Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense sexta, 14 de fevereiro de 2020

SUPERCOPA DO BRASIL: BRASÍLIA RECEBE O FLAMENGO

 

SUPERCOPA DO BRASIL
 
Prova de títulosFlamengo ou Athletico-PR?
 
 
Levantamos qual elenco coleciona mais conquistas de torneios semelhantes ao que será disputado neste domingo, no Mané Garrincha. Senhor dos troféus é do Furacão.

João Romariz
Marcos Paulo Lima

Publicação: 14/02/2020 04:00

Rafinha tem cinco títulos de supercopas no currículo, todas pelo Bayern de Munique (Ed Alves/CB/D.A Press
)  

Rafinha tem cinco títulos de supercopas no currículo, todas pelo Bayern de Munique

 




Lançada em 1990 pela CBF, abandonada por 28 anos e ressuscitada nesta temporada, a Supercopa do Brasil será disputada pela terceira vez no domingo, às 11h, no Mané Garrincha, mas o formato do evento não é novidade para nove jogadores e dois técnicos. O Correio fez uma prova de títulos entre os personagens inscritos no torneio. A julgar pelo peso do currículo, o Flamengo entrará em campo com mais especialistas nesse estilo de torneio do que o Athletico-PR.

Atual campeão brasileiro, o rubro-negro carioca conta com seis personagens campeões de supercopas nacionais e/ou continentais na carreira — cinco jogadores e o técnico Jorge Jesus. Juntos, eles somam 18 taças. O Athletico-PR conta com três atletas vencedores e o treinador Dorival Júnior, totalizando 15 títulos.

O lateral-direito Rafinha ostenta quatro Supercopas da Alemanha e uma da Uefa. Filipe Luís é outro papa-títulos. Ganhou três com a camisa do Barcelona e um pelo Ajax. Diego participou de uma conquista do Porto e outra do Fenerbahçe, último clube dele antes de chegar ao Flamengo. O reserva Vitinho tem dois pelo CSKA Moscou, da Rússia. Capitão do time carioca, Éverton Ribeiro faturou duas supercopas na Arábia Saudita, ambas pelo Al-Ahli.

O técnico Jorge Jesus é especialista no assunto. Brindou o Benfica com a Supertaça Cândido de Oliveira, em 2014; e o Sporting, em 2015. Três anos depois, levou o Al-Hilal ao degrau mais alto do pódio na Arábia Saudita. Isso explica a gana do português pelo troféu inédito na carreira. “O importante para nós é dia 16, em Brasília, na final da Supercopa. Estamos em um nível muito melhor e maior, com todo o respeito que tenho pelo Campeonato Carioca”, disse o treinador no início deste mês, depois da vitória sobre o Resende na Taça Guanabara.

O Athletico-PR tem o senhor dos troféus. Nenhum jogador inscrito para a final tem mais títulos de supercopas do que Adriano. O veterano lateral-esquerdo de 35 anos empilhou taças na Espanha. De carona nas eras douradas do Sevilla e do Barcelona, exibe no currículo três Supercopas da Uefa e quatro Supercopas da Espanha. Sete no total.

Lucho González é outro pé-quente. O argentino tem cinco títulos de supercopa com as camisas do Olympique Marselha, da França, e do Porto, de Portugal. Marquinhos Gabriel participou da campanha do Internacional na conquista da Recopa Sul-Americana de 2011. Ele fazia parte do elenco comandado por Dorival Júnior, técnico colorado à época.

Até ontem, 40 mil ingressos haviam sido vendidos para a decisão. O campeão brasileiro (Flamengo) ou da Copa do Brasil (Athletico-PR) entrarão na seleta sala de troféus ao lado do Grêmio (1990) e do Corinthians (1991).



A estreia do Furacão em 2020
O Furacão chegou um pouco mais tarde e também está concentrado no Setor Hoteleiro Norte. Menos badalado do que o rival de domingo, o clube de Curitiba ainda não fez nenhuma partida com o elenco profissional em 2020. Dorival Júnior contará com a base do time campeão da Copa do Brasil 2019. A ausência sentida é de Bruno Guimarães. O jovem meio campista de 22 anos foi vendido para o Lyon, da França, por 25 milhões de euros (cerca de R$ 115 milhões de reais).




Já ganhei Supercopa na vida...


Flamengo


» Rafinha
5 títulos
Supercopa da Alemanha (2012, 2016,
2017 e 2018) e Supercopa da Uefa (2014)
Clube: Bayern Munique

» Filipe Luís
4 títulos
Supercopa da Uefa (2010, 2012
e 2018) e Supercopa da Holanda (2005)
Clube: Atlético de Madrid e Ajax

» Éverton Ribeiro
2 títulos
Supercopa da Arábia Saudita (2014 e 2018)
Clube: Al-Ahli

» Diego

2 títulos
Supertaça de Portugal (2004)
e da Turquia (2014)
Clubes: Porto e Fenerbahçe

» Vitinho
2 títulos
Supercopa da Rússia (2014 e 2018)
Clube: CSKA Moscou

» Jorge Jesus
3 títulos
Supertaça Cândido de Oliveira (2014, 2015 e 2018)
Clubes: Benfica, Sporting e Al-Hilal


Athletico-PR

» Lucho González
5 títulos
Supercopa da França (2010 e 2011) e Supertaça Cândido de Oliveira (2006, 2012 e 2013)
Clubes: Olympique de Marselha e Porto

» Adriano

7 títulos
Supercopa da Uefa (2006, 2011 e 2015) e Supercopa da Espanha (2007, 2010, 2011, 2013)
Clubes: Barcelona e Sevilla

» Marquinhos Gabriel
1 título
Recopa Sul-Americana (2011)
Clube: Internacional

» Dorival Júnior
1 título
Recopa Sul-Americana (2011)
Clube: Internacional
 
Jornal Impresso
 
 
 

Correio Braziliense quinta, 13 de fevereiro de 2020

CARNAVAL BRASILIENSE 2020: FESTA ANINA O COMÉRCIO

 

Festa anima o comércio
 
Com mais brasilienses ficando na cidade, varejo projeta aumento nas vendas, principalmente em bares e restaurantes. Abertura de shoppings durante o feriado também é motivo de entusiasmo

 

» DARCIANNE DIOGO

Publicação: 13/02/2020 04:00

Dona de um armarinho, Isabelle Estrela, 24 anos, considera o carnaval como um  

Dona de um armarinho, Isabelle Estrela, 24 anos, considera o carnaval como um "segundo Natal", tamanho o aumento na procura por acessórios

 


Renata Tomazini mora em Alexânia (GO), mas veio fazer compras no DF  (Vinicius Cardoso Vieira/CB/D.A Press)  

Renata Tomazini mora em Alexânia (GO), mas veio fazer compras no DF

 

Colombiana Sharon Latorre passará o carnaval na capital pela primeira vez (Vinicius Cardoso Vieira/CB/D.A Press)  

Colombiana Sharon Latorre passará o carnaval na capital pela primeira vez

 



» DARCIANNE DIOGO
 
O carnaval na capital federal deve atrair 1,2 milhão de pessoas, segundo a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec). Com esse quantitativo, a pasta calcula que, no período, sejam injetados R$ 240 milhões na economia do Distrito Federal. A transferência da festa na Esplanada dos Ministérios para a Fundação Nacional das Artes (Funarte) fez o comércio reduzir a projeção de venda: a previsão de crescimento será de 2% — mesmo percentual do ano passado —, de acordo com a análise do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista). Mas nem isso tirou o otimismo dos comerciantes, que estão com boas expectativas.

Para o presidente do Sindivarejista, Edson de Castro, os setores que mais terão crescimento no carnaval serão as lojas de fantasias, armarinhos, bares e restaurantes. “Embora tenhamos perdido cantores nacionais que poderiam atrair mais turistas, o carnaval de Brasília não deixa de movimentar o setor econômico. Estamos próximos de grandes cidades, em que há moradores que vêm para cá curtir os blocos de rua”, explicou.

Neste ano, uma novidade é a abertura dos shoppings durante os dias da festa. “É um investimento a mais na economia. Até porque muitos centros comerciais farão bailes infantis e matinês. Então, as pessoas que não gostam dos blocos de rua irão procurar estabelecimentos como esse para gastar”, projetou Edson de Castro. Segundo ele, com o retorno antecipado dos alunos às instituições de ensino, a expectativa é de que menos pessoas viajem nesse período. “No ano passado, mais de 300 mil pessoas viajaram, porque as aulas começaram mais tarde. Agora, estimamos que 200 mil pessoas saiam do DF, o que é positivo”, destacou.

Isabelle Estrela, 24 anos, é uma das administradoras de um armarinho na 307 Sul que vende acessórios de carnaval. A loja traz uma diversidade de itens: tiaras, tules, brincos, presilhas, blusas e máscaras. A jovem conta que as marcas fornecedoras começaram a entregar as peças de carnaval no fim de janeiro. “As empresas que nos abastecem começaram a sentir que o público está procurando acessórios específicos de festa e mudaram a coleção. Costumo falar que esta época é o nosso segundo Natal, porque vendemos muito”, pontuou.

Segundo ela, a loja tem investido em peças artesanais para atrair os compradores. “Todos gostam de um acessório diferente, que nenhuma outra loja tem. Esse é o nosso diferencial. Além disso, o preço varia bastante, vai de brinco, de R$ 5, até tiara de R$ 70. Acredito que, com isso, venderemos muito, até porque as pessoas estão antecipando as compras”, ressaltou.
A colombiana Sharon Latorre, 30, mora em Brasília há oito meses. Ela passará o carnaval na capital pela primeira vez, mas preferiu adiantar as compras. “Estou em busca de acessórios de cabelo e calculei que vou gastar R$ 100. No geral, os preços estão ótimos. Achei brincos de R$ 10 e tiaras de R$ 12. O ideal é comprar o quanto antes, porque, em cima da hora, tudo aumenta de preço”, disse.

Marlúcia Dionísio, 42, gerencia um estabelecimento de artigos de festa na Asa Sul. Ela também se diz otimista quanto à economia no período do carnaval. “Começamos a abastecer a loja com acessórios específicos há um mês, justamente porque as pessoas começam a procurar. A expectativa é a melhor e, com certeza, fevereiro é o melhor mês para nós em questão de lucro”, frisou. 

A engenheira civil Renata Tomazini, 25, passará o carnaval em Alexânia (GO), mas decidiu comprar os adereços aqui na capital. “Na última semana, as lojas costumam aumentar o preço ou as peças vão acabando. Visitei alguns armarinhos, mas os preços estão bem parecidos, na média”, contou.

Expectativa
 
Segundo o economista da G2W Investimentos Ciro Almeida, neste período, é natural haver um fluxo de atividade econômica maior na capital. “Brasília se tornou um dos principais destinos de carnaval, não necessariamente por causa da entrada de turistas, mas porque o brasiliense está viajando menos. Há uma retomada da atividade do comércio nessa época, principalmente no mercado informal. Os trabalhadores aproveitam os blocos para vender espetinho, água, comidas e gerar uma renda extra. Os shoppings também irão abrir, e isso é positivo. Quem não gosta de folia leva a família para passear”, afirmou.

De acordo com ele, o nicho de fomento à economia no período de festa será o de restaurantes e bares. “Esses estabelecimentos que ficam próximos ao evento tendem a ter uma demanda alta de clientes, o que acaba refletindo na atividade de consumo.”

José Carlos Eira, 43, é gerente de um bar na 201 Sul e espera aumentar em 45% o lucro do local com o carnaval. Na tentativa de atrair mais clientes nesta época, José conta que reformou o estabelecimento e aderiu a cardápios exclusivos para a festa. “Estaremos com mais opções de cerveja e promoveremos shows nos dias de folia. A reinauguração está marcada para domingo, data próxima à do começo das festas. Para nós, este é o melhor momento de faturamento, porque o bar lota, e as pessoas sempre vêm para beber e pedir petiscos”, disse, animado.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quarta, 12 de fevereiro de 2020

COMBUSTÍVEIS: APROVA REFORMAS PARA REDUZIR PREÇOS

 

COMBUSTÍVEIS
 
 
Aprovar reformas para reduzir preços
 
Paulo Guedes diz a governadores que solução para baixar os impostos sobre os produtos está na aprovação da proposta que altera o sistema tributário e a do pacto federativo. Na semana passada, Bolsonaro sugeriu que chefes de Executivos zerassem o ICMS de gasolina e diesel

 

Marina Barbosa

Publicação: 12/02/2020 04:00

Governadores criticaram Bolsonaro e disseram que não podem abrir mão do ICMS, porque essa receita representa 20% de tudo que os estados arrecadam com o imposto (Ed Alves/CB/D.A Press
)  

Governadores criticaram Bolsonaro e disseram que não podem abrir mão do ICMS, porque essa receita representa 20% de tudo que os estados arrecadam com o imposto

 

 
A solução para a alta carga tributária da gasolina e do diesel não será alcançada de forma tão simples e rápida quanto sugeriu o presidente Jair Bolsonaro — na semana passada, ele desafiou os governadores a zerarem os impostos que incidem sobre os combustíveis. Quem indicou isso foi o ministro da Economia, Paulo Guedes, que tratou dessa questão com os governadores ontem.
 
Guedes vinha evitando fazer comentários sobre o desafio dos combustíveis desde que essa proposta foi anunciada, na imprensa e nas redes sociais, por Bolsonaro. Mas, ontem, cancelou um almoço com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para participar do Fórum de Governadores, que reuniu, em Brasília, representantes das 27 unidades federativas em torno da questão dos combustíveis.
 
O ministro foi ao evento com o secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues, e com o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida. Ele saiu sem falar com a imprensa. Mas segundo os governadores, fez um discurso apaziguador em relação aos combustíveis. Guedes teria dito que, apesar do desafio lançado por Bolsonaro, essa é uma questão que não pode ser resolvida imediatamente e que, portanto, não vai tirar uma fonte de receita importante para os estados de uma hora para outra.
 
“Guedes interpreta essa questão como uma sugestão de médio e longo prazos. Ele sabe que esse assunto só pode ser resolvido na medida em que houver a aprovação da reforma tributária e do pacto federativo, já que nem os estados nem a União podem abrir mão dessa receita agora”, contou o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande. “O ministro está ciente da absoluta restrição que os estados têm de zerar o ICMS imediatamente. E fez uma colocação de que a fala do presidente deve ser entendida como um apelo e um chamamento para que o tema da tributação seja enfrentado pelo país”, acrescentou o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
 
Os chefes de Executivos, que já vinham criticando o posicionamento adotado por Bolsonaro em relação à alta dos combustíveis, explicaram que não é possível zerar os tributos dos produtos de uma hora para outra, porque essa receita representa 20% de tudo que os estados arrecadam com o ICMS e quase R$ 30 bilhões da arrecadação anual da União. Seria uma renúncia, portanto, que atrapalharia as contas públicas e precisaria ser compensada com cortes de gastos ou criação de outra fonte de receita.
 
“Todos nós estávamos muito preocupados com a maneira, de certo modo irresponsável, que o presidente colocou esse debate tão importante. Todo mundo sabe das dificuldades dos estados de manter o custeio da máquina pública, a saúde, a educação, a segurança”, frisou o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha. “A própria União teve um prejuízo de R$ 90 bilhões nas suas contas no ano passado. Por isso, esperamos que esse debate seja feito de forma responsável”, emendou ele, que chegou a falar de maneira mais dura com Guedes durante o fórum.
 
Impacto
Ibaneis explicou que Bolsonaro apresentou o desafio de zerar os tributos dos combustíveis sem consultar os estados. E, dessa forma, acabou jogando para os governadores a responsabilidade pelo alto custo dos produtos, sem entender o impacto que a medida teria tanto nos cofres estaduais quanto nas contas da União. Foi por isso, inclusive, que os chefes de Executivos preferiram chamar Guedes, e não Bolsonaro, para discutir o assunto ontem. “Vamos tratar isso com o ministro, porque é ele que pode dizer se há condições de os estados e a União abrirem mão dessa receita. (...) Vamos dar nosso recado via Paulo Guedes, que é quem entende de economia”, alfinetou Ibaneis.
 
Também por conta desse mal-estar criado para os gestores estaduais, os governadores cobraram que o governo federal vá a público apresentar o mesmo esclarecimento que Guedes levou ao fórum, ontem, de que essa questão não deve ser resolvida no curto prazo, como sugeriu Bolsonaro. “Uma fala curta do presidente da República sobre esse tema rapidamente deflagrou uma percepção equivocada de que é possível zerar os impostos sobre os combustíveis imediatamente”, disse Eduardo Leite. “(...) Então, pedimos um posicionamento mais claro, para que não haja qualquer expectativa sendo gerada na população, porque isso só geraria frustração, frustração que acaba prejudicando a nossa economia.”
 
Propostas
Os governadores garantem, por sua vez, que estão dispostos a rever a política de tributação dos combustíveis. O que eles defendem, contudo, é que essa questão seja discutida com a reforma tributária e as propostas do pacto federativo, que já estão no Congresso. Afinal, de um lado, a reforma tributária pode reduzir a alíquota de produtos, como a gasolina, já que vai unir os diversos impostos de consumo em um único tributo de menor alíquota. E, de outro, o pacto federativo pode ampliar os repasses da União para estados e municípios, criando uma nova fonte de receita que compensaria a perda com a redução dos impostos dos combustíveis.
 
“A população pode cobrar a redução dos impostos, mas precisa entender que essa mudança virá ao longo do ano. (....) Este não é um momento para sobressaltos. A população deve saber que nós estamos caminhando para as reformas econômicas e que isso não pode ser feito de uma hora para outra”, afirmou o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel.
 
Ibaneis fez coro: “Quem sabe, no futuro, com a reforma tributária e o pacto federativo, nós tenhamos condições de reduzir os impostos dos combustíveis e de outros produtos. Por que não zerar os impostos dos alimentos, sobretudo para a população mais carente? E por que não zerar os impostos dos medicamentos de uso contínuo? Mas tudo deve ser feito com responsabilidade”.
 
“Estamos apanhando há 15 dias”
Em áudio captado por cinegrafistas na hora que foram autorizados a fazer imagens da reunião, é possível ouvir uma discordância entre Ibanei e Guedes. O governador do DF reclamou “da forma irresponsável como esse debate foi trazido pelo presidente da República”. O ministro o interrompeu, reclamando do termo “irresponsável”. Ibaneis o cortou, afirmando que “nós governadores estamos apanhando há 15 dias, de todo mundo, inclusive dos filhos do presidente. Estamos recebendo sua vinda aqui com muito carinho, porque agora estamos vendo uma interlocução”.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense terça, 11 de fevereiro de 2020

CED 6 DA CEILÂNDIA: ESCOLA PÚBLICA, SIM SENHOR!

 

ELES ENCHEM O ENSINO PÚBLICO DE ORGULHO

Com apoio familiar, investimento em autoestima e dedicação dos professores, 69 alunos de escola  de Ceilândia conquistaram vaga na UnB em 2020., Tailana Galvão/Esp. CB/D.A Press

Com apoio familiar, investimento em autoestima e dedicação dos professores, 69 alunos de escola de Ceilândia conquistaram vaga na UnB em 2020.

 

 

Escola pública, sim senhor!
 
O CED 6 de Ceilândia aprovou 69 alunos na UnB no primeiro semestre letivo de 2020. A escola investe em apoio familiar, autoestima do aluno e trabalho em conjunto com o corpo docente. Confira ainda a lista com a segunda chamada do PAS

 

Isadora Martins*
Millena Campello*

Publicação: 11/02/2020 04:00

 

O diretor Jefferson Lobato e os alunos do CED 6 aprovados na UnB: união e foco no ensino
 (Tailana Galvao/Esp. CB/D.A Press - 3/2/20)  

O diretor Jefferson Lobato e os alunos do CED 6 aprovados na UnB: união e foco no ensino

 

 

Esperança, dedicação e conhecimento. Esses são os pilares que levaram o Centro Educacional (CED) 6 de Ceilândia a aprovar 69 alunos na Universidade de Brasília (UnB), de acordo com o diretor, Jefferson Lobato, e o orientador da escola, Aleksandro Azevedo. “Vamos além do conteúdo. Trazemos cultura. Investimos em teatro e atividades extracurriculares”, diz o orientador, que acredita que o diferencial da instituição é o trabalho em conjunto.

 

A professora de português Glaucia Lamarc, por exemplo, procura trabalhar a autoestima dos estudantes em sala de aula. “Os alunos não acreditam que são capazes de competir com quem vem de escola particular. Fortaleço a identidade deles até que acreditem em si”, afirma. A recompensa, para ela, é vê-los felizes. “Professores podem não ter o retorno financeiro desejado, mas isso volta em forma do legado dos alunos. O resultado deles é o nosso legado.”

 Em 2003, a instituição foi considerada a pior do Distrito Federal. No entanto, o que deveria ter desanimado professores e alunos serviu como inspiração. “A comunidade se juntou para fazer uma revolução. Reconstruímos a cultura da escola”, explica Jefferson. O corpo docente mudou as estratégias. A partir dali, todos os alunos que entrassem na escola saberiam o que é o Programa de Avaliação Seriada (PAS) e como a educação pode reconstruir realidades.

 “Hoje, além de falar do PAS desde o primeiro dia, envolvemos a família e ela incentiva o aluno”, explica Jefferson. Por isso, aproximadamente 70% dos estudantes do terceiro ano são aprovados em faculdades públicas e particulares. Para o diretor, esse número é muito bom, tendo em vista que boa parte passa por dificuldades enormes, desde não ter o que comer em casa até a ausência de pais. “Ver um aluno que vem dessa realidade entrar na UnB é fantástico. Dá muito orgulho. Isso me motiva”, emociona-se.

 O diretor planeja levar os futuros universitários para falar com os novos estudantes, reforçando a ideia de que educação pode mudar vidas. A expectativa é de que, neste ano, pelo menos 100 dos 320 alunos do terceiro ano ingressem na UnB.

 

Perseverança sempre

 

Levi Durães, 19, concluiu o ensino médio no CED 6 em 2018. Filho de uma enfermeira, o curso dos sonhos dele era medicina, mas, na época, ele não passou pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) por poucos pontos. “Quando eu não fui aprovado, foi um choque. É uma frustração muito grande”, lembra.

Entretanto, Levi não desistiu. Ele traçou novas estratégias de estudo para 2019 e, com muita dedicação, conquistou uma vaga na Escola Superior de Ciências da Saúde (Escs) este ano. O morador do Por do Sol, em Ceilândia, conta que estudou em casa, por meio de videoaulas e apostilas da internet. “Estudava cerca de nove horas por dia, durante um ano”, relata.

 

Agora, com uma vaga garantida na faculdade, pretende ajudar mais estudantes a conquistarem o mesmo sonho. “Quero apoiar outros jovens que desejam entrar na universidade, seja em um curso concorrido ou não. Eu fiz o Enem duas vezes, então acabei acumulando alguns conhecimentos sobre a prova”, diz. “Quanto aos planos para a minha faculdade, tentarei ser o aluno aplicado que sempre fui no ensino médio”, acrescenta.

 O conselho dele para os vestibulandos é ter calma. “Essa fase é um misto de sentimentos e ansiedade. Ter um mínimo de controle emocional ajuda muito. E estudar. Tem que se esforçar para chegar a algum lugar.”

 

Um sonho realizado

 “Eu fiquei muito feliz (quando soube da aprovação). Não esperava. Tive notas muito boas no PAS, mas, ainda assim, não acreditava em mim da forma como deveria”, conta Samira Sousa, 17. A estudante, que cursou o ensino fundamental e ensino médio em escolas públicas, foi aprovada para direito na UnB. A escolha do curso foi inspirada por familiares que trabalham na área. “Sempre foi meu sonho. No 3º ano do ensino médio, estagiei no TJDFT, gostei muito e tive certeza de que é o que quero fazer.”

 De acordo com a moradora do P Sul, a dica para a aprovação pelo PAS é focar os conteúdos ensinados em sala de aula. “Eu sempre me dediquei às disciplinas ensinadas no ensino médio”, conta. “É importante aproveitar cada oportunidade que a escola proporciona.”

