmente, um deles dá um longo suspiro seguido de um oi saído do fundo do coração.

O outro logo responde: – Para mim, você vai ter que contar.

2. O Morris encontra-se com o Meyer de cara trombuda, logo lhe perguntando:

– Por que essa cara, Meyer?

– Eu vou te dizer a causa. Na semana retrasada, minha tia Rozete morreu e me deixou cinquenta mil dólares de herança. Na semana passada, meu tio Chaim morreu e me deixou setenta mil dólares de herança. Mas nesta semana ninguém morreu! Não é horrível?

3. Um turista americano desembarca no aeroporto Ben-Gurion e toma um táxi, encarecendo ao motorista:

– Leve-me para onde os judeus se desfazem em lágrimas.

Imediatamente o chofer atravessou toda Jerusalém, indo diretamente para o Ministério das Finanças…

Um país por mim muito amado, terra natal de um Irmão Libertador de todos nós.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 01 de setembro de 2020

POR UM NOVO ENSINO SUPERIOR EM PERNAMBUCO

 

POR UM NOVO ENSINO SUPERIOR EM PERNAMBUCO

Parabenizando com euforia a UPE e a UNICAP pelo convênio firmado recentemente, indagaria a ambas se não teria chegada a hora de se estruturar, em Pernambuco, uma Secretaria de Ensino Superior, com um Conselho de Educação Superior, desafogando a atual Secretaria de Educação de Pernambuco e dinamizando IES públicas e privadas?

Outro dia li uma declaração de pesquisador do Reino Unido, Ronald Barnett, com a qual concordo integralmente: “A universidade pós-moderna está transformando a maneira como nós educadores e gestores teremos de lidar com os desafios que estão surgindo e repensar como nossas Instituições irão sobreviver em uma era de supercomplexidades.”

Em nosso estado, os dirigentes de ensino superior bem que poderiam distribuir nos primeiros dias de aula dos vestibulandos, o Mapa do Fracasso, de Paul Krugman, Nobel de Economia:

1. Pensar em curto prazo – Não projetar, nem raciocinar para além de cinco anos;

2. Ser obsessivo – Ter como objetivo ganhar sempre, sem considerar os seus limites;

3. Acreditar que existe sempre alguém mais tolo do que você – Desprezar o ditado que diz “Sempre haverá alguém, como você, suficientemente estúpido para só perceber o que está acontecendo quando for tarde demais”;

4. Acompanhar a manada – Não ouvir as vozes discordantes, que são até ridicularizadas e silenciadas;

5. Generalizar sem limites – Criar preconceitos e condenar ou louvar instituições e pessoas por critérios difusos e subjetivos, na maioria bestiais;

6. Seguir a tendência – Procurar ver o que está dando certo, copiando acriticamente e esperar que os resultados se repitam;

7. Jogar com o dinheiro dos outros – Progredir com o investimento alheio.

Em época de passividades mil que estamos vivenciando, urge um planejamento estratégico não vago nem fantasioso, tampouco carimbológico, não obstaculizando metas sementeiras, nem favorecendo a diluição demagógica dos objetivos estabelecidos.

Em toda universidade ou instituição de ensino superior do Estado de Pernambuco, pública ou particular, o como começar não deverá ser viabilizado de uma única maneira. Cada uma deverá preservar suas peculiaridades, que exigirão procedimentos específicos capazes de proporcionar um aproveitamento ideal entre talento e experiências já vivenciadas.

Na construção de horizontes universitários mais promissores para Pernambuco, todo cuidado é pouco com os medíocres. Necessitamos, através das múltiplas maneiras de debater e deliberar com objetividade, presencial ou onlinemente, as diretrizes alavancadoras para o nosso ensino superior:

1. Qual é a missão do ensino superior estadual?; 2. Como saber bem diferenciar erro de negligência?; 3. Que iniciativas poderão, a curto e médio prazos, serem implementadas diante das mudanças velozes que estão se processando?; 4. Como efetivar o planejamento estratégico com maturidade, sem as fobias advindas da idiótica dicotomia direita-esquerda? 5. Como ser dirigentes conscientes, sem bajulações e subserviências?; 6. Como assimilar o desconhecido, sempre se vendo como um eterno aprendiz, sabendo bem diferenciar aprender e apreender?; 7. Que razões mais substantivas exigem ações sem procrastinações?; 8. Como explicitar inquietações propositivas, nunca se comportando tal e qual aquele cego num quarto escuro procurando um gato preto que lá não mais se encontra?; 9. Como favorecer uma maior integração operacional – ensino x pesquisa x extensão x divulgação – entre todas as IES estaduais?; 10. Como combater a “cegueira do progresso”, expressão feliz do filósofo Adorno, evitando a transformação da vida universitária brasileira em espetáculo circense?

Não seria o caso de analisar melhor a Secretaria de Ensino Superior de São Paulo, uma iniciativa eminentemente catapultadora? Ou de se instituir uma Federação de Ensino Superior de Pernambuco – FESUPE -, sem vínculos oficiais, envolvendo iniciativas públicas e particulares, capaz de favorecer uma dinâmica integração Tecnologia x Ciências Sociais e Humanas x Área Médica x Ciências Exatas, para alavancar uma nova era iluminista para um estado que muito amamos?

Pensar um tiquinho mais nunca fez mal a ninguém.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 18 de agosto de 2020

AMPLIANDO BINOCULIZAÇÕES

 

AMPLIANDO AS BINOCULIZAÇÕES

Outro dia, um rapaz meio abobado comportamentalmente, indagou do seu pai se poderia ser feliz e se a beleza só existe mesmo aos olhos de quem vê e se o riso é ainda o melhor remédio, se a internet educa bem, se o amor está além das atividades sexuais e se fazer coisas ruins acaba prejudicando quem as praticou. O pai, atabalhoadamente, ficou para dar uma resposta alguns dias depois, fazendo-me, por e-mail, um apelo para orientá-lo, pois sempre sentiu um abuso muito grande pelos assuntos filosofáticos (expressão dele).

Confesso que tive uma vontade danada de me escafeder da angústia daquele amigo, um metido a engenheiro fodão de uma empresa de saneamento nordestina, sempre escanteador dos assuntos não-exatos, como se o pensar fosse apenas um sanativo para os distanciados dos cálculos numéricos. Mas o tratamento que sempre recebo do garotão, uma mente voltada para as Ciências Humanas, resolvi recomendar para os dois o livro de um pensador inglês muito aplaudido, que consegue expressar suas reflexões com muito humor, excelente lucidez e uma lucidez muitos futuros acima das bostelidades de uma conjuntura mundial já intensamente vitimada por uma pandemia perniciosa, classificada de “simples gripezinha” por um mandatário latino-americano imitador das idiotices do Trump, sem seus ganhos financeiros, por mais que as “pegadinhas” se acumulassem familiarmente. O livro sugerido: A ARTE DE QUESTIONAR – A FILOSOFIA DO DIA A DIA, A. C. Grayling, São Paulo, Editora Fundamento Educacional, 2014, 320 p.

Grayling é PhD em Filosofia, integrante do St Anne’s College , Oxford, autor de mais de trinta livros, frequentemente solicitado para participar de conferências e debates, dada sua também condição de colunista da Barnes and Nobles Review, de Nova York, editor da revista Prospect e curador da London Library, além de integrante da Royal Society of Arts e da Society of Literature, além das funções, por quase dez anos, de secretário honorário da principal associação britânica de filosofia, a Aristotelian Society.

O livro é composto de 102 curtos ensaios, elaborados com intenções propositadamente não-intoxicantes, todos eles publicados no jornal inglês Times e na revista Prospect. Com assuntos os mais diferenciados, indo desde democracia a ciência, de drogas a religião, de abstinência e jejum, de racionalidade a conhecimento inconsciente, de aparência a hipocrisia, de felicidade a puritanismo, de existência a autoengano. Textos elaborados a partir de indagações cotidianas, que favorece um caminhar existencial sem abobamentos nem messianismos, tampouco desiluminações que acarretam desesperanças e angústias por vezes fatais.

Uma leitura que abre, sem academicismos pedantes, tampouco olavismoscarvalhosos, mentes e corações para um enfrentamento sadio de uma pós pandemia que seguramente exigirá níveis analíticos mais efetivos diante das reestruturações que se farão necessárias.

Mudança é a palavra chave dos tempos atuais. Significa inovação e sobrevivência. Uma série de fatores emergem num contexto de aceleradas transformações: terceirização, globalização, privatização, reformas do governo, alterações mercadológicas, novas estruturas organizacionais, reeducação profissional, avalanche de informações (verdadeiras e falsas), atmosfera de confusão, tensão, medo, tumulto, desemprego, múltiplas pressões individuais (ser melhor, trabalhar melhor, preparar-se melhor, sobrecarga de trabalho, sobrecarga de informações, prazos e resultados, concorrência profissional).

Causadores das mudanças: políticas do governo, novas leis, mudanças nos hábitos populacionais, preferências dos clientes e consumidores, novos sistemas de gestão, a informatização empresarial.

Tipos de mudanças: tecnológicas, estruturais e comportamentais.

Tipos de resistência às mudanças: insegurança (trocar o certo pelo duvidoso), desconforto / tensão (não incorporação ao pensamento e ao subconsciente) e bloqueio (não o consciente e premeditado, em forma de boicote, sabotagem ou operação tartaruga, mas do bloqueio psicológico, quando não conseguem assimilar a nova situação).

“A única coisa permanente é a mudança”, já dizia Heráclito, 500 a.C. E Bertolt Brecht também concordava: “É preciso mudar o mundo. Depois será preciso mudar o mundo mudado”.

Li outro dia e me entusiasmei bastante com uma entrevista do leigo católico Otto Maduro. Concedida a Lúcia Ribeiro, do Instituto de Estudos da Religião -, o intelectual venezuelano, especializado em questões da sexualidade e da afetividade relacionadas à dimensão religiosa, dissertou acerca de uma Ética da Ternura que urge ser estabelecida entre os que se juntaram para um “eterno enquanto dura“, recordando o saudoso Vinicius de Morais.

Às vésperas de novas configurações, um urgente repensar acerca das dimensões cotidianas da vida, e também da vida a dois, necessita ser posto em prática, as críticas e autocríticas sendo fortalecidas através de diálogos francos e corajosos, sem os salamaleques das meninas que pensam estar entendendo tudo, nem os escapismos machistas dos que se rotulam de donos absolutos da verdade. Num ambiente que abriga as mais diversas correntes de pensamento, sem que sejam afetados seus pilares morais básicos, é dever de honestidade reconhecer que alguns posicionamentos estão distanciados dos cotidianos vivenciados em múltiplos contextos socioculturais, gerando “esquizofrenias” as mais disparatadas, que somente favorecem a disseminação de uma hipocrisia social dicotomizada entre uma rigidez desumana e uma permissividade que desrespeita o próprio corpo.

Nós ainda confundimos muito tradição, modernismo, modernidade e modernosidade, ora alimentando bloqueios e perplexidades, ora reforçando “soluções de facilidade“, via caminhos mais curtos. Assistir O Ovo da Serpente, de Ingmar Bergman, de muita utilidade será para os mais desatentos.

É chegada a hora de uma honesta reavaliação geral. De sempre subordinar o negativo ao positivo. De perceber que todos os gêneros, não apenas a tipologia genitálica, são partes inerentes de uma dimensão humana permanente e irrecusável. E de humildemente aceitar que o celibato compulsório, ceifando sadias complementaridades entre serviço e desejo, apenas fez ampliar insuportáveis conflitos, ensejando inseguranças que prejudicam a própria construção do Reino de Deus.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 11 de agosto de 2020

REFLEXÕES ENXERGANTES DA PÓS COVID-19

 

 

REFLEXÕES ENXERGANTES DA PÓS COVID-19

Para quem deseja analisar os futuros pós pandêmicos do Brasil, erradicando múltiplas merdalhadas analíticas explicitadas nos últimos meses por ansiosos por um minutinho das redes sociais e televisivas, a Editora Nova Fronteira lançou recentemente uma coletânea de reflexões de analistas brasileiros reconhecidos pelos talentos comprovados. Análises feitas por 50 brasileiros, das mais variadas áreas do conhecimento, entre os quais podemos ressaltar, aqui, numa amostra significativa em ordem alfabética: Felipe Santa Cruz, Fernanda Torres, Fernando Gabeira, Fernando Henrique Cardoso, Gustavo Franco, Joaquim Falcão, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni), Marcelo Adnet, Marcos Azambuja, Mary Del Priori, Merval Pereira, Paulo Niemeyer Filho, Pedro Bial, Roberto Medina, Sérgio Etchegoyen e Vinicius Lummertz.

Na orelha primeira do livro: “Mudar o mundo significa mudar o homem, e assim também todas as suas instituições. Se o mundo se transformar por si, por sua força natural e vital, obriga-nos a questionar (ou talvez recuperar) nossa essência humana, em busca de um equilíbrio que, da maneira mais cruel e evidente, de impõe como necessidade.”

O nome do livro recém editado: O Mundo Pós-Pandemia; Reflexões Sobre Uma Nova Vida, José Roberto de Castro Neves (org.), Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2020, 416 p. Ouso, abaixo. extrair linhas gerais de vários dos temas analisados pelos especialistas, não citando os autores para desfavorecer ideologizações idióticas dos que apenas seguem orientações partidárias, religiosas, nostálgicas e outras influências advindas de um não-pensar contaminado por uma incultura planetária recheada de tecnologicismos que apenas impossibilitam as evoluções intuitivas dos seres humanos, robotizando-os, submetendo-os a outras formas de escravidão tão vexatórias quanto às de um passado vivenciado por gente irmã vinda das nações africanas.

Abaixo, uma amostra dos assuntos tratados, sem desmerecer os demais, todos ótimos. Poucas linhas para induzir reflexões balizadoras para uma evolucional nova caminhada planetária:

MEDICINA – “Tudo que estamos vivendo nesta epidemia do coronavírus já aconteceu anteriormente. Com a diferença, até o momento, de não ser uma crise com a dimensão das relatadas nos séculos passados. Em todas elas, as mudanças que se seguiram foram decorrentes do aniquilamento demográfico, que modificou o panorama econômico. Estamos longe disso.”

HUMANISMO NA MEDICINA – “Essa medicina, sobre fundamentalmente olhar o outro, só evoluirá sobre esse marco se permanecer fiel à grandeza das descobertas dos dois últimos séculos: o rigor metodológico, o espírito crítico permanente, a recusa de dogmas e ideias preconcebidas, a consideração do demonstrado pelo experimento científico. Hoje, como ontem, essa exigência permanece.”

ECONOMIA – “Considerando que o fenômeno é global, o prognóstico é ruim para os políticos no poder, de modo que, provavelmente, vamos ter o encerramento desses populismos de quinta categoria ocorrendo em vários países, incluindo este aqui onde estamos.”

COMUNICAÇÃO – “Sabemos que em nenhuma área haverá mais espaço para enganações, trabalhos meia-boca; de uma consulta médica a uma aula na universidade, de uma ação de comunicação à escolha de uma ação para investir na bolsa de valores. É o inverso disso. Teremos a necessidade de fazer melhor e de cada vez compreender as consequências de nossas ações sobre os fatos.”

JORNALISMO – “Na disputa por corações e mentalidades, a pandemia deu ao jornalismo uma dianteira ainda que não reconhecida pelos seus detratores. E nem poderia o ser, já que esse é o sustentáculo de suas convicções extremadas.”

POLÍTICA – “A peste escancarou também a extrema pobreza e, sobretudo, a desigualdade com que convivemos cotidianamente como se fossem as coisas de vida. Milhões de ‘invisíveis’ surgiram do nada para assombrar os governantes, que não os detectavam nem mesmo nos programas sociais.”

URBANISMO – “Desenha-se um futuro menos obscuro e mais esclarecido, de mais ciência e menos religião. Neste futuro, mais próspero e pacífico, é preciso assegurar a igualdade de gêneros, os direitos humanos, a liberdade religiosa, a segurança de ir e vir. O respeito à água deverá ter um lugar de destaque no novo normal.”

INDÚSTRIA – “O mundo pós-pandemia será, de todos, o mais dependente da inteligência e da tecnologia. O comércio eletrônico se expandiu fortemente após a ocorrência do Sars-CoV-2. É de se esperar que volte a crescer numa escala sem precedentes.”

LIVROS – “Os canais e processos da indústria editorial vão evoluir no mundo pós COVID-19, mas o livro continuará sendo uma ferramenta única, com o poder de alargar nossa mente e restaurar nosso ânimo.”

EDUCAÇÃO – “Será uma oportunidade única para mapear as melhores soluções encontradas por professores e sistemas educacionais do mundo no momento que se viram obrigados a fornecer aos pais, de todas as classes sociais, orientações sobre como melhor ajudar no desenvolvimento acadêmico de seus filhos.”

PROJETOS SOCIAIS – “Diante dessa pandemia sem precedentes, em que o risco não respeita classe social, poder e dinheiro, nunca esteve tão claro que somos todos iguais. O momento é de muita reflexão para melhorarmos como seres humanos e, juntos, construirmos um mundo melhor. Sempre com o olhar para o outro.”

MEIO AMBIENTE – “Ainda estamos no século XIX quando se trata de saneamento básico. Esse é um fator de insegurança biológica. Se a pandemia de coronavirus nos impulsionar a resolver esse problema num prazo mais curto, já teremos dado um passo fundamental.”

COMPORTAMENTO SOCIAL – “O isolamento social, outro nome do confinamento em casa, impôs uma mudança radical no uso temporal, fazendo sobrar um tempo que antes não existia, impondo uma nova invenção dos dias e a reorganização da vida doméstica.”

UNIVERSIDADES – “”Na era da economia do conhecimento serão mais difíceis ensino de massa, intercâmbios locais e globais, complexas redes de pesquisa e o livre fluxo do conhecimento sem as veias tecnológicas abertas pelo vírus. O acaso de isolamento social foi grande mobilizador. Digo acaso de propósito, lembrando Jaques Monod, Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina, e epistemólogo. Defendia a tese de que o acaso faz a necessidade. O vírus está fazendo.”

EMPREENDEDORISMO – “O principal conselho que deixo a todos os empreendedores é que sejam obstinados pelas suas empresas. E se vocês quiserem construir algo grande de verdade, aprendam rápido. A vida empresarial definitivamente não é uma linha reta, mas um grande zigue-zague em que precisamos, com velocidade, aprender a mudar de opinião e reconhecer nossos erros.”

PARTIDOS POLÍTICOS – “Já virou, no popular, carne de vaca falar mal dos partidos políticos. Pois não é que o ambiente geral propício à ressignificação de tudo o que envolve seres humanos, nossa relações e nossa vida no planeta acaba criando uma janela para que os partidos também façam não uma cirurgia plástica, mas uma reengenharia completa, quebrando de vez a lógica que conecta atraso e fossilização?”

Para os que acreditam na reencarnação como eu, recomendo ainda algumas rabiscadas meditativas nos seguintes textos:

– O capítulo XVIII do livro A Gênese, do Allan Kardec, São Paulo, LAKE, 24ª. ed., 2013, 360 p.:

– O texto A Dupla Vista – Conhecimento do Futuro – Previsões, no livro Obras Póstumas, Allan Kardec, São Paulo, LAKE, 15ª. ed., 2013, 320 p.;

– Vidas Vazias, do Divaldo Franco (Pelo Espírito Joanna de Ângelis), Salvador, LEAL, 2020, 211 p, principalmente o capítulo 30.

– O Cap. 24 do Evangelho de Mateus.

A binoculização dos sinais dos novos tempos compete a todos nós. Somente os obtusos, os nostálgicos, os alienados e os mantenedores das suas gaiolinhas de ouro não assimilarão as diretrizes já estabelecidas há muitos anos pelos filhos da Criação, os antecipadores dos amanhãs cósmicos.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 04 de agosto de 2020

POR UM BRASIL CULTURALMENTE GIGANTE

 

 

POR UM BRASIL CULTURALMENTE GIGANTE

Em Alice no País das Maravilhas, Lewis Carroll retrata um diálogo de Alice com o Gato Careteiro que muito bem pode representar a importância de se determinar como se deve proceder diante dos rumos oferecidos pelo mundo acometido pela COVID-19. Ei-lo:

– Pode dizer-me que caminho devo tomar?, perguntou Alice

– Isso vai depender do lugar para onde quer ir, respondeu o Gato.

– Não tenho destino certo, disse Alice.

– Nesse caso, qualquer caminho serve, disse o Gato

– Contanto que eu chegue a algum lugar, retrucou Alice

– Qualquer caminho conduz a algum lugar, se você andar bastante e chegar, arrematou o Gato.

Podemos definir Cultura como “um complexo de padrões de comportamentos, hábitos sociais, significados, crenças, normas e valores selecionados historicamente, transmitidos coletivamente, e que constituem o modo de vida e as realizações características de um agrupamento humano”.

A Cultura também pode ser vista, metaforicamente, como um tipo de LENTE através da qual as pessoas vêm o mundo e que as leva a considerar o seu modo de vida como o mais natural. A cultura também atua como fator de diferenciação social.

Os desafios culturais da conjuntura pós COVID-19 serão os seguintes:

a. Conviver com penso criativo.

b. Saber bem diferenciar um código restrito de um código elaborado. A linguagem da classe trabalhadora (código restrito) é presa ao contexto, contendo significados particularistas, enquanto a linguagem da classe média (código elaborado) é liberada do contexto, contendo significados universalistas.

c. Possuir uma visão de bailarino (conhecer a música, saber dançar e sempre se articular com os seus derredores)

d. Ser dotado dos cinco Qs: QI (Quociente de Inteligência), QC (Quociente de Cognitividade), QE (Quociente Emocional), QA (Quociente de Adversidade) e QP (Quociente de Politização)

Em Toritama, Pernambuco, um auxiliar de medicina-farmacêutica de nome Marcolino Revoredo da Silva, chamado de Doutor Marcolino pela vontade popular e tornado personagem-título de obra memorável do médico-escritor José Nivaldo, notável homem de letras e remédios. Alertas do Doutor Marcolino:

A luz do saber é misteriosa. Cada um consegue aprender com o seu pensar, fazendo medida, averiguando”;

“De doutor a qualquer zé-ninguém a vida é de luta. Não se espere viver no remanso, sem controvérsia”;

“A doutor nunca cheguei nem podia chegar porque para tanto se precisa grudar os olhos nos estudos da Faculdade. Simplesmente tangi com as leituras a escuridão da ignorância fazendo aprendimento que sempre gostei, quase mais ou menos. Bastante aprendi nos tralalá, maneira regozijosa de trazer pra frente do tempo o que a ciência do povo aprendeu no muito pra trás”.

Outros reflexões do Doutor Marcolino também perambulam por todo Nordeste, auxiliando o enxergar de muita gente:

“Não é fácil saber-se o certo. Botar-se o sim e o não nos seus lugares é arte de ponderação”;

“Ciência é ciência, aparência é o avesso que pode se descoser”;

“O pau entorta na ganância de mais sol”;

“Toda novidade tem preferência, que pode tapear os incautelosos”;

“O ótimo não é obrigado a ficar sempre junto do bom”.

Nos atuais tempos conjunturais pandêmicos, mudança é a palavra chave. Significa inovação e sobrevivência. Uma série de fatores emergem num contexto de aceleradas transformações: tecnologia, redes sociais, zapzap, lives, Internet, delivery, terceirização, globalização, privatização, reformas do governo, alterações mercadológicas, novas estruturas organizacionais, reeducação profissional, avalanche de informações (verdadeiras e falsas), atmosfera de confusão, tensão, ansiedade, medo, tumulto, desemprego, múltiplas pressões individuais (ser melhor, trabalhar melhor, preparar-se melhor, sobrecarga de trabalho, sobrecarga de informações, prazos e resultados, trabalhos on line, concorrência profissional).

Quais são as principais causas das mudanças atuais? Eis as principais: as políticas do governo, novas leis, mudanças nos hábitos populacionais, novas preferências dos clientes e consumidores, novos sistemas de gestão, a informatização empresarial.

Todas as mudanças oferecem resistências: insegurança (trocar o certo pelo duvidoso), desconforto / tensão (não incorporação imediata ao pensamento e ao subconsciente) e bloqueio (não ao consciente projetado, em forma de boicote, sabotagem ou operação tartaruga, bloqueios psicológicos, quando não se consegue assimilar as novas situações).

O filósofo Heráclito, 500 a.C., já proclamava: “A única coisa permanente é a mudança”. E o filósofo Bertrand Brecht também concordava: “É preciso mudar o mundo. Depois será preciso mudar o mundo mudado”.

Oferecemos, abaixo, um pequeno glossário, para que todos possam entender melhor os novos paradigmas civilizatórios que estão emergindo neste século XXI:

Crença – a compreensão que damos como certa e que serve de base para o nosso entendimento das coisas. Arraigadas, tornam-se dogmas.

Valores – noções compartilhadas que as pessoas têm do que é importante e acessível para o grupo a que pertencem.

Pressupostos – conjecturas antecipadas ou respostas prévias sobre o que é, o que se faz, o que acontece.

Normas – são o senso comum que uma empresa ou conjunto de pessoas tem sobre o que é certo ou o que é errado, e como devemos nos comportar diante de uma determinada situação.

Símbolo – expressão substitutiva destinada a fazer passar para a consciência, de modo figurado, conteúdos complexos ou de difícil decodificação.

Heróis – modelos de uma forma de pensar e agir, próprios da cultura que os engendra.

Mito – um esquema lógico, criado para explicar questões e esclarecer fenômenos, cujo sentido é difuso e múltiplo.

Estórias – narrativas baseada em eventos reais misturados com ficção.

Ritos – atividades de natureza expressiva, desenvolvidas com o propósito de reiterar crenças e propósitos.

Duas indicações bibliográficas para alicerçar as atuais e futuras binoculizações:

OBSERVAÇÕES SOBRE UM PLANETA NERVOSO, Matt Haig, Rio de Janeiro, Intrínseca, 2020, 304 p.

ELÁSTICO: COMO O PENSAMENTO FLEXÍVEL PODE MUDAR NOSSAS VIDAS, Leonard Mlodinow, Rio de Janeiro, Zahar, 2019, 300 p.

Dois textos, amplamente didáticos, que muito favorecerão novas aprendências, comportamentais, empreendedoras e emocionalmente sadias, sem confundir haras com Aras, também com posturas de cavalo.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 28 de julho de 2020

NAS PROXIMIDADES DO BICENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA

 

NAS PROXIMIDADES DO BICENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA

Com as vacinas contra a COVID-19 que em breve estarão à disposição da população brasileira, é chegada a hora de se iniciar uma ampla pensação criativa sobre os futuros nacionais. Onde todos, do menorzinho ao presidente-capitão, deverão renovar mentes, corações, éticas comportamentais, relacionamentos pessoais, familiares e políticos, além da adoção de uma ampla desboloração cognitiva, rejeitando crenças de ontens e anteontens e promovendo a assimilação de conhecimentos humanísticos compatíveis com os novos desafios planetários emergidos após pandemia, a exigir binoculizações sociais, econômicas e espirituais diferenciadas das apreensões nostálgicas de passados já solidamente sepultados.

Recomendaria a todos os culturalmente alfabetizados algumas leituras que aprimorassem enxergâncias sobre nossos ontens pátrios, facilitando iniciativas empreendedoras capazes de alavancar a gente brasileira para patamares mais condizentes com a dignidade humana dos Filhos da Criação, sem quaisquer discriminações e preconceitos. São leituras que fortaleceriam lideranças comunitárias, políticas, militares, religiosas, midiáticas e empresariais na direção de uma fraternidade nacional “sem medo e sem ódio”, tal e qual o lema apregoado pelo bravo pernambucano Marcos Freire, acidentado num desastre de avião até hoje muito pouco esclarecido. A ordem delas foi deliberadamente estabelecida para proporcionar a todos uma compreensibilidade evolucional histórica compatível com os projetos emergentes associados aos anseios majoritários de nossa gente:

1. A AVENTURA DA FILOSOFIA: DE PARMÊNIDES A NIETZSCHE – Paulo Ghiraldelli Jr. – Barueri SP, Manole, 2010, 195 p.

O autor é escritor, professor universitário, Mestre e Doutor em Filosofia pela USP, com pós doutoramento em Medicina Social pela UNESP.

O livro, sem rebuscados academicistas, proporciona um rico panorama sobre os seguintes temas da filosofia ocidental: Filosofia Antiga Clássica, Helenismo e Filosofia Cristã, Filosofia Medieval, Filosofia do Renascimento, Filosofia Moderna Clássica, Modernidade Iluminista, Modernidade Romântica.

2. 50 CLÁSSICOS DA FILOSOFIA: AS PRINCIPAIS IDEIAS DAS MAIS IMPORTANTES OBRAS FILOSÓFICAS, DA ANTIGUIDADE À ERA MODERNA – Tom Butler-Bowdon

O autor é especializado em escrever livros inspirado pela máxima “mais pessoas tendo mais conhecimento”. Entre seus assuntos, grandes temas: negócios, psicologia, economia e politica. Australiano, o autor é Mestre em Economia Política pela London School of Economics.

Na Introdução: “A filosofia não nos dá apenas uma estrutura para enxergar todos os outros conhecimentos, mas, em um nível mais pessoal e empolgante, nos oferece maneiras renovadas e muitas libertadoras de pensar, ser, agir e ver”.

Leitura que oferece insights relevantes para empreendimentos e ações reestruturadoras compatíveis com os desafios pós COVID-19.

3. VALSA BRASILEIRA – DO BOOM AO CAOS ECONÔMICO – Laura Carvalho -São Paulo, Todavia, 2018, 192 p.

De autoria de uma jovem doutora em economia pela New School for Social Research, EEUU, hoje docente da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, um livro já em 5ª. reimpressão está sendo de muito utilidade para os graduandos em Economia das instituições brasileiras, geralmente com um conhecimento de história econômica do Brasil nulificado por um deplorável Ensino Médio, uma das tragédias nacionais.

Laura Carvalho é considerada uma das vozes jovens mais capacitadas nas Ciências Econômicas, escrevendo semanalmente no jornal Folha de São Paulo.

SUMÁRIO: Introdução; 1. O Milagrinho brasileiro: um passo à frente; 2. A Agenda FIESP: um passo ao llado; 3. A panaceia fiscal: um passo atrás; 4. Acertando os passos; 5. Dançando com o diabo; Bibliografia.

Uma leitura elaborada por quem tem conhecimento, compromisso político não sectário, amplamente didática por quem experiência comprovada sobre análise dos desafios do desenvolvimento brasileiro e suas potencialidades. Segundo a jornalista Monica Bolle, “uma reflexão fundamental sobre o vaivém da economia brasileira desde o início dos anos 2000.

4. REINVENTANDO AS ORGANIZAÇÕES: UM GUIA PARA CRIAR ORGANIZAÇÕES INSPIRADAS NO PRÓXIMO ESTÁGIO DA CONSCIÊNCIA HUMANA – Frederic Laloux – Curitiba PR, Voo, 2017, 477 p.

O autor é belga, coach, conselheiro e facilitador de líderes corporativos que empreendem novas estruturas organizacionais numa mundo repleto de mil e uma complexidades. Sua especialidade é pesquisar novos modelos organizacionais emergentes classificados como inovadores, brilhantes, espetaculares. E delas elaborou um livro alegre, repleto de insights semeadores e histórias inspiradoras.

Saiba o que é Organizações Teal e multiplique suas propostas sobre novos modelos organizacionais brasileiros, públicas e privadas, sem buropatias enervantes, autoritarismos cavernosos, afilhadismos lambecusistas nem xerequitáticos, carteiradas cretinas e procrastinações eleitoreiras descomprometidas com a dignidade do ser humano, das comunidades e dos anseios de um Brasil arretadamente ótimo para todos seus integrantes.

5. O CÉREBRO INTUITIVO: OS PROCESSOS INCONSCIENTES QUE NOS LEVAM A FAZER O QUE FAZEMOS – John Bargh -Rio de Janeiro, Objetiva, 2020, 388 p.

O autor é um conceituado psicólogo social, especializado em mente inconsciente, professor da Universidade de Yale, que revela, de modo descomplicado, como o inconsciente guia objetivos e motivações nas mais diversas áreas, como relacionamentos, educação de filhos, negócios, hábitos de consumo e vícios. A partir do conhecimento delas, poder-se-á melhorar o sono, a memória e os hábitos cotidianos, erradicando vícios e maus costumes.

O livro se desenvolve em três partes: 1. O passado óculo; 2. O presente oculto; 3. O futuro oculto.

O livro nos ensina como ser o DL da nossa caminhada existencial, desvendando novos procedimentos de como pensar, sentir e agir em derredores muitas vezes nem sempre benfeitores.

Leituras sementeiras, algumas mais reflexivas que outras, mais todos amplamente acessíveis para gregos e troianos !!

6. O TÚMULO DO FANATISMO – Voltaire – São Paulo, Martins Fontes, 2006, 186 p.

Segundo o coordenador do Projeto Voltaire da Editora Martins Fontes, Acrísio Tôrres, “Voltaire é e será sempre atual, porque haverá sempre superstição, fanatismo, intolerância, injustiça, simonia, milagres, tolices. Nas obras de Voltaire, a revolução. É preciso lê-lo.” E em época de pós-pandemia, saibamos ler Voltaire, para não se esparramar diante dos fanáticos de todas as áreas, inclusive os débeis mentais politicamente sectários.

Vamos reestruturar o Brasil para níveis mais condizentes com o Século das Reestruturações Planetárias!!


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 21 de julho de 2020

VAMPIROS EMOCIONAIS NA COVID-19

 

VAMPIROS EMOCIONAIS NA COVID-19

Lamentavelmente, num contexto planetário contemporâneo agravado por uma pandemia a servir de mil e tantas desculpas muito esfarrapadas, inúmeros humanos, dos mais diferenciados setores públicos e empresariais, estão se comportando quilômetros afastados de um mínimo ético exigido. Exemplos mil de bandalheiras, superfaturamentos, noticiários amedrontadores, fake news e fingidas solidariedades estão pululando nos quatro cantos do mundo, principalmente num país como o Brasil, de seculares tradições vigarísticas das classes privilegiadas.

Podem ser classificados de vampiros aqueles que cinicamente sugam, sem nada retribuir. Sugam energia emocional através de atrações múltiplas. Normalmente se postam com mil e um encantos embromadores, quando não oferecendo vantagens de milhões através de promoções hipnóticas.

Os vampiros do século XXI não se levantam do túmulo à noite. Moram onde a gente mora, muitos fazem parte da família, outros são colegas de trabalho ou de faculdade, inúmeros integram o corpo de fiéis de igrejas, uns ocupam altos postos executivos e outros, mais artistas que os demais, são filiados a clubes de serviço, partidos políticos, sindicatos, associações de moradores, corporações militares, associações profissionais e canais eletrônicos de apoio aos coitadinhos. Sem falar dos parceiros sexuais e de jornadas esportivas, os primeiros exigentes ou indolentes, os demais predadores do ideário olímpico, hoje aviltado pela supremacia das comercializações criadas pelas necessidades de combater a pandemia.

Os vampiros modernos são portadores de características chamadas pelos especialistas de distúrbios da personalidade. Levam os outros à loucura, diferentemente dos portadores de neuroses ou psicoses, que enlouquecem a si próprios, com fantasiosas imaginações e contagiantes obsessões.

Na literatura empresarial atual, existe até uma tipologia em contínua expansão. Os mais conhecidos tipos de vampiros são:

Vampiro anti-social: viciado em agitação; pouco se importando com as normas sociais, adora farra e tudo o mais que seja estimulante, mesmo que ilegítimo. Não tem nada a retribuir.

Vampiro histriônico: vive para receber atenção e aprovação. Fazer bonito sempre, mesmo de fingimento, tudo o mais sendo apenas detalhes. Perito em guardar para si suas motivações. O comportamento dele se destina quase sempre a enganar a si mesmo mais que aos outros.

Vampiro narcisista: de ego enorme, costuma ser pequeno em todo o resto. Nunca pensa nas outras pessoas.

Vampiro obsessivo-compulsivo: viciado em segurança. Não se alegra em magoar os outros, mas não deixará de fazer se ameaçado seu instinto controlador.

Vampiro paranoico: tem por meta saber a Verdade, banindo toda ambiguidade de sua vida. Vive de acordo com normas concretas que acredita gravadas em pedra.

Está sempre alerta para os indícios de desvios dos outros, menos dos seus parentes próximos, filhos inclusive.

Algumas características vampirescas observadas no atual mundo pandêmico:

– Os VE se veem sempre como vítimas inocentes de forças que estão além do seus controles.

– Os VE não são maus. São mental e culturalmente imaturos.

– Os VE podem ter mais de uma das tipologias acima descritas. Ninguém tem todas.

Para efetivar um bom combate às ações predatórias dos vampiros emocionais, basta adotar algumas das seguintes estratégias de combate:

1. Identifique-os, conheça o passado deles e conheça as suas metas.

2. Faça investigações externas sobre o que dizem e o que disseram nos ontens e anteontens.

3. Faça o que eles não fazem, seja coerente.

4. Preste atenção em seus atos, e não em suas palavras.

5. Identifique as estratégias hipnóticas utilizadas, pelas redes sociais e propagandas televisivas.

6. Observe suas batalhas de combate, evitando as improvisações.

7. Deixe os fatos falarem por si.

8. Meça muito bem suas palavras ao escolher um bom combate.

9. Ignore os seus acessos de raiva, se se esquecer de criticar ou de elogiar.

10. Conheça os seus limites.

11. Conhecimento é uma virtude; o vício se instala na superficialidade adotada.

Balize-se por algumas reflexões notáveis:

1. “Um tronco de árvores pode boiar por 20 anos nas águas de um rio, mas não se transformará nunca em crocodilo” (Ditado da África Central)

2. “Não se pode ensinar nada a um homem; só é possível ajudá-lo a encontrar a coisa dentro de si”. (Galileu Galilei)

3. “Aperfeiçoar é pensar sem restrições. Pensar sem restrições é pensar criativamente”. (Russell L. Ackoff)

4. “Aqueles que não sabem, mas pensam que sabem, são conselheiros mais perigosos do que aqueles que não sabem, mas sabem que não sabem”. (Russell L. Ackoff)

5. “É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar; é melhor tentar ainda que em vão, que sentar-se fazendo nada até o final; preferível na chuva caminhar, que em dias tristes em casa se esconder; prefira ser feliz, embora louco, que em conformidade viver”. (Martin Luther King)

6. “Quem exagera o argumento, prejudica a causa” (Hegel)

7. “Em relação ao meio termo, o homem inteligente ultrapassa-o, o imbecil fica aquém”. (Rubem Alves) 8. “As coisas findas, muito mais que lindas, estas ficarão” (Carlos Drummond de Andrade, Memória)

E siga sempre bem cumprindo o dodecágono das organizações bem sucedidas:

1. Ter líderes autênticos, ao invés de apenas “chefes”, cuja autoridade é legitimada.

2. Decidir em tempo hábil, através de assessores eficazes.

3. Criar espaços para o desenvolvimento de lideranças.

4. Servir sempre, o poder de servir sendo o único poder legítimo na atividade.

5. Pôr o presente a serviço do futuro.

6. Planejar lentamente e executar rapidamente.

7. Zelar para que tudo ocorra no momento certo, poupando tempo e recursos.

8. Enfocar o trabalho na contribuição, nas oportunidades e nos resultados.

9. Criar e aprimorar auxiliares capazes.

10. Priorizar os líderes, de forma clara e transparente.

11. Viver num clima de emulação permanente, abominando rivalidades ou competições afobadas.

12. Estimular o conhecimento para produzir riquezas, os músculos cedendo lugar a cérebros.

E perceber-se sempre uma metamorfose ambulante, como dizia um famoso menestrel brasileiro, hoje da eternidade nos inspirando sempre.

Em tempos de pandemia, caminhar sempre precavido dos vomiteiros de ódio, dos MM – Messias Merdálicos, dos mentalmente abobados e dos incultos de carteirinha, sempre se sentindo acuados.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 14 de julho de 2020

REESTRUTURAÇÕES PÓS COVID-19

 

REESTRUTURAÇÕES PÓS COVID-19

A pandemia que ainda vitima nos quatro cantos do mundo revelou, entre outros sintomas, a urgência de inadiáveis reestruturações pessoais e organizacionais, públicas e empresariais, requerendo leituras sistemáticas e convincentes dos dirigentes de todos os calibres. A COVID-19 desnudou incompetências múltiplas, desatualizações inconcebíveis em plena metade do século XXI, além de explicitar uma miopia enxergacional gritante que distancia muitos dos ambientes mais criativos do planeta.

Outro dia vi um especialista da Fundação Getúlio Vargas recomendar a leitura de cinco textos que muito favorecerão uma binoculização mais nítida dos ambientes futuros que emergirão dos contextos pós pandêmicos, ensejando criatividades sementeiras em todos os setores da sociedade planetária. Leituras que proporcionarão orientações mais convincentes para os mais dispostos, de mentes nunca nostálgicas, sem preconceitos ideológicos, raciais, religiosos, geográficos e de gênero. Indicações técnicas umas, outras mais humanísticas, todas interconectadas, favorecendo uma assimilação efetiva das metodologias necessárias para o enfrentamento dos males provocados pela atual crise mundial. A ordem abaixo é proposital, possibilitando valiosos subsídios na elaboração dos projetos reestruturadores. Ei-los:

1. ESQUERDA & DIREITA: PERSPECTICAS PARA A LIBERDADE – Murray Rothbard (1926-1995) Campinas SP, Vide Editorial, 2016, 83 p.

O autor, economista norte-americano cujas ideias teve uma influência gigantesca no movimento libertário moderno, sendo um vigoroso crítico das intervenções internacionais, sejam elas militares, políticas ou econômicas, tendo fundado, em 1982, o Instituto Ludwig von Mises, disseminador de suas ideias políticas e econômicas.

Segundo Dionisius Amendola, que faz a apresentação, “liberdade é uma dessas ideias que causam dor de cabeça em todos aqueles que tentaram e ainda tentam enquadrá-la, de alguma forma, em suas ideologias – estejam elas mais à direita ou à esquerda, sejam elas conservadoras, progressistas, individualistas ou coletivistas.” E mais disse: “A ideia de liberdade, convenhamos, não tem qualquer valor universal, por mais que queiram nos enganar os ideólogos.”

2. IDEIAS PARA ADIAR O FIM DO MUNDO – Ailton Krenak – São Paulo, Companhia das Letras, 2019, 85 p.

O autor é líder indígena, tornado célebre por ocasião de um pronunciamento feito na Assembleia Constituinte de 1987. O livro é adaptação de duas palestras e uma entrevista feitas em Portugal, entre 2017 e 2019.

Uma defesa brilhante do meio ambiente e da proteção dos povos indígenas, principalmente agora quando um ministrinho do Meio Ambiente busca sem a mínima cerimônia cretinamente desprotegê-lo.

Em 2018, perguntaram a Krenak, como os índios irão se comportar diante das agressões sofridas. E ele respondeu sem pestanejar: “Tem quinhentos anos que os índios estão resistindo, eu estou preocupado com os brancos, como que vão fazer para escapar dessa.”

Uma leitura que amplia consciências e favorece novas militâncias.

3. UMA TEORIA DO TUDO – Ken Wilber – São Paulo, Editora Pensamento-Cultrix, 2009, 183 p.

O autor é um dos mais conhecidos e influentes filósofos norte-americanos do nosso século, aplaudido por criar uma estruturadora filosofia mundial.

Uma análise sedutora sobre as ondas existenciais, a incipiente transformação planetária, ciência e religião, o mundo real, os mapas cósmicos, o que se deve fazer para uma prática transformadora integral.

Um texto que exige amplas rabiscações meditativas e múltiplas binoculizações diante dos cenários mundiais que se recuperam da pandemia.

4. ECONOMIA DO BEM COMUM – Jean Tirole – Rio de Janeiro, Zahar, 2020, 550 p.

SUMÁRIO – Prefácio; Economia e Sociedade; A profissão de Pesquisador em Economia; O Arcabouço Institucional da Economia; Os Grandes Desafios Econômicos; A Questão Industrial.

As primeiras linhas do Prefácio são por demais balizadoras das exposições contidas do livro:

“Desde o retumbante fracasso econômico, cultural, social e ambiental das economias planejadas, desde a queda do muro de Berlim e a metamorfose econômica da China, a economia de mercado tornou-se o modelo dominante, exclusivo até, de organização de nossa sociedade. Mesmo no ‘mundo livre’, o poder político perdeu sua influência, em prol ao mesmo tempo do mercado e de novos atores. … Ainda assim, a economia de mercado não obteve senão uma vitória parcial uma vez que não conquistou nem os corações e mentes. A preeminência do mercado, no qual só uma pequena minoria dos nossos concidadãos confia, é recebida com um fatalismo às vezes tingido de indignação.”

Uma opinião sobre o livro: “Tirole é uma rara exceção, um Prêmio Nobel que acredita ter a responsabilidade de falar de maneira clara sobre as preocupações dos não economistas. Leitura obrigatória para qualquer pessoa que queira entender a economia atual.” (Olivier Blanchard, ex-economista-chefe do FMI)

Uma leitura que desbloqueia dificuldades de bem compreender a atual economia de mercado, o desafio climático, o crescente desemprego, a economia digital e a propriedade intelectual. E o uso privado para o bem-estar da pessoa, mas não o abuso desse uso à custa dos outros.

5. REINVENTANDO AS ORGANIZAÇÕES: UM GUIA PARA CRIAR ORGANIZAÇÕES INSPIRADAS NO PRÓXIMO ESTÁGIO DA CONSCIÊNCIA HUMANA Fredericc Laloux Curitiba PR, Voo, 2017, 477 p.

O autor é conselheiro e facilitador de inúmeros líderes corporativos e é considerado um dos mais respeitáveis estudiosos mundiais no campo do desenvolvimento humano

Subdividido em uma introdução – O surgimento de um novo modelo organizacional -, três partes – 1. Perspectiva histórica e do desenvolvimento, 2. As estruturas, práticas e culturas das Organizações Teal, 3. Surgimento das Organizações Teal – e quatro apêndices – Questões de pesquisa, Além do Evolutivo-Teal, Estruturas das Organizações Teal, e Panorama das estruturas, prática e processos das Organizações Teal.

Um livro que ainda aponta as leituras mais apropriadas para o aprofundamento dos temas analisados.

No dizer do notável Ken Wilber, acima citado e prefaciador do livro, “este trabalho é uma das obras mais importantes em toda a segunda onda dos livros de ‘novo paradigma’. Que ele ajude muitos leitores a se motivarem para criar empresas, escolas, hospitais ou organizações sem fins lucrativos inspirados por esta onda de consciência que está começando a transformar o mundo.”

Que tenhamos uma lucidez século 21, para entender a reflexão de Gary Hamel, autor de O que importa agora: como construir empresas à prova de fracassos (São Paulo, Elsevier, 2012): “Instintivamente , nós sabemos que a gestão está desatualizada. Sabemos que seus rituais e rotinas parecem levemente ridículas no raiar do século 21. Por isso, as tirinhas do cartum Dilbert ou um episódio de The Office soam familiares e vergonhosos.”

Que os leitores-empreendedores saibam apreender mais lucidamente os desafios emergentes dos amanhãs pós pandêmicos. Para ampliação de uma dignidade mundial ainda mais aviltada pelo COVID-19.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 07 de julho de 2020

REVERENCIANDO UMA CAMPANHA ABENÇOADA

 

REVERENCIANDO UMA CAMPANHA ABENÇOADA

Se alguém me perguntasse sobre quem transmite muita fraternidade, excluindo os parentes, responderia sem pestanejar Humberto Vasconcelos, companheiro do Conselho Estadual de Educação de Pernambuco, espírita de amplos conhecimentos, que um dia me levou na Federação Espírita de Pernambuco para conhecer o Dr. Fritz, que se incorporava no médico pernambucano Edson Queiroz, desencarnado precocemente em plena maturidade existencial. E foi na Federação que ouvi palestra memorável de Divaldo Franco, um missionário que encanta auditórios pelo seu jeitão cativante e nunca pedante de pregar a mensagem do Homão da Galileia, nosso Irmão Libertador.

Através do Humberto Vasconcelos recebi algumas orientações sobre livros que me proporcionassem um maior entendimento sobre a doutrina estabelecida por Allan Kardec. E sobre a Campanha do Quilo, um movimento que envolvia gente de muita dignidade pessoal e profissional, que nada temia em estender uma sacola solicitando uma ajuda durante as manhãs de sábados e domingos da capital pernambucana, devidamente identificada e sempre agradecendo, também entregando uma mensagem de muita sabedoria e paz.

Entretanto, somente recentemente, através da minha mulher Rejane, kardecista de nascença por herança familiar, fiquei sabendo sobre quem implantou campanha tão abençoada na capital pernambucana, também fundando inúmeros centros espíritas que somente solidariedade praticam em prol dos necessitados de ajuda material e orientação para seus interiores de caminhantes. E fui orientado para ler um livro chamado Campanha do Quilo ou O Bom Combate, de autoria de Elias Alverne Sobreira, onde encontrei, numa das orelhas do livro, o testemunho de Humberto Vasconcelos, educador ouro de lei, que aqui transcrevo com muita alegria: “Um seareiro de primeira ordem. Instituidor da Campanha do Quilo entre nós, instituidor e seu legionário número um, Sobreira é um símbolo do trabalhador espírita, tendo conseguido harmonizar exemplarmente discurso e prática, circunstância que emprestava imensa legitimidade aos seus atos e palavras. … Na voz de Sobreira a narrativa evangélica alcançava dimensões sublimes, sobretudo porque ele mesmo foi um justo que não desprezou nenhuma possibilidade de estender as mãos em socorro de quem necessitasse.”

Eis o trajeto do Elias Sobreira entre nós: nascido em Triunfo, Pernambuco, em 2 de março de 1907, mas foi no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, que ele conheceu o sr. Matos Vieira e esposa, dona Relene, dois meses depois que o bondoso casal fundara a Campanha do Quilo, em 1938. O movimento cresceu em vários bairros e o número de legionários aumentou admiravelmente na Cidade Maravilhosa. Chegando ao Recife, dezembro de 1945, de pronto organizou aqui a Campanha do Quilo, realizada em fevereiro de 1946 pela Escola Espírita Maria de Nazaré, em benefício do Orfanato Ceci Costa, em Olinda. O movimento cresceu e se propagou por todo o Nordeste, contando com a simpatia e o apoio da população.

Na década de 70, Sobreira fundou em sua casa o Centro Espírita Irmã Gertrudes, onde durante 20 anos centenas de famílias buscavam alimentação. Idoso e cansado, sem poder andar, fazia a Campanha do Quilo sentado em um banco na frente de uma farmácia, em Casa Amarela, um bairro da capital pernambucana. Durante toda a sua vida, metade do ordenado era destinado aos pobres, mesmo na aposentadoria como integrante da Aeronáutica. E, na véspera de sua partida, pediu que não o levasse ao hospital, pois já estava desencarnando, o que foi consumado às 21h30 do dia 31 de março de 2003, com suas palavras finais: União, Amor, Esperança e Fé com Jesus.

O livro se inicia com Notas Biográficas escritas por Rubens Uchoa, então presidente da Casa dos Humildes, fundada em dezembro de 1964 por Sobreira, situada na Rua Henrique Machado, 110, no bairro de Casa Forte, no Recife, que ainda hoje abriga inúmeras idosas, onde sou soldado raso com muito orgulho. A primeira edição, datada de 1977, traz a seguinte mensagem do Elias Sobreira: “Ao publicar o presente livro – A Campanha do Quilo ou O Bom Combate – na hora atual, pelas graças infinitas do Nosso Eterno Pai, me encontro na direção da referida Casa dos Humildes. Contudo sinto que já não posso movimentar-me como dantes, pois o meu organismo físico recusa-se aos esforços espirituais, indispensáveis ao prosseguimento da obra. Tenho certeza que a Providência Divina suscitará novos obreiros que venham completar a obra iniciada. É nesta confiança total que permaneço. … Aos meus amados irmãos Legionários do Quilo ou batalhadores em quaisquer setores de progresso onde se encontrem, desejo-lhes a verdadeira reforma íntima, com a extinção do homem velho e a transformação em homem novo, feito em Justiça e Santidade. Do irmão Elias Alverne Sobreira. Recife, 29.12.77.”

