Por que há necessariamente o pensamento e a possibilidade da fuga quando nem sabemos o final da coisa?
Há tantas maneiras de partir sem precisarmos sair do lugar.
Não há cansaço que não passe com um banho, uma lavanda gostosa no corpo, uma cama confortável, uma xícara de chá ou café, e um livro de poesias para ser interpretado.
A janela aberta, ou o ar-condicionado no dezoito.
Viver é fácil.
Ouça mais, fale menos e, se possível, no intervalo de tudo dê vaga em seu pensamento para uma bela canção. A boa música expulsa pensamentos tolos, tirando a atenção das vontades torpes.
Ora, ora!
Por que essa demasiada necessidade louca de compreender o que existe para não ser entendido?
Eis a presunção humana em sua gênese: o homem nem compreende a si próprio e deseja desvendar os mistérios fora do seu eu.
Viver é fácil.
Implica em estar sempre com frescor no corpo, alma leve, coração em paz, nunca possuir mais que os olhos não possam cobrir e os braços abraçar de uma vez só. Sem almejar o que não se pode segurar nesse abraço.
Viver é fácil.
Envolve buscar tanto o riso quanto o amor em tudo. Isso sim é uma audácia vigorosa na arte de seu feliz.
Jamais esperar para fazer o bem amanhã, ou gozar apenas amanhã querendo ser dono exclusivo desse prazer.
Emprestar liberdade a tudo, e jamais cobrar a volta dela. Da liberdade.
Prender apenas a respiração quando algo for tão fantasticamente bom para nós, que queiramos eternizar o momento. O instante.
Mas, sempre ciente do amanhã vindo para ser outro dia. Embora mais uma vez seja um hoje. Saiba.
Banhos, perfumes, livros, chás ou café, música e sorrisos.
Um vinho? Quando merecer.
Isso basta.
Se somados a uma companhia não tratada como propriedade, para gargalhar da nossa gargalhada e podendo ser chamada de amor.
Isso é liberdade.
Não marque seu corpo nem a sua alma.
Marque os momentos.
Porque eles passam.
Viver não é apenas fácil. É simples.