 

Dedicação máxima

 

Júlia Alves, 17, também faz parte da lista de estudantes do CED 6 aprovados pelo PAS. A caloura da UnB, que sempre foi das exatas, conquistou uma vaga no curso de ciências contábeis. “Tirava notas boas na escola e me dediquei ao máximo aos conteúdos e às dicas que os professores passavam em sala de aula”, conta.

 Filha de professora da rede pública e de um gerente de marketing, Júlia estudou até o 4º ano do ensino fundamental em escola particular. Os outros anos cursou em escola pública. O conselho que a estudante dá para jovens da escola pública que sonham em passar em uma universidade federal é, antes de tudo, acreditar. “Não é impossível”, garante. “Se a gente se dedicar um pouco mais, consegue.”

 A expectativa de Jéssica Santos, 18, para a UnB é de viver experiências novas e aproveitar todas as oportunidades que o câmpus tem a oferecer. A partir de março, a estudante cursará estatística na federal. “Eu adoro matemática, sempre me dei bem com números”, conta. 

 

*Estagiárias sob supervisão de José Carlos Vieira

Jornal Impresso


Correio Braziliense segunda, 10 de fevereiro de 2020

OSCAR 2020: PARASITA FAZ HISTÓRIA EM HOLLYWOOD

 

Parasita faz história em Hollywood
 
 
Filme sul-coreano conquista prêmios de melhor filme, melhor diretor, melhor filme internacional e melhor roteiro original. Joaquin Phoenix confirma favoritismo absoluto por Coringa. Documentário brasileiro Democracia em vertigem frustra as expectativas

 

Ricardo Daehn

Publicação: 10/02/2020 04:00

O grande nome da noite foi o do sul-coreano Bong Joon Ho: com Parasita, depois da vitória, em Cannes, promoveu arrastão em Hollywood (Mark Ralston/AFP)  

O grande nome da noite foi o do sul-coreano Bong Joon Ho: com Parasita, depois da vitória, em Cannes, promoveu arrastão em Hollywood

 

 
 
Uma surpresa impactante veio na categoria de melhor direção (Bong Joon Ho) e reverteu toda a expectativa da cerimônia de entrega do Oscar: Parasita venceu, e fez história, trazendo, pela primeira vez, um vencedor estrangeiro como melhor filme e melhor filme internacional. A glória da produção sul-coreana não parou por aí. Parasita também arrebatou a estatueta de melhor roteiro original (dividida com Han Jin Won). Foi a primeira participação da Coreia do Sul na maior festa do cinema mundial. O pioneirismo foi cravado quando Bong Joon saudou a categoria rebatizada de melhor filme internacional (antigo melhor filme estrangeiro). “Aplaudo e apoio a mudança sinalizada pela Academia”, ressaltou o cineasta sul-coreano, em relação ao termo inclusivo. Pela terceira vez, em uma década, houve desacordo entre vencedores do Oscar e o prêmio da Associação dos Produtores (PGA), entidade que laureou A grande aposta (2016), La la land (2017) e 1917 (2020) no pódio. Favorito, este último levou três estatuetas entre as 10 indicações.
 
A mais recente chance de o Brasil ganhar o Oscar foi frustrada pela vitória de Indústria americana. O documentário retrata, com precisão, uma revolução econômica em Ohio. Petra Costa esteve na festa, com o indicado Democracia em vertigem. Ainda antes da entrada no Dolby Theatre, em Los Angeles, a diretora enfatizou que o filme, com visão pessoal e inspirada na análise do impeachment de Dilma Rousseff, era “uma carta de amor ao Brasil”. Ainda que sem o prêmio, Petra aproveitou as redes sociais para alfinetar o presidente Jair Bolsonaro. Com visão desenvolvimentista, o ex-presidente Barack Obama (ao lado da mulher, Michelle), que criou a produtora responsável por Indústria americana, celebrou via Twitter a vitória do filme detido nas “consequências muito humanas de uma mudança econômica devastadora”.
 
Joaquin Phoenix se emocionou ao receber estatueta e pediu compaixão (Mark Ralston/AFP)  

Joaquin Phoenix se emocionou ao receber estatueta e pediu compaixão

 

 
Figura de expressão em Hollywood, Martin Scorsese, com O irlandês, ficou sem nenhum prêmio, entre 10 categorias. Vencedor do Festival de Cannes, o sul-coreano Bong Joon Ho reparou a exclusão, puxando aplausos, de pé, para aquele que considerou “professor”. “Se pudesse, serraria o troféu, para que fosse dividido entre todos vocês”, declarou, deixando clara a enorme admiração pelo concorrente Quentin Tarantino.
 
Redenção, generosidade, compaixão e inclusão foram os lemas nos discursos de melhor ator (Joaquin Phoenix) e a melhor atriz (Renée Zellweger). A exemplo do personagem Don Vito Corleone (do clássico O poderoso chefão), um mesmo personagem (no caso, o protagonista de Coringa) trouxe Oscar para intérpretes de diferentes filmes: depois de Heath Ledger (Batman: o cavaleiro das trevas), Phoenix venceu, no retrato do desesperado palhaço dos quadrinhos. Num discurso emocionante, Phoenix ressaltou a vontade crescente de “utilizar a voz (dele) para aqueles que não têm voz”. Já Bob Dylan, Scorsese e, claro, Judy Garland (papel de Zellweger, em Judy) figuraram no discurso da melhor atriz: “Heróis nos unem e recuperaram o melhor de nós”, destacou.
 
Brad Pitt com o primeiro Oscar como intérprete: homenagem a Tarantino (Mark Ralston/AFP)  

Brad Pitt com o primeiro Oscar como intérprete: homenagem a Tarantino

 

 
Ainda que o rapper Eminem tenha roubado a cena, ao entoar, no palco, a canção vencedora Lose yourself (de 8 Mile: Rua das ilusões), detentora de Oscar, há 17 anos, Janelle Monáe (Estrelas além do tempo) também se destacou, ao abrir o Oscar 2020 com um número musical que compactou ambientação e temas dos indicados. Foi a brecha para que os apresentadores Steve Martin e Chris Rock, além de elogiarem Monáe, enfatizassem o esnobar de talentos negros (pouco indicados) e ainda puxassem a orelha da Academia pelo fato de a diretora Greta Gerwig (de Adoráveis mulheres) não ter sido sequer indicada. Para além do fato da vitória do curta de animação Hair love, que ressaltou o orgulho negro, no palco, a diretora Karen Rupert Toliver enfatizou que “representatividade importa, profundamente”. O filme trata de um pai que se dedica, pela primeira vez, a realizar um penteado na filha negra.
 
As críticas pela ausência das mulheres foi amenizada com coroação na categoria trilha sonora, com a vitória de Hildur Guonadóttir (Coringa). Vinte e cinco anos depois de vencer pela canção de O rei leão, Elton John ganhou pela canção original (I´m gonna) love me again, criada para Rocketman.

Renée Zellweger, melhor atriz, prestou tributo à colega Judy Garland (Mark Ralston/AFP)  

Renée Zellweger, melhor atriz, prestou tributo à colega Judy Garland

 

 
 
Ao receber o primeiro Oscar de atuação, Brad Pitt — melhor ator coadjuvante por Era uma vez em... Hollywood — valorizou aqueles que se dedicam “às acrobacias e cenas de ação nas telas”. O filme ainda ganhou desenho de produção. Numa categoria muito apertada, a de melhor roteiro adaptado, venceu o neozelandês Taika Waititi (Jojo Rabbit), que adaptou um livro dado de presente pela mãe dele: no longa, polêmico, um garoto tem Adolf Hitler como amigo imaginário. Na cerimônia, ele estimulou indígenas a se dedicarem às artes. Na sexta indicação, por Adoráveis mulheres, a figurinista Jacqueline Durran (vencedora, no passado, por Anna Karenina) levou o segundo Oscar, e citou a diretora Greta Gerwig como “uma inspiração”. Ela agradeceu o fato de, sendo mãe, ter contado com apoio para trabalhar fora de casa. Com a vitória de Toy Story 4 como melhor longa de animação, o “amor à família” foi salientado pela comitiva vencedora.
 
O clima família ainda esteve presente no discurso da vencedora na categoria melhor atriz coadjuvante: Laura Dern (História de um casamento). Ela dedicou a estatueta aos “heróis” de sua vida, os pais (ambos atores), Bruce Dern e Diane Ladd. Nos quesitos técnicos, a edição de som e o prêmio de montagem couberam a Ford vs. Ferrari, enquanto o filme de guerra 1917 venceu Oscar de mixagem de som. Também pontos altos de 1917 computaram prêmios: tanto os efeitos visuais quanto a direção de fotografia do inglês Roger Deakins (na 15ª indicação) e que venceu o segundo Oscar, depois de Blade Runner 2049.
 
 
 
 (Reprodução/Instagram)  
 
Brasileiros batem na trave
Com amplo histórico de brasileiros indicados ao Oscar, Petra Costa (foto) — diretora de Democracia em vertigem — somou mais experiência a uma lista que incluiu longas como O pagador de promessas; O que é isso, companheiro?, O quatrilho e Central do Brasil, e personalidades do porte de Fernanda Montenegro, Fernando Meirelles, Juliano Salgado, Hector Babenco, Ary Barroso, Paulo Machline, Carlinhos Brown e Sergio Mendes. Nenhum levou, entretanto. Durante a cerimônia, Petra tuitou um recado ao presidente Jair Bolsonaro. “Em 2016, Bolsonaro disse que cortaria fundos para as artes, já que os filmes brasileiros nunca chegam aos Oscars. Aqui está o meu presente para o presidente do Brasil”, escreveu.
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense domingo, 09 de fevereiro de 2020

CARNAVAL BRASILIENSE 2020: CHUVA NÃO DESANIMA FOLIÕES

 

O tempo frio e as fortes chuvas ao longo do dia não conseguiram diminuir a animação de milhares de foliões. Na praça do Museu da República, o bloco Quem já chupou vai chupar mais arrastou uma multidão. O Suvaco da Asa, no Eixo Monumental, desfilou alegria ao som de frevos. Hoje, a farra continua: tem Eduardo e Mônica, Bloco do Amor e System Safadown. Tudo de graça! PÁGINAS 19 E 22 (Ed Alves/CB/D.A Press)

Chuva não desanima foliões

 

» DARCIANNE DIOGO

Publicação: 09/02/2020 04:00

Tradicional Suvaco da Asa celebrou 15 anos de existência, com show da Orquestra Popular Marafreboi (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Tradicional Suvaco da Asa celebrou 15 anos de existência, com show da Orquestra Popular Marafreboi

 



O tempo frio e nublado de ontem não desanimou os brasilienses a curtirem os famosos blocos pré-carnavalescos na capital federal. Foliões se reuniram no Setor Comercial Sul, na área externa do Museu Nacional da República e na Fundação Nacional de Artes (Funarte) para aproveitar a festa.

O bloco Quem chupou vai chupar mais reuniu, segundo a organização, mais de 80 mil pessoas na área externa do Museu da República. As bandas Êaêaô, Andie e Bisca e Porn feat Caribé foram as atrações. A festa começou às 15h e foi até as 21h. Neste ano, o bloco prestou homenagem ao trio elétrico, sob o tema Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu, frase da clássica música de Caetano Veloso Atrás do trio elétrico.

André Gonzalez e Cláudia Dalbert, da Êaêaô, animaram público no Museu (Ed Alves/CB/D.A Press)  

André Gonzalez e Cláudia Dalbert, da Êaêaô, animaram público no Museu

 


No Corredor Central, no Setor Comercial Sul, a música eletrônica foi o destaque, com as atrações Limbo e Confronto Soundsystem. O famoso Suvaco da Asa celebrou os 15 anos de folia levando alegria às ruas de Brasília e apresentando o desfile oficial, na Funarte. A festa começou às 10h, com o Suvaquinho da Asa, a versão infantil do bloco. À tarde, a Orquestra Popular Marafreboi deu continuidade à folia. O encerramento do bloco contou com a apresentação do show da pernambucana Banda Eddie.

Até o fechamento desta edição, a Polícia Militar não havia divulgado o balanço das ocorrências.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sábado, 08 de fevereiro de 2020

COREIO BRAZILIENSE: 60 ANOS DE HISTÓRIA

 

O Senado vai homenagear, em abril, os 60 anos do Correio Braziliense. A sessão comemorativa partiu de um requerimento da senadora Leila Barros (PSB-DF). A epopeia do Correio se confunde com a da capital fundada por JK. Enquanto os candangos corriam contra o tempo para erguer Brasília, jornalistas como Ari Cunha (E/foto) desbravam o Planalto Central para criar o veículo impresso. No dia em que Brasília foi fundada, em 21 de abril de 1960, o jornal começou a circular. %u201CO Correio está diretamente ligado à nossa história,%u201D reforçou Leila Barros.  (Arquivo CB/CB/D.A Press)

Correio Braziliense, 60 anos de história
 
 
 
O primeiro jornal da capital do país comemora mais um ano de vida com a cidade e será homenageado no Senado. Funcionários que acompanham essa história narram lembranças do veículo pioneiro

 

» MARIANA MACHADO

Publicação: 08/02/2020 04:00

Imagem aérea do primeiro edifício do Correio Braziliense, no que viria a ser o Setor de Indústrias Gráficas (SIG): marco para a capital federal (Arquvivo CB/CB/D.A Press)  

Imagem aérea do primeiro edifício do Correio Braziliense, no que viria a ser o Setor de Indústrias Gráficas (SIG): marco para a capital federal

 

 
Há quase seis décadas, o Brasil dava as boas vindas ao novo Correio Braziliense. O primeiro jornal da cidade era inaugurado em 21 de abril de 1960, com o nascimento de Brasília. Dessa forma, Assis Chateaubriand, fundador do grupo Diários Associados, retomava o nome da publicação de Hipólito José da Costa (leia Para saber mais). Sessenta anos depois, o Senado fará uma homenagem ao veículo. A decisão partiu de requerimento da senadora Leila Barros (PSB-DF), aprovado em plenário (leia Quatro perguntas para). A solenidade ocorrerá em 24 de abril.
 
Para o Correio, é tempo de comemorar. A história, desde a construção, está guardada e protegida na biblioteca do jornal, sob o olhar vigilante de Francisco de Sousa, 57 anos, o Chiquinho do Cedoc (Centro de Documentação). Entre os arquivos históricos, ele resgata uma foto de setembro de 1959. Na ocasião, o presidente Juscelino Kubitschek despejou uma pá com cimento sobre a pedra fundamental e afirmou que “uma das mais gloriosas tradições da imprensa brasileira” iniciava as atividades ali.
 
Capa da primeira edição do jornal, inaugurado na fundação de Brasília (Arquvivo CB/CB/D.A Press)  
Capa da primeira edição do jornal, inaugurado na fundação de Brasília
“O Correio foi fruto de uma aposta entre Chateaubriand e Kubitschek. Duvidando de que a capital seria entregue em 1960, Chatô disse que, se isso acontecesse, ele criaria aqui um jornal”, lembra Chiquinho. E assim foi feito. “Se Brasília não desse certo, consequentemente, o veículo também não daria e vice-versa.” Na capa da primeira edição, os Diários Associados deixavam claro: “O Correio Braziliense volta a circular depois de 137 anos”. Ali, estava o sonho de Hipólito José da Costa.
 
Os primeiros jornalistas moravam em barracas improvisadas no pátio do jornal. Entre eles estava Ari Cunha, que ocupou o posto de vice-presidente institucional do Correio até morrer, em agosto de 2018. “Ele tinha paixão pela cidade. Se alguém escrevesse alguma coisa errada sobre Brasília, ele ligava para a pessoa e dava uma bronca”, recorda Chiquinho.
 
Encontro de gerações
 
Ao longo dos anos, a redação do Correio Braziliense recebeu os mais variados profissionais. Severino Francisco, 65 anos, cronista e subeditor do caderno Diversão & Arte, viveu a década de 1980 entre máquinas de escrever. “Esse era um modelo de jornalismo muito mais romântico do que o que se tem hoje. Esse jornal foi muito importante para consolidar a identidade para Brasília”, ressalta.

Operários trabalham na construção do prédio do Correio Braziliense: orgulho (Arquvivo CB/CB/D.A Press)  

Operários trabalham na construção do prédio do Correio Braziliense: orgulho

 

 
Com carinho, lembra dos colegas de várias épocas. “Era uma redação divertida e boêmia. O editor-chefe era Oliveira Bastos, irreverente e muito debochado”, conta. Certa vez, Hermeto Pascoal entrou na redação tocando. Saiu todo mundo em fila atrás dele.” Hoje, ele vê nas novas tecnologias a principal diferença. “Ainda temos força, mas agora veio a concorrência dos novos meios. É uma mudança estrutural no mundo, mas ainda temos a tradição de defender a cidade.”
 
Enquanto isso, os recém-chegados trazem as expectativas de trabalhar em um lugar histórico. É o caso da repórter de Economia Marina Barbosa, 26, estreante na casa. A pernambucana integra a equipe há duas semanas. “Esse é um veículo muito consolidado, em fase de unir as tradições à modernidade”, avalia. “Tenho boas expectativas. Chegar com o nome do Correio dá credibilidade extra para circular pelos corredores.”
 
Nascido em outubro de 1892, no estado da Paraíba, Assis Chateaubriand construiu um império chamado de Diários Associados. Nos anos 1960, diveros jornais e emissoras de rádio e tevê faziam parte do grupo. O jornalista Chatô também esteve envolvido em política, e, por indicação do então presidente JK, ocupou o cargo de embaixador do Brasil, na Inglaterra.
 
Chatô
 
Apesar da proximidade com o chefe do Executivo, Chatô fez forte oposição pública à construção de Brasília. Contudo, mudou de ideia à medida que a data de inauguração da nova capital se aproximava, passando a defender a mudança. Resolveu que aqui inauguraria os dois novos veículos de comunicação do país: Correio Braziliense e TV Brasília. E assim ocorreu.


Linha do tempo
 
» Setembro de 1959
Colocação da pedra fundamental no futuro Setor de Indústrias Gráficas (SIG)
 
» Janeiro de 1960
Início das obras
 
» Fevereiro de 1960
Assis Chateaubriand visita o canteiro de obras para ver como estão as estruturas dos dois prédios destinados ao Correio Braziliense e à TV Brasília
 
» Abril de 1960
Inauguração do jornal, com a publicação da primeira edição.



Quatro perguntas para


 (Carlos Vieira/CB/D.A Press - 24/9/18)  

senadora Leila Barros (PSB-DF)


Como a senhora enxerga a importância do
Correio para a imprensa 
nacional e para a cidade?
O Correio Braziliense é o maior veículo de imprensa escrita da capital e tem seu aniversário junto com a nossa cidade. Está diretamente ligado à nossa história.
 
Por que homenagear o Correio Braziliense?
Ao fazermos uma homenagem ao veículo, estamos exaltando o valor da liberdade de imprensa no país. São 60 anos contando e registrando o nosso dia a dia. O Correio Braziliense merece ser homenageado pelo relevante papel de manter o nosso povo informado e fiscalizar o poder.

Como a senhora enxerga o papel da imprensa para a democracia?
A imprensa faz parte da engrenagem que ajuda a formar a opinião pública. O papel dos meios de comunicação está diretamente ligado ao sistema democrático. Não há como conceber democracia sem uma imprensa livre e vigorosa.
 
De que modo o Correio está ligado à história do Brasil?
É, sem sombra de dúvidas, um dos principais jornais diários do país. O fato de estar situado na capital faz com que o CB tenha presença diária nos três poderes. Muitas das notícias que pautam o parlamento e que são debatidas em conversas informais dos brasileiros são retiradas das páginas do Correio.


Para saber mais
 
Quem foi Hipólito José da Costa
Entre 1808 e 1822, o jornalista veiculou o Correio Braziliense — Armazém Literário, de publicação mensal. As cerca de 100 páginas de cada edição, impressas em Londres, chegavam de forma clandestina ao Brasil e eram lidas por um público de 500 pessoas. Tratava de assuntos como economia, cultura e teorias iluministas. A publicação de Hipólito da Costa é considerada o primeiro jornal do país.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sexta, 07 de fevereiro de 2020

CARNAVAL 2020: DÁ-LHE, CARNAVAL!

 

Dá-lhe carnaval!
 
 
Aproveite o fim de semana com desfiles oficiais de blocos, festas, eventos e shows para todos os gostos

 

Maria Baqui*
Vinícius Veloso*

Publicação: 07/02/2020 04:00

 

 (Shake it/Divulgaçãso
)  


Quem chupou, vai chupar mais

Com clássicos do axé e com o melhor do funk, o bloco de pré-carnaval sai amanhã, a partir das 15h, no Museu Nacional da República, com entrada franca. Os grupos Aêaêaô, Andie e Bisca e Porn feat Caribé são atrações do evento. Classificação indicativa livre.

Bloco System Safadown — Tomorrow Never Knows, Ano 2 e Pré-carnaval Rockália


Hoje e domingo, respectivamente, os blocos Rockália e System Safadown agitam o fim de semana com clássicos do rock. O Rockália será no bar Trend, no Setor de Indústria do Gama, às 21h, e ingressos a R$ 10. Já o System Safadown, no bar Novo Pardim, a partir das 10h, com entrada gratuita. Classificação indicativa: para maiores de 18 anos.

 

 

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press - 17/2/19ss
)  

 

 

Bloco do amor

Em clima de festa, o Bloco do amor chega para celebrar a liberdade e animar o carnaval com ritmos do brega ao chique; da Tropicália ao axé. O evento será na Via S2, no Plano Piloto, domingo, a partir das 13h. A entrada é franca. Classificação indicativa: livre.

Bloco do fundão

No Riacho Fundo, o bloco será no Boteco da Praça, amanhã, a partir das 16h. O evento contará com ensaio de bateria e, para os foliões, o valor do abadá é R$ 40. Classificação indicativa livre.

 

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press - 16/2/19
)  

 

 

Vai com as profanas

O bloco, considerado tropical-feminista, ocupa as ruas do Setor Comercial Sul, no dia de amanhã. Com músicas em homenagem à cultura brasileira, e em ritmo de resistência, o bloco se apresenta a partir das 11h e tem entrada gratuita. Classificação indicativa livre.

 

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press - 16/2/19)  

 

 

Suvaco da Asa

O carnaval brasiliense não podia se esquecer do tradicional Suvaco da Asa. A 15ª edição do desfile será realizada amanhã, a partir das 10h, na Funarte. Na parte da manhã, o evento será direcionado para o público infantil e, a partir das 14h haverá a concentração com a Dj La Ursa. Em seguida, a Orquestra Popular Marafreboi comandar a farra pelo 11º ano consecutivo. Classificação indicativa: livre.

 

Jornal Impresso


Correio Braziliense quinta, 06 de fevereiro de 2020

CORONAVÍRUS - R$ 140 MILHÕES PARA EQUIPAMENTOS

 

CORONAVÍRUS
 
R$ 140 milhões para equipamentos

 

Publicação: 06/02/2020 04:00

Tripulações dos jatos da Presidência se despedem antes da viagem rumo a Wuhan, para resgatar os brasileiros (Marcelo Camargo/Agência Brasil)  

Tripulações dos jatos da Presidência se despedem antes da viagem rumo a Wuhan, para resgatar os brasileiros

 



No mesmo dia em que a operação de repatriação dos brasileiros em Wuhan começou, com a partida dos dois jatos da Presidência da República, ontem, por volta das 12h30, o Ministério da Saúde anunciou que disponibilizará R$ 140 milhões para compra de equipamentos de proteção individual contra o novo coronavírus. A pasta havia anunciado, na última sexta-feira, que dera início à aquisição, por meio de licitação, de máscaras, toucas, luvas descartáveis, protetores oculares, entre outros equipamentos.

A compra dos equipamentos acontecerá, mesmo se não houver casos confirmados no Brasil. “Há três cenários possíveis e nós vamos, inicialmente, trabalhar com um cenário intermediário de pacientes. O custo estimado dessas aquisições ficará em R$ 140 milhões. Este é o recurso que estamos disponibilizando para a licitação desses insumos de proteção individual”, afirmou o secretário executivo do ministério, João Gabbardo, acrescentando que ainda não está decidido se a pasta gastará todo o valor disponibilizado.

O secretário executivo afirmou que, diante do desabastecimento do mercado nacional desses insumos, o objetivo da pasta é buscá-los fora do Brasil. “O projeto de lei que está sendo aprovado no Congresso Nacional nos dá prerrogativa de fazer aquisições de importações mesmo sem registros. Se nós não conseguirmos abastecer no mercado nacional, nós vamos poder imediatamente abrir uma licitação para fazer uma importação direta mesmo sem registro”, explicou.

