João Paraibano e Severino Feitosa glosando o mote
A vida pior do mundo
é melhor do que morrer
João Paraibano
Embora eu fique ancião,
vivendo em lugar incerto,
não quero caixão aberto,
nem vela acessa na mão,
nem que eu viva na prisão,
a polícia a me bater,
sem olhar o sol nascer
no meu torrão rude, imundo.
A vida pior do mundo
é melhor do que morrer.
Severino Feitosa
Eu peço ao onipotente,
não mude a minha vontade,
não tenho medo da idade,
eu quero é chegar na frente,
se um dia eu ficar doente,
sem poder locomover,
sem vontade de comer,
oiça curta e olho fundo.
A vida pior do mundo
é melhor do que morrer.
João Paraibano
A morte tem lance ingrato,
da cova ninguém arranca,
ao invés da meia branca,
eu quero meia e sapato
eu tendo que bater, bato,
pra o rival não me bater,
que é melhor envelhecer
do que morrer num segundo.
A vida pior do mundo
é melhor do que morrer.
Severino Feitosa
Mais alto do que os Andes
estou em todos terrenos,
não acompanho os pequenos,
fico do lado dos grandes,
disse assim José Fernandes,
que não vai se aborrecer,
não faltando o que comer,
outra coisa em não confundo.
A vida pior do mundo
é melhor do que morrer.
João Paraibano
Na casa que eu estou morando,
quero escutar sem complô,
um neto olhando, vovô,
e eu perto lhe abençoando,
minha mulher implorando,
pra meu corpo não morrer,
e ouvir meu filho dizer,
papai já tá moribundo.
A vida pior do mundo
é melhor do que morrer.
Severino Feitosa
Se eu tiver esse pecado,
não vou lamentar da vida,
se eu gostar de bebida,
um amigo é meu prezado,
eu posso comprar fiado,
se achar quem me vender,
e quando eu quiser beber,
passar um cheque sem fundo.
A vida pior do mundo
é melhor do que morrer.
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