— Eu já fiz todo o resto, você sabe (risos) .
A resposta, como todas as outras deste papo, se expande por alguns minutos. Aos 71 anos, Santana tem muito o que dizer. Tanto nesta entrevista na Cidade do México quanto em sua música. Ao longo de 30 álbuns em cinco décadas, o mexicano criou assinatura própria com as experimentações de sua guitarra — há décadas, o modelo PRS Santana.
Em 2019, Santana está em festa. No dia 7 de junho, “Africa speaks” chega às plataformas digitais, uma semana antes de seu mais bem-sucedido álbum, “Supernatural”, completar 20 anos. E, em agosto, Santana será uma das atrações principais da edição comemorativa de 50 anos do icônico festival de Woodstock, essencial para impulsionar sua carreira para além dos jazz clubs de San Francisco, cidade onde cresceu.
Na sede de sua gravadora na capital mexicana, Santana falou com o GLOBO.
Ouvindo “Africa speaks” dá para sentir que o senhor buscou juntar a alma de jazz e blues de sua guitarra com a espiritualidade percussiva das religiões de matriz africana. Tem até uma levada quase brasileira na percussão. A ideia era essa?
Sim. Com todo o respeito, gosto de dizer que são os mesmos ovos, dos iorubás, só depende da maneira como você os mexe. Na República Dominicana dá merengue, no Brasil é o candomblé e a macumba, na Colômbia a cumbia... Mas todas as músicas vêm da África. Pessoas estão sedentas por integridade, e a música africana traz isso, elevando as pessoas a um lugar em que o tempo e a gravidade desaparecem.
E por que fazer essa celebração agora?
Eu já fiz todo o resto, você sabe ( risos ). Eu mandei essas músicas para Prince, Eric Clapton, Sting... E nunca tive resposta deles. Então, eu disse “ok, mais para mim!”. Esse é o momento perfeito para apresentar essas músicas, porque elas vêm de um desejo de sabedoria, de elegância, de fortitude e de força. A resiliência da música e dos povos africanos me inspiram muito. E eu sou grato por ser parte da família, não me sinto um turista na África, sabe?
Rick Rubin foi o escolhido para “Africa speaks”. Qual foi a contribuição dele? Não lembro de outros trabalhos de Rubin que tenham esses elementos da música africana...
Você citou “Supernatural”. É um álbum que em 1999 já juntava a guitarra com elementos do hip-hop e tinha uma série de duetos com artistas de diferentes gêneros, dois processos muito usados hoje em dia. Quando você gravou, sentia que seria tão atual e moderno nos dias de hoje?
Não. Era um desafio para mim. Clive Davis ( lendário produtor e executivo da indústria ) me disse: “eu te vi ao vivo, você é incrível, mas quero saber se tem a disciplina de vir comigo ao estúdio e criar um single para as rádios. É um tipo diferente de música”. E eu topei. Começamos a ligar para Maná, Lauryn Hill... Aliás, foi por Lauryn que Eric Clapton entrou no álbum, porque me viu tocando com ela no Grammy. Mas, para mim, é uma coisa muito natural tocar com humanos. Não tive problema com nenhum deles.

Tem alguém com quem você gostaria de gravar agora?
Sem dúvidas, com ( o saxofonista camaronês ) Manu Dibango, porque “mama-se, mama-sa, ma-ko-ma-ko-ssa” ( cantarola “Soul makossa”, composta por Dibango, cujo refrão ficou conhecido quando usado por Michael Jackson em “Wanna be startin’ somethin’ ). Quero ficar uma semana no estúdio com esse cara, ele escreve músicas incríveis.