PL aprovado

No Senado, o plenário aprovou, por unanimidade, o projeto de lei que regulamenta as medidas de combate ao coronavírus (PL 23/20). Entre elas está o resgate de brasileiros que se encontram na cidade chinesa de Wuhan, epicentro da epidemia, e pediram ajuda do governo para retornar ao Brasil. A matéria tramitou em regime de urgência no Congresso e, logo após a aprovação no Senado, seguiu de imediato para a sanção do presidente Jair Bolsonaro. A sessão contou com a presença do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

“O texto foi o mínimo a ser feito e dá as condições legais para a gente atravessar com segurança as medidas que têm que ser tomadas no caso de termos necessidade de usá-las”, disse Mandetta. O PL que havia sido aprovado pela Câmara, terça-feira, propõe, por exemplo, isolamento, quarentena e fechamento de portos, rodovias e aeroportos para entrada e saída do Brasil em caso de emergência de saúde pública provocada pelo coronavírus.

Mandetta, aliás, disse que a pasta vai enviar até o próximo dia 11, ao Congresso, outro projeto de lei, mais amplo, para propor medidas a serem adotadas a todos os tipos de situações de emergência sanitária.

Quarentena

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que os militares da Força Aérea Brasileira (FAB) que embarcaram para resgatar os brasileiros em Wuhan também serão submetidos ao período de quarentena de 18 dias, quando retornarem ao país. Mas não informou se os militares cumprirão a quarentena no mesmo local dos civis, na base aérea de Anápolis.

Apenas 11 casos continuam sob suspeita do Ministério da Saúde. Com cinco indicações, o Rio Grande do Sul é o estado com o maior número de casos investigados. São Paulo vem em seguida, com quatro, e Rio de Janeiro e Santa Catarina têm um cada. Entre os suspeitos, seis pessoas já passaram pelos testes de vírus respiratórios comuns — considerados os primeiros para a constatação do diagnóstico — e agora foram encaminhadas para uma investigação específica. Cinco continuam na primeira fase dos exames. (Ingrid Soares, Maria Eduarda Cardim, Augusto Almeida e Jorge Vasconcelos)


Portugal acaba com o  visto gold
O Parlamento português aprovou o fim da concessão da Autorização de Residência para Investimento, o visto gold, para os estrangeiros que comprarem imóveis em Lisboa e no Porto. Para cidadãos de fora da Europa, as autorizações funcionavam como um sistema de concessão de residência portuguesa em troca de investimento imobiliário a partir de 500 mil euros. O Brasil é o segundo país com mais concessões do benefício, que é suspeito de ser usado para crimes financeiros. O visto era alvo de críticas da União Europeia em questões de segurança e corrupção. Em março de 2019, o parlamento da UE apelou aos Estados-membros para que o programa fosse revogado, afirmando que as vantagens não compensam os sérios riscos de segurança e evasão fiscal. Segundo a Transparência Internacional, o visto também poderia ser utilizado por criminosos e corruptos. Desde que o programa entrou em vigor, em 2012, Portugal concedeu mais de 8 mil vistos dessa modalidade. Mais da metade foi destinado a chineses, seguidos pelos brasileiros. Entre outras maneiras de se obter o visto gold, estão a transferência de pelo menos 1 milhão de euros para Portugal, a criação de dez postos de trabalho ou investimento de 350 mil euros em pesquisa científica ou no patrimônio cultural e artístico do país.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quarta, 05 de fevereiro de 2020

CHINA - CORONAVÍRUS - OPERAÇÃO RESGATE

 

CORONAVÍRUS
 
Operação resgate começa meio-dia
 
 
Jatos reserva da Presidência deixam Brasília para buscar um grupo que, por enquanto, é de 29 pessoas. Expectativa de chegada a Wuhan, na China, é na sexta-feira. Brasileiros devem desembarcar sábado, direto em Anápolis

 

INGRID SOARES

Publicação: 05/02/2020 04:00

Ministros Azevedo e Silva e Araújo deram detalhes da logística para trazer os brasileiros, que ficarão isolados por, no mínimo, 14 dias, em observação (Valter Campanato/Agência Brasil
)  

Ministros Azevedo e Silva e Araújo deram detalhes da logística para trazer os brasileiros, que ficarão isolados por, no mínimo, 14 dias, em observação

 

 
Após a 27ª reunião de Conselho, o governo decidiu enviar hoje para a cidade de Wuhan, na China, dois aviões VC2 Embraer 190 para o resgate dos brasileiros que desejam voltar ao Brasil, fugindo da contaminação do coronavírus. A viagem começa ao meio-dia, com previsão de chegada na cidade chinesa na madrugada de sexta-feira. A expectativa é de que os voos retornem ao país na manhã de sábado, com desembarque direto na Base Aérea de Anápolis, da Força Aérea Brasileira (FAB), onde o grupo ficará em quarentena.
 
A unidade militar em Goiás foi o local escolhido para receber os repatriados, que poderão ser divididos em até três grupos: branco, amarelo e vermelho. O período de quarentena será de 14 dias, com margem de segurança de 18 dias, conforme explicou o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva.“Fizemos o reconhecimento hoje (ontem) com os ministérios da Saúde, da Defesa e das Relações Exteriores a dois locais, e ficou decidido que a quarentena será feita na base aérea de Anápolis, que tem boas condições. E até chegarem os brasileiros, ficará melhor ainda dentro das condições sanitárias e de saúde que os protocolos estipulam. A base é uma área grande que as Forças Armadas possui e tem condição de aqueles brasileiros que chegarem, entrarem numa quarentena numa área branca, aqueles que não têm sintomas”, observou.
 
O ministro da Defesa disse ainda que “qualquer problema, temos ainda condição de passar para a área amarela, todos com apartamentos individuais e, caso necessário, para uma área vermelha, que será uma evacuação aeromédica para o hospital das Forças Armadas, em Brasília”. Ele salientou que aqueles que apresentarem sintomas de estarem contaminados serão barrados no embarque ainda na China.
 
Capac idade
As aeronaves são parte da reserva do presidente Jair Bolsonaro e foram cedidas pela Presidência da República. O número inicial de resgatados é de 29 pessoas, sendo sete crianças. Há ainda quatro parentes chineses entre eles.
 
“O presidente Jair Bolsonaro concordou em ceder suas duas aeronaves reservas, com capacidade de 30 passageiros cada uma. Foi um gesto do presidente abrir mão da aeronave, tendo em vista a precariedade dos meios que a Força Aérea atualmente tem, e da burocracia e também da questão do custo”, destacou Azevedo e Silva.As aeronaves partirão da Base Aérea de Brasília e realizarão o seguinte trajeto: Fortaleza; Las Palmas, nas Ilhas Canárias, território espanhol no Oceano Atlântico; Varsóvia, na Polônia; Ürümqi, na China; e, em seguida, Wuhan. Ao todo, são 36 lugares na parte traseira do avião que contemplam mais seis vagas de apoio médico, composta por uma equipe de profissionais de saúde do Instituto Aeroespacial da FAB.
 
Questionado sobre o uso de dois aviões diante do número de resgatados, Azevedo e Silva destacou que “quanto mais espaçado deixar os passageiros brasileiros, melhor, porque diminui a possibilidade de contato. Então, se tivermos 15 em uma (aeronave) e 15 na outra, é o ideal”.
 
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, ressaltou que os brasileiros que retornarão devem estar conscientes de que terão que cumprir quarentena, para que não haja risco de contaminação no país. E apontou ser “essencial” que os brasileiros que desejam retornar mantenham contato com a Embaixada em Pequim.“Têm alguns brasileiros que não querem retornar, mas é importante saber que haverá um prazo de 24 horas antes do embarque para decidir a lista dos que querem embarcar no avião, e comunicar a decisão”, observou o chanceler. 
 
Araújo ainda prometeu encontrar uma solução para estudantes brasileiros bolsistas que voltarem. “Eles perguntaram sobre as bolsas a estudantes chineses, se podemos estender bolsas de estudos. Vamos ver como podemos fazer isso para ajudar, para que não percam pelo fato de voltar ao Brasil. Tudo isso vamos tratar na medida das nossas possibilidades”, concluiu, acrescentando que dois diplomatas da Embaixada em Pequim serão enviados para auxílio aos brasileiros no embarque de volta.
 
Plano de voo
» Fortaleza (CE)
» Las Palmas, nas Ilhas Canárias, território espanhol no Oceano Atlântico; 
» Varsóvia (Polônia) 
» Ürümqi (China) 
» Wuhan (China)
 
Jornal Impresso


Correio Braziliense segunda, 03 de fevereiro de 2020

CELEBRAÇÃO PARA IEMANJÁ

 

Celebração para Iemanjá

Em celebração ao Dia de Iemanjá, brasilienses se reuniram na Praça dos Orixás para a Festa das Águas. Shows e oferendas marcaram a comemoração. (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

» CAROLINE CINTRA

Publicação: 03/02/2020 04:00

Brasilienses passaram pela Praça dos Orixás para celebrar do dia da Rainha do Mar (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Brasilienses passaram pela Praça dos Orixás para celebrar do dia da Rainha do Mar

 

 
Uma festa para celebrar o Dia de Iemanjá — comemorado em 2 de fevereiro —, ontem, na Praça dos Orixás, movimentou a prainha brasiliense. A Festa das Águas reuniu uma programação destinada a contemplar as culturas tradicionais de matriz africanas negras e brasileiras e contou com a presença de diversos terreiros locais, grupos musicais, roda de capoeira e aulão de dança afro. Além de prestigiar a Rainha do Mar, o evento estendeu as homenagens para Oxum, ainha da água doce e dona dos rios e cachoeiras. Ela representa a sabedoria e o poder feminino.
 
O encontro integra o Circuito Candango de Culturas Populares, projeto idealizado pelo Instituto Rosa dos Ventos e fomentado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa. O objetivo é promover territórios culturais do DF, além de valorizar expressões culturais. Para a presidente do instituto e coordenadora do evento, Stéffanie Oliveira, a data é uma das mais importantes para a comunidade de cultura de matriz africana. “É um dia grandioso em que todas as casas de candomblé e todo o público voltado para elas saem para a rua. É algo nacional. No Brasil inteiro está reunido, todo o povo de umbanda e candomblé festeja Iemanjá”, disse.
 
O evento começou por volta das 9h, com a lavagem de Iemanjá. Um dos pontos altos da festa, o ritual celebra, purifica e abençoa o corpo, a alma e o ambiente, para promover a paz. O ato marca o início  da programação. A tradicional homenagem aos orixás das águas foi composta por integrantes de diferentes territórios do DF, como as baianas do Grupo Oyá Bagan, ponto de cultura contemplado, pelo GDF, com o Prêmio de Cultura e Cidadania.
 
Miriam Santos, 33 anos, frequenta os terreiros há 17. A tradição vem de família. Para ela, cada momento do evento é marcante, especialmente quando se apresenta como Iemanjá. “É uma emoção muito grande representá-la nesse dia. Eu gostaria que as pessoas conhecessem melhor esse evento, a nossa religião. Algumas ficam assustadas, mas não há nada aqui que assuste. É muita dedicação e amor. Aqui a gente vem em busca de paz e espiritualidade. Infelizmente, ainda tem muito preconceito”, afirma.
 
Emocionada, a representante de terreiro e uma das organizadoras do evento Adna Santos, conhecida como Mãe Baiana, ressalta que o ambiente é ideal para agradecer. “Estar aqui é falar para Iemanjá que estamos bem, com saúde e paz. Estamos dando retorno de nossas vidas para ela”, disse. Ela destaca que, este ano, todas as oferendas foram feitas em pratos e balaios de papel e folhas verdes. “Nossa missão é não degradar o meio ambiente. Estamos louvando as águas, sem agredir a natureza. Foi lindo. Tudo especial”, declara. (A.R.)
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense domingo, 02 de fevereiro de 2020

SAMAMBAIA CONTRA O FEMINICÍDIO

 

Samambaia contra o feminicídio
 
 
Passeata reuniu centenas de pessoas na região administrativa para protestar pelo fim da violência: este ano, três mulheres foram mortas na cidade em apenas um dia

 

» caroline cintra

Publicação: 02/02/2020 04:00

 
Centenas de pessoas foram às ruas de Samambaia manifestar contra os crimes por questões de gênero (Adriana Ponce/CB/D.A Press)  

Centenas de pessoas foram às ruas de Samambaia manifestar contra os crimes por questões de gênero

 

 
Samambaia pede paz. Centenas de pessoas participaram de uma manifestação contra o feminicídio na cidade onde, em apenas um dia, três mulheres foram mortas (Veja Memória) neste início de ano. Um dos principais intuitos do encontro foi despertar a comunidade para o aumento dos casos de violência doméstica no Distrito Federal. Estiveram presentes familiares da dona de casa Rute Paulina da Silva, 42 anos. Ela foi morta dentro de casa, a facadas, em 14 de janeiro, pelo próprio companheiro. A vítima conseguiu sair para pedir socorro aos vizinhos, mas não resistiu e morreu no local. Ela deixou dois filhos, de 1 e 8 anos.
 
Para a professora Milca Oliveira, 40, prima de Rute, a manifestação é um passo para a mudança. “É um meio de acordar a sociedade de uma situação que não pode ser considerada normal. Dizimar uma família não é comum. A mulher morre, o pai é preso e as crianças ficam sem assistência. A gente tem recebido o apoio social do governo, mas nada se compara ao amor da mãe”, disse. A família conseguiu atendimento psicológico para as crianças e está lutando na Justiça pela guarda dos dois. “Assistência psicológica para um bebê não é fácil, mas conseguimos, porque ele vai precisar”, afirma.
 
Irmão de Rute, Davi Sillas da Silva, 35, considera a manifestação “uma vitória”. Ele ressalta que a população tem que estar junta e unir esforços na luta contra essa onda de violência contra a mulher. “Até hoje, o nosso sentimento como família é de revolta, e acho que precisa mudar, a justiça tem que ser mais cruel com esse tipo de ação. A família está tentando se reestruturar, as crianças ainda estão abaladas. E a gente tinha que estar aqui, para fazer esse ato de bem”, declara o técnico em enfermagem.
 
A manifestação começou às 8h. Os participantes se concentraram em frente ao Centro de Ensino Médio 414 (CEM 414) de Samambaia e caminharam, com o apoio de trios elétricos, faixas e bandeiras, na avenida entre as quadras 200 e 400. O Departamento de Trânsito (Detran) e a Polícia Militar organizaram ao circulação dos carros enquanto as faixas da via ficaram bloqueadas. A passeata percorreu o trecho até a área comercial da Quadra 406, onde foi montada uma tenda para a realização de palestras após a manifestação. O trânsito foi liberado por volta das 12h.
 
O evento foi promovido pela Administração de Samambaia, com o apoio das secretarias da Mulher, de Segurança Pública e de outros órgãos do GDF. “Esse ato surgiu de uma iniciativa da comunidade, que nos procurou, após as tragédias do início do ano. Imediatamente, fizemos uma comissão de mulheres na administração e surgiu esse primeiro evento. Nosso intuito não era fazer só uma passeata, mas palestras sobre conscientização”, conta o administrador de Samambaia, Gustavo Aires. Ele destaca que está sendo feito um cronograma com ações no combate à violência doméstica. “Estamos trabalhando para que Samambaia não seja mais destaque nas páginas policiais”, completa.
 
Mãos dadas
 
A secretária da Mulher, Éricka Filippelli, participou do ato e ressaltou a importância da participação do governo e da população no combate ao feminicídio. “Todos precisam estar juntos. Essa é a forma de trabalhar que eu mais acredito. Não podemos admitir acordar com notícias tristes como aconteceu aqui (em Samambaia). Essas mulheres morreram sem que pudéssemos dar as mãos a elas, sem poder acionar e denunciar. Nossos canais de atendimento funcionam e devem ser usados”, disse.
 
A delegada-chefe da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá), Jane Klébia, explicou que a polícia entra nos casos quando a violência já aconteceu e que o papel da população é de prevenção e conscientização. “Sem a participação de todos, não tem como diminuir essa violência. Temos que mostrar todos os dias que o papel do companheiro é de protetor, não de agressor. É preciso repetir isso todos os dias, porque muita gente ainda não entendeu”, declarou.
 
Muitos homens, jovens e crianças participaram do ato. A delegada ressaltou que violência doméstica não é coisa de mulher, mas da sociedade. “As escolas devem começar a ensinar as crianças que não se deve agredir as mulheres. Os jovens de hoje serão os casais do futuro e devem ser educados desde pequenos”, completa Jane. 
 
» Onde procurar ajuda
 
Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência
» O serviço gratuito da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República serve como disque-denúncia em casos de violência contra a mulher
» Telefone: 180
 
Centro de Atendimento à Mulher (Ceam)
» Espaços de acolhimento e atendimento psicológico, social, orientação e encaminhamento jurídico
» Funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h
» Locais: 102 Sul (Estação do Metrô), Ceilândia, Planaltina
 
Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam)
» Endereço: Entrequadra 204/205 – Asa Sul
» Telefone: 3207-6172
 
Ministério da Mulher
» O Ministério da Mulher, Família e dos Direitos Humanos recebe ligações gratuitas por telefone 24h para para quem precisar fazer denúncias de violência que acabou de acontecer ou que está em curso
» Telefone: 100
 
Núcleos de Atendimento à Família e aos Autores de Violência Doméstica (Nafavds)
» Acompanhamento psicossocial às vítimas, familiares e autores
» Locais: Brazlândia, Gama, Núcleo Bandeirante, Paranoá, Planaltina, Samambaia, Santa Maria, Sobradinho e no Plano Piloto
 
Programa de Prevenção à Violência Doméstica (Provid) da Polícia Militar
» O serviço de companhamento de famílias está disponível em todos os batalhões e conta com 22 equipes
» Telefones: 3910-1349 / 3910-1350
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sábado, 01 de fevereiro de 2020

HOMENAGENS A DOM BOSCO

 

Dezenas de crianças e adolescentes participaram ontem de homenagens ao Dia de Dom Bosco. Missas e bênçãos no Santuário da 702 Sul (foto) marcaram a data. O santo italiano que profetizou a criação de Brasília no século 19 teve intenso trabalho pela educação. , Ed Alves/CB/D.A Press

Homenagens a Dom Bosco
 
Para celebrar o dia do copadroeiro de Brasília, o santuário que leva o nome do santo organizou, ontem, uma missa

 

Ana Clara Avendaño*
Jonathan Luiz*

Publicação: 01/02/2020 04:00

Padre Jonathan Costa é o responsável pela igreja, na 702 Sul:  

Padre Jonathan Costa é o responsável pela igreja, na 702 Sul: "brasiliense faz parte do sonho do santo"

 

Amado pela juventude, sonhador e criador do sistema preventivo de educação, São João Bosco tem um legado de muito valor para a capital federal. “O brasiliense faz parte do sonho do santo. Agradecê-lo com essa festa é de extrema importância”, ressalta o padre Jonathan Costa, responsável pelo Santuário Dom Bosco, cartão-postal da cidade, na 702 Sul.  Ontem, o local organizou diversos eventos à comunidade e homenageou o santo representante dos jovens e de Brasília, cidade da qual é copadroeiro (com Nossa Senhora Aparecida).
 
A festa começou às 7h com uma missa e uma benção especial aos enfermos. Às 8h30, mochilas de alunos foram abençoadas. No começo da noite, a programação seguiu com a celebração da família salesiana e, às 19h30, houve encerramento solene.
 
Na missa da manhã, presidida pelo padre Márcio Teodoro, parte dos fiéis receberam a benção no centro da igreja, enquanto outros entoavam cânticos. Na celebração dedicada a crianças e adolescentes, o espaço foi tomado pela juventude, assim como queria Dom Bosco. “O grande legado que o Santo deixou é o sistema preventivo, que tem uma grande preocupação com o nível intelectual dos alunos, em dar suporte para que o estudante tenha sucesso nas escolhas”, relatou Neusa Rosa, 59, diretora escolar.
 
Maria Cecilia Silva, 62 anos, moradora do Núcleo Bandeirante, segue os ensinamentos de Dom Bosco há 15 anos, mas teve a oportunidade de conhecer o santuário ontem. “Aqui é tão lindo, é a primeira vez que entro. Estou muito feliz, ainda mais nesta data especial, na qual o festejamos”, enalteceu.
 
Segundo os fiéis, as lições do sacerdote transformam a vida dos cristãos. Nicolas Barbosa, 21, morador de Ceilândia, é missionário salesiano e participou das comemorações em homenagem ao dia de São João Bosco. “Depois que o conheci, minha vida mudou completamente. Antes, eu era uma pessoa radical, não queria fazer nada”, contou.
 
Profecia
 
Brasília foi profetizada pelo santo cinco anos antes de morrer e 77 anos antes da construção da nova capital do Brasil. Pelo tal feito, tornou-se o copadroeiro da cidade. O Santuário de São João Bosco representa o elo entre a visão dele e os planos de Juscelino Kubitschek.
 
O sonho profético relatado no livro Memórias Biográficas de São João Bosco, de João Batista Lemoyne, ocorreu em 30 de agosto de 1883. Na visão, ele sobrevoa o oceano até as Cordilheiras dos Andes e vê, entre os paralelos 15 e 20, uma civilização surgir em torno de um lago. “Nós, fiéis, enxergamos aí uma previsão do futuro”, explica o padre Jonathan Costa.
 
Segundo ele, a Ermida Dom Bosco fica exatamente no paralelo 15.  O santo viu também a civilização prosperar. “O desenvolvimento da região de fato ocorreu. Muitas pessoas vieram a trabalho, e indústrias surgiram. Dom Bosco conseguiu ver o invisível”,  diz.
 
Educação
 
De acordo com o padre responsável pelo santuário da 702 Sul, o caminho pastoral de Dom Bosco surgiu quando, em um sonho, ele viu-se a brigar com outros meninos. Um homem, então, aproximou-se e disse para educar, não com pancadas, mas com amor. “Muitas crianças saíam do campo, a maior parte órfã, partiam para grandes cidades em busca de emprego e acabavam na rua passando fome, vivendo no crime ou como mão de obra barata por pessoas exploradoras”, contextualiza Jonathan.
 
Dom Bosco fundou a Congregação Salesiana e tinha o objetivo de ministrar ensinamentos profissionais para seus discípulos, como explica o padre Márcio Teodoro. “Dom Bosco também buscou educar o jovem para o mundo, na carreira profissional.”
 
Sheyla Abreu, 40, mora no Guará e conta que sua filha Ayla Abreu, 11, foi educada pelo sistema preventivo de educação. “Quando procurei escola para a minha filha, o meu maior critério é que precisava ser cristã, justamente por acreditar nessa educação para os jovens. São valores morais e não só conteúdo acadêmico” ressalta.
 
A opinião é compartilhada por Cristiane Gonçalves Cabral, 40, moradora de Ceilândia. O filho dela, Fred Nei Gonçalves, 9, só pôde estudar no colégio particular por conta de descontos gerados pelo sistema preventivo de educação. “Sempre quis matricular meu filho em uma escola cristã, contudo, não tenho condições financeiras. Com a bolsa de estudo, foi possível. Acho que vai ser bom para o desenvolvimento dele, para construir um grande caráter”, almeja.
 
*Estagiários sob supervisão de Marina Mercante
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sexta, 31 de janeiro de 2020

MARIA RITA: HOMENAGEM AO SAMBA

 

Cantora se apresenta hoje na orla do Minas Brasília Tênis Clube. Show Samba de Maria tem clássicos, como Tá perdoado e O homem falou. (Guto Costa/Divulgação)

Homenagem ao samba

 

Irlam Rocha Lima

Publicação: 31/01/2020 04:00

 
Maria Rita chega a Brasília cantando clássicos do gênero (Guto Costa/Divulgação)  
Maria Rita chega a Brasília cantando clássicos do gênero
 
Embora no início da carreira tenha se colocado como uma intérprete de MPB, Maria Rita não demorou muito para se tornar conhecida como sambista. Isso, desde que, em 2007, lançou o álbum Samba meu. Depois, vieram outros discos nos quais abriu espaço maior no repertório ao mais representativo gênero musical brasileiro.
 