A sexta edição do livro, editada em 2007 com o apoio da Companhia Editora de Pernambuco, então presidida pelo escritor Flávio Chaves, traz uma parte, a segunda, contendo 73 Vivências escritas pelo Sobreira. Escolhi trecho de uma delas, a 62ª., que deveria ser balizadora para o caminhar de todos aqueles que buscam construir um mundo mais justo e humano, apesar de todas as turbulências: “É indispensável seguir uma senda de trabalhos edificantes, obras construtivas, tarefas beneficentes, em cujas realizações pratique a paciência, a renúncia, a tolerância, o perdão, o sacrifício e a abnegação.” Um parâmetro valioso para todos os Filhos Amados da Criação.

PS. Em época brabíssima de pandemia, quem desejar colaborar com a Casa dos Humildes, endereço acima, pode remeter material higiênico para as vovós lá internadas (fraldas descartáveis, lenços de papel, talco infantil, hidratante, além de alimentos não perecíveis. Se alguém desejar enviar algum auxílio financeiro, favor depositar sua contribuição no Banco Itaú 341, Agência 4861-5, Conta Corrente 14680-3, CNPJ 11.133-311/0001-45. O Pai de todos nós agradecerá com múltiplas bênçãos.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 30 de junho de 2020

POR UM NOVO FHC - FOMENTO HUMANÍSTICO CRÍTICO

 

POR UM NOVO FHC

Não se pense que desejo o ressurgimento do ex-mandatário sociólogo, idealizador do Plano Real de tanto sucesso até hoje, apesar de todos os pesares, preconceitos, discriminações regionais, insalubridades gerenciais planaltinas, incompetências estratégicas em todas as esferas estaduais e municipais, além de uma persistentemente vexaminosa distribuição de renda e um sistema educacional esgotante há décadas, de ministro fugindo descuecado e todo borrado de medo para o exterior.

Meu intuito é bem outro, diante das incontáveis merdices praticadas nas áreas públicas e empresariais dos quatro cantos de um rincão que tanto amamos, profeticamente aplaudido como “pátria futura do Evangelho”.

Com toda simplicidade de cidadão nordestino setentão, ousaria propor um novo FHC – FOMENTO HUMANÍSTICO CRÍTICO, estruturalmente mundializante, favorecedor de uma continuada comunicabilidade planetária sobrevivencial pós pandemia, sem a qual seguramente estaremos condenados a terríveis amanhãs degrigolantes. Para tanto, sugeriria às cabeças ainda pensantes, de todas as faixas etárias e de escolaridade, umas leituras inspiradoras, abaixo listadas sem referências exaustas e enfadonhas:

1. HISTÓRIA CONCISA DO MUNDO, Merry E. Wiesner-Hanks, São Paulo, Edipro, 2018, 415 p.

A autora, professora emérita do Departamento de História da Universidade de Wisconsin, EEUU, também é autora de livros didáticos para jovens adultos da América, sempre analisando a evolução social e cultural planetária de ângulos globalizantes, inclusive grupos familiares, hierarquias sociais, sexualidade, raça, etnia, trabalho, religião e consumo. Análises que poderão definir emergentes novas redes mundiakis de comércio, ajustando diversidades e particularidades entre povos e regiões.

2. POR QUÊ? O QUE NOS TORNA CURIOSOS, Mario Livio, Rio de Janeiro, Record, 2018, 251 p.

O autor é astrofísico de nomeada, integrante da Associação Americana para o Avanço da Ciência, além de consultor científico da Orquestra Sinfônica de Baltimore, Estados Unidos.

O livro é um exame fascinante da curiosidade que todos os antenados possuem para conhecer e entender fatos, feitos, descobertas e outras coisas. Ele analisa questões triviais que ampliam a curiosidade de muitos, tais como a escolha que faz a nossa mente por alguns objetos e temas fascinantes.

As vidas de Leonardo da Vinci e Richard Freynman são investigadas, além de feitas inúmeras entrevistas, compondo páginas cativantes sobre um tema que tornou o autor expert na matéria. Uma leitura que provoca mentes e corações para iniciativas antes adormecidas no fundo dos grotões memoriais.

3. BREVE HISTÓRIA DE QUASE TUDO, Bill Bryson, São Paulo, Companhia das Letras, 2019, 541 p.

O autor, nascido nos EEUU em 1951, juntou uma série de perguntas sobre o big-bang, as partículas atômicas, as placas tectônicas, as eras geológicas, a evolução das espécies e outros questionamentos sobre o universo, entrevistou uma enorme quantidade de especialistas, construindo uma reportagem que encanta, desasbestalha e ainda deixa o leitor com uma gigantesca vontade de querer mais. E que o fez merecedor do maior prêmio europeu para literatura científica.

4. A ARTE DE QUESTIONAR – A FILOSOFIA DO DIA A DIA, A.C. Grayling, São Paulo, Editora Fundamento Educacional, 2014, 320 p.

O autor, PhD em Filosofia, participou do Fórum Econômico Mundial, Davos, 2000-2004, se preocupa com a permanência da Filosofia em sala de aula, favorecendo a emersão de horizontes mais significativos para as comunidades planetárias, repensando o todo através de argumentos simples, convincentes e profundamente multiplicadores, ampliando os olhares sobre uma humanidade que busca ser mais solidária entre ricos e pobres.

Uma leitura integralmente descomplicada, favorecendo mudanças no agir dos executivos políticos e empresariais.

5. 50 PENSADORES QUE FORMARAM O MUNDO MODERNO, Stephen Trombley, Rio de Janeiro, LeYa, 2014, 368 p.

O autor é escritor, editor e cineasta vencedor do Emmy Award. Seu livro esboça o perfis acessíveis dos pensadores mais influentes desde 1789, filósofos, cientistas, teóricos políticos e sociais e líderes espirituais que favoreceram a configuração do mundo moderno. Dizer que a filosofia está morta é o mesmo que afirmar que o pensamento está morto. O pensador Martin Heidegger (1889-19760 afirmava que “filosofia é pensamento” e que “tudo que diz respeito à ciência é objeto de ampla reflexão por parte da filosofia”. A humanidade necessita de uma consistente cidadania crítica, amplamente binoculizadora, nunca individualista nem tampouco egolátrica. Um livro que estimula leituras outras, complementares por derradeiro.

6. 50 GRANDES PENSADORES DA HISTÓRIA, Marnie Hughes-Warrington, São Paulo, Contexto, 2008, 399 p.

A autora, ex-professora das universidades de Oxford e Washington, atualmente leciona na Macquire University, Austrália, sempre vocacionada para análises sobre a natureza da História e seu papel nos processos educacionais. Investiga sobre as utilidades da História, buscando disseminar pensamentos pioneiros que favoreceram a ampliação da enxergâncias dos que se especializam cada vez mais sobre cada vez menos.

No prefácio, ela comunga com o multiculturalista Charles Taylor, quando este alerta para os não-reconhecimentos ou falsos reconhecimentos históricos prejudiciais, que podem expressar apenas formas de opressão, aprisionando inúmeros em modos de ser distorcidos e empobrecidos.

7. A ARTE DE PENSAR, Ernst Dimnet, Rio de Janeiro, CEDET, 2020, 198 p.

O leitor quase que instantaneamente perceberá que o livro foi escrito para ele, sejam quais forem suas deficiências. Sem jargões filosóficos pedantes, tampouco atraindo extensas bibliografias, o livro se destina a mentes comuns, que sentem dificuldades e obstáculos nos nas elaborações de um pensar objetivo, capaz de enfrentar argumentações adulteradas com ímpar serenidade analítica.

Na orelha do livro, uma explicação claramente objetiva: “A arte de pensar é a arte de ser eu mesmo, e essa arte só poderá ser aprendida se estivermos sozinhos. A sociedade só produz pensamentos sociais, vulgo slogans, ou seja, palavras, mas palavras dotadas do poder de um comando. A solidão produz a alegria da consciência, a consciência de nosso interior, e nunca deixa de ter efeito.”

Leituras que certamente favorecerão um urgente FHC pós pandemia, composto de centenas de milhões de mentalidades empreendedoras crítico-libertadoras, capazes de promover uma nova etapa do desenvolvimento mundial, onde todos terão condições mínimas para o exercício de uma vivência democraticamente integradora, radicalmente sem quaisquer sectarismos esquerdopatas ou nazifascistas.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 23 de junho de 2020

TEXTOS REALMENTE RECONSTRUTORES

 

TEXTOS MENTALMENTE RECONSTRUTORES

Diante dos incômodos existenciais provocados pela COVID-19, um autêntico chute nos bagos de um planeta que se portava desvairadamente individualista, faz-se urgentemente indispensável algumas leituras que orientem abilolados e abilolantes para amanhãs mais humanamente solidários, mais dignificantes, menos egolátricos e autofágicos por derradeiro.

Em isolamento quarentênico necessário, curtindo apenas a presença da Sissa, dos meus livros e dos zapzaps e e-mails permutados com filhos, parentes e gente muito amada, do Oiapoque ao Chuí e até da Austrália, Holanda, Portugal, Suíça e derredores, tenho recebido mensagens encarecendo a indicação de leituras não hidrocélicas que favoreçam um passar de horas mais sadiamente energizado.

Abaixo, alguns textos que me proporcionaram momentos sensibilizadores, amplamente binoculizantes, que muito fortificaram meus interiores de filho de Deus. Ei-los:

1. DOZE HOMENS, UMA MISSÃO – Aramis C. DeBarros – São Paulo, Hagnos, 2020, 520 p.

O livro analisa o perfil histórico-bíblico-cultural de Bartolomeu, Mateus, Simão Zelote, Judas Iscariotes, Tomé, André, Filipe, Judas Tadeu, João, Tiago filho de Alfeu, Tiago filho de Zebedeu e Simão Pedro. Narra a vida dos líderes que caminharam com o Nazareno, seguramente o homem mais amado da história terrestre.

2. COMPÊNDIO UNIVERSAL DA ESPIRITUALIDADE DITADO PELOS ESPÍRITOS ALQUIMISTA E POETA – Marcos Melone Cesario (autor das psicografias) – Curitiba PR, Appris, 2019, 399 p.

SUMÁRIO: Químico e psicológico; Poesia; Psicologia; Físico; Pequenos fragmentos da consciência; Conclusão: só o amor transforma.

Um compêndio que nos ensina a pensar, raciocinar diante dos fatos, com uma fé raciocinada para sempre alcançar resultados positivos, dando cor e sabor à nossa caminhada em direção à Luz Eterna.

Um livro que muito auxilia os depressivos, transformando seus interiores pessimistas.

3. NAS FRONTEIRAS DA NOVA ERA: UMA LEITURA DA OBRA DE MANOEL PHILOMENO DE MIRANDA – Suely Caldas Schubert -Santo André SP, EME Editora, 2017, 480 p.

SUMÁRIO: Prefácio de Manoel P. de Miranda; Apresentação; Prólogo; Primeira Parte – Transição Planetária; Segunda Parte – Amanhecer de uma nova era; Conclusão – O amanhecer da Nova Era.

A autora nasceu em Carangola, MG, residindo em Juiz de Fora. Dedica-se há mais de 50 anos ás atividades mediúnicas e divulgação do Espiritismo. Em 1986 fundou, com um grupo de companheiros, a Sociedade Espírita Joanna de Ângelis, em Juiz de Fora, MG.

O trabalho da Suely é dedicado ao Manoel Philomeno de Miranda e ao Divaldo Franco, dois amigos inseparáveis da autora, o primeiro já desencarnado.

Nos Agradecimentos, uma citação que sensibiliza: “Ao querido e inesquecível amigo Hermínio Miranda, que retornou ao Lar Espiritual, deixando para todos nós, seus leitores, seus admiradores, seus alunos, como eu mesma me considero, livros notáveis que exalam o perfume de sua alma nobre e feliz. A ele o preito da minha gratidão e amor.”

No Prefácio de autoria de Philomeno de Miranda, psicografado por Divaldo Franco, na Mansão do Caminho, Salvador, em 16 de junho de 2013, ele assim se expressou: “A nossa querida consóror Suely Caldas Schubert, portadora de alta sensibilidade parapsíquica e inspirada escritora, amadurecida psicológica e moralmente pelas expressivas experiências no serviço aos sofredores de ambos os planos da vida, que, reflexionando em torno das nossas propostas nos dois livros de nossa lavra mediúnica – Transição Planetária e Amanhecer de uma Nova Era – , penetrou em profundidade a sonda das análises felizes em torno do nosso pensamento e apresenta-nos o seu trabalho valioso, que nos merece grande respeito e consideração.”

4. HISTÓRIA DE JESUS PARA QUEM TEM PRESSA – Anthony Le Donne – Rio de Janeiro, Valentina, 2019, 208 p.

SUMÁRIO: Introdução: um guia para um caminho tortuoso; 1. Jesus, o homem; 2. Jesus na Literatura do Cristianismo Primitivo; 3.Jesus na Imaginação Pré-Moderna; 4. Jesus na Visão da Elite Intelectual; 5. Jesus na Cultura Pop.

Um livro que inspira, entretém e instrui, destinado a todos aqueles que nada ou pouco conhecimento possuem nesta área de estudo, mas que sentem uma profunda curiosidade sobre as faces do Homão da Galileia, nosso Irmão Libertador, que nos legou um gigantesco acervo de mensagens redentoras como o mais consagrado e amado ícone da história da humanidade.

Um livro que deve ser lido e meditado por crentes e não-crentes, gregos e troianos.

5. A VIDA DAS ESFERAS ESPIRITUAIS – Geziel Andrade – Capivari SP, Editora EME, 2019, 392 p.

Se alguém deseja se informar mais detalhadamente sobre a vida na esfera espiritual, recomendo com entusiasmo um estudo valioso efetivado por um economista paulista, Mestre e Doutor em Economia, também palestrante e pesquisador kardecista aplaudido nacionalmente:

Criteriosamente, o Andrade compila ensinamentos psicografados pelo amado médium Chico Xavier, recebidos pelos Espíritos Emmanuel, André Luiz, Irmão X (Humberto de Campos), Irmão Jacob e Maria João de Deus, para quem deseja se aprofundar nos ensinamentos indispensáveis para quem busca uma continuidade evolucionária na direção da Luz.

O livro vale por um curso preparatório, também como um alerta para quem busca desfrutar de uma situação mais benéfica após a desencarnação.

Um trabalho de fôlego intelectual, bastante enriquecedor da literatura kardecista.

SUMÁRIO: Apresentação; Fatos importantes que marcaram o surgimento dos livros psicografados por Chico Xavier; Primeira Parte – Trindade Universal; Segunda Parte – Relação entre os espíritos, os mundos materiais e suas esferas espirituais; Terceira Parte – Espíritos, Regiões e colônias da primeira esfera espiritual; Quarte Parte – Regiões da segunda esfera espiritual e das esferas intermediárias da vida espiritual; Quinta parte – Esferas superiores da vida espiritual; Palavras finais: tributo, homenagem e gratidão a Chico Xavier; Bibliografia.

A leitura sem precipitações do livro do Andrade proporcionará um redirecionamento para novas atitudes existenciais, muito favorecendo a trajetória evolucional de todos. Um livro que retrata bem como será nossa situação no outro lado da vida terrestre, a depender das atitudes tomadas na caminhada terrestre.

No mais, é favorecer, através de iniciativas não parasitárias, as diversas manifestações da caminhada existencial de todos: a financeira, a intelectual, a política a física, a social, a emocional e a transcendental, sem prejuízo de outras leituras, sem nunca esquecer Mário Quintana: “A mentira é uma verdade que esqueceu de acontecer”. Quintana era um doutor de Vida, sem brasão nem lamentações fuxiquísticas. Apenas lastimando não ver na cadeia um ex-ministro da educação que fugiu para os EEUU, rabinho todo obrado de medo de não ser preso e ser linchado.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 16 de junho de 2020

RECOMENDAÇÕES PÓS COVID-19

 

RECOMENDAÇÃO PÓS COVID-19

Diante da pandemia gigantesca que ainda agride o todo mundial, recebo um e-mail de amigo sulista muito querido, inteligência muitos furos acima dos atuais índices mediocrais societários, políticos, midiáticos e religiosos. Em determinado trecho, ele escreve: “Estou muito cansado, muito cansado mesmo e nada mais que venha da Vida ou de Deus me importa”.

Amando-o fraternalmente ainda mais, posto que gosto de ser solidário com os que estão depressivos, enviei-lhe uma resposta, citando Albert Einstein, procurando uma explicação parcial da apatia existencial revelada na correspondência. Diz o Nobel de Física, inteiramente despido dos orgulhos e imodéstias dos encharcados de hipocrisias e falsidades: “O mistério da vida me causa a mais forte emoção. Este sentimento suscita a beleza e a verdade, cria a arte e a ciência. Se alguém não conhece este sentimento ou não pode mais experimentar espanto ou surpresa, já é um morto-vivo e seus olhos se cegaram. Aureolada de temor, é a realidade secreta do mistério que constitui também a religião… Deste modo e somente deste modo, sou profundamente religioso”.

Aproveitei a conjuntura existencial do amigo querido, também lhe remeti a reflexão de um poeta que muito admiro, o Fernando Pessoa, que era possuidor de “uma religiosidade não definida, e visionária, de um acontecer mítico cuja significação se inscreve fora dos próprios acontecimentos em que se exemplariza”, segundo a ensaísta Maria Aliete Galhoz, uma analista do gênio lusitano que morreu quase totalmente ignorado pelo público lisboeta, que à época se extasiava com os textos de inteligibilidade primária da lírica de então. Disse o poeta: “Tivesse Quem criou / O mundo desejado / Que eu fosse outro que sou / Ter-me-ia outro criado”… “Sejamos simples e calmos, / Como os regatos e as árvores, / E Deus amar-nos-á fazendo de nós / Belos como as árvores e os regatos, / E dar-nos-á verdor na sua primavera, / E um rio aonde ir ter quando acabemos!” … “Anjos ou deuses, sempre nós tivemos, / A visão perturbada de que acima / De nós e compelindo-nos / Agem outras presenças”… “Quanto mais alma ande no amplo informe, / A ti, seu lar anterior, do fundo / Da emoção regressam. Ó Cristo, e dormem / Nos braços cujo amor é o fim do mundo”

Também encaminhei para o amigo uma outra reflexão do luso notável, autor do sempre à minha cabeceira Livro do Desassossego: “Para vencer – material e imaterialmente – três coisas definíveis são precisas: saber trabalhar, aproveitar as oportunidades e criar relações”. Sem jamais esquecer o ensinamento de Luiz Lira, outro amigo meu e professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco, uma personalidade especialíssima: “Feliz do Ser Humano que tem o dom da arte. Arte é a energia do amor materializada. Não se deve jogar fora essa dádiva.”… “A alegria é uma aliada do amor. Dê alegria, use essa energia que dissolve o medo. Sorrir é o melhor remédio. Aprenda com as crianças o que você esqueceu. Seja puro sem ser tolo. Não importa que os outros pensem que você é inocente. Seja como uma criança sempre disposta a sorrir”.

Aproveitei o e-mail enviado e anexei para o amigo em crise um afoito poema por mim escrito há alguns anos: Busquei intensamente e me percebi / Pulsando sobre o tudo que amava / Louvando até não mais quase sentir / As amarras sobre as quais trilhava; Achei o que jamais perdi / O encanto de ter, aberta a porta / Desenho belo de amanhã que vi / De amor intenso, que a dois reporta; Luz intensa, marca-compromisso / Calor inteiro atapetando além / Sempre integralmente em paz; Caminhar em tempo algum demisso / Ultrapassando sem nenhum desdém / Os ontens vividos, sem olhar pra trás.

Sabendo ser o amigo desiludido portador de uma religião desvinculada de uma espiritualidade exigida para os enfrentamentos contemporâneos, ousei indicar-lhe uma leitura restauradora para a época junina, que se avizinha. Textos que me proporcionam frequentes releituras binoculizadoras diante dos desafios planetários dos amanhãs que se aproximam:

O FUTURO DAS HUMANIDADES – CIÊNCIAS HUMANAS DESAFIOS E PERSPECTIVAS -Jeilson Oliveira, Ericson Falabretti (orgs.) – Caxias do Sul RS, Educs, 2019, 269 p.

Ousei chamar a atenção do amigo para a dedicatória do livro citado: “Dedicamos este livro a todos(as) os(as) estudantes de ciências humanas, cuja vocação é o pensamento e cuja meta é a virtude. Que as intempéries do tempo e as adversidades da hora não afetem seu pendor e entusiasmo.”

Os autores reconhecem que escrever é uma forma de expurgar seus próprios incômodos. E que todo livro nunca sectário de Ciências Humanas é um manifesto de esperança, uma convocação indispensável para resistir às arbitrariedades dos que se imaginam os únicos escolhidos por Deus.

Desejo plena existencialidade comportamental para o amigo sempre presente em minha memória caminheira.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 09 de junho de 2020

ESCRITOS GENIAIS E DESCOMPLICADOS

 

ESCRITOS GENIAIS DESCOMPLICANTES

Creio que a incultura pelo cálculo simples tem origem, nos primeiros anos de vida, a uma educação fundamental comandada por professoras mentalmente desabilitados nos princípios mais elementares de um raciocínio numérico.

Para quem tem filhos e parentes no Segundo Grau se preparando para enfrentar o ENEM ou Concursos Vestibulares similares, recomendaria a leitura de alguns textos fascinantes sobre a ciência dos números, sua história e seus procedimentos lógico-evolucionários, desde os distantes ontens até os dias atuais, onde só será possível ampliar as análises enxerganciais através de argumentos constituídos de consistentes comprovações quantitativas.

As recomendações abaixo são escritos esclarecedores por derradeiro, não matematizantes nem hidrocélicos, mais semelhantes a romances instrutivos, binoculizadores por excelência, que favorecem o despertar de neurônios adormecidos por incompetências docentes, descasos familiares, complexos introjetados ou pura hereditariedade mental asnática geradora de complexos sociais os mais diferenciados.

Vejamos os textos mais oportunos, apontados abaixo, como um desabestalhamento progressivo século 21 amplamente indispensável, independentemente de idade, crença, sexo e outros trejeitos sociais, diurnos e noturnos. Favorecendo ignorâncias adquiridas ou natas, quando os experimentos científicos mais recentes comprovam que até bebês de quatro meses possuem elementares capacidades de raciocinar, não havendo desculpas para se eximir de uma espiadinha básica despertadora. Ei-los:

1. HISTÓRIA BIZARRA DA MATEMÁTICA – Luciana Galastri – São Paulo, Planeta do Brasil, 2020, 256 p.

A autora é curitibana, graduada em Jornalismo, apaixonada por ciência. Através de histórias inusitadas, algumas até macabras, ela proporciona a descoberta da matemática, não mais como bicho de sete cabeças, mas por razões incrivelmente outras. No livro, a história de Florence Nightingale, uma enfermeira norte-americana que inventou o gráfico de pizza durante a Guerra da Crimeia. Também a revelação de que nenhuma maçã caiu na cabeça de Newton, nem que Pierre Laplace achava que acreditava na existência de um demônio poderoso que era capaz de calcular as probabilidades de todos os eventos terrestres. E que também contará como a matemática nada mais é que resultados provocados por personagens curiosos, que toparam resolver todos os desafios quantitativos que lhes fossem apresentados.

SUMÁRIO: Introdução – Por que o livro de matemática pulou de um prédio; 1. O princípio: cachorros, ossos e mamilos; 2. Peladões e múmias: quem começou a usar a matemática para além do óbvio; 3. Mortes medonhas na idade das trevas; 4. O renascimento da matemática na era moderna; 5. Confusão infinita na era contemporânea; 6. Alienígenas e caos nos dias de hoje.

Uma leitura que retirará muitos de um sofrimento permanente, percebendo que a matemática foi feita por aqueles que encaram os problemas, possuindo a sensação de encarar com paixão a tarefa de resolvê-los.

2. DESBRAVADORES DA MATEMÁTICA: DA ALAVANCA DE ARQUIMEDES AOS FRACTAIS DE MANDELBROT – Ian Stewart – Rio de Janeiro, Zahar, 2019, 327 p.

O autor, um dos mais famosos matemáticos contemporâneos, Professor Emérito da Universidade Warwick, Inglaterra, é reconhecido mundialmente pelo seu intenso interesse em difundir a disciplina através de explicações acessíveis a todos os interessados. Seu livro não é matemática pura, mas páginas contaminadas de muita sagacidade, sabedoria e fascínio, um misto de aula de cálculo e livro de história, revelando com ampla didática elucidativa descobertas fantásticas de cálculos numéricos.

No livro, as descobertas feitas por 25 desbravadores, antigos e modernos, homens e mulheres, orientais e ocidentais, apresentadas de forma quase cronológicas, favorecem múltiplos desejos de conhecer outras etapas da mais fácil de todas as ciências.

3. A FASCINANTE HISTÓRIA DA MATEMÁTICA: DA PRÉ-HISTÓRIA AOS DIAS DE HOJE – Mickaël Launay – Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2019, 263 p.

O autor, matemático e PhD em Probabilidade, tem dedicado sua carreira na divulgação dos conhecimentos matemáticos para jovens e também para o público em geral. O texto parece um romance instrutivo envolvente, bem humorado, onde Launay questiona “a origem das convenções que os não matemáticos foram incapazes de enxergar como pequenas revoluções para a mente”.

Segundo ainda o autor, a matemática dá medo, mas fascina todo mundo. Não é amada, mas todo mundo gostaria de curti-la. E ele convida todos a dar uma olhadinha indiscreta em mistérios matemáticos aparentemente inacessíveis, amplamente explicados por quem sabe transmitir sem medo algum de ser feliz.
Na contracapa, um testemunho valioso sobre o autor: “Seus vídeos no YouTube são muitíssimos bem feitos, e quando ele troca a câmera pela caneta é igualmente empolgante”.

Segundo ainda o autor, “quase todo mundo gosta de matemática. O problema é quase ninguém sabe disso.”

Finalizando, uma conclamação de apaixonado: saibamos todos envolver-se numa ciência extremamente oportuna para os tempos de amanhã, orientando seus derredores para uma esperteza numérica cada vez mais efetiva.

E entendamos de uma vez por todas que a divisão proclamada entre “ciências exatas” e “ciências humanas” deve ter sido da autoria de alguém que detestava raciocinar quantitativamente, pois teria sido gerado em pé numa rede…


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 02 de junho de 2020

SOBRE COISAS

 

SOBRE COISAS

Recebi o texto abaixo da amiga Carminha Costa, nabuqueana de tempos de coisas bem mais lindas:

“A palavra “coisa” é um bombril do nosso idioma. Tem mil e uma utilidades. É aquele tipo de termo-muleta ao qual a gente recorre sempre que nos faltam palavras para exprimir uma ideia. Coisas do Português.

Gramaticalmente, “coisa” pode ser substantivo, adjetivo, advérbio. Também pode ser verbo: o Houaiss registra a forma “coisificar”. E no Nordeste há o “coisar”: “Ô, seu coisinha, você já coisou aquela coisa que eu mandei você coisar?”.

Coisar, em Portugal, equivale ao ato sexual, lembra Josué Machado. Já as “coisas” nordestinas são sinônimas dos órgãos genitais, registra o Aurélio. “E deixava-se possuir pelo amante, que lhe beijava os pés, as coisas, os seios” (Riacho Doce, José Lins do Rego). Na Paraíba e em Pernambuco, “coisa” também é cigarro de maconha.

Em Olinda, o bloco carnavalesco Segura a Coisa tem um baseado como símbolo em seu estandarte. Alceu Valença canta: “Segura a coisa com muito cuidado / Que eu chego já.” E, como em Olinda sempre há bloco mirim equivalente ao de gente grande, há também o Segura a Coisinha.

Na literatura, a “coisa” é coisa antiga. Antiga, mas modernista: Oswald de Andrade escreveu a crônica “O Coisa” em 1943.” “A Coisa” é título de romance de Stephen King. Simone de Beauvoir escreveu “A Força das Coisas”, e Michel Foucault, “As Palavras e as Coisas.”

Em Minas Gerais , todas as coisas são chamadas de trem. Menos o trem, que lá é chamado de “a coisa”. A mãe está com a filha na estação, o trem se aproxima e ela diz: “Minha filha, pega os trem que lá vem a coisa!”.

Canção famosa: “Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça…”. A garota de Ipanema era coisa de fechar o Rio de Janeiro. “Mas se ela voltar, se ela voltar / Que coisa linda / Que coisa louca.” Coisas de Jobim e de Vinicius, que sabiam das coisas.

Mas, quando aparece mulher chata ou feia, logo se diz “lá vem aquela coisa” ou “olha que coisa horrorosa”…

Sampa também tem dessas coisas (coisa de louco!), seja quando canta “Alguma coisa acontece no meu coração”, de Caetano Veloso, ou quando vê o Show de Calouros, do Silvio Santos (que é coisa nossa).

Em 1997, a NASA lançou a “Missão Mars Pathfinder”, enviando um robô para explorar Marte. O mecanismo foi programado para ser acionado a partir do som de uma música e a escolhida foi um samba de Jorge Aragão/Almir Guineto/Luís Carlos da Vila. Assim, o robô da Nasa, foi “acordado” com a música: “Ô coisinha tão bonitinha do pai…” Lembra-se?

Coisa não tem sexo: pode ser masculino ou feminino. Coisa-ruim é o capeta. Coisa boa é a Juliana Paes. Nunca vi coisa assim!

Coisa de cinema! “A Coisa” virou nome de filme de Hollywood, que tinha o “seu Coisa” no recente Quarteto Fantástico. Extraído dos quadrinhos, na TV o personagem ganhou também desenho animado, nos anos 70. E no programa Casseta e Planeta, Urgente!, Marcelo Madureira faz o personagem “Coisinha de Jesus”.

Coisa também não tem tamanho. Na boca dos exagerados, “coisa nenhuma” vira “coisíssima”. Mas a “coisa” tem história na MPB. No II Festival da Música Popular Brasileira, em 1966, estava na letra das duas vencedoras: Disparada, de Geraldo Vandré: “Prepare seu coração / Pras coisas que eu vou contar”, e A Banda, de Chico Buarque: “Pra ver a banda passar / Cantando coisas de amor”.

Naquele ano do festival, no entanto, a coisa estava preta (ou melhor, verde-oliva). E a turma da Jovem Guarda não estava nem aí com as coisas: “Coisa linda / Coisa que eu adoro”.

Cheio das coisas. As mesmas coisas, Coisa bonita, Coisas do coração, Coisas que não se esquece, Diga-me coisas bonitas, Tem coisas que a gente não tira do coração. Todas essas coisas são títulos de canções interpretadas por Roberto Carlos, o “rei” das coisas. Como ele, uma geração da MPB era preocupada com as coisas.

Para Maria Bethânia, o diminutivo de coisa é uma questão de quantidade afinal, “são tantas coisinhas miúdas”. “Todas as Coisas e Eu” é título de CD de Gal. “Esse papo já tá qualquer coisa…Já qualquer coisa doida dentro mexe.” Essa coisa doida é uma citação da música “Qualquer Coisa”, de Caetano, que canta também: “Alguma coisa está fora da ordem.”

Por essas e por outras, é preciso colocar cada coisa no devido lugar. Uma coisa de cada vez, é claro, pois uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. E tal coisa, e coisa e tal.

O cheio de coisas é o indivíduo chato, pleno de não-me-toques. O cheio das coisas, por sua vez, é o sujeito estribado. Gente fina é outra coisa.

Para o pobre, a coisa está sempre feia: o salário-mínimo não dá pra coisa nenhuma.

A coisa pública não funciona no Brasil. Desde os tempos de Cabral. Político quando está na oposição é uma coisa, mas, quando assume o poder, a coisa muda de figura. Quando se elege, o eleitor pensa: “Agora a coisa vai.” Coisa nenhuma! A coisa fica na mesma. Uma coisa é falar; outra é fazer. Coisa feia! O eleitor já está cheio dessas coisas!

Se você aceita qualquer coisa, logo se torna um coisa qualquer, um coisa-à-toa. Numa crítica feroz a esse estado de coisas, no poema “Eu, Etiqueta”, Drummond radicaliza: “Meu nome novo é coisa. Eu sou a coisa, coisamente.” E, no verso do poeta, “coisa” vira “cousa”.

Se as pessoas foram feitas para serem amadas e as coisas, para serem usadas, por que então nós amamos tanto as coisas e usamos tanto as pessoas?

Bote uma coisa na cabeça: as melhores coisas da vida não são coisas. Há coisas que o dinheiro não compra: paz, saúde, alegria e outras cositas mais.

Mas, “deixemos de coisa, cuidemos da vida, senão chega a morte ou coisa parecida”, cantarola Fagner em Canteiros, baseado no poema Marcha, de Cecília Meireles, uma coisa linda.

Por isso, faça a coisa certa e não esqueça o grande mandamento:

“AMARÁS A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS”.

Entenderam todos o espírito da coisa?


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 26 de maio de 2020

EXTRAÇÕES DE ARQUIVO

 

EXTRAÇÕES DE ARQUIVO

Revendo pastas e documentos, encontro algumas reflexões feitas que parecem continuar exigindo mais criatividade, competência, ética comportamental em reuniões ministeriais e compromisso dos atuais dirigentes públicos e empresariais, explicito alguns “recados” encontrados em teréns arquivados:

1. O propósito da vida é sobreviver para, com dignidade, conquistar, evitar tensões desnecessárias, saber perder para ganhar posteriormente, sacudindo a poeira e dando a volta por cima, para desesperança daqueles que, de alma pequena, jamais chegarão à Pasárgada do pernambucaníssimo Manuel Bandeira.

2. Vivemos na era das pulhas as mais diferenciadas, inclusive planaltinas. Que independem de sistemas econômicos, escolaridade e renda, raça e religião, sexo e ideologia. Ilude-se hoje abertamente, utilizando os mais diferenciados meios e métodos de enganação, da praça pública à televisão a cabo, passando pela Internet, universidades e organizações não-governamentais, algumas delas descaradamente neo-governamentais. Vitimando os abestados de sempre, os assaltados pelos que buscam levar vantagem em tudo. Os filhos da pulha são os enganados, posto que distanciados de ambientes criativos e críticos, republicanos por derradeiro.

3. As economias, como a brasileira, enfrentarão, após pandemia, prolongadas estagnações se não incrementarem mais produtividade na área do conhecimento, sobretudo do setor humanístico. Elas não sobreviverão aos mais elementares obstáculos sociais se não desenvolverem uma agressiva política cultural, erudita e popular, a primeira nunca debiloide, a segunda jamais com objetivos eleitoreiros.

4. Muitos executivos brasileiros, de instituições públicas e privadas, ainda não perceberam que suas áreas de comando se encontram em processo de irreversível decomposição. Por não atentarem, eles e seus subordinados, que o trabalho se despojou de uma simples materialidade, tornando-se polo gerador de um paradigma onde despontam a inventividade, a parceria, a flexibilidade, a versatilidade e a capacidade de desaprender para reaprender com mais futuralidade.

5. Miguel de Cervantes, o pai do Dom Quixote, proclamava que “não há amizade, parentesco, qualidade, nem grandeza que possam enfrentar o rigor da inveja”.
Uma tese potencialmente superável, se efetivamente vivenciadas algumas diretrizes comportamentais:

a. Leve em consideração que grandes amores e novas conquistas envolvem grandes riscos;

b. Quando perder, não perca a lição;

c. Observe cotidianamente três R’s: Respeito a si mesmo, Respeito aos outros e Responsabilidade por todas as suas ações;

d. Lembre-se que não conseguir o que você quer é algumas vezes um grande lance de sorte;

e. Aprenda as regras de modo a saber quebrá-las da maneira mais apropriada;

f. Jamais deixe uma disputa por questões menores ferir uma grande amizade;

g. Quando perceber que cometeu um erro, tome providências imediatas para corrigi-lo;

h. Passe algum tempo sozinho todos os dias;

i. Abra seus braços para as mudanças, sem abrir mão de seus valores permanentes;

j. Lembre-se que o silêncio é algumas vezes a melhor resposta;

k. Viva uma vida boa e honrada. Assim, quando ficar mais velho e pensar no passado, poderá obter prazer uma segunda vez;

l. Uma atmosfera de amor em seu ambiente é fundamental para a vida;

m. Em discordância com entes queridos, trate apenas da situação corrente, sem levantar questões passadas;

n. Compartilhe amplamente o seu conhecimento, uma maneira de alcançar a imortalidade;

o. Seja gentil para com a terra;

p. Uma vez por ano, vá a algum lugar onde nunca esteve antes;

q. Lembre-se que o melhor relacionamento é aquele em que o amor mútuo excede o amor que cada um precisa do outro;

r. Julgue o seu sucesso por aquilo que teve de renunciar para consegui-lo;

s. Entregue-se total e irrestritamente nas mãos de Deus, consciente do seu papel de também construtor do Reino;

t. Sinta-se em contínua superação, tal e qual a “metamorfose ambulante” do Raul Seixas. E entenda cotidianamente o pensar do saudoso João Cabral de Mello Neto: “E não há maior resposta que o espetáculo da vida”.

6. Enxugar o Estado para melhor agilizá-lo, eliminar o voto obrigatório, reagrupando as agremiações partidárias, promovendo educação, saneamento, segurança e saúde para todos, erradicando da impunidade e da economia as especulação espúrias, reduzindo o fosso comunitário entre norte e sul, respeitando às comunidades indígenas e promovendo uma reestruturação agrária humanamente planejada, eis um receituário estratégico mínimo, sob pena de se inventar, breve , um outro significado para desenvolvimento.

7. Cidadaniza bastante, diariamente ao acordar, reler a reflexão de Bertolt Brecht: “O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio”.

8. Como diz uma lindona amiga minha, portadora de muita carne de peito: “Tenho descoberto que algumas pessoas têm o dom de não valerem nada”. Menina amada, nunca se apresse. Há pessoas que foram geradas em pé numa rede. Jamais saberão se comportar com dignidade profissional. Sabe por que? Porque são lambecusistas, nunca percebendo as idas e vindas da História. São executivos bostocratas, que impedem o país de ser mais criativo e menos patologicamente nostálgico. Só sabem rir com toda pornofonia presidencial, sempre a imaginar que “rir é o melhor remédio”.

No mais, é abraçar carinhosamente o João Silvino da Conceição pelas suas notações, inclusive a última, revelada semana passada: “Somente os que imaginam que os fins justificam os meios, possuem a certeza que diz “pimenta no rabete dos outros é refresco”. E que “mandioca na mão para enfiar em fiofós desprotegidos” é coisa de ministros descompensados, ansiosos para alisar os ovos de capitães malucos e seus filhos maluquetes.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 19 de maio de 2020

ANOTAÇÕES PARA O MOMENTO

 

 

ANOTAÇÕES PARA O MOMENTO

1. A atual pandemia planetária direcionou mentes sadias e corações solidários para adoção de paradigmas existenciais mais fraternos, abandonando posturas e crenças já manjadas. Foram rejeitados posicionamentos sociais embasados em teorias econômicas ultrapassadas, das duas extremidades ideológicas, erradicados os acovardamentos fundamentalistas e os trejeitos marqueteiros populistas dos messiânicos. Para inúmeros, uma posição foi tomada: que seja melhorado o bom, descobrindo-se a essência das missões individuais e coletivas. Que sejam erigidos propósitos de passos largos e consistentes, ainda que se correndo o risco de não se fazer coisas inéditas, ou recapturando passados, muitos até ridicularizados. E que todos saibam melhor o seu direcionamento para a Luz.

2. Tem muita gente ajudando outros a obter uma nova visão de mundo, explicando os porquês de algumas tensões e outras tantas turbulências, todas elas reflexos de uma conflitividade nem sempre positiva, embora sempre na busca de superações contínuas, jamais definitivas.

3. Quais deveriam ser os mandamentos de um Eleitor Esperto 2020? Abaixo, alguns sinais, todos atentos para erradicar a quantidade enorme de arroteiros:

a. Eliminar os candidatos de partidos-picaretas, que somente vêm a público em campanhas eleitorais.

b. “Dize-me com quem andas e eu direi quem tu és” ainda é um ditado muito arretado de ótimo.

c. Charme e distinção só para escolher óculos de grau.

d. Nunca se deve sufragar apenas pelo lado bonitinho. Vez por outra, elegemos picaretas repletos de “armações”, ordinaríssimos todos.

e. Caridade é bonita. Aproveitamento da miséria dos outros é coisa bem diferente. Cestas de alimento, tíquetes de leite, dentaduras, sacos de cimento e caminhões-pipas devem ser recebidos com mil agradecimentos, o voto continuando a ser reflexo de uma escolha consciente, refletida com maturidade e muita cidadania.

f. Desconfiar sempre de quem promete resolver tudo sozinho, arranjar novos empregos, zerar de uma só vez o não saneamento municipal, arrotando grandezas, tal e qual um Pai Grande, protetor dos “frascos e comprimidos”, na ingenuidade de um rapazote interiorano.

g. Observar bem se o candidato tem o “rabo” preso a atitudes que contrariam os interesses da maioria. Ou que resultem em prejuízos para milhões de desprotegidos.

h. Desconfiar de quem explora a vida pessoal dos outros candidatos. Crítica política é uma coisa, chafurdices velhacas são outros mil reais.

i. Já levar no caminho da urna a sua seleção, entrando na cabine com a escalação toda, deixando a turma da boca-de-urna sem vez nem voz.

j. Não basta votar. Tem que acompanhar a atuação dos eleitos. Se esquecer deles, como esperar que eles se lembrem das promessas que fizeram?

4. Um desenvolvimento eficaz dos Recursos Humanos será o principal indicador que evidenciará o Nordeste Brasileiro nos próximos anos perante a comunidade nacional, após o término da atual pandemia. E os líderes públicos e empresariais da região devem principiar a perceber que pessoas capacitadas, criativas e empreendedoras serão o único fator de produção que continuará insubstituível nos futuros próximos. Apesar dos avanços extraordinários da informática e da robotização, ambas jamais se tornarão independentes dos neurônios da raça humana.

5. Tenho uma profunda admiração pelos que possuem aquilo que Blaise Pascal, notável matemático, definia como esprit de finesse. E que é diretamente proporcional ao asco sentido pelos que se imaginam muito acima das divindades, sócios de Deus, igualzinho aquele ajumentado repleto de reais, que entrava nas igrejas de óculos escuros para Deus não lhe pedir autógrafo nem ficar com lero-leros bajulatórios. ¨

6. Já foi dito certa feita: “A maior tragédia do homem contemporâneo está na sua dominação pela força dos mitos, abdicando de uma soberana capacidade de discernir. … Nós, brasileiros, muitas e muitas vezes oscilamos entre um otimismo ingênuo e uma desesperança que somente beneficiam os reacionários. Otimismo ingênuo e cavilosa nos fazem esquecer as manhas de um poder invisível que se encontra comodamente instalado nos atapetados gabinetes da república, a desarticular propostas de uma reestruturação nacional consistente e duradoura, adversária primeira dos interesses oligárquicos”.

7. Um sistema universitário cientifica e humanisticamente sadio é aquele alicerçado sobre consistentes e eficazes ensinos fundamental e médio, permanentemente alimentado por recursos financeiros que proporcionem um mínimo de decência existencial e contínuo aprimoramento para seus corpos docentes, discentes e administrativos, dispensados os omissos e incompetentes.

8. Não há nada mais ridicularizável que determinados dirigentes públicos em início de gestão. Sentem-se os próprios cães do segundo livro do Felisberto de Carvalho. Eliminam projetos de futuro já propostos, destroem eficazes construções passadas, contaminam procedimentos empreendedores, erigem tribunais inquisitoriais, suspeitam de tudo e de todos aqueles que não estavam do seu lado. E vão além do cotidiano necessário: arrotam “bombrilmente” mil e um novos empreendimentos, nomeando incapazes, buscando o sensacionalismo barato através de posturas bananeiras demagógicas.

9. Para todos aqueles aprovados na área do Ensino Superior, curiosidades afloram sobre o surgimento das primeiras noções recebidas: como e por que os grandes pensadores tiveram as ideias que alteraram os rumos da humanidade, o que se deve esperar da Filosofia e para que ela serve. A atual geração universitária, sem os embasamentos humanísticos necessários que fomentaram as grandes transformações universais, carece ter mais conhecimentos sobre o como se processou a história do pensamento, evitando engasgar-se nos argumentos mais elementares e desafiadores dos amanhãs.

10. Recomendaria um livro que muito ensinaria acerca da história das ideias que servem até hoje como ferramentas essenciais para os debates contemporâneos: A Mais Bela História da Filosofia, Luc Ferry & Claude Capelier, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2017, 322 páginas. O primeiro, PhD em Filosofia, foi Ministro da Educação da França, tendo sido professor universitário, hoje dedicado em tempo integral à elaboração de livros. O segundo é filósofo, escritor e assessor científico do Conselho de Análise da Sociedade da França. O texto retrata, de uma forma muito original, uma questão que inquieta profundamente os ainda pensantes: como responder às nossas atuais desorientações diante de um universo que persiste em nos escapar entre os dedos, apesar das estupendas explorações interplanetárias?

PS. Fiquemos em casa para erradicar mais rapidamente a COVID-19, tida por “simples gripezinha” pelos dinossauros que buscam notoriedade através de fálicas manifestações.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 12 de maio de 2020

COMO ULTRAPASSAR A VISÃO TECNISTA DO ESPECIALISTA

 

COMO ULTRAPASSAR A VISÃO TECNICISTA DO ESPECIALISTA

Com a pandemia do COVID-19, inúmeros apressadinhos resolveram dar um “stop” em suas caminhadas existenciais egolátricas e hedonistas para encarecer aos mais próximos algumas leituras que lhes proporcionassem uma ampliação das sua enxergâncias de especialistas em quase nada de um todo bastante míope, dada seus frágeis níveis humanístico, distanciados léguas mil de conteúdos mínimos de Ciências Humanas.

Para um amigo fraterno de infância, especializado em química petrolífera de subsolo, atendendo um telefonema seu meio angustiado por não saber conversar sobre assuntos de vida com antenados netos pré-vestibulandos, preparei algumas leituras recentes que muito ampliarão sua convivência dialogal com os parentes jovens, estudiosos todos e que estimam bastante o vovô Ado (nome fictício para não entornar o caldo). São cinco livros pequenos, notavelmente descomplicados, que amplamente elucidam, sem as complexidades dos eruditismos ostentatórios dos nunca didáticos. Ei-los, numa sequência que considero a mais enriquecedora possível:

1. FILOSOFIA PARA OCUPADOS – DOS PRÉ-SOCRÁTICOS AOS TEMPOS MODERNOS EM 208 PÁGINAS – Lesley Levene -Rio de Janeiro, LeYa, 2019, 208m p.

Um livro indispensável para quem busca refletir sobre questões existenciais. Um livro leve, sucinto e divertido, para ser lido em qualquer tempo e lugar. Um livro que analisa questões vitais debatidas ao longo de milhares de anos, que levaram Voltaire a concluir magistralmente:

“A dúvida não é uma condição agradável, mas a certeza é absurda.”

Uma leitura que seguramente despertará a vontade de saber cada vez mais sobre inúmeras indagações contemporâneas, aprimorando nosso pensar sempre inconcluso, posto que todos somos meros aprendizes de tudo.

2. DIÁLOGO DE CULTURAS – Leandro Karnal – São Paulo, Contexto, 2018, 192 p.

Um autor de mil e uma entrevistas sedutoras e profundamente didáticas, que sempre externou que “educar não é adestrar, mas ampliar e estimular o repertório para que cada ser faça parte da aventura humana. A educação pela arte é poderosa e pode mudar, para sempre, a vida de alguém.”

Segundo o autor, sempre é fascinante ampliar a binoculização muito além das paredes técnicas dos especialistas. Lendo com atenção, sempre destrinçando parágrafo por parágrafo, é aprimorar o olhar além dos seus derredores, sabendo combater preconceitos e discriminações, imbricando temas diferenciados em busca de novas interpretações, quiçá inovadoras.

Um livro que bem ressalta a diferença entre medíocres fascistas e democratas historicamente determinados.

3. 21 IDEIAS DO FRONTEIRAS PENSAMENTO PARA COMPREENDER O MUNDO ATUAL – Fernando Schüler & Eduardo Wolf (organizadores) – Porto Alegre, Arquipélago Editorial, 2017, 240 p.

O livro retrata ideias de pensadores contemporâneos, vitais para um entendimento do papel de cada um numa sociedade que evolui estonteantemente, desfavorecendo as mentalidades mais arrumadinhas e fundamentalistas. Os diversos temas ressaltam parametricamente: uma ideia é conhecimento, é informação gerada, é um anseio de mudança.

Os textos selecionados são ferramentas indispensáveis para debates esclarecedores sobre questões vitais sobre o mundo atual e os nossos amanhãs.

4. O DILEMA DO PORCO ESPINHO: COMO ENCARAR A SOLIDÃO – Leandro Karnal – São Paulo, Planeta do Brasil, 2020, 192 p.

O autor viaja pela modernidade líquida, expressão cunhada por Zygmunt Bauman, analisando a solidão dos que vivem soterrados nos whatsApps e caixas de e-mails lotadas de informações, muitas bobagens, algumas falácias, rezas invocatórias, mensagens afetivas, produtos exóticos, remédios que levantam muitas coisas mortas, eliminando distâncias e enfrentamentos de uma solidão que se encontra disseminada pelos quatro cantos do mundo, camuflada pelas práticas e posturas da eletrônica moderna.

5. CRENÇA, DÚVIDA E FANATISMO: É ESSENCIAL TER ALGO EM QUE ACREDITAR? – Osho – São Paulo, Planeta, 2015, 254 p.

Se você deseja ler reflexões sobre algumas questões contemporâneas – Qual o motivo da necessidade humana de acreditar em algo?, Como devemos encarar as afirmações feitas pelas religiões?, Como podemos nos afastar das verdades impostas e seguir pelo caminha da dúvida e da descoberta? –, o livro acima contém balizamentos de um dos mestres espirituais mais inspiradores do século XX, reconhecido mundialmente pelas suas contribuições para a ciência da transformação pessoais.

O livro analisa inquietações interiores que estão afetado a caminhada de milhões, mormente agora quando o planeta está sendo abalado por uma pandemia de consequências nada previsíveis. E disseca didaticamente sobre, segundo ele, as sete religiões do mundo: 1. A orientada pela ignorância; 2. A orientada pelo medo; 3. A orientada pela ambição; 4. A religião da lógica, do cálculo.

As outras três são consideradas religiões mais verdadeiras: 5. A religião da inteligência; 6. A religião da meditação; 7. A religião do êxtase, o samadhi.

Um livro que que analisa uma questão basilar no século XXI: É essencial ter algo em que acreditar?

Livros que ampliam a humanização dos especialistas, a grande maioria ainda embatucada diante de uma célebre reflexão feita pelo saudoso economista brasileiro Celso Furtado:

“O quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos num triângulo retângulo. Mas será que o triângulo será mesmo retângulo?”

Saibamos ler muito além das tecnicalidades temporárias, para apreender melhor sobre os nossos basilares amanhãs planetários !


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 05 de maio de 2020

TESTEMUNHOS VALIOSOS

 

TESTEMUNHOS VALIOSOS

1. No cenário brasileiro do Espiritismo, entre os mais talentosos divulgadores, um se destaca pelo conhecimento e bravura em defesa da doutrina de Allan Kardec: Jorge Rizzini, um paulistano eternizado em 2008, criador, em 1982, do Primeiro Festival de Música Mediúnica, realizado no Teatro Municipal de São Paulo.

