COSME COELHO, CRIADOR DA CAPA DA CONSTITUIÇÃO, É FLORIANENSE (CRÔNICA DO CLUNISTA SACRISTÃO ANTÔNIO CARLOS DIB)

COSME COELHO É FLORIANENSE
Servidor aposentado que criou a capa da Constituição teve peça em exposição no CCBB
Cosme Rocha é servidor aposentado do setor de arte da Gráfica do Senado. Ele estava molhando as plantas quando atendeu à ligação da reportagem e se mostrou surpreso e, ao mesmo tempo, feliz em saber que sua criação fez parte da exposição Fullgás – artes visuais e anos 1980 no Brasil, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
A exposição reuniu obras emblemáticas da década de 80, incluindo a arte da capa da Constituição de 1988, criada por Cosme em 1987. O design foi desenvolvido para um concurso interno do Congresso durante a Assembleia Nacional Constituinte (ANC). Na época, as opções apresentadas na primeira rodada não agradaram o então presidente da ANC, deputado Ulysses Guimarães. Foi na segunda fase que Cosme, motivado mais por um sentimento de transformação do que pela competição, decidiu enviar a própria proposta, que sairia vitoriosa.
— Eu não fiz a capa para ganhar o concurso. Fiz porque sentia que o país estava mudando. Era um momento forte demais ao país. Ali, a gente estava criando um país. O discurso do Ulysses me emocionou porque, sem saber da simbologia exata, ele falou o que eu pensava quando construí a capa. Ele do lado político e eu do lado da criação queríamos uma nação diferenciada, com mudança e democracia — relembrou.
Criação
Cosme contou que a capa foi inspirada na bandeira nacional e sintetiza o espírito de renovação e participação que, inclusive, a população brasileira desejava na década de 80.
— Virei a bandeira de ponta a cabeça para não deitar em berço esplêndido. Tirei todos os ícones e fiz como se fosse um sol nascente. Ali estava nascendo a nação brasileira por conta da participação popular. Na época, teve manifestação de todas as formas. Toda a sociedade se manifestou, foi a única constituição feita com participação popular — disse.
O criador
Cosme trabalhou no Senado por mais de três décadas e se aposentou em 2013. Além de artista plástico, também participou ativamente de movimentos culturais no Distrito Federal, desde os tempos em que ajudava a montar o Jornal da Constituinte.
Com uma trajetória marcada pela vontade de ver um país mais justo, hoje, aos 76 anos, segue produzindo e criando obras.
— Estou organizando uma exposição para mostrar meu trabalho aqui no Brasil e depois na Europa. Quero montar um itinerário e fazer um catálogo. Antes eu desenhava e depois pintava. Agora vou direto. Como na vida, os erros e acertos vão compondo a obra. Hoje não tenho mais medo de errar. Cada traço me dá mais segurança.
Pai de oito filhos, avô, artista e amante da natureza, Cosme vê na arte um caminho contínuo de aprendizado. Enquanto prepara nova exposição com suas obras, ele segue cultivando plantas e ideias no quintal de casa com a mesma sensibilidade que transformou em imagem o nascimento de uma nova Constituição.