Desde 2015, Maria Rita tem viajado pelo país com o show Samba de Maria, nome também do CD gravado ao vivo na Lapa, bairro boêmio do Rio de Janeiro. É com ele que a cantora está de volta à cidade para apresentação, hoje, na orla do Minas Brasília Tênis Clube. A programação, que inclui feijoada, tem na abertura o grupo 7 na Roda.
 
“Tenho feito este show no Brasil para grandes plateias. Ele me permite misturar sambas que lancei com sucessos, como Corpo só e Tá perdoado; clássicos do gênero, entre eles O bêbado e a equilibrista (João Bosco e Aldir Blanc), Vou festejar (Jorge Aragão, Dida e Neoci Dias), O homem falou (Gonzaguinha) e O meu lugar (Arlindo Cruz)”, diz a cantora. Ela tem a companhia da banda formada por Leandro Pereira (violão 7 cordas), Fred Camacho (banjo e cavaquinho), Vinicius Feijão (pandeiro), Jorge Quininho (percussão) e Adilson Didão (percussão).
 
SERVIÇO
 
Maria Rita
Show da cantora e banda, com abertura do 7 na Roda, hoje, às 13h, na orla do Minas Brasília Tênis Clube (Setor de Clubes Norte). 
Os ingressos custam R$ 180 (Camarote Arlindo Cruz), R$ 1.000, (mesas Beth Carvalho), R$ 800 (mesas Zeca Pagodinho) e R$ 700 (mesas sambar), com direito a feijoada e open bar. Sócios do Minas Brasília têm desconto de 15% no preço do ingresso. Recomendado para 
menores de 16 anos.
 
Jornal Impresso
 


Correio Braziliense quarta, 29 de janeiro de 2020

OSWALDO MONTENEGRO: PRESENTE PARA BRASÍLIA

 

Presente para Brasília
 
Oswaldo Montenegro prepara espetáculo em homenagem aos 60 anos da capital que tem como referência a cultura e as pessoas da cidade

 

Irlam Rocha Lima

Publicação: 29/01/2020 04:00

Os 60 anos da cidade serão celebrados em abril com o espetáculo Veja você, Brasília, uma realização do Sesc, com produção e direção de Oswaldo Montenegro. O título remete ao musical que o artista montou em 1982, mas o roteiro, que aborda aspectos diversos da capital, é inédito e busca fugir do esterótipo de “centro do poder”.
 
“Vamos mostrar, entre outros temas, a sensação de morar num lugar único, formado por gente de todo o Brasil, com uma arquitetura diferenciada, surgida da visão mística de Dom Bosco e do sonho de JK, sob o signo da utopia e da esperança e reverenciada pelo mundo”, anuncia o menestrel carioca-brasiliense, que iniciou a carreira nos palcos do Distrito Federal.
 
A peça, de característica multimídia, com 90 minutos de duração, reunirá em cena um elenco de 22 integrantes, entre cantores, músicos, atores e dançarinos, todos brasilienses; assim como cenógrafo e diretor de arte. Haverá a participação especial da cantora e compositora Zélia Duncan, revelada para a MPB pela montagem original do Veja, você Brasília, assim como  também Cássia Eller.
 
As apresentações serão de 9 a 11 de abril, no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães. “Fazer um musical sobre Brasília é uma forma de homenagear a cidade e promover a cultura, que é uma das frentes mais importantes do Sesc”, destaca Francisco Maia, presidente do Conselho regional do Sesc-DF.
 
 (Mariane Silva/Esp. CB/D.A Press)  
 
 
Entrevista/Oswaldo Montenegro
 
 
O que o levou a idealizar, produzir e dirigir Veja você, Brasília no começo da década de 1980?
Criei o espetáculo motivado por uma vontade de fazer algo que expressasse minha sensação de pertencer à cidade, de ter sido moldado por suas contradições e características peculiares. Havia gravado meu terceiro disco no Rio e feito amigos de todos os lugares do Brasil — os mineiros tinham sua marca, os cariocas, sua ginga, os nordestinos, uma estética própria, e eu parecia pertencer a lugar nenhum. Realizei o primeiro Veja você, Brasília para falar dessa marca, com gente da cidade, que pudesse me ajudar a encontrar e a expressar o que seria o jeitão artístico brasiliense.
 
 
Que recordações guardou daquele momento?
Aquele foi um momento maravilhoso. Uma sensação de andar em grupo, de viver uma aventura artística louca. Naquela época trabalhei com grandes amigos e fiz outros que duram até hoje. Só tenho recordações boas daquele trabalho.
 
 
Ter revelado para a MPB, a partir do musical, Cássia Eller e Zélia Duncan, representou o que para você?
Foi uma alegria e uma honra trabalhar tanto com Cássia Eller, assim como com Zélia Duncan. No novo espetáculo que estamos montando, Zélia é a narradora. Escrevi todo o texto da narração pensando nela.
 
 
Quem mais daquela trupe — além, é claro, de Madalena Salles — conseguiu se destacar posteriormente?
Muitos artistas que conheci naquela montagem fizeram depois belos trabalhos individuais. Madalena Salles trabalhava comigo desde 1975, assim como José Alexandre e Mongol. Eles estavam na primeira montagem da primeira peça que escrevi, João sem nome, dirigida por nossos queridíssimos Hugo Rodas e Dimer Monteiro. Detão, meu irmão, Eduardo Canto, Cláudia Gama e Raimundo Lima foram, dos que estrearam naquele elenco, os que mais fizeram projetos comigo depois. Montamos muita coisa juntos. Outra pessoa importante daquela montagem foi Raique Macau, que, na época, narrou o texto inicial. Depois dali fizemos inúmeras parcerias juntos, inclusive nessa nova montagem ele fará a direção de arte, além de termos duas músicas de sua autoria no espetáculo.
 
 
Na sua visão, quais são as diferenças de Brasília daquele tempo para a de agora?
A cidade está mais definida em características, que naquela época apenas se delineavam. O que era esboço, agora é desenho. Tem a cara mais nítida e reconhecível.
 
 
A recriação do espetáculo para celebrar os 60 anos de Brasília foi uma iniciativa sua ou foi proposta pelo Sesc?
Foi uma proposta do Sesc, que me convidou para montar um espetáculo comemorativo dos 60 anos. Não é uma recriação. Eu escrevi um outro espetáculo, com apenas duas cenas do antigo — Léo e Bia e Pra Longe do Paranoá. Botei o mesmo nome para homenagear aquele momento, que foi de enorme importância pra mim.
 
 
Quando ocorreu a escolha do elenco e quem vai trabalhar na produção e direção, sob sua batuta?
Dedicamos o ano de 2019 para reunir a equipe. Será um espetáculo multimídia, com banda, coro, cantores, bailarinos, artistas circenses e um telão com um filme de 90 minutos, em que outros artistas interagem com o que acontece no palco. Toda a equipe é de Brasília. Não só a que estará em cena, mas também a que estará nas coxias, a contra-regragem, na técnica, a na direção de arte, além dos figurinistas, costureiras, assistentes; assim como a equipe do audiovisual — produção, direção de fotografia, câmera. Enfim, são em torno de 200 profissionais envolvidos, todos de Brasília.
 
 
Qual foi o critério para a escolha dos participantes?
Alguns foram indicados por profissionais de Brasília que eu conhecia, e outros foram selecionados por audições. Na trilha, além de músicas que compus sobre Brasília, utilizei canções de compositores que viveram ou ainda vivem aqui, como Renato Matos, Raique Macau, Ulysses Machado, Renato Russo, Beto Brasiliense, Herbert Vianna.
 
 
São quantos na trupe que vai encenar o espetáculo?
No palco, serão 22 artistas. No telão ,não sei de cabeça, mas são muitos.
 
 
Entre os escolhidos, percebeu novos talentos para serem lapidados?
Sim, sem dúvida, Brasília tem grandes profissionais. Não estou falando só da galera que estará no palco. A equipe técnica também é de primeira. O Brasil tem que saber disso. É isso que queremos mostrar.
 
 (Mariane Silva/Esp. CB/D.A Press)  
 
De que forma a Zélia Duncan tomará parte?
Zélia Duncan narra toda a história do telão e interage com o palco, cantando em alguns momentos, assim como os outros convidados. O espetáculo é todo interativo.
 
 
Como vai ser a abordagem da Brasília de agora por um carioca-brasiliense que iniciou a carreira aqui, mas está distante desde os anos 1980?
Procurei expressar não só minhas sensações, mas também as das pessoas com quem convivo desde sempre no Planalto. Grande parte da minha família ficou e meus melhores amigos são de Brasília. O roteiro tem uma ordem cronológica, semi-histórica, sem ser didática. O objetivo é mostrar que, apesar de ser o centro do poder político, Brasília tem gente de carne e osso, que sonha, sofre, namora. E tem sua própria estética. Uma estética que o Brasil precisa conhecer e que é muito interessante.
 
 
Poderia detalhar um pouco o que vai ser mostrado nesta nova Veja você, Brasília?
É difícil explicar um espetáculo. Mas,  grosso modo, é uma viagem no tempo. Do sonho de Dom Bosco à escuridão da ditadura, dos delírios hippies aos anseios das novas gerações. Sem pretensão sociológica. São impressões, sentimentos de quem morou aqui. Não só os meus. Temos grupos de dança do Plano Piloto, da periferia de Brasília, das cidades-satélites, músicos do Clube do Choro, músicos do rock brasiliense, músicos do jazz. E a participação virtual de muita gente que saiu daqui, como Milton Guedes, por exemplo, que toca várias músicas no telão, interagindo com a banda que está no palco. Brasília tem formação muito diversificada. Foi criada por gente de todo Brasil, de todos os estilos. Isso gerou um estilo próprio, virou marca. É isso que o espetáculo tenta mostrar.
 
 
Os ensaios começaram ontem. Como vai ser esta primeira fase. E as subsequentes?
O telão está pronto. Filmamos durante 2019. Os ensaios serão separados — músicos e cantores de manhã, bailarinos à tarde e a companhia Instrumento de Ver à noite. Em março, começaremos os ensaios em conjunto, com todo elenco no palco — músicos, cantores, bailarinos e a companhia Instrumento de Ver.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense terça, 28 de janeiro de 2020

O MUNDO CHORA POR KOBE BRYANT

 

O mundo chora por Kobe Bryant
 
Trágica morte do ídolo do L.A. Lakers provoca onda de homenagens ao redor do planeta. Jogadores de basquete e tenistas prestam tributo em quadra, enquanto autoridades enaltecem o legado do ex-armador

 

Publicação: 28/01/2020 04:00

Em Los Angeles, fã fotografa painel em homenagem ao eterno camisa 24 (David Mcnew/AFP)  

Em Los Angeles, fã fotografa painel em homenagem ao eterno camisa 24

 



A rodada de domingo da NBA ficou marcada por homenagens nas oito partidas realizadas e pelo sentimento de luto e desolação por causa da trágica morte de Kobe Bryant, ex-jogador do Los Angeles Lakers, ocorrida horas antes, com a queda de um helicóptero, que provocou o falecimento de outras oito pessoas, incluindo de uma das filhas, Gianna, de 13 anos.

O San Antonio Spurs e o Toronto Raptors começaram o jogo segurando a bola por 24 segundos, até o cronômetro estourar, em memória ao número que Bryant utilizou em parte da carreira, com as equipes não disputando o início da partida e o público ovacionando o ex-atleta aos gritos de “Kobe”. Os Spurs exibiram um vídeo de tributo a Bryant com cenas da última aparição da lenda dos Lakers em San Antonio. O técnico Gregg Popovich se emocionou.

A morte de Kobe Bryant provocou manifestações de pesar e de solidariedade aos familiares além do mundo do basquete. Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), foi uma das personalidades a lamentar a morte da lenda do esporte. Bach classificou Bryant como “um excelente e verdadeiro campeão olímpico”. Ele conquistou medalhas de ouro nos Jogos de Pequim-2008 e de Londres-2012 pela seleção dos Estados Unidos. O astro também trabalhou pela candidatura olímpica de Los Angeles. Quando a cidade sediar a Olimpíada de 2028, o basquete masculino será jogado no Staples Center, onde Bryant brilhou pelos Lakers.

Bryant narrou o vídeo final da apresentação da candidatura de Los Angeles em julho de 2017, sendo membro do conselho de administração. “Ele abraçou o poder do esporte para mudar a vida das pessoas”, disse Bach em um comunicado publicado pelo COI. “Depois de se aposentar do jogo que ele tanto amava, ele continuou a apoiar o movimento olímpico e foi uma inspiração para os Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028.”

A Federação Italiana de Basquete decretou uma semana de luto pela morte de Kobe Bryant. Um minuto de silêncio será respeitado em todos os jogos de todas as categorias. O ex-armador viveu na Itália dos 6 aos 13 anos, enquanto o pai, Joe Bryant, jogou por várias equipes italianas. Ele voltou para a Pensilvânia, onde nasceu, para cursar o ensino médio. Kobe falava italiano fluentemente e costumava dizer que era um “sonho” jogar no país.

Esse sonho quase se tornou realidade em 2011, quando Bryant chegou a negociar com o Virtus Bologna, mas não chegou a um acordo. “Perdemos um amigo”, publicou em manchete de primeira página o Gazzetta dello Sport, o principal jornal esportivo da Itália.

Austrália
A morte de Kobe Bryant chocou e comoveu fãs e atletas do mundo do esporte, que renderam diversas e diferentes homenagens, como as ocorridas ontem no Aberto da Austrália, que está sendo realizado em Melbourne. Nick Kyrgios utilizou uma camisa número 8 do Los Angeles Lakers antes de uma partida pelas oitavas de final contra o espanhol Rafael Nadal, prestando tributo sem precisar dizer uma palavra.

Vários torcedores utilizaram camisetas de Bryant com os números 8 ou 24. Os organizadores do Aberto da Austrália também fizeram uma pequena homenagem em vídeo antes do início da partida entre Nadal e Kyrgios.

Bryant, de 41 anos, morreu em um acidente de helicóptero, nas proximidades de Los Angeles, em Calabasas. Ele e a filha Gianna, de 13 anos, morreram na queda, assim como mais sete pessoas.
 

“Um excelente e verdadeiro campeão olímpico. Ele abraçou o poder do esporte para mudar a vida das pessoas. Depois de se aposentar do jogo que ele tanto amava, continuou a apoiar o movimento olímpico”
Thomas Bach, presidente do  COI
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense segunda, 27 de janeiro de 2020

PREVIDÊNCIA: BRASILEIRO ESPERA QUATRO MESES PARA SE APOSENTAR

 

PREVIDêNCIA
 
Espera por benefício triplica em dez anos
 
Em média, a demora para obtenção de pagamento saltou de 27 para 81 dias. No caso de aposentadorias, a liberação pode levar 124 dias. INSS adotou programa de incentivo à produtividade para compensar o aumento da demanda e a falta de pessoal

 

ALESSANDRA AZEVEDO

Publicação: 27/01/2020 04:00

Fila em agência do INSS: problema emergencial e de longo prazo (Arthur Menescal/Esp. CB/D.A Press - 10/7/17
)  

Fila em agência do INSS: problema emergencial e de longo prazo

 

Em meio a polêmicas sobre a condução dos trabalhos e a fila de quase 2 milhões de pedidos de benefícios represados, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) tenta contornar a falta de servidores com a implementação de um modelo de gestão mais moderno. Os resultados, até o momento, são controversos. Na última década, o tempo médio de concessão de benefícios triplicou: foi de 27 para 81 dias. Quem pediu aposentadoria no fim de 2019 esperou, em média, 124 dias para recebê-la — ou seja, mais de quatro meses. Dez anos antes, a espera média era de 33 dias.
 
O país saiu de um estoque de 384 mil análises represadas para 1 milhão na última década. O governo alega que o principal motivo para o salto foi a digitalização do sistema, que acontece, aos poucos, desde 2016. O aplicativo do INSS digital, lançado em 2018, permitiu que os segurados passassem a fazer os pedidos pela internet ou pelo telefone, sem necessidade de ir às agências. O resultado é que desapareceu a fila física para entregar os documentos pessoalmente, mas surgiu uma invisível espera de pessoas que protocolaram a demanda on-line e, agora, aguardam resposta.
 
Em outras palavras, acabou a “triagem” feita pelos servidores e, pela facilidade de se iniciar o processo, explodiu o número de pedidos. Mas, em tese, também ficou mais fácil avaliar as solicitações nos últimos anos. Em 2019, 1 milhão de benefícios foram concedidos de forma automática, sem a necessidade de intervenção de servidores, o que não existia 10 anos atrás. Mesmo assim, a fila continua inadministrável.
 
Uma das razões é que, enquanto a demanda cresce exponencialmente, os servidores se aposentam e não são repostos. Ao mesmo tempo em que o sistema é modernizado, mais de 17 mil servidores se aposentaram, só na última década. Sobraram 23 mil, o menor número de funcionários da história da autarquia. Sem gente para cuidar dos processos, que se empilharam, em 2019, na maior velocidade desde que o INSS foi criado, o crescimento do estoque de pedidos foi inevitável.
 
O ano de 2019 terminou com 1,3 milhão de processos parados há mais de 45 dias, fora os mais de 500 mil dentro desse prazo, considerado razoável pelo INSS. Ou seja, 68,4% dos pedidos represados esperam há mais de um mês e meio. Dez anos antes, o percentual de pedidos nessa situação era de 15,8%. “O que não mudou nesse período foi o fato de sempre ter milhões de pessoas esperando respostas, seja presencialmente ou, agora, remotamente”, afirma a advogada Adriane Bramante, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP).
 
Informatizar o sistema melhorou as perspectivas, mas ainda há gargalos, afirma Bramante. “O site do Meu INSS é bom, porque concede automaticamente, e a expectativa é de que os números melhorem”, avalia. Mas, apesar de resolver a grande maioria dos casos de forma digital, “muitos segurados são excluídos disso por não terem acesso à internet, não estarem informatizados ou serem analfabetos digitais”, aponta.
 
Estratégia
 
O número de funcionários segue caindo, mas a produtividade deles aumentou na última década, embora não o suficiente para conter a fila. Em dezembro de 2010, cada servidor conseguia analisar 236 processos por mês. No mesmo mês do ano passado, a média foi de 409 — maior índice da história do sistema. O desempenho se deve “justamente pelas ações empreendidas por esse governo”, disse o secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, na coletiva de imprensa em que apresentou a estratégia para reduzir a fila, em 13 de janeiro.
 
O que o governo tem feito, na verdade, é tentar remediar a falta de servidores com incentivos aos 23 mil que ainda trabalham na autarquia. As ações mencionadas pelo secretário incluem teletrabalho, jornada semipresencial e bônus para quem analisa processos fora do expediente. Essas medidas, segundo o INSS, são responsáveis, ao menos em parte, pela melhora no tempo de concessão nos últimos meses.
 
O auge da espera foi em julho de 2019, quando a média era de 191 dias para aposentadorias e 124, para pensões. Desde então, tem diminuído. Especialista em direito previdenciário, Washington Barbosa, diretor acadêmico do Instituto Dia e coordenador do Instituto de Estudos Previdenciários (Ieprev), diz que “os problemas têm acontecido desde o início da década, mas as grandes inovações para resolvê-los começaram, na verdade, nos últimos dois anos”. Ele cita a proposta de incentivo aos servidores como uma das mais acertadas nas últimas gestões do INSS.
 
Na visão de Barbosa, não é por acaso que os índices começaram a melhorar na mesma época em que os servidores passaram a ter a opção de trabalhar em casa, ir às agências apenas três vezes por semana ou analisar processos depois do expediente. Essas três alternativas ficam a critério do servidor, que, em todos os casos, ganha um bônus de R$ 57,50 por processo feito além do necessário.
 
No caso do semipresencial, quando só precisa ir à agência três vezes por semana, e do teletrabalho, que é a distância, é preciso analisar certa quantidade de processos extra por mês para se manter no regime. Cada benefício avaliado vale uma quantidade de pontos — aposentadoria, por exemplo, vale um, salário-maternidade, 0,75. No semipresencial, a meta é de 90 pontos. Já no teletrabalho, é mais alta: 117 pontos.
 
Quem trabalha constantemente nas agências não tem um mínimo de processos a cumprir, mas ganha a mais quando continua depois do expediente. Nenhum servidor é obrigado a participar desses programas de metas, mas muitos optam por aderir, para aumentar a remuneração. O problema é que alguns acabam trabalhando muito além dos horários, o que preocupa as entidades representativas de servidores públicos.
 
Diretor da Federação Nacional de Sindicatos de Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social (Fenasps), Moacir Lopes acredita que esse tipo de incentivo pode melhorar os índices momentaneamente, mas não é sustentável. “Com o bônus, as pessoas passaram a trabalhar até o dobro do normal. Já se chegou à produção máxima, com jornada extenuante, não tem mais como subir", avalia. Na avaliação de Barbosa, “a diferença entre o remédio e o veneno é a dose”. Ou seja, talvez seja preciso regulamentar o bônus, mas não acabar com ele.
 
Digitalização 
 
O fato é que, com essas mudanças, a produtividade aumentou, mas não o suficiente para diminuir a fila a níveis satisfatórios. Ainda assim, o deficit de servidores não pode ser ignorado. Técnicos do INSS admitem que, possivelmente, será preciso aumentar o quadro de pessoal. Mas defendem que isso só seja estudado depois que a fila for reduzida a níveis razoáveis, para ser possível avaliar a quantidade real que precisa ser contratada.
 
“O negócio é que a contratação de servidores não é para resolver problemas atuais, ela é feita pensando nos próximos 35 anos. Até lá, a digitalização estará mais consolidada. Será que daqui a dez anos precisaremos do mesmo número de servidores que havia 10 anos atrás?”, questiona um do técnico do INSS que tem discutido as mudanças a serem implementadas neste ano, como a contratação de militares da reserva para reforçar o atendimento nas agências.
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense domingo, 26 de janeiro de 2020

FOLIA SUSTENTÁVEL

 

Folia sustentável
 
A produção de lixo durante o carnaval brasiliense caiu 39,5% em 2019, em relação ao ano anterior. Entre os materiais mais descartados, estão latinhas, plásticos, garrafas PET e vidros

 

» Ana Maria da Silva*
» Agatha Gonzaga
* Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira

Publicação: 26/01/2020 04:00

 

Thainy Bressan, dona da marca EcoJornada (E), Maria Martha Lauande, dona do Brecho 3 Marias (D) e Janaina Domingues Luizari mostram produtos ecológicos que podem ser utilizados no carnaval  

Thainy Bressan, dona da marca EcoJornada (E), Maria Martha Lauande, dona do Brecho 3 Marias (D) e Janaina Domingues Luizari mostram produtos ecológicos que podem ser utilizados no carnaval

 


Os brasilienses entraram no clima do carnaval mais cedo este ano. Fantasias, tiaras e purpurinas começaram a fazer parte das vitrines, e a variedade de momo está presente no comércio da capital. Mas, se por um lado o carnaval é um dos eventos brasileiros mais esperados, por outro, o consumo excessivo e massivo de itens da folia gera resíduos que podem prejudicar o meio ambiente.

Preocupadas com o impacto ambiental, foliões criaram iniciativas conscientes e sustentáveis, de tal forma que as pessoas possam curtir a festa sem agredir a natureza com produtos e resíduos tóxicos. De acordo com o Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal (SLU), nos últimos anos, houve uma redução de 39,5% na quantidade de resíduos recolhidos. Em 2018, foram registradas 82,2 toneladas de lixo produzidas durante o carnaval, número alto se comparado a 2019, que gerou 49,7 toneladas. Latinhas, plásticos, garrafas pet e vidros são os materiais mais descartados.

A bióloga Lara Oberda curte a festa de Rei Momo de forma consciente (Mariane Silva/Esp. CB/D.A Press)  

A bióloga Lara Oberda curte a festa de Rei Momo de forma consciente

 


A coordenadora de mobilização social do SLU, Luana Cristeli Sena, explica que a redução destaca a consciência ambiental cada dia mais presente na vida do brasiliense. “É um indicativo de que a população está se conscientizando mais. É importante sensibilizar os órgãos públicos, os organizadores de blocos, ambulantes e pessoas que curtirão a festa, quanto à importância da manutenção da limpeza da nossa cidade”, diz.