Durante mais de 10 anos debruçou-se sobre uma gigantesca pesquisa documental, onde registrou experiências sobre realidade espiritual efetivadas através de fenômenos e análises de notáveis personalidades, entre as quais Leon Tolstoi, Goethe, Victor Hugo, Conan Doyle, Charles Dickens, Victorien Sardou, Guimarães Rosa, Monteiro Lobato, Rui Barbosa e Olavo Bilac, entre tantos outros, que relataram feitos e fatos espíritas que marcaram suas vidas.

Um dos seus livros mais lidos, o que relatou os testemunhos dos acima citados e mais alguns, teve apresentação da sua neta Veridiana Rizzini L. Mantovani, que o considerava “um homem muito especial, descontraído e brincalhão, mas imbatível em seus propósitos, quando se tratava da coerência na divulgação do espiritismo.” O livro intitulou-se:

ESCRITORES E FANTASMAS – Jorge Rizzini – São Bernardo dos Campos SP, Correio Fraterno, 3ª. ed., 2017, 352 p.

Através de depoimentos convincentes, os leitores encontrarão uma excelente oportunidade para se perguntar sobre as suas relações com a outra dimensão, sobre as suas origens e os seus destinos.

O livro é dividido entre testemunhos nacionais e testemunhos estrangeiros. E traz uma Introdução do autor intitulada O espiritismo e os expoentes da cultura universal, onde ele explicita: “Não é nosso objetivo fazer aqui um serviço de estatística. Todavia, recuaremos no tempo e encontraremos Sócrates e Platão. O primeiro, desde a infância ouvia uma voz que o orientava nos momentos cruciantes. Era o filósofo médium auditivo. ‘Essa voz não intervém senão para me afastar do erro’, contava Sócrates, momentos antes de morrer. E declarava: ‘Ela nunca me leva a fazer mal.’”

Citemos algumas citações, para provocar, no futuro, o interesse dos amigos eitores para o conhecimento de todos os relatos:

– “Não julgueis que em todo esse drama há alguma coisa de além-túmulo?” (Fagundes Varela)

– “O espiritismo será a religião de amanhã, porque prova a sobrevivência.” (Monteiro Lobato)

– “A proporção que uma folha se completava, sempre em grafia bem legível, eu ia verificando o que ali fixara o lápis do Chico.” (Agripino Grieco)

– “Ah! tu deves ter sido em tempos longínquos minha irmã ou minha esposa.” (Goethe)

– “Tornei a adormecer. Durou o fenômeno cerca de uma hora.” (Victor Hugo)

– “Considero muito importante pôr em evidência, cada vez mais, o lado religioso do espiritismo.” (Conan Doyle)

2. A ameaça pandêmica da COVID-19-19, forçando um recolhimento compulsório ao lar, me proporcionou a oportunidade de rever notas e reflexões escritas bem dormidas, favorecendo a distinção entre alhos e bugalhos. Linhas -extraídas de vários naipes ideacionais, algumas delas amplamente divulgadas. Algumas delas:

– “Somente a Razão torna a vida alegre e agradável, excluindo todas as Concepções ou Opiniões falsas que podem perturbar a mente.” (Epicuro)

– “A vida que não é examinada não vale a pena ser vivida.” (Sócrates)

– “O que somente pode guiar o homem? Somente uma coisa, a filosofia.” (Marco Aurélio)

– “O homem não pode superestimar a grandeza e o poder de sua mente.” (Hegel)

– “Fazer filosofia é explorar o próprio temperamento, e ao mesmo tempo tentar descobrir a verdade.” (Iris Murdoch)

 “Ser filósofo não é meramente ter pensamentos sutis, nem mesmo fundar uma escola… É resolver alguns dos problemas da vida, não na teoria, mas na prática.” (Henry David Thoreau)

– “O carpinteiro molda a madeira, os arqueiros moldam flechas; o sábio molda a si mesmo.” (Buda)

– “A escrita popular requer a transformação engenhosa, se bem que fidedigna, de questões complexas em questões espantosamente simples – uma tarefa que eu não teria conseguido conceber, muito menos executar, sem uma assistência especializada.” (Lou Marinoff)

O último autor dos citados acima é autor de um livro por mim lido de fio a pavio, que muito bem demonstrou a eficácia da filosofia aplicada aos problemas cotidianos como os atuais:

MAIS PLATÃO E MENOS PROZAC – A FILOSOFIA APLICADA AO COTIDIANO – Lou Marinoff – Rio de Janeiro, Record, 2001, 380 p.

O autor oferece o livro “para aqueles que sempre souberam que a filosofia servia para alguma coisa, mas não conseguiam explicar exatamente para quê.”

O trabalho de Marinoff é composto de quatro partes: I – Novos usos para a sabedoria antiga; II – Administrando problemas cotidianos; III – Além do aconselhamento do paciente; IV – Recursos complementares.

Uma leitura pra lá de oportuna, no momento em que as instituições religiosas estão com suas credibilidades reduzidas, levando-se em conta que a filosofia abarca lógica, ética, valores, significado, racionalidade e tomada de decisão em situações complexas.

E o autor faz uma advertência contundente: “O estudo básico da filosofia deveria fazer parte de toda educação; uma universidade sem um departamento de filosofia é como um corpo sem a cabeça.” Infelizmente, nos últimos tempos os especialistas da área enfatizaram demasiadamente a teoria em detrimento da prática, tornando a filosofia incompreensível e inaplicável para a grande maioria das pessoas comuns.”

Vale a pena ler ou reler Marinoff, para saber enfrentar os problemas causados pela atual pandemia.

As duas leituras acima, excepcionalmente didáticas, destinam-se a pessoas saudáveis em busca de articulações promissoras e nunca nostálgicas com pensadores que marcaram época, na construção de amanhãs mais comunitariamente solidários entre si e vinculados filialmente com a Criação.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 28 de abril de 2020

PARA SABER BEM CAMINHAR NA VIDA

 

PARA SABER BEM CAMINHAR NA VIDA

Tenho uma admiração acentuada pelo filósofo William James, que um dia assim se expressou num dos seus textos famosos: “A vida humana mais profunda está em toda parte, é eterna.”

Para todos aqueles que buscam combater um existir alienado, vitimista, chafurdento, fuxicoso, ananicado, hedonista, inculto e individualista por derradeiro, recomendo três leitura que muito poderão favorecer um caminhar, mais consequente, mais apropriado, com posturas comportamentais eticamente respaldadas num humanismo evolucionário:

1. A FILOSOFIA DA VIDA COTIDIANA: UMA INTRODUÇÃO SIMPLES AOS GRANDES TEMAS FILOSÓFICOS – Scott Samuelson – Rio de Janeiro, Zahar, 2020, 271 p.

Confesso que não esperava manusear um livro pra lá de arretado, editado este mês, oportuno por derradeiro, para quem sabe resistir civilizadamente à pandemia do COVID-19, e às merdalhadas ditas por mandatários contaminados pelo idioticusvirus, que vitima gente iludida com o atual andar das carruagens brasileira e mundial. Um deles, dirigente maior de nação gigante, é amplamente metido a nada ler, sem a mínima preocupação com o cotidiano conjuntural, egolátrico por derradeiro e amplamente cênico, sempre irresponsavelmente apoplético.

O autor acima, docente no Kirkwood Community College, Iowa City, toma a filosofia de eruditos e vaidosos especialistas, recolocando-a no centro da nossa ambiência comunitária. Segundo ele, deixar os assuntos filosóficos para apenas os doutos é proporcionar um fim trágico tanto para nossas vidas quanto para a própria filosofia. Scott nos guia, com uma didática amplamente desfrescurizada, oferecendo uma generosa exposição sobre as complexidades do cotidiano. Parte de Sócrates e termina suas exposições sedutoras interpretando o que o antropólogo Claude Lévi-Strauss narrou em seu ensaio “O feiticeiro e sua magia”, sobre um índio chamado Quesalid, que acreditava que a arte praticada pelos xamãs de sua tribo não passava de um punhado de truques. Um herói que despertou para uma realidade cotidiana menos fantasiosa.

SUMÁRIO: Prelúdio sobre a poluição luminosa e as estrelas; Parte 1 – O que é filosofia?; Parte 2 – O que é felicidade?; Parte 3 – O conhecimento de Deus é possível?; Parte 4 – Qual é a natureza do bem e do mal?; Conclusão: A coisa mais bonita do mundo; Leituras adicionais recomendadas.

Logo no início do livro, o autor reproduz uma aplaudida metáfora de Mark Twain, também revelando denúncia de um misterioso poeta indiano do século XV: “Eles desperdiçaram seu nascimento em ismos.” Uma bofetada gigantesca nas religiões, afiliações políticas, espiritualidades, identidades forjadas por marqueteiros oportunistas, bananeiros sabidamente populistas e hipnotizadores de abestados sempre massa de manobra.

Uma leitura que minimiza os tédios dos confinamentos indispensáveis. A exigir amplas meditações e releituras.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 21 de abril de 2020

UMA BÍBLIA LAICA

 

UMA BÍBLIA LAICA

Com inspiração nas escrituras cristã e judaica, também no Alcorão, em outros livros sagrados das grandes religiões e em reflexões imortais de pensadores dos ontens históricos mundiais, a editora Objetiva lançou recentemente O Bom Livro, de A.C. Grayling, professor de Filosofia na Universidade de Londres. Uma bíblia laica, destinada a “ajudar e guiar, sugerir, instruir, advertir e consolar; acima de tudo, erguer a luz da mente e do coração humano diante das sombras da vida”.

Diz a contracapa do livro: “ao modernizar e laicizar a Bíblia, o filósofo britânico mais lido da atualidade nos desafia a responder a uma das questões centrais da sua obra: num mundo cada vez mais laico, o que significa, hoje, Ser Humano?” O livro foi estruturado como a própria Bíblia. Os 14 livros que o constituem provém de mais de mil textos escritos por inúmeros sábios, literatos e artistas do Ocidente e do Oriente, desde a Antiguidade até o limiar do século passado. Neles estão ideias, conselhos, relações humanas, tragédias, desejos, amor e dor. Sem explicitar autorias, caberá a cada leitor usufruir os ensinamentos colecionados, não sendo induzido por qualquer autor. Todos eles escolhidos com uma finalidade única, acima explicitada.

Diante de um grupo de meditação transreligioso que frequento, atualmente cada um no seu canto eletrônico, a cada um deles, somos dezoito, foi dada a incumbência de escolher as reflexões que mais sensibilizaram os interiores de cada um, oferecendo-as para o fortalecimento de uma paz mundial duradoura, onde a distribuição das riquezas seja a menos desigual possível. Eis as vinte escolhas vencedoras, depois de quase uma semana de peneiramento e uma diária prévia oração adenominacional:

1. Ação é fruto do conhecimento de grandes mentes, não precisando de trombetas.
2. Pior do que não ter ensino é ter um mau ensino, mal ensinando quem tudo ensina.
3. Quem se elogia se deprecia e elogio imerecido é sátira.
4. Poderoso é aquele que vence a si mesmo, rico é aquele que se satisfaz com o que tem, honrado é aquele que honra os outros, mas sábio é aquele que aprende com todos os homens.
5. Não desejes que pensem que sabes alguma coisa; e mesmo que aparentes ser importante aos outros, desconfia de ti mesmo.
6. O honesto não disputa a todo custo.
7. O que encurta a vida não são os anos curtos, e sim o curto conhecimento.
8. Lazer demanda bom uso do tempo: quanto mais preguiçoso, menos lazer; quanto mais disciplinado, mais lazer.
9. A escolha de assistentes é da máxima importância para o líder, e o valor daqueles é proporcional à faculdade de discernimento deste.
10. O tempo vence tudo e o ouro não compra o tempo.
11. Quando um país é bem governado, a pobreza e a condição humilde são coisas de se envergonhar.
12. Qual é a qualidade que se deve procurar como promessa de estabilidade e permanência na amizade? A lealdade.
13. A pobreza é mãe do crime.
14. O cargo mostra a pessoa.
15. Estômago que não conhece fome despreza comida simples.
16. Má companhia é como cachorro, suja mais a quem mais ama.
17. De nada vale a boa doutrina para o mau caráter.
18. Muitos encanecem, mas não melhoram.
19. O que leio diz quem sou; quem sou diz o que leio.
20. O sábio domina o seu espírito, o tolo é dominado por ele.

No final das discussões e debates, a fraternidade sempre comandando, foi lembrada uma das reflexões mais famosas do mais que notável Albert Einstein, balizadora de propósitos altaneiros: “Se os homens, como indivíduos, cedem ao apelo de seus instintos básicos, evitando a dor e buscando satisfação apenas para si próprios, o resultado para todo o seu conjunto é, forçosamente, um estado de insegurança, medo e sofrimento geral. Se, além disso, eles usam sua inteligência numa perspectiva individualista, isto é, egoísta, baseando suas vidas na ilusão de uma existência feliz e descompromissada, as coisas dificilmente podem melhorar. Em comparação com os outros instintos e impulsos primários, as emoções do amor, da piedade e da amizade são fracas e limitadas demais para conduzir a sociedade humana a uma condição tolerável”.

Cultivar amizade com pessoas de espírito elevado, ainda que de opiniões divergentes, eis ainda um grande mote revivificador. Admirar pessoas de pensamentos anti-nostálgicos, criadoras de uma atmosfera sadia, que abjuram ser donas da verdade, cultivando serenas apreensões, oxigenadoras de salutares estratégias de superação de situações conflituosas, faz civicamente muito bem.

Estejamos sempre aptos para destruir o comodismo e a estabilidade, os principais adversários da inovação, tratando com equidade direitos e prestígios individuais e coletivos. Reconhecendo que as vassouras novas, além de novas, devem estar de pelagem luzidia, sem pregos-esporões nem envesgados cavilosos, mesmo que travestidos de primeiro mandatário.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 14 de abril de 2020

UMA TEÓLOGA CULTA E DE MUITA BRAVURA ANALÍTICA

 

UMA TEÓLOGA CULTA E DE MUITA BRAVURA ANALÍTICA

Uma releitura recente, a primeira acontecendo nos anos 90 do século passado, me fez ratificar uma admiração sentida pela bravura de uma mulher, alemã de nascimento, 1927, PhD em Teologia Católica em 1954, a primeira mulher a receber o mais alto grau de uma universidade germânica: UTA RANKE-HEINEMANN.

Por suas análises dotadas de muita bravura interpretativa, ela teve retirada sua licença docente, em 1987 pelas autoridades vaticanas, obtendo no mesmo ano uma cátedra não denominacional de História da Religião, na Universidade de Essen.

Seu texto mais aplaudido entre estudiosos e especialistas em Religião, já em 22ª. edição, no Brasil em 5ª., revista e atualizada, intitula-se

EUNUCOS PELO REINO DE DEUS: IGREJA CATÓLICA E SEXUALIDADE – DE JESUS A BENTO XVI Rio de Janeiro, Rosa dos Ventos, 2019, 475 p.

Vale a pena reproduzir um comentário de Leonardo Boff, teólogo também perseguido pela Igreja de Roma, homenageando todas as mulheres do planeta, ainda hoje vítimas inclementes de um machismo inculto e ainda animal:

“Uta Ranke-Heinemann é a primeira mulher a conquistar uma cátedra em teologia numa universidade oficial alemã, deposta posteriormente por causa de suas opiniões no campo da exegese e da moral sexual. O presente livro – EUNUCOS PELO REINO DE DEUS – representa, talvez, a investigação mais séria realizada nos últimos anos na teologia ecumênica mundial acerca da forma como a Igreja romano-católica tratou a sexualidade, a contracepção, o prazer e as mulheres. Estamos diante de um trabalho histórico-crítico minucioso, em cima de fontes primárias, abrangendo o tempo imediatamente antes do cristianismo, a história comparada das igrejas cristãs até o tempo de João Paulo II. A perspectiva é a da mulher, vítima do sistema masculino ou celibatário que se apoderou do poder sagrado e o usou quase sempre na ótica antifeminista e machista.

A leitura deste texto produz estarrecimento a qualquer pessoa sensata. É tanto ódio ao sexo, hostilidade ao prazer, difamação das pessoas casadas, suspeita de cada aceno de afetividade e ternura, pecaminização de toda a esfera sexual, por um lado, e exaltação exacerbada do celibato e culto maníaco à virgindade, por outro, que o espírito se nega a crer que isto tenha a ver com Deus e seja a tradução histórica do sonho de Jesus Cristo. É uma moralidade do terror, consequência de mentes sexualmente problemáticas. A doutrina tradicional concernente à sexualidade faz uma separação brutal entre sexualidade e amor. Os celibatários que formularam as doutrinas, especialmente Santo Agostinho e Santo Afonso de Ligório, não mostram a menor idéia da dignidade da mulher e da espiritualidade que se realiza entre esposos que se amam.

A igreja dos celibatários diz um não a praticamente tudo o que se refere à esfera do sexo, do prazer, da contracepção, do jogo difícil da intimidade entre um homem e uma mulher. Ela não escuta as demandas sérias do homem comum. Simplesmente se empenha em impor sua própria ditadura moral sem levar em conta o bem-estar das pessoas casadas.

Por que se chegou a isso? Os fatores são muitos, de procedência extracristã e ligados diretamente às relações internas da Igreja romana-católica. Seguramente, um dos principais é a forma como a Igreja distribui o poder sagrado. Ele ficou reservado à hierarquia, composta somente de homens, de celibatários, no âmbito de um exercício autoritário e totalitário desse poder. Ao redor do poder sagrado, articulado com outros poderes, se organizou a história do cristianismo. Esta acumulação de poder não tolera a fragilidade do amor, não suporta a leveza da ternura e não aguenta a convivência com o diferente, a mulher, os filhos, a força do desejo. O poder precisa controlar tudo, também o campo autônomo das pessoas casadas e da intimidade recôndita das pessoas. Por isso, para todos, mas principalmente para as mulheres, criaram somente medo e escrúpulo. É insensatez um cristão orientar-se pelo ensino da Igreja em questões de moral sexual. Sua teologia não é teologia alguma, porque continuamente abusa do nome de Deus, para legitimar conceitos e preconceitos humanos e sua moralidade não é moralidade porque baseada no terror das conciências.

O livro de Ranke-Heinemann é um grito de libertação das conciências cristãs para que voltem à liberdade que Jesus nos conquistou e se libertem da difamação que os celibatários impuseram à sexualidade e do terror à intimidade dos esposos e às relações que produzem prazer-sexualidade e do terror à intimidade dos esposos e às relações que produzem prazer.”

No prefácio à última edição, a explicação indispensável: “O escândalo mundial de casos de pedofilia no clero católico aliado ao fluxo diário de publicações do papa João Paulo II praticamente sempre e em torno do mesmo tema, a hostilidade sexual e a misoginia, tornaram necessária a ampliação deste livro, agora em sua 22ª. edição. … Depois de finalizar a expulsão papal das mulheres, causada pelo celibato da Igreja católica com seu núcleo monossexual, o desejo de João Paulo II era então o de dessexualizar os homossexuais. É por isso que seu novo Catecismo da Igreja Católica, de 1992, ele entoa um hino de três estrofes aos homossexuais castos.”

Até o papa Bento XVI instituiu a delação dos seminários, em 2005, sobre sacerdotes que mantinham parceiros masculinos em segredo. Delações que sempre aconteceram, ainda que por outras razões.

Uma releitura do livro é mais que buscar aquilatar o nível de agravamento de uma situação que chegou recentemente a pressionar o papa Francisco, fazendo-o não estabelecer a ordenação de homens casados para a evangelização da Amazônia.

Os últimos capítulos do livro – Os séculos XIX e XX: a era do controle da natalidade; O aborto; O onanismo; A homossexualidade; A teologia moral do século XX, Notas sobre mariologia, e Minha grande decepção – estão a exigir uma leitura mais reflexiva diante das acelerações de uma pós-modernidade que está atordoando analistas mais estudiosos, afugentando inúmeros para uma cada vez mais divulgada e aceita espiritualidade sem igrejas. Que seguramente se agigantará após a atual pandemia mundial.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 07 de abril de 2020

QUEM FOI O HOMÃO, SEU ENTORNO E SUAS MENSAGENS

 

 

QUEM FOI O HOMÃO, SEU ENTORNO E SUAS MENSAGENS

Nas comemorações de mais uma Semana, que será vivenciada com o mundo todo de quarentena, e nutrindo uma admiração acentuada pelo filósofo William James – “A vida humana mais profunda está em toda parte, é eterna”– reitero a necessidade de todos os socialmente comprometidos com o desenvolvimento da humanidade rememorar os acontecimentos vivenciados na Judeia, após o nascimento e morte de Jesus, independentemente da crença sentida pelo pregador judeu da Galileia, para mim o mais revolucionário personagem da história da humanidade.

Pedindo permissão aos leitores, ofereço, abaixo, algumas leituras que me proporcionaram uma maior enxergância sobre a caminhada do Nazareno e suas mensagens fecundas em prol de uma duradoura e nunca fingida fraternidade planetária, favorecendo uma evolucional perfeição de todos em direção a outras moradas. Livros que foram lidos e relidos, meditados e rabiscados, objetivando uma compreensão mais racionalmente espiritualizada da minha existência: origem, missão e destino após encerramento das atividades por aqui. Ei-las, sem qualquer ordem de relevância, apenas com a intenção de despertar uma maior apreensibilidade de toda a minha gente caminheira.

1. SIMPLESMENTE JESUS – N. T. Wright – Rio de Janeiro, Thomas Nelson Brasil, 2020, 304 p.

Muito além de uma simples biografia, o autor, bispo anglicano e teólogo consagrado, derruba obstáculos vários para melhor pregar a caminhada do Homão da Galileia entre nós. Ele busca elucidar algumas significativas questões, oferecendo uma nova e instigante compreensão sobre a maior personalidade da história do mundo: Quem foi exatamente Jesus?, O que Jesus pensava realizar?, Por que Jesus foi morto?, Por que ressuscitou entre os mortos?, e Como devemos nos relacionar com Ele nos dias atuais?

O livro é de um teólogo que destila erudição de uma maneira acessível, vívida e amplamente clara. Uma obra essencial para uma leitura restauradora para uma espiritualidade fragilizada.

2. CRISTIANISMO: A MENSAGEM ESQUECIDA – Hermínio C. Miranda (1920-2013) – Matão SP, Casa Editora Clarim, 2016 (4ª.ed), 416 p.

Um dos maiores especialistas brasileiro na Doutrina Espírita, o autor analisa duas questões fundamentais: Teria falhado o cristianismo na tarefa de ordenar uma sociedade, senão ideal, pelo menos razoavelmente equilibrada e feliz?; Teria ainda o cristianismo condições de realizar essa tarefa?

Na contracapa: “O autor reconstrói a história do Cristianismo, analisa a essência da mensagem de Jesus e os diversos rumos que ela tomou ao longo dos tempos, manipulada por interesses vários.”

Um livro que incita todos a conhecer mais detalhadamente a caminhada do Homão da Galileia, nosso Irmão Libertador.

3. O JESUS QUÂNTICO – Marcelo Tezeli – São Paulo, Casa Editora Espírita Pierre-Paul Didier, 2019, 574 p.

A contracapa do livro me chamou muito a atenção: “O século XXI emerge diante de nós apresentando um alto grau de complexidade, com um desenvolvimento científico e tecnológico sem precedentes na história. Mas, ao mesmo tempo em que progredimos material e intelectualmente, não raro também enfrentamos uma forte sensação de vazio interior, pois as conquistas materiais não nos suprem por completo.”

Ao folhear o livro para obter maiores detalhes, me deparei com o prefácio de um extraordinário expositor espírita, o Dr. Décio Iandoli Jr., médico PhD em Técnicas Operatórias e Cirurgia Experimental, sempre atuante nos temas Endoscopia, Cirurgia, Fisiologia, Saúde e Espiritualidade, de quem sou aplaudidor de carteirinha. E que assim foi classificado: “O autor tem duas habilidades preciosas: a inteligência para entender conceitos complexos de várias áreas da ciência, e a capacidade de comunicar estes conceitos com leveza e clareza, tornando-os cognoscíveis aos seus leitores, e tais habilidades se revertem em uma agradável e instigante leitura.”

O que me impulsionou para uma leitura reflexiva do livro foi uma declaração de Albert Einstein inserida nas primeiras páginas: “Quem diz que há oposição entre a Religião e a Ciência apenas mostra que vai atrasado na Ciência. A ciência sem religião é claudicante; a religião sem ciência é cega.”

4. JESUS: A BIOGRAFIA – Jean-Christian Petitfils – São Paulo, Benvirá, 2015, 526 p.

Um texto que reconstitui com muita fidelidade, baseada nas mais recentes descobertas arqueológicas e nos manuscritos do Mar Morto, a vida e mensagem do personagem Jesus sob um viés histórico, reintegrando-o no ambiente religioso, cultural e político da Palestina de seu tempo.

Ninguém mais hoje questiona sua existência física, ainda que uma aura de mistério e inúmeras questões envolvem o Nazareno, inclusive algumas que me inquietam vez por outra: Como ele nada deixou escrito de próprio punho, será que seus discursos religiosos foram alterados em algum momento da História?; Terá havido alguma utilização fraudulenta da mensagem de amor e fraternidade por ele deixada através de outros?; Como ele se tornou, muitas vezes, reflexo de determinadas épocas históricas?

Uma leitura cativante sobre o personagem mais conhecido e misterioso de todos os tempos.

5. A VIDA DIÁRIA NOS TEMPOS DE JESUS – Henri-Daniel Rops – São Paulo, Vida Nova, 2008, 524 p.

Uma excelente oportunidade, para quem não tem condições atuais de conhecer pessoalmente as terras do Nazareno. O autor não só traz a Palestina até nós, como nos transporta através dos séculos até os tempos e sociedade em que viveu o Homão.

Uma leitura pra lá de ótima para quem deseja ampliar o conhecimento dos ambientes e costumes dos que com Jesus conviveram.

6. QUEM JESUS FOI? QUEM JESUS NÃO FOI?: MAIS REVELAÇÕES INÉDITAS SOBRE AS CONTRADIÇÕES DA BÍBLIA – Bart D. Ehrman – Rio de Janeiro, Ediouro, 2010, 318 p.

O autor, renomado especialista em estudos bíblicos, PhD em Teologia, ressalta as contradições inimagináveis nos textos evangélicos sobre a vida de Jesus, bem como comprova que a dicotomia céu x inferno não está explicitada nos ensinamentos de Jesus.

Um livro que amplia fortemente mentes e corações, favorecendo uma compreensão mais racional sobre o Novo Testamento.

As leituras acima seguramente minimizarão os tédios dos confinamentos indispensáveis, ampliando convicções e elucidando uma baita dúvida: no frigir dos ovos, ele foi um messias, um profeta, um gênio, um sábio ou um antecipador de amanhãs?

Uma abençoada Semana Santa para todos, crentes e não crentes, rememorativa da missão de quem muito amo, Jesus de Nazaré.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 31 de março de 2020

ENFRENTANDO AMANHÃS INESPERADOS

 

ENFRENTANDO AMANHÃS INESPERADOS

Um amigo de trocentos anos, companheiro de estudos ginasianos, me telefonou recomendando a releitura de um livro por nós lidos na quarta série: A BESTA HUMANA, de Emile Zola. Segundo ele, uma leitura pra lá de oportuna para quem deseja bem entender as bosteiras pronunciadas por um mandatário brasileiro e seus filhotes trapalhões, em cadeia nacional e redes sociais, vilipendiando as recomendações dadas por autoridades mundiais da área de saúde, que orientam sobre um combate efetivo à atual pandemia mundial.

Prometi-lhe voltar às páginas de Zola, quando algumas outras indicações fossem devoradas, uma delas sobre gerenciamento do inesperado, um notável texto, uma análise brilhante sobre uma questão planetária: “Por que motivo nós, cientistas ou não, figurões ou caras comuns, tendemos a ver os centavos em vez dos dólares, concentrando-nos nas minúcias e não nos eventos significativamente grandes, reduzindo o conhecimento sobre o mundo, causando exacerbações inconsequentes e decisões precipitadas e pouco convincentes?” Em outras palavras: “Como procurar titica de passarinho, descobrindo a incerteza do impostor?”

Diante da curiosidade manifesta pelo Júnior, resolvi dar maiores detalhes sobre o que estou lendo com entusiasmo quase incontido:

A LÓGICA DO CISNE NEGRO: O IMPACTO DO ALTAMENTE IMPROVÁVEL – Nassim Nicholas Taleb – Rio de Janeiro, BestBusiness, 20ª. edição, 2019, 458 p.

E enviei para ele o sumário do livro:

Prólogo – Sobre a plumagem dos pássaros;

Parte I – A antibiblioteca de Umberto Eco, ou como procuramos validações: 1. O aprendizado de um cético empírico; 2. O Cisne Negro de Yevgenia; 3. O especulador e a prostituta; 4. Mil e um dias, ou como não ser um trouxa; 5. Confirmação coisa nenhuma!; 6. A falácia narrativa; 7. Vivendo na antecâmara da esperança; 8. A sorte infalível de Giacomo Casanova: o problema da evidência silenciosa; 9. A falácia lúdica e a incerteza do nerd.

Parte II – Nós simplesmente não podemos prever: 10. O escândalo da predição; 11. Como procurar titica de passarinho; 12. Epistemologia, um sonho; 13. Apelles, o pintor, ou o que você faz se não souber prever?

Parte III – Os cisnes cinzentos do extremistão: 14. Do mediocristão ao Extremistão; 15. A curva em forma de sino, a grande fraude intelectual; 16. A estética da aleatoriedade; 17. Os loucos de Locke, ou curvas na forma de sino nos lugares errados; 18. A incerteza do impostor.

Parte IV – Fim – 19. Meio a meio, ou como ficar com o Cisne Negro.

Epílogo: Os Cisnes Brancos de Yevgenia.

Glossário; Notas; Bibliografia.

O autor dedica-se a problemas relacionados à sorte, à incerteza, à probabilidade e ao conhecimento. Ele é Mestre e Doutor pela Universidade de Paris. E Decano de Ciências da Incerteza da Universidade de Massachusetts.

Segundo o The Guardian, “um estudo fascinante sobre como estamos constantemente à mercê do inesperado.” Eventos que possuem três características elementares: imprevisibilidade, resultados impactantes, tornado, após ocorrência, menos aleatório e mais explicável.

Um texto que ressalta a fragilidade dos nossos conhecimentos, onde apenas uma “gripezinha” pode invalidar pretensões majestáticas, arrogâncias cretinas e ambições políticas messiânicas.

Qual o objetivo do autor do livro?: abordar nossa cegueira em relação à aleatoriedade, particularmente os grandes desvios, ressaltando que “a vida é o efeito cumulativo de um punhado de choques significativos”. E ele conclui com muita propriedade: “A lógica do Cisne Negro torna o que você não sabe mais relevante do que aquilo que você sabe. … Observe sempre que a ocorrência de um evento altamente improvável é equivalente à não ocorrência de um evento altamente provável.”

No Glossário, alguns termos são explicados de modo bastante elucidativo, ensejando uma rápida identificação dos atores envolvidos na atual crise pandêmica mundial. Vejamos alguns:

Arrogância epistêmica – a diferença excessiva existente entre os que realmente sabem e o que alguém pensa que sabe. Um excesso que implica em déficit de humildade.

Epistemocrata – alguém com humildade epistêmica, que suspeita enormemente do próprio conhecimento.

Cegueira no futuro – incapacidade natural de levar em consideração as propriedades do futuro, que impede de considerar opiniões dos mais entendidos.

Estratégia barbell – método que consiste na adoção simultânea de uma atitude defensiva e de outra atitude excessivamente agressiva através da proteção de recursos de todas as fontes de incertezas.

Louco de Locke – alguém que raciocina rigorosa e impecavelmente a partir de premissas falhas.

Desdém do abstrato – favorecimento ao pensamento contextual diante de questões mais abstratas, que exigem posturas estratégicas consistentes.

Uma leitura que muito ampliará a enxergância sobre os pronunciamentos fingidos e bravateiros de alguns dirigentes nacional, das informações quantitativistas incompletas dos noticiários televisivos diários, das entrevistas merdálicas com os que anseiam uma aparecidinha nos informes midiáticos, dos descuidados que não sabem categorizar crenças emergentes de acordo com a plausibilidade delas, além dos informantes amplamente reconhecidos como “chatos de galocha”, como dizia a vó Zefinha, minha madrinha já eternizada.

A leitura atenta do livro facilitará muito saber bem identificar um nerd, diferenciando-o dos merds e bosters que estão nos jornais, rádios, televisões nacionais, palácios planaltinos, ministérios e Congresso Nacional, além de tribunais superiores e instituições religiosas, para não se estender demais neste final de texto.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 24 de março de 2020

PARA UMA QUARENTENA PROVEITOSA

 

PARA UMA QUARENTENA PROVEITOSA

Diante das declarações debilóides de um filho de presidente, que ansiava ser indicado Embostador do Brasil nos Estados Unidos, muito debilitando as atuais relações diplomáticas com a China, dos espalhafatos divulgados ultimamente pela mídia brasileira, sempre ansiosa por informes sensacionalistas, e da nota explicitamente babaovista do atual ministrinho das Relações Exteriores, deslustrando toda a diplomacia brasileira, a leitura de bons livros pode ser uma maneira recomendável de vivenciar quarentenas sem demonstrar afobações diante das mil e uma atuais dificuldades planetárias.

Sugeriria alguns textos para uma leitura sem precipitações conclusivas, nem ansiedades histéricas, tampouco as patetices recentes de um jovem já decrépito parlamentar:

1. JESUS DE NAZARÉ: UMA NARRATIVA DA VIDA E DAS PARÁBOLAS
Frederico Guilherme da Costa Kremer
Brasília DF, FEB, 2016, 371 p.

Uma abordagem espírita que relata os principais acontecimentos da trajetória do Nazareno relatados pelos evangelistas, ensejando uma melhor vivência das suas mensagens. Reflexões que poderão aquilatar com nitidez nossas atuais fragilidades espirituais, possibilitando encarar a verdade sem adornos nem sarambeladas fundamentalistas.

O autor é graduado em engenharia, trabalhando na Petrobras, tendo integrado o Núcleo da Cruzada dos Militares Espíritas, fundada por Carlos Torres Pastorino.

Uma leitura que atualiza a famosa questão contida em Lc 9,18: “Quem as multidões dizem que eu sou?” Que revela a existência de uma dimensão oculta nas parábolas do Homão da Galileia, nosso Irmão Libertador.

2. A EVOLUÇÃO CRIADORA
Henri Bergson
São Paulo, Martins Fontes, 2019, 398 p.

Leitura filosoficamente densa, a principal obra de Henri Bergson, Prêmio Nobel de Literatura de 1927. O livro, editado em 1907, representou a ruptura do autor com as principais correntes do fim do século XIX. Diante da apologia do saber científico, rigoroso, das rígidas leis do determinismo, Bergson afirmação que a totalidade tem a mesma natureza do indivíduo, de um movimento incessante, um impulso de liberdade criadora que transforma de forma irrefreável a matéria. O filósofo francês também discorre sobre o problema da existência humana e assevera que a mente – energia pura, impulso vital – é responsável por toda evolução orgânica.

SUMÁRIO:

Introdução; 1. Da evolução da vida, mecanismo e finalidade; 2. As direções divergentes da evolução da vida, torpor, inteligência, instinto; 3. Da significação da vida. A ordem da natureza e a forma da inteligência; 4. O mecanismo cinematográfico do pensamento e a ilusão mecanicista. Lance de olhos na história dos sistemas. O devir real e o falso evolucionismo.

Segundo Bergson, “a filosofia é a volta do espírito a si mesmo, a coincidência da consciência humana com o princípio vivo de onde emana, uma tomada de contato com o esforço criador.” Um livro que analisa o prolongamento da ciência, considerada um conjunto de verdades constatadas e demonstradas.

3. ALÉM DAS 95 TESES: A VIDA, O PENSAMENTO E O LEGADO DE MARTINHO LUTERO
Stephen J. Nichols
São José dos Campos SP, Fiel, 2017, 299 p.

O autor é PhD em História da Igreja pela Westminster Theological Seminary, presidente da Reformation Bible College.

SUMÁRIO

Introdução: O legado de Martinho Lutero; Parte 1: Lutero, uma Vida; Parte 2 – Lutero, o Reformador; Parte 3 – Lutero, o Pastor; Parte 4 – As 95 Teses de Lutero.

Um testemunho significativo: “Maravilhoso e interessante combinação de biografia, história e teologia. Se você não sentir o pulsar da Reforma nestas páginas, por favor verifique sua pressão arterial!” (Sinclair Ferguson, escritor)

Uma turnê sedutora da vida de Martinho Lutero (1483-1546), seus escritos e pensamentos, comemorando os 500 anos da afixação das 95 Teses na Porta do Castelo de Westminster.

4. O ESPIRITISMO PERANTE A CIÊNCIA
Gabriel Delanne
Limeira SP, Editora do Conhecimento, 2009, 364 p.

François-Marie Gabriel Delanne, um nascido na França, em 1857, conviveu sempre num ambiente familiar onde se estudava e praticava o espiritismo. Seus pais integravam um grupo de médiuns que periodicamente se reunia no lar para manter contatos com o plano espiritual.

Desenvolvido precocemente, já aos oito anos substituía seu pai em algumas reuniões, onde participava como adulto.

O escrito de Delanne possui uma profundidade científica isenta de pieguismos e dramatizações estéreis dos menos cultos, desenvolvido numa lógica perfeita, com ampla riqueza de exemplos e detalhes. Um trabalho que reconstitui com nitidez a história daquele período histórico despertador da humanidade.

SUMÁRIO:

Primeira parte – 1. Temos uma alma?; 2. O materialismo positivista.

Segunda parte – 1. O magnetismo, sua história; 2. O sonambulismo natural; 3. O sonambulismo magnético; 4. O hipnotismo; 5. Ensaio de teoria geral.

Terceira parte – 1. Provas da imortalidade da alma pela experiência; 2. As teorias dos incrédulos e o testemunho dos fatos; 3. As objeções.

Quarta parte – 1. Que é espiritismo; 2. Provas da existência do períspirito, sua utilidade, seu papel; 3. O períspirito durante a desencarnação, sua composição; 4. Hipótese.

Quinta parte – 1. Algumas observações preliminares; 2. Os médiuns escreventes; 3. Mediunidades sensoriais, médiuns videntes e médiuns auditivos; Apêndice.

Um livro fascinante, de leitura sedutora e enxergante, radicalmente necessário para os que almejam ampliar seus conhecimentos sobre as relações do aqui com o além.

5. ESPIRITISMO – RAZÃO COMO MÉTODO, MEDIUNIDADE COMO LABORATÓRIO, MORAL COMO OBJETIVO
Isvênia L. S. Prada
São Paulo, FE Editora Jornalística, 2019, 320 p.

Segundo a orelha primeira do livro lida por ele, “a inquietude psíquica do ser humano sempre foi combustível poderoso para impulsioná-lo, ao longo de toda sua trajetória evolutiva, em busca de respostas quanto à sua essência, sua origem e ao seu destino.”

SUMÁRIO:

Prefácio; Apresentação; 1. Espiritualismo e Espiritismo; 2. Estrutura e características da Doutrina Espírita; 3. Os livros da Codificação Espírita; 4. A mediunidade com laboratório; 5. Mediunidade e cérebro triúno; 6. A mediunidade através dos tempos; 7. Moral – Jesus é a referência; 8. É necessário viver de novo – a reencarnação. 9. Homenagem a um pioneiro, Caetano de Santis, avô da autora.

Segundo meu querido amigo Zequinha, o livro em muito consolidou seus conhecimentos científicos, filosóficos e morais, ampliando mais sua fé racionada.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 17 de março de 2020

AMPLIANDO ENXERGÂNCIAS

 

AMPLIANDO ENXERGÂNCIAS

Diante das pandemias reais ou fabricadas, deixando os sectários disputando nacos transitórios de mando, às vésperas de mais uma Semana Santa, relembremos uma inesquecível advertência do inolvidável Dom Hélder Câmara, sempre amado ex-arcebispo emérito de Olinda e Recife: “O Cristianismo que difundimos no Continente, atribuindo tudo a Deus e quase não apelando para a iniciativa e a responsabilidade do homem chamado, pelo Criador, a dominar a natureza, a completar a Criação, a conduzir a História, alimentou nas Massas latino-americanas um sentimento passivo, fatalista e mágico”.

Está na hora de todos, cristãos e não-cristãos, sem firulas egolátricas nem fricotes vitimistas, perseguirem uma auto avaliação corajosa, descobrindo seus pontos fracos, suas comunicações eletrônicas caluniosas e nada construtivas, suas agressividades para com os desvalidos e suas posturas midiáticas apenas marqueteiras, oferecendo sugestões que resultem em maiores aspirações para um desenvolvimento mais humano e solidário de todos os povos, capazes de convencer a maioria sem enganações nem protelações demagógicas.

Sempre se deve acreditar firmemente, na evolução da caminhada terrestre, embasando-se na orientação dada por Lucas 14,28: “Quem dentre vós, se quiser construir uma torre, primeiro não se assenta e calcula o preço, para ver se tem dinheiro para completá-la?”. O que talvez o apóstolo não avaliou na devida conta, os tempos eram bem outros, foi o agigantamento da cobiça delinquente na construção desses empreendimentos, hoje também captadores de muitos milhões de dólares ilegais por debaixo dos panos, iludindo idiotizados e desesperançados, que sempre imaginam soluções mágicas para velhos e cruciantes problemas mundiais, solucionáveis todos, se forem assimilados efetivamente as mensagens do Homão da Galileia, nosso Irmão Libertador.

Juntemos as sadias mentes dos cidadanizados do planeta, antes que vírus ainda mais destruidores emerjam nos amanhãs terrestres, sendo tarde demais. Saibamos compartilhar a criatividade empreendedora dos jovens de mentes sadias, compreendendo que os amanhãs já chegados serão muitíssimo diferenciados de um hoje que já se está indo embora, incentivado pela atual pandemia.

Uma crise só se torna saudável quando não se contenta em ser apenas um amontoado de críticas aos outros, mas quando se torna, oportunamente, um julgamento de si mesma. E isso somente advirá com mais efetividade através de uma promissora Educação Brasileira, favorecendo um PCC – Pensar Criativo Cidadão, erradicando os sinais da nossa atual desconstrução nacional: o racismo, a subserviência da nossa elite econômica aos mecanismos globais de dominação imperialista, o fundamentalismo religioso e o autoritarismo latente em todas as nossas classes sociais, todos sempre atentos para uma advertência famosa do educador Paulo Freire: “Todo cuidado para que o oprimido não se torne opressor”.

Para quem deseja ampliar mais sua enxergância futura, dois textos podem muito favorecer um caminhar brasileiro mais resoluto e consequente:

O primeiro é A GUERRA CONTRA O BRASIL, Jessé Souza, Rio de Janeiro, Estação Brasil, 2020, 208p. O autor é graduado em Direito, Mestre em Sociologia pela USP e também PhD em Sociologia pela Universidade de Heidelberg, Alemanha. E ainda Pós-Doutor em Psicanálise e Filosofia pela The New School for Social Research, New York.

O livro analisa o a união do poderia norte-americano com o crime organizado no Brasil para destruir a sociedade e o Estado brasileiros, tudo integrando um projeto mundial de poder planejado em mínimos detalhes. Diz a primeira orelha do livro: “Esta é uma leitura para quem acredita que os fatos do mundo não são obra do acaso, como quer nos fazer crer uma imprensa que isola os fatos e fragmenta a realidade para torná-la incompreensível. … Este mundo tem donos que efetivamente conspiram, todos os dias, para reproduzir seus privilégios e explorar os que foram feitos de tolos. Geralmente, tolos são os que acreditam no acaso e na coincidência.”

Um texto analítico que ressalta as precondições históricas que ensejaram as dominações pretendidas pelos portentosos do momento. Ele é composto de três partes, além de uma Introdução: A construção da ideologia do imperialismo informal americano; A elite colonizada brasileira e sua estratégia: a transformação do racismo em moralismo; e As metamorfoses do neoliberalismo.

Um livro que desnuda fingidos cinismos executivos travestido de combatividade à corrupção.

O segundo livro é A TIRANIA DOS ESPECIALISTAS: DESDE A REVOLTA DAS ELITES DO PT ATÉ A REVOLTA DO SUBSOLO DE OLAVO DE CARVALHO, Martin Vasques da Cunha, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2019, 192 p. O autor é PhD em Filosofia Política pela Universidade de São Paulo.

O livro é composto de oito ensaios: 1. Os testamentos traídos; 2. A abolição da vergonha; 3. A tirania dos especialistas; 4. Em busca do eros perdido; 5. A tragédia da política; 6. O impasse da esquerda; 7. As ruínas circulares; 8. As máscaras do exílio.

No primeiro ensaio, um último parágrafo: “Portanto, pouco importa o que aconteça no futuro. Mesmo com o lento desaparecimento do ‘marxismo ocidental’, conforme a expectativa dos atuais céticos, chegará a hora em que a política da fé, como sempre, cumprirá seu papel efetivo para que uma administração faça o que tem de fazer – a saber: governar para o Bem Comum.

Ensaios que ressaltam o quietismo político dos alienados, a tirania dos especialistas, a ilusão tecnocrática e a política do cretinismo cênico.

Leituras deveras contundentes, mas que consolidam enxergâncias muitos pontos acima das palhaçais bananas dos que se imaginam eternos no poder.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 10 de março de 2020

PERDA DA FÉ

 

PERDA DA FÉ

Na história do século XX, um tema encontrou múltiplos prognósticos e interpretações: a perda da fé. Os avanços científicos demonstraram que a origem da Terra datava de muitos bilhões de anos, não apenas os seis mil anos declarados num texto sagrado, embora o atual presidente da CAPES do Brasil creia firmemente que ela não é redonda, apenas do jeitão de uma moeda.

Os métodos críticos utilizados nas análises dos textos evangélicos revelaram que uma parte da vida do Nazareno não era histórica, apenas mitos, lendas e acontecimentos acrescentados muito tempo depois da sua passagem entre nós.

Qual a consequência dessa não evolução religiosa? Alguns se refugiaram no tradicionalismo e no fundamentalismo, outros permaneceram com uma fé vaga e insatisfatória, inúmeros se afastaram ou simplesmente se desorientaram.

Em pleno terceiro milênio, no entanto, um fato tornou-se evidente: é impraticável vivenciar uma fé de maneira irrefletida, respaldado nos não mais consistentes dogmas das denominações religiosas, tampouco nas verdades literais contidas nos livros sagrados.

Relegadas as instituições, muitos buscaram ampliar uma espiritualidade consequente, numa transcendência revigorada pelas leituras e pesquisas que reexaminaram textos antigos, como os Manuscritos do Mar Morto e a Biblioteca de Nag Hammadi, exemplos recentes mais notáveis. E inúmeros estão se interessando pelo que se chama gnose, uma palavra grega que significa conhecimento, um conhecimento muito específico, um conhecimento intuitivo direto que ultrapassa os níveis da razão comum, proporcionando uma consistente libertação espiritual.

E o conhecimento que libera a consciência é denominado muitas vezes de esotérico, outra palavra que vem do grego e que quer dizer “mais além”. Segundo os especialistas, o esoterismo ensina que há um mundo muito rico dentro de nós, o além sendo escalonado em níveis múltiplos, tal e qual apregoado pelo Galileu em João 14,2: “Na casa de meu Pai há muitos lugares para morar”.

Alguns analistas fazem uma distinção entre esotérico e místico. O esotérico se define como aquele que se interessa por diversos níveis de consciência e do ser. O místico enfoca mais como chegar a Deus de um modo mais direto e imediato. O místico tende a uma maior passividade, enquanto o esotérico busca aprender algo dos cenários ao longo da caminhada. Em outras palavras: o místico é portador de uma “silenciosa espera por Deus”, enquanto o esotérico se dedica a uma investigação ativa na sua caminhada para Deus.

O esoterismo sustenta que a Bíblia deve ser lida em vários níveis diferenciados, onde apenas um é literal. E foi Orígenes, padre da Igreja do século XIII quem escreveu: “Muitos erros foram cometidos porque um grande número de leitores ainda não descobriu o método correto de examinar os textos sagrados, pois têm o hábito de seguir a letra nua…”

A frase “A Verdade vos libertará” não será a expressão de uma contemporaneidade exemplar? Para todos aqueles seres humanos que buscam consolidar sua fé, um livro afirma categoricamente que a ciência, embora cada vez mais ampla, não basta para esclarecer o que se manifesta nos territórios etéreos:

EVOLUÇÃO ANÍMICA – ENSAIOS DE PSICOLOGIA FISIOLÓGICA SEGUNDO O ESPIRITISMO – Gabriel Delanne – Limeira SP, Editora do Conhecimento, 2008, 239 p.

Um escrito editado em francês, onde o autor (1857-1926), personalidade de ligação muito significativa com Allan Kardec, que o chamava carinhosamente de “meu mestre”, tem o seguinte Sumário: Introdução; 1. A vida; 2. A alma animal; 3. Como o períspirito pôde adquirir suas propriedades funcionais; 4. A memória e as personalidades múltiplas; 5. O papel da alma do ponto de vista da reencarnação; 6. O Universo; Conclusão.

Na Introdução, Delanne é categórico: “É chegada a hora de reagir energicamente contra os sofismas pseudo-sábios , que orgulhosamente decretaram que a morte é incognoscível e, derrubando todos os entraves que pretenderam opor à investigação do além, poderemos afirmar que a sobrevivência e a imortalidade do princípio pensante são verdades demonstráveis com incontestável rigor.” E mais: “Os novos conhecimentos, que devemos às inteligências extraterrenas, ajudam-nos a compreender toda uma categoria de fenômenos psicológicos e psíquicos, que sem eles são inexplicáveis.” E foi além: “No dia em que a ciência se convencer da verdade da nossa doutrina, ocorrerá uma verdadeira revolução nos métodos por ela preconizados.”

Desde então, os véus estão sendo sucessivamente rasgados. Novos horizontes se estão abrindo para amanhãs da humanidade mais radiantes, onde a fraternidade seguramente imperará, sem discriminações de espécie alguma, todos sendo portadores de uma fé racionada amplamente libertadora, conforme promessa feita pelo Homão da Galileia, nosso muito amado Irmão Libertador.

O escrito do Delanne, do século XIX, guarda uma impressionante atualidade, tornado um texto que vale a pena ser analisado e refletido nos tempos de agora.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 03 de março de 2020

PARA DEBATES RECONSTRUTORES

 

PARA DEBATES RECONSTRUTORES

Diante do besteirol idiotizante que se agigantou nos últimos tempos no cenário brasileiro, onde atitudes as mais estapafúrdias se notabilizaram pelas vias internéticas, a mais espetaculosa delas foi aquela que aconselhava “fazer cocô dia sim, dia não para preservar o meio ambiente”, amigos que se reúnem mensalmente para um almoço fraternal resolveram se indagar sobre que leituras deveriam ser indicadas para debates que possibilitassem, sem bravatas, pieguismos religiosos, histerias abilolantes, posturas ideológicas sectárias extremistas e fajutadas messiânicas, a reconstrução socioeconômica do Brasil, até bem pouco um país respeitado internacionalmente, hoje motivo de pilhérias e charges nos quatro cantos do planeta, um quase continente encharcado de dirigentes dotados de incultas bocas frouxas, travestidos de mandatários.

Foi recomendado, depois de boas sugestões, a leitura atenta, quiçá grupal, de um livro recentemente editado pela LVM Editora: Lacerda: a virtude da polêmica, Lucas Berlanza, 2019, 336 p. Na Introdução, uma explicação segura do escritor Antônio Paim: “O Brasil já há muito convive com demagogos, populistas, falsários, vendedores de sonhos, que seduzem com seu palavrório eivado de jargões venenosamente simpáticos, direcionam a devoção e a ingenuidade do público em favor de seus projetos de poder”.

Um pouquinho além da metade do século XX, 1963, Carlos Lacerda escreveu com bravura e intrepidez: “esses agentes da mentira atuam como ventríloquos de si mesmos, obrigam-se a emprestar ideias e até gramática aos aventureiros e desonestos para os quais o comunismo, hoje, como ontem o fascismo, é um pretexto para tomar a carteira do público, enquanto o público, de nariz para cima, contempla, cintilante, a Ideologia”.

