Havia certo alvoroço na Contadoria. Estávamos em 31 de dezembro de 1956. Último dia de trabalho, a moçada inquieta, festas de fim de ano à vista…
Seu Aragãozinho, o Contador, “arrancava os cabelos” pela falta de um documento, exatamente no dia em que se deveria juntar tudo para fazer o Balanço Anual.
Mas apareceu uma diferença de centavos; a mais miserável para qualquer contabilista. Nesses casos era preciso cotejar todos os papéis do mês para se encontrar o erro que provocara a diferença.
Pois, no exato dia “D” desapareceu o lote do Diário do Movimento de 15 de setembro de 1952, imprescindível para se elucidar uma daquelas diferenças de centavos que tanto perturba os Contadores. E cadê o Diário?
Notou-se um vai-e-vem incomum no setor; gavetas abrindo-se e fechando-se, armários vasculhados, muitos funcionários consultados e Seu Costa Souza, o Subgerente, quase perdendo a paciência; um inferno.
Nisso aparece um cabra novo, que passara no concurso em 2º lugar, doido para comprovar sua eficiência e dispara um cochicho no ouvido de um colega:
– Se estão procurando o Diário de 17 de setembro, vou busca-lo!…
Era Biuzinho de D. Zefa, registrado na Cédula de Identidade como Severino Alexandre de Melo, rapaz de 19 anos, seco que só uma vara de bater pecado mas ágil como um macaco procurando macaca.
Desceu a escadaria como quem desce num escorrego de brinquedo e mandou-se, às carreiras, para a Praça da Independência, onde ficava o arquivo do jornal de Dr. Chateaubriand.
Lá, acionou velho amigo, Fernando da Cruz Gouveia, e quase se ajoelhou pedindo-lhe a edição do Diário de Pernambuco de 15.09.1952.
Pagou o preço e nem quis recibo. “Queimou o chão” de volta à Agência.
Lá chegando, esperado com ansiedade, estufou o peito como se o “Herói do Dia” fosse, disparou uma frase que ficaria no anedotário e provocaria em todos uma risadaria incontida.
A preocupação continuou reinando até que horas depois o arquivista trouxe o Diário Contábil tão procurado.
Mas valeu o espírito de iniciativa daquele novo funcionário, que depois foi enaltecido pelos seus chefes, em que pese sua inocente interpretação do problema.
Mas ninguém se aguentou quando ele disse com o maior entusiasmo:
– O Diário “taqui” meu chefe!…