Olegário comprou um sítio com uma bela casa para as bandas do Alto de Ipioca. Uma linda vista da praia e o clima ventilado pela brisa. Contratou um caseiro para tomar conta do sítio. Severino, o caseiro, ficou morando numa casa de taipa nos fundos do sítio com um quarto, sala, cozinha e banheiro.
Olegário gostou do rapaz trabalhador, incentivou ao empregado arrumar uma moça e se casar ou se amigar. Severino confessou ter acontecido uma decepcionante experiência marital. Sua mulher fugiu com um pilantra, ele preferia ficar só na vida.
Certo dia o caseiro foi a Rio Largo, aniversário de um primo, conheceu uma prima, Esmeralda, morena bonita, 26 anos, também separada.
A família começou a encorajar o namoro entre os primos. Severino mesmo traumatizado em ter levado galha, foi engolindo a corda. Depois de algumas cervejas os dois conversavam animados. No mês seguinte Severino parou um caminhão na porta de Esmeralda. Pegaram uma cama e um guarda-roupa, se juntaram na casa de morador do Sítio.
A lua-de-mel durou pouco, Esmeralda tem um defeito congênito que alguns chamam de furor uterino ou comichão na genitália ou ninfomaníaca; o companheiro tem que ser ótimo de cama para dar conta de Esmeralda e seu novo homem não era tão bom assim. Ela começou a sair com um vaqueiro da redondeza, até o menino Pedroca visitava a mulher enquanto Severino toda tarde entrava nas matas em busca de lenha e fiscalizando os caçadores proibidos, deixava a mulher sozinha, sem ter o que fazer. Alguém chegou a fuxicar no seu ouvido, ele não quis saber, achava Esmeralda bonita, gostava dela, lhe dava carinho e boa comida quando chegava cansado da mata. Mas ficou desassossegado com o fuxico.
Nos fins-de-semana o casal descia à praia de Ipioca, direto para a Bodega do Joaldo. Os dois casais se davam bem, tomavam cerveja, cachacinha, iam ao mar, tinham um domingo maravilhoso. Até que Joaldo deu para visitar Severino com assiduidade, mesmo sem ele em casa, aparecia para uma prosa com Esmeralda. Precisou um amigo contar a Severino: Joaldo estava de caso com sua mulher, toda tarde ele chegava sorrateiramente para visitá-la.
Severino ficou indignado. Seu maior amigo fazer uma traição dessa! Uma punhalada nas costas. A coisa não ia ficar assim. Depois de muito remover, pensar, resolveu dar fim aquela história que machucava o fundo de seu coração. Foi à Feira do Passarinho, comprou um velho revólver, R$ 150,00.
Ao entrar em casa, Esmeralda desconfiou, havia alguma coisa no ar, perguntou porque ele estava estranho. Severino pediu que o deixasse em paz. No outro dia, domingo, os dois desceram até a Bodega de Joaldo. Enquanto as mulheres foram ao mar, Severino pediu um particular. Foram para mesa mais afastada. O caseiro foi direto, estava com mágoa no coração.
– Joaldo, estou com um problema. Primeiro eu desconfiei, agora tenho certeza de um caso muito sério. Esmeralda está me traindo, ela tem um amante. Eu preciso acabar com esta situação. Comprei uma arma, está aqui em minha cintura, vou matar o amante de minha mulher.
O amigo se assustou, respirou fundo, baixou os olhos. Maior silêncio entre os dois. De repente Joaldo olhou nos olhos de Severino e falou bem pausado.
– Meu amigo, não faça isso. Você vai acabar sua vida por causa dessa mulher que não lhe merece. No mínimo 20 anos de cadeia. Eu estou sabendo que ela é doente, precisa procurar um médico para ver se tem cura. Se você matar esse amante, vai ser uma desgraça. Segurou na mão do amigo e perguntou
– Escute! Por quanto você comprou o revólver?
– R$ 150,00
– Vamos fazer um negócio! Eu estou precisando de uma arma na bodega, tenho medo de assalto, lhe dou R$ 250,00 por ela. Está bom?
Calaram-se, um olhando para o outro. Severino pensou, pensou, depois de alguns minutos de silêncio, chegou à conclusão.
– Você tem razão, não vale a pena pegar uma cadeia por aquela cadela. Mas, me faça um favor, eu vou para casa agora, você diga a essa vaca que não pise mais em minha casa, vou queimar tudo dela. Ela não apareça!
Pegou o dinheiro de Joaldo, colocou no bolso, entregou o revólver, levantou-se. Subiu ao Alto de Ipioca aliviado da dor que oprimia seu coração. Tocou fogo em tudo que era de Esmeralda. Prometeu-se nunca mais casar ou amigar; só raparigar. Hoje Severino, o Sábio, vive sozinho no Sítio do Olegário, com direito a levar uma rapariga para esquentar a cama juntos, vez em quando. Casar nunca mais.