No livro, o autor Berlanza avalia o ex-governador da Guanabara: “É um ícone do conservadorismo e do liberalismo no Brasil, em sua luta contra o comunismo e o populismo autoritário; porém, mesclado, com alguns excessos e incongruências ao regime de 64, é apagado, defenestrado e diminuído, e muitos porta-vozes da direita moderna parecem ter extremo pudor em assumir qualquer inspiração nele, em fazer qualquer referência a ele”.

O objetivo do livro, ainda segundo Paim, é “mostrar que o lacerdismo não é nem de longe um bicho feio e obscuro que pintam e que a direita nacional pode colecionar referências no passado do próprio Brasil – sem o que será um esforço de transposição de teses estrangeiras pairando ineficazes sobre o mundo. É oferecer um primeiro antídoto contra a mentira e a tirania do silêncio imposto à sua memória, bem como ao espaço a ser merecidamente cultivado por seus admiradores”.

Sobre município, Lacerda assim se expressou: “No município se forma a consciência nacional. Atualmente, a União é rica, o estado é pobre e o município paupérrimo. É preciso inverter a ordem, tornar rico o município, dar-lhe força econômica e administrativa. Somente à base de um municipalismo autêntico será possível resolver nossos problemas”.

Se Lacerda vivesse hoje perceberia a imensa proletarização municipal da nação brasileira, armadilha que preserva a postura de mando de corruptos e demagogos, incompetentes e aproveitadores inclementes do erário público, através de oligarquias rurais, algumas fingidamente progressistas.

Carlos Frederico Werneck de Lacerda, um nascido em 30 de abril de 1914 no Rio de Janeiro, embora registrado em Vassouras, eternizou-se em 21 de maio de 1977, fulminado por um infarto do miocárdio. E o autor Lucas Berlanza assim o sintetiza: “O Carlos Lacerda serve de inspiração por seus erros, cometidos em geral em defesa das mesmas causas que hoje defendemos, para que não os repitamos; e também por seus acertos, os resultados positivos de sua batalha e sua disposição pela grandeza. … Para seguir adiante é olhar o que os grandes já fizeram e, diante deles, galgar novos degraus”.

A leitura do livro, com posteriores debates grupais serenamente explicitados, é vacina mais que efetiva contra os que se imaginam donos da verdade, que demagogicamente sugerem defecar dia sim, dia não, para favorecer o meio ambiente nacional.

Espero que todos, ao final da leitura em grupo, reverenciem George Bernanos, quando ele dizia que “nada no mundo se compara à cólera dos imbecis”.

Vale a pena também o grupo conhecer mais detalhes do passado planetário, evitando repetições futuras que ensombrearão os horizontes libertários historicamente soberanos, para gáudio de nossos descendentes. Para tanto, todos deverão dar uma vista d’olhos no texto memorável Era dos Extremos: o breve século XX (1914-1991), Eric J. Hobsbawn, São Paulo, Companhia das Letras, 1995, onde se encontra o seguinte texto: “As pessoas de classe média escolhiam sua política de acordo com seus temores. … As condições ideais para o triunfo da ultradireita alucinada eram um Estado velho, com seus mecanismos dirigentes não mais funcionando, uma massa de cidadãos desencantados, desorientados e descontentes, não mais sabendo a quem ser leais.”

Na atual conjuntura brasileira, tudo faz crer que a representação dos indignados estabelecerá as maiorias nas próximas eleições municipais, nos impulsionando para amanhãs talvez mais nobilitantes. Defenestrando as esquerdopatias e os messianismos sempre desnobilíssimos dos nunca comandantes.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 25 de fevereiro de 2020

SUSTANÇAS COGNITIVAS MAIS QUE ÓTIMAS

 

 

SUSTANÇAS COGNITIVAS MAIS QUE ÓTIMAS

 

Programe-se para ler, depois de passadas as bbbósticas exibições carnavalescas televisivas, uns textos cidadanizadores, desses que ampliam enxergâncias e cidadanias de uma gente que ainda não atingiu um patamar mínimo civilizatório capaz de promover uma redistribuição de renda menos vexaminosa que a atual, uma das mais perversas do planeta. Leituras recomendadas para gregos e troianos, crentes e não-crentes, a cuca bem antenada sendo o único sinal para uma salutar apreendência.

1. JESUS: A BIOGRAFIA, Jean-Christian Petitfils, São Paulo, Benvirá, 2015, 528 p.

Embora Jesus não tenha deixado nada por escrito, nenhuma pesquisador histórico contemporâneo duvida da sua existência: um judeu pregador itinerante que percorria a Galileia e a Judeia, condenado à morte por instigar o alto clero de Jerusalém, sendo crucificado às portas da Cidade Santa por ordem do governador romana Pôncio Pilatos.

Alguns questionamentos, entretanto, até hoje persistem: O que sabemos sobre o conjunto da sua vida? Como ele era visto por seus conterrâneos? Por qual motivo foi executado? Teria sido ele o verdadeiro fundador do cristianismo? Quem terá sido ele: um profeta, um reformador judeu, o Messias esperado por Israel ou o filho de Deus?

O livro ainda tem sete anexos: I. As fontes exteriores; II. Os evangelhos sinópticos; III. João Evangelista, testemunha da história; IV. Historicidade dos evangelhos; V. O Qumran e os manuscritos do Mar Morto; VI. As relíquias da Paixão; VII. Cronologia. E ainda Indicações Bibliográficas e Índice Onomástico.

A biografia de Jesus retrata o maior personagem da história da humanidade sob um viés histórico, reintegrando-o no ambiente religioso, cultural e político da Palestina daquela época.

2. HISTÓRIA DA AMAZÔNIA: DO PERÍODO PRÉ-COLONIAL AOS DESAFIOS DO SÉCULO XXI – Márcio Souza -Rio de Janeiro, Record, 2019, 391 p.

Um relato que interessa a todos os brasileiros, posto que a região não é apenas uma geografia e sua história, mas um viveiro de criaturas exóticas de futuro incerto. Seguramente um espaço onde a humanidade pode aprender um pouco mais sobre si mesma.

O livro escrito por autor consagrado é uma síntese reveladora da complexidade de um processo histórico, explicitada a partir de dentro.

SUMÁRIO: Introdução; 1. Geografia do subcontinente; 2. A Amazônia antes dos europeus (15.000 a.C. – 1.500 d.C.); 3. A conquista; 4. A colonização; 5. Soldados, cientistas e viajantes; 6. A Amazônia e o Império do Brasil; 7. A Cabanagem; 8. O ciclo da borracha; 9. A sociedade extrativista; 10. A fronteira econômica; Bibliografia; Índice Onomástico.

3. D. PEDRO II: O ÚLTIMO IMPERADOR DO NOVO MUNDO REVELADO POR CARTAS E DOCUMENTOS INÉDITOS – Paulo Rezzutti – São Paulo, LeYa, 2019, 576 p.

Através de gestos e palavras pesquisadas pelo autor, uma notável biografia de um dos mais importantes, ricos e complexos personagens da nossa história. Uma biografia que prende o leitor das primeiras linhas até a última, revelando o homem que acreditava na educação e defendia a Abolição, sendo banido do país com a chegada da República.

SUMÁRIO: Prólogo; I. Infância e Adolescência (1825-1840); II. O imperador e o Brasil (1840-1864); III. O imperador e o mundo (1889-1891); Anexo: Fé de Ofício; Cronologia; Bibliografia.

Relatos ainda não contados dos bastidores do 15 de Novembro de1889. Leitura apaixonante da primeira à última linha.

4. O FUTURO DE DEUS: UM GUIA ESPIRITUAL PARA NOVOS TEMPOS – Deepak Chopra – São Paulo, Planeta, 2015, 286 p.

SUMÁRIO: Prólogo; Por que Deus tem futuro?; Deus é um verbo, não um substantivo; O caminho para Deus – Etapas 1 – Descrença; Etapa 2 – Fé; Etapa 3 – Conhecimento; Epílogo: Vislumbrando Deus.

O autor, um especialista em endocrinologia, fundou, em 1985, a Associação Americana de Medicina Védica. É autor de 25 livros traduzidos em 35 idiomas, o médico hindu é sempre figura obrigatória nos debates onde se debate sobre espiritualidade. A revista Time o considerou uma das 100 personalidades do século XX, classificando-o de poeta e profeta das medicinas alternativas.

No livro, ele nos convida para uma viagem do espírito, oferecendo um caminho prático para a compreensão de Deus e do nosso lugar no universo, incentivando-nos para um momento de renovação, posto que o agora é o futuro.

Um texto confiável para todos aqueles que buscam a Deus mesmo em tempos confusos como os atuais. E Chopra procura responder uma questão das mais significativas do presente século: o que será necessário para dar às pessoas uma vida espiritual mais poderosa que a oferecida pela religiões atuais?

5. EM TORNO DO MESTRE – Vinicius (1878-1966) – Brasília, FEB, 9ª. edição, 2019, 462 p.

O autor, Pedro de Camargo, conhecido por Vinicius, um pseudônimo que adotou e usou por mais de 50 anos, nasceu em Piracicaba, São Paulo, transferindo-se em 1938 para a capital, onde desenvolveu um programa evangélico de grande proveito para os kardecistas.

No prefácio da 2ª edição: ”Vinicius faz jus ao título de pedagogo. É o que afirmam suas numerosas obras e teses magistrais, girando os assuntos invariavelmente em torno de uma ideia central que é o esclarecimento, a formação moral e espiritual de seus semelhantes.

As 135 mensagens do autor objetivam uma única meta: tornar acessível a Mensagem de Jesus para todos aqueles que buscam melhor entender as mensagens do Homão.

Um livro para a cabeceira da cama, para o Evangelho no Lar, para ser utilizados nas exposições doutrinárias, direcionando todos na direção da Luz e do Bem.

 

 


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 18 de fevereiro de 2020

HERÓIS DE GUERRA

 

HERÓIS DE GUERRA

Há fatos reais que enobrecem a raça humana, exemplos concretos contra as pusilanimidades dos descuecados que se urinam todos diante dos travestidos de donos do pedaço, borrando-se todo nas calças diante das ordens fétidas dos chefetes mequetrefes mal encarados. Durante a Segunda Guerra Mundial, quando da instalação dos criminosos do III Reich no poder, um jovem dinamarquês, Knud Pederson, de apenas 15 anos, juntamente com seu irmão e mais um punhado de colegas, resolveu enfrentar os nazistas, diante das subserviências cagônicas dos dirigentes patrícios. E fundaram o Clube Churchill para enfrentarem os assassinos comandados por Adolfo Hitler, ajudando, pelo exemplo de heroísmo, a desencadear uma resistência generalizada na Dinamarca. Toda a epopeia dos adolescentes foi registrada em livro, no Brasil sendo editado sob título OS GAROTOS DINAMARQUESES QUE DESAFIARAM HITLER, Phillip M. Hoose, São Paulo, Vestígio, 2020, 222 p.

A história do livro acima é digna de ser lida e contada. No verão de 2000, o autor Hoose, fazendo um tour de bicicleta pela Dinamarca, fez uma visita ao Museu da Resistência Dinamarquesa, em Copenhague, capital do país. Em um dos cantos do museu, ele deparou-se com uma mostra denominada O Clube Churchill, contendo fotos, narrando a história de um grupo de adolescentes dinamarqueses da cidade de Odense, a terceira cidade do país, que promoveram uma heroica resistência ao truculento regime nazista.

Durante a visita de Hoose ao Museu, o curador do museu lhe informou que alguns dos meninos – agora idosos – ainda continuavam vivos, inclusive Knud Pedersen, o mais conhecido e o mais bem informado de todos sobre a resistência praticada pelos jovens e que atualmente o antigo resistente adolescente administrava uma biblioteca de artes no centro da cidade. E o próprio curador forneceu o e-mail do Pederson. Em setembro de 2012, o autor e sua senhora desembarcavam em Copenhague, para conhecer Pederson e iniciar uma série de entrevistas gravadas, narrando os feitos da resistência heroica acontecida.

A invasão da Dinamarca aconteceu em 9 de abril de 1940, quando, ao final da tarde daquele dia, 16 mil alemães já se haviam implantados em solo dinamarquês, prometendo dias melhores para todos, anestesiando muitos comerciantes, inclusive em Odense, onde cretinos vibraram muito em vender cerveja e tortas às tropas invasoras.

Embora pequena, a Dinamarca era muito valorizada pelo regime nazista, pois dispunha de uma malha ferroviária de primeira qualidade, que serviria para transporte de minério de ferro da Noruega e da Suécia, indispensável para fabricação do arsenal bélico do III Reich. Além disso, Hitler enxergava o povo dinamarquês como uma gente perfeitamente inserida na raça superior, imaginando a Dinamarca como uma sócia-fundadora de uma elite governante mundial.

Em Odensen, no entanto, um grupo de jovens, leitores diários de jornais, tomavam conhecimento da invasão também havida na Noruega, onde milhares de noruegueses foram barbaramente assassinados pelos nazistas, lá tendo sido implantada férrea censura aos meios de comunicação. Mas os noruegueses continuavam bravamente resistindo, diferentemente dos principais dirigentes públicos dinamarqueses, o rei Christian X e o primeiro-ministro Thorvald Stauning, que tinham se subordinados mediocremente à dominação. Tais notícias despertaram os ânimos dos adolescentes na direção da promoção de estratégias de também resistir aos assassinos invasores, muito envergonhados das suas autoridades públicas.

A leitura do livro é deveras sedutora, e também restauradora, para todos aqueles que se imaginam sem esperança nos amanhãs de uma humanidade alienada e que facilmente adere às ideologias mais esdrúxulas, histórica e amplamente superadas. E que se queda docilmente aos ditames de demagogos e populistas rabos de cabra, incultos e ananzados, capitães que jamais serão generais nas reestruturações planetárias democráticas exigidas pelas atuais circunstâncias históricas.

Os testemunhos acerca dos acontecidos valem a pena ser registrados neste canto de site:

“Esses adolescentes arriscaram tudo – e perderam muito. Esta eletrizante obra de não ficção vai agitar os corações de leitores de todas as idades.” (The Wall Street Journal)

“Um poderoso testemunho dos atos de bravura desses jovens, que se arriscaram a vida pelo seu país.” (The Washington Post)

“Uma notável história real, contada com primor.” (Kirkus Reviews)

Na contra capa uma panorâmica: “Batizando seu clube secreto com o nome do impetuoso líder britânico, os jovens patriotas do Clube Churchill cometeram incontáveis atos de sabotagem, despertando a fúria dos alemães, que acabaram identificando e prendendo os garotos. Mas seus esforços não foram em vão: as façanhas do clube e a captura dos seus membros ajudaram a desencadear uma resistência generalizada na Dinamarca.”

O autor Hoose desenvolve, no livro, uma sedutora metodologia: intercala sua própria narrativa com as memórias pessoais de Knud Peterson, que conta a história inspiradora de um grupo de jovens heróis de guerra.

Vale a pena rememorar heroísmos para execrar frouxidões e disenterias cívicas, morais e religiosas em um mundo há décadas muito apalermado por hedonismos e individualismos terrivelmente viróticos.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 11 de fevereiro de 2020

LEITURAS SADIAS PARA O PERÍODO MOMESCO

 

 

LEITURAS SADIAS PARA O PERÍODO MOMESCO

Para os que ficarão bem longe da folia de Momo, preparando-se para um início de ano que se iniciará após a quarta-feira de Cinzas, uma atividade bastante provocante: fixar os olhos para o céu numa noite estrelada e buscar respostas para uma série de indagações existenciais: Que lugar ocupo no espaço?, O que tudo isso significa?, Como isso tudo teve início? Como isso funciona?, Que papel exercemos nesse processo?, Que fim tudo isso terá?, Quem organizou o Cosmo? E quem pode elucidar tudo isso, sem apelar para raciocínios eruditos de alta complexidade, em capítulos enxutos, próprios para todos os curiosos que não possuem tempos disponíveis extensos para pesquisas exploratórias e outras elucubrações mentais quilométricas.

Dois textos significativos por derradeiro:

O primeiro é bastante elucidativo, de autoria de aclamado astrofísico-pesquisador, escrito especialmente para os avexados de carteirinha, poderá ser um bom começo para os primeiros passos elucidativos na aquisição de um conhecimento fundamental das descobertas relacionadas ao universo. Ei-lo:

ASTROFÍSICA PARA APRESSADOS
Neil deGrasse Tyson
São Paulo, Planeta, 2017, 180 p.

O autor, astrofísico do Museu Americano de História Natural de New York, também diretor do Planetário Hayden, tem bacharelado em física pela Harvard University e doutorado em astrofísica em Colúmbia.

O livro tem o seguinte Sumário: Prefácio; 1. A maior história já contada; 2. Na Terra como no céu; 3. Faça-se a luz; 4. Entre as galáxias; 5. Matéria escura; 6. Energia escura; 7. O cosmo na tabela; 8. Sobre ser redondo; 9. Luz invisível; 10. Reflexões sobre a perspectiva cósmica.

No prefácio, o autor incentiva: “Com este pequeno livro você ganhará uma fluência básica em todas as principais ideias e descobertas que conduzem nossa moderna compreensão do universo. Caso eu tenha sucesso, você ficará culturalmente familiarizado com minha área de especialização e sedento por mais.”

O segundo é de autoria de um cientista brasileiro de renome internacional, docente de filosofia natural, de física e de astronomia na Dartmouth College, USA. Em 2019, ganhou o Prêmio Templeton, considerado o “Nobel da espiritualidade”, sendo o primeiro latino-americano a receber tamanho galardão:

O CALDEIRÃO AZUL: O UNIVERSO, O HOMEM E SEU ESPÍRITO
Marcelo Gleiser
Rio de Janeiro, Record, 2019, 5ª. edição, 223 p.

Diz uma das orelhas: “Os ensaios aqui reunidos são fruto da reflexão de Marcelo Gleiser sobre as questões que considera mais relevantes para o momento atual: nossa relação com o planeta e suas criaturas, com os membros da sociedade em que vivemos, e com a tecnologia, que está transformando, com velocidade impressionante, quem somos e como nos relacionamos.” E diz mais: “Gleiser nos lembra que a ciência, aliada à busca por respostas e ao fascínio pelo mistério que nos cerca, pode ser usada tanto como ponte para um mundo melhor, como para construir a pior distopia imaginável.” Caberá, então, à Cidadania Planetária, decidir sobre os amanhãs que desejamos, respeitadas as diferenças de pensar de cada um, sempre abertos diante dos que pensam de outras formas. Sempre se pautando sob a reflexão do extraordinário Albert Einstein: “Em cada explorador da Natureza encontramos uma reverência religiosa.”

O livro do Gleiser se encontra desenvolvido em quatro partes: I – Ciência e Espiritualidade; II – A Importância de Ser Humano; III – Um Mundo em Crise; IV – O Futuro da Humanidade.

É deveras significativa a Parte III, composta de ensaios que devem ser lidos com ampla acuidade mental, sinceridade de uma militância cósmica socialmente progressista e releituras recheadas de novos compromissos para com a Paz Mundial.

Na primeiro deles – Holocausto nuclear: história e futuro -, o autor denomina de Destruição Mútua Assegurada, o que aconteceria se as grandes potências nucleares do mundo entrassem em conflito aberto. E revela um dado impressionante: “No auge da Guerra Fria, os EEUU tinham 1.054 mísseis balísticos internacionais e 656 mísseis nucleares detonáveis armados em submarinos. E hoje, vários países fazem parte desse clube de armas atômicas: EEUU, China, Grã-Bretanha, Israel, África do Sul, Índia e Paquistão. E quanto maior o número de países com armamentos nucleares, maior o risco de conflito.

No segundo ensaios – Predação Planetária -, Gleiser ressalta a urgente necessidade de cuidados especiais com o aquecimento global e a qualidade da água. E ele estabelece uma indispensável regra existencial ética: “trate todas as formas de vida como quer ser tratado; trate do planeta como quer que sua casa seja tratada.”

Os dois últimos ensaios, significativos e complementares aos dois primeiros ressaltam os amanhãs que inúmeros não querem ver, alienados ou comprometidos com forças econômicas que apenas contabilizam lucros, pouco importando os modos de conseguir. A fome levará milhões para longe de seus pagos de nascença, o derretimento do gelo no Ártico liberará incalculáveis quantidades de gás metano na atmosfera, atingindo níveis 34 vezes maior que os atuais, até o final do século, e a acidificação dos oceanos, destruindo um quarto da vida marinha, exigirão soluções, a exigir preliminarmente uma mudança radical de mentalidade.

Na parte IV, o fenômeno do “transumanismo”, a junção do humano com a máquina, é estudado, ressaltando-se atenção redobrada para o documentário Uma verdade inconveniente, do Al Gore, vencedor de dois Oscars. Um documentário que foi manchete mundial, hoje relegado ao baú do esquecimento pelos alienados dirigentes mundiais, amplamente carentes de um humanismo século XXI, amplamente despreocupados com as ditaduras digitais que se avolumam pelos quatro cantos da terra.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 04 de fevereiro de 2020

JORNADAS DE RESGATES

 

JORNADAS DE RESGATES

Recebi da Sissa, minha inspiração diária, antecipando a estadia no Portal de Gravatá no Carnaval, o romance mediúnico Nas Trilhas do Umbral – Eulália, Mônica Aguieiras Cortat, Capivari-SP, Editora EME, 2019, 200 p., com uma dedicatória que muito me sensibilizou, significando uma postura comportamental equilibrada sem fricotes nem exageros. A autora do livro, médium natural de Vitória, ES, é formada em administração de empresas, pós-graduada em contabilidade. Autora premiada, escreve desde os 13 anos, também sendo autora de dois CDs bastante aplaudidos nos quatro cantos do Brasil.

Na Introdução, Ariel, o mentor espiritual da autora, explica o que é um umbral: “transposição entre o mundo dos vivos e a espiritualidade, vão da porta entre essas duas realidades, que parecem tão diferentes, mas não passam de uma continuação eterna do caminho na imortalidade para o espírito. É o lugar para onde vão aqueles que se sentem perdidos, deslocados, culpados ou infelizes de alguma forma”. E esclarece: “Como espíritas, não podemos aceitar a eternidade das penas, se acreditamos num Deus infinitamente superior, expressão de bondade e amor absolutos. Nosso Pai amoroso quer que o filho aprenda e evolua. Por isso, a dádiva da reencarnação”.

Para quem não está familiarizado com o linguajar kardecista, sugerimos um suporte valioso: o dicionário O Espiritismo de A a Z, 4ª. edição, coordenado pelo Geraldo Campetti Sobrinho, Brasília, Federação Espírita Brasileira, 2013, 964 p., onde encontramos os seguintes esclarecimentos do que seja umbral: “dolorosa região de sombras, erguida e cultivada pela mente humana, em geral rebelde e ociosa, desvairada e enfermiça”. E mais: “É a zona obscura de quantos no mundo não se resolveram a atravessar as portas dos deveres sagrados, a fim de cumpri-los, demorando-se no vale da indecisão ou no pântano dos erros numerosos”. Ou ainda: “Funciona como região destinada a esgotamento de resíduos mentais, uma espécie de zona purgatorial, onde se queima a prestações o material deteriorado das ilusões que a criatura adquiriu por atacado, menosprezado o sublime ensejo de uma existência terrena”.

Na trama desenvolvida no livro Nas Trilhas do Umbral, Fabrício, um suicida, é procurado por pessoas solidárias, que o buscam, atendendo solicitações aflitivas de sua mãe. Um romance que norteia, balizando, os desorientados e potencialmente adeptos da morte voluntária. Uma leitura que favorece meditações múltiplas sobre a capacidade de favorecer “enxergâncias” mais consistentes sobre atos impensados, que retardam caminhadas na direção da Luz.

Para os que buscam também aprofundar o conhecimento sobre mortes voluntárias, recomendaria também a leitura do estudo História do Suicídio: a sociedade ocidental diante da morte voluntária, de George Minois, editado pela Editora Unesp, 2018, 414 p., onde o autor analisa a grande ausência, nos estudos historiográficos dos anos 1970 e 1980, da chamada morte voluntária. Uma lacuna que é explicada por causas documentais: as fontes que fazem referência às mortes voluntárias são diferentes das que relatam as mortes naturais, pois os suicidas não tinham direito ao sepultamento religioso, os obituários paroquiais não possuindo qualquer registro. Além da morte voluntária ser um tipo de óbito cujo significado não é de ordem demográfica, mas filosófica, religiosa, moral, cultural, instaurando um clima de mal-estar em torno dela. Pois Albert Camus já escrevia: “Só existe um problema filosófico realmente sério: é o suicídio”. E mais: “É preciso seguir e compreender esse jogo mortal que leva da lucidez diante da existência à fuga para longe da luz”.

O livro de Georges Minois possui o seguinte sumário: Introdução; 1. As nuances do suicídio na Idade Média; 2. A herança medieval: entre loucura e desespero; 3. A herança antiga: saber se retirar a tempo; 4. Primeiro renascimento: uma questão formulada, depois abafada; 5. Ser ou não ser? A primeira crise da consciência europeia (1580-1620); 6. A resposta das autoridades no século XVII: a repressão do suicídio; 7. Persistência do problema e substitutos do suicídio no século XVII; 8. A origem da “doença inglesa” (1680-1720); 9. O debate sobre o suicídio no século das luzes: da moral à medicina; 10. A elite: do suicídio filosófico ao suicídio romântico; 11. A persistência do suicídio entre o povo; Epílogo: Da revolução ao século XX, ou do livre debate ao silêncio.

No livro Nas Trilhas do Umbral, a autora reproduz a informação recebida do Espírito Ariel, de que no umbral, o egoísmo é intenso, suplanta a razão, enevoa o raciocínio, e a solidão é dura e intransponível. E conclui que quanto mais perverso é o ser, mais vazio ele é, e mais orgulhoso ele se torna.

Que vacina eficaz pode-se tomar para combater efetivamente os egoísmos que ampliam o orgulho e se revestem de infelicidade fatídica? O Emmanuel, também Espírito, nos dá a Oração do Socorro, para mim um verdadeiro bálsamo. Ei-la para todos os que estão lendo esta crônica:

Nas horas serenas,
Agradecer a Deus.
Nos momentos de crise,
Confiar em Deus.
Nos problemas da vida,
Soluções em Deus.
Ante injúrias e golpes,
Silêncio e fé em Deus.
Nos erros e nas falhas,
Recomeçar em Deus.

No mais, seguir adiante, sempre confiante no Jesus que se encontra em nosso interior de seres humanos incompletos direcionados para a Luz.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 28 de janeiro de 2020

TEXTOS BÍBLICOS: UMA COLEÇÃO VALIOSA

 

 

UMA COLEÇÃO VALIOSA

Acabo de receber pelos Correios o sétimo e último volume da coleção O Evangelho por Emmanuel, Comentários às cartas universais e ao apocalipse, coordenação de Saulo César Ribeiro da Silva, editado em julho passado pela FEB, 322 páginas.

A coleção O Evangelho por Emmanuel completa tem os seguintes títulos:

Vol. 1 – Evangelho segundo Mateus
Vol. 2 – Evangelho segundo Marcos
Vol. 3 – Evangelho segundo Lucas
Vol. 4 – Evangelho segundo João
Vol. 5 – Atos dos Apóstolos
Vol. 6 – Cartas de Paulo
Vol. 7 –Cartas Universais e ao Apocalipse

Uma coleção editada inicialmente em janeiro de 2016, onde, na Apresentação feita por Joanna de Ângelis, em página psicografada pelo médium Divaldo Franco em 15 de agosto de 2013, onde ela destaca: “Pelas diversas décadas, o nobre Espírito Emmanuel, através do mediumato do abnegado discípulo de Jesus, Francisco Cândido Xavier, analisou incontáveis e preciosos versículos que constituem o Novo Testamento, dando-lhe a dimensão merecida e o seu significado na atualidade para o comportamento correto de todos aqueles que amam o Mestre ou não o conhecem, sensibilizando leitores que se permitiram penetrar pelas luminosas considerações”. E mais ela disse: “Inegavelmente, é o mais precioso conjunto de estudos do evangelho de que se tem conhecimento através dos tempos, atualizado pelas sublimes informações dos Guias da sociedade, conforme a Revelação Espírita”. E conclui assim a Apresentação: “Que a claridade mirífica destas páginas que se encontram ao alcance de todos que a desejem ler, possam incendiar os sentimentos com as chamas do amor e da caridade, iluminando o pensamento para agir com discernimento e alegria na conquista da plenitude”.

No Prefácio, o coordenador Saulo César Ribeiro da Silva esclarece: “Os comentários de Emmanuel sobre o Evangelho encontram-se distribuídos em 138 livros e 441 artigos publicados ao longo de 39 anos nas revistas Reformador e Brasil Espírita. Além dos comentários aos versículos, os relatos presentes no livro Paulo e Estêvão, que fazem paralelo ao texto de Atos dos apóstolos, constituem um inestimável material de estudo sobre o Evangelho. … Em cada volume foram incluídas introduções específicas, com o objetivo de familiarizar o leitor com a natureza e característica dos escritos do Novo Testamento, acrescentando, sempre que possível, a perspectiva espírita. … O que surgiu inicialmente em uma reunião familiar, composta por algumas pessoas em torno do Evangelho, hoje está colocado à disposição do grande público, com o desejo sincero de que a imensa família humana se congregue cada vez mais em torno desse que é e será o farol imortal a iluminar o caminho de nossas vidas. Relembrando o Mestre inesquecível em sua confortadora promessa: “Pois onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles (Mt 18,20)”.

Na contracapa do volume 7, uma explicação pra lá de convincente: “Este trabalho foi promovido por uma equipe de pesquisadores da FEB (Federação Espírita Brasileira) e organizado em sete volumes, que compõem o projeto, com a finalidade de tornar acessível os preciosos ensinamentos presentes no Novo Testamento, referentes ao estudo e interpretação da mensagem de Jesus. … Que o leitor amigo possa meditar e mais uma vez se surpreender com a Mensagem que nunca envelhece, pois é fonte de vida abundante”.

Para servir de amostra mínima aos leitores amados, caminheiros que nem nós na direção da Luz Infinita, apresentamos, abaixo, cinco comentários feitos com base no Apocalipse. Fortalecerão seguramente a iniciativa de fomentar grupo de estudo nos comentários de Chico Xavier e o Espírito Emmanuel, orientador do maior médium brasileiro de todos os tempos:

a. Ainda que os teus melhores propósitos apareçam frustrados, não te desencorajes das empresas de elevação. Perseverança é a base do êxito na realização de todas as boas obras;

b. Ainda que as tuas mais belas esperanças se esfumem, ao toque de inesperados desenganos, não te abatas sob o peso de inquietações desnecessárias;

c. Mantém na confiança em Deus e espera por Deus, trabalhando e servindo na edificação do bem d todos, tanto quanto isso se te faça possível, porque Deus também confia, esperando por ti;

d. Aterra é a grande escola das almas em que se educam alunos de todas as idades; Não enxergues inimigos nos semelhantes de entendimento imperfeito. Muitos deles não saíram ainda do jardim da infância espiritual;

No mais, a leitura sistemática, individual ou em grupo, da coleção O Evangelho por Emmanuel, de Chico Xavier, muito favorecerá a caminhada de todos na identificação do Mestre no interior de cada um. Pois, segundo Allan Kardec, “é pela educação, mais do que pela instrução, que se transformará a humanidade.” E eu acredito piamente nisso, sem tirar nem pôr uma vírgula.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 21 de janeiro de 2020

UMA NARRATIVA BEM HUMORADA

 

 

UMA NARRATIVA BEM HUMORADA

Confesso que meu nível de satisfação existencial, depois da presepada nazista praticada pelo Roberto Alvim, demitido exemplarmente do cargo de Secretário de Cultura do atual Governo Federal, tornou-se de nível mais elevado diante de uma narrativa humoristicamente bem traçada através de um livro de filosofia que me provocou algumas horas de sadio contentamento: Uma Viagem pela Filosofia em 101 casos anedóticos, Nicholas Rescher, São Paulo, Editora Ideias & Letras, 2018, 416 p. O autor, membro da Academia Americana de Artes e Ciências, da Sociedade Leibniz da América do Norte, da Associação Filosófica Católica Americana e da Sociedade Metafísica da América, tornou-se o primeiro pensador a escrever algumas histórias que alguns filósofos contaram para lidar com temas de interesse filosóficos, questões de relacionados com verdade, conhecimento, valor, ação e ética., envolvendo lógica e epistemologia, ampliando compreensões que elucidam melhor complexos temas do pensamento. Segundo o professor de filosofia Robert Audi, Universidade Notre Dame, “o livro de Nicholas Rescher tem um alcance imensamente amplo, é altamente instrutivo e um deleite para qualquer pessoa interessadas em ideias, enigmas intelectuais e na amplitude da imaginação filosófica. O estilo narrativo envolvente convida à leitura pelo prazer; o alcance dá ao livro uma relevância sobre diversos telas filosóficos; e as próprias anedotas contribuem com ideias sobre temas de grande importância.”

O livro é desenvolvido em 5 partes: I – Da antiguidade ao ano 500 D.C.; II. Idade Média, 500-1500; III. Primórdios da modernidade, 1500-1800; IV. O passado recente, 1800-1900; V. A era corrente, de 1900 ao presente. E ele é muito bem desenvolvidos, sob os seguintes blocos temáticos: Epistemologia, Ética e Antropologia filosófica, Lógica e linguagem, Metafilosofia, Metafísica, Filosofia e Religião, e Sociedade e Política.

O autor explicita na Introdução: “Este é um livro de anedotas filosoficamente instrutivas escrito para pensadores filosoficamente sofisticados. Assim como uma prova matemática consiste em uma série de pequenos passos incrementais de argumentação, um percurso de raciocínio e reflexão filosóficos consiste em uma sequência de considerações, cada uma das quais é, em princípio, suficientemente pequena em escopo e escala para admitir ser examinada de uma maneira anedótica. … Uma anedota frequentemente serve para tornar vívido e memorável um ponto cujo desenvolvimento doutrinário de outro modo seria longo e tedioso.”

No capítulo 12, apenas servindo como amostra, intitulado A República de Platão, o autor ressalta que o texto do filósofo grego (428-347 a.C.) não é apenas a primeira obra filosófica realmente substancial, mas também uma das mais grandiosas. E reproduz recomendação do filósofo: “Devemos escolher dentre os guardiões os que observamos serem os mais cuidadosos durante todas suas vidas; que fazem com todo seu coração o que pensam ser vantajoso para a cidade. […] Eles devem ser observados desde a infância; devemos estipular-lhes testes nos quais um homem teria maiores chances de esquecer tal resolução ou ser enganado, e devemos escolher aqueles que têm boa memória e que não facilmente enganados, e rejeitar os outros […]. Então, quem quer que seja testado assim, na infância, na mocidade e na idade madura, e saia imaculado, deve ser estabelecido como governante e guardião da cidade; e devem receber honrarias enquanto vivos, e depois de mortos túmulos públicos e magníficos memoriais. […] Esses governantes devem manter-se vigilantes sobre os inimigos do exterior e sobre os amigos no interior, devem cuidar para que os amigos não desejem causar danos e para que os inimigos sejam incapazes de tal coisa”.

Segundo Platão, ninguém discordaria de boas leis com bons homens é algo muito bom, como más leis com homens maus é algo terrificante. Mas o que aconteceria nos casos mistos? Quem deveria ser prioridade, boas leis ou bons comandantes para operá-las? E os conflitos reais, como deveriam ser resolvidos? E se os Tribunais Superiores forem apodrecidos, o que aconteceria com a sociedade?

Encarecemos ao leitor amigo adentrar nas páginas do livro do Nicholas Rescher. E serenamente chegar ao capítulo 95, onde a filósofa inglês Philippa Foot (1920-2010) apresentou uma charada ética amplamente discutida: “Você está parado ao lado de um trilho, quando vê um bonde desgovernado vindo em sua direção. Claramente o condutor perdeu o controle. À frente há cinco pessoas atadas no trilho. Se você não fizer nada, as cinco serão atropeladas e mortas. Felizmente, você está ao lado de uma alavanca comutadora: girar esse comutador fará com que o veículo fora de controle siga por um trilho lateral, um trilho lateral, um trilho de manobra, logo à sua frente. Mas há uma dificuldade: no trilho de manobra você vê uma pessoa atada ao trilho. Desviar o bonde resultará inevitavelmente na morte dessa pessoa. O que você deveria fazer?”

Reflita demoradamente sobre uma pergunta operante: será que um agente moral é obrigado a assumir a responsabilidade causada por um mau resultado a fim de impedir um resultado que seja ainda pior para o esquema geral das coisas? Ou você sairia de mansinho da situação, cantando bem baixinho: “Se a vida me levar, me leva eu” ?


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 14 de janeiro de 2020

VIDA: CARA & COROA

 

 

VIDA: CARA & COROA

Quando da minha última viagem a João Pessoa, PB, na companhia da Sissa, minha atual inspiração, e do casal Cleide/André Martins, ele um enteado quase-filho, ficamos hospedados numa pousada à beira-mar, de excelentes acomodações para visitantes rápidos que nem nós. Na primeira manhã, após um café-com-pão matinal sem firulas, um sábado chuvisquento, visitamos um shopping famoso, onde me despertei por um livro exposto numa livraria de excelente qualidade expositiva: As duas faces da vida – textos reunidos, Hermínio C. Miranda, Bragança Paulista, SP, Instituto Lachâtre, 2013, 320 p.

O desejo de compra ampliou-se quando constatei ser de Dora Incontri a autoria da apresentação, ela que considero uma pedagoga-pesquisadora de gigantesco valor, sempre a nutrir uma admiração imensa pelo Miranda, segundo ela um analista kardecista que seguiu rigorosamente a recomendação deixada pelo Codificador, a de “conter tanto o sério quanto o agradável”.

Na Apresentação, Dora Incontri ressalta os dois tipos de escritos contidos no livro. Nos primeiros, o autor do livro escreve sobre as mediunidades acontecidas na história, onde se destaca uma história oculta do nazismo, ressaltando as raízes profundas de uma das maiores tragédias de todos os tempos, inclusive os componentes espirituais que engendraram o nazismo, uma maquinação muito bem estruturada e consciente das forças das trevas, que tinham por fim a dominação do planeta. Nos segundos textos, também escritos pelo Hermínio Miranda, reflexões sapienciais sobre temas metafísicos e morais, como o que trata de Deus e do perdão, além de análises envolvendo a psicologia e a bioética. E ela conclui: “o leitor fará um passeio ávido e estimulante pela diversidade dos assuntos e das narrativas entre as duas faces da vida, a física e a espiritual, ambas pertencentes a uma mesma realidade”. E mais: “Somos seres interexistentes. Tudo na história, no cotidiano, na mente, se expande além da dimensão física e restrita do corpo, para se projetar na interexistência. A consciência disso torna a vida muito mais excitante, com sentido mais pleno e propósito mais nobre”.

Na mesma estante, um outro livro de Miranda me deixou com uma vontade danada de quero-outro: Guerrilheiros da intolerância, Bragança Paulista SP, Lachâtre, 2018, 256 páginas. Nele, num capítulo inicial denominado História do Livro, o autor revela como e por que escreveu o texto editado. Ele explica: “houve tempo em que um ambicioso projeto literário ocupou grande espaço da minha mente. Eu desejava escrever um livro no qual estudasse reencarnações do meu espírito em mais de uma existência. Escolhi para isso algumas figuras históricas conhecidas sobre as quais dispunha de informações que, pelo menos, justificavam o empenho em relatar aquilo que, provisoriamente, eram suas multibiografias”. Depois de idas e vindas e algumas coincidências, três personalidades foram biografadas: Hipácia, bela filósofa de Alexandria, Giordano Bruno, o metafísico do Renascimento, e Annie Besant, escritora que conseguiu isolar-se do tumulto à sua volta para ler, meditar e escrever, tornando-se teosofista em 1889. Apelidada também de “procelária” – palmípede que, voando em bandos sobre as ondas do mar, anuncia que vem tempestade –, insistia em desafiar sem temor o establishment para falar sobre incômodas realidades espirituais, como a reencarnação. O ateísmo também tendo sido um dos seus temas favoritos, ela sendo contrária a qualquer tipo de restrição à liberdade de pensamento.

No primeiro livro, acima citado, uma série de artigos publicados na imprensa, Hermínio Miranda, desencarnado em 2003, 8 de julho, concedeu quatro entrevistas, uma à Revista Internacional de Espiritismo, outra no GEAE – Grupo de Estudos Avançados do Espiritismo, uma terceira à Folha Espírita e a quarta ao Correio Fraterno do ABC. Além de duas conferências, a primeira intitulada A Hora da Decisão, a outra sobre A Síndrome da personalidade múltipla e suas implicações com a obsessão e a possessão. Para encantar mais os leitores, o primeiro artigo do livro – O Fantasma do Redingote Amarelo – ressalta os avisos dados ao rei Luís 18, cujo infeliz reinado encerrou-se com sua morte, em 1824.

Hermínio Corrêa de Miranda é ainda considerado um dos campeões de venda da literatura espírita do Brasil. Formado em Ciências Contábeis, trabalhou na Companhia Siderúrgica Nacional de 1949 a 1980, tendo exercido parte de suas atividades, cinco anos, no escritório da Companhia em Nova York. É considerado a maior autoridade brasileira no campo da mediunidade. Inquestionavelmente, uma pena precisa e talentos.

Um terceiro livro do Miranda foi lido há algumas semanas, enviado pelo Clube do Livro de Divinópolis, Minas Gerais: O Evangelho Gnóstico de Tomé, Bragança Paulista SP, 6ª. edição, 2017, 256 p. Contendo uma Introdução e duas partes amplamente esclarecedoras: I – O gnosticismo e a realidade espiritual; II – O Evangelho de Tomé. Na Introdução, um esclarecimento ignorado pela grande maioria dos cristãos, a de que, no decorrer dos três primeiros séculos da era cristã, mais de uma centena de seitas dissidentes pugnaram pela hegemonia da Mensagem do Nazareno. O livro analisa sobre as tendências diversas que buscavam o reconhecimento da maioria, resultando inúmeras vezes em contendas ideológicas nem sempre pacíficas. E vai além, o Miranda: “Estamos diante de uma estrutura doutrinária danificada por inúmeras infiltrações e irrecuperáveis fraturas e que nada tem a dizer a uma humanidade aturdida que, à falta de conhecimento confiável, vaga sem rumo, em busca de mecanismos de fuga, em esforço inútil para escapar a uma realidade incompreensível e perversa.”

Livros amplamente recomendáveis para períodos de férias e reflexões 2020, ampliando enxergâncias e consolidando uma consistente criticidade cidadã.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 07 de janeiro de 2020

ESTUDO DE GRUPO DO AT

 

 

ESTUDO DE GRUPO DO AT

Tenho uma admiração imensa pelos grupos que se aprimoram em estudos bíblicos, principalmente aqueles que se voltam para uma efetiva evangelização. E um dos projetos mais edificantes em implantação nos últimos tempos data de 2016, quando o Instituto SER, sob a coordenação de Haroldo Dutra, instituiu o “Estudo do Velho Testamento”, sendo o primeiro volume Estudando Gênesis à Luz do Espiritismo, Belo Horizonte, Editora SER, 2018, 176 p. Uma primeira edição, de 5.000 exemplares, lançada em maio de 2018, a segunda tiragem alcançando 10.000 unidades em setembro do mesmo ano.

Na Introdução do volume acima citado logo se dá testemunho de que Gênesis, o primeiro livro do Pentateuco mosaico, é referência, direta ou indiretamente, em todos os demais livros, Antigo e Novo Testemunhos. E nela se diz que “o livro Gênesis é um livro tão poderoso, com imagens, linguagem forte e temas importantes, que acaba inspirando todos os livros subsequentes.” E exemplifica: “Basta lembrarmos, por exemplo, o Evangelho de João, que começa usando a mesma expressão de Gênesis – ‘No princípio’ (Gn,1 – e, a partir daí, vai construindo o seu enredo, sempre dialogando com aquele.” E o Evangelho de João parece refletir um canto em resposta ao ecoar de Gênesis.

Também da Introdução, Dutra ressalta alguns pontos:

a. O livro de Gênesis, em si, é bastante esquemático (praticamente um programa de estudo), o qual está disponível em uma ordem lógica e também poética.

b. A abordagem do estudo será efetivada à luz da Doutrina Espírita, sem qualquer intenção de estabelecer disputas teológicas.

c. Para os espíritas, o Evangelho de Jesus é central. Segundo Emmanuel, psicografado por Chico Xavier, “O Evangelho é o Sol da Imortalidade que o Espiritismo reflete, com sabedoria, para a atualidade do mundo”.

d. Quando estamos nos referindo ao Evangelho, estamos nos referindo a um coração vivo: ao coração do próprio Cristo.

e. As obras do Antigo Testamento e as da Doutrina Espírita, entre outras, funcionam como “telescópio”, tentativas de ampliar a nossa percepção.

f. Os livros do Novo Testamento funcionam, no estudo do Gênesis, como uma bússola, favorecendo nossa renovação pessoal.

g. Importante ressaltar que Gênesis é um patrimônio cultural do povo hebreu, pois Paulo de Tarso já fazia uma pergunta pra lá de interessante: “Qual é a importância de ser judeu?” (Rom 3, 1-2). E o próprio Cristo chamou a atenção para o patrimônio que os judeus possuíam.

h. Não devemos ser ingênuos de achar que o assunto Gênesis se inicia agora, quando ele foi escrito há mais de 3.000 anos.

i. Gênesis é literatura poética, nunca um tratado científico. É religiosidade no mais alto nível.

j. O propósito de Gênesis é dizer que há um só Deus, que é Criador, que está presente, dirige, acompanha a sua obra e atua muito na criação.

k. Ao longo do estudo do Gênesis, uma série de conceitos será desconstruído, ultrapassando atavismos religiosos, fixações mentais e interpretações sectárias, tão fortes em nós que nos causa desconforto.

O estudo de Haroldo Dutra Dias, além da Introdução, apresenta os seguintes balizamentos: Temática Central: Deus Criador; Estrutura Literária; Um único Deus, uma só Lei; Múltiplas interpretações; Os Cristos e sua união com Deus; A separação das águas: ordenação do fluido cósmico; Fluido cósmico: manifestação do pensamento divino; Diálogo inter-religioso. Além disso, um bônus engrandece um cadinho mais a análise apresentada: A Árvore do Evangelho.

Dentre as várias traduções da Bíblia utilizadas pelo Dutra Dias, a mais significativa é a Bíblia do Peregrino, do espanhol Luís Alonso Schökel , editada no Brasil pela Editora Paulus, 1ª. reimpressão da 3ª. Edição em 2018, 2617 p. Segundo Dutra, Alonso Schökel “é um gigante da teologia e dos estudos bíblicos, escrevia com muita propriedade, e a tradução traz conexões com os demais livros da Bíblia, sobretudo com os do Novo Testamento”.

O livro do Haroldo Dutra, acima citado, estudado sem ansiedades nem fobias analíticas, poderia ser complementado por um livrinho-gigante, A presença ignorada de Deus, Viktor E. Frankl, São Leopoldo RS/Petrópolis RJ, Sinodal/Vozes, 2019, 131 p. No seu livro, Frankl (1905-1997), professor de Neurologia e Psiquiatria na Universidade de Viena, também docente de Logoterapia na Universidade Internacional da Califórnia, fundador da Logoterapia, ainda chamada de “terceira escola vienense de psicoterapia”. Onde no capítulo 1 do livrinho-gigante – A essência da análise existencial – é citada as únicas três virtudes existentes, segundo Arthur Schnitzler, um famoso poeta vienense, contemporâneo de Freud: a objetividade, a coragem e o senso de responsabilidade. A primeira encoraja o vencer os sentimentos de inferioridade, a segunda incita-nos à descoberta de nossas próprias deficiências, enquanto a terceira se situa na área de encarar com ampla ética na abordagem do aqui e agora de cada um. Na análise existencial, exige-se a diferenciação entre maturidade decisória e impulsividade desenfreada, onde a responsabilidade do existir será a base de toda caminhada espiritual em direção à Luz!!

Um Grupo de Estudos sempre é muito significativo nos Centros Espíritas mais desenvolvidos, favorecendo uma ampla renovação comportamental, emulando solidariedades grupais responsáveis em iniciativas sementeiras.

Um 2020 repleto de múltiplas meditações para todos os meus irmãos, crentes e não crentes, todos filhos amados da Criação, para onde retornaremos!


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar quarta, 01 de janeiro de 2020

REFLEXÃO DE FINAL DE ANO

 

 

REFLEXÃO DE FINAL DE ANO

O escritor Georges Bernanos, francês de inspiração católica, dizia que “nada é mais ridículo do que um velho enrabichado.” E Alceu Amoroso Lima, o extraordinário pensador brasileiro Tristão de Athayde, complementava: “Nada mais contra a natureza das coisas e aos olhos de Deus do que a velhice inconformada com a morte.”

Morremos muitas vezes ao longo da nossa existência: quando um amigo se vai, também diante dos punhais cravados pelos parentes aparentes ou pelas animalidades cometidas pelos amigos de mentirinha, ou ainda quando as arrogâncias egolátricas corroem um já 0bastante debilitado humanismo século XXI.

Ao longo das nossas vidas, diante da inexorabilidade da morte, tomamos quatro atitudes diferentes. Quando crianças, a morte nos é indiferente. Nutrimos por ela uma curiosidade idêntica às demais sentidas diante do imprevisto. Nenhum valor específico lhe atribuímos, posto que ela não provoca qualquer reação mais profunda. Um acidente da vida como outro qualquer. O escuro, quando se é criança, provoca muito mais medo que a própria morte. Para não falar das almas do outro mundo. Brinca-se até de morto como se brinca de bandido ou de mocinho. Ou de professor. Ou de dona de casa, as meninas-da-casa fazendo comidinha para as meninas-visitas, as mais sabidas.

Na adolescência, entretanto, principiamos a pensar na morte. Idealizamos a morte, mitificamos a morte. Começamos a pensar na própria morte. E principiamos a morrer, diante dos primeiros desmoronamentos provocados em nosso castelo-derredor. Mas ainda encaramos a morte como final de uma aventura, sem tropeços nem maldades, apenas coroamento, sem as pedras do caminho. Na juventude, a morte torna-se companheira quase brincante. Conceito romântico, substituindo a indiferença da primeira idade.

A inimizade se inicia na porteira da maturidade. A morte torna-se a maior inimiga, temida, mais analisada filosófica e religiosamente. A indagação de São Paulo inquieta: “Morte, onde está tua vitória?” Túmulo ou túnel, como magistralmente o admirável Pastor Campos costumava dizer em suas pregações. Com crença ou sem ela, a agonia da morte se torna presente e o viver um contínuo e resoluto foco de resistência.

No último quadrante da vida, entretanto, “a mesa está posta e a cama feita”, como nos dizia o poeta Bandeira, que vivia aos trancos e barrancos com a Última Dama. Nessa fase, exige-se muita serenidade, capacidade de rever caminhadas menos felizes, emergindo a convicção de que bem outras seriam algumas das estratégias tomadas se os fatos fossem encarados com a mentalidade de agora.

Creio que a concepção da morte é determinada pela concepção que se faz da vida. Superar a morte, eis o desafio maior dos libertos dos encantamentos supérfluos, das prestimosidades dos lambetas, das pantufas sabichonas, dos burregos tecnocratas que desconhecem os valores de uma sociedade emergente e dos recalcados que se imaginam eternas vítimas, cordeirinhos imolados de um mundo que não os compreende devidamente. Sem falar dos azedos – homens e mulheres – que imaginam sempre estar em ambientes primeiromundistas, reinos encantados se possível, os nativos daqui nada mais sendo que peças fétidas de um contexto ofuscados pelas suas “luminosidades.”