Luana explica também que a Lei 5.610 de 2016 passou a responsabilizar grandes geradores de resíduos sólidos, o que afeta diretamente os blocos dos carnavais. “Desde então, todos os eventos que atraem grande público vêm sendo cadastrados no SLU, e os blocos de carnaval fazem parte da lista. Dessa forma, a obrigatoriedade de manter a limpeza durante a festa recai sobre eles”, esclarece.

Entre as iniciativas do órgão, está o programa Bloco Brasília Limpa, que acontece desde 2015 e promove palestras de conscientização aos organizadores dos blocos e ambulantes. “O projeto tem o objetivo de sensibilizar a manutenção da limpeza durante as festas, promovendo uma mudança cultural para o descarte adequado dos resíduos durante os eventos”, acrescenta Luana.

A empreendedora Tayna Haudiquet, 24, fundadora da marca Parangolés, diz que procura produzir menos lixo com o reaproveitamento de material (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

A empreendedora Tayna Haudiquet, 24, fundadora da marca Parangolés, diz que procura produzir menos lixo com o reaproveitamento de material

 


Para valorizar o esforço dos foliões no recolhimento de lixo produzido, o SLU distribui certificados de limpeza aos blocos de rua que mais se empenham em manter os locais de festas livres de resíduos após o evento. Além disso, durante a festa, a limpeza é feita diariamente. Este ano, a novidade é que os garis estenderão o período de trabalho até meia-noite.

Conscientização
Levar o  próprio copo, usar transporte público e reutilizar fantasias. A bióloga Lara Oberdá Carneiro Marques, 26 anos, conta que sempre procura passar a festa de maneira sustentável, e essas são algumas das alternativas que encontrou para isso. “Além de colaborar com o meio ambiente e com o bolso, também exercita a criatividade, o que é uma das graças do carnaval”, compartilha. Lara afirma que começou a tomar consciência no fim de sua graduação no curso de biologia. “Discutimos muito em algumas disciplinas sobre os impactos negativos que o ser humano causa no planeta e isso acaba me fazendo repensar algumas atitudes e, principalmente, mudar alguns hábitos”, destaca.

Para a bióloga, aproveitar o carnaval de modo sustentável pode ajudar a criar hábitos que precisam ser levados para o dia a dia. “De modo geral, acredito que essas pequenas mudanças facilitam a curtição da festa, pois diminui o número de coisas com que me preocupar, como carregar resíduos, procurar copos, segurança do carro, amigo da vez e etc.”, constata.

De acordo com ela, é possível enxergar o cuidado de alguns blocos, mas é preciso haver maior investimento do governo. “Vemos muitos organizadores incentivando os foliões a levarem seus copos, com campanhas de conscientização sobre onde descartar os resíduos. Mas, sem o apoio para fornecer a infraestrutura adequada, como recolhimento e separação dos resíduos, há um limite para o que possa ser feito”, alerta.

Em resposta, o SLU reforça que tem procurado fazer campanhas de sensibilização. “Além da limpeza das ruas durante a festa, o SLU também realiza um trabalho de conscientização com os blocos de rua, doando sacos de lixo verdes e azuis — para destinação dos resíduos recicláveis — e promovendo ações educativas sobre a importância de descartar o lixo no local certo, separando o que é orgânico e o que é reciclável”, explica o órgão, em nota.

Inovação
Preocupada em causar menos impacto no ambiente, a professora Laís Xavier de Moraes, 20, conta que optou por alternativas sustentáveis para passar o carnaval, após perceber a quantidade de lixo no chão na primeira vez que participou da festa. Uma das escolhas foi a customização de suas  fantasias. “Tento gerar a menor quantidade de lixo possível fazendo minha roupa com materiais e coisas que eu já tenho, usando glitter biodegradável. Além disso, levo de casa meu  copo”, relata.

Para a professora, a curtição fica em segundo plano: “O mais importante é aproveitar o carnaval com a consciência limpa, me responsabilizando pelo lixo que produzo”, completa. “Minha expectativa para este carnaval é que mais pessoas possam entrar nessa jornada sustentável e curtam de forma ecológica. Ultimamente, as pessoas já têm adotado medidas mais sustentáveis, principalmente com os copos, canudos e sacolas. Espero não ver tanto lixo na rua desta vez durante a folia”, diz.

Sustentabilidade
A engenheira ambiental e de segurança do trabalho Thainy Cristina Silva Bressan aponta que o carnaval pode ser ainda mais sustentável. “Nós temos um mundo muito mais acessível de informações. Na internet, várias pessoas estão mostrando como podemos usar a criatividade para fazer isso acontecer de forma mais fácil e prática”, assegura.

Segundo Thaiany, uma das iniciativas desenvolvidas é o glitter biodegradável. “O glitter vendido em papelaria é uma micropartícula de plástico. A purpurina também tem o mesmo procedimento, mas é mais fina (polui do mesmo jeito). Passa o carnaval, e três meses depois ainda encontramos brilho”, lamenta. “O bioglitter tem essa diferença. Ele não é de plástico. A maior parte do composto é de mica e gelatina, que são ingredientes naturais. É uma forma que as pessoas encontraram de manter a essência do carnaval, de forma que não agrida o nosso sistema de saneamento e o meio ambiente”, completa a engenheira.

Além do glitter, ela faz um alerta quanto ao uso do vidro, material de grande dificuldade de reciclagem no país. “Aqui em Brasília, temos algumas iniciativas, mas a garantia de que 100% desse material que é descartado no carnaval vá para uma reciclagem não existe”, diz. Além disso, Thainy adverte quanto ao fator segurança. “A garrafa de vidro pode virar um instrumento de perigoso. Tanto pela chance de alguém escorregar, por ficarem no chão e não serem recolhidas, quanto pela questão de que pode virar uma arma em um momento de violência ou agressividade”, completa.

De acordo com a engenheira, alternativas sustentáveis não precisam pesar no bolso. “Não é mais caro ser sustentável. Quando trocamos algumas embalagens por coisas reutilizáveis, o custo que estamos tendo, além de financeiro, é ambiental”, esclarece. “No caso do carnaval, todos esses adereços, como copos, canudos são itens que vamos usar durante os blocos, além de ser algo que poderá ser utilizado novamente. A cada vez que você opta por um desses itens, é um lixo a menos produzido”, realça.

Com o objetivo de ajudar o meio ambiente, Thainy, em parceria com a engenheira ambiental Janaína Domingues Luizari, 24, conduz a marca Ecojornada, que torna acessíveis à população produtos sustentáveis, como copos e garrafas retráteis, canudos reutilizáveis, pulseiras e colares  feitos com fio de malha.

A empreendedora Maria Martha, dona do brechó As Três Marias, garante que é possível reutilizar peças, e investir em roupas com um menor preço para fazer parte de uma moda sustentável. “Em um brechó, você tem acesso a produtos mais baratos, para uso próprio, além de poder adquirir uma peça para customizá-la. Todo carnaval dá para fazer a ressignificação de um look, fazer tiaras, adereços de cabelo, brincos, ombreiras, várias peças a partir de roupas já existentes”, afirma.

Uma das alternativas utilizadas por Maria, para curtir o carnaval em estilo sem agredir o ambiente, foi a economia nos materiais: “Os kimonos são produção do nosso brechó para o carnaval e os blusões, também. Estamos fazendo sob encomenda para não ter desperdício de produção, e tudo que vai sobrando da confecção dessas peças a gente pega para fazer novas fantasias”, acrescenta.

Outra empreendedora, Tayna Haudiquet, 24, também optou pela moda consciente. Cofundadora da marca Parangolés, ela conta que, ao procurar por fantasias e não encontrar, decidiu fabricar a própria. Após o sucesso da primeira peça, passou a investir nas coleções. “Percebemos que havia mercado em Brasília. Já estamos no terceiro ano da marca”, aponta.

Mas Tayna decidiu ir além, e optou pela alternativa ainda mais ecológica: “Nos preocupamos muito com a questão do descarte, então, em vez de jogarmos fora, reaproveitamos. Quando vamos comprar tecido, damos preferência aos retalhos das lojas. Dessa forma, tudo vira alguma coisa no nosso ateliê, nada é descartado”, relata.


Na Moda

» A professora do curso de moda do Centro Universitário Iesb Lina de Albuquer que, dá cinco dicas de como passar o carnaval om uma fantasia bonita e sustentável

» Busque peças práticas e versáteis que possam ser combinadas a vários tipos de acessórios que você já tem

» Faça um upcycling no guarda-roupa — técnica que consiste na reutilização de roupas antigas dando novos significados a elas

» Reutilize peças do carnaval passado customizando-as com pedrarias, tiras de paetê e outros itens carnavalescos. É possível transformar um body antigo de renda em outra fantasia se aplicar novos elementos a ele

» Utilize materiais recicláveis como o fundo da garrafa PET. possível fazer uma ombreira para a roupa do carnaval

 

 

Opções
Caso vá comprar novas peças, opte por produtores de Brasília. Há vários artistas com propostas sustentáveis.


Saiba como fazer
Glitter caseiro biodegradável para maquiagem:

» Corante alimentício da cor desejada
» Mica
» Sal de cozinha.
» Coloque em dois recipientes distintos quantidades proximadamente iguais de sal e mica;
» Misture o corante no sal até que adquira a cor desejada;
» Coloque o corante na mica até que adquira a cor desejada (será necessário mais corante para a mica do que para o sal, visto que o mineral absorve mais tinta)
» Deixe que as misturas sequem naturalmente, o que deve levar por volta de uma hora
» Misture os dois produtos e seu glitter para maquiagem está pronto.

Jornal Impresso


Correio Braziliense sábado, 25 de janeiro de 2020

SAÚDE: BRASÍLIA RETORNA AO ESTADO DE EMERGÊNCIA

 

SAÚDE
 
Capital retorna ao estado de emergência
 
Diante do risco de nova epidemia de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes, o governador Ibaneis Rocha assina decreto que abre oportunidade para ações emergenciais, como contratação de profissionais e compra de insumos sem licitação

 

» AGATHA GONZAGA
» JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 25/01/2020 04:00

Além do marido, que morreu de dengue na semana retrasada, cinco familiares de Sirleide da Conceição Silva pegaram a doença no Guará 2:  

Além do marido, que morreu de dengue na semana retrasada, cinco familiares de Sirleide da Conceição Silva pegaram a doença no Guará 2: "Está faltando controle"

 

 
O período de chuvas no Distrito Federal acendeu o alerta do poder público em relação ao risco de uma epidemia de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes. Diante disso, o governador Ibaneis Rocha (MDB) assinou, ontem, um decreto que declara situação de emergência no âmbito da saúde pública. O documento, publicado em edição extra do Diário Oficial do DF, abre espaço, por exemplo, para contratação temporária de profissionais, convocação de aprovados em concursos, extensão de cargas horárias de trabalho e compra de insumos sem a abertura de licitação.

A medida permanece em vigor até junho. “Fica declarada situação de emergência (...) em razão do risco de epidemia de dengue, potencial epidemia de febre amarela e da possível introdução dos vírus zika e chicungunha no Distrito Federal, bem como da alteração do padrão de ocorrência de microcefalias no Brasil”, detalha o decreto. O governo também contará com o apoio de equipes das forças de segurança e de outros órgãos do Executivo para auxiliar nos trabalhos de combate ao inseto e de conscientização.

Na manhã de hoje, o subsecretário de Vigilância à Saúde, Divino Valero, estará na Administração Regional do Guará para avaliar a situação. De lá, sairão 500 bombeiros para visitar residências da região e informar moradores sobre como se prevenir e onde buscar ajuda médica. “É preciso que tomemos todos os cuidados e atitudes o mais rápido possível para diminuirmos o risco dessa epidemia. As ações começaram e, a partir daí, será dedicação total à assistência, ao acolhimento e à intensificação das visitas domiciliares”, detalha Divino.

No ano passado, o DF bateu recorde histórico com relação à quantidade de casos registrados. A Secretaria de Saúde contabilizou mais de 47 mil casos prováveis de dengue e 62 mortes (leia Números de 2019). O cenário, classificado pela pasta como epidemia, resultou em uma força-tarefa que mobilizou equipes do Corpo de Bombeiros e do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), além de profissionais da saúde (leia Memória).

De acordo com o subsecretário da pasta, o número recorde de ocorrências no ano passado decorreu da introdução de um tipo novo e mais agressivo do vírus da dengue na Região Centro-Oeste, além da quantidade de chuvas registradas no Distrito Federal. “Pretendemos mostrar que esse problema de saúde pública é coletivo e que a resposta está na atitude das pessoas. É importante buscarmos uma consciência coletiva para termos resultado. Estamos fazendo um alerta bem mais cedo para mostrar que o problema está aí e é de todos”, ressalta Divino.
 
Indignação
 
Na casa da família de Sirleide da Conceição Silva, 56 anos, a dengue afetou cinco pessoas apenas neste mês. O marido dela, José Edmilson, 65, teve um quadro hemorrágico e morreu, na quarta-feira retrasada. Ontem, parentes e amigos participaram da Missa de Sétimo Dia em homenagem à memória dele. “O descaso está grande em relação a esse mosquito. Moro em uma casa e cuido direito dela, mas tenho vizinhos. Quantos mais precisarão morrer para que tomem providências? Estou indignada por ter perdido meu marido para um mosquito”, lamenta.

Moradora do Guará 2, Sirleide critica a existência de imóveis abandonados na cidade, além da falta de atenção a eles. “Está faltando controle. O pessoal está morrendo e ninguém vê. Está virando uma nova epidemia. A pessoa que atendeu o meu marido disse que nunca tinha visto uma evolução tão rápida (dos sintomas), pois ele adoeceu na quarta e morreu no sábado”, conta Sirleide.

Ainda se recuperando da doença, o filho do casal, Antônio Valdeci Carneiro, 33, e a filha de 5 anos receberam o diagnóstico na semana passada ao levar o pai ao hospital. Ele cobra senso de coletividade por parte da população, além de mais ações do governo, como a intensificação das visitas de agentes de saúde para a fiscalização das casas. “Um mosquito tão pequeno faz um mal tão grande. Nunca tivemos uma ocorrência tão expressiva perto da família. A gente fica bem triste com a situação, desolado”, comenta Antônio.
 
Sintomas
 
O auxiliar de mecânico Gabriel Galleti, 21, também foi vítima da dengue em 2020. Morador do Guará 1, só depois de contrair a doença, ele descobriu que ela estava sendo frequente na região. “Há muitos anos, a minha mãe teve dengue. Então, em nossa casa, estamos bem atentos a todo tipo de prevenção. No meu trabalho, não vejo como (pode ter havido a transmissão pelo mosquito), pois temos bastante cuidado com água parada. Infelizmente, não sei se é assim em todas as empresas”, pontua.

Chefe da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Santa Lúcia, Werciley Júnior considera que a medida adotada pelo governo é uma antecipação. “A incidência dessas doenças normalmente sofre uma queda no início do verão e, logo depois, começa a aumentar. Mas o que aconteceu neste início de ano é diferente: entramos em 2020 com registros da doença; então, é realmente necessário começar a agir para enfrentá-las”, ressalta.

O infectologista comenta que o tratamento dos sintomas ocorre de modo a evitar que as condições evoluam para a morte; por isso, Werciley destaca que é importante se alertar quanto à prevenção. “É preciso estar atento, sobretudo neste período chuvoso, para evitar o acúmulo de água parada. Deixar garrafas abertas viradas para o chão, limpar calhas, observar pneus parados, pratos de planta e toda aquela série de medidas”, enumera.

Ainda de acordo com o médico, para avaliar a suspeita de infecção por alguma das doenças transmitidas pelo mosquito Aedes, a recomendação é observar sintomas como febre, dor no corpo, fadiga, dor nas juntas, dor nos olhos ou até conjuntivite, para o caso de zika. Quem tiver sido acometido pela febre amarela também pode ter insuficiências hepáticas ou renais, além de manifestações hemorrágicas e cansaço.


Memória
Iniciativa semelhante
 (Minervino Júnior/CB/DA.Press)  
O governador Ibaneis Rocha iniciou o primeiro ano de governo com a assinatura de um decreto, declarando estado de emergência na saúde do Distrito Federal. A medida visava agilizar a contratação de profissionais e facilitar a manutenção de equipamentos. A divulgação do documento ocorreu durante o lançamento do programa SOS DF Saúde, conjunto de iniciativas emergenciais com foco no setor e carro-chefe do primeiro ano da gestão. Em maio, em face do aumento expressivo dos casos de dengue no DF, o Executivo anunciou a instalação temporária de tendas de hidratação para pacientes com suspeita da doença, em seis Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs). O projeto fez parte da força-tarefa anunciada pelo governo para controlar a epidemia da doença.



Fique ligado
Prevenção
» Evite o acúmulo de água parada. Mantenha as garrafas vazias com a boca virada para baixo e cheque pneus que estão sem uso pela presença de água no interior deles. Também deixe baldes, lixeiras, tonéis e caixas d’água bem tampados. Cubra com areia pratos e vasos de plantas e mantenha calhas limpas e ralos fechados.
 
Sintomas
» Ao menor sinal de febre, dor no corpo, fadiga associada a dor nas juntas, dor nos olhos e na cabeça, conjuntivite, mal-estar, manchas vermelhas pelo corpo e falta de apetite, procure a unidade de saúde mais próxima para avaliação de um médico.
 
Repouso e hidratação
» Em caso de diagnóstico positivo para doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, siga a recomendação médica e respeite o tempo de recuperação. Beber bastante água ajuda o organismo durante o tratamento.


Números de 2019

Dengue
 
 
47.393
casos prováveis 
(confirmados em laboratório)
 
 
62
mortes


Chicungunha
 
 
42
casos confirmados
 
 
1
morte


Zika
 
 
432
casos prováveis


Febre amarela
 
 
95
casos notificados
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sexta, 24 de janeiro de 2020

CORONAVÍRUS: PAÍS EM ALERTA

 

CORONAVÍRUS
 
País está em alerta 1
 
Ministério da Saúde instala comitê de monitoramento para agir em casos que se concretizarem, apesar de o risco ser considerado baixo. Cinco suspeitas, uma delas surgida no DF, foram afastadas

 

» MARIA EDUARDA CARDIM

Publicação: 24/01/2020 04:00

Croda (E, com o ministro interino João Gabbardo) explicou que os principais alvos do vírus são parentes de infectados e profissionais de saúde (Marcelo Camargo/Agencia Brasil)  

Croda (E, com o ministro interino João Gabbardo) explicou que os principais alvos do vírus são parentes de infectados e profissionais de saúde

 



O Ministério da Saúde instalou ontem o Centro de Operações de Emergência (COE) – Coronavírus para atuar em possíveis casos que surgirem no Brasil. O nível de alerta é 1, em uma escala de 1 a 3. De acordo com a pasta, a instalação do COE é vista como uma precaução, pois o comitê é ativado sempre que existe um evento de impacto na saúde pública. Recentemente, foi instalado para os casos de sarampo e também no rompimento da barragem em Brumadinho.

Para o secretário substituto de Vigilância em Saúde, Júlio Croda, a avaliação de risco de propagação hoje do agente biológico é baixa. “Não sabemos, até o momento, a forma de transmissão. Por enquanto, o relato que chegou ao Ministério da Saúde é que existe uma transmissão restrita em familiares (de infecctados) e profissionais de saúde”, ressaltou.

O ministério informou que acompanha os episódios de contaminação, que surgiu em Wuhan, na China, desde 31 de dezembro passado. “O comitê é ativado constantemente e existem diferentes níveis. O nível que estamos agora é inicial, de alerta, justamente para organizar o serviço de saúde”, afirmou Croda. A pasta voltou a reafirmar que não existe nenhum caso suspeito confirmado no Brasil.

A pasta, porém, confirmou que recebeu a notificação de cinco casos, tratados como suspeitos pelas secretarias estaduais, mas já descartados por não se enquadrarem nos critérios utilizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O primeiro aviso veio do Distrito Federal, em 18 de janeiro. Os demais alertas vieram de Minas, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo.

Segundo a organização, para ser considerada uma possibilidade de coronavírus, além de ter apresentado febre e/ou sintomas respiratórios (como tosse e dificuldade para respirar), o paciente precisa ter viajado para Wuhan ou ter realizado contato próximo com algum caso confirmado ou suspeito do vírus, nos últimos 14 dias antes do início dos sintomas. A cidade chinesa é a única área com transmissão ativa do agente.

“Até o momento, não existe nenhum caso suspeito de coronavírus no Brasil, mas nada impede que essa definição seja atualizada. Nossa recomendação para os gestores de saúde é de que leiam o boletim epidemiológico para saber como enquadrar os casos”, acrescentou Croda.


Brumadinho: água de rio continua imprópria
Quase um ano depois do rompimento da barragem de Brumadinho (MG), a Fundação SOS Mata Atlântica voltou a analisar a qualidade da água do Rio Paraopeba, atingido pela tragédia, no início de 2019. Segundo a pesquisa, os indicadores de qualidade revelaram que continua imprópria e sem condições de uso por todos os 356km de rio percorridos. O resultado, de acordo com os estudiosos, era esperado, mas há aspectos que chamaram atenção: em nove pontos de coleta, a água passou de ruim para péssima, na comparação com o levantamento feito em 2019, após o rompimento. A explicação é de que as chuvas na região trouxeram de volta os contaminantes dos rejeitos.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quinta, 23 de janeiro de 2020

REGINA DUARTE: ENTRAVE É A REMUNERAÇÃO

A atriz desembarcou ontem em Brasília para reunião com o presidente Jair Bolsonaro. Ela conheceu as estruturas da Secretaria Especial de Cultura, que deverá comandar caso passe do noivado para o casamento com o futuro chefe. Empossada, Regina Duarte poderá nomear 10 assessores. Disputa pelos cargos já começou. , Carolina Antunes/PR

Entrave é a remuneração
 
Demora de Regina Duarte em aceitar comando da Secretaria Especial de Cultura está relacionada à preocupação sobre salário e à estabilidade no cargo. Chegada da atriz a Brasília coincide com demissão do secretário adjunto da pasta, José Paulo Martins

 

» RODOLFO COSTA
» LUIZ CALCAGNO

Publicação: 23/01/2020 04:00

Em Brasília, Regina Duarte se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro e com ministros. Ela poderá nomear até 10 assessores (Marcos Correa/PR)  

Em Brasília, Regina Duarte se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro e com ministros. Ela poderá nomear até 10 assessores

 



O “noivado” da atriz Regina Duarte com o governo e a consequente espera para dar a palavra final antes de assumir a Secretaria Especial de Cultura têm nome e sobrenome: custo de vida. A rescisão do contrato com a TV Globo, da qual recebe até R$ 120 mil em carteira assinada — uma das poucas celetistas na emissora —, ainda não foi concluída, justamente porque ela avalia bônus e ônus de assumir o cargo, aponta um interlocutor. Na pasta, receberia cerca de R$ 17 mil, ou seja, 14,2% da remuneração paga pela empresa de comunicação. De toda forma, o governo mantém o otimismo de que a artista chefiará a política nacional cultural e crava sua “contratação”. Mas os desafios serão relevantes, caso ela aceite a função, a começar pela demissão anunciada do secretário adjunto, José Paulo Martins.

O Correio antecipou, na terça-feira, que a atriz confirmou ao Palácio do Planalto que assinaria a rescisão com a Globo, após a reunião com o presidente Jair Bolsonaro e o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos. Até ontem, contudo, isso não ocorreu.

O “sim” de Duarte está, dessa forma, mais dependente de questões financeiras do que de outros elementos. Interlocutores da TV Globo apontam que ela quer manter as portas abertas com a emissora, de modo a retomar o contrato caso não tenha vida longa no governo. Entretanto, o pedido é visto como difícil de ser atendido, dado o relacionamento entre o Executivo e a empresa. “Noivado é noivado. Vou continuar conversando, noivando”, declarou a atriz, ontem, no desembarque em Brasília.

É fato que Regina Duarte está empolgada com a ideia de assumir a pasta. Assim que chegou à capital, seguiu para o Planalto, onde entrou pela garagem — acesso concedido, normalmente, a ministros de Estado e presidentes de poderes —, às 13h, e permaneceu até as 15h10. Nesse período, conversou com Bolsonaro, Ramos, e com os ministros da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, e do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio. Depois disso, seguiu para o Bloco B da Esplanada dos Ministérios, das pastas do Meio Ambiente e da Cidadania. É onde fica a Secretaria Especial de Cultura, no quarto andar. Lá, se reuniu com técnicos. Ela terá direito a nomear 10 assessores. A disputa pelos cargos já começou.

