A equipe dela descobriu que há populações de cavalos-marinhos mesmo nas extremamente poluídas baías de Guanabara e de Sepetiba. Na praia de Urca nem é preciso mergulhar, eles nadam de seu jeito suave, quase parado, onde a água não chega aos joelhos. O projeto monitora ainda os cavalos-marinhos da Ilha Grande, de Arraial do Cabo e de Búzios, e investiga sua presença junto aos costões cariocas, como o do Arpoador e o do Leblon.
Os cavalos-marinhos quase foram extintos do Rio devido à poluição e, sobretudo, ao aquarismo. Foram capturados ao esgotamento para virar peixinhos de aquário. Mas, desde 2014, com a Portaria 445 do Ibama, que proibiu captura, transporte, armazenamento, guarda e manejo, a população de cavalos-marinhos tem dado sinais de recuperação, diz Freret-Meurer. Apenas a criação para pesquisa ou com autorização do Ibama é permitida.

Na Baía de Guanabara, em 2015, a média era de dois cavalos-marinhos a cada 400 metros quadrados. Em 2018, chegou a oito peixes por 400 metros quadrados. Mas, em 2021, já eram 13 os cavalinhos na mesma área. No entanto, educar a população é preciso para que os cavalos-marinhos continuem a colorir as águas do Rio em paz, adverte a bióloga.
O projeto foi criado em 2002 por pesquisadores da Universidade Santa Úrsula e conta com o apoio de outras instituições, como o Instituto Mar Urbano, e a participação de pescadores.
O cavalo-marinho parece um experimento da natureza. A cabeça lembra a do cavalo. A cauda preênsil usada para se agarrar a algas e corais remete à do macaco. Mas, para a microfauna da qual se alimenta, o cavalinho é um predador de topo da cadeia. Em escala reduzida, ele desempenha o papel do tubarão em ecossistemas de estuários e costões que habita, diz Freret-Meurer.
Ele é carnívoro, mas não tem dentes. Seu bico funciona como aspirador, que suga microanimais marinhos, como larvas de peixes e crustáceos diminutos, que vivem entre as algas e nos corais. Pequeno (os do Rio medem entre 12cm e 21 cm), ele presta um grande serviço ambiental ao impedir que a microfauna devore as algas e o fitoplâncton dos quais depende o equilíbrio dos mares.