Neste dezembro, recebi uma carta que muito me sensibilizou. Transcrevo-a:

“Caro amigo nordestino: Assim como Martin Luther King, eu também tive um sonho… Sonhei que o presidente Trump, diante da turbulência mundial que anda afetando gregos e troianos, convocava uma coletiva e dizia mais ou menos o seguinte:

É com enorme dificuldade que anuncio que não é à toa que tanto ódio tenha se acumulado em todo planeta. O mundo ficou pequeno pelas telecomunicações. Os fatos ficaram acessíveis a todos num piscar de olhos. Os avanços tecnológicos estão garantindo ao ser humano uma capacidade de realização impensável há alguns anos.

Entretanto, todo esse avanço não tem servido para acabar com a miséria, a fome e as doenças mais elementares entre os pobres. Vamos à Lua e aumenta a população sem casa para morar. Produzimos computadores cada vez mais rápidos e cresce o número absoluto de analfabetos no mundo. Desenvolvemos a engenharia genética, desvendamos o genoma humano e, aos milhões, morre-se por falta de saneamento, de doenças gástricas e de fome. Num mundo de muita desesperança, apresentamos uma insultante opulência, vivendo na sociedade do desperdício: cada americano produz 2 kg de lixo por dia; aqui existindo mais de 100 milhões de carros com ar condicionado, bebendo gasolina e poluindo a atmosfera, consumindo mais de 25 % do petróleo produzido em todo o mundo. Cada americano gasta mais de 600 litros de água por dia, enquanto o europeu gasta pouco mais de 200 e o habitante de Madagascar somente menos de 10 litros por dia.

Fomos responsáveis por inúmeras ditaduras sanguinárias. Mais de 500.000 crianças morreram no Iraque pelo cerco comandado por nós e o criminoso bloqueio à Ilha de Cuba já dura décadas. É a nossa política, com nossos aliados, que tem feito crescer o ódio entre judeus e palestinos. São primos e somente a convivência pacífica e respeitosa entre eles trará paz à região.

O terrorismo não é aceitável! Nem o terror individual, nem o terror de Estado que temos praticado sistematicamente. É mais que hora de mudar! Estou, neste momento, convocando todos os dirigentes das grandes nações, responsáveis, como nós, pela sucessão de erros apontados, para uma reunião semana que vem, quando iremos detalhar as medidas capazes de reverter a situação de injustiça deste nosso mundo. Convoco as nações mais ricas a assumirem conosco as dívidas do Terceiro Mundo, entendendo que devemos, historicamente, muito mais a eles que eles a nós.’

De todos os lados ecoaram prolongados aplausos. Que me fizeram acordar. E me lembrar do nosso querido e sempre amado dom Hélder Câmara. Peço a Deus que nós, brasileiros, nunca sepultemos o ideário do Dom por um mundo sem fome !!

Que 2020 nos proporcione redobrados instantes de reflexão capazes de favorecer um caminhar ainda mais dignamente resoluto na direção da Luz Divina. Sem medo de ser feliz, sob hipótese alguma.

Feliz 2020, irmão querido !!”


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 17 de dezembro de 2019

UM EVANGELIZADOR ARRETADO DE ÓTIMO

 

 

UM EVANGELIZADOR ARRETADO DE ÓTIMO

Como cristão kardecista, desde rapazote possuo uma admiração pra lá de bem sedimentada pelo apóstolo São Paulo, sem a participação do qual O Caminho teria regredido às comunidades hebraicas, favorecendo outras concepções de desenvolvimento religioso. Tenho plena consciência de que Paulo foi “um homem extraordinário, cuja ação humana chega a obscurecer a própria santidade”, no dizer de Ernle Bradford, autor de O Revolucionário: a história real do apóstolo São Paulo, SP, Ibrasa, 1978, 250 p., para quem o apóstolo era “eterno revolucionário, amante da vida como poucos, o maior viajante de todos os tempos, bandeirante em luta contra o poder que corrompe, semeador de células subversivas”.

O livro tem início no outono de 59 d.C., quando um pequeno barco costeiro aproximou-se do porto de Mira, uma das cidades mais importantes do sul da Ásia Menor. A bordo, um grupo de prisioneiros que seria conduzido a Roma. Entre eles, Paulo, que atraía algumas atenções. Quase completamente calvo, de porte físico pouco atraente, tinha barba cerrada e grisalha, portando uma expressão viva, de olhar brilhante, com aparência de ser de certa importância, um judeu de nascimento, um revolucionário que estava empenhado em fundar no Império Romano uma série de comunidades embasadas no amor de um Nazareno recentemente condenado à morte, razão de ser da sua conversão numa estrada de Damasco. E os fatos seguintes deixam extasiados os que amam o Senhor através do apóstolo Paulo de Tarso, o maior bandeirante de todos os tempos.

Mas um outro livro também me sensibilizou: Paulo, um homem em Cristo, Ruy Kremer, Brasília, FEB, 2016, 303 p. O autor, em 1989, foi convidado pela Rádio Rio de Janeiro, a Emissora da Fraternidade, para efetivar uma série de programas em torno da vida e obra de Paulo de Tarso, a maior figura do Cristianismo, após o Nazareno. Transmitido várias vezes, sempre com audiência crescente, o autor recebeu convite do Sérgio Carvalho, então presidente do Instituto Cultural Espírita do Brasil e também diretor da Cruzada dos Militares Espíritas, para transformar em livro as palestras feitas radiofonicamente.

Atendendo inúmeros apelos e insistências de companheiros de farda, o Kremer acercou-se de uma bibliografia densa, onde, além das abordagens do apóstolo Lucas, que encerrou suas anotações no primeiro cativeiro de Paulo, contou ainda com as revelações do Espírito Emmanuel, que nos revela os fatos que se sucederam até o martírio do apóstolo, em Roma.

Como Capítulo 1, intitulado Proêmio (início), uma adaptação livre de um texto evangélico é explicitada. Pedimos vênia para aqui reproduzi-la (II Coríntios, 11, 22-31): “São hebreus? também eu; são israelitas? também eu; são descendentes de Abraão? também eu. São ministros do Cristo? (falo como insensato), eu ainda mais; em trabalho, muito mais; em prisões, muito mais; em açoites, infinitamente mais; em perigo de morte, muitas vezes. Cinco vezes recebi dos judeus quarenta golpes menos um. Três vezes fui açoitado em varas; uma vez fui apedrejado; três vezes naufraguei; uma noite e um dia passei perdido em alto mar. Em viagens sem-número, exposto aos perigos dos rios, perigos dos salteadores, perigos da parte dos meus patrícios, perigos da parte dos gentios, perigos nas cidades, perigos nos desertos, perigos no mar, perigos da parte de falsos irmãos! Ainda mais! os trabalhos, as fadigas, as numerosas vigílias, a fome e a sede, os múltiplos jejuns, o frio e a nudez! E sem falar de outras coisas: minha preocupação cotidiana, a solicitude que dedico a todas as comunidades. Quem fraqueja, sem que eu me sinta fraco? Quem cai, sem que um fogo me abrase? Se é preciso gloriar-se, de minha fraqueza é que me gloriarei. O Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que é eternamente bendito, sabe que não falto com a verdade.”

Muitos indagam o verdadeiro sentido dessa catarse de Paulo de Tarso. E inúmeros especialistas acreditam que ela revela um imenso desabafo, um libelo contra todos aqueles que apenas semeiam espinhos. Uma estupenda autodefesa, sendo considerada, a segunda carta aos coríntios, a mais pessoal e reveladora do epistolário paulino, favorecendo uma abordagem psicológica do grande missionário dos gentios, durante os 22 anos de ação apostólica. Um Paulo que foi ator e autor de uma tarefa gigantesca, cumprida de maneira tão exemplar, sem perder a ternura jamais.

No teatro de operações, uma extensa seara de três milhões de quilômetros quadrados, o apóstolo Paulo efetivou suas sementeiras, “apontando horizontes, desvendando caminhos até então desconhecidos, procurando preencher, com inesgotável força interior, o grande vazio que pressentiu em seus contemporâneos”, segundo o próprio autor da biografia paulina.

Para quem deseja inteirar-se mais acerca dos ensinamentos paulinos, recomendaria a leitura atenta do 6º. volume da coleção O evangelho por Emmanuel, editada pela FEB, em 2017, intitulado Comentários às Cartas de Paulo, 874 páginas. A coleção da FEB possui os seguintes títulos: Volume 1 – Comentários ao Evangelho segundo Mateus, Volume 2 – Comentários ao Evangelho segundo Marcos, Volume 3 – Comentários ao Evangelho segundo Lucas, Volume 4 – Comentários ao Evangelho segundo João, Volume 5 – Comentários aos Atos dos apóstolos, Volume 6 – Comentários às Cartas de Paulo, e Volume 7 – Comentários às Cartas Universais e ao Apocalipse. Segundo Prefácio de autoria do coordenador da coleção, Saulo Cesar Ribeiro da Silva, “em cada volume, foram incluídas introduções específicas, com o objetivo de familiarizar o leitor com a natureza e características dos escritos do Novo Testamento, acrescentando, sempre que possível, a perspectiva espírita.”

Para se ter uma noção da importância de Paulo, basta destacar que ele é o autor que possui a maior parte dos escritos incluídos no Novo Testamento. Dos 7.947 versículos do Novo Testamento, 2.335 (29,4%) são atribuídos a Paulo, o segundo autor sendo Lucas, com 27,1%, o terceiro lugar sendo de João com 17,7%, considerando seu evangelho, suas cartas e o Apocalipse.

A Carta aos Romanos, de Paulo, foi assim classificada por Calvino: “quem a compreendeu, recebe precisamente com ela a chave para todas as câmaras secretas do tesouro da Sagrada Escritura.” De acordo com Emmanuel, em Paulo e Estêvão, a Epístola aos Romanos foi escrita em Corinto, com o propósito de preparar a chegada do apóstolo dos gentios à capital do Império Romano.

As cartas de Paulo são ensinamentos fecundos como proposta libertadora de muita luz onde quer que estejamos. Para prestar solidariedade ao próximo, suportando com ele suas fraquezas e humilhações.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 10 de dezembro de 2019

PARA NÃO ESQUECER O HOLOCAUSTO

 

 

PARA NÃO ESQUECER O HOLOCAUSTO

1. Tenho uma preocupação de caminhante cidadão: como transmitir à juventude de hoje, as lições do maior genocídio da história da humanidade?

O coordenador-geral do Museu do Holocausto de Curitiba Carlos Reiss, responsável pela concepção pedagógica do espaço, organizando material didático, ações educativas e curadorias de exposições, revela: “Educar sobre a Shoá nos aproxima da missão de assimilar as lições.” E ele vai mais além: “É preciso discutir. Que memória queremos construir? Como transmiti-la aos jovens? O Holocausto pode ser um precedente ou uma advertência. É nosso dever assegurar de que seja um alerta e de que não volte a acontecer. Muito se pergunta por que falamos tanto sobre este genocídio. Na verdade, a pergunta deveria ser: por que falamos tão pouco?”

Em dezembro do ano passado, Reiss lançou um livro bastante esclarecedor:

Luz sobre o caos: educação e memória do Holocausto
Rio de Janeiro, Imprimatur, 2018, 251 p.

O livro do Reiss possibilita uma enxergância sólida de como o genocídio deverá ser lembrado pelas gerações futuras, possibilitando ensejar o trajeto, fazer as correções de rota necessárias, favorecendo a construção de uma memória justa, de maneira racional, sempre coerente com o legado que desejamos construir. E o autor não titubeia: “Como escreveu o filósofo e psiquiatra alemão Karl Jaspers, de alguma forma todos somos responsáveis pela Shoá por saber até onde nós fomos e somos capazes de chegar.”

O sumário é o seguinte: Apresentação; Prefácio; 1. Educação e Shoá: uma retrospectiva histórica; 2. Transmissibilidade da Shoá; 3. Ineditismo da Shoá; 4. Universalismo da Shoá; 5. Personificação da Shoá; 6. Shoá e Vida.

Na Apresentação, Reiss enfatiza: “não é mais um livro sobre as histórias do Holocausto. É o resultado de um esforço e de uma necessidade pragmática: abrir um museu e transmitir o Holocausto às próximas gerações.” E mais: “após a homologação, em dezembro de 2017, da nova Base Nacional de Educação do MEC, o Holocausto passa a ser tema obrigatório de ensino e reflexão nas escolas de todo Brasil. … A hora é agora. Que memória da Shoá queremos construir?”

Em tempos mundiais contemporâneos, oportunidade magnífica de assimilar um assunto que jamais deve ser olvidado, cada um de nós tendo o dever de bem orientar as gerações brasileiras futuras, principalmente os mais desavisados.

2. Um outro livro, excelente para quem busca ampliar a compreensão das violências psicológicas e físicas causadas por traumas violentos, é da autoria da psicóloga Sofia Débora Levy, PdD em História das Ciências, Técnicas e Epistemologia, Pesquisadora do Holocausto no Instituto Yad Vashem, especialista em exercícios contínuos de reflexão crítica humanista. Seu livro tem como ponto de partida as vivências das vítimas do Holocausto nazista. Seu livro:

Por dentro da trauma: a perversidade no Holocausto e na contemporaneidade
Rio de Janeiro, Letra Capital, 2018, 272 p.

No Prefácio, o Professor Emérito da UFRJ Francisco Antônio Dória reflete com maestria:

“A questão do Holocausto tem precedentes, e muitos. Mas choca-nos, sobretudo, a proximidade e o haver sido o Holocausto concebido e perpetrado pela mesma cultura que nos deu Goethe, Kant, Gauss, Beethoven … O Holocausto é incompreensível e inexplicável. Uma visita ao Museu do Holocausto em Berlim convence-nos disso. A crueza que o motivou é incognoscível para quem vê os eventos e consequências. O Holocausto é incompreensível e inexplicável. Ou será que não? Ainda assim temos que fazer um esforço. E com precisão de quem maneja um escapelo afiado em gestos exatos, Sofia Débora Levy faz-lhe uma surpreendente e precisa dissecção, usando os recursos intelectuais da própria cultura germânica que o gestou, como gestara grande filosofia e melhor música, antes.”

SUMÁRIO: Introdução; 1. Ininteligibilidade no trauma; 2. Fundamentação epistemológica: Wilhelm Dilthey; 3. A abordagem existencial; 4. Trauma e desestruturação psíquica; 5. Formas de violência psicológica; 6. Alterações estruturais pós-traumáticas; 7. Uma visão ontológica da estruturação psíquica; 8. Proposições clínicas; Considerações finais; Referências.

O livro se destina para todos aqueles que investem “num futuro que acreditamos ser o homem capaz de construir considerando um aprendizado psicológico no qual cada um buscará suportar conscientemente e governar com lucidez as tendências destrutivas, por meio de sua autocrítica, em prol do bem individual e coletivo.”

Duas indicações bibliográficas que deveriam ser integralmente lidas e debatidas pelos nossos parlamentares e executivos maiores, consolidando uma democracia sem autoritarismos sectários, também arrotos cavilosos de mandonismo, com recuos típicos de uma frouxidão mental patológica.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 03 de dezembro de 2019

TRANSTORNOS MENTAIS

 

 

TRANSTORNOS MENTAIS

Em março passado, em Miami, o grande médium brasileiro Divaldo Franco psicografou uma página do Espírito Joanna de Ângelis, sua conselheira do além vida, a propósito de uma coletânea sobre transtornos mentais. Diz alguns parágrafos: “Vive-se na Terra um momento sociopsicológico dos mais graves no processo evolutivo da humanidade. As extraordinárias conquistas da Ciência aliada à Tecnologia ampliaram os horizontes do pensamento e da razão em torno da Vida, eliminando hipóteses absurdas e superstições falsamente consideradas verdades insofismáveis. O ser humano alcançou as estrelas e as micropartículas, mas ainda não conseguiu, infelizmente, encontrar a harmonia dos sentimentos e o equilíbrio necessário à plenitude. … O materialismo sob disfarces múltiplos aniquila a esperança e a alegria de viver.”

Com as atenções voltadas para a grande problemática, a AME – Brasil, Associação Médico-Espírita do Brasil, www.amebb.org.br, através do seu Núcleo de Espiritismo e Psicologia lançou recentemente o livro Contribuições de Joanna de Ângelis para análise dos transtornos mentais, 1ª. edição, SP, Ame-Brasil Editora, 2019, 539 p. São vinte e seis textos de especialistas reconhecidos nacionalmente, organizados por Gelson Luís Roberto, um dos coordenadores do Núcleo, setor que tem como objetivo principal a busca de uma interface entre Psicologia e Espiritismo para o estudo, a pesquisa e promoção da saúde psicológica e espiritual do ser humano. Dele é a autoria do texto inicial O mundo doente: as doenças contemporâneas e os distúrbios coletivos, onde ele o inicia com o seguinte parágrafo: “O mundo mudou. Se, de um lado, vivenciamos a conquista crescente e acelerada de facilidades tecnológicas, de outro vivemos um período de incertezas, marcado por diversos sintomas sociais e psicológicos. Entre estes, presenciamos um sentimento de vazio e uma supervalorização da imagem, em que esta vale mais do que a realidade. Nunca tivemos tantas neuroses. Pelo menos 20% da população sofre com algum tipo de distúrbio em algum momento da vida. Estima-se que até um terço das pessoas irá sofrer de algum transtorno mental no decorrer das suas vidas”.

O sumário do livro é sedutor por derradeiro: 1. O mundo doente: as doenças contemporâneas e os distúrbios coletivos; 2. A saúde integral na visão de Joanna de Ângelis; 3. O daimon; 4. As doenças como caminho para o homem integral; 5. Demências; 6. Transtornos relacionados a substâncias; 7. Psicoses; 8. Transtornos depressivo e bipolar; 9. Transtornos ansiosos; 10. Transtornos de pânico; 11. Transtorno Obsessivo-Compulsivo; 12. Estresse; 13. Neurastenia; 14. Transtornos alimentares; 15. Transtorno sexual e de gênero; 16. Transtornos de personalidade; 17. Transtorno de Personalidade Bordeline; 18. Transtorno de Personalidade Narcisista; 19. Transtorno de Personalidade Dependente; 20. Transtorno de Personalidade Antissocial; 21. Transtorno de Personalidade Histriônica; 22. Transtorno de Personalidade Esquizoide; 23. Transtorno de Personalidade Paranoide; 24. Fobias; 25. Transtornos mentais na infância; 26. A construção do suicídio em nossas vidas.

Para quem deseja inteirar-se melhor, antes da leitura do livro acima citado, recomendaria a leitura reflexiva de um texto excelentemente esclarecedor: Joanna de Ângelis ao alcance de todos, Josué Douglas Rodrigues, Capivari SP, Editora EME, 2016, 216 p. Considerações analíticas transmitidas pela incansável mentora do maior médium brasileiro da atualidade Divaldo Franco, através de inúmeras contribuições de ajuda na evolução da humanidade.

Joanna de Ângelis nos guia para a conquista de uma serenidade comportamental, sempre recorrendo a três fontes de sabedoria: as parábolas de Jesus, a Doutrina dos Espíritos, codificada pelo incansável Allan Kardec, e pela psicologia analítica do neurologista e psiquiatra suíço Carl Gustav Jung.

Na Apresentação, uma preliminar explicação: “Ao longo de inúmeras encarnações na Terra, sempre como fiel servidora na seara do mestre Jesus, Joanna de Ângelis acumulou amplo e profundo conhecimento da alma humana e das dificuldades que se colocam a cada um de nós, em meio às infindáveis turbulências que assolam o planeta.” A leitura preliminar deste segundo livro trará inúmeras informações numa linguagem cuja compreensão está ao alcance de todos.

Através das leituras dos dois livros citados, seguramente alcançaremos um melhor padrão de entendimento, ampliando significativamente nossa enxergância do modo de caminhar na direção da Luz. E saberemos a razão da mensagem contida no evangelho joanino: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8, 32)

PS. Como eleitor, acredito que teste psicotécnico deveriam ser aplicados para todos os candidatos a cargos eletivos e comissionados de todos os níveis, impedindo a inscrição dos “aparentemente normais” e dos psicóticos “de mesmo”.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 26 de novembro de 2019

PRESENTES NATALINOS

 

PRESENTES NATALINOS

Nas proximidades de final de ano, muitos se atordoam sobre as lembranças que irão presentear os amigos e parentes mais chegados. Para tais irmãos, exponho, abaixo, algumas notas de livros que muito poderão balizar suas encomendas natalinas, textos escritos por qualificados especialistas.

1. “Escrevam e lembrem”, estas foram as últimas palavras do famoso historiador judaico Simon Dubnow, assassinado a tiros pelos nazistas quando tinha 81 anos. O apelo de Dubnow, juntamente com o de muitos milhares de sobreviventes, era o de que o maior assassinato da humanidade não ficasse olvidado pelas gerações futuras. Os fatos históricos da ignominiosa tragédia deveriam ser continuadamente relembrados. Assim sendo, inúmeros historiadores assumiram o compromisso de revelar os tenebrosos acontecimentos, tomando-o como uma missão sagrada, a de servir de alerta para o desenvolvimento futuro da História do Mundo.

Um professor de História da Universidade de Toronto, também da Universidade Hebraica de Jerusalém, publicou um livro ressaltando a singularidade e a especificidade próprias do Holocausto: A ASSUSTADORA HISTÓRIA DO HOLOCAUSTO, Michael R. Marrus, Rio de Janeiro, Ediouro, 2003, 432 p. No prefácio da edição brasileira, Fábio Koifman ressalta: “Num tempo em que a ignorância dos fatos ajuda a banalizar e a relativizar o Holocausto, a publicação de obras como a de Michael Marrus constitui um benefício fundamental para aqueles que pretendem compreender o maior crime do século XX.” Nunca é tarde para ressaltar que ESCREVER É LEMBRAR !!

2. Uma leitura torna-se indispensável para quem emite com frequência comentários sobre a evolução política do mundo contemporâneo: A GRANDE REGRESSÃO: UM DEBATE INTERNACIONAL SOBRE OS NOVOS POPULISMOS E COMO ENFRENTÁ-LOS, Heinrich Geiselberg (organizador), São Paulo, Estação Liberdade, 2019, 352 p.

Os acontecimentos mundiais recentes deixaram a impressão de que o planeta voltou-se socialmente para ontens, depois de níveis bravamente conquistados. Os sintomas identificados por especialistas mundialmente reconhecidos foram organizados no livro acima, destinado a fortalecer/esclarecer uma cidadania consciente. O Sumário está assim desenvolvido: Prefácio; Fadiga da democracia; Sintomas à procura de um objeto e um nome; Política progressista e regressiva no neoliberalismo tardio; Neoliberalismo progressista versus populismo reacionário: a escolha de Hobson; Populismo ou a crise das elites liberais: o caso de Israel; Futuros majoritários; A Europa como refúgio; Vencendo o medo da liberdade; A política na era do ressentimento: o tenebroso legado do Iluminismo; Coragem para ousadia; Descivilização – Sobre tendências regressivas nas sociedades ocidentais; Do retrocesso global aos contramovimentos pós-capitalistas; O retorno dos reprimidos como início do fim do capitalismo neoliberal; Caro presidente Juncker; A tentação populista; O Brasil voltou cinquenta anos em três.

As questões básicas estão postas com meridiana clareza: Como chegamos a esta situação?, Onde estaremos daqui a cinco, dez ou vinte anos? e Como deter a regressão global e invertê-la?.

 


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 12 de novembro de 2019

PAIXÃO & PENSAMENTO

 

 

PAIXÃO & PENSAMENTO

Muitos de nós já ouviram falar sobre apaixonados casais famosos da humanidade: Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Cleópatra e Marco Antônio, Victor Hugo e Juliene Drouet, Páris e Helena de Tróia. Amores arrebatadores transformados em fatos históricos até hoje narrados sob os mais variados modos de contar.

Entretanto, recentemente, uma nova história de amor foi escrita por uma PhD alemã, nascida em 1944, livre-docente em Aachen, desde 1998 professora de Ciência Política na Universidade de Oldenburg, onde fundou, em 1999, o Centro Hannah Arendt.

O livro intitula-se Hannah Arendt e Martin Heidegger: história de um amor, Antonia Grunenberg, São Paulo, Perspectiva, 2019, 413 p. Numa nota prévia, uma síntese do livro: “No outono de 1924, a jovem Hannah Arendt, natural de Königsberg, chegou à cidade de Marburgo, situada às margens do rio Lahn, acompanhada por um grupo de amigos unidos pelas mesmas aspirações. Ela fora atraída pelo rumor de que ali havia um jovem filósofo e professor com quem se podia aprender a pensar. Hannah era uma estudante sedenta de saber, e ele, um rebelde entre os filósofos. Ela tinha dezoito anos e era um espírito livre, ele tinha 35 e era casado. O que irá uni-los é a paixão do amor e a fascinação pelo pensamento filosófico.”

O livro descreve a trajetória de um amor arriscado, também início de uma caminhada intelectual repleta de momentos de união e crises de afastamento. Em 1927, Heidegger torna-se mundialmente conhecido por seu livro Ser e Tempo, cujo pensamento foi desenvolvido a partir do amor desenvolvido pelo casal. Nessa época, Arendt se volta para o sionismo, oferecendo uma oposição sistemática ao antissemitismo assassino então emergente. O surgimento do nacional-socialismo divide os caminhos do casal: enquanto ela e seus amigos tornam-se fugitivos, Heidegger iria aguardar o fortalecimento no nacional-socialismo e o despertar da nação alemã, intentando um papel de líder no campo educacional, desejo que destruiu seu amor e amizade por muitos mestres, colegas e alunos.

O casal torna-se inimigo, somente 16 anos depois reavindo uma paixão intensa por mais de vinte anos, muito embora interrompida por crises frequentes, apesar das indagações de muitos: Como uma judia foi capaz de se envolver com um homem em vias de abraçar o nazismo? e Como, após a guerra, quando era evidente o abismo que havia entre os dois, ela foi capaz de procurá-lo novamente?

O livro de Grunerberg trata da trajetória de um casal historicamente consagrado, que possuía uma relação onde se encontravam imbricados dois temas: o amor e o pensamento. Diz ainda a Nota Prévia: “O duplo relacionamento de Hannah Arendt e Martin Heidegger, como amantes e como pensadores, é narrado levando-se em conta o pano de fundo do século passado, de suas rupturas, catástrofes e dramas pessoais. E quanto mais a história dos dois se confunde com a do século, tanto mais personagens vão aparecendo.”

O livro narra, inclusive, a amizade de Heidegger com Karl Jaspers, bem como a luta dos dois pela renovação radical da filosofia, onde ela deveria estar mais à altura das questões existenciais do presente. E eles se tornam os mensageiros da filosofia existencialista, a amizade só se rompendo em 1933, posto que Jaspers desprezava os novos senhores do III Reich e o antissemitismo emergente, tornando-se crítico fervoroso do antigo amigo.

Para entender como estarão os protagonistas no final da história, com a desconstrução dos seus estereótipos, basta ler o livro de fio a pavio, atentando para os cenários mundiais que emergiam ao longo do século. No final de uma leitura sedutora, estaremos seguramente com uma enxergância mais acentuada para as acontecências de um século que alterou os eixos do mundo e as concepções do saber viver.

O livro tem o seguinte sumário, iniciado com uma Nota Prévia:

1. O Mundo Fora dos Eixos
2. As Vicissitudes da Vida
3. O Fracasso da Integração Entre Alemães e Judeus nos Anos 1920
4. Heidegger Absconditus
5. Ruptura e Recomeço
6. Amor Mundi ou Pensar o Mundo Após a Catástrofe
Anexos: Cronologia, Fontes e Bibliografia.

Para anotações complementares, Martin Heidegger nasceu em 1889 e desencarnou-se placidamente em 1976, com 87 anos; Hannah Arendt nasceu em 1906 e desencarna em 1975, com 69 anos, de morte súbita.

O livro encanta, desencanta, destrói e reconstrói cenários que fizeram o século passado. Polvilhado da trajetória existencial amorosa de um casal que sabia pensar e seduzir. Lendo-o com atenção e sem preconceitos moralistas, o leitor logo perceberá a razão de ser do primeiro parágrafo do capítulo 1: “O século XX teve início com uma revolução insidiosa na política e na cultura, na arte e na literatura, na indústria, na tecnologia e na ciência. Todo mundo falava de inovações desestabilizadoras.”


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 05 de novembro de 2019

RESULTADO DE UMA REARRUMAÇÃO

 

 

RESULTADO DE UMA REARRUMAÇÃO

Resolvendo adquirir mais duas estantes de médio porte, chão ao teto, aproveitando um saldão de uma loja de móveis e um espaço no quarto de hóspedes, revi páginas notáveis que estavam entocadas em cantos vários do quarto de estudo. E confesso que a releitura das páginas encontradas me proporcionaram imensas alegrias. Resolvi, então, aproveitando o espaço oferecido pelo notável site do Jornal da Besta Fubana, magistralmente coordenado pelo premiado escritor Luiz Berto, para elencar algumas das publicações que voltaram a ocupar lugar de destaque numa parte de uma das estantes adquiridas.

A. A primeira releitura é de autoria do Reverendo Miguel Cox, teólogo, professor e pastor, que reflete de forma estimulante sobre uma das partes mais significativas do Novo Testamento: Amor incondicional – uma reflexão devocional na parábola do filho pródigo, Miguel Cox, Olinda – PE, Babecco, 2013, 81 p. O prefácio é de Leonides de Menezes Ferreira, Bispo da Igreja Episcopal do Brasil, Diocese do Nordeste, que testemunha: “O Rev. Miguel Cox, nesta obra, não apenas nos abençoa com o seu grande conhecimento bíblico, cultural e afinidade com o tema abordado, mas também nos enriquece e emociona manifestando sua intimidade e identificação com Cristo”.

O texto analisado pelo Rev. Cox se encontra no Evangelho Segundo Lucas 15,11-32. Uma leitura que realimenta o desejo de todos os pais que desejam abraçar os filhos que moram muito longe e que nunca mais mandaram notícias. E nos fornece, na última página, uma convocação memorável para todos os filhos pródigos da humanidade: “Reviva, recupere o tempo perdido de quando a sua festa começou e, agora, entre na festa dos arrependidos. A porta está aberta, celebre a vida, o resgaste e o retorno. O seu lugar ao lado do Pai está garantido, ninguém vai roubá-lo de você, nem você poderá ser substituído. Receba de igual modo, o abraço do Pai, que, certamente, é a melhor dádiva que se pode desfrutar nesta vida.” Um livrinho-livrão que muito apreciaria ver todos os filhos distanciados dos seus pais lendo, relendo, retornando e ocupando seu lugar.

B. O segundo livro “estanteado” é da autoria da professora e conferencista espírita de nomeada Dora Incontri: Deus e deus, Dora Incontri, Bragança Paulista SP, Editora Comenius, 2007, 149 p. Outro livrinho-livrão merecedor de múltiplas reflexões, desenvolvido em duas partes. A primeira – Quando deus dá errado – é composta de 4 capítulos: 1. Quando Deus morre; 2. Quando deus se ausenta; 3. Quando deus tiraniza; 4. Quando deus se pulveriza. Na segunda parte – Deus como é – seis capítulos são magistralmente desenvolvidos: 5. Deus está na origem; 6. Deus dá sentido; 7. Deus se põe como fim; 8. Deus habita em presença; 9. Deus se faz medida; 10. Deus se dá em amor.

Segundo ela, “este livro pretende mergulhar o leitor numa meditação sobre Deus. Não é um tratado teológico, mas talvez uma teologia poética, sem abandono da racionalidade.” E mais disse na Primeira Palavra: “Seria reduzir demais a Sua altura achar que Ele aceitasse o louvor e a gratidão apenas de um grupo ou de uma igreja, de uma corrente ou de uma seita. Seria limitar demais a capacidade humana de senti-Lo se apenas uma vertente religiosa, um culto específico devesse possuir o caminho de acesso a ele.”

Um pequeno livro gigante, altamente recomendável para estudos de grupo, favorecendo a solidariedade fraternal.

C. Numa gaveta, bastante amarrotadas, encontro algumas páginas escritas pelo meu irmão querido João Silvino da Conceição, um especialista em reflexões curtas para jovens universitários egressos do nível superior. Escolhi algumas delas, dirigidas aos concluintes de Ciências Humanas de uma instituição superior sediada em João Pessoa. Reflexões-frases destinadas para meditações individuais ou grupais, cada uma delas devendo ser avaliada por todos os participantes.

Ei-las:

1. Nem sempre uma pessoa elegante tem classe. Uma pessoa de classe é aquela que sabe se portar, sejam quais forem seus trajes;
2. Gostar do que faz, melhorando o desempenho a cada novo dia, o mais-ou-menos devendo ser considerado como veneno mortal;
3. Evitar as bajulações que é coisa de quem não tem segurança emocional;
4. Entender os mais jovens, jamais os imitando;
5. Ter cuidado ao telefone, inclusive celular, que pode simbolizar baita cafonice, se utilizado inconvenientemente;
6. Falar de intimidade junto a pessoas com quem você trabalha é deselegante, além de muito prejudicial, na grande maioria das vezes;
7. Nunca ter receio de fazer e errar, posto que só se cresce através de erros e acertos;
8. Estar, sem medo, preparado para as mudanças;
9. Saber diferenciar o que é importante do que é urgente;
10. Demonstrar sempre uma simpatia autêntica, sem afetações;
11. Ser pontual, a marca do respeitador dos compromissos dos outros;
12. Transmitir alegria sem afetações;
13. Estar sempre preparado para o inesperado;
14. Perceber-se sempre sobrepairando acima das mediocridades do cotidiano;
15. Perceber-se, a cada amanhecer, filho muito amado da Criação.

Também originários do João Silvino, alguns pontos que evitam prejuízos existenciais, para meditação individual ou em grupo:

1. Evitar afobações;
2. Enganar-se a si mesmo a respeito de avaliação;
3. Vantagens aparentemente boas;
4. Excesso de confiança em seu julgamento;
5. Auto suficiência;
6. Falsas expectativas;
7. Preconceitos;
8. Incompetência no prazer de conviver com parentes e vizinhos;
9. Obstáculos alimentares;
10. Gostar de orar a Deus somente para pedir, nunca para agradecer;
11. Antipatias e grossuras;
12. Não considerar todos como irmãos, filhos de um mesmo Pai.

D. Finalmente, um livro que celebra os dois mil anos do nascimento do Homão da Galileia: Jesus e o Evangelho – À luz da psicologia profunda, Joanna de Ângelis (psicografia de Divaldo Franco), Salvador BA, LEAL, 2000, 223 p. Com um prefácio da própria Joanna de Ângelis, que diz: “Não pretendemos discutir textos dos Evangelho em nossa modesta obra. … Esperando que a contribuição, que ora apresentamos ao caro leitor, possa despertar estudiosos da psicologia profunda para atualização dos ensinamentos de Jesus, e aprofundamento das questões por Ele abordadas, rogamos-Lhe, na condição de nosso Amigo Inconfundível e Terapeuta Excelente que é, que nos inspire e guarde na incessante busca de auto-burilamento e da auto-iluminação, que nos são necessários.”

Confesso que a trabalheira que tive valeu a pena, por ter-me dado a oportunidade de reler textos que muito alicerçaram a minha caminhada em direção à Luz.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 29 de outubro de 2019

SABOROSOS ARQUIVOS CONFESSIONAIS

 

 

SABOROSOS ARQUIVOS CONFESSIONAIS

Pelos Correios acabo de receber Diários Intermitentes: 1937-2002, Celso Furtado (1910-2004), São Paulo, Companhia das Letras, 2019, 446 p., com apresentação primorosa da jornalista Rosa Freire d’Aguiar e prefácio de João Antônio de Paula, professor do Cedeplar – Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais.

Desde 1938, a apresentação da sua esposa Rosa Freire de Aguiar comprova, Furtado se tinha atribuído uma tarefa hercúlea, “a de pensar o Brasil”, mais precisamente “a civilização brasileira”.

Para quem anda historicamente “desligadão”, Celso Monteiro Furtado, nascido em Pombal PB, 26 de julho de 1920 e eternizado no Rio de Janeiro em 20 de novembro de 2004) foi um economista e pensador brasileiro, responsável pela arquitetura de inúmeras políticas de cunho econômico-social no Brasil nas últimas décadas. Adepto de uma atitude intervencionista no funcionamento da economia, seu pensamento apresenta-se, sob vários aspectos, em sintonia com as ideias promovidas pela CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina), órgão da ONU, no Chile, criado para auxiliar os países latino-americanos no desenvolvimento de ações que permitissem evolução social e econômicao.

Celso Monteiro Furtado era filho de Maria Alice Monteiro Furtado, de família de proprietários de terra, e Maurício de Medeiros Furtado, de família de magistrados. Após seus estudos secundários no Liceu Paraibano e no Ginásio Pernambucano, Recife, chega ao Rio em 1939, entra para a Faculdade Nacional de Direito e começa a trabalhar como jornalista na Revista da Semana. Em 1943, é aprovado no concurso do DASP para assistente de organização, indo trabalhar no Rio e em Niterói. Expedicionária da Força Aérea Brasileira, segue para a Itália, na Toscana, servindo como oficial de ligação junto ao V Exército norte-americano, lá sofrendo acidente quando em missão durante a ofensiva final dos aliados no Norte da Itália.

Foi Doutor em Economia (1948) pela Universidade de Paris (Sorbonne). Realizou estudos de pós-graduação na Universidade de Cambridge, Inglaterra (1957), sendo Fellow do King`s College. Posteriormente, Celso Furtado ocupa o cargo de diretor do então BNDE (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico) onde permanecerá por um ano, para logo depois ser convidado pelo presidente Juscelino Kubitschek para elaborar o Plano de Desenvolvimento do Nordeste, que daria origem à SUDENE, órgão pelo qual foi responsável durante cinco anos (1959-64).

Em 1949, instala-se em Santiago do Chile para integrar a recém-criada Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), órgão das Nações Unidas que se transformará na única escola de pensamento econômico surgida no Terceiro Mundo. Nasce seu filho Mário. No ano seguinte, quando o economista argentino Raúl Presbisch assume a secretaria-executiva da CEPAL, Furtado é nomeado Diretor da Divisão de Desenvolvimento, e até 1957 cumpre missões em diversos países do continente, como Argentina, México, Venezuela, Equador, Peru e Costa Rica, e visita universidades norte-americanas onde então se inicia o debate sobre os aspectos teóricos do desenvolvimento. É de 1950 seu primeiro ensaio de análise econômica, “Características gerais da economia brasileira”, publicado na Revista brasileira de Economia, FGV.

Em 1953, preside no Rio o Grupo Misto CEPAL-BNDE, que elabora um estudo sobre a economia brasileira, com ênfase especial nas técnicas de planejamento. O relatório do Grupo Misto, editado em 1955, será a base do Plano de Metas do governo de Juscelino Kubitschek. Em 1954, com um grupo de amigos, cria o Clube de Economistas, que lança a Revista Econômica Brasileira. Nasce seu filho André. Em 1956, mora na Cidade do México, em missão da CEPAL. Passa o ano letivo de 1957-58 no King’s College da Universidade de Cambridge, Inglaterra, a convite do professor Nicholas Kaldor. Aí escreve Formação Econômica do Brasil, seu livro mais difundido.

De volta ao Brasil, desliga-se definitivamente da CEPAL e assume uma diretoria do BNDE. É nomeado, pelo presidente Kubitschek, interventor no Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste. Elabora para o governo federal o estudo “Uma política de desenvolvimento para o Nordeste”, origem da criação, em 1959, da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), com sede no Recife. Em 1961, como seu superintendente, encontra-se em Washington com o presidente John Kennedy, cujo governo decide apoiar um programa de cooperação com o órgão. Em 1962 é nomeado, no regime parlamentar, o primeiro titular do Ministério do Planejamento, quando elabora o Plano Trienal apresentado ao país pelo presidente João Goulart por ocasião do plebiscito visando a confirmar o parlamentarismo ou a restabelecer o presidencialismo. No ano seguinte deixa o Ministério do Planejamento e retorna à Superintendência da SUDENE, quando concebe e implanta a política de incentivos fiscais para os investimentos na região.

O Ato Institucional nº 1, publicado três dias depois do golpe militar de 31 de março de 1964, cassa os direitos políticos d Celso Furtado por dez anos. Têm início seus anos de exílio. Ainda em abril, aceita um convite para dar seminários em Santiago do Chile. Meses depois, em New Haven, Estados Unidos, será pesquisador graduado do Instituto de Estudos do Desenvolvimento da Universidade de Yale. Faz conferências em diversas universidades norte-americanas e participa de vários congressos sobre a problemática do Terceiro Mundo. Em 1965, muda-se para a França, a convite da Faculdade de Direito e Ciências Econômicas da Universidade de Paris, e assume a cátedra de professor de Desenvolvimento Econômico. É o primeiro estrangeiro nomeado para uma universidade francesa, por decreto presidencial do general de Gaulle. Permanecerá nos quadros da Sorbonne por vinte anos.

Em junho de 1968 vem ao Brasil pela primeira vez após sua cassação, a convite da Câmara dos Deputados. No correr do decênio de 1970, faz diversas viagens a países da África, Ásia e América Latina, em missão de agências das Nações Unidas. No mesmo decênio, é professor-visitante da American University, em Washington, da Columbia University, em Nova York, da Universidade Católica de São Paulo e da Universidade de Cambridge, onde é o primeiro ocupante da cátedra Simon Bolívar e é feito Fellow do King’s College. Entre 1978-81, integra o Conselho Acadêmico da recém-criada Universidade das Nações Unidas, em Tóquio. No mesmo período, recebe um mandato do Commitee for Developement Planning, da ONU. Entre 1982-85, como diretor de pesquisas da Ecole des Hautes Études en Sciences Sociales, dirige em Paris seminários sobre a economia brasileira e internacional.

A partir de 1979, quando é votada a Lei da Anistia, retorna com frequência ao Brasil, reinsere-se na vida política e é eleito membro do Diretório Nacional do PMDB. Casa-se com a jornalista Rosa Freire d’Aguiar. Em janeiro de 1985 é convidado pelo recém-eleito presidente Tancredo Neves para participar da Comissão do Plano de Ação do Governo. É nomeado embaixador do Brasil junto à Comunidade Econômica Europeia, em Bruxelas, assumindo o posto em setembro. Integra a Comissão de Estudos Constitucionais, presidida por Afonso Arinos, para elaborar um projeto de nova Constituição. Em março de 1986 é nomeado ministro da Cultura do governo do presidente José Sarney. Sob sua iniciativa, é aprovada a primeira lei de incentivos fiscais à cultura. Em julho de 1988 pede demissão do cargo, retornando às atividades acadêmicas no Brasil e no exterior. Torna-se Doutor Honoris Causa pela Universidades Técnica de Lisboa, pela Estadual de Campinas-UNICAMP, pelas universidade federai de Brasília, do Rio Grande do Sul, da Paraíba e da Université Pierre Mendès-France, de Grenoble, França.

Em agosto de 1997 é eleito para a cadeira nº 11 da Academia Brasileira de Letras. Empossado em 31 de outubro, é saudado pelo Acadêmico Eduardo Portella.

Ele foi Patrono dos Economistas 1966 da Universidade Católica de Pernambuco, onde me graduei. Ele não comparecendo à solenidade por impedimento verde-oliva.

A leitura dos Diários Intermitentes do Celso Furtado é excelente oportunidade para quem deseja ampliar suas análises sobre os amanhãs brasileiros! E para quem deseja conhecer um cadinho mais a caminhada de um nordestino arretado de ótimo !!!


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 22 de outubro de 2019

SEMENTES BALIZADORAS

 

 

SEMENTES BALIZADORAS

Outro dia, maio do corrente ano, um irmão kardecista que muito estimo, me convidou para apresentar, no seu centro, algumas máximas que poderiam servir de sementes balizadoras para recém ingressados no grupo coordenado por ele. Pedi duas semanas para eleger algumas balizas que bem poderiam servir de sementes para uma caminhada inicial. Ei-las abaixo, com muita alegria:

1. Nada adianta acreditar se a crença não faz com que se dê um passo adiante no caminho do progresso e que não o faça melhor para com o seu próximo.

2. O egoísmo, o orgulho, a vaidade, a ambição, a cupidez, o ódio, a inveja, o ciúme e a maledicência são para a alma ervas venenosas, e que têm como vacina eficaz a caridade e a humildade.

3. Quem crê é todo aquele que pode dizer que hoje está melhor do que ontem.

4. As aflições na terra são os remédios da alma. É por isso que o Cristo disse: “Bem-aventurados os aflitos, pois eles serão consolados.”

5. Nas suas aflições, olhe abaixo de você e não acima, e pense naqueles que sofrem ainda mais que você.

6. A prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar Nele, é aproximar-se Dele, é pôr-se em comunicação com Ele, sem qualquer receita pronta.

7. Aquele que ora com fervor e confiança é mais forte contra as tentações do mal, e Deus envia-lhe bons Espíritos para assisti-lo.

8. O essencial não é orar muito, mas orar bem. A prece é para muitos uma ocupação, um emprego do tempo, mas não uma análise de si mesmos.

9. As boas ações são a melhor das preces, pois os atos valem mais que as palavras.

10. A prece é recomendada por todos os bons Espíritos; é, além disso, pedida por todos os Espíritas imperfeitos como um meio de tornar mais leves seus sofrimentos.

11. Cada um ore segundo suas convicções e o modo que acredita mais conveniente, pois a forma não é nada, o pensamento é tudo; a sinceridade e a pureza de intenção é o essencial; um bom pensamento vale mais que numerosas palavras.

12. Deus fez homens fortes e poderosos para que fossem sustentáculos dos fracos; o forte que oprime o fraco é advertido por Deus; em geral, ele recebe o castigo nesta vida, sem prejuízo do futuro.

13. A fortuna é um depósito cujo possuidor é tão somente o usufrutuário, já que não a leva com ele para o túmulo; ele prestará rigorosas contas do emprego que fez dela.

14. A fortuna é uma prova mais arriscada que a miséria, porque é uma tentação para o abuso e os excessos, e porque é mais difícil ser moderado que ser resignado.

15. O ambicioso que triunfa e o rico que se sustenta de prazeres materiais são mais de se lamentar que de se invejar, pois é preciso ter em conta o retorno. O Espiritismo, pelos terríveis exemplos dos que viveram e que vêm revelar sua sorte, mostra a verdade desta afirmação do Cristo: “Aquele que se orgulha será humilhado e aquele que se humilha será elevado.”

16. A caridade é a lei suprema do Cristo: “Amem-se uns aos outros como irmãos; ame seu próximo como a si mesmo; perdoe seus inimigos; – não faça a outrem o que não gostaria que lhe fizessem”; tudo isso se resume na palavra caridade.

17. A caridade não está só na esmola pois há a caridade em pensamentos, em palavras e em ações. Aquele caridoso em pensamentos, é indulgente para com as faltas do próximo; caridoso em palavras, não diz nada que possa prejudicar seu próximo; caridoso em ações, assiste seu próximo na medida de suas forças.

18. O pobre que divide seu pedaço de pão com um mais pobre que ele é mais caridoso e tem mais mérito aos olhos de Deus que o que dá o que lhe é supérfluo, sem se privar de nada.

19. Aquele que nutre contra seu próximo sentimentos de animosidade, ódio, ciúme e rancor, falta à caridade; ele mente, se se diz cristão, e ofende a Deus.

20. Homens de todas as castas, de todas as seitas e de todas as cores, vocês são todos irmãos, pois Deus os chama a todos para ele; estendam-se pois as mãos, qualquer que seja sua maneira de adorá-lo, e não atirem o anátema, pois o anátema é a violação da lei de caridade proclamada pelo Cristo.

21. Com o egoísmo, os homens estão em luta perpétua; com a caridade, estarão em paz. A caridade, constituindo a base de suas instituições, pode assim, por si só, garantir a felicidade deles neste mundo; segundo as palavras do Cristo, só ela pode também garantir sua felicidade futura, pois encerra implicitamente todas as virtudes que podem levá-los à perfeição. Com a verdadeira caridade, tal como a ensinou e praticou o Cristo, não mais o egoísmo, o orgulho, o ódio, a inveja, a maledicência; não mais o apego desordenado aos bens deste mundo. É por isso que o Espiritismo cristão tem como máxima: FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO!!

O Espiritismo vem lembrar, não por uma revelação isolada feita a um único homem, mas pelas vozes dos próprios Espíritos: “Creiam que aqueles que vocês chamam de mortos estão mais vivos que vocês, pois eles veem o que vocês não veem, e ouvem o que vocês não ouvem; reconhecei, naqueles que lhes vêm falar, seus parentes, seus amigos, e todos aqueles que vocês amaram na terra e que acreditavam perdidos irremediavelmente”.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar quinta, 17 de outubro de 2019

MISSÃO DAS CIÊNCIAS HUMANAS

 

 

MISSÃO DAS CIÊNCIAS HUMANAS

Estou radicalmente convencido de que os amanhãs do mundo estão umbilicalmente vinculados ao desenvolvimento das Ciências Humanas, hoje uma das áreas mais desprestigiada do ensino superior brasileiro, muitas vezes implantadaS para usufruto de um ensino cuspe-e-giz lucrativo e sem qualquer senso crítico e atualização bibliotecal, inúmeras vezes reduto de sectarismos ideológicos ultrapassados ou simplesmente agregados a agremiações partidárias.

Não há, na área das Ciências Humanas do Brasil, salvo mínimas e honrosas exceções, contribuições consistentes para o crescimento ético individual de profissionais comprometidos com o desenvolvimento justo e igualitário, regional e nacionalmente. Onde se deveria combater posturas oportunistas que apenas ampliam desesperanças múltiplas e descrenças no setor político. E ainda são menosprezados os direitos humanos e os valores democráticos, bem como renegadas as religiões libertadoras, as crenças sendo utilizadas como mecanismos alienantes de arrecadação financeira, tudo o mais se voltando para tecnologias que tão somente ampliam a concentração de renda, os menos desenvolvidos subordinados a estratégias de sociedades mais poderosas.

As atualizações das bibliotecas na área de Ciências Humanas é uma das maiores tragédias do ensino superior brasileiro. Outro dia, numa visita de cortesia feita a uma unidade de ensino superior da região metropolitana do Recife, indaguei da “responsável” pela biblioteca como andavam as aquisições de livros. E, no embalo, perguntei se tinham adquirido o novo livro de Domenico de Masi, intitulado O mundo ainda é jovem: conversas sobre o futuro próximo, editado recentemente pela Editora Vestígio, São Paulo. A jovem e ainda muito desorientada “responsável”, além de não responder, espantou-se: – Quem é esse cara?

Por acaso, o livro em apreço estava na minha pasta. Mostrei a ela, declinando o seguinte sumário: Apresentação; Introdução; Desorientação e projeto; Longevidade e velhice; Androginia e gêneros; Digitais e analógicos; Trabalho e ócio; Medo e coragem; Engajamento e egoísmo; Classe e indivíduos; Inteligência e sentimentos; Felicidade e leveza; Advertência.

E mais fiz. Mostrei a Apresentação do livro, de autoria de Roberto D’Ávila, onde ele cita um testemunho de Oscar Niemeyer, um dos grandes amigos do notável pensador italiano: “O De Masi é o homem mais feliz que eu conheci”. E uma segunda pergunta dela quase me deixa entupigaitado: – Esse Niemeyer é norte-americano?

Como velho professor, mostrei à jovem pretensa “responsável” pela biblioteca da instituição que a leitura do livro faria a estudantada de Ciências Humanas compreender melhor o mundo atual, vivendo nele com mais alegria, ainda que embalada pelos seus múltiplos mistérios e contradições. E disse mais: considerava Domenico de Masi um sempre à frente do seu tempo, que ressalta no livro riscos que corre a democracia que conhecemos, bem como questiona os benefícios causados pela tecnologia, uma complexidade manipulada por inúmeros, com poucos grupos dominantes, a política aceleradamente dando vez às finanças. Páginas destinadas aos que buscam iniciar um “voo de horizonte” pela cultura universal. Uma oportunidade ímpar para se tornar um ser humano mais solidariamente cidadão. E que o livro era uma vacina eficaz contra nostalgias e desmemórias.

