
Por Jorge Henrique Cartaxo — jornalista e diretor de Relações Institucionais do IHG-DF; e Lenora Barbo — arquiteta e diretora do Centro de Documentação do IHG-DF
Proclamada a República, a Constituição determina e o Congresso autoriza duas expedições ao Planalto Central sob a chefia de Cruls. A primeira em 1892, "Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil" para demarcar a área que abrigaria o futuro Distrito Federal; a segunda em 1894, "Comissão de Estudos da Nova Capital da União" para fixar, na área demarcada, o sitio destinado à nova capital do Brasil. É nesse segundo momento que o botânico francês Auguste Glaziou entra em cena emprestando raro talento, conhecimento e sensibilidade aos destinos da Nação brasileira.
"No Segundo Império, situa-se um novo período com Glaziou, cuja presença se faz sentir até hoje por meio dos trabalhos que deixou, em que associou plantas importadas dos grandes cultivadores europeus(...) e plantas da flora nativa(...) A alameda das Sapucaias, na Quinta da Boa Vista, pela sua beleza intrínseca e capacidade de persistência no tempo, mereceu a admiração de sucessivas gerações. Glaziou é considerado, sem favor, o autor da mais importante obra paisagística de nosso país", disse Burle Marx que, como Glaziou, trouxe a sua arte para o embelezamento e à construção de Brasília.
Nos relatórios do Ministério da Agricultura encontramos a documentação de um intenso relacionamento de Glaziou com os jardins botânicos europeus e alguns outros em colônias francesas em latitudes tropicais. Na Quinta da Boa Vista funcionava a sede da Sociedade Brasileira de Aclimatação, que tinha Glaziou como membro, espécie de filial da homônima francesa sediada em Paris. Em 1889, como delegado do Rio de Janeiro, foi ele quem representou o Brasil na exposição Universal de Paris. No pavilhão do Brasil foram exibidas 96 plantas nativas, cujo exemplares expostos não saíram daqui, mas do Museu Nacional de História Natural de Paris.
Conhecido por seus projetos de jardins sinuosos, grutas e lagos artificiais, Glaziou não foi apenas o "jardineiro do Imperador Dom Pedro II". Ele trouxe grande contribuição para o estudo da botânica, como um intrépido naturalista que buscou em nossas matas, montanhas, restingas e cerrados os espécimes mais interessantes e ornamentais para semear nos jardins daqui e da Europa. Glaziou foi contemplado ainda com o título de Doutor em Filosofia, em 1868, pela Academia Imperial Alemã.
Não por acaso iniciamos esse texto, citando a frase de Auguste Glaziou. Certamente, Lucio Costa ao pensar e conceituar Brasília em sua Memória Descritiva do Plano Piloto, de 1957, já sabia que a nossa capital seria abraçada por um lindo lago, resultando numa cidade que "é, ao mesmo tempo, derramada e concisa, bucólica e urbana, lírica e funcional".