Além das reuniões, o dia dela na cidade foi marcado por selfies.

Revés

A demissão de José Paulo Martins é um revés para Regina Duarte. Desde junho de 2016 ocupando postos de importância na secretaria, ele era o único que tinha o histórico de toda a pasta, dizem técnicos. Ou seja, eles acreditam que Martins poderia auxiliar a atriz na eventual gestão. Na secretaria, a exoneração foi vista como uma “limpeza” orquestrada pela ala ideológica, que sempre cobrou uma auditoria sobre a chamada “caixa-preta da Lei Rouanet”. Outros avaliam que ele foi escolhido como o bode expiatório na crise provocada pelo dramaturgo Roberto Alvim, exonerado na semana passada, após a repercussão do vídeo que ele publicou, no qual parafraseava o ideólogo nazista Joseph Goebbels. “Quando o Henrique (Pires, ex-secretário) saiu, ele ia também, mas ficou. Agora, o escolheram para apontar o dedo e achar um culpado pelo discurso nazista do Alvim”, ponderou um assessor.

O corte do número dois da secretaria ligou o alerta vermelho. Servidores de carreira estão tranquilos, mas os comissionados, não. Sobretudo os secretários e os presidentes das entidades indicados por Alvim. Alguns deles iniciaram movimentos de apoio claro e declarado a Regina Duarte, a fim de pleitear a permanência nos postos.

Parlamentares do PSL e do DEM estão se articulando para nomear o ex-secretário de Diversidade Cultural Gustavo Amaral como adjunto da atriz. Ex-administrador do Plano Piloto e servidor de carreira do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), ele é visto como alguém técnico capaz de suceder Martins.


"Noivado é noivado. Vou continuar conversando, noivando”
Regina Duarte, na chegada à capital federal
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quarta, 22 de janeiro de 2020

BLOCO DO SEU JÚLIO: TRADIÇÃO DO CARNAVAL DE PLANALTINA

 

BLOCO DO SEU JÚLIO

Tradição no carnaval de Planaltina
 
Considerado pelo SLU o mais limpo desde 2016 e eleito um dos três melhores grupos de 2019, o Bloco do Seu Júlio completa 11 anos de folia e está pronto para mais uma edição

 

» CAROLINE CINTRA

Publicação: 22/01/2020 04:00

Integrantes se preparam para reunir milhares de pessoas em 25 de fevereiro (Minervino Junior/CB/D.A Press - 8/3/19 )  

Integrantes se preparam para reunir milhares de pessoas em 25 de fevereiro

 

 
Quem conversa com o seu Júlio percebe, em poucos segundos, o amor dele pelo carnaval. Os olhos brilham, o sorriso é constante, e as lembranças emocionam. Aos 58 anos, o servidor público e professor de francês Júlio Paixão tem muitas histórias para contar sobre as folias. A tradição vem de família. Quando criança, ele se lembra de ir com o pai para os blocos de Macapá (AM), onde nasceu. As fantasias faziam parte da celebração. Ele se recorda de uma específica, o boneco Fofão. Em 1988, chegou ao Distrito Federal e foi morar em Planaltina. Ali, não tinha aquele tipo de festa. Para se divertir no período, ia para o Plano Piloto. Hoje, ele é o presidente de um dos blocos mais tradicionais da cidade e que leva o seu nome, Bloco do Seu Júlio.
 
Apesar da nomenclatura, ele afirma “o bloco é de todos”. Em 2019, reuniu mais de 30 mil pessoas na Vila Buritis, segundo a Polícia Militar. Neste ano, a programação muda de lugar e vai para o estacionamento do Restaurante Comunitário de Planaltina, no Setor Recreativo. Segundo os organizadores, devido ao sucesso, o espaço anterior não comportava mais a quantidade de foliões. A orientação foi dada pela Secretaria de Segurança Pública (SSP), para que a equipe tenha um controle maior das atividades.
 
O Bloco do Seu Júlio comemora 11 anos nesta edição do carnaval. E com uma realidade bem diferente da vivida em 2010. Na primeira vez em que foi à rua, participaram ele e oito amigos. No segundo ano, foram 200 pessoas presentes. Hoje, reúnem-se milhares de moradores da região e de outras cidades do Distrito Federal e do Entorno. “Planaltina precisava disso. É um carnaval da nossa comunidade”, diz Júlio.
 
Quinze diretores estão à frente do projeto. Além dos amigos e parceiros, ele conta com apoio da mulher, dos três filhos e de dois netos. Foi um trabalho de formiguinha. O primeiro abadá — roupa usada pelos carnavalescos — era uma blusa branca, pintada à mão com uma tinta de tecido e cortada com uma tesoura comum. E eram só duas unidades. “Agora, a gente vê sugestões na internet e passa para o restante do pessoal escolher. Como não temos o dinheiro para comprar, fazemos parceria com uma malharia e vendemos a camiseta”, conta Tereza Cristina Albuquerque, esposa do seu Júlio.


O grupo levou, no ano passado, o bronze no Troféu do Correio Braziliense, que premia os melhores blocos carnavalescos do DF ( Ed Alves/CB/D.A Press )  

O grupo levou, no ano passado, o bronze no Troféu do Correio Braziliense, que premia os melhores blocos carnavalescos do DF

 



 
O amarelo representa o bloco. Para dar um tom mais animado para os abadás, juntam-se as cores rosa, roxo e verde. O tema deste ano será uma homenagem ao professor Mário Castro. Muito prestigiado na região, foi um dos idealizadores da Academia Planaltinense de Letras (APL). “A gente escolhe três nomes e leva a uma votação. Ele foi o eleito. Gostamos de homenagear pessoas que estão vivas, para que elas presenciem o quanto são queridas por nós. Quando ele ouvir a marchinha, tenho certeza de que vai se emocionar”, afirma seu Júlio.
 
A canção será divulgada em 9 de fevereiro no É Seu Bar, na Vila Buritis, em Planaltina. Após a apresentação, haverá uma festa, com bingo e outras atividades para arrecadar dinheiro para o bloco, que sai toda terça-feira de carnaval. Neste ano, será em 25 de fevereiro.
 
Programação
 
“Um ambiente familiar”. Assim os organizadores definem o Bloco do Seu Júlio. Nas 10 edições anteriores, nunca houve registro de violência, e sempre pela manhã, das 9h às 12h, tem uma programação especial para a criançada. A partir das 14h, começa a apresentação das bandas convidadas. Entre elas, Juninho Show, Amanda Amaral, Tiago Mura e Juliano, Dj Mandykas e a Banda do Bloco, grupo oficial da folia. “Neste ano, ainda tem o palhaço Chokito e um grupo de Fit Dance. A organização começou em agosto do ano passado. Fomos atrás de parceiros e, acabando este carnaval, vamos começar os preparativos para o de 2021”, disse o vice-presidente do bloco e filho do seu Júlio, Juliano Albuquerque, 29.
 
Prêmios
 
Em 2019, o Bloco do Seu Júlio ganhou bronze no Troféu do Correio Braziliense, que premia os melhores blocos carnavalescos do DF. A votação ocorre todo ano por meio do site do jornal. A equipe lembra que não sabia da eleição e soube no dia em que o bloco estava na rua, em 5 de março. “Soubemos em cima do trio e anunciamos no microfone. Faltavam dois dias para o encerramento da votação. Ficamos surpresos, mas começamos a divulgar nas redes sociais e entre os moradores da cidade”, conta Juliano.
 
Quando foi informado da colocação, seu Júlio foi às lágrimas. “Lotamos o auditório do Correio, saímos na capa e tudo. A aceitação e o reconhecimento são grandes. Chorei igual criança. Tem gente vindo de longe e já tem um pessoal que está perguntando sobre o bloco, todos ansiosos para pular o carnaval”, destaca o presidente.
 
Além disso, é considerado o bloco de carnaval mais limpo do DF dos últimos quatro anos. O reconhecimento é feito pelo Serviço de Limpeza Urbana (SLU). A autarquia lança a campanha Bloco Brasília Limpa para estimular foliões e organizadores a se empenharem em recolher os resíduos sólidos produzidos durante as festividades. Os vencedores ganham um certificado.


30 mil
 
Quantidade de foliões que foram para a rua em 2019 com o Bloco do Seu Júlio
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense terça, 21 de janeiro de 2020

REFRIGÉRIO PARA O CALOR: SOMBRA E ÁGUA FRESCA
 
Sombra e água fresca
 
Parque Nacional de Brasília e Orla do Lago Paranoá são opções para os brasilienses amenizarem o calor

 

» Cibele Moreira

Publicação: 21/01/2020 04:00

 (Mariane Silva/Esp. CB/D.A Press)  
 
O verão chegou, e o clima quente e abafado predomina no Distrito Federal. Mesmo com a previsão de pancadas de chuva em pontos isolados, o calor aparece em boa parte do tempo. Para aliviar a sensação térmica, muitos brasilienses aproveitam a beira do Lago Paranoá ou se refrescam em piscinas naturais e cachoeiras. Na última semana, o Parque Nacional de Brasília, popularmente conhecido como Água Mineral, teve lotação máxima todos os dias, com público de 2 mil pessoas. A administração chegou a abrir mais cedo, às 7h, por conta da demanda de visitantes que faziam fila na entrada. O valor para acessar o local é de R$ 14. Pessoas com mais de 60 anos e crianças com 12 anos incompletos não pagam.
 
A psicóloga Ariadne Borges, 35 anos, e o marido dela, Carlos Borges, 38, aproveitaram o calor para dar um mergulho nas piscinas da Água Mineral, na última sexta-feira. “Gostamos do contato com a natureza que o parque oferece. Não costumamos fazer com muita frequência, mas é sempre bom ter essa saída”, contou Ariadne. Os dois chegaram por volta das 9h e trabalhariam no período da tarde. “Decidimos fazer algo diferente e estamos aqui”, disse Carlos, que é servidor público.
 
Mesmo com a previsão do tempo indicando possibilidade de chuva, o auxiliar administrativo Adeildo Manoel Rosa, 61, levou a família para curtir o dia no Parque Nacional, também na sexta. “Tinha um bom tempo que não vínhamos para cá, mas está muito quente e resolvemos aproveitar a piscina”, relatou ele, que estava acompanhado da esposa, da filha e de duas netas. Para garantir um lugar na sombra, a aposentada Elza Araújo de Souza, 86, chegou ao parque às 7h. “Gosto muito daqui. Estou com um pouco de dor, mas aproveitando o dia com a minha filha e a neta”, contou.


A família de Adeildo; o casal Ariadne e Carlos; e Elza e a filha aproveitaram as piscinas naturais da Água Mineral (Mariane Silva/Esp. CB/D.A Press)  

A família de Adeildo; o casal Ariadne e Carlos; e Elza e a filha aproveitaram as piscinas naturais da Água Mineral

 

 


 (Mariane Silva/Esp. CB/D.A Press)  

 (Mariane Silva/Esp. CB/D.A Press)  


De acordo com o meteorologista Olívio Bahia, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o clima no Distrito Federal deve continuar instável, com dias quentes e abafados e possibilidade de chuva principalmente no período da tarde e à noite. “Estamos em pleno verão, os meses de janeiro e fevereiro são tipicamente chuvosos. Em alguns dias, podemos ter sol, mas a instabilidade deve prevalecer”, explica. Segundo Bahia, não dá para descartar as chances de precipitação com fortes rajadas de ventos e raios. “Os brasilienses devem se atentar muito ao clima, principalmente quem planeja ir a cachoeiras; as cabeças d’água (aumento rápido e repentino do nível de um rio) são muito comuns nesse período”, alerta. O meteorologista ainda afirma que, apesar das pancadas de chuvas, a sensação de calor deve persistir.
 
As moradoras de Sobradinho Adriana Moreira, 38, e Marilene Rodrigues Moreira, 70, escolheram a prainha do Lago Norte para se refrescarem. “A gente gosta muito de vir aqui, principalmente para trazer minha mãe, que é cadeirante. Em Brasília, não tem muitos lugares acessíveis, e aqui acaba sendo o nosso ponto para fugir do calor”, explicou Adriana, que estava acompanhada também da filha e da neta. O local oferece rampa de acessibilidade, ponto de encontro comunitário, parquinho infantil, pedalinho e prancha de stand up paddle.
 
Além da prainha do Lago Norte, outros pontos banháveis da orla do Lago Paranoá são nas proximidades da Ponte JK e do Pontão, na Prainha do Lago Sul e no Deck Norte. Existe ainda a opção de lazer no Deck Sul, sem acesso à água. Há também os parques ecológicos (veja Opções de parques no DF).
 
Com tantas opções de lazer ao ar livre e a forte instabilidade do clima, o Corpo de Bombeiros Militar orienta que sejam tomados cuidados para evitar acidentes durante o lazer. Entre as orientações repassadas, estão: ter cuidado com as atividades aquáticas; não entrar na água após ingerir bebida alcoólica; sair da água se começar a chover; e evitar área de cachoeiras se o tempo estiver fechado.


Cuidados
 
» Se - nadar, evite lugares muito profundos

» Não - pratique atividades aquáticas após consumir bebida alcoólica

» Procure - lugares com salva-vidas. No Lago Paranoá, os pontos atendidos pelo Corpo de Bombeiros são: Ponte JK, Deck Norte, Prainhas 
do Lago Sul e Lago Norte e Ermida Dom Bosco

» Se - fizer trilha, vá com um guia

» Evite - cachoeiras e trilhas em dia de chuva

» Em - caso de chuva, evite ficar embaixo de árvore e em campo aberto

» Em  - caso de qualquer emergência, ligue para 193
 
Fonte: Corpo de Bombeiros Militar do DF


Previsão para hoje
» De acordo com o Inmet, a previsão é de céu nublado com possibilidade de chuvas mais intensas à tarde. O Sol poderá aparecer encoberto por nuvens. As temperaturas vão de 17°C a 30°C. A umidade relativa do ar varia de 95% a 40%.


Opções de parques no DF

» Ermida  - Dom Bosco
» Parque  - Ecológico das Copaíbas
» Parque  - Ecológico da Península Sul
» Parque  - Ecológico do Tororó (com cachoeira)
» Parque  - Ecológico dos Pequizeiros (com cachoeira)
» Parque  - Ecológico Olhos D’Água
» Parque  - Ecológico Canela da Ema
» Parque  - da Cidade
» Parque  - das Garças
» Parque  - do Morro do Careca
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense segunda, 20 de janeiro de 2020

BRASÍLIA NO ROTEIRO TURÍSTICO

 

Brasília no roteiro turístico
 
Com um aeroporto ligado a todos os estados, a capital foi reconhecida como o 4º destino mais procurado por brasileiros em 2019, atrás apenas de grandes centros, como Londres, Rio de Janeiro e São Paulo

 

AGATHA GONZAGA

Publicação: 20/01/2020 04:00

Professora de inglês, Samia Pinheiro levou a amiga piauiense Sanatyelle Alves e familiares para conhecer os pontos turísticos do Distrito Federal (Agatha Gonzaga/Esp. CB/D.A Press)  

Professora de inglês, Samia Pinheiro levou a amiga piauiense Sanatyelle Alves e familiares para conhecer os pontos turísticos do Distrito Federal

 



Estrategicamente localizada no coração do país, Brasília serve de ponto de encontro para gente vinda de todos os cantos desde a época de sua construção. Hoje, com um aeroporto diretamente conectado aos 26 estados e com voos para diversas partes do mundo, isso se intensificou. Tanto que, segundo levantamento do site Google, a capital foi o 4° destino mais procurado por brasileiros em 2019. Os primeiros lugares ficaram com Londres, Rio de Janeiro e São Paulo, respectivamente.

Na avaliação da turismóloga Manuela Picanço, o crescimento do turismo se dá pela localização privilegiada e também pela capacidade de atender a vários segmentos. “Brasília é uma cidade que tem espaços para eventos, desde corporativos até musicais, como shows. A rede hoteleira é bem completa, então, conseguimos atender desde o turismo de eventos, até o cívico, o de lazer, o religioso, o arquitetônico e o político, além de outros. Aqui ainda temos uma malha aérea que facilita o deslocamento e não encarece as passagens”, afirma.

Somente em janeiro, conforme a Inframerica, concessionária que administra o Aeroporto Internacional de Brasília, mais de 1,5 milhão de pessoas devem passar pelo terminal. Para atender à demanda do mês, as companhias aéreas incluíram 554 voos extras.

Em 2019, a média de ocupação do setor hoteleiro foi de 58,7%. A receita com as diárias de hotel movimentou mais de R$ 272 milhões. Para este ano, a expectativa da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) é de que a ocupação média da rede hoteleira seja 8% maior, comparado com os dois anos anteriores.

Ainda segundo a Inframerica, cerca de 42% dos voos que passam pelo terminal correspondem a conexões com outros estados. Foi em uma dessas paradas que a contadora Sanatyelle Alves, 30 anos, conheceu a capital. “Eu estava indo para outra cidade e passei umas horas em conexão aqui. Aproveitei para passear”, lembra. Agora, a moradora de Teresina (PI) voltou à cidade para visitar uma amiga. “Desta vez, fiz um passeio na Esplanada, na Torre de TV e no Pontão do Lago Sul, que é um dos meus lugares favoritos.”    

A amiga é a moradora de Santa Maria e professora de inglês Samia Pinheiro, 36. Para ela, acompanhar as visitas em um tour pela cidade é uma diversão que não enjoa. Porém, Samia acredita que um ônibus para fazer o circuito turístico desde o aeroporto ou da Rodoviária do Plano Piloto facilitaria a vida do turista que só tem algumas horas na capital.

“Acho que aqui o turista fica meio perdido quando desce no aeroporto. Por ser a capital do país, acho que era necessário mais investimento em infraestrutura. Quando o pessoal vem a Brasília, se não tiver um amigo, fica difícil circular pela cidade sem carro. Acho que falta um ônibus de turismo, como aqueles hop on hop off que você pode descer e subir em qualquer ponto turístico. Isso seria bem bacana aqui em Brasília, já que nós temos esse turismo de horas”, pontua.

De acordo com a secretária de Turismo, Vanessa Mendonça, a pasta tem investido em medidas para manter o turista por mais tempo na capital. “As principais atrações podem ser visitadas de janeiro a janeiro, e nosso clima também permite explorar diferentes tipos de lazer”, afirma. “Vamos seguir com o trabalho de estruturar e valorizar o turismo na cidade, buscando parcerias para tornar a celebração das seis décadas da cidade ainda mais especial”, acrescenta, referindo-se ao aniversário de Brasília, em 21 de abril.

A chefe da pasta ainda ressalta que, em 2019, a secretaria conseguiu reativar os Centros de Atendimento ao Turista (CATs) dos Setores Hoteleiros Sul e Norte, da Rodoviária Interestadual e da Torre Digital, que estavam fechados, além de revitalizar o CAT da Casa de Chá, localizado na Praça dos Três Poderes, “um dos pontos mais visitados da cidade”, diz


Sanatyelle Alves, moradora de Teresina (PI):  

Sanatyelle Alves, moradora de Teresina (PI): "Fiz um passeio na Esplanada, na Torre de TV e no Pontão do Lago Sul, que é um dos meus lugares favoritos"

 



Samia Pinheiro, moradora de Santa Maria:  

Samia Pinheiro, moradora de Santa Maria: "Por ser a capital do país, acho que era necessário mais investimento em infraestrutura. Quando o pessoal vem a Brasília, se não tiver um amigo, fica difícil circular pela cidade"

 



Vanessa Mendonça, secretária de Turismo:  

Vanessa Mendonça, secretária de Turismo: "Vamos seguir com o trabalho de estruturar e valorizar o turismo na cidade, buscando parcerias para tornar a celebração das seis décadas da cidade ainda mais especial"

 




Segurança
Para o estudante e morador do Itapoã Samuel Nascimento, 15 anos, o que falta para atrair mais turistas a capital é segurança. Ele e a família costumavam frequentar a Torre de TV aos fins de semana quando criança, mas as programações ficaram mais escassas com o passar do tempo. “A gente vinha, ficava no gramado soltando pipa. Acho que programas de dia são até tranquilos, mas acredito que as pessoas temem vir por receio de serem assaltadas”, opina.

Na semana passada, um casal de turistas estrangeiros teve passaportes, celulares, dinheiro e cartões roubados durante um assalto no Setor Hoteleiro Sul. A moça, uma peruana de 24 anos, e o rapaz, um mexicano de 22 anos, foram abordados por quatro homens quando passavam próximo a um bar na Quadra 2. O casal foi agredido e recebeu coronhadas com uma arma de fogo. O caso é investigado pela 5ª Delegacia de Polícia (Área central).

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, a Polícia Militar do DF possui um Batalhão Turístico em operação que atua no policiamento dos pontos mais visitados da capital. O objetivo é prevenir e reprimir ilícitos contra visitantes. Os policiais também estão capacitados para prestar orientações a turistas e cooperar com demais apoios, proporcionando maior segurança aos que visitam a capital federal.

Ainda segundo a pasta, as regiões administrativas também contam com efetivo diário de viaturas e motocicletas, que podem ser acionadas pelo turista, a qualquer momento. O efetivo é intensificado em períodos festivos e de férias.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense domingo, 19 de janeiro de 2020

VIAGEM NO TEMPO PELAS RUAS DE PIRENÓPOLIS

 

Viagem no tempo pelas ruas de Pirenópolis
 
 
Reduto de brasilienses, a histórica cidade goiana recebeu ontem o 13º desfile de carros de boi. Procissão, que encanta moradores e turistas, presta homenagem a São Sebastião, padroeiro dos agricultores

 

Ed Alves

Publicação: 19/01/2020 04:00

 (Ed Alves/CB/D.A Press)  


 (Ed Alves/CB/D.A Press)  


 (Ed Alves/CB/D.A Press)  


 (Ed Alves/CB/D.A Press)  


Pelas ruas de pedras históricas da charmosa e aconchegante cidade de Pirenópolis (GO), diversos carros de boi passaram, ontem, em direção à Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário, na 13ª edição do desfile em louvor à festa centenária de São Sebastião.

Com bênção do Padre Augusto César, vários produtores rurais da região participaram da festa. Reunidos na sede do Sindicato Rural de Pirenópolis, eles partiram em direção à matriz, erguida em 1727, passando pela Igreja Nosso Senhor do Bonfim, de 1759.

A população acompanhou o desfile ao lado dos turistas com alegria, curiosidade e devoção. “Participo em agradecimento ao santo protetor dos agricultores e moradores da roça e me sinto orgulhoso por minha neta caminhar e participar comigo”, comenta o fazendeiro Roberto Machado, 70 anos. Com a neta Julia Lopes Machado, 14, ele saiu da fazenda Babilônia, que fica a 30 quilômetros do município, para acompanhar a procissão.

A festa em louvor a São Sebastião, protetor contra epidemias, guerras e fome, acontece de norte a sul do país e, em cada localidade, apresenta peculiaridades e crenças singulares. Em Pirenópolis, cidade que é reduto de brasilienses e cuja arquitetura é marcada pelos casarões, a procissão dos carros de boi oferece uma viagem no tempo. Até meados do século passado, eles eram muito utilizados na lida das fazendas para transportar as colheitas, e São Sebastião é o santo devotado, principalmente, pelos fazendeiros e produtores locais.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sábado, 18 de janeiro de 2020

NAZISMO CABOCLO DERRUBA SECRETÁRIO

 

 

Nazismo caboclo derruba secretário
 
Roberto Alvim encerra a trajetória de 72 dias à frente da Cultura com um vídeo inspirado em Joseph Goebbels. Apesar do cenário montado e da trilha sonora, diretor de teatro negou referência ao regime de Hitler. Atriz Regina Duarte é convidada para o cargo
 
No último dos seus 72 dias à frente da Cultura do governo Bolsonaro, Roberto Alvim mostrou num vídeo institucional que trabalhava alinhado a ideologias extremistas. Alvim emulou o alemão Joseph Goebbels, um fanático responsável pela máquina de propaganda de Hitler. Com reproduções textuais da liderança nazista e com a ópera de Wagner ao fundo, o secretário disse almejar uma cultura nacional. O vídeo teve reação imediata: lideranças políticas, entidades da sociedade civil, artistas e a comunidade judaica criticaram o governo. Apesar do apreço ao assessor, demonstrado em entrevistas, Bolsonaro demitiu Roberto Alvim. %u201CUm pronunciamento infeliz, ainda que tenha se desculpado, tornou insustentável a sua permanência%u201D, disse, em nota, o presidente., Fotos: Reprodução/internet
 
 

 

LUIZ CALCAGNO
AUGUSTO FERNANDES
renato souza
Rodolfo costa

Publicação: 18/01/2020 04:00

O diretor de teatro Roberto Alvim ocupou o cargo de secretário especial da Cultura do governo Bolsonaro por 72 dias. O dramaturgo deixou o governo ontem, após interpretar o ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels em um vídeo institucional, ao anunciar, no exercício da função, um programa do governo voltado para premiar artistas. Alvim não só usou um trecho do discurso adaptado às suas falas, como reproduziu o semblante sisudo do homem acusado de crimes contra a humanidade. Com uma Cruz de Lorena à direita, ainda usou como trilha sonora a ópera Lohengrin, de Richard Wagner, compositor favorito de Adolf Hitler.
 