Gostaria muito de fotografar o semblante da jovem “responsável” pela biblioteca. Sem um mínimo entusiasmo, integralmente intoxicada pela asneirice ambiental que reinava por aquelas bandas travestidas de faculdade. Informado da sua idade, 24 anos, e da sua escolaridade completa, Ciências Sociais, voltei pra casa com a sensação de tempo perdido, com muita pena daqueles jovens que estavam se imaginando em formação num estabelecimento fingidamente universitário, se preparando para enfrentar um mercado de trabalho cada vez mais exigente.

Lembrei-me, chegado em casa e recolhido ao gabinete de estudo, de uma recomendação do médico cearense espírita Dr. Bezerra de Menezes: “O caminho do vício é tortuoso e ingente, causando muitos danos a todo aquele que o percorre irresponsavelmente, sedentos de prazeres mórbidos. A verdadeira saúde inicia-se no pensamento dignificante que constrói vigorosos combatentes psíquicos sempre em vigilância e na posição de luta contra os vírus produzidos pelos adversários do bem, que invadem a organização celular das criaturas levianas, sustentando-as nas aspirações doentias a que se adaptam e nas quais se comprazem.” E o Dr. Bezerra de Menezes ainda complementa: “Nestes dias da grande transição planetária ocorrem e sucederão muitos fenômenos aterradores, que são os frutos apodrecidos da conduta social das criaturas terrestres, cada vez mais degradada, chamando a atenção para a mudança que se dará, propiciando harmonia e legítima alegria de viver.”

Lamento profundamente o declínio da área de Ciências Humanas no Brasil. E faço minhas as palavras de Norberto Elias: “As consequências imediatas de tal declínio, de uma perda de poder e de status, são os sentimentos habituais de desânimo e desilusão, da falta de valor e de objetivo, misturados a inclinação ao cinismo, niilismo e recolhimento, que podem se tornar dominantes.”

Aguardemos para breve um ministro da Educação menos subserviente à política econômica e o término de uma contagiante aversão de inúmeros à política multifacetada, quando a cidadania de todos raiará no céu da Pátria.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 08 de outubro de 2019

REFLEXÕES INDISPENSÁVEIS - PARÁBOLAS EVANGÉLICAS

 

 

REFLEXÕES INDISPENSÁVEIS

Diante de dois livros iguais recebidos de uma editora paulista, resolvi dar um deles à Roseane, amiga muito querida da Casa dos Humildes, Recife-PE, onde sou trabalhador soldado raso. E li numa tarde o exemplar que permaneceu comigo, amando mais o maior educador que a humanidade já viu, o Homão da Galileia, Jesus de Nazaré, cujas mensagens até hoje alicerçam condutas de cristãos e não-cristãos mundo afora. Transmitidas há mais de dois mil anos, elas persistem em responder indagações do tempo presente, facilitando imensamente a compreensão da Boa Nova.

O livro Parábolas Evangélicas: à luz do Espiritismo é de autoria de Rodolfo Calligaris (1913-1975), nascido na cidade de Americana, SP, um dos fundador do Lar Espírita Esperidião Prado, em 1964, ocupando posto de diretor até sua desencarnação.

Editado pela FEB em 2016, 11ª. edição, com 119 páginas, o livro traz as seguintes parábolas: Do semeador, do joio e do trigo, do grão de mostarda e do fermento, do tesouro escondido e da pérola, da rede, do credor incompassivo, dos trabalhadores e das diversas horas de trabalho, dos dois filhos, dos lavradores maus, das bodas, das dez virgens, dos talentos, da candeia, do bom samaritano, do amigo importuno, do avarento, do servo vigilante, da figueira estéril, dos primeiros lugares, da previdência, da ovelha e da dracma, do filho pródigo, do mordomo infiel, do rico e Lázaro, dos servos inúteis, do juiz iníquo, do fariseu e do publicano, e da semente. Todas elas são riquíssimas mensagens para os tempos atuais, onde o planeta sofre com uma má distribuição de renda, com perversos individualismos e com múltiplos preconceitos de etnia, região, crença, gênero e ideologia, consequências das desatenções às mensagens do Divino Mestre.

Das parábolas lidas no livro do Rodolfo Calligaris, algumas delas, quando lidas pela vez primeira em tempos pretéritos, produziram fortes efeitos em meu comportamento social. Uma delas, a dos talentos, eu a reproduzo abaixo para todos os educadores brasileiros, responsáveis diretos pela cidadania de jovens e adultos que necessitando estão de ampla capacitação técnica e social.

Seguinte: um proprietário, necessitando ficar afastado de seus empreendimentos por longos meses, chamou três dos seus servidores para uma conversa sobre seus negócios. A um entregou cinco talentos, a outro dois e ao terceiro apenas um.

Na sua volta constatou que o primeiro deles, o que recebera cinco talentos, fizera bons negócios e ganhou outros cinco talentos. O segundo, tendo recebido dois, devolveu os dois e mais dois, fruto de suas iniciativas empreendedoras. O que tinha recebido apenas um, devolveu o mesmo talento, posto que, amedrontado, o tinha enterrado para não ser mal sucedido.

Elogiando os dois primeiros, o proprietário recriminou o terceiro: “- Servidor mau e preguiçoso, se sabias que ceifo onde não semeei e que colho onde nada pus, deverias pôr meu dinheiro nas mãos dos banqueiros, a fim de que, no meu regresso, eu pudesse retirar os juros que me pertenciam!”

Para os que não ainda leram a parábola dos talentos, Mateus 25, 14-30, uma explicação de Calligaris: “a distribuição de talentos desiguais, ao contrário do que pode parecer, nada tem de arbitrária nem de injusta: baseia-se na capacidade de cada um, adquirida antes da presente reencarnação, em outras jornadas evolutivas.” Os servos que fizeram os talentos se multiplicarem são aqueles que souberam efetivamente cumprir a vontade de Deus, empregando bem a fortuna, a cultura, o poder, os dons que foram acumulado.

E o Rodolfo Calligaris expõe ainda duas advertências. A primeira diz que desconhecemos por completo quando o Senhor nos chamará para prestar contas. A segunda indaga sobre o nível de preparação nossa para o dia da chamada. No atual mundo em crise profunda, inúmeros dirigentes empresariais e homens públicos encobrem suas faltas e fraquezas cinicamente atribuindo a culpa a terceiros, muitos deles sem uma mínima responsabilidade, sendo apenas vítimas de um sistema injusto e nada compensador.

Relendo no livro a parábola do juiz iníquo, lembrei-me dos tribunais brasileiros de todas as instâncias, onde a justiça muitas vezes é praticada de acordo com interesses políticos espúrios e conveniências de classe, havendo até magistrado que entrou armado para eliminar um colega, imaginando suicidar-se em seguida. Não praticando os atos programados por frouxidão repentina.

E Calligaris questiona: “Se, malgrado todas as deficiências e fraquezas dos que, na Terra, presidem os serviços judiciais, as causas têm que ser solucionadas um dia, ainda que com grande demora, por que duvidar ou desesperançar das providências do Juiz celestial?”

Que cada um de nós saiba levantar bem alto a candeia, para que todos vejam a luz mensageira. A parábola da candeia, contada por Marcos 4,21-25 e também por Lucas 8, 16-18) incentiva a transmissão das lições notáveis do Homão da Galileia, de modo a dissipar as trevas da ignorância que envolvem almas desprovidas de esclarecimentos que favoreçam a erradicação dos egoísmos e egolatrias, das corrupções e preconceitos, favorecendo a participação efetiva de todos nos serviços missionários a cada um atribuído.

O livro do Calligaris me proporcionou uma dupla alegria. A primeira, reler parábolas do Homão da Galileia, nosso Irmão Libertador, seguidas de agudas reflexões. A segunda, a de presentear Roseane, amiga querida, na certeza da aplicação das mensagens no desempenho das suas atividades profissionais.

Para os que necessitam de mais esclarecimentos, recomendo Para viver a grande mensagem, Richard Simonetti (1935-2018), 10ª. edição, Brasília, FEB, 2018, 178 p. E o testemunho do prefaciador Geraldo Campetti Sobrinho, Vice-presidente da FEB, é terminal por derradeiro: “Estou certo de que a leitura desta obra e as reflexões dela decorrentes propiciarão a você, amigo leitor, inesquecível aprendizado e o despertar para vivência cotidiana da grande mensagem do Evangelho de Jesus, revivido integralmente pela Doutrina Espírita nos tempos atuais.”


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 01 de outubro de 2019

ORIGENS DO NAZISMO E O HOLOCAUSTO

 

 

ORIGENS DO NAZISMO E O HOLOCAUSTO

1. Muitos acreditam que o nazismo é decorrência de geração espontânea, fruto de mentes doentias e amplamente desmoralizadas, antissemitas por derradeiro, ansiosas por vingança diante da derrota acontecida na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), inclusive um Tratado de Versalhes imposto humilhantemente pelas forças aliadas.

A leitura de um livro esplendorosamente resultante de pesquisas exaustivas desconstrói a ingenuidade acima: Espelho do Ocidente, Jean-Louis Vullierme, Rio de Janeiro, DIFEL, 2019, 363 p. Uma análise consistente sobre o nazismo e a civilização ocidental. Segundo o autor, “sou de uma família que lutou contra o nazismo e foi parcialmente destruída por ele. Isso já seria motivo suficiente para me interessar pelo assunto mais que os outros, mas não é a razão principal. Sempre me pareceu fundamental entender aquele que constitui o acontecimento mais destrutivo da história moderna, identificando suas raízes para procurar extirpá-las.”

O livro é composto de duas partes, além de uma Introdução intitulada Nuremberg, cidade do Ocidente. A primeira parte – A ideologia do extermínio – é composto de seis capítulos: 1. Comentários sobre um mistério; 2. Um modelo americano; 3. A revolução nacionalista; 4. Colonialismo e brutalidade; 5. A ação histórica; 6. O Antagonismo. Na parte segunda, dois capítulos: 7. Terapias cognitivas; 8. Construções míticas, perspectivas concretas. A conclusão denomina-se Encarar o Ocidente.

Na Conclusão, uma advertência do autor: “Julguei necessário olhar o Ocidente bem de frente. Ele gerou nazismo, liberalismo, comunismo, fascismo e também humanismo. Ninguém pode considerar-se autônomo em relação a ele. … As amputações clássicas propostas são por demais parciais para que se possa esperar uma cura.”

2. Em relação ao crime mais infame da história do mundo, buscando entender como a obscenidade foi executada, recomendo uma leitura complementar à acima oferecida: O Holocausto – uma nova história, Laurence Rees, São Paulo, Vestígio, 2018, 574 p. O trabalho tem um Prólogo e um Posfácio, além de 18 capítulos: 1. As origens do ódio; 2. O nascimento dos nazistas (1919-1923); 3. Da revolução às urnas (1924-1933); 4. Consolidação do poder (1933-1934); 5. As leis de Nuremberg (1934-1935); 6. Educação e construção do Império (1935-1938); 7. Radicalização (1938-1939); 8. O início da guerra racial (1939-1940); 9. Perseguição no Ocidente (1940-1941); 10. Guerra de extermínio (1941); 11. A estrada para Wannsee (1941-1942); 12. Procurar e matar (1942); 13. Campos de extermínio nazista na Polônia (1942); 14. Matar – e persuadir outros a ajudar (1942-1943); 15. Opressão e revolta (1943); 16. Auschwitz (1943-1944); 17. A catástrofe húngara (1944); 18. Matar até o final (1945). Posfácio.

O assassino Hitler, na sua autobiografia, diz ter externado ódio pelos judeus desde quando batalhava em Viena para ser pintor, muito embora o antissemitismo tenha uma origem bem mais longínqua, bastando consultar o Novo Testamento, Jo 8,44 e Jo 8,59. Prova cabal de que ideias nocivas contra os hebreus já pululavam nos primórdios do Cristianismo, quando das primeiras transcrições evangélicas. .

No Posfácio, explicita o autor, que “o Holocausto é o crime mais infame da história do mundo. Precisamos entender como essa obscenidade foi possível. E este livro, que parte não só desse material inexplorado, mas também de recentes estudos acadêmicos e de documentos da época, é a minha tentativa de fazer exatamente isso.”

3. Para muitos de nós, brasileiros, que não imaginam a existência de movimentos revisionistas que tentam negar o Holocausto, além do recrudescimento do antissemitismo no Velho Mundo, é também mais que oportuna a leitura dos dois volumes de Histórias de Vida: refugiados do nazifascismo e sobreviventes da Shoah – Brasil: 1933-2017, Maria Luiza Tucci Carneiro & Raquel Mizrahi (coordenadoras), São Paulo, Maayanot, 2017, 2 volumes. Segundo Luiza Tucci, “os testemunhos aqui impressos foram registrados por uma equipe de pesquisadores do Arquivo Virtual sobre Holocausto e Antissemitismo (Arqshoah), um dos núcleos de estudos do Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação (LEER), sediado junto ao Departamento de História da Universidade de São Paulo. Representa o Arqshoah a somatória de esforços de instituições acadêmicas, fundações de pesquisa, associações judaicas e não judaicas, empresários e pessoas físicas preocupadas com a persistência do pensamento racista no mundo atual, assim como a capacidade que o homem tem de praticar o mal. E com uma Introdução que conclui: “Não podemos nos esquecer daqueles que abriram as portas de suas casas e dos orfanatos para salvar as crianças judias, muitas das quais órfãs. Pessoas anônimas do baixo clero também devem ser lembradas, pois, correndo o risco de vida, emitiram falsos atestados de batismo que facilitaram a emissão dos vistos para emigrar. Lembramos aqui o caso do Brasil que, apesar das Circulares Secretas impostas pelo governo de Getúlio Vargas (1937 e 1945), recebeu cerca de 14 mil refugiados judeus, muitos dos quais portavam vistos provisórios de turistas e de trânsito, ou vistos de católicos acompanhados de falsos atestados de batismo. Como em toda melodia, encontraremos pausas e silêncios, algumas propositais, outras compreensíveis. Caberá ao leitor identificar o fio comum que une todas as histórias impressas nesta coleção Vozes do Holocausto.”

O segundo volume da coleção contém uma cronologia Europa-Brasil, desde 1922, 31 de outubro, quando Mussolini torna-se primeiro-ministro da Itália, até 1945, 7 de maio, quando se efetiva a rendição alemã, a guerra se findando.

A solicitação do final do prefácio do volume 2 é de autoria de Y. David Weitman: “Rogamos ao Todo-Poderoso que estas obras possam ser um tijolo na grande muralha protetora dos males que geram a intolerância, a xenofobia e o antissemitismo. Que a humanidade possa merecer, rapidamente em nossos dias, o cumprimento da profecia messiânica, de que ‘uma nação não levantará a espada contra outra nação, e não aprenderão mais a travar guerras’ (Isaías 2,4).”

Saibamos ampliar a nossa fraternidade planetária !!


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 24 de setembro de 2019

SEMENTES PARA UMA CRITICIDADE CIDADÃ

 

 

SEMENTES PARA UMA CRITICIDADE CIDADÃ

Diante de debates acontecidos nas redes sociais ou nos canais televisivos brasileiros, jovem médico, filho de amigo fraterno, pediatra dos melhores na capital pernambucana, me perguntou que leituras deveria fazer para ampliar sua criticidade perante seu círculo de amizades. Segundo ele, os sectarismos radicais são aporrinhadores por derradeiro, favorecendo discussões rancorosas sem pé nem cabeça.

Para o jovem médico, algumas recomendações ofereço, divididas em dois blocos:

O primeiro livro do bloco primeiro, nitidamente panorâmico, intitula-se A Grande Regressão: um debate internacional sobre os novos populismos e como enfrentá-los, organizado por Heinrich Geiselberger (organizador), São Paulo, Estação Liberdade, 2019, 352 p. Que já no prefácio contém um alerta: “Quando uma ordem mundial desaba, inicia-se a reflexão a seu respeito.” O livro contém análises sobre os novos populismos de direita, a brutalização da cultura política, o surgimento de demagogos autoritários e o que podemos fazer quanto a isso.

Uma outra análise sobre o contexto mundial se explicita em O povo contra a democracia: por que nossa liberdade corre perigo e como salvá-la, Yascha Mounk, São Paulo, Companhia das Letras, 2019, 444 p. Com um prefácio à edição brasileira, o livro, segundo o The Guardian, é “uma explicação clara, concisa e perspicaz das condições que fizeram a democracia liberal funcionar – e como o colapso delas é a fonte da atual crise democrática em todo o mundo.” O livro analisa, sem escapismos procrastinadores, a natureza da crise atual, expondo uma admirável combinação de experiência acadêmica e senso político.

Uma última recomendação relativa à área planetária: O Inimigo do Povo: uma época perigosa para dizer a verdade, Jim Acosta, Rio de Janeiro, Harper Collins, 2019, 384 p. Uma análise bem elaborada de como Trump usa a instabilidade como meio de governo. Uma análise bastante criteriosa dos que estão pondo a Democracia à beira do abismo. Um retrato fiel traçado pelo autor, um repórter veterano, intelectualmente apto para interpretar os ataques feitos pelo presidente Trump à imprensa falada, escrita e televisionada da nação americana.

Na parte analítica nacional, o primeiro livro é de autoria de Sabrina Fernandes: Sintomas Mórbidos, São Paulo, Autonomia Literária, 2019, 400 p. A autora é PhD. em Sociologia, com especialidade em Economia Política pela Carleton University, Canadá. Também pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de Brasília. E ainda youtuber, produtora de um canal de divulgação científica e política intitulado Tese Onze. Segundo a revista Época, “se há alguém no progressismo youtuber capaz de fazer frente a Olavo de Carvalho, o guru do Bolsonaro, seu nome é Sabrina Fernandes.” A autora analisa a famosa tese de Antônio Gramsci, pensador marxista italiano: “A crise consiste precisamente no fato de que o velho está morrendo e o novo não pode nascer; neste interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparece.”

Um outro livro do segundo grupo está embasado numa tese amplamente comprovada: “O antipetismo mostrou-se, na campanha de 2018, uma força social muito mais mobilizadora, e o ‘partido da lava jato’ maior que o lulismo.” Intitula-se A Eleição Disruptiva: por que Bolsonaro venceu, Maurício Moura & Juliano Corbellini, Rio de Janeiro, Record, 2019, 167 p. Os autores conseguiram explicar o resultado das urnas sem complicações academicistas, por meio de duas perguntas: 1. Quais eram os principais anseios do eleitor?; 2. Como esse eleitor estava se informando? Duas reflexões anunciam o volume: “A pior cegueira é a mental, que faz com que não reconheçamos o que temos pela frente”, de José Saramago, a primeira. A segunda é de autoria de Sun Tzu reconhecido mundialmente: “Todos podem ver as táticas de minha conquista, mas ninguém consegue discernir a estratégia que gerou as vitórias.”

Dentre os textos analíticos nacionais, recomendaria ainda uma terceira leitura Brasil em transe: Bolsonarismo, Nova Direita e Desdemocratização, Rosana Pinheiro-Machado & Adriano de Freixo (orgs), Rio de Janeiro, Oficina Raquel, 2019, 164 p. Para o coordenador da coleção Pensar Político, Adriano Freixo, “compreender a dinâmica política dessa sociedade tão complexa e multifacetada e as complicadas tramas e teias nela presentes é sempre um desafio para os acadêmicos e intelectuais que se propõem a fazê-lo.

Para ainda analisar a área brasileira, outro conjunto de textos sobre as eleições de 2018, considerada “um marco no curso da história de nosso atual regime democrático, iniciado com a promulgação da Constituição de 1988”. Intitula-se Democracia em Crise? 22 ensaios sobre o Brasil hoje, Vários Autores, São Paulo, Companhia das Letras, 2019, 372 p. Em nota, os editores esclarecem: “Conscientes de nosso papel de estimular a discussão de ideias em momentos singulares, decidimos convidar intelectuais habituados ao debate público, das mais diversas áreas (mas com predomínio, talvez natural, dos que pensam política em sentido amplo), para escreverem artigos de interpretação, a quente, do fenômeno que vivemos atualmente.” Textos bastante esclarecedores, ressaltando o ensaio A bolsonarização do Brasil, de Esther Solano, PhD. em Sociologia pela Universidade Complutense de Madri, Espanha. Articulista da Carta Capital.

Por fim, para uma compreensão intelectual mais acurada, recomendo o livreto Marxismo Desmascarado, de Ludwig Von Mises, Campinas SP, Vide Editorial, 2015, 159 p. O autor (1881-1973) é considerado até hoje o maior expoente da chamada Escola Austríaca de Economia, fundada por Carl Menger. Dele a autoria do famoso tratado Ação Humana, onde Mises apresenta uma visão integral da economia, livrando-a do positivismo matemático e meramente estatístico. O livro explicita conferências de Ludwig Von Mises pronunciadas na Biblioteca Pública de São Francisco, em junho/julho de 1952. Ele acreditava que uma crítica séria ao socialismo deveria lidar com muito mais conteúdo do que sua simples inviabilidade econômica, mas com consistentes fundamentos filosóficos e políticos do homem e da sociedade.

No mais, desejando bons resultados nas leituras sementeiras do jovem pediatra, relembraria apenas a célebre reflexão do Celso Furtado, um economista que entendia desenvolvimento acima de qualquer suspeita: “O quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos. Mas será que o triângulo é retângulo?”.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 17 de setembro de 2019

NOTAS SUPIMPAS

 

 

NOTAS SUPIMPAS

1. Uma pesquisa assinada pelo jornalista Edson Athayde, publicada pelo Diário de Notícias, alguns anos passados, em Lisboa, relacionou algumas pérolas produzidas por noticiaristas europeus, alguns deles de méritos internacionais. Escolhi uma pequena coleção, para uma ampla e irrestrita desopilação figadal:

– “Parece que ela foi morta pelo seu assassino”;

– “Ferido no joelho, ele perdeu a cabeça”;

– “Os antigos prisioneiros terão a alegria de se reencontrar para lembrar os anos de sofrimento”;

– “Quatro hectares de trigo foram queimados, a princípio trata-se de um incêndio”;

– “O velho, antes de apertar o pescoço de sua mulher até a morte, suicidou-se”;

– “No corredor do hospital psiquiátrico, os doentes corriam como loucos”;

– “Ela contraiu a doença na época em que estava viva”;

– “O aumento do desemprego foi de 0% em novembro”;

– “Esta nova terapia traz esperanças a todos aqueles que morrem de câncer a cada ano”;

– “Apesar da meteorologia estar em greve, o tempo esfriou ontem intensamente”;

– “Um surdo mudo foi morto por um mal entendido”;

– “A vítima foi estrangulada por golpe de facão”;

– “Este ano, as festas de 4 de setembro coincidem exatamente com a data de 4 de setembro, que é a data exata, pois o 4 de setembro é um domingo”

Para completar a dose desta primeira nota, algumas falas foram retiradas de registros oficiais de tribunais de além mar. Todo o escrito a seguir foi transcrito como foi falado, algumas deles já integrando o Equiness Book. Eis uma amostra:

– “Foi este o mesmo nariz que você quebrou quando criança?”;

– “Então, doutor, não é verdade que quando uma pessoa morre durante o sono, na maioria dos casos ela o faz de maneira calma e não se dá conta de nada até a manhã seguinte?”;

– “Foi você ou seu irmão que morreu na guerra?”;

– “O filho mais jovem, o de 20 anos, quantos anos ele tem?”;

– “O que significa a presença de esperma? – Significa relação consumada. – Esperma masculino? – É o único que eu conheço”;

– “Você tem filhos ou coisa do gênero?”;

– “Vou lhe mostrar a Prova 3 e peço-lhe que reconheça a foto. – Este sou eu. – Você estava presente quando esta foto foi tirada?;

– “Então, Sr. Johnson, como o seu casamento acabou? – Por morte. – E ele acabou pela morte de quem?”;

– “Há quanto tempo você está grávida? – Vai completar 3 meses no dia 8 de novembro. – Então, aparentemente, a data da concepção foi 8 de agosto. – Sim. – E o que você estava fazendo?”;

– “Sra. Jones, quantas vezes a sra. cometeu suicidio?”;

– “Ela tinha 3 filhos, certo? – Sim. – Quantos meninos? – Nenhum. – Tinha alguma menina?”;

– “Você não sabe o que era, nem com o que se parecia, mas você pode descrever?”;

– “Você disse que a escada descia para o porão. Essa escada, ela também subia?”;

– “O senhor está qualificado a apresentar uma amostra de urina? – Sim, desde criancinha.”

2. Me locomovendo com a Sissa, no sábado, para assistir o notável filme Divaldo, mil vezes superior ao Kardec outro dia em cartaz, motorista me contou um fato pra lá de interessante. Sua filha de 8 anos, chegando da escola, lhe informou que a professora tinha colocado num teste escolar “Qual era o nome de Tiradentes?. E que ela, percebendo a “pegadinha” preparada pela docente, de bate-pronto colocou no papel a resposta: Tiradentes. Segundo ela, o nome de Tiradentes era Tiradentes, sem tirar nem pôr!!

3. Releio uma carta de Euclides da Cunha, escrita em agosto de 1909. E me convenço da sua gritante atualidade: “Estamos no período hilariante dos grandes homens-pulhas, dos Pachecos empavesados e dos Acácios triunfantes. Nunca se berrou tão convictamente tanta asneira sob o sol”. E atualmente compreendo bem melhor a indignação do autor de Os Sertões, ao rememorar a notável Hannah Arendt, no seu livro Entre o Passado e o Futuro“O problema da educação no mundo moderno está no fato de, por sua natureza, não poder este abrir mão nem da autoridade, nem da tradição, e ela ser obrigada, apesar disso, a caminhar em um mundo que não é estruturado nem pela autoridade nem tampouco mantido coeso pela tradição”.

4. Não tenho vergonha de dizer que chorei ao assistir o filme DIVALDO, sábado pela manhã no Tacaruna, na companhia da Sissa, minha inspiração cotidiana, e Tânia, cunhada muito amada. Com a franqueza de sempre: o filme, para mim, foi mil vezes superior a KARDEC, outro filme espírita recentemente exibido. Vale a pena assistir o filme DIVALDO. Encanta, evangeliza e torna o ambiente bem humorado, com ampla fragrância de rosa, presença da médium Joana de Ângelis, orientadora de Divaldo Franco, pressentida por muitos em toda a área de exibição da película. Um filme merecedor de entusiásticos aplausos ao final da exibição. Louvado seja Deus!!! Viva Divaldo Franco, uma mescla de Francisco de Assis com Paulo de Tarso do mundo contemporâneo !!


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 10 de setembro de 2019

SOBRE OS AMANHÃS HEBRAICOS

 

 

SOBRE OS AMANHÃS HEBRAICOS

Recomendado por amigo-irmão judeu, contemporâneo de Universidade Católica de Pernambuco, anos 60, hoje sediado em Campinas, docente laureado da Unicamp, adquiri o livro Tempo Futuro – judeus, judaísmo e Israel no século 21, Rabino Lord Jonathan Sachs, SP, Editora Sêfer, 2013, 269 p. Reflexões analíticas feitas pelo mundialmente conhecido rabino, que, segundo Roberto Luiz Guttmann apresentador do livro, faz “um apelo em defesa da liberdade e da afirmação e santificação da vida, fundamentada nos valores pelos quais nossos antepassados viveram e estavam dispostos a morrer: justiça, equidade, compaixão, amor ao estrangeiro e dignidade do ser humano, independentemente de cor, cultura e credo”. Segundo o Rabino Sacks, “a vida pode ser cheia de riscos e, ainda assim, ser uma bênção. Ter fé não significa viver com segurança. A fé e a coragem de conviver com a incerteza, sabendo que Deus está conosco na difícil mas necessária jornada para um mundo que  honra a vida e valoriza a paz”.

Além de um Prólogo, o livro contém onze capítulos: 1. História do Povo, Povo da História; 2. Ainda existe um povo judeu?; 3. Continuidade judaica e como obtê-la; 4. O outro: judaísmo, cristianismo e islamismo; 5. Antissemitismo: a quarta mutação; 6. Um povo que habita só?; 7. Israel, portal da esperança; 8. Um novo sionismo; 9. Conversa judaica; 10. Torá e sabedoria: o judaísmo e o mundo; 11. Tempo futuro: a voz da esperança na conversa da humanidade. Além de Epílogo, Notas e Leituras Suplementares.

No Prólogo algumas reflexões do autor merecem atenção redobrada dos historiadores dos amanhãs e de todos nós, cidadãos do mundo:

a. Israel vê-se diante de um coro de reprovações internacionais à sua tentativa de combater o novo terrorismo que, cruelmente, refugia-se no meio de populações civis. Se nada faz, Israel deixa de cumprir o primeiro dever de um Estado, que é o de proteger seus cidadãos. Se faz alguma coisa, os inocentes sofrem. É um enigma capaz de causar perplexidade à mente mais criativa e atormentar a consciência mais escrupulosa;

b. Diferentemente de Theodor Herzl, que imaginava que a existência do Estado de Isael daria fim ao antissemitismo, Israel tornou-se o foco de um novo antissemitismo, quando o Holocausto é uma lembrança vívida, constituindo-se um dos fenômenos mais chocantes da história da humanidade;

c. Há uma crise da continuidade judaica. Em toda a Diáspora, em média, um em cada dois jovens judeus escolhe, por meio do casamento misto, da assimilação ou do desligamento, não continuar a história judaica, sendo a última folha de uma árvore que durou quatro mil anos;

d. Há o eclipse do sionismo religioso em Israel, e da ortodoxia moderna na Diáspora, as duas modalidades de judaísmo que acreditavam na possibilidade de manter as condições clássicas da vida judaica no mundo moderno. Os judeus ou estão se envolvendo no mundo e perdendo a identidade judaica, ou perseverando sua identidade e afastando-se do mundo;

e. Há divisões incessantes dentro do universo judaico, a ponto de ser difícil falar dos judeus como um povo com destino comum e identidade coletiva;

f. O que domina, hoje, a consciência judaica, é a imagem de um povo sozinho, cercado de inimigos, privado de amigos, levando a más decisões e correndo o risco de tornar-se uma profecia que se autorrealiza;

g. Os judeus precisam recuperar a fé, não a fé simples, o otimismo ingênuo, mas a crença de que não estão sós no mundo. A fé manteve o povo judeu vivo. A fé derrota o medo;

h. O medo gera um senso de vitimização. A vítima acha que está só e todos estão contra ela, ninguém a compreendendo. Adota então duas opções: fechar-se dentro de si ou agir agressivamente para se defender, culpando o mundo e não a si própria. Seus temores podem ser reais, mas a vitimização não é a melhor maneira de lidar com eles. O medo é uma reação errada à situação dos judeus no mundo contemporâneo, sempre se acreditando que os tempos são os piores possíveis, embora jamais, em quatro mil anos, os judeus desfrutaram, simultaneamente, de independência e soberania em Israel e liberdade e igualdade na Diáspora;

i. Apesar das guerras e terrorismos, a época contemporânea não é a pior das épocas, mas a mais desafiadora. Há um florescimento cultural, educacional e até espiritual da vida judaica na Diáspora que seria inimaginável um século atrás; e

j. Atualmente, corremos apenas o risco de esquecer quem são os judeus, por que o povo judeu existe e qual é o seu lugar no projeto global da humanidade, no passado sobrevivendo sempre sob um balizamento: não viviam só para si.

O propósito do livro, segundo o rabino Sacks, é uma questão mais ampla: quem são os judeus e por quê? E ele esclarece: “Meu papel é pequeno, sou uma voz entre muitas e tem sido um privilégio trabalhar com pessoas e instituições judaicas e não judaicas, que fazem muito mais”. Embora ressalte: “Existe uma ausência nesses esforços. Não é culpa de ninguém. É o preço que se paga pela urgência e envolvimento. Notei que estava faltando o quadro maior, a perspectiva histórica, ligar os pontos para formar uma figura que nos mostre o quem, o quê e o porquê da situação judaica contra o vasto pano de fundo da paisagem humana histórica”.

Citando um versículo bíblico mais lido por não judeus que por judeus – “Sem visão, o povo perece” (Provérbios 29, 18), o autor enaltece a leitura por todos aqueles que acham que o século 21 tem configurações diferenciadas dos séculos anteriores, onde “o velho semitismo, produto do nacionalismo romântico europeu do século 19, não é igual ao novo, por mais antigos que sejam os mitos reciclados. Não se pode combater o ódio transmitido pela internet do mesmo modo que se combatia o ódio pertencente à cultura pública”.

A conclusão do autor, no Prólogo de um livro que deve ser urgentemente mais divulgado e debatido, é uma convocação para cristãos, muçulmanos, budistas, hindus, sikhs e humanistas seculares: “O povo judeu é antigo, porém ainda cheio de energia moral; conheceu as piores aflições do destino e, no entanto, continua capaz de alegrar-se, mantendo-se como símbolo vivo da esperança”.

É chegado o tempo de uma ampla confraternização universal !! Para o bem de todos nós !!


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 03 de setembro de 2019

CAMINHADAS FAMILIARES

 

 

CAMINHADAS FAMILIARES

Com as transformações ultra velozes que a tecnologia e as comunicações estão provocando no mundo inteiro, o desenvolvimento profissional sofrendo exigências desconhecidas algumas décadas passadas, é de se lamentar uma educação de crianças e adolescentes repleta de entupimentos didáticos nada libertadores. E isso tudo se reflete em graves problemas que estão acarretando às famílias do planeta, principalmente às situadas em contextos mentalmente menos evoluídos, ainda vítimas de múltiplas dominações sociais, políticas e religiosas.

Os especialistas numa educação efetivamente contemporânea, sem os moralismos e hipocrisias que ainda maculam as práticas pedagógicas de instituições educacionais públicas e particulares de um Brasil ainda “meninão meio abestado”, expressão utilizada pela meu irmão querido João Silvino da Conceição, estão amplamente preocupados. E induzem um militante ainda vivo e bulindo como o João a implorar cotidianamente por mais respeito e solidariedade entre os povos, sempre apreensivo com os amanhãs advindos de uma educação de primeiro grau capengante, sem eira nem beira, apenas alfabetizando pra inglês ver e capitalismo progredir.

Uma esquerda psicopática também muito ajuda no fomento ao reacionarismo estupidificante de uma direita vesga, que nunca assimilou a reflexão do economista Celso Furtado, sempre presente entre as mais diferenciadas discussões desenvolvimentista do país, onde os debates lúcidos estão alimentando, ainda que às altas horas da noite, as mentes inquietas dos pensantes: “o quadrado da hipotenusa é a soma dos quadrados dos catetos, mas será que o triângulo é retângulo?”

No seio das famílias, então, a situação é de estupefação. De um lado, as famílias que ainda se preocupam com a aquisição de livros para os filhos adquirem textos ilusórios, ainda que bem editados, fomentando uma criticidades alienada, quase histérica, sem um mínimo de pensaçãofavorável para iniciativas reconstrutoras diferenciadas da ineficiência existencial. Do outro, as famílias de baixa renda, ansiosas por assistencialismos estatais fomentadores de ilusão, são portadoras de celulares de informações catequizadoras do comodismo ou da ansiedade por riqueza e fama de supetão, pouco valendo a moral e os bons costumes, o salve-se-quem-pudertelevisivo sendo o anestésico principal diante das necessidades mais vitais. O ganho fácil superando em muitos pontos os frutos de iniciativas sementeiras de qualidade reprodutora crescente. O apenas TER sobrepujando em muitos níveis o SER, segundo análise famosa de Erich Fromm.

Outro dia, um pai de família funcionário público de escalão primário, me perguntava se valia a pena educar os filhos dando bons exemplos de dedicação e sacrifício em prol do futuro deles. Antes de oferecer resposta, indaguei do distinto se teria vontade de ler um livro de um vitorioso militante espírita que expunha didaticamente assuntos relacionados com a família nos seus múltiplos aspectos, nuanças, sutilezas, problemas, armadilhas e soluções. Um livro criteriosamente bem desenvolvido com sabedoria, favorecendo iniciativas na direção de um lar construído sob o signo da paz e da perseverança no amor a Deus, editado sob critérios não moralistas, tampouco fundamentalistas ou hipócritas.

Diante do compromisso assumido de ler, de fio a pavio, o livro sugerido, presenteei o irmão funcionário com o livro Vivências do Amor em Família, do Divaldo Pereira Franco, organizado por Luiz Fernando Lopez, Salvador BA, Leal, 2016, 576 páginas. O organizador é um recifense atualmente residindo em São Paulo, farmacêutico, professor universitário, Mestre em Psicologia pela Universidade de São Paulo, investigador nas áreas de ensino e pesquisa de Saúde Mental, Saúde da Família e Educação, sendo o tema da sexualidade humana objeto principal de seus estudos e trajetória profissional. Presente entregue, marcamos um reencontro três meses depois, num café popular do Mercado da Encruzilhada, situado no bairro de mesmo nome, na capita pernambucana.

O reencontro foi melhor que o esperado. Avistei o irmão funcionário sobraçando o livro presenteado com brilho incomum nos olhos. Todo rabiscado o livro, disse-me ele que estava integralmente diferente, sua família tendo participado de inúmeros saraus de leitura, onde debatidos foram as reflexões expostas pelo Divaldo Franco em diversos fatos lá citados, ensejando uma compreensão mais contemporânea de toda família, casal e três filhos adolescentes, com a presença de duas vizinhas interessadas.

O livro discutido busca sintetizar a longa caminhada de Divaldo Franco no campo do conhecimento espírita. Destina-se para todos aqueles crentes e não crentes que se sintam responsáveis pela condução de um núcleo familiar. Diz o coordenador Luiz Fernando Lopes que “o papel do lar no processo educacional foi demonstrado de forma inequívoca, proporcionando uma visão mais abrangente sobre as relações humanas na espiral da evolução. Neste cenário conceptual, o amor em família se legitima como um fator preponderante para o êxito de qualquer projeto reencarnatório.”

O trabalho coordenador pelo Lopes abarca 11 textos, onde em alguns preponderam também as reflexões seguras de Joanna de Ângelis, mentora espiritual do médium baiano. São eles: 1. Pelos caminhos da família; 2. Família e reencarnação; 3. Família e obsessão; 4. Maternidade e amor; 5. Nos passos da criança e do jovem; 6. Pais e filhos: a delicada relação; 7. Conflitos familiares; 8. Educação e vida: os vícios e a autoconsciência; 9. A morte na família; 10. Vínculos familiares além do corpo; 11. Religião, espiritualidade no ambiente familiar.

Seguramente uma obra de fôlego, onde os onze temas são enfocados com sapiência, favorecendo a emersão de uma ampliada enxergância nos participantes de uma problemática familiar nos contextos sociais e espirituais de um mundo de aceleradas reconfigurações cósmicas.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 27 de agosto de 2019

VACINA CONTRA MENTIRAS
 

VACINA CONTRA MENTIRAS

Uma reflexão que nos impulsiona para uma maior responsabilidade social: “A melhor defesa contra prevaricadores ardilosos, a mais confiável, é que cada um de nós aprenda a pensar criticamente. Falhamos em ensinar nossos filhos a lutar contra a evolucionária tendência em direção à ingenuidade.” Ingenuidades dos mais diferenciados quilates, políticos, religiosos, morais, científicos, midiáticos quase todos eles. Quem é o autor da constatação? Daniel J. Levitin, PhD professor de psicologia e neurociência comportamental na Universidade McGill, também chefe de Departamento de Ciências Sociais e Artes na Minerva Schools, em San Francisco, Estados Unidos.

O livro de Levitin foi editado do Brasil pela Editora Objetiva em julho corrente. Intitulado O guia contra mentiras: como pensar criticamente na era da pós-verdade, 325 páginas, recebeu o seguinte elogio do The Washington Post: “Um guia para quem deseja testar a autenticidade das informações que nos inundam de cada canto, iluminado ou escuro, da Internet.”

Na Introdução do livro acima citado, o autor realça a urgente necessidade de “acabar com a ideia de que a verdade não existe mais”, mormente para uma juventude cada vez mais hipnotizada pelas maquininhas eletrônicas, hoje repleta de “teorias marginais”, segundo Daily News, um jornal nova-iorquino, eufemismos utilizados para oferecer meias verdades, visões extremadas, verdade alternativa, teorias da conspiração e as mais recente das denominações, a “fake news”. Eufemismos que desmerecem a regra maior que conclama que “dois lados de uma história existem quando há evidências que embasem os dois lados.”

Para vexame comparável com a educação brasileira, o autor cita um estudo feito pela Universidade Stanford, concluído, após dezoito meses, em junho de 2016. O assunto era raciocínio cívico on-line. Foram testados 7800 alunos do ensino médio. E a conclusão foi aterradora: “a capacidade que os jovens têm de raciocinar sobre as informações disponíveis na internet se resumia numa só palavra: desoladora.” Traduzindo: o perigo está na intensidade de uma crença que retrata um excesso de confiança de que tudo é verdade. E a pesquisa faz uma conclusão demolidora: “o comportamento mais importante do melhor pensamento crítico que falta hoje é a humildade.” Ainda não percebemos que nossa dependência da internet criará fatalmente uma geração de crianças que não sabem que não sabem. E uma única maneira sadia de fazer prosperar uma democracia é restabelecer a dignidade ética de uma sociedade cidadã, desarmando as ondas de mentiras que ameaçam o planeta como um todo.

O texto do Daniel Levitin começou a ser desenvolvido em 2001, quando o autor percebeu, lecionando pensamento crítico na faculdade, que a periculosidade e o alcance das mentiras tornaram-se extraordinários. Tais mentiras se tornaram armas. Revela o autor: “Na internet, desinformação se mistura perigosamente com informação real, fazendo com que seja difícil diferenciar as duas. E desinformação é algo promíscuo – pode acontecer com pessoas de todas as classes sociais e níveis de educação e aparecer em lugares inesperados.”

Vejamos algumas aberrações que foram divulgadas com aspectos de seriedade:

1. Numa entrevista de emprego, o gerente de telemarketing, desejando alardear a excelência dos seus funcionário, declarou ao estagiário recém chegado:

– Nosso melhor vendedor conseguiu fazer mil vendas por dia.

Levando-se em consideração que a discagem telefônica dura cinco segundos, outro tanto para o telefone tocar do outro lado, dez segundos para fazer uma oferta e para ela ser aceita e quarenta segundos para solicitar e anotar o cartão de crédito e o endereço do comprador. Tudo resultando numa ligação de 60 segundos. Ou sessenta vendas em uma hora. E 480 vendas num dia de 8 horas de expediente. Consequentemente, as mil vendas não plausíveis.

2. Num boletim metido a científico, a informação em manchete:

“O custo de uma ligação telefônica caiu 12000%”.

Se caísse 100%, o custo iria a zero. Percentagem maior, alguém estaria pagando ao usuário.

3. Um gráfico em pizza da Fox News publicou o resultado de uma parte da corrida presidencial de 2012 nos Estados Unidos. Na pizza estavam estampados os seguintes resultados: Apoiam Palim 70%, apoiam Huckabee 63% e apoiam Romney 60%. Sabe-se que a primeira regra dos gráficos em pizza diz que os percentuais dos setores somar 100%. Uma informação descaradamente inverídica.

Na parte II do livro do Levitin, uma afirmação de Alfred Lord Tennyson chama logo a atenção do leitor, prevenindo-o contra aberrações lógicas escritas como se fossem verdades absolutas: “Uma mentira que é meia verdade é a pior das mentiras.” No Brasil atual, onde agrupamentos informativos se digladiam, buscando ampliar adesões a candidatos e partidos, o contraconhecimento está se constituindo numa arma bastante eficiente contra leitores ingênuos ou malfeitores mal intencionados, ou puxa-sacos babaovísticos. Definindo o termo cunhado pelo jornalista britânico Damian Thompson: desinformação elaborada para parecer fato e que tenha convencido uma parte considerável de pessoas.

O livro deveria ser recomendado para todos os alunos do Segundo Grau e também para aqueles vestibulandos que necessitam aprimorar a lógica dos escritos e das análises para uma vida acadêmica profissionalizante e cidadanizada.

A leitura do livro nada tem de complicada. O texto é repleto de exemplos fascinantes e dicas práticas, ensinando que compreender bem as estatísticas nos tempos de “fake-news” possibilita obter um julgamento mais sagaz, entendendo mais inteligentemente o mundo que nos rodeia, recheado de embromadores analíticos de afiada lábia. Alguns até exercendo altos postos na Administração Pública Federal.

 

 


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 20 de agosto de 2019

COMPORTAMENTOS VEXAMINOSOS

 

 

COMPORTAMENTOS VEXAMINOSOS

Uma instituição que mais influências positivas proporcionou ao mundo ocidental, o Vaticano, de alguns anos para cá se encontra envolvida com a divulgação midiática de inúmeros fatos que a estão denegrindo aceleradamente. Em 2013, li um texto demolidor de um escritor vaticanista que muito me sensibilizou negativamente: Os Pecados do Vaticano: soberba, avareza, luxúria, pedofilia e os segredos da Igreja Católica, Cláudio Rendina, Rio de Janeiro, Editora Gryphus, 2013, 358 p. Onde o autor analisa em detalhes a trajetória de uma instituição fundada pelo apóstolo Pedro, tido como primeiro bispo de Roma, embora sem qualquer fundamentação histórica. Instituição que há muito tempo vê seus dogmas e procedimentos contestados e desmascarados pelos diversos meios de comunicação, através de informes que revelam os vexaminosos comportamentos praticados nela e por ela, desde 1929, quando o Vaticano, com seus 44 hectares, foi definido pelo Tratado de Latrão, sua atuação se estendendo por dioceses, basílicas, abadias, mosteiros e um incomensurável patrimônio imobiliário pelo mundo afora.

 

Segundo Medina, no prólogo do seu livro, “a instituição ‘igreja’ comprometeu-se ao longo do tempo, pois a ‘santa casta’, que a dirige e controla, incorreu em ações de caráter terreno desalinhadas com a espiritual doutrina cristã, caindo em pecado ou mesmo na transgressão da lei divina, segundo interpretação catequista pela mesma Igreja.”

O livro se propõe a examinar a caminhada pecaminosa da Igreja, na sua trajetória de dois mil anos de existência, à luz dos dez mandamentos, dos sete sacramentos e dos aristotélicos sete pecados capitais, mediados por Tomás de Aquino, além de confrontá-la (a caminhada) com os denominados sete pecados capitais do terceiro milênio, proclamados pela Santa Sé, em 2008.

Os temas desenvolvidos por Rendina são os seguintes: Falso Testemunho, Avareza, Luxúria, Gula, Homicídio, Soberba e Preguiça. No Apêndice estão as seguintes informações complementares: As propriedades do Vaticano, Lista cronológica de papas e antipapas, Os 112 supostos maçons do Vaticano, Os pecados do Vaticano em documentos conciliares, os pecados do Vaticano em poesia e O glossário do Vaticano.

Este mês, a Editora Objetiva edita um outro documentário fantástico, relatando a corrupção e a hipocrisia do Vaticano: No Armário do Vaticano: poder, hipocrisia e homossexualidade, Rio de Janeiro, Objetiva, 2019, 499 p. Subdividido o sumário em quatro partes – Francisco, Paulo, João Paulo e Bento. Foi publicado simultaneamente em oito línguas e vinte países, tudo sendo baseado em fontes fidedignas, tendo a pesquisa durado quatro anos. Foram ouvidas mais de 1.500 pessoas, em trinta países, entre elas 41 cardeais, 52 bispos e monsenhores, 45 núncios apostólicos, embaixadores estrangeiros e mais de 200 padres e seminaristas. Todos as testemunhas e equipe de pesquisadores se encontram devidamente listados em mais de trezentas páginas disponíveis na internet (Sodoma, em inglês e francês)

Um livro como o de Martel jamais seria publicado há vinte anos, ou mesmo há dez anos, sendo a palavra libertada após a chegada do papa Francisco, com sua vontade férrea de reformar as estruturas eclesiásticas vaticanas, enfrentando uma séria oposição dos conservadores, inúmeros deles homossexuais enrustidos atrás do “armário” que teima em esconder segredos os mais vexaminosos possíveis. O autor adverte que o livro não aponta para a Igreja em geral, mas especificamente para um gênero “particular” da comunidade gay, de homens que projetam imagem de piedade, quando levam outra identidade nas áreas privadas, fazendo com que a instituição nunca tenha sido tão hipócrita sobre celibato e votos de castidade, escamoteando uma realidade total diferente, não mais segredo para o papa Francisco, que percebeu, quando de sua chegada em Roma, a força de uma corporação bastante consciente de sua caminhada influenciadora dentro e fora da área eclesial. Uma força classificada pelo escritor francês Marcel Proust de “possuidora de qualidades encantadoras”, ainda que dotada de “defeitos insuportáveis”, em seu romance célebre Sodoma e Gomorra.

É amplamente conhecido o saber do papa Francisco sobre o contingente homossexual, embora esteja cada vez mais indignado com as hipocrisias dos que pregam uma moral estupidamente estreita, numa duplicidade inúmeras vezes por ele denunciada nas suas homilias matinais na Casa Santa Marta. Uma delas: “Por trás da rigidez, há sempre alguma coisa escondida, em inúmeros casos, uma vida dupla.” E o autor Martel é categórico: “Ao ignorarmos a dimensão largamente homossexual, nos privamos de uma das principais chaves de compreensão da maior parte dos fatos que há várias décadas tem manchado a história da santa sé: as motivações secretas que incentivaram Paulo VI a ratificar a proibição dos métodos contraceptivos artificiais, o repúdio ao preservativo e a obrigação estrita ao celibato dos padres; a guerra contra a “teologia da libertação”; os escândalos do banco do Vaticano na época do célebre arcebispo Marcinkus, também ele homossexual; a decisão de proibir o preservativo como meio de luta contra a aids, no preciso momento em que a doença faria mais de 35 milhões de mortos; os casos VatLeaks I e II; a misoginia recorrente, e com frequência insondável, de inúmeros cardeais, e bispos; a renúncia de Bento XVI; a guerra atual contra o papa Francisco… Em cada uma dessas faces, a homossexualidade desempenha um papel central que muitos supõem, mas que nunca foi contado abertamente.”

O livro de Martel é memorável, uma excelente narrativa de não-ficção. Que realimenta intensamente a fé nas mensagens do Homão da Galileia, um iluminado que nunca fundou qualquer instituição.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 13 de agosto de 2019

FILOSOFIA PARA PRINCIPIANTES

 

 

FILOSOFIA PARA PRINCIPIANTES

Com muita frequência, deparo-me com profissional tecnicamente bem preparados, mas humanisticamente um dotado de princípios mínimos de uma postura crítica pensante, autênticos SHP – Ser Humano Paquidérmico, recheado de um nulificante posicionamento cidadão, de eleitor merdálico, que envergonha as estruturas democráticas de um país em níveis preliminares de fortalecimento histórico civilizatório.

Como todo mal tem uma causa, a ausência de Filosofia na Educação Fundamental e Média é apontada como a maior das deficiências apontadas. Atualmente, os gestores educacionais penam intensamente para contratar docentes que estimulem o corpo discente para estudos sistemáticos de área de imensa significância para os destinos da humanidade. Para ensinar Filosofia são designados docentes que não deram certos em outras ministrações, quando não aqueles que necessitam completar carga horária mínima de trabalho.

