FOGO NA SALA! (CRÔNICA DO COLUNISTA JOÃO RIBEIRO DA SILVA NETO, O BEIRÓ)
Fogo da sala!
(Por João Ribeiro da Silva Neto)
Lembro que na primeira viagem que fui a Balsas, Maranhão, com meus pais, eu tinha apenas seis anos de idade. Fiquei impressionado com tudo, observava as casas, muito diferentes dos padrões de São José dos Campos. E além de todas as diferenças havia o corte do fornecimento de energia elétrica à noite, quando todos passavam a usar as famosas lamparinas! Procurei logo aprender como acendê-las, pois como minha família sabe sempre gostei muito de usar lanternas, com pilhas, mas não poderia ficar sem aquela novidade, alimentada a querosene.
Quem viveu essa realidade em Balsas, ou em outras cidades do Maranhão, certamente se identifica com os pequenos detalhes, como as lamparinas, o formato das casas e a simplicidade das noites em família.
Tenho resquícios desses acontecimentos na memória, mas minha mãe Zisile contou para mim muitas vezes ao longo de minha vida, sempre sorrindo muito ao lembrar. A casa onde ficamos era de minha bisavó, a Dindinha, situada na Praça da Matriz, na rua bem em frente à Igreja. A maioria das casas naquele período eram construções estreitas e compridas, cujos fundos davam para o Rio Balsas. Na frente uma pequena sala, aquele corredor com uns quartos ao lado e no final uma varanda ligada com uma copa e cozinha.
Tudo extremamente simples. E assim nossa família ficava reunida à noite naquela varanda conversando. E eu, com uma bela lamparina na mão, passeando pela casa, procurando o que fazer... E encontrei! Tenho vagos traços na memória deste fato, mas minha mãe me contou que de repente eu entrei assustado pelo corredor e olhando para todos eles disse:
- “Pessoal, tem uma rede acesa lá na sala!”...
Naquele momento eu fiquei realmente muito assustado, pois não tinha a ideia sobre o que seria um incêndio naquele momento e muito menos as proporções que ele poderia ter, em vista da altura das casas em Balsas naquele tempo. Na hora que vi o princípio de incêndio, com as labaredas pegando fogo nas varandas da rede, além do cheiro da fumaça, do querosene, que tornaram aquela pequena sala bem iluminada! Certamente, se não fosse contido de imediato a casa teria incendiado toda...
Quando meus pais e familiares ouviram o meu aviso, ficaram perplexos, mas ainda bem que rapidamente eles correram e apagaram as chamas de uma rede, que estava armada na sala da frente. Eu devo ter passado por baixo das varandas e o fogo da lamparina “acendeu” a rede. Graças a Deus tudo correu bem e foi evitado talvez um incêndio de proporções maiores, haja vista que as casas não eram altas e nem tinham forro de concreto, podendo ser logo atingidas.
Por João Ribeiro da Silva Neto
Do livro Histórias de Minha Vida