A emulação mais evidente a Goebbels no vídeo ocorre em uma fala do ex-secretário, quando Alvim afirma que “a arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional, será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional, e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo — ou então não será nada”. No livro Joseph Goebbels: Uma biografia, do historiador alemão Peter Longerich, consta o discurso do ministro da propaganda: “A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande pathos (potência emocional) e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”.
 
Convite a atriz
Alvim tentou se defender. Disse que se tratou de uma “coincidência com uma frase do discurso de Goebbels”. “Não o farei e jamais o faria. Foi, como eu disse, uma coincidência retórica, mas a frase em si é perfeita: heroísmo e aspiração do povo é o que queremos ver na arte nacional”, argumentou. 
 
Pouco depois, porém, Bolsonaro exonerou Alvim. “Comunico o desligamento de Roberto Alvim da Secretaria de Cultura do Governo. Um pronunciamento infeliz, ainda que tenha se desculpado, tornou insustentável a sua permanência. Reitero nosso repúdio às ideologias totalitárias e genocidas, bem como qualquer tipo de ilação às mesmas. Manifestamos também nosso total e irrestrito apoio à comunidade judaica, da qual somos amigos e compartilhamos valores em comum”, disse, em nota.
 
Horas após a exoneração de Alvim, a atriz Regina Duarte, de 72 anos, foi convidada pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir a Secretaria Especial de Cultura. Ela pediu tempo para conversar com a família e deve dar uma resposta hoje. 
 
Logo após a exoneração de Alvim, parlamentares correram até o Executivo para indicar um substituto. “Mais de 40 políticos entraram em contato para sugerir alguém”, informou ao Correio uma fonte do alto escalão do governo federal. 
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sexta, 17 de janeiro de 2020

CRUZEIRO: MEMÓRIA AFETIVA

 

Memória afetiva
 
Moradores do Cruzeiro relembram momentos de diversão na Rua do Lazer e no projeto Canta Gavião, realizados entre os anos de 1980 e 1990. População sonha em reviver iniciativas em 2020

 

» Cibele Moreira

Publicação: 17/01/2020 04:00

 

"Costumava ir quando era criança. Tinha jogos e brincadeiras. Adorava ficar lá" Rafael Souza, professor de história

 



 

"A gente queria um espaço para expor nossas ideias, e as crianças precisavam de alguma atividade de lazer" Robson Silva, precursor do projeto

 

 
A década de 1980 é relembrada com carinho pelos moradores do Cruzeiro. O período que marcou a cena cultural de Brasília também foi o auge das ocupações de entretenimento na região. Um dos pontos de encontro era a Rua do Lazer, realizada aos finais de semana. A iniciativa, proposta pelos próprios habitantes, contava com atividades lúdicas para as crianças, além de espaço para a prática de esporte. Na parte da tarde, um palco era montado, e artistas locais se apresentavam no projeto Canta Gavião.
 
O aposentado Francisco de Assis Aquino, 61 anos, lembra da época com carinho. “Foi um projeto muito bom e enriquecedor. A população se uniu para promover as atividades de lazer com jogos nas quadras, pintura de rosto para as crianças e ações regionalizadas”, conta Francisco, que sente falta do projeto. “O movimento se iniciou no final da década de 1970 e seguiu como algo mais frequente até os anos de 1990. Depois, as pessoas começaram a se mudar, o projeto foi ficando cada vez mais espaçado. A gente tem um desejo de retomar, mas ainda falta recurso para isso”, relata. De acordo com ele, a Rua do Lazer ocorria de forma itinerante no Cruzeiro Novo, Cruzeiro Velho e na Octogonal.
 
Nascido e criado no Cruzeiro, Rafael Fernandes de Souza, 42, tem uma memória afetiva da Rua do Lazer. “Eu costumava ir quando era criança. Lembro que eles colocavam um rolo de papel para a gente desenhar. Tinha jogos e brincadeiras também, eu adorava ficar lá”, recorda. Inspirado nos momentos da infância e da mente criativa de quando era criança, ele criou uma série de livros de super-herói, um deles premiado. “Eu gostava muito de desenhar e, aos 8 anos de idade, nasceu o personagem Dinâmico R, o super-herói do Cruzeiro, que fui amadurecendo a ideia depois”, explica o professor de história.
 
Moradora da região há mais de 40 anos, Josy Almeida, 53, conta que as atividades eram uma forma que a comunidade tinha de abraçar a cidade. “É algo muito típico da época. Não tínhamos muitas opções de lazer, então criamos uma. Todo mundo conhecia todo mundo, a gente não tinha medo de ficar na rua. Era seguro”, relata a educadora. Para ela, foi a partir do projeto que se criou uma conscientização entre os jovens sobre uma convivência coletiva.

 (F Gualberto/CB/D.A Press - 17/4/88)  


 (Canta Gavião - Aruc/Divulgação)  


 (Aruc/Divulgação)  


 (Canta Gavião - Aruc/Divulgação)  


 (Canta Gavião - Aruc/Divulgação)  


Origem
 
Precursor do projeto Canta Gavião e da Rua do Lazer, Robson Silva, 61, explica que a iniciativa surgiu de forma espontânea entre os jovens da época. “Tudo começou em frente à igreja Nossa Senhora das Dores. A gente queria um espaço para expor nossas ideias, e as crianças precisavam de alguma atividade de lazer que pudesse entreter no período da manhã, enquanto ocorria a missa. À tarde, aconteciam os shows com bandas e artistas da cidade”, conta Robson.
 
De acordo com ele, grandes nomes da música nacional passaram pelo palco do Canta Gavião. “Entre os artistas temos nomes como Cássia Eller, que era moradora do Cruzeiro, e o Renato Russo com a banda Aborto Elétrico.” O Canta Gavião era um dos pontos altos da cidade com uma diversidade cultural muito grande. A proposta cresceu tanto que se transformou no departamento cultural da Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro (Aruc).
 
Além da Rua do Lazer e do Canta Gavião, o Cruzeiro contava com o Cine Clube Gavião — uma parceria da Aruc com o Serviço Social do Comércio (Sesc) que promovia sessões de cinema ao ar livre. “O movimento passou a ser da comunidade com um leque ampliado de opções culturais. No ano passado, tivemos duas edições especiais, e a nossa ideia é retomar o projeto este ano”, ressalta Robson.
 
O desejo para que essa iniciativa retorne é unânime entre aqueles que vivenciaram o período de ouro no Cruzeiro. “Temos buscado apoio para que isso ocorra. A ideia é ter pelo menos quatro edições agora no ano de 2020”, expõe Rafael, que, desde 2007, integra a equipe do departamento cultural da Aruc.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quinta, 16 de janeiro de 2020

FÉRIAS: FESTA MUSICAL PARA AS CRIANÇAS

 

Festa musical para as crianças
 
Evento ocupa o Centro Cultural Banco do Brasil, de hoje até o dia 26, com boa programação de shows e oficinas

 

Irlam Rocha Lima

Publicação: 16/01/2020 04:00

O grupo brasiliense Udigrudi apresenta o espetáculo O cano, premiado internacionalmente (Mila Petrilo/Divulgação)  

O grupo brasiliense Udigrudi apresenta o espetáculo O cano, premiado internacionalmente

 




A trupo da Farra dos Brinquedos:  multiplicidade e o sentido lúdico  (Helena Cooper/Divulgação)  

A trupo da Farra dos Brinquedos: multiplicidade e o sentido lúdico

 

 
 
 
Contemplar a diversidade de propostas estético-musicais e de estímulo à sensibilidade e à inteligência das crianças. Essta é a proposta básica do Musicar — Festival de Música Infantil que, em sua terceira edição, ocupa de hoje a 26 próximo o Centro Cultural Banco de Brasil, com extensa programação, que inclui shows, oficinas, vivências musicais e instalações sonoras.
 
Entre as atrações artísticas do evento estão os brasilienses Circo Teatro Udi Grudi, os grupos musicais Pé de Cerrado, Concerto de Bolso e a trupe musical-performática Mambembrincante. Outros destaques são o cantor e compositor maranhense Tião Carvalho; a Farra dos Brinquedos (Rio de Janeiro), os oficineiros Mundo Aflora (São Paulo) e a cantora e instrumentista Irene Bertachini, de Belo Horizonte, que apresentará o espetáculo Cantigas para acordar o rio, inspirado na obra do escritor mato-grossense Manoel de Barros.
 
Idealizadora e curadora do Musicar, a musicista e educadora carioca Bebel Nicioli, entusiasma-se ao falar do festival. “O grande mote desse encontro artístico é a música, que tem importância fundamental na formação do ser humano. Vemos na criança um público crítico, sensível e inteligente, que, num festival como esse, potencializa a relação com a música, já existente, como espectador de shows e ao participar de oficinas e interagir com as outras atividades da programação”.
 
Tião Carvalho: cantor, compositor e arte-educador (João Gold/Divulgação)  

Tião Carvalho: cantor, compositor e arte-educador

 

 
 
O Musicar, segundo a curadora, foi estruturado para apresentar às crianças uma amostra da multiplicidade e diversidade de linguagens, repertórios e vivências, “de forma que possam se envolver criativamente na brincadeira, no prazer da livre expressão, escutando, cantando, criando, tocando, dançando, percurtindo o corpo, com uma música em constante processo de invenção”.
 
Nicioli conta que a ideia de criar o Musicar surgiu em 2014, mas só pôde viabilizar o projeto três anos depois, com a acolhida dada pelo Centro Cultural Banco do Brasil.“Realizamos a primeira e a segunda edição em 2017 e 2018 em Brasília. No ano passado, não houve possibilidade promovê-lo, mas voltamos agora com entusiasmo redobrado”, comemora. “Além de fazê-lo aqui na capital, o levaremos a Belo Horizonte, no próximo mês; e ao Rio de Janeiro e São Paulo no segundo semestre”, acrescenta.
 
Ao participar do Musicar pela primeira vez, a trupe do Udi Grudi celebra 20 anos de O cano, espetáculo clássico do grupo, que o levou a ser premiado em 2000 no festival Herald Angel, em Edimburgo, na Escócia. “No festival, vamos fazer O cano em vários momentos. Embora já o tenhamos apresentado incontáveis vezes aqui na cidade, em vários locais — recentemente esteve em cartaz no Espaço Cultural Renato Russo —, continua despertando muito interesse do público, especialmente das crianças”, diz Luciano Porto, um dos integrantes do grupo.
 
Pé do Cerrado é uma das atrações brasilienses no festival (Tony Winston/Agência Brasília)  

Pé do Cerrado é uma das atrações brasilienses no festival

 

 
Instalação sonora
 
Mas quem for ao CCBB poderá apreciar e interagir com outro trabalho do o Udi Grudi. Trata-se de uma instalação sonora, preparada especificamente para o Musicar. “São 10 objetos sonoros que ao serem tocados e explorados pelas crianças e seus familiares emitirão algum som da natureza, como o de chuva, trovão ou o farfalhar de folhas secas”, explica Porto. “Tudo foi feito com materiais descartáveis e alternativos”, complementa.
 
Tião Carvalho, reverenciado multiartista maranhense, radicado há mais de 30 anos em São Paulo, se tornou conhecido nacionalmente ao ter a canção Nós, gravada por Cássia Eller no CD e DVD Acústico MTV, em 2001. “Com essa gravação, a Cássia contribuiu para alavancar minha trajetória artística. Depois disso, nos tornamos amigos e sempre nos encontrávamos, quando ela vinha fazer show em São Paulo”, lembra.
 
O Mambembrincante é uma trupe brasiliense performática (Alexandre C. Mota/Aldeia)  

O Mambembrincante é uma trupe brasiliense performática

 

 
Um dos destaques do Musicar, ele adianta o que vai mostrar no festival. “Sou cantor, compositor mas, há algum tempo, tenho trabalhado mais com a educação e formação das crianças, na Academia Musical que mantenho no Moro do Querosene, no bairro do Butantã, na capital paulista. Trago para esse festival mo CCBB o trabalho que desenvolvo com elementos da cultura popular brasileira, indo além, do conhecimento que acumulei e trouxe do Maranhão, representado por importantes manifestações como o bumba-meu-boi, tambor de crioula e dança do cacuriá”, destaca.
 
Para Tião Carvalho, ser convidado para tomar parte no Musicar é um reconhecimento ao trabalho realizado por ele. “Sem querer ser pretensioso, faço é algo voltado para o fortalecimento da nossa cultura popular, que cresce paralelamente à grande mídia, e que precisa ser mostrada cada vez mais”. No festival, acompanhado pelo filho Noel Carvalho (musicista com formação acadêmica pela Universidade Federal de Goiás), ele estará à frente da oficina AS Roda Viva do Brincar, amanhã, às 10h, na Tenda Musical.
 
 
 
 
Programação
 
Instalação Sonora
• Com o Circo Udigrudi (DF). Local: Jardim do CCBB Brasília. Data: de 16 a 19 – quinta-feira a domingo. e 21 a 26 de janeiro – terça-feira a domingo. Horário das| 10h às 18h. Entrada gratuita
 
 
Show Mundo aflora
• Apresentação musical com o grupo Mundo Aflora (SP). Local  Teatro I. Data | 16 de janeiro – quinta-feira. Horário | 16h. Entrada | R$ 30,00 (inteira) R$ 15,00 (meia)
 
 
Oficina Brincando Mundo Aflora
• Com o grupo Mundo Aflora (SP). Local | Tenda Musicar. Data:  17 de janeiro – sexta-feira. Horário | 10h. Entrada gratuita.
 
 
O cano
• Apresentação musical com o grupo Udigrudi (DF). Local:| Teatro I. Data: 17 de janeiro - sexta. Horário: 16h. Entrada  R$ 30,00 (inteira) R$ 15,00 (meia)
 
 
Oficina Inventando Coisas Sonoras
• Com o grupo Udigrudi (DF). Local | Tenda Musicar. Data | 18 de janeiro - sábado. Horário: 10h. Entrada gratuita.
 
 
Mambembrincante
• Apresentação musical do grupo Mambembrincante (DF). Local:  Teatro I. Data | 18 de janeiro - sábado. Horário:  16h. Entrada | R$ 30,00 (inteira) R$ 15,00 (meia)
 
 
A Roda Viva do Brincar
• Oficina com Tião Carvalho (MA). Local:  Tenda Musicar. Data : 19 de janeiro - domingo. Horário: 10h. Entrada  gratuita.
 
 
Barroco para crianças
• Com o grupo Concerto de Bolso (DF). Local : Teatro I. Data:  19 de janeiro - domingo. Horário:| 16h. Entrada: R$ 30,00 (inteira) R$ 15,00 (meia)
 
 
Festa dos bichos
• Oficina com o grupo Panderolê (DF). Local | Tenda Musicar. Data : 21 de janeiro – terça-feira. Horário:  10h.Entrada:  Gratuita
 
 
Desenho, som e movimento
• Vivência com Yasmim e Jadde Flores (SP). Local | Pavilhão. Data:  de 21 a 26 de janeiro – de terça-feira a domingo. Horário | das 10h às 18h. Entrada:  gratuita
 
 
Firulas interativas
• Oficina com o grupo A excêntrica Família Firula (DF). Local:  Tenda Musicar. Data | 22 de janeiro – quarta-feira. Horário: 10h. Entrada: gratuita
 
 
Cantigas de brincar
• Oficina com Irene Bertachini. Local | Tenda Musicar. Data | 23 de janeiro – quinta-feira. Horário: 10h. Entrada: gratuita
 
 
Cantigas para acordar o Rio
• Apresentação musical com Irene Bertachini. Local:  Teatro I. Data: 23 de janeiro – quinta-feira. Horário: 16h. Entrada | R$ 30,00 (inteira) R$ 15,00 (meia)
 
 
Oficina Badulaque
• Com o Duo Badulaque (SP). Local | Tenda Musicar. Data: 24 de janeiro – sexta-feira. Horário | 10h. Entrada | Gratuita
 
 
O dinossauro e o dragão
• Apresentação musical com o Duo Badulaque (SP). Local | Teatro I. Data: 24 de janeiro – sexta-feira. Horário | 16h. Entrada:  R$ 30,00 (inteira) 
R$ 15,00 (meia)
 
 
Brincadeiras e Cantigas das Antigas
• Oficina com o grupo Pé de Cerrado (DF). Local | Tenda Musicar. Data:  25 de janeiro – sábado. Horário: 10h. Entrada:  gratuita.
 
 
Os Brincantes
• Apresentaçãomusical com o grupo Pé de Cerrado (DF). Local | Teatro I. Data | 25 de janeiro – sábado. Horário | 16h. Entrada | R$ 30,00 (inteira) R$ 15,00 (meia)
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quarta, 15 de janeiro de 2020

SEMANA QUENTE AFETA COTIDIANO DOS BRASILIENSES

 

 

Semana quente afeta cotidiano dos brasilienses

 

ANA CLARA AVENDAÑO*

Publicação: 15/01/2020 04:00

Vilma sofre com o transporte público em dias mais quentes (Ana Clara Avendaño/Esp. CB/D.A Press)  

Vilma sofre com o transporte público em dias mais quentes

 




Jeferson de Souza quase dobrou as vendas com o calor  

Jeferson de Souza quase dobrou as vendas com o calor

 



Crispim Nunes não sentiu diferença no lucro mensal  

Crispim Nunes não sentiu diferença no lucro mensal

 





O calor tem castigado os brasilienses nesta semana. Depois de registrar a tarde mais quente do ano na segunda-feira, com 33,3°C, o Distrito Federal teve temperatura máxima de 31ºC ontem. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), os termômetros devem continuar com números altos hoje, com máxima prevista de 32ºC e umidade variando de 40% a 90%. Há previsão de pancadas de chuva para amanhã, mas o volume de precipitação deve ser maior apenas no fim de semana.

A temperatura influencia de modo direto a vida dos moradores da capital. Moradora de São Sebastião, Vilma Oliveira, 48 anos, trabalha como empregada doméstica em um condomínio do Jardim botânico e conta que o Sol quente a faz chegar no serviço indisposta. “Eu faço uma longa caminhada até a casa onde trabalho e, em dias de muito calor, fica ainda mais difícil. Sinto mal-estar e muito cansaço, além de ser mais desgastante para pegar ônibus”, afirma.

Para quem é motorista de aplicativo, o clima quente também é um problema. Daniel Maia, 30, sente os efeitos do calor no bolso. “Devido às altas temperaturas, nós, motoristas, temos mais gastos, porque precisamos andar com o ar-condicionado sempre ligado e, consequentemente, gastamos muito combustível. Além do mais, não é bom para saúde, por conta das mudanças de temperatura de ar em relação ao interior do carro com o lado de fora”, pontua.

Vendas

Há, contudo, quem lucre com o calor. O vendedor ambulante Jeferson de Souza, 31, relata que suas vendas aumentaram consideravelmente devido ao aumento da temperatura no início da semana. Em dias de Sol escaldante, Jeferson chega a vender nove engradados de água. Com o tempo mais fresco, o número chega, no máximo a cinco. Independentemente das temperaturas diárias, o vendedor sempre procura se proteger dos raios solares. “Uso protetor solar, óculos escuros e boné. Estes itens fazem parte do uniforme do vendedor ambulante”, brinca.

Mesmo sendo vendedor de sorvete, Crispim Nunes, 65, avalia que a temperatura não influencia de maneira significativa suas vendas. “O consumo de picolé aumenta em dias muito quentes, mas os lucros de modo geral não mudam muito. As pessoas não estão comprando mais como antes, elas reclamam que os valores estão muito altos.”

O flanelinha Manoel Silva, 74, por sua vez, prefere os dias chuvoso. Ele trabalha há 43 anos no estacionamento em frente ao piso superior da Rodoviária do Plano Piloto e nota os ganhos aumentarem com a chuva: “Quando está chovendo, o lucro é maior, porque as pessoas demoram mais a entrar no carro por conta do guarda-chuva”.

*Estagiária sob supervisão de Fernando Jordão
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense terça, 14 de janeiro de 2020

ANJOS PELA EDUCAÇÃO

 

Anjos pela educação
 
 
Projeto social arrecada material escolar para doar a crianças de baixa renda das áreas rurais do DF. Os anjalhaços ajudam quase 200 estudantes

 

» CAROLINE CINTRA

Publicação: 14/01/2020 04:00

Voluntárias com família beneficiada pela iniciativa (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Voluntárias com família beneficiada pela iniciativa

 

 
“Eu me aposentei da Secretaria de Educação, mas continuo atuando na vida de crianças. É tudo por amor a elas. Não por profissão, mas por dedicação. Voluntariado é um ato de amor.” A fala é da professora Yara Alves, 52 anos, à frente da Associação Anjalhaços há um ano. O grupo completou 10 anos em outubro passado e tem mais de 200 voluntários que ajudam famílias de baixa renda das áreas rurais do Distrito Federal. A cada época do ano, uma campanha é lançada. Em janeiro, o projeto Quem Gosta de Estudar Vai com a Anjalhaços Passear arrecada materiais escolares que serão distribuídos para meninos e meninas carentes.
 
O projeto ajuda cerca de 200 crianças. Até o ano passado, as doações eram feitas às que moram no bairro Baia dos Carroceiros, em Santa Maria, e aos alunos da Escola Darci Ribeiro, no Novo Gama (GO). Desta vez, o intuito é contemplar moradores do bairro Porto Rico, também em Santa Maria. “É uma comunidade muito carente. As crianças ficam brincando no esgoto. A situação é realmente triste. Nossa vontade, neste ano, é alcançar essas crianças. Fazemos algumas ações lá em outras épocas, agora, queremos completar as doações com material escolar”, disse Yara.
 
Os voluntários devem doar os utensílios até 20 de fevereiro. As entregas ocorrerão em três datas, antes da volta às aulas. A primeira será em 26 de fevereiro. As demais ainda serão definidas. Além da entrega, as crianças recebem aplicação de flúor no dia e participam de outras atividades desenvolvidas pelos integrantes da associação. Mas o trabalho não termina aí. A equipe acompanha o ano letivo, e os alunos que se destacam vão para um passeio no fim do semestre. Em junho, será no Parque da Cidade; em dezembro, ao cinema.
 
“Esse é um dos grandes diferenciais. A gente não só doa o material, mas acompanha o desenvolvimento do aluno e da família. A gente vê o progresso da criança. As que vão para o passeio são indicadas pelos professores. Ficamos muito tristes quando uma não pode ir, mas a gente incentiva a ser melhor no próximo semestre, e eles se esforçam. Conseguimos ver o resultado”, conta Yara.
 
A campanha começou quando os voluntários perceberam que, nas comunidades rurais, as crianças faltavam aula com frequência. Um dos motivos é a vergonha por não ter material escolar. “Isso não pode acontecer. Enquanto a gente puder cuidar da educação, cuidaremos. A gente tem que olhar com carinho para o futuro das crianças com o mesmo carinho que olhamos para nossos filhos. Nosso sonho é que elas possam realizar seus sonhos. Dar um material escolar hoje é investir no futuro”, afirma a presidente da Anjalhaços.
 