Para minimizar os efeitos catastróficos provocados pela ausência substanciosa de conteúdo filosofal nos primeiros graus de ensino, atrevo-me a recomendar um texto que muito me proporcionou instantes de efetiva reflexão sobre minha atual caminhada profissional terrestre, deixando-me mais obcecado em ser um sempre “aprendiz de tudo”, título dado a um dos meus primeiros livros: Filosofia: construindo o pensar, volume único, Dora Incontri/Alessandro Cesar Bigheto, São Paulo, Escala Educacional, 2010, 448 p. Com um sumário atraente, dividido em duas partes: Primeira Parte: Filosofando (1. Filosofia, o que é? Como, por que e para quê?; 2. Ser ou não ser? Eis a questão!; 3. Deus: uma dúvida, uma certeza ou uma negação?; 4. Temos certeza do que sabemos?; 5. Santos e vilões: o bem e o mal existem?; 6. O ser humano: projeto e condição; 7. Se eu vivo, logo existo?; 8. Se morro, logo não sou?; 9. O poder: um mal necessário?; 10. Quem quer um mundo diferente?; 11. Por uma Filosofia do diálogo; 12. Amor, coisa do corpo ou da alma?. Segunda Parte: Contando a História (Filosofia Antiga, A passagem para a Filosofia medieval, O Renascimento e a Filosofa moderna, Dois séculos entrelaçados, Filosofia contemporânea, Filosofia no Brasil. Em anexo, um Dicionário de Filósofos, com 133 referências biográficas de 133 filósofos.

Na introdução Conversa Necessária, os autores fazem as seguintes observações:

1. Nunca haverá dois livros de Filosofia iguais;

2. Cada autor vai entender a Filosofia de um modo todo seu, não querendo dizer que um livro esteja certo e outro errado;

3. O que se exige de cada um é a honestidade de atribuir a cada pensador o que ele realmente pensou;

4. Se discordamos de um determinado filósofo, não podemos dizer que ele disse o que não disse, ou seja não podemos mentir sobre suas ideias ou interpretá-las de maneira errônea;

5. Honestidade é não deixar nada de importante de fora;

6. Não podemos deixar de mencionar um pensador famoso da História, simplesmente porque não gostamos dele;

7. A organização da ideias e a maneira de interpretá-las são influenciadas pela nosso filosofia, pela nossa maneira de pensar;

8. A Filosofia não é um conhecimento como a Matemática, exato, preciso, indiscutível. Trata-se de um conhecimento interpretativo;

9. É muito mais honesto dizermos qual é nossa visão que nos arrogar ares de neutralidade absoluta e impossível;

10. A Filosofia toca todos os questionamentos da existência humana, todas as grandes questões da Ciência e da fé, dos porquês (causas), dos comos (formas) e dos para quês (finalidades).

11. Em Filosofia há os metafísicos e os niilistas, os que afirmam e os que negam o ser das coisas; os teístas e os ateus, os que afirma e os que negam a existência de Deus, além dos que negam a possibilidade de conhecer algo e os que negam a própria razão capaz de conhecer;

12. E há os que afirmam a existência de leis morais dentro do ser humano, independentemente da cultura e dos costumes, e os que negam princípios éticos universais, adotando uma ética que varia segundo o tempo e os costumes.

Exemplificando, os autores apontam posições extremas. De um lado, Sócrates e Platão, que afirmavam que somos seres, porque somos imortais, somos imortais porque somos divinos, a divindade está na alma e no mundo, também a inteligibilidade e o sentido estando no interior de cada um e no mundo. E que é possível conhece o mundo fazendo Ciência e Filosofia, sendo possível ainda conhecer-se, descobrindo a consciência moral e a presença divina em nosso interior através de uma ética não absoluta nem relativa.

Do outro lado extremo estão os niilistas que partilham a ideia de que o ser é nada, sendo nada nada pode conhecer e não podendo conhecer porque a realidade não tem fundamento, não tendo sentido, o tudo sendo apenas discurso. Cada capítulo do livro oferece oportunidades de reflexões individuais e grupais, favorecendo novos estudos e pesquisas.

Segundo recomenda Celso Grecco, especialista em desenvolvimento socioambiental, “não construiremos uma sociedade mais justa nem teremos a segurança de um futuro mais promissor aoenas evitando o errado. É necessário buscar ativamente o certo”. Se assim procedermos, jamais teremos receio de fazer cocô todos os dias…


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 06 de agosto de 2019

APONTAMENTOS VÁRIOS: PERISPÍRITO

 

 

APONTAMENTOS VÁRIOS

Na Apresentação, o alerta paramétrico: “Só entenderemos a complexidade da vida do Espírito se forem bem compreendidas as propriedades e características do corpo que o reveste – o períspirito – bem como o papel por ele desempenhado.”

O texto do Geziel é composto de quatro partes. A primeira é composta de revelações apreendidas por Allan Kardec, revelações que são mais detalhadas no Pentateuco escrito pelo pesquisador francês, atualmente consagradas mundialmente. Na segunda parte são expostas diversas revelações feitas pelos próprios Espíritos em várias épocas e locais, todas compiladas de forma criteriosa. Na terceira parte, as revelações advindas do Espírito André Luiz, que enriqueceram enormemente as pesquisas espíritas. Por último, na quarta parte são expostas valiosas conclusões obtidas pelas investigações feitas pelo Geziel Andrade, favorecendo uma ampla compreensão sobre o corpo que o Espírito conta na vida espiritual.

As 64 indagações e seus respectivos esclarecimentos proporcionarão um fascinante material, cuja leitura atenta em muito contribuirá para o nosso adiantamento intelectual, espiritual e moral. Além de oferecer um completo entendimento sobre o elo existente entre o Espírito e o corpo físico, esclarecendo o desempenho do Perispírito na vida encarnada e na desencarnada.

2. Estou absolutamente convencido que sem a atuação missionário de Paulo de Tarso, o mais brilhante seguidor do Homão da Galileia dos primeiros tempos do Cristianismo não haveria a espantosamente rápida difusão da Mensagem do Nazareno. Um judeu de Tarso, na Galícia, de forte personalidade, um convertido na estrada de Damasco, para onde se encaminhava com uma missão nada altaneira, a de aprisionar alguns seguidores do Homão da Galileia.

Dentre as mais expressivas análises sobre Paulo e suas missões, ousaria fazer duas indicações. O primeiro chama-se Paulo, um homem em Cristo, de Ruy Kremer, Brasília, FEB, 2016, 303 p. Segundo César Soares dos Reis, autor das orelhas, “este livro vivo, um livro com a voz de Paulo. Ele nos pega pela mão e faz caminhar. Uma força poderosa e doce pulsa dentro de nós e diz, na linguagem vivida do amor verdadeiro: – Vem, vem amigo! É irresistível.”

Como professor do Colégio Militar do Rio de Janeiro, História, integrava a CME – Cultura dos Militares Espíritas, de onde participou de várias diretorias, presidindo-a em várias gestões, proporcionando à entidade uma reestruturação adequada aos tempos contemporâneos, ampliando o Espiritismo em bases efetivamente cristãs.

3. Na área espírita, onde sou um simples trabalhador convertido na terceira idade, tenho me deparado com textos maravilhosamente bem escritos, onde destaco os de Chico Xavier, Divaldo Franco, Hermes Corrêa de Miranda, J. Herculano Pires, Martins Peralva, Eliseu Rigonatti, Robson Pinheiro, Léon Denis, Bezerra de Menezes, entre tantos outros. Entretanto, uma tradução do Novo Testamento, efetivada por Haroldo Dutra Dias – Brasília, Federação Espírita Brasileira, 2018, 607 p., me entusiasmou sobremaneira.

Haroldo Dutra é mineiro, Belo Horizonte, nascido em 1971, Juiz de Direito, graduado pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, nela também cursando cinco semestre de grego clássico, três semestres de literatura grega e um semestre de paleontologia e crítica textual. Ainda estudando, há anos, hebraico, aramaico e tradição judaica. E sua tradução do Novo Testamento em língua portuguesa foi efetivada diretamente dos manuscritos gregos, com foco na linguagem, sem qualquer menosprezo das questões culturais, históricas e teológicas. E o objetivo da obra está estampado na primeira orelha: “Transportar o leitor ao cenário no qual Jesus viveu, agiu e ensinou, a fim de que escute suas palavras, seus ensinamentos, como se fosse um morador daquela região, ensejando ouvir a voz do Mestre galileu em toda sua originalidade, vigor, riqueza cultural, para compartilhar com Ele a pureza genuína dos sentimentos espirituais superiores”.

Um documento que orienta os estudos bíblicos que requerem um discernimento muito mais evoluído do que as crenças nada lógicas do nosso cotidiano existencial.

4. Uma lacuna editorial foi recentemente coberta pela Editora Thomas Nelson, merecendo aplausos gerais: A origem: quatro visões cristãs sobre criação, evolução e design inteligente, Ken Ham et alii, Rio de Janeiro, 2019, 304 p. Quatro autores, representando as quatro visões mais importantes nos debates que acontecem sobre as origens do Universo, buscando a postura mais coerente com a narrativa bíblica. A palavra evolução provoca muito debate, ensejando múltiplas questões: Qual a idade do Universo?, A vida é resultado da evolução?, É possível conciliar a ciência e a Bíblia?; O que é necessário para se ter uma visão correta da origens?

O livro agrega quatro autores cristãos, que representam as visões mais importantes, proporcionando as leitores uma posição pessoal sobre as nossas origens, elegendo os argumentos mais persuasivos. Na orelha primeira do livro, uma diretriz: “Este livro isa fornecer um caminho para explorar com mais criticidade as origens do Universo, favorecendo leituras complementares mais consequentes, menos ingênuas.

Um livro de leitura essencial para os inquietos que não se acomodam diante dos questionamentos mais estruturais dos nossos começos.

5. No 14º. SIMESPE, acontecido neste último final de semana no Centro de Convenções, a fala de Divaldo Franco superou todas as expectativas. Na sala de autógrafos, um dos seu últimos livros – Trilhas da Libertação, 10ª. ed., Brasília, FEB, 2018, 279 p., foi um dos mais demandados. No livro, é apresentada, defendida e detalhada a posição da Medicina holística, que analisa o homem em seu todo: corpo material, mas, acima de tudo, um ser espiritual. Uma leitura indispensável para os que estudam obsessão. Um livro de grande profundidade para iniciantes e já estudiosos.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 30 de julho de 2019

QUEM FOI O HOMÃO DA GALILEIA?

 

 

 

QUEM FOI O HOMÃO DA GALILEIA?

Desde sempre, inúmeros cristãos e não-cristãos buscam resposta para quem foi Jesus de Nazaré. Para uns, ele foi o Messias, para outros um profeta, milhares o consideram um deus, outros tantos o consideram um gênio, inúmeros o classificam como santo e um sem-número aceitam-no como sábio, além dos que o menosprezam. E uma questão sempre permanece: diante de tantas opções, além das discordâncias, quem foi realmente o filho de Maria e José, que viveu em Israel no século I, primo de João Batista e que foi crucificado num madeiro como judeu subversivo?

No ano passado, setembro, um livro me chamou atenção: Quem foi Jesus? – uma análise histórica e ecumênica, André Marinho, Bragança Paulista/SP, Instituto Lachâtre, 2018, 312 p. O autor é brasileiro, nascido em 1982, filósofo, escritor e ator, tendo sido orientando de Hans Küng, um dos maiores teólogos o século XX. Dedicou anos de estudo às religiões, especialmente ao cristianismo (sua teologia e história) e ao espiritismo (sua doutrina e história). Segundo testemunho dele: “Foi o espiritismo, organizado por Allan Kardec, que me apresentou Jesus. Desde então, me impressionei com o ser humano Jesus e busquei conhecê-lo melhor.” E complementou: “Sempre tratei a religião com liberdade, sem medo de confrontá-la com os demais saberes. Cada vez mais defendo a importância do diálogo das religiões, com a academia, com a filosofia e com as ciências naturais e humanas.”

 

Uma leitura sedutora, o livro proporciona uma visão ecumênica, o texto não pretendendo vincular Jesus a uma verdade dogmática e ortodoxa, possibilitando ao leitor, religioso ou não, uma resposta convincente sobre o Homão da Galileia, não sendo um livro de catequese, sob hipótese alguma. Sempre balizando suas páginas sob a recomendação apostólica: “Que o Deus da paz esteja com todos vós”. (Rm 15,33). E o autor ainda esclarece: “Existe um autêntico Jesus histórico, nascido na Palestina, judeu, o mais influente líder de impacto religioso no mundo e, também, o que mais precocemente morreu. O livro dedica-se a esse Jesus, um ser determinado e real.” E justifica a elaboração do seu estudo: “Desaprender certas visões já consolidadas, para formarmos uma inteligência mais flexível e multifacetada, faz parte do processo de aquisição de cultura, gerando associações mais originais. A opção ou o apego pelo previsível e pelo conservadorismo dogmático é uma das tendências humanas que sempre denota indigência cultural e inteligência frágil.”

No texto construído durante mais de uma década, André Marinho faz uma análise criteriosa de Jesus sobre as seguintes vertentes:

Jesus – sem qualquer ilação com igrejas, tradição ortodoxa, autoridades eclesiásticas, história do cristianismo, mitos, dogmas, comunicações reveladas, nem mesmo com a Bíblia. Sua existência só podendo ser interpretada, por cristãos ou não cristãos, a partir de pesquisa crítica séria e altamente responsável, fornecedora de informações capazes de originar fundamentais interpretações sobre sua personalidade, re-descobrindo-se sua história e suas dimensões temporais e extratemporais.

Análise – nem os absolutismos presunçosos, tampouco as relativizações pseudoecumênicas, são favoráveis à abordagem utilizada, todas elas passíveis de questionamentos.

Intrarreligiosa – uma abordagem a mais abrangente possível, num franco diálogo com as demais formas de conhecimento, religiosos ou não. Sem nunca tratar as diferenças como “inimigas”, “infiéis” e ”hereges”. Sempre respeitando as peculiaridades de cada vertente.

Crítica – Perceber sempre que cada época tem sua leitura, embora Jesus esteja no agora, como também estava no outrora e estará no além.

Extrarreligiosa – Entender que Jesus é um grande personagem histórico, referência da sociedade ocidental há quase dois milênios, sendo um elo importante na história, dentro e fora do cristianismo.

Ecumênica – Um livro religioso e não-religioso. Religioso porque revela informações sobre a estrutura básica de uma das maiores religiosas do mundo. E não-religioso, pois não tem a intenção de converter ninguém ao cristianismo, nem demonstrar ser o cristianismo a melhor religião do mundo, como persistem alguns mais fundamentalistas.

Na confecção de seu estudo, Marinho buscou oferecer “uma nova demanda global, a exigir dimensões pós-colonialistas e pós-imperialistas, pós-capitalistas e pós patriarcais, um mundo pós moderno”. Favorecendo uma compreensão do Jesus de Nazaré sempre mote para novas pesquisas e interpretações.

A leitura do livro Quem foi Jesus? seguramente proporcionará, através de análise histórica e ecumênica, um novo olhar sobre o maior revolucionário da história mundial. Uma leitura fascinante para gregos e troianos de cabeça aberta.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 23 de julho de 2019

PAULO FREIRE, UMA BIOGRAFIA SEM ENDEUSAMENTOS

 

 

PAULO FREIRE, UMA BIOGRAFIA SEM ENDEUSAMENTOS

Uma biografia me sensibilizou bastante nos últimos dias: Paulo Freire, mais que nunca: uma biografia filosófica, Walter Kohan, Belo Horizonte, Editora Vestígio, 2019, 269 p. Onde, na primeira página da Apresentação, uma afirmação bastante repetida pelo educador pernambucano, que muito clarifica sua caminhada em prol da Educação: “… sempre digo que a única maneira que alguém tem de aplicar, no seu contexto, algumas das proposições que fiz é exatamente refazer-me, quer dizer, não seguir-me. Para seguir-me, o fundamental é não seguir-me.” Frase ligeiramente modificada dita ao final de sua fala na FCAP, no Recife, em seu primeiro pronunciamento em território brasileiro, após retorno do exílio, auditório superlotado: “A experiência de Angicos foi uma, somente uma. E peço encarecidamente: não  me copiem!! Me reinventem!!”

Esclarece o autor Walter Kohan, ainda na apresentação: “Paulo Freire é uma figura extraordinária não apenas para a educação brasileira, mas também para a educação latino-americana e mundial. Suas contribuições não se limitam a uma obra escrita, muito menos a um método, sequer a um paradigma teórico, mas dizem respeito também a uma prática e, de um modo mais geral, a uma vida dedicada à educação, uma vida feita escola, uma escola de vida, ou seja, uma maneira de ocupar o espaço de educador que o levou de viagem pelo mundo inteiro fazendo escola, educando em países da América Latina, nos Estados Unidos, na Europa, na África de língua portuguesa, na Ásia e Oceania.” E ele ressalta no seu livro que, somente no Brasil, entre 1991 e 2012, foram apresentados 1.852 trabalhos de pós-graduação: 1.428 dissertações de mestrado acadêmico, 39 dissertações de mestrado profissional e 385 teses. E ainda revela que uma pesquisa recente no Google Scholar, efetivada por Elliot Green, aponta A pedagogia do oprimido, no mundo inteiro, como a terceira obra mais citada no campo das ciências sociais. Com uma curiosidade: as edições em castelhano e inglês têm mais citações que a edição em português, comprovando o ditado que proclama que ninguém é profeta em sua terra.

O autor propõe também considerar seu texto “um exercício de pensamento, a partir das ideias e da vida de Paulo Freire, que resgate as suas contribuições para pensar a ‘politicidade’ da educação fora das cegueiras partidárias”. E uma das cegueiras mais estupidificantes foi a cretina iniciativa de se revogar a Lei 12.612 abril de 2012, que declara Paulo Freire patrono da educação brasileira. Iniciativa recusada pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa CDH), em 14 de dezembro de 2017 por considerá-la “fruto da ignorância sobre o legado do educador”.

O livro do Kohan ainda traz uma entrevista com o Lutgardes Costa Freira, filho fr Paulo Freire, efetivada em setembro de 2018, no Instituto Paulo Freire, São Paulo. Uma entrevista onde foram reveladas alegrias e obstáculos vivenciados por ele e a família durante o exílio do pai. O autor Kohan confessa que “um dos desafios do presente livro é escrever com a generosidade e abertura necessárias para que seja feita justiça a uma vida como de Paulo Freire, que parece grande demais para qualquer pretensão de escrita”. E ainda: “Cada um dos capítulos deste livro se inicia com um parágrafo que o sintetiza; posteriormente, apresenta um dos princípios e ao faz dialogar com a vida e o pensamento do educador pernambucano e de outros pensadores”.

No livro são explicitados os cinco princípios para se por em prática uma outra educação, válidos para todos os países de políticas educacionais libertadoras. São eles:

1. Uma educação política é uma educação filosófica, e nela a vida não fica do lado de fora da filosofia, da educação, da escola, do pensamento.

2. Em termos do que pode uma vida, todas as vidas são iguais, todas as vidas têm igual potência de vida. Todas as vidas valem igualmente e são igualmente capazes de colocar em questão a vida individual e social.

3. Educar é um ato amoroso. Quanto mais se educa, tanto mais se ama. Quanto mais se ama, tanto mais se educa. Disse Freire: “É possível ser tia sem amar os sobrinhos, sem gostar de ser tia, mas não é possível ser professora sem amar os alunos”.

4. Um educador é alguém que anda, caminha, se desloca sem um destino final, cria as condições para se encontrar com os que estão fora num tempo presente, de presença. O mundo está aberto, e o errar educante dará lugar a um outro mundo que não podemos antecipar.

5. A infância não é algo a ser educado, mas algo que educa. Uma educação política é uma educação na infância: na sua atenção, sensibilidade, curiosidade, inquietude e presença.

Mostrando sua ausência de endeusamentos descabidos, o Walter Kohan acrescenta ao livro um epílogo – Algumas críticas a Paulo Freire. Para qual política há lugar e tempo na educação? E também um Apêndice (Paulo Freire, filosofia para crianças e a “politicidade” da educação) e uma entrevista com a educadora brasileira Esther Pillar Grossi, dezembro de 2017, onde ela reconhece que Paulo Freire não se saiu bem quando era secretário municipal de educação de São Paulo, gestão Luíza Erundina.

A entrevista da professora Esther conclui pela necessidade de saber do professor, muitos deles vitimados pelos Cursos de Pedagogia que tiveram seus focos desviados por disciplinas periféricas que fazem a base trágica de uma analfabetização de milhões.

Mestre ignorante não educa, “astravanca” o progresso. Pois, segundo Paulo Freire, “escrever bonito é dever de quem escreve, sem importar o quê e sobre o quê”.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 16 de julho de 2019

MONTAIGNE, UM APRENDIZ ETERNO

 

 

MONTAIGNE, UM APRENDIZADO ETERNO

Muitos conhecidos meus, alguns amigos de longa data, vivem sem problemas financeiros, profissionalmente contextualizados, embora revelem, vez em quando, em reuniões convivenciais, alguns descontentamentos nada supérfluos. Tecnicamente preparados, distanciados estão de alguns procedimentos basilares indispensáveis para um caminhar psiquicamente mais ajustado às complexidades de um mundo de diferenças absurdamente díspares, onde uma ínfima minoria usufrui da quase totalidade da renda mundial.

Outro dia, nas comemorações de aniversário de uma filha de quinze anos, o Zé Eduardo, financista dos mais conceituados na praça, me pediu a indicação de um livro não-técnico, que o fizesse sair do automatismo existencial que o estava enjaulando nos últimos dez anos, desde seu matrimônio com a Verinha, uma médica de muita sensibilidade e paciência conjugal.

Pedi uns dias para dar uma olhada nos meus alfarrábios e ontem o visitei portando um exemplar de Como Viver ou uma biografia de Montaigne em perspectiva e vinte tentativas de resposta, Sarah Bakewell, Rio de Janeiro, Objetiva, 2012, 399 p., ela ex-curadora de livros antigos na Wellcome Library, atualmente ensinando escrita criativa na City University, também catalogando coleções de livros raros. E pedi ao amigo que seguisse a recomendação de Flaubert: “ler, não para se divertir, como fazem as crianças, ou para ser educado, como fazem os ambiciosos, mas ler para viver.”

Por que escolhi Montaigne, me perguntou o Zé Eduardo. E eu lhe informei o conteúdo da primeira orelha do livro: “excêntrico, preguiçoso, inconsistente e esquecido. Montaigne é o filósofo que quebrou um tabu e falou de si mesmo em público. Mais de quatrocentos anos depois, sua honestidade e seu charme continuam atraindo admiradores.”Que o procuram em busca de si mesmos.

E a orelha vai adiante: “Este livro é uma fonte valiosa de pequenos conselhos: ler muito, mas manter a mente aberta; ser sociável, mas nos reservar um ‘quartinho’ só nosso; observar o mundo de ângulos diferentes, evitando rigidez nas crenças.” Resumindo, uma questão: como equilibrar a necessidade de sentir-se seguro com a necessidade de sentir-se bem psiquicamente?

O livro fornece para a questão Como Viver? os seguintes vinte balizamentos:

1. Não se preocupe com a morte; 
2. Preste atenção; 
3. Trate de nascer; 
4. Leia muito, esqueça quase tudo que lê e raciocine com lentidão; 
5. Sobreviva ao amor e às perdas;
6. Recorra a pequenos truques;
7. Questione tudo;
8. Tenha um compartimento privado nos fundos da loja;
9. Seja sociável; viva com os outros;
10. Desperte do sono do hábito;
11. Viva com temperança;
12. Preserve sua humanidade;
13. Faça algo que ninguém nunca tenha feito;
14. Conheça o mundo;
15. Faça um bom trabalho, mas nem tão bom assim;
16. Filosofe só por acaso;
17. Reflita sobre tudo; não se arrependa de nada;
18. Abra mão do controle;
19. Seja comum e imperfeito;
20. Deixe a vida responder por si mesma.

Montaigne nasceu em 28 de fevereiro de 1533, França, eternizando-se em 13 de setembro 1592, vítima de uma crise de amigdalite. Casa-se em 23 de setembro de 1565 com Françoise de La Chassaigne. Os Ensaios tiveram a primeira edição em 1580, a segunda ocorrendo em 1582, quando Montaigne ocupava a prefeitura de Bordeau, sendo reeleito em 1583. Outra edição, a terceira, sairia em 1587, a de 1595, sob batuta de Marie de Gournay, tornando-se referência por três séculos. Em 1662, os Ensaios entraram cavilosamente no Index dos livros proibidos pela Igreja, proibição retirada somente em 1854.

Na introdução Como Viver?, Sara Bakewell assim se manifesta: “O século XXI está cheio de pessoas cheias de si. Meia hora de percurso pelo oceano on-line de blogs, tweets, tubes, spaces, faces, páginas e pods nos defronta com milhares de indivíduos fascinados pela própria personalidade e clamando por atenção. Eles falam de si mesmos, escrevem diários, conversam e postam fotografias de tudo que fazem. Desinibidamente extrovertidos, olham para dentro de si mesmos como nunca antes. À medida que mergulham em sua experiência pessoal, blogueiros e internautas se comunicam com os outros humanos, num verdadeiro festival do ego.” E essa ideia de escrever a seu próprio respeito foi inventada por Michel Eyquem de Montaigne, que soube dar vida à região do Périgord, no sudeste da França, de 1533 a 1592.

Além do livro, fiz uma proposta ao Zé Eduardo: a de ler os Ensaios de Montaigne. E lhe informei sobre a existência de uma edição integral da editora 34, São Paulo, 2016 (1ª. edição), com 1.032 páginas e tradução e notas de Sérgio Milliet, eternizado em 1966. Seguramente, um texto limpo, fluente, livre das amarrações acadêmicas. Para consolidar um viver integralmente recompensado.

Um texto que há muito está a merecer novos interesses da Universidade Brasileira ainda muito distanciada de um humanismo mínimo indispensável. Um livro para fecundas reflexões sobre nós próprios, sem egolatrias perversas.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 09 de julho de 2019

PARA UMA JORNADA DECENTE

 

 

PARA UMA JORNADA DECENTE

Três questões preliminares devem ser feitas aos que desejam alterar seus comportamentos, tornando-se mais ajustado aos ditames da Lei de Deus: 1. Qual a direção e qual o sentido da sua existência até o momento presente?; 2. Como você estava se sentindo durante sua existência até o instante atual?; 3.Você gostaria de seguir uma rota mais dignamente libertadora?

Tais questionamentos acima é um convite fraterno para uma reflexão consequente sobre o trajeto percorrido pelo caminheiro, favorecendo-o em escolhas mais adequadas, enfrentando com serenidade os desafios advindos das novas conjunturas, muitas delas bem mais obstaculizantes que as pretéritas, muito embora extremamente gratificantes para um seguir adiante mais sereno em direção da Luz Eterna.

Para quem deseja remodelar comportamento e convicção, na busca de uma jornada mais condizente com a dignidade humana, um livro recém lançado pela Letramais Editora muito favorece novos caminhares: A BÚSSOLA E O LEME: EM BUSCA DA DIREÇÃO E DO SENTIDO, Haroldo Dutra Dias, São Paulo, Intelítera Editora, 2019, 256 p., possuidor do seguinte sumário: Parte I – O Céu e a Embarcação (1. A natureza soberana; 2. Os ciclos da vida; 3. A consciência cocriadora; 4. Os setores da experiência; 5. A integração a si mesmo; 6. A integração com a natureza); Parte II – A Navegação (7. A nave e o capitão; 8. O mapa mental; 3. O plano de voo; 4. O tempo e a rota; 5. Outros navegantes); Parte III – Exercícios.

O autor, Haroldo Dutra Dias é mineiro, juiz de direito, humanista, escritor, tradutor e palestrante internacional, estudioso de temas significativos há mais de vinte anos como filosofia, psicologia, habilidades socioemocionais, espiritualidade e literatura grega. Além de articulista e também autor de várias obras consagradas. Segundo ele, “nossa vida pode ser encarada como uma desafiadora jornada que revela quem somos e o que buscamos, mas principalmente quem nos tornamos no curso dessa viagem chamada vida humana.”

No capítulo 2 do livro, Dutra reproduz os ciclos da vida, citando o Espírito Emmanuel: “cada homem possui, com a existência, uma série de estações e uma relação de dias, estruturada em precioso cálculo de probabilidades. Razoável se torna que aproveite a primavera da mocidade, o verão das forças físicas e o outono da reflexão, para a grande viagem do inferior para o superior”. E ele, Dutra, diz que toda idade é um recipiente no qual estão contidas as experiências da vida, cada uma delas com seu significado, dependendo da faixa etária onde aconteceu. O caminhar de cada um se divide em 12 níveis, assim por ele anunciados: 1. Nível físico ascendente (0 – 7 anos), tema central: autonomia física, orgânica; 2. Nível psicológico ascendente (7 – 14 anos), tema central: autoafirmação, autoexpressão; 3. Nível mental e emocional ascendente (14 – 21 anos), tema central; sexualidade e relacionamento; 4. Nível sociocultural ascendente (21 – 28 anos), tema central: inserção social e cultural; 5. Nível individual ascendente (28 – 35 anos), tema central: descoberta e expressão da própria identidade; 6. Nível psíquico espiritual ascendente (35 – 42 anos), tema central: crise existencial; 7. Nível psíquico espiritual descendente (42 – 49 anos), tema central: busca pelo sentido da vida; 8. Nível individual descendente (49 – 56 anos), tema central: revisão da identidade; 9. Nível sociocultural descendente (56 – 63 anos), tema central: reinserção social e cultural; 10. Nível mental e emocional descendente (63 – 70 anos), tema central: crise da sexualidade e do relacionamento; 11. Nível psicológico descendente (70 – 77 anos), tema central: necessidade intensa de atenção e admiração; 12. Nível físico descendente (77 – 84 anos), tema central: limitação física, orgânica.

A intenção do autor, no capítulo citado, foi a de demonstrar que, antes do início do planejamento de qualquer viagem, deve-se sempre perguntar o tempo de duração provável. Nunca se olvidando da faixa etária e da fase específica. E ele finaliza: o fator idade nos ajuda a compreender que cada existência é uma jornada estruturada, repleta de sentido, onde cada acontecimento é um elemento integrante de uma teia de significados, onde há o dia da chegada e o dia da partida.

Com felicidade incomum, Haroldo Dutra cita Erich Fromm: “A principal tarefa do homem na vida consiste em dar à luz a si mesmo, em se tornar aquilo que potencialmente ele é.” E ressalta que, no vocabulário chinês há uma palavra para designar crise: WEI-CHEI. Uma combinação de duas outras palavras: Wei significando perigo e Chi oportunidade. E declara: “É impossível viver profundamente sem experimentar dor, sem atravessar tempos de crise, colapso, mudança ou rupturas”.

Uma questão, aqui, se agiganta: “Por que alguns homens se veem bloqueados, paralisados, impotentes diante de seus obstáculos? Dutra ressalta que duas coisas podem acontecer: ou estamos excessivamente focados no exterior ou temos muito pouco autoconhecimento.

O livro, de leitura excelentemente didática, nos aponta para trajetos que devemos percorrer, onde poderemos efetivar escolhas mais consequentes, tornando-se melhor e aproveitando a viagem, tomando a vida como uma desafiadora e apaixonante jornada em direção à Luz Infinita.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 02 de julho de 2019

O TEMPO DE DEUS

 

 

O TEMPO DE DEUS

Graduado em Física pela Universidade Federal Fluminense, também Mestre e Doutor pela Universidade Estadual Paulista, tendo trabalhado com Metodologia da Ciência e Metodologia do Ensino Superior no curso de mestrado da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, é reconhecido nacional e internacionalmente como um dos mais preparados intelectuais espíritas brasileiros, fundador, em 1980, da Sociedade Espírita Fraternidade, para estudo, análise e prática da doutrina codificada na França por Allan Kardec.

Seu nome? Raul Teixeira, um nascido em Niterói, Rio de Janeiro. Seu livro mais recente? O Tempo de Deus, por ele psicografado do Espírito Camilo, autor do prefácio, segundo o qual “o tempo de Deus dá ao homem sabedoria pra viver na Terra com o mínimo desgosto da vida.”Segundo ainda Camilo, “o tempo é um motor que se move sem ser movido. Sem esse movimento não há tempo. São os Espíritos que fazem acontecer esse milagre do Cosmo, tão evidente como o ar que se respira, o tempo… No tempo de Deus, há sabedoria; no tempo de Deus, há felicidade; no tempo de Deus, há amizade; no tempo de Deus, há amor.”

Através de 160 páginas, o livro do Raul Teixeira tem os seguintes temas: 1. Através do tempo; 2. Tempos da morte; 3. Uma reflexão sobre a morte; 4. Atitudes egoísticas perante a morte; 5. Tempos de definição; 6. Ainda O Livro dos Espíritos; 7. Tempos de solidão; 8. Trabalha e espera; 9. Tempos de Cristo; 10. Desafios morais da nova geração; 11. Tempos de autoconhecimento; 12. No aprendizado da felicidade; 13. Tempos de descomprometimento 14. Valorização da inteligência; 15. Tempos de estarrecimento; 16. Tempos de materialismos; 17. Em torno do desconhecimento espiritual; 18. Tempos de medo; 19. Medita e avança; 20. Tempos de psiquismo; 21. Para a desobsessão; 22. Tempos de violência; 23. Em tempos de pedofilia e de educação da alma; 24. O tempo dos escândalos; 25. Justa indignação.

Escolhemos para os amigos leitores, algumas reflexões contidas no livro, encarecendo torna-las referenciais para leituras mais consistentes, individualmente ou em em grupo, favorecendo a ampliação da fraternidade comunitária:

1. “Pensa com carinho em teus entes queridos regressados ao Grande Lar da Imortalidade; evoca os melhores e mais belos momentos com eles vividos; reflete nos exemplos bons que te hajam deixados ou perdoa, honestamente, qualquer episódio infeliz que te hajam proporcionado nas experiências da vida. Mantém-te consciente de que a vida terrestre é uma escola de graves quão profundos aprendizados, onde a morte anuncia os necessários intervalos para sérias ponderações, reprogramações ou mudanças de rumo.”

2. “É lamentável acompanhar os estilos materialistas de conduzir-se a educação dos filhos que renascem no mundo, nos braços de seus pais, que quase sempre ignoram sua condição de Espíritos que retornam em novo corpo físico, a fim de se organizar interiormente e de evoluir na busca dos cimos luminescentes.”

3. “Grande contingente de homens terrenos vive de jargões fabricados pelo machismo perturbador e esdrúxulo, que se alimenta de velha cultura em que o sexo masculino tudo podia, e que estava na Terra para usufruir e dominar, demarcando, assim, sua trajetória humana.”

4. ”Sofremos sérios bloqueios intelectuais, quando dos nossos relacionamentos teológicos. Mostramo-nos profundamente emocionais, não simpatizando com as propostas da razão, o que nos predispõe à aceitação fácil de incontáveis fantasias, sem discernimentos, dependentes da ludicidade, do fantasioso e dos pensamentos concretos com dificuldade de elaborar abstrações”.

5. “Vale a pena notar que o Espiritismo nos apresenta um conjunto de princípios altamente impactantes e vigorosos, capazes de dar sentido à vida, explicitando a grandeza do Criador diante de Sua Criação, a exigir-nos mente aberta, amor à verdade e espírito de liberdade, para que logremos penetrar e aprofundar seus ensinamentos.”

6. “Não obstante um dos mais eminentes cientistas do século XX haja dado o golpe de misericórdia no materialismo, a enunciar a prevalência da energia em tudo que é formado, o fato é que as afirmações de Albert Einstein não lograram aclarar o intelecto de incontáveis indivíduos.”

7. “Enquanto a criatura humana não alcançar o conhecimento quanto a sua realidade espiritual, enquanto não admitir que não nos achamos na Terra por força da casualidade, e que há um planejamento da Divindade para nosso progresso individual e para o nosso avanço no campo social, será muito difícil consertarmos as linhas distorcidas da vida terrena”.

8. “Um pouco de amadurecida reflexão faria com que cada indivíduo procurasse realizar sua parte, na contextura social em que esteja, resguardando-se de maneira natural dos vários tipos de intempéries morais e sociais que se abatem sobre as sociedades, implantando esse desordenado império do medo.”

Recomendo o livro-reflexão do Raul Teixeira, para todos aqueles que buscam perseverar na fidelidade ao sumo bem nas lutas humanas de cada hora, cada vez mais embalados por uma fulgurante esperança que nos impulsiona para a Luz Eterna. Inclusive a mim mesmo, um encarnado ainda repleto de carências e imperfeições.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 25 de junho de 2019

NOTAS JUNINAS

 

NOTAS JUNINAS

 

1. Aproveitando alguns dias de folga para pôr em dia as minhas atividades lúdicas, uma já vista sessão de cinema me deixou com os pés mais no chão. O filme O Espelho Tem Duas Faces, uma comédia-parábola de finíssimo trato, sem resvalar para carolices sentimentaloides, me fez consciente dos angustiantes momentos vivenciados por aqueles que buscam reencontrar-se após relacionamentos ultrapassados pelas diferenciadas evoluções históricas das partes.

O filme, dirigido e também interpretado por Barbara Streisand, explicita um conflito moderno, aparentemente insolúvel entre a paixão e a amizade, a primeira comportando umas boas e quentes sessões horizontais, a segunda apenas se satisfazendo com amplexos e cheiros platônicos, tudo o mais relacionado com a fricção corporal sendo motivo de teorizações mil, com quase inexistentes comprometimentos práticos.

Já observei, em amigos vários, os dois lados da moeda. De um lado, pessoas que só se preocupam apenas com aquilo, masculino ou feminino. Diante de uma mulher, alguns homens imaginam logo como excursionar pelo Triângulo das Bermudas, as ideias e os gostos e convergências somente merecendo destaque, quando acontece, após o cigarro, o banho e a conta. Por outro lado, tem mulher que só se interessa pelo acervo documental dos Países Baixos do sexo contrário, a corda do violino bem esticada e a bateria no ritmo frenético da Vai-Vai, escola de samba paulista, do Grupo Especial.

O verso da medalha também é deveras lamentável. Tem sujeito babaca que, desconhecendo geometria, fica um tempão discutindo se o Triângulo é isósceles, equilátero ou retângulo, olvidando-se da bissetriz que adentra pelo meio do mundo, até a exaustão feliz das partes envolvidas. Por outro lado, também muito tristemente, tem madame que se avorisam – tornam-se patologicamente avós – logo após os quarenta, deixando os consortes sem mel nem cabaço, o mais curto caminho para descompressoras raparigagens. Avós mentalmente autoclassificadas, algumas senhoras despojam-se dos seus tchans, relaxam marquizes e encruzilhadas, se empanturram de cremes hidratantes e próteses revificantes, apenas para se tornarem duplamente mães para sobrinhos, netos, afilhados e avizinhados, os meninos de rua merecendo apenas exclamações piedosas, algumas até fascistoides.

Há três tipos de seres humanos, diante das duas faces de um espelho: os autoconscientes, autônomos e seguros de seus próprios horizontes e limites; os mergulhados, inundados por suas emoções e incapazes de safar-se delas; e os resignados, os que aceitam passivamente viver como são, num laisser-faire suicida, num “como Deus quis”, como se Ele fosse o responsável pela incapacidade de “levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima”.

Lembrei-me de um ditado que diz “nem oito, nem oitenta”. Da minha parte, eu me contento em buscar viver na média. Quarenta e quatro tá na medida, com isso e aquilo dentro dos conformes emocionais e das disposições transitórias. Sem blá-blá-blá nem meio mas. Embora subsidiado com as fantasias que ajudam. Ainda que distanciadas dos ensaios do Segurando o Talo, bloco da querida Fundação Joaquim Nabuco.

2. Nunca me surpreenderão, na Igreja Católica, como nas demais denominações, as conjunturais escaramuças sobre temas os mais diversos. Somente através de amplos debates, os que se imaginam donos da verdade desaparecerão, favorecendo oxigenações contínuas e muito necessárias, se inspiradas nas palavras do Senhor.

Desde os primórdios do Cristianismo, as discussões se tornaram rotineiras. No Livro Sagrado, por exemplo, os Atos dos Apóstolos nos mostram, capítulo 15, um debate acontecido na Antioquia, quando alguns desejavam circuncidar os pagãos convertidos, segundo as normas de Moisés, sob a alegação de que não poderiam ser salvos se assim não procedessem. A oposição vigorosa de Paulo e de Barnabé, no concílio de Jerusalém, anulou a ingênua proposição, para isso contribuindo o testemunho de Tiago, quando proclamou, alto e bom som, que não se acumulassem obstáculos diante dos pagãos que desejavam se voltar para Deus (At,15,19). Uma vitória do convencimento sobre a tola pretensão de alguns, desprovida de qualquer consistência teológica.

As discussões e análises, outrora, aconteciam nas ágoras, praças gregas onde eram difundidas as informações. Os espaços eram conquistados pelos que mais sabiam argumentar e convencer, valendo os dotes da oratória e a bagagem de conhecimentos. As ideias prosperavam, se consolidavam ou cediam lugar a novos posicionamentos, a partir de amplas discussões, cada um tendo o direito de se manifestar como bem entendia, aquilatadas as estratégias de convencimento e o poder de contra-argumentação dos demais.

Às vésperas de uma nova década do terceiro milênio, novas ágoras surgem no cenário mundial, aproveitando o imenso potencial comunicador da Internet. Com a evolução dos espaços cibernéticos, as várias tendências eclesiásticas despertaram para diferenciadas estratégias de conversão. No Brasil, equilibrando-se entre alas “conservadoras” e segmentos “progressistas”, a homepage da CNBB fornece ao público católico informações gerais sobre a entidade. Mas não é da CNBB, e sim da Missão Salesiana do Mato Grosso, o galardão da página que mais informações diárias contém, em português, sobre a Igreja no mundo. A CNBB também fica aquém da página Mundo Católico, idealizada e mantida por leigos, que possui a mais abrangente lista de endereços.

As ágoras do Terceiro Milênio estão despertando milhares para a conversão, a Palavra de Deus sendo amplamente vista e ouvida nos quatro cantos da Terra, levadas por inúmeras correntes teologais. Vale a pena conferir, por exemplo, o site da primeira Bíblia em português na Internet (http://www.cuc.edu/cgi-bin/biblia), ou o site da maior coleção de estudos bíblicos em português (http://www.cuc.edu/cgi-bin/bf.pl), páginas idealizadas por um brasileiro que reside nos Estados Unidos.

No Brasil, três páginas são muito visitadas: a da Arquidiocese de São Paulo, a da Arquidiocese do Rio de Janeiro e a recifense Igreja Nova (http://www.elogica.com.br/users/igrenova), estruturada em seis idiomas e idealizada por leigos da paróquia de Boa Viagem.

Um dia, Ele disse que “se o próprio sal perder o sabor com que se há de salgar?”. E eu continuo acreditando firmemente nas palavras do Homão da Galileia, nosso Irmão Libertador.

3. Nas férias, aproveitemos os momentos de descanso para ampliar uma enxergância na direção da Luz Eterna. E saibamos repetir o que psicografou Chico Xavier, contido no livro Educandário de Luz, sob título Missão do Templo Espírita: “Estudemos, sentindo, compreendendo, construindo e ajudando sempre. Auxiliemos o próximo, sustentando, ainda, todos aqueles que procuram auxiliar. Jesus chamou a equipe dos apóstolos que lhe asseguraram cobertura à obra redentora, não para incensar-se e nem para encerrá-los em torre de marfim, mas para erguê-los à condição de amigos fiéis, capazes de abençoar, confortar, instruir e servir ao povo que, em todas as latitudes da Terra, lhe constitui a amorosa família do coração”.

Festejos juninos bem arretados de ótimo para todos!!!


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 18 de junho de 2019

ECONOMIA: DESAPRENDER E REAPRENDER

 

 

ECONOMIA: DESAPRENDER E REAPRENDER

 

Para quem aspira ver concretizada uma solidariedade universal mais compatível com a dignidade humana, recomendo com entusiasmo um livro por mim citado dias atrás, através do seguinte parágrafo: “Aos que cursam ou já se graduaram em Economia, uma recomendação que muito relembra o pensar do saudoso economista Celso Furtado – “o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos; mas será que o triângulo é retângulo?”: a leitura de Economia Donut: uma alternativa ao crescimento a qualquer custo, de Kate Raworth, RJ, Zahar, 2019, 368 p. Segundo The Guardian, “brilhante e revolucionário, acessível a qualquer pessoa. Um livro que vai mudar o mundo”. Onde se pede encarecidamente aos acadêmicos de Economia ou recém graduados em Ciências Econômicas a leitura bastante reflexiva da Introdução Quem quer ser economista?, onde a própria autora apresenta as mudanças que nos farão mudar os modos de ser economista século XXI, deletando as velhas ideias que nos aprisionaram, favorecendo o direito de todas as crianças do planeta comer três vezes por dia, sem o risco da fome, num mundo atual brutalmente desigual, onde o grupo 1% mais rico detém mais riqueza que todos os outros 99% juntos (dados de 2008). E onde os desafios do crescimento demográfico (quase 10 bilhões em 2050) tornam as perspectivas atuais devastadoras, a exigir novos agires estratégicos de desenvolvimento socioeconômico bem mais solidariamente sociais. Sem mais a mentalidade capitalista econômica individualista, hedonista por derradeiro, nos manuais dos anos 1950.”

Mais que nunca, o mundo civilizado dos negócios necessita recordar diariamente a reflexão do economista Celso Furtado, um nordestino pra lá de arretado de ótimo: um apelo feito por Furtado às novas gerações de economistas, quando novos cenários mundiais pós-Segunda Guerra Mundial estão a fazer emergir novas formas de pensar e agir na área da Educação Econômica, onde diversas escolas de pensamento se manifestam com intensidade nunca vista, como a da complexidade, a ecológica, a feminista, a institucional e a comportamental, com suas mil e uma ideias, ainda que muito imbricadas, todas elas, em suas próprias publicações, conferências e nichos. Quando já urge um avanço integrado de todas elas no enfrentamento dos formidáveis desafios globais, abjurando-se as metáforas e pontos cegos de passados hoje considerados obsoletos. A conjuntura exige, a la Alvin Toffler, um desaprender para reaprender novas concepções de desenvolvimento social, favorecendo a emersão de contemporâneas estruturas econômicas e sociais.

A autora é professora e pesquisadora da Universidade de Oxford e é considerada, segundo The Guardian, o John Maynard Keynes do século XXI, ao reformular a economia, nos permitindo mudar nossa visão de quem somos, onde estamos e o que queremos. O Forbes, outro instituição econômica de renome consagrado, ressalta que “o livro é um texto fascinante aviso a economistas e empresários: deem um passo atrás e analisem nossa economia”.

O trabalho da Kate Raworth, segundo ela própria declara, é o de, ainda no presente século, criar economias que promovam prosperidade humana numa teia de vida florescente, de maneira que possibilite uma prosperidade em equilíbrio dentro de um espaço seguro e justo.

Seria considerado pioneiramente oportuna a junção de universidades (departamentos de economia e sociologia), empresários, dirigentes públicos e formadores de opinião, na promoção de eventos catapultadores que se iniciassem reavivando as etapas contidas no livro seminal Etapas do desenvolvimento econômico, do economista americano Walt W. Rostow, editado em 1960, onde se explicitavam as famosas cinco etapas: 1. A sociedade tradicional; 2. As precondições para a decolagem; 3. A decolagem; 4. O voo para a maturidade; 5. A era do consumo de massa. Onde a curva do S seria amplamente analisada através dos ingredientes que a fizeram cair no esquecimento, anestesiada pela ilusão de um crescimento econômico infinito sem um mínimo de solidariedade humana.

É chegada a hora de se pensar mais ousadamente, sem sectarismos ideológicos de princípios que já não mais se sustentam. Todos percebendo que, assim não procedendo, naufragaremos no frigir dos ovos, posto que “jacaré que muito dorme vira bolsa de madame”.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 11 de junho de 2019

RESTAURANDO CAMINHADAS

 

 

RESTAURANDO CAMINHADAS

 

Um amigo meu, nunca da-onça, companheiro de prancheta de uma profissional sediada no Rio de Janeiro, encantou-se com um texto por ela recentemente exposto, quando da apresentação de uma moderna terapia amplificadora da autoestima.

O escrito reflete uma meta-sonho, exposta por ser humano sintonizado com os arcabouços situacionais que viabilizam caminhares consequentes, menos materialistas, mais consentâneos com as múltiplas confianças depositadas nos ômegas de Teilhard du Chardin. Seguramente escrito por alguém que bem conhece o estilo literário de Jorge Luís Borges, um dos notáveis intérpretes da alma latino-americana, o texto revela grandezas, agigantando uma parceria assumidamente sincera.

A espinha dorsal do que foi apresentado merece ser aqui reproduzido, sem acréscimos nem interpretações, a autora se dirigindo ao ente muito amado, no Dia dos Namorados:

Eu gostaria muito que, no nosso diuturno ambiente de convívio, os meus projetos fossem a concretização dos teus sonhos. Neles, tentaria criar um ambiente harmônico, tranquilo e com um tempero de muita paz. Combinaria o tecido das cortinas com a luz do céu. A cor das paredes seria a mesma do teu estado de espírito. A colcha de nossa cama, sem dúvida alguma, a refletir a imensidão do teu prazer.

Nos diversos cômodos da casa colocaria objetos que mais nitidamente te revelassem. Na toalha da mesa eu espelharia teus sentimentos mais profundos, juntamente com os teus momentos mais calmos, sem jamais procurar desmerecer, pelos quatro cantos das peças, os teus instantes mais tormentosos.

No nosso banheiro, eu combinaria as toalhas de corpo e de mão com a tua sensualidade, como que mesclando tua indomada ousadia com teus períodos de restauradora castidade.

Os nossos porta-retratos refletiriam teus momentos mais significativos, sempre acompanhados dos teus demônios e dos teus anjos da guarda. E em cada canto de nossa casa depositaria um punhado de muito bom humor, para que a alegria nunca te abandonasse, sem esquecer uma pitada de nostalgia, vacina eficaz contra sonhos exagerados.

Eu queria muito ver-te entrando em nossa casa intensamente vivo, com integral capacidade de chorar e rir, a sensibilidade jamais amesquinhada pelos punhais do cotidiano insalubre. E com uma vontade danada de mudar sempre para melhor, a esperança sendo o estandarte maior de nossa estrada.

Eu muito apreciaria poder olhar o mundo através dos teus olhos, jamais me relegando a segundo plano, agradecendo a Deus pela tua existência. Na certeza da plena e imorredoura fusão do côncavo e do convexo. Os meus dias sendo os teus dias, o meu viver sendo pedaço do teu caminhar. As minhas entranhas jamais desmerecendo o que foi por ti depositado. No meu dia, sou tua, sempre ampliando-te através do meu Amor ”.

Antes que alguma mente bundana se explicite latrineiramente, informo que a autora do texto acima é profissional conhecida pela sua luta a favor da igualdade dos direitos de homens e mulheres. Radicalmente a favor de todos, sem perder a ternura jamais.

Acima das suas qualidades, a autora é ainda a co-autora da caminhada do seu amado, tornando-se magnífica por saber edificar um outro pedaço seu. Um pedaço que nela necessita se complementar, por não saber ser apenas simplesmente ele.

Aos que cursam ou já se graduaram em Economia, uma recomendação que muito relembra o pensar do saudoso economista – “o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos; mas será que o triângulo é retângulo?”: a leitura de Economia Donut: uma alternativa ao crescimento a qualquer custo, de Kate Raworth, RJ, Zahar, 2019, 368 p. Segundo The Guardian, “brilhante e revolucionário, acessível a qualquer pessoa. Um livro que vai mudar o mundo”. Onde se pede encarecidamente aos acadêmicos de Economia ou recém graduados em Ciências Econômicas a leitura bastante reflexiva da Introdução Quem quer ser economista?, onde a própria autora apresenta as mudanças que nos farão mudar os modos de ser economista século XXI, deletando as velhas ideias que nos aprisionaram, favorecendo o direito de todas as crianças do planeta comer três vezes por dia, sem o risco da fome, num mundo atual brutalmente desigual, onde o grupo 1% mais rico detém mais riqueza que todos os outros 99% juntos (dados de 2008). E onde os desafios do crescimento demográfico (quase 10 bilhões em 2050) tornam as perspectivas atuais devastadoras, a exigir novos agires estratégicos de desenvolvimento socioeconômico, bem mais solidariamente social. Sem mais a mentalidade capitalista econômica enraizada nos manuais dos anos 1950.

PS. Para as Marias de todos os tempos ! Sissa de porta-bandeira !!


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 04 de junho de 2019

LEITURAS INESQUECÍVEIS

 

 

LEITURAS INESQUECÍVEIS

 

Costumo refugiar-me nas páginas de um bom livro, quando observo tempestades se avizinhando em céus aparentemente límpidos, fingidos de brigadeiro, disfarçados de tudo-azul com bolinhas cor-de-rosa. A leitura me retempera ânimos, acalenta sonhos, municia meus parcos embornais cognitivos, azeitando, ainda de quebra, as minhas estruturas comportamentais, para que eu possa continuar a travar o bom combate, sem pretensão eleitoral de qualquer natureza, até quando o nosso Deus permitir. E elas ainda me prestam um serviço terapêutico danado de bom: descongestionam o trânsito cerebral, desentulhando-o das informações chegadas, sem lenço nem documento, pelos me-disseram dos nossos derredores eletrônicos, alguns ávidos na transmissão de “despretensiosas” fuxicadas, modernamente classificadas de fake-news.

Vez por outra, entretanto, sem espanto mais algum, observo a realidade reproduzir reflexões e comentários anteriormente lidos, muitos dos quais tidos e havidos por mim mesmo como frutos de uma inteligência sonhadora, não mais aplicáveis aos dias atuais, posto que escritos num passado de muitas décadas. Uma desatenção grosseira, a minha, pois são leituras que se eternizam, escritas, num ontem, por quem soube antecipar-se aos seus, eternizando-se também.

Semana passada, noite de vigília a doente amigo, reli pedaços de Michel de Montaigne. Seus Ensaios, elaborados no terço final do século XVI, guardam lições notáveis, plenamente válidas para os dias atuais de um Brasil ainda não adulto, mal saído da adolescência, pau-inteiro com meia mente. Eis duas delas: “Quando as leis não podem obter o que têm direito de exigir, mais vale que exijam somente o que podem obter”; “De que nos serve entender as coisas se com isso nos tornamos mais covardes, se esse conhecimento nos tira o repouso e a tranquilidade de que gozaríamos sem ele, se nos reduz a condição pior que a do porco de Pirro?”.

A primeira reflexão, de Montaigne, espelha as iniciativas de alguns parlamentares de um Congresso Nacional pouco luzidio. Às vésperas de eleição, apresentam mil e um mirabolantes projetos, que prometem mundos e fundos, apenas para usufruir dos fundos dos incautos após os resultados, iludindo uma vez mais aqueles que votam por qualquer tostão, ou por um frasco de remédio, ou por uma camisa, ou por uma frase de efeito metida a raivosa, demagógica por completo, mentirosa toda.

A segunda lição acima, ainda do Mestre Montaigne, nocauteia alguns “bem pensantes”, que imaginam mil e um artifícios para usufruto de vantagens apenas pessoais, o resto sendo apenas mote para perorações pretensamente denunciadoras, externadas assepticamente, de modo cientificamente frio, para arregalar olhos desatentos e cuecas frouxas.

Quando o deputado e ex-ministro Roberto Campos dizia que “há hoje no mundo grande ceticismo sobre a capacidade do Brasil para mudanças modernizantes”, não estaria ele se embasando nas duas reflexões escritas por Montaigne há mais de quatrocentos anos?

Para juntar ontens e hojes na projeção dos amanhãs, excelente leitura é 21 Lições para o século 21, de Yuval Noah Harari, um israelita nascido em 1976, PhD em História pela Universidade de Oxford, atualmente docente da Universidade Hebraica de Jerusalém, autor de dois trabalhos fenomenais: Sapiens: uma breve história da humanidade e Homo Deus: uma breve história do amanhã, duas obras que já venderam mais de 14 milhões de livros em todo mundo. O livro primeiramente citado está composto de cinco partes: I. Desafios Tecnológicos; Parte II. O Desafio Político; III. Desespero e Esperança; IV. Verdade; V. Resiliência. Nele, algumas questões são analisadas: a. Qual é o sentido da ascensão de Donald Trump?; b. O que podemos fazer ante a epidemia de fake news?; c. Por que a democracia liberal está em crise?; d. Deus está de volta?; e. Haverá uma nova guerra mundial?; f. Qual civilização domina o mundo – o Ocidente, a China, o Islã?; g. A Europa deveria manter as portas abertas aos imigrantes?; h. O nacionalismo pode resolver os problemas de desigualdade e mudanças climáticas?; i. O que fazer quanto ao terrorismo?

É tempo de bem pensar, às vésperas de reformas inadiáveis, inclusive a Previdenciária. Desde que seja uma reformulação que não se torne de modo algum tipicamente “pacu”, onde as elites entram com o pau e os despossuídos, sempre vítimas, entram com a segunda parte, como sempre bem ou mal ensaboada.

 


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 28 de maio de 2019

FRASES QUASE DESCONEXAS

 

 

FRASES QUASE CONEXAS

 

Num sábado passado, contente que só por estar bem perto da Sissa, que chegou do cabelereiro para iluminar meu canto de estudo, cascavilhei uns apontamentos que teimavam em resistir ao tempo, atocaiados no fundo de uma gaveta metida a socavão de papéis de ontem. E resolvi juntar algumas frases neles contidas, sem identificar seus autores, para oferecer aqueles que ainda estão azeitando suas “birutas”, para melhor auscultar a direção dos ventos de uma profissionalidade duradoura. A não-identificação é proposital, para que todos possam refletir melhor sobre as frases, pouco importando para épocas, nacionalidades, ideologias, nomes e sobrenomes de seus autores. Que cada um dos pensamentos aqui expostos subsidie reestruturações comportamentais naqueles que necessitam ser mais para que possam usufruir mais adequadamente dos talentos oferecidos pela Criação. Ei-las abaixo, para os que possuem vontade de reenergizar-se existencial, espiritual e profissionalmente:

– A sabedoria é o conhecimento temperado pelo juízo. Através dos séculos existiram homens que deram o primeiro passo ao longo de novos caminhos, sem outros recursos além de sua própria visão. Só o homem é o arquiteto de seu próprio destino.

– A maior revolução em nossa geração é que seres humanos, modificando as atitudes mais íntimas de sua mente, podem modificar os aspectos exteriores de sua vida.

– Tornar-se águia sem mentalidade de galinha, por mais emplumada que esta seja.

– Tudo pode ser mudado; mas nada será mudado até que se comece.

– O mais importante é não parar de questionar.

– A curiosidade tem sua própria razão de ser. Nunca perca a sagrada curiosidade.

– Somente quem se arrisca a ir longe fica sabendo até onde pode chegar. O pessimista queixa-se da ventania. O otimista espera que ela acabe. O realista ajusta as velas.

– Há sempre um momento no tempo em que uma porta se abre e deixa o futuro entrar.

– Aquele que tem um porquê para viver pode enfrentar todos os comos.

– Há muito a ser dito em favor do fracasso. Ele é mais interessante do que o sucesso.

– Fracassado é o homem que erra e não é capaz de aproveitar a experiência.

– Não existe fracasso, a não ser em não continuar tentando com criatividade e flexibilidade.

– O sucesso é medido não tanto pela posição que alguém alcançou na vida, mas pelos obstáculos que ela ultrapassou enquanto tentava vencer.

– Uma jornada de mil milhas começa com um simples passo.

– Um objetivo nada mais é do que um sonho com um limite de tempo.

– Quanto mais a razão crítica dominar, mais empobrecida será a vida.

– O único homem que nunca comete erros é aquele que nunca faz coisa alguma.

– Não tenha medo de errar, pois você aprenderá a não cometer duas vezes o mesmo erro.

– A única coisa permanente é a mudança. Não podemos esperar que o mundo mude.

– Não podemos esperar que os tempos se modifiquem e nós nos modifiquemos junto, por uma revolução que chegue e nos arrebate em sua marcha.

– A coragem é inegavelmente uma das grandes virtudes da humanidade. Ela sempre garante imensa tranquilidade de consciência. A timidez, o escrúpulo e a dúvida, ao contrário, torturam frequentemente o espírito e conduzem às derrotas e ao desespero.

– Não pergunte o que seu país pode fazer por você; pergunte o que você pode fazer pelo seu país.

– O diploma não encurta as orelhas de ninguém.

– Eu não tenho a fórmula para o sucesso.

– Perigoso é um pouco de conhecimento.

– Tolo é aquele que naufragou seus navios duas vezes e continua culpando o mar.

– Seres humanos podem mudar sua vida mudando suas atitudes. Comece a tecer e Deus lhe mandará a linha.

– A calma e a resignação, hauridas na maneira de encarar a vida terrestre e na fé no futuro, dão ao espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio.

– Competir sem querer a destruição de seu adversário, desejando que vença o melhor, é nobreza de propósito e beleza de companheirismo.

– Não são justas e cristãs as organizações sociais que tolhem a liberdade de desenvolvimento do homem, em nome da religião, de ideologias políticas e instituições governamentais.

– Todas as vezes que o espírita constatar a destruição da natureza em função do lucro que os sistemas econômicos exigem, deverá associar-se às vozes que clamam contra tal destruição.

De uma popular, bolsa-família, quase nonagenária, alegre sempre, antenada toda:

“Jacaré que muito dorme vira bolsa de madame”.

 

Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 21 de maio de 2019

O CIENTISTA DO DNA

 

 

O CIENTISTA DO DNA

 

Um dos cientistas mais aplaudidos do mundo contemporâneo chama-se Francis Collins, diretor do Projeto Genoma, nascido em 14 de abril de 1950, que, em 2001 anunciou o mapeamento do DNA humano. Geneticista, o doutor Collins, até os 27 anos, era um ateu convicto, somente se direcionando para uma fé religiosa quando cursava a faculdade de medicina. E sua caminhada na direção é contada no livro A Linguagem de Deus: um cientista apresenta evidências de que Ele existe, editado no Brasil pela Editora Gente, São Paulo, em 2007.

 

E é o próprio Collins que confessa: “Houve um período em minha vida em que era conveniente não acreditar em Deus. Eu era jovem, e a física, a química e a matemática pareciam ter todas as respostas para os mistérios da vida. Reduzir tudo a equações era uma forma de exercer total controle sobre meu mundo. Percebi que a ciência não substitui a religião quando ingressei na faculdade de medicina. Vi pessoas sofrendo de males terríveis. Uma delas, depois de me contar sobre sua fé e como conseguia forças para lutar contra a doença, perguntou-me em que eu acreditava. Disse a ela que não acreditava em nada. Pareceu-me uma resposta vaga, uma frase feita de um cientista ingênuo que se achava capaz de tirar conclusões sobre um assunto tão profundo e negar a evidência de que existe algo maior do que equações. Eu tinha 27 anos. Não passava de um rapaz insolente. Estava negando a possibilidade de haver algo capaz de explicar questões para as quais nunca encontramos respostas, mas que movem o mundo e fazem as pessoas superar desafios”.

E disse mais: “Falo de questões filosóficas que transcendem a ciência, que fazem parte da existência humana. Os cientistas que se dizem ateus têm uma visão empobrecida sobre perguntas que todos nós, seres humanos, nos fazemos todos os dias: ‘O que acontece depois da morte?’ ou ‘Qual é o motivo de eu estar aqui?’. Não é certo negar aos seres humanos o direito de acreditar que a vida não é um simples episódio da natureza, explicado cientificamente e sem um sentido maior. Esse lado filosófico da fé, na minha opinião, é uma das facetas mais importantes da religião. A busca por Deus sempre esteve presente na história e foi necessária para o progresso. Civilizações que tentaram suprimir a fé e justificar a vida exclusivamente por meio da ciência – como, recentemente, a União Soviética de Stalin e a China de Mao – falharam. Precisamos da ciência para entender o mundo e usar esse conhecimento para melhorar as condições humanas. Mas a ciência deve permanecer em silêncio nos assuntos espirituais”.

Sobre Richard Dawkins, cientista ateu de renome, assim de pronunciou: “Essa perspectiva de Dawkins é cheia de presunção. Eu acredito que o ateísmo é a mais irracional das escolhas. Os cientistas ateus, que acreditam apenas na teoria da evolução e negam todo o resto, sofrem de excesso de confiança. Na visão desses cientistas, hoje adquirimos tanta sabedoria a respeito da evolução e de como a vida se formou que simplesmente não precisamos mais de Deus. O que deve ficar claro é que as sociedades necessitam tanto da religião como da ciência. Elas não são incompatíveis, mas sim complementares. A ciência investiga o mundo natural. Deus pertence a outra esfera. Deus está fora do mundo natural. Usar as ferramentas da ciência para discutir religião é uma atitude imprópria e equivocada. No passado foram lançados vários livros de cientistas renomados, que atacaram a religião sem nenhum propósito. É uma ofensa àqueles que têm fé e respeitam a ciência. Em vez de blasfemarem, esses cientistas deveriam trabalhar para elucidar os mistérios que ainda existem. É o que nos cabe”.

Questionado sobre os erros cometidos pela religiões, Collns assim se manifestou: “Apesar de tudo o que já aconteceu, coisas maravilhosas foram feitas em nome da religião. Pense em Madre Teresa de Calcutá ou em William Wilberforce, o cristão inglês que passou a vida lutando contra a escravatura. O problema é que a água pura da fé religiosa circula nas veias defeituosas e enferrujadas dos seres humanos, o que às vezes a torna turva. Isso não significa que os princípios estejam errados, apenas que determinadas pessoas usam esses princípios de forma inadequada para justificar suas ações. A religião é um veículo da fé – essa, sim, imprescindível para a humanidade”.

Sobre a teoria do “design inteligente”, Collins não titubeou: “Essa abordagem é um grande erro. Os cientistas não podem cair na armadilha a que chamo de “lacuna divina”. Lamento que o movimento do design inteligente tenha caído nessa cilada ao usar o argumento de que a evolução não explica estruturas tão complicadas como as células ou o olho humano. É dever de todos os cientistas, inclusive dos que têm fé, tentar encontrar explicações racionais para tudo o que existe. Todos os sistemas complexos citados pelo design inteligente – o mais citado é o “bacterial flagellum”, um pequeno motor externo que permite à bactéria se mover nos líquidos – são um conjunto de trinta proteínas. Podemos juntar artificialmente essas trinta proteínas, que nada vai acontecer. Isso porque esses mecanismos se formaram gradualmente através do recrutamento de outros componentes. No curso de longos períodos de tempo, as máquinas moleculares se desenvolveram por meio do processo que Darwin vislumbrou, ou seja, a evolução”.

Sobre Deus e a teoria da evolução, Collins foi incisivo: “Se no começo dos tempos Deus escolheu usar o mecanismo da evolução para criar a diversidade de vida que existe no planeta, para produzir criaturas que à sua imagem tenham livre arbítrio, alma e capacidade de discernir entre o bem e o mal, quem somos nós para dizer que Ele não deveria ter criado o mundo dessa forma?”

O instingante livro do Francis Collins nos faz perceber, quando da leitura da sua última página, que se evidenciam a cada amanhecer que a ciência e a religião devem caminhar juntas, favorecendo o evoluir da humanidade na direção um Final de muita Luz, a ninguém sendo impossibilitado a Felicidade Eterna.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 14 de maio de 2019

BODOCADAS LETAIS

 

BODOCADAS LETAIS

 

Nos momentos preliminares de uma reunião doutrinária, agrupados oito com o objetivo de examinar as linhas mestras de um planejamento semestral, o assunto descambou para os níveis futricais de uma determinada instituição, considerada na área externa como de razoável capacidade organizacional.

Para os presentes, atenção especial foi direcionada aos avaliadores dos que se encontravam rotulados de médiuns, subordinados aos mais diferenciados comentários, cuja lista foi transmitida ao muito amado Chico Xavier pelo Espírito Irmão X, um poeta, contista, crítico, cronista e membro da Academia Brasileira de Letras, autor de mais 40 títulos literários, além de múltiplos artigos em jornais e revistas, que em vida se assinava Humberto de Campos, cuja primeira obra espiritual intitulou-se Crônicas de além túmulo, publicada em 1937, de sucesso extraordinário, consagrador por derradeiro.

O livro do Irmão X agora examinado pelo grupo, Estante da Vida, foi edição FEB pela vez primeira em 31 de março de 1969, em Uberaba, homenageando o primeiro centenário da desencarnação de Allan Kardec, graças ao empenho generoso do saudoso Chico Xavier, uma personalidade profundamente caridosa, sempre dedicada ao auxílio dos mais necessitados, que o tornou indicado por mais de dez milhões de pessoas ao Prêmio Nobel da Paz 1981, em 2012 sendo eleito “O maior brasileiro de todos os tempos”, em iniciativa efetivada pelo Sistema Brasileiro de Televisão (SBT).

As opiniões dos “sempre inconformados” são as mais diversas. O Irmão X listou algumas: “é um velho prematuro, sem a chama do ideal”; “é um temperamento perigoso, entregue à chocarrice”; “é explosivo, dado à violência”; “é um burro que não sabe falar, senão recorrendo a notas alheias”; “é um preguiçoso, sem qualquer atenção para o estudo”; “é um covarde, não enfrenta a responsabilidade diante do povo”; “é um manequim da vaidade, manobrado por agentes das trevas”; “é mole demais, sem qualquer fibra moral para os testemunhos de fé”; “é um obsidiado, entregue à mistificação”; “é vagabundo, nada quer com o trabalho”; “é revolucionário, deve ser vigiado”.

Numa segunda reunião, presente estava cópia de mensagem recebida em BH por médium mineiro amigo fraterno de longa data de um dos nossos: “O Senhor mandou dizer-te que, em nomeando cada um na obra da redenção, assim o fez porque confiava em seu amor para com os irmãos da família humana, e que por isso mesmo não solicitou o inventário das críticas feitas, recomendando tão somente servir e trabalhar”.

Do grupo emergiu então lições magistrais, dividindo-se a espécie humana, diante dos seus múltiplos relacionamentos convivenciais, em duas grandes categorias. De um lado, os que gostam da folia, da prosa inteligentemente alegre, das pegadinhas pra inglês ver, da fofoca do bem, das presepadas que apenas realçam situações engraçadas sem qualquer consequência danosa. Do outro se situam os latrineiros, aqueles que praticam as mais diferenciadas fuxicarias, as piores se tornando quando explicitadas muito cinicamente pelos que se revestem de feições descaradamente cândidas.

O João Gaspar Simões, biógrafo maior do poetíssimo Fernando Pessoa, orgulho do mundo português, costumava dizer que as pessoas se deparam, a cada instante, com uns tipos reservados porque não dizem tudo, de outras que fantasiam quando falam demais, existindo ainda aquelas que ostentam saber que mais ninguém sabe, cinicamente travestidas de bem informadas. Na última categoria declinada pelo Simões se enquandram os fofoqueiros, os mentalmente ananicados.

Tenhamos um medo danado dos fuxicosos. E dos boateiros idem. Como profissional que também lida com Comunicação, conheço alguma coisa sobre o assunto, a partir da interessante leitura de um livro de Jean-Noël Kapferer denominado Boatos O Meio de Comunicação Mais Velho do Mundo, editado pela Publicações Europa-América, em 1987. Nele se pode verificar como os boatos obedecem a uma lógica cujas engrenagens somente se desmontam quando identificadas como nascem, de onde partem, por que aparecem num determinado instante em determinada localidade, inclusive internética.

Segundo Kapferer, “o boato é a primeira etapa do recalcamento, um escoamento da agressividade recalcada”. A vida vazia, a convivialidade rotineira, a ausência de uma afetividade comprometida com um amanhã mais venturoso, a nostalgia de passados vivenciados no bem-bom, os rebaixamentos de níveis sociais, os desconfortos provocados pela ausência de refrigerações cognitivas eficazes e a vontade de ficar sempre na faixa adolescente, além da debilidade do caráter, são excelentes condimentos na formação de um fuxicoso. Kapferer, no seu tratado, elucida com maestria: “Para o boateiro, é preciso dizer qualquer coisa quando se fala com amigos, parentes ou vizinhos. Existe um vazio a preencher. Falar exclusivamente de si tornar-se-ia rapidamente cansativo. A conversa ficaria ameaçada pelo pior dos perigos: o não ter nada a dizer, a confissão de vacuidade. O boato insere-se maravilhosamente nesse vazio: permite prosseguir a conversa”.

O boateiro se revela mais eficaz quando encontra pela frente pessoas frágeis, que dele necessitam para ampliar a pretensa qualidade dos seus círculos de amizade. E todo boateiro conhece bem o seu rebanho, canalizando suas futriquices sempre travestido de cordeirinho estuprado por gente malvada.

Tenho muita comiseração pelos mexeriqueiros, os que alimentam os débeis com algum “vocês sabem da última?“. De muito poucas leituras, não percebem a lucidez da constatação feita por Gabriel Garcia Marquez: “as lembranças verdadeiras pareciam fantasmas, enquanto as lembranças falsas eram tão convincentes que substituíam a realidade”.

O boateiro desconhece, porque nanico todo, que “há só um caminho para a vida, que é a vida”, como apregoava Álvaro de Campos, um dos heterônimos do sempre notável Fernando Pessoa. O boateiro não tem vida própria, pois sobrevive da vida dos outros.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 07 de maio de 2019

BODOCADAS LETAIS

 

 

BODOCADAS LETAIS

 

Nos momentos preliminares de uma reunião doutrinária, agrupados oito com o objetivo de examinar as linhas mestras de um planejamento semestral, o assunto descambou para os níveis futricais de uma determinada instituição, considerada na área externa como de razoável capacidade organizacional.

Para os presentes, atenção especial foi direcionada aos avaliadores dos que se encontravam rotulados de médiuns, subordinados aos mais diferenciados comentários, cuja lista foi transmitida ao muito amado Chico Xavier pelo Espírito Irmão X, um poeta, contista, crítico, cronista e membro da Academia Brasileira de Letras, autor de mais 40 títulos literários, além de múltiplos artigos em jornais e revistas, que em vida se assinava Humberto de Campos, cuja primeira obra espiritual intitulou-se Crônicas de além túmulo, publicada em 1937, de sucesso extraordinário, consagrador por derradeiro.

O livro do Irmão X agora examinado pelo grupo, Estante da Vida, foi edição FEB pela vez primeira em 31 de março de 1969, em Uberaba, homenageando o primeiro centenário da desencarnação de Allan Kardec, graças ao empenho generoso do saudoso Chico Xavier, uma personalidade profundamente caridosa, sempre dedicada ao auxílio dos mais necessitados, que o tornou indicado por mais de dez milhões de pessoas ao Prêmio Nobel da Paz 1981, em 2012 sendo eleito “O maior brasileiro de todos os tempos”, em iniciativa efetivada pelo Sistema Brasileiro de Televisão (SBT).

As opiniões dos “sempre inconformados” são as mais diversas. O Irmão X listou algumas: “é um velho prematuro, sem a chama do ideal”; “é um temperamento perigoso, entregue à chocarrice”; “é explosivo, dado à violência”; “é um burro que não sabe falar, senão recorrendo a notas alheias”; “é um preguiçoso, sem qualquer atenção para o estudo”; “é um covarde, não enfrenta a responsabilidade diante do povo”; “é um manequim da vaidade, manobrado por agentes das trevas”; “é mole demais, sem qualquer fibra moral para os testemunhos de fé”; “é um obsidiado, entregue à mistificação”; “é vagabundo, nada quer com o trabalho”; “é revolucionário, deve ser vigiado”.

Numa segunda reunião, presente estava cópia de mensagem recebida em BH por médium mineiro amigo fraterno de longa data de um dos nossos: “O Senhor mandou dizer-te que, em nomeando cada um na obra da redenção, assim o fez porque confiava em seu amor para com os irmãos da família humana, e que por isso mesmo não solicitou o inventário das críticas feitas, recomendando tão somente servir e trabalhar”.

Do grupo emergiu então lições magistrais, dividindo-se a espécie humana, diante dos seus múltiplos relacionamentos convivenciais, em duas grandes categorias. De um lado, os que gostam da folia, da prosa inteligentemente alegre, das pegadinhas pra inglês ver, da fofoca do bem, das presepadas que apenas realçam situações engraçadas sem qualquer consequência danosa. Do outro se situam os latrineiros, aqueles que praticam as mais diferenciadas fuxicarias, as piores se tornando quando explicitadas muito cinicamente pelos que se revestem de feições descaradamente cândidas.

O João Gaspar Simões, biógrafo maior do poetíssimo Fernando Pessoa, orgulho do mundo português, costumava dizer que as pessoas se deparam, a cada instante, com uns tipos reservados porque não dizem tudo, de outras que fantasiam quando falam demais, existindo ainda aquelas que ostentam saber que mais ninguém sabe, cinicamente travestidas de bem informadas. Na última categoria declinada pelo Simões se enquandram os fofoqueiros, os mentalmente ananicados.

Tenhamos um medo danado dos fuxicosos. E dos boateiros idem. Como profissional que também lida com Comunicação, conheço alguma coisa sobre o assunto, a partir da interessante leitura de um livro de Jean-Noël Kapferer denominado Boatos O Meio de Comunicação Mais Velho do Mundo, editado pela Publicações Europa-América, em 1987. Nele se pode verificar como os boatos obedecem a uma lógica cujas engrenagens somente se desmontam quando identificadas como nascem, de onde partem, por que aparecem num determinado instante em determinada localidade, inclusive internética.

Segundo Kapferer, “o boato é a primeira etapa do recalcamento, um escoamento da agressividade recalcada”. A vida vazia, a convivialidade rotineira, a ausência de uma afetividade comprometida com um amanhã mais venturoso, a nostalgia de passados vivenciados no bem-bom, os rebaixamentos de níveis sociais, os desconfortos provocados pela ausência de refrigerações cognitivas eficazes e a vontade de ficar sempre na faixa adolescente, além da debilidade do caráter, são excelentes condimentos na formação de um fuxicoso. Kapferer, no seu tratado, elucida com maestria: “Para o boateiro, é preciso dizer qualquer coisa quando se fala com amigos, parentes ou vizinhos. Existe um vazio a preencher. Falar exclusivamente de si tornar-se-ia rapidamente cansativo. A conversa ficaria ameaçada pelo pior dos perigos: o não ter nada a dizer, a confissão de vacuidade. O boato insere-se maravilhosamente nesse vazio: permite prosseguir a conversa”.

O boateiro se revela mais eficaz quando encontra pela frente pessoas frágeis, que dele necessitam para ampliar a pretensa qualidade dos seus círculos de amizade. E todo boateiro conhece bem o seu rebanho, canalizando suas futriquices sempre travestido de cordeirinho estuprado por gente malvada.

Tenho muita comiseração pelos mexeriqueiros, os que alimentam os débeis com algum “vocês sabem da última?”. De muito poucas leituras, não percebem a lucidez da constatação feita por Gabriel Garcia Marquez: “as lembranças verdadeiras pareciam fantasmas, enquanto as lembranças falsas eram tão convincentes que substituíam a realidade”.

O boateiro desconhece, porque nanico todo, que “há só um caminho para a vida, que é a vida”, como apregoava Álvaro de Campos, um dos heterônimos do sempre notável Fernando Pessoa. O boateiro não tem vida própria, pois sobrevive da vida dos outros.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 30 de abril de 2019

DICIONÁRIO ALTERNATIVO

 

 

DICIONÁRIO ALTERNATIVO

 

Já dizia o notabilíssimo Fernando Pessoa, um apaixonado pelas causas portuguesas, tal e qual o psicólogo pernambucano e irmão amado Fernando Sardinha, sediado na Capital Federal, como eu do poeta também xará, que “quem não vê bem uma palavra não pode ver bem uma alma”. E foi mais além o autor de Tabacaria: “a palavra falada é um fenômeno natural; a palavra escrita é um fenômeno cultural”.

Entretanto, alguns termos banalíssimos estão sendo entendidos de uma maneira totalmente diferenciada das análises semânticas mais especializadas. Recente levantamento efetuado em diversas regiões brasileiras possibilitou aos estudiosos aquilatar a densidade do problema, tomando por base as redações do Enem. Alguns “fenômenos” pesquisados merecem aqui registro, para favorecer os levantamentos pósteros:

Armarinho – ar que vem do mar; 
Karma – expressão mineira para evitar o pânico; 
Obscuro – OB na cor preta; 
Paralítico – período da Terra em que nada se movia; 
Abreviatura – ato de se abrir um carro de polícia; e 
Genitália – órgão reprodutor dos italianos.

Intrigado, resolvi pessoalmente investigar, indagando de alguns a respeito do significado de algumas expressões nacionalmente conhecidas. O meu bloquinho de papel quase se rasga todo de tanto rir. Até a caneta esferográfica utilizada resolveu, quase ao final da pesquisa, se esborrar toda, descontroladamente, não suportando a estridência risadal oferecida pelo material coletado. Eis um resumo do apreendido em alguns dias de andança, todos os níveis sociais sendo auscultados, da feira ao shopping, passando por supermercados, farmácias, ambulatórios e serviços públicos, resguardadas as identidades de cada entrevistado, alguns deles portadores de especializações várias, acometidas aqui e no exterior:

Abaixo – letra A com pouca altura; 
Detergente – ato de prender indivíduos suspeitos; 
Halogênio – cumprimento dado a pessoas de QI muito elevado; 
Determina – prender uma moça; 
Preservativo – produto utilizado para preservar ativo quem o utiliza; 
Alopatia – dar um telefonema para uma tia; 
Destilado – aquilo que não está do lado de lá; 
Zunzunzum – na Fórmula 1, momento em que o espectador percebe que os três líderes da prova acabaram de passar na sua frente; 
Bacanal – reunião de bacanas; 
Esfera – animal feroz amansado; 
Barbicha – boteco de desvairadas; 
Fluxograma – direção em que cresce o capim; 
Evento – constatação de que realmente não é um furacão; 
Unção – erro de concordância muito frequente, posto que o correto seria “um é”;
Homossexual – sabão em pó para lavar as partes mais íntimas do corpo; 
Patogênico – pato que sai bem em fotografia;
Utopia – lavatório imaginário, inventado pelo sanitarista inglês Thomas Morus;
Jurisprudente – diz-se do grupo de jurados que declara inocente o filho do bicheiro que, em legítima defesa da honra e apenas levemente embriagado, bombardeou o asilo de velhinhos cegos Nossa Senhora do Amparo; 
Microcomputador – anão com cólica renal; 
Trigal – cantora baiana elevada ao cubo; 
Novamente – indivíduos que renovam sua maneira de pensar.

Acordei com uma vontade imensa de abraçar o Povo Brasileiro, aquele povão que o João Ubaldo Ribeiro consagrou em seu livro famoso Viva o Povo Brasileiro, tendo ele mesmo, posteriormente, lançado um outro, também notável, denominado A Casa dos Budas Ditosos, especialmente destinado aos absolutamente despreconceituosos, sem os balacobacos que o derredor nos impõe. Mas com a brasilidade que tanto necessitamos, após o reinado de alguns verborrágicos do Planalto.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 23 de abril de 2019

PARA UM MINISTRO DA EDUCAÇÃO NÃO-EDUCADOR

 

PARA UM MINISTRO DA EDUCAÇÃO NÃO-EDUCADOR

 

Manuseando um livro da professora Guiomar Namo de Mello, ex-consultora do MEC há tempos pretéritos, deparei-me com a frase “o futuro, agora, pertence às sociedades que conseguirem se organizar para aprender”. O trabalho da Guiomar, Cidadania e Competitividade, poderia ser levado na conta de um bom mote para início de ampla discussão nas equipes dos novos gestores federais, muitos deles sem um mínimo de experiência em gestão educacional pública. Para reflexão e ação contínuas, sem cretinices nem bajulices tecnocráticas, todas bolorentas em plena pós-modernidade, quando o ser humano já fotografa o Buraco Negro inferido pelo genial Albert Einstein.

Os educadores mais bem antenados com os desafios de uma contemporaneidade altamente complexa, estão convergindo para dois pontos considerados indissociáveis. O primeiro vincula-se à importância estratégica da educação fundamental nos países comprometidos com o futuro, tornada pilastra maior do desenvolvimento nacional. Um segundo aspecto diz respeito à revalorização do processo de aprendizagem enquanto tal, abandonando-se o chilicoso que viabiliza algumas páginas em revistas especializadas, para concentrar-se num soro caseirolê-escreve-conta-e-pensa eficaz, fomentador de um binômio cidadania-profissionalidade , fecundante por excelência .

Em seu trabalho, a revelar uma ímpar maturidade intelectual, a professora Guiomar Namo de Mello confessa o quanto mudou nos últimos anos. Para permanecer defendendo as mesmas ideias basilares, que reconhecem a permanência e a mutação como contrários inseparáveis, como já apregoava Confúcio, apesar de mais de dois mil anos já passados. Uma mutabilidade sequela das profundas alterações tecnológicas, sociais e econômicas acontecidas nos últimos cinquenta anos, que exigem um aprender-desapreender-reaprender permanente, intrinsecamente criativo e fecundante.

A Guiomar, após vivenciar a gestão pública no interior do Estado, tanto no executivo como no legislativo, mudou intelectual e politicamente. Porque amadureceu mais, entendendo que só se deixa de mudar o pensar para melhor no dia que se deixa de viver. E porque melhor compreendeu Fernando Pessoa, poeta e também Álvaro de Campos: “Sou técnico mas só tenho técnica dentro da técnica. Fora disso sou louco, com todo direito de sê-lo”.

Às vésperas do terceiro decênio do século XXI, os projetos de desenvolvimento integrado dos países latinoamericanos devem expressar uma íntima relação entre crescimento e democracia, efetivada através de uma educação fundamental de qualidade, não estatal porque realmente pública, não monopolizada porque desvinculada de partidos e ideologias intransigentes, interesses mesquinhos e imediatistas, modismos doutrinários e pedagógicos, o mérito jamais sendo aviltado pelo fisiologismo banal do clientelismo rasteiro.

O livro da Namo de Mello revela as linhas mestras modernas das principais estratégias de um consistente desenvolvimento: a) educação fundamental ocupando, juntamente com as vertentes de C&T, lugar central na pauta das macro políticas públicas; b) prática educacional inserida no esforço para tomar as sociedades mais igualitárias, solidárias e integradas; c) aquisição de conhecimentos básicos e a formação de habilidades cognitivas, objetivos do ensino, constituindo-se condição indispensável para que as pessoas consigam, de modo produtivo, conviver com ambientes continuamente mutáveis; d) o conhecimento, a informação e uma visão política mais ampla dos valores tornando-se base para uma cidadania em sociedades cada vez mais complexas e cambiantes. E altamente competitivas.

Saber fazer para colher bons resultados, eis o desafio dos que buscam ter através de um ser continuamente integralizador.

Reverencio o educador baiano Anísio Teixeira que admiravelmente sabia se posicionar: “Eu não tenho responsabilidade nenhuma com as minhas ideias. Eu tenho, sim, uma responsabilidade com a verdade”. Quem tem esse grau de maturidade, sabe andar. Quem não tem, apenas continua tecnocratizando burocraticamente mal, atrelado ao me-disseram antissocialmente mundano, politicamente bostélico. Pretendendo, Semana Santa, sair na turma de Barrabás, integrando a ala dos tabacos lesos, gigantemente imbecilizante.

PS. Que saibamos vivenciar uma Páscoa com mais ação libertadora para todos os povos!


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 16 de abril de 2019

ESPIRITISMO: UM CURSO PRA LÁ DE ÓTIMO

 

 

UM CURSO PRA LÁ DE ÓTIMO

 

Em 1960, o paulista José Herculano Pires, um homem múltiplo em todas as áreas em que desenvolveu suas produtivas atividades, de inteligência fulgurante dentro e fora do movimento doutrinário, elaborou um Curso de Espiritismo por Correspondência, tornado realidade pelos esforços desenvolvidos do Grupo Promotor de Estudos Espíritas, formado por integrantes do Clube dos Jornalistas Espíritas do Estado de São Paulo. A finalidade do Curso, um conjunto de temas espíritas relevantes elaborado pelo Professor Herculano, datilografado, mimeografado e enviado gratuitamente aos participantes. Até hoje é considerado a primeira iniciativa do gênero no Brasil, pois Herculano se batia pelo aprofundamento cada vez mais efetivo das obras básicas de Allan Kardec, embasado numa recomendação do próprio Coordenador: “O estudo de uma doutrina como a espírita, que nos lança de súbito numa ordem de coisas tão nova e grande, não pode ser feito proveitosamente senão por homens sérios, perseverantes, isentos de prevenções e animados de uma firme e sincera vontade de chegar a uma resultado.”

Em setembro do ano passado, 2018, a editora Paideia resolveu editar a iniciativa do Professor Herculano Pires, divulgando o Curso Básico de Espiritismo – Curso de Instrução Programada e Plano de Estudo Comentado, com uma Introdução, duas partes do Curso de Espiritismo e ainda O Plano de Estudo da Doutrina Espírita para dois semestres, com um Anexo intitulado A Forma Original do “Curso de Espiritismo por Correspondência”.

O Professor Herculano, mestre em Filosofia da Educação de Araraquara, além membro da Sociedade Brasileira de Filosofia, é considerado o brasileiro que mais defendeu com competência comprovada a pureza doutrinária, integrando um Clube que foi “uma luz poderosa no movimento espírita brasileiro. Em todo Brasil, era o Clube paulista o que tinha repercussão fora de São Paulo”, segundo testemunha de Jorge Rizzini, autor do notável J. Herculano Pires, o Apóstolo de Kardec, o Homem, a Vida, a Obra, SP, Paideia, 2001, 252 p.

Na primeira parte do Curso são desenvolvidos 24 capítulos sintéticos: 1. Há espíritos e eles sobrevivem à morte do corpo; 2. A possibilidade dos espíritos se comunicarem com os homens; 3. O períspirito; 4. Da encarnação dos espíritos; 5. Da volta do espírito à vida corporal; 6. Reencarnação: esquecimento do passado; 7. Reencarnação: providências para a reencarnação; 8. Reencarnação: preparação para a reencarnação; 9. Reencarnação: encontro prévio com os pais; 10. Reencarnação: ligação do espírito ao ovo, nascimento; 11. Desencarnação: a separação da alma, do corpo; 12. Desencarnação: um caso como exemplo; 13. Sensações e sofrimentos dos espíritos; 14. Influência oculta dos espíritos em nossos pensamentos e atos; 15. Dois casos como exemplo: influência para o mal e influência para o bem; 16.Obesessão e suas causas; 17. As origens das obsessões; 18. Obsessão: exemplos de causas de obsessão; 19. Obsessão: fascinação; 20. Obsessão: subjugação (possessão); 21. Obsessão: o despertar da consciência; 22. Obsessão: sintomas iniciais da obsessão; 23. Obsessão: tratamento de obsessões; 24. A Fé transporta montanhas.

Na parte segunda do Curso são apresentados as seguintes sínteses: 1. Introdução ao estudo da Doutrina Espírita: perseverança e serenidade no estudo; 2. Allan Kardec: o Codificador do Espiritismo; 3. A crença nos espíritos e na possibilidade de comunicação com os homens; 4. A história do Espiritismo: as mesas girantes; 5. O Livro dos Espíritos; 6. A Codificação Espírita; 7. Espiritismo e Espiritualismo; 8. Identidade dos espíritos: análise das comunicações; 9. Linguagem dos espíritos: contradições; 10. As questões de ortografia; 11. A linguagem do pensamento; 12. A loucura e o suicídio; 13. Do maravilhoso e do sobrenatural; 14. Os milagres no sentido teológico: o Espiritismo não faz milagres; 15. Religião Espírita; 16. Deus; 17. Jesus; 18. Céu e inferno; 19. Anjos e demônios; 20. Quanto à criação dos espíritos; 21. União do princípio espiritual à matéria; 22. Formação dos seres vivos: povoamento da Terra; 23. Hipótese sobre a origem do corpo humano; 24. Conceito de mediunidade; 25. Suicídio; 26. Aborto; 27. O Evangelho segundo o Espiritismo.

Ao final, para quem integra um Grupo de Estudo Espírita, são estabelecidos 17 temas para um primeiro semestre e três partes para um segundo, além da sinopse Apreciação Geral da Matéria Estudada, além da síntese Os Passes – Origens, Aplicações e Efeitos.

Como Anexo é apresentada A Forma Original do Curso de Espiritismo por Correspondência, iniciado por iniciativa proposta pelo Sr. Miguel Jacinto Filho, um sorocabano nascido em 1923, que propôs ao Herculano Pires o tão oportuno curso, editado em novembro de 2018, pela Paidéia, São Paulo.

Um curso que decididamente elimina as dificuldades iniciais dos que não sabem por onde começar a assimilar a Doutrina codificada por Allan Kardec.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 09 de abril de 2019

PARA OS NOVOS UNIVERSITÁRIOS

 

 

PARA OS NOVOS UNIVERSITÁRIOS

 

Para os aprovados nos recentes exames vestibulares, a recomendação do poeta Fernando Pessoa, xará meu por ser também Fernando Antônio e por quem nutro uma admiração que vai adiante do apenas além mar: “Para vencer – material e imaterialmente – três coisas definíveis são precisas: saber trabalhar, aproveitar as oportunidades e criar relações”.

Sem jamais esquecer o ensinamento de Luiz Lira, professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco e personalidade especialíssima: “Feliz do Ser Humano que tem o dom da arte. Arte é a energia do amor materializada. Não se deve jogar fora essa dádiva.”… “A alegria é uma aliada do amor. Dê alegria, use essa energia que dissolve o medo. Sorrir é o melhor remédio. Aprenda com as crianças o que você esqueceu. Seja puro sem ser tolo. Não importa que os outros pensem que você é inocente. Seja como uma criança sempre disposta a sorrir”.

Para os que se encontram, em pleno 2019, em situação empregatícia desconfortável, algumas dicas para um caminhar profissional mais efetivo:

– Você colhe o que semeia; cada um está num “dia” diferente;

– Comparações são perigosas; não há soluções fáceis;

– Melhorar partindo de onde se está;

– A introspecção nos dá a compreensão precisa de nossa fraqueza e a força necessária para a superação dela.

E muito cuidado com as “desculpas coitadísticas”, aquelas que tentam encobrir o sol com a peneira, na vã imaginação de que o mundo é dos abestados ricos.

Aos que não lograram aprovação nos diversos vestibulares, algumas injeções revivificadoras, para sair do “vitimismo cafona”, postura muito utilizada em ambientes recheados de pais e mães ansiosos, peruas e emergentes:

– “Aquele que tem um porquê para viver pode enfrentar todos os comos” (Friedrich Nietzsche);

– “O importante não é ver tudo. É ver o que os outros não veem” (José Ingenieros);

– “A única forma de fracassar na garimpagem é deixar de procurar” (Robert Gilbreath);

– “A inovação não consiste em fazer as coisas de maneira melhor. Consiste em fazer as coisas de modo diferente, com melhores resultados” (Robert Gilbreath);

– “Se um homem não sabe a que porto se dirige, nenhum vento lhe é favorável” (Sêneca);

– “Se você não quer repetir o passado, estude-o” (Spinoza).

Para amigos, amores, parentes e contrapontos, os meus votos de um futuro repleto de muitas concretizações, recheado de inúmeros outs, encabrestados todos os downs que alienam, desmotivam e nada edificam. Nunca sendo esquecido o famoso ditado popular “Topada só bota pra frente”, nunca esquecendo do feito de Isaac Newton, que soube aproveitar as várias epidemias que assolaram a Europa entre 1665 e 1667, para elaborar inúmeras notas científicas, que brotaram de sua mente em tão curto período de tempo, quando muitos apenas se recolhiam nas lamentações de sempre, sem qualquer interesse pelas maravilhas que se multiplicavam apesar da peste.

E jamais esqueçam a reflexão notável deixada pelo inesquecível e sempre amado Dom Hélder Câmara, ex-arcebispo de Olinda e Recife: “Quanto mais negra é a noite, mais radiante será a madrugada.”

PS. Para Carol, agora universitária, filha amada de meus cunhados Cláudia e Mário.


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 02 de abril de 2019

PARA EMPREENDEDORES DE SI MESMO

 

 

PARA EMPREENDEDORES DE SI MESMO

 

Era uma vez um pardalzinho que odiava deslocar-se para outras plagas, todas as vezes que o inverno se aproximava. Por esse motivo, deixava sempre para última hora a ideia de abandonar seus teréns por uns tempos. Costumeiramente, despedia-se dos companheiros, retornando ao ninho para mais uns bons dias de aconchego.

Certa feita, com um tempo já desesperadamente frio, ao iniciar seu voo deparou-se com uma chuvinha continuada. Molhadas as asas, estas se petrificaram, congeladas, fazendo o pardalzinho despencar das alturas, caindo num interior de uma vacaria de pequeno porte.

Quando já se imaginava próximo do fim, o pardalzinho recebeu uma descomunal carga excremental, oportunamente quentinha, de uma vaca que de costas para ele se encontrava.

Apesar de todo bostado, o pardalzinho de logo percebeu que aquela massa fétida derretia rapidamente o gelo acumulado das suas asas, aquecendo-o providencialmente, tornando-o muito distanciado da morte prematura que parecia se avizinhar.

Sentindo-se feliz, plenamente reaquecido, o pardalzinho começou a cantar alto e bom som, desapercebendo-se por completo de um enorme gato que o espreitava estrategicamente, atraído pelos seus trinados, e que, de uma só abocanhada, matou-o instantaneamente.

Esta história, a mim contada por Cinderela, uma das queridas amigas pernambucanas, enviada por um espetacular canal-amizade da Internet, reflete quatro ensinamentos morais, dignos de serem aqui repassados para os leitores atentos, aqueles mais atentos às idas e vindas e voltas que o mundo dá.

O primeiro ensinamento proclama que “nem sempre aquele que caga em você é seu inimigo”. O famoso ditado “topada só bota pra frente”, muito ouvido nas camadas populares, reflete, contraponto felicíssimo, a lição encerrada naquela advertência.

O segundo ensinamento revela que “nem sempre aquele que tira você da merda é seu amigo”. Uma lição ainda muito desapercebida por inúmeros eleitores nordestinos, responsáveis por feudos oligárquicos conservadores, perpetuados pela gratidão eterna dos “beneficiados” que continuam vítimas.

O terceiro ensinamento é oportuno para muitos: “desde que você se sinta quente e confortável, conserve o bico calado, mesmo que situado num monte de merda”. Reclamar muito, por tudo e todos, quando num se pode dar um passo seguro, é o mesmo que futucar leão faminto e solto com vara bem curtinha.

E, finalmente, o quarto ensinamento da parábola do pardalzinho é chave de ouro dos anteriores: “quem está na merda não canta”. Traduzindo: deve-se procurar a melhor das alternativas, jamais se distanciando de uma consistente simancolidade, capacidade de se perceber imaturo, incompleto ou muito inconveniente.

O italiano Domenico De Masi, em seu livro A Emoção e Regra, conhece bem a história do pardalzinho: “Nessa nova sociedade, que privilegia a produção imaterial, as necessidades do indivíduo são outras: tempo e privacidade, amizade, amor, ócio inteligente e enriquecedor, e a convivialidade. A última coisa que interessa é a ostentação”.

PS. Recomendo com alegria incontida a leitura do livro do cientista brasileiro Marcelo Gleiser intitulado A simples beleza do inesperado, Rio de Janeiro, Record, 2016, 192 p. Segundo o cientista recentemente premiado, “o sentido da vida é viver em busca de sentido. É no ato da busca, na experiência do novo e do inesperado, que damos sentido à nossa existência.” Uma porta que foi aberta por Allan Kardec para a investigação científica, que ensejou a prova definitiva da alma para os cientistas materialistas dos últimos dois séculos, valendo-se da apometria, uma técnica de investigação da alma humana. Uma lição amplamente apregoada por Chico Xavier, que dizia: “Ninguém evolui, nem prospera, nem melhora e nem se educa, enquanto não aprende a empregar o tempo com o devido respeito”. Principalmente se atentar para o que apregoava Eisntein, onde “a distinção entre passado, presente e futuro não passa de uma ilusão.”


Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar terça, 26 de março de 2019

PANGARÉS E FAROLAGENS

 

 

PANGARÉS E FAROLAGENS

 

De quando em vez, deparo-me com um atoleimado ser humano pela frente. Abilolado, como dizia minha vó Zefinha. Sem entender bulhufas de uma contemporaneidade cada vez mais dinâmica, destila besteiras por todos os poros, irracionaliza fatos do cotidiano mais simples, perambula rodeado de crenças malucas, retratando um subdesenvolvimento mental que é o pior de todos eles, segundo Gunnar Myrdal, um famoso economista europeu. E vive a engabelar ele mesmo e o seu derredor com suas invencionices e presepadas, bostarias puras, tal e qual o Tite à frente da seleção nacionada brasileira.

O João Silvino da Conceição, esse arretado PhD em coisas da vida, costuma dizer que todo pangaré que fica sempre olhando para os seus problemas, será por eles derrubado. E cita não sei quem, alguém que ele leu e muito gostou: “Os fatos costumam ser neutros; são as crenças que afetam nossas formas de pensar, sentir e agir”. Ele ficou impressionado com uma entrevista concedida pelo Stephen Hawkings, esse eternizado físico britânico que era portador de uma crescentemente gravíssima doença neurológica, quando ele declarou, certa feita, estar se sentindo muito feliz por ter contribuído para um melhor conhecimento das origens do Universo! E o Stephen estava à época recém-casado!!

Numa das últimas visitas que fiz à casa-quase-casebre do Silvino da Conceição, conversa vai, conversa vem, cerveja sem álcool sempre gelada e uns pedacinhos de queijo coalho para desenfastiar o estômago, ele me disse que bem vive quem sabe entender as três regras de um jogo de damas. Atendendo a minha curiosidade, declinou-as: 1. não se pode fazer duas jogadas por vez; 2. somente se pode mover para frente; 3. quando se chega na última fila, se está livre para se ir onde quiser. E arrematou, riso franco, peito aberto, sem medo algum de ser feliz: “Se todo pangaré soubesse aplicar as regras de um jogo de dama, logo deixaria de ser um pangaré cheio de estrepolias”. E concluiu, cheio de convicção: “Todo ser humano que sofre antes do necessário sofre mais do que o necessário”.

Gosto muitíssimo de papear com o Silvino da Conceição, principalmente quando, vez por outra, insatisfações múltiplas parecem querer catapultar meu otimismo realista para bem longe. Quando de minha visita última, já portão aberto e abraços de até-outro-dia dados, ele presenteou-me com uma das suas, uma “saideira” de primeiríssima: “Quando alguém se considera um ser humano puro e simples, e com um terceiro acontece o mesmo, então é natural se encontrarem para um bate-papo sempre aberto, as diferenças administradas com sabedoria e paciência recíprocas. Quando, entretanto, um deles se considera uma altíssima montanha, o outro pensando o mesmo, as convergências jamais acontecerão. Montanhas podem ser altas, mas jamais podem se tocar…”

De retorno às minhas atividades profissionais, ainda mais cônscio como aprendiz das responsabilidades doutrinárias e às vésperas de concluir mais um texto de leitura reflexiva, lido com muita fraternal interdependência com a minha mulher, fortaleci o meu “senso identificatório”, sentindo-me alguns mil-réis mais apto na identificação dos pangarés da província, para rejeitar suas farolagens, que apenas ampliam inquietações e desconfortos. E bem mais afiado na identificação das “montanhas” do Silvino da Conceição, charladores que se auto-intitulam com esse ou com aquele título, apenas para engabelar panacas, como se todos fossem remelosos lambaios dos seus conjunturais postos de mando. E fiquei a rememorar uma advertência do jornalista H. L. Mencken, o maior iconoclasta norte-americano: “Todo homem prudente, ao lembrar-se de que a vida é curta, deveria dispensar uma hora ou duas, de vez em quando, para um exame crítico de suas amizades”. Para verificar se prestaria para ministro do STF, por exemplo. Sempre sabendo usar seu discernimento, enterrando pretensões descabidas com odor de sacanagens múltiplas.

No mais, é não esquecer Mário Quintana: “A mentira é uma verdade que esqueceu de acontecer”. Quintana e Silvino da Conceição, doutores de Vida, sem brasões nem lamentações.


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