As doações podem ser feitas por depósito bancário ou entrega do kit completo, com caderno, lápis, borracha, tesoura, entre outros objetos (veja Para ajudar).
 
Desempenho escolar
 
Antes de conhecer o projeto, a estudante de psicologia Liliane Areda de Morais, 40 anos, aproveitava promoções e comprava os materiais básicos para os dois filhos, Marcos Paulo Areda de Morais, 16, e João Luiz Areda de Morais, 9. Hoje, com o apoio dos Anjalhaços, percebe que o desenvolvimento dos meninos na escola melhorou. “Eles vão para a escola mais felizes e animados e se sentem iguais aos outros. Sem os materiais, a autoestima fica baixa e interfere nos estudos”, diz.
 
Para João Luiz, até as notas melhoraram. Apaixonado por matemática, ele faz questão de estar em todas as aulas e fazer as atividades para se sair bem na disciplina. “O material que ganhei no ano passado ajudou muito. E quero muito receber neste ano de novo. Eu consegui até tirar nota máxima na prova. É bom ter todo o material”, conta o menino.
 
Mãe de três filhos em idade escolar, a dona de casa Lucineide Maria dos Santos, 39, afirma que nunca teve condições financeiras para proporcionar o básico para os filhos. Com as doações, percebeu que os meninos tomaram gosto pela escola. “Ajuda muito, porque eles ganharam coisas que nunca tiveram antes, como mochila, caderno. Não tenho condições. Só Deus para retribuir tudo o que fazem por nós.”
 
Outras arrecadações
 
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) também está arrecadando artigos escolares. Até 10 de fevereiro, o órgão recebe materiais novos ou usados, em bom estado, para doar a estudantes de baixa renda da rede pública do DF. As doações podem ser entregues na sede da instituição, no Eixo Monumental, ou nas promotorias das cidades (veja Onde Doar — MPDFT).
 
São arrecadados lápis de cor, giz de cera, canetinha, caderno, borracha, apontador, mochila, estojo, entre outros materiais. Além disso, podem ser doados livros de literatura — os didáticos não, pois são oferecidos pela Secretaria de Saúde —, material esportivo e brinquedos educativos.
 
Esta é a 10ª edição da campanha, que, em 2019, beneficiou 528 alunos de quatro escolas rurais que atendem crianças de 4 a 12 anos. Para a promotoria de Justiça de Defesa da Educação Márcia da Rocha, o projeto é importante para a população exercer a cidadania de forma diferente. “As pessoas percebem o quanto podemos fazer pela educação em uma sociedade solidária”, disse.
 
A Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Distrito Federal (OAB-DF), por meio da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança, Adolescente e Juventude, promove a campanha Adote um Estudante. O intuito é ajudar instituições que acolhem crianças em idade escolar e sem condições de comprar material. “Dentro da nossa responsabilidade social e de defesa da cidadania, buscamos arrecadar um kit básico de material escolar para incentivar crianças a frequentarem a escola e enxergarem um bom futuro”, pontua o presidente da comissão, Charles Bicca.
 
Para ajudar, o doador deve entregar um kit com lápis preto, caixa de lápis de cor, borracha, apontador, caixa de giz e caneta hidrocor, caderno com ou sem pauta, cola e régua. Podem ser entregues os objetos avulsos também, na sede da OAB-DF, até 13 de março (veja Adote um estudante).


200

Quantidade de crianças que recebem a ajuda da Anjalhaços


Onde doar — MPDFT

Até 10 de fevereiro
Das 12h às 19h, de segunda a sexta-feira
Mais informações: (61) 3348-9029 e (61) 3348-9009
 
Promotoria de Águas Claras
Taguatinga Shopping, QS 1, Lote 40, Torre B, 3° andar, Pistão Sul, Taguatinga-DF
 
Promotoria de Brazlândia
Fórum Desembargador Márcio Ribeiro, Área Especial 4, Rua 10, Lote 4, Setor Tradicional, Brazlândia-DF
 
Promotoria de Ceilândia
QNM 11, Lotes 1 e 2, Centro Urbano, Ceilândia-DF
 
Promotoria do Gama
Quadra 1, Lotes 860, 880 e 900, Setor Industrial Leste, Gama-DF
 
Promotoria do Paranoá
Quadra 4, Conjunto B, Lote 1, Grandes Áreas, Paranoá-DF
 
Promotoria de Planaltina
Área Especial Norte 10-A, Setor Administrativo, Planaltina-DF
 
Promotoria do Recanto das Emas
Quadra 2, Conjunto 1, Lote 3, Setor Urbano, Recanto das Emas-DF
 
Promotoria do Riacho Fundo
SMAS (Setor de Múltiplas Atividades Sul), Trecho 4, Lotes 6/8, Salas 109,110 e 11, Brasília-DF (ao lado do Fórum Desembargador José Júlio Leal Fagundes)
 
Promotoria de Samambaia
Quadra 302, Conjunto 1, Lote 2, Samambaia-DF
 
Promotoria de Santa Maria
QR 211, Conjunto A, Lote 14, Santa Maria-DF
 
Promotoria de São Sebastião
Centro de Múltiplas Atividades, Lote 3, São Sebastião-DF
 
Promotoria de Sobradinho
Quadra Central, Bloco 7, Edifício Sylvia, Térreo, 2° e 3° pavimentos, Sobradinho-DF
 
Promotoria de Taguatinga
Setor C Norte, Área Especial para Clínias, Lotes 14/15, Taguatinga Norte, Taguatinga-DF
 
Sede do MPDFT
Zona Cívico-Administrativa, Ed. Sede do MPDFT, Lote 2


Para ajudar
 
Depósito bancário
Banco do Brasil
Agência: 1239-4
Conta corrente: 56168-1
Associação Anjalhaços
Ou pelo telefone (61) 99977-4952 e 
WhatsApp (61) 98134-6588 — Falar com Yara


Adote um estudante
Até 13 de março
Onde entregar: sede da OAB-DF (SEPN 516, Bloco B, Lote 7, Asa Norte)
Mais informações: eventos@oabdf.com
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense segunda, 13 de janeiro de 2020

SAÚDE É O QUE INTERESSA!

 

Saúde é o que interessa!
 
É hora de cumprir algumas metas para 2020, e o projeto do corpo de verão está na lista de muitos brasilienses. A procura por atividades ao ar livre aumenta nesta época do ano

 

AGATHA GONZAGA

Publicação: 13/01/2020 04:00

A família Martins pedala unida durante o ano todo: foco também na dieta saudável (Ed Alves/CB/D.A Press)  

A família Martins pedala unida durante o ano todo: foco também na dieta saudável

 

 
Garrafinha de água, tênis e disposição. Esses são três itens essenciais para quem se arrependeu de exagerar nas ceias de fim de ano e começou 2020 focado no projeto corpo-verão. Os quilinhos a mais incomodaram a estudante Gabrielle Araújo, de 19 anos,  que logo chamou o namorado e a irmã para a meta da nova vida fitness. “Não tenho costume de correr no Parque da Cidade, mas estou com um plano para 2020 para perder uns quilos”, afirmou.
 
Nos meses de início do ano, é comum querer mudar os hábitos alimentares e seguir um estilo de vida mais saudável. O calor do verão e o tempo livre das férias são convidativos para deixar o corpo à mostra e ir em busca de mais atividades ao ar livre. Mas as academias também são opções do brasiliense, como destaca a nutricionista esportiva e fisiculturista Débora Prata. Segundo ela, este período também lota consultórios médicos e academias em busca de um emagrecimento rápido.
 
“Esse público vai se dispersando ao longo do ano. São pessoas que querem um resultado a curto prazo e isso é possível porque, com hábitos alimentares saudáveis, praticando atividade física, aumentando o consumo de água e reduzindo bebidas alcoólicas, dá pra conseguir o corpo desejado”, relata.
 
Mas a nutricionista alerta: o que vem fácil pode ir fácil, e se os hábitos físicos e alimentares não continuarem ao longo do ano, o resultado final pode ser reverso. “Os meus pacientes até se assustam com o resultado, porque há muita retenção de líquido e é preciso pôr o funcionamento do metabolismo em dia. Mas, para manter o corpo alcançado, é necessário tornar os novos hábitos em algo cotidiano ou para todo o ano. Caso contrário, acaba ocorrendo o famoso efeito sanfona, e a pessoa pode terminar com peso maior até do qual iniciou o projeto verão”, alerta.

[FOTO2]

Quem está com esse dever de casa em dia é a família do estudante João Henrique Martins,16 anos. A principal atividade passada de pai para filho é andar de bicicleta, um hábito quase que diário na vida do jovem. “Eu aprendi desde cedo com meu pai a andar de bicicleta e é algo que faço com maior facilidade no período de férias, mas, mesmo durante o ano letivo, tento andar todo fim de semana. A sensação é muito boa porque, além de praticar uma atividade física, é uma diversão que tenho com meus amigos. Preferimos pedalar a passar a tarde um na casa do outro”, conta.
 
Como explica a nutricionista, apenas o exercício físico não é suficiente para alcançar os resultados. A alimentação saudável aliada a uma rotina de treinos é fundamental para a manutenção do organismo. Além da intensa queima de calorias, as atividades físicas aumentam a produção de endorfina no corpo, o hormônio do bem-estar.
 
Essa lição também é prática na família de João Henrique. Segundo o pai, o juiz Carlos Alberto Martins, 54 anos, a educação alimentar dos filhos também está em dia. “O meu filho mais novo (Pedro, de 10 anos) acabou de aprender a pedalar e hoje era quem estava mais feliz em vir para o Parque da Cidade. Ele é o que mais come besteira, mas agora a atividade física serve como um estímulo para se alimentar melhor. Estou sempre dizendo a eles que é preciso comer antes e depois das atividades”, relata.
 
Sedentarismo
 
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o sedentarismo é considerado o quarto maior fator de risco de mortes no mundo. No Brasil, a última Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2013 apontou, à época, que 46% da população não praticavam atividades físicas em nível suficiente. De acordo com a OMS, o nível recomendado é de, pelo menos, 150 minutos semanais de intensidade leve ou moderada ou de, pelo menos, 75 minutos de atividade física de intensidade vigorosa.
 
A estudante Rafaelle Araújo, 16, aproveitou a iniciativa da irmã Gabrielle Araújo e começou o ano dando adeus ao sedentarismo. “Eu tenho asma e há uns dois anos estava sem praticar nenhum exercício. A Gabrielle falou que estava com esse plano e me chamou para vir correr no parque. Agora estamos tentando fazer atividades todos os dias, mesmo em casa, na praça próxima, estamos sempre fazendo algo, jogando bola. A intenção é não desistir”, afirma.
 
O namorado de Gabrielle, Carlos Eduardo Xavier, 18, também garante que o projeto verão vai virar projeto do ano todo. “Eu pratico judô e acredito que o foco aqui vai me ajudar bastante a criar mais condicionamento físico, mais resistência. Estamos animados, aqui ninguém vai desistir, não!”, diz.
 
Exercícios em academias também são indicados para quem quer perder uns quilinhos (Carlos Vieira/Esp.CB/D.A Press - 12/7/11)  

Exercícios em academias também são indicados para quem quer perder uns quilinhos

 

 
Quatro dicas para começar a prática de exercícios:
 
Encontre um local adequado para praticar as atividades físicas, como parques, praças e similares;
 
Comece com uma atividade que não exige alto preparo físico;
 
Praticar atividade física perto de casa não exigindo grandes deslocamentos, o que ajuda na manutenção desse hábito;
 
Procure atividades realizadas por várias pessoas, inclusive do seu círculo de amizade, o que poderá ser um estímulo a mais.
 
 
 
Quatro dicas de bem-estar:
 
O ideal é que sejam feitas de três a seis refeições diárias;
 
Reduzir o consumo de açúcares, carboidratos, e processados; diminuir o uso de bebidas alcoólicas;
 
Aumentar a ingestão cotidiana de água, que deve respeitar o cálculo de 35ml multiplicado pelo peso do paciente;
 
Oito horas de sono de boa qualidade.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense domingo, 12 de janeiro de 2020

DISTRITO FEDERAL: NÚMERO DE HOMICÍDIOS É O MENOR EM 25 ANOS

 

Número de homicídios é o menor desde 1995
 
Taxa por 100 mil habitantes também é a mais baixa desde 1995. No entanto, feminicídio é desafio, com crescimento de quase 18% em relação a 2018. Governo atribui dados positivos à melhora no uso da inteligência e do efetivo policial

 

ALEXANDRE DE PAULA
JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 12/01/2020 04:00

 
 
 
A quantidade de vítimas de homicídio no Distrito Federal em 2019 foi a menor em 25 anos e o índice de mortes por esse tipo de crime para cada 100 mil habitantes foi o mais baixo dos últimos 35 (veja Redução). Os números, a que o Correio teve acesso em primeira mão, são do balanço consolidado pela Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF). Os dados devem ser divulgados nesta semana. A estatística positiva, no entanto, não se repete em relação aos feminicídios, que cresceram quase 18% em relação a 2018 (33 casos contra 28).
 
Em 2019, 415 pessoas morreram assassinadas na capital do país e, no ano anterior, 459 — redução de 9,5%. A análise dos dados da década revela que a tendência de queda mantém-se desde 2013. Naquele ano, houve 721 casos registrados, de acordo com os números da SSP. Em 2012, o pior período dos últimos 10 anos, a quantidade de vítimas chegou a 820.
 
A taxa de homicídios a cada 100 mil habitantes do DF ficou em 13% no ano passado. Em 2018, o índice era de 14,7%. Assim como ocorreu com o total de vítimas, o percentual segue em queda desde 2013 (25,8%). Em 2012, registrou-se a pior taxa dos últimos 10 anos, de 31%. Nas tentativas de homicídio, houve aumento de 0,5% entre 2018 e 2019: os casos sem sucesso saltaram de 797 para 801.
 
A metodologia usada para contabilizar os assassinatos em Brasília mudou em 2000. Até então, os registros eram do número de ocorrências, não da quantidade total de vítimas. Por exemplo: Se houvesse cinco pessoas mortas após uma única ocorrência, o balanço registraria apenas uma morte. Por isso, na avaliação de técnicos da pasta de Segurança Pública, o recorde de 2019 seria ainda maior se o método atual fosse considerado em relação aos números anteriores ao Século 21.
 
Consultor na área, George Felipe Dantas considera que há múltiplas causas que se refletiram na queda dos índices. Entre elas estariam a inversão da pirâmide etária da população; a diminuição do processo de urbanização súbita e desordenada; a atuação das forças de segurança; e a organização das áreas públicas. “A desordem induz ao crime na medida em que esse descuido com o espaço urbano dá impressão aos potenciais criminosos de que o Estado está ausente. E tem havido uma série de iniciativas da segurança pública nessa área”, avalia.
 
George acrescenta outros elementos com peso importante em relação aos tipos de crimes que subiram — tentativas de feminicídio, homicídio e latrocínio. “Os fenômenos de crimes que acontecem em ambiente intralar, que estão associados à dependência química e à delinquência de crianças e jovens, precisam de um tipo de tratamento para contenção que transcende a esfera da segurança pública. São (questões) bastante difíceis de controlar”, comenta o consultor.
 
Integração
 
O secretário de Segurança do DF, Anderson Torres, acredita que os números positivos são resultado da integração nas ações das corporações e na “racionalização do emprego de efetivo” com ações prévias de inteligência. “Atingir as expressivas marcas de redução da criminalidade no DF, em 2019, só foi possível inicialmente pela total autonomia de trabalho que nos foi dada”, acrescenta o chefe da pasta.
 
Torres afirma que a divulgação de resultados positivos terá impacto na sensação de segurança da população brasiliense. “É muito difícil competir com o valor-notícia do crime. Este sempre tem destaque quando ocorre, o que já não acontece com a prevenção. Por isso, nosso esforço continuado em comunicar, cada vez mais à população, as conquistas da Secretaria de Segurança Pública”, argumenta.
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense sábado, 11 de janeiro de 2020

QUALIFICAR PARA SE DESTACAR

 

Qualificar para se destacar
 
Diante de um cenário de 313 mil desempregados, brasilienses recorrem a cursos presenciais, aulas e novas experiências em busca de uma colocação

 

Thais Umbelino

Publicação: 11/01/2020 04:00

Eliana Feitosa é doutoranda na UnB:  

Eliana Feitosa é doutoranda na UnB: "Hoje, um doutor não tem tanta facilidade no mercado de trabalho"

 



“O conhecimento para mim é como endorfina, o que dá objetivo e enriquecimento para minha vida. Minha meta sempre foi me tornar uma profissional melhor.” A frase é da doutoranda Eliana Feitosa, 44 anos, que iniciou os estudos em 2018 na Universidade de Brasília (UnB) com o objetivo de se aperfeiçoar no mercado de trabalho. “Quanto mais você estuda, mais sente necessidade em se destacar”, afirma.

O primeiro investimento na carreira de Eliana foi feito 2002. “Comecei dando aula para educação infantil pelo magistério e, depois que o governo passou a cobrar nível superior, decidi cursar geografia. Percebi que, se não me capacitasse no mercado, ficaria para trás”, conta. A moradora de Taguatinga se formou em 2005, e passou em um concurso na Prefeitura de Formosa (GO). Após a conquista, a profissional continuou dedicada aos estudos. Completou uma pós-graduação, atuou na Secretaria de Educação do DF como temporária e trabalhou como concursada na Embrapa, onde ficou até 2018. No período, entrou para o mestrado na UnB, em 2016.

Atualmente, Eliana trabalha como professora da rede pública e do curso de sociologia para ensino da UnB, além de ser instrutora do curso de formação de oficiais da PMDF. “Os dias atuais estão diferentes. Quando eu era mais nova, a formação no ensino médio era suficiente. Hoje, um doutor não tem tanta facilidade no mercado de trabalho. Por isso, busco ser uma profissional cada vez melhor.”

Segundo o professor Bruno Vinícius Ramos Fernandes, do Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais da UnB, o aumento do nível de educação é proporcional a uma melhor colocação no mercado de trabalho. “Qualquer curso que o cidadão acrescente ao currículo vai trazer uma vantagem competitiva a ele”, explica. Com um cenário de 313 mil pessoas desempregadas no Distrito Federal, segundo último dado da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED-DF), o especialista aconselha a realização de cursos técnicos e especializados. “Aqueles que querem garantir um emprego mais estável devem evitar formações muito amplas”, diz. “Hoje, além de faculdades públicas e privadas que oferecem cursos, existem diversas plataformas on-line com cursos ministrados até por professores de universidades do exterior”, acrescenta.

Para Bruno, investir em profissões voltadas à economia tecnológica, como tecnologia da informação, é uma boa estratégia. “Este mercado está ascendendo cada vez mais em Brasília”, observa. “Conhecimentos em finanças e gestão também são diferenciais. Hoje, as empresas querem um profissional mais completo, que possa ter maior mobilidade e ajudar em outras áreas que não somente a que foi contratado.”


Cursos ajudaram Iris Lima a realizar o sonho de ter um estúdio de pilates (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Cursos ajudaram Iris Lima a realizar o sonho de ter um estúdio de pilates

 




Sonho
Há 10 anos no mercado de trabalho, a fisioterapeuta Iris Lima, 38, perdeu as contas de quanto investiu na carreira, “seja com cursos on-lines ou presenciais”. Desde a época da faculdade, iniciada em 2010, a profissional utiliza plataformas para se qualificar. “Fiz cursos na área de gestão financeira, de atendimento e atenção ao paciente, de investimento, autoconhecimento e desenvolvimento pessoal”, enumera. “No início, como não tinha tanta experiência, passei a investir em mim. Minha meta sempre foi abrir um estúdio de pilates. Por isso, assim que me formei, comecei uma especialização na área”, conta.

A fim de se preparar para o objetivo, a profissional passou a se qualificar na área de reabilitação de quadril e coluna, além de fazer aulas em administração financeira. “Antes de abrir minha empresa, queria saber como conciliar meu salário com os gastos no empreendimento”, justifica. “Para aprender a vender meu produto, também mergulhei em conhecimentos sobre vendas e telemarketing.”

O sonho foi realizado em fevereiro de 2019. “Com o tempo, vi que, quanto mais eu investia em mim, maior era o retorno”, pontua. No ano passado, Iris chegou a fazer cursos fora de Brasília. “Em abril, fui para São Paulo aprender sobre quiropraxia instrumental, que é uma técnica de ajuste articular feita com um instrumento chamado impulse. Consegui pagá-lo vendendo pipocas gourmet”, revela. “Quando há foco, sempre é possível alcançar nossos objetivos”, reflete.

Motivação
Renan Ferreira decidiu não se acomodar, mesmo depois de um ano desempregado. A motivação para obter novos conhecimentos trouxe oportunidades para o técnico de edificações. Ao observar o mercado de trabalho, ele percebeu uma carência de profissionais qualificados na função de bombeiro hidráulico: “Trabalhava informalmente na área e percebi que, com especialização, há maior chance de crescimento”. Um familiar o alertou para uma vaga no Senai. “Comecei o curso em agosto de 2018 e me formo em agosto deste ano”, diz. O investimento valeu a pena, pois Renan passou a ter maior segurança e técnica nos procedimentos que a profissão exige. “Aprendizado nunca é demais. Futuramente, pretendo conhecer mais as áreas de marcenaria e de energia fotovoltaica”, planeja.




Três perguntas para

Stèphanie Brasil, Life & Executive Coach pela Sociedade Latino-Americana de Coaching (SLAC)

Como se manter motivado no ambiente de trabalho e na busca por emprego?
Acho importante sempre manter em mente qual o motivo e a razão para a pessoa atuar na área em que trabalha ou saber o que busca. E, como consequência, que as ações e crenças estejam alinhadas com o essa busca.

Qual a chave para a realização profissional?
A chave para a realização pessoal e profissional é o autoconhecimento, que é adquirido por meio de uma observação profunda de si. A partir daí, é possível ter um direcionamento para a mudança. A transformação é um processo que vem de mais consciência de como penso, de quem eu sou e do que sinto como humano. O problema é quando a pessoa coloca o foco apenas no profissional. Você pode ser bem-sucedido, mas, se não trabalhar o lado emocional, nunca vai desfrutar das coisas que gosta.

Como as pessoas podem melhorar como profissionais?
O primeiro passo é identificar o que se quer melhorar: quero me atualizar em um determinado assunto? Especializar-me em algo? O segundo é buscar apoio e referências, por exemplo, em livros e cursos. O terceiro passo é o plano de ação, ou seja, tomar atitude de fato.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sexta, 10 de janeiro de 2020

JACARÉ-TINGA NO LAGO PARANOÁ

 

Jacaré aparece no Deck
 
Animal foi flagrado ontem no Lago Paranoá. Biólogo diz que espécie é comum no local e que, apesar de dificilmente atacar um ser humano, é melhor não se aproximar

 

HELEN LEITE
SARAH PERES

Publicação: 10/01/2020 04:00

Jacaré-tinga foi flagrado ontem nadando no Lago Sul (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Jacaré-tinga foi flagrado ontem nadando no Lago Sul

 

O brasiliense que procura o Lago Paranoá para se refrescar no calor ou para praticar esportes deve saber que dividirá espaço com os “moradores” locais, como capivaras, tartarugas e pássaro-teteu. Mas, na manhã de ontem, um habitante chamou a atenção de quem passava por ali. Um jacaré-tinga foi flagrado em meio à água, próximo ao Deck Sul, com um peixe na boca.
O réptil é a espécie mais comum no Distrito Federal, pode chegar a 2,5 metros de comprimento e se alimenta de peixes, pássaros e mamíferos. O animal tem hábitos noturnos e costuma colocar de 14 a 40 ovos a cada ano. Apesar de o jacaré impor medo, o biólogo Roberto Cabral Borges destacou que ele só atacaria caso se sentisse ameaçado. “Não se deve aproximar ou tentar capturá-los, porque isso aciona o instinto de defesa do animal. Inclusive, não estamos no radar de presas dos jacarés. Por isso, dificilmente o animal nos atacaria. Pelo contrário, caso houvesse um encontro, o réptil iria se afastar. As pessoas não precisam ficar nervosas ou demonstrar preocupação durante um encontro com o réptil”, explicou.
 
De acordo com o Batalhão Ambiental da Polícia Militar, não há registros de ataques do animal em Brasília. Ainda, caso um banhista aviste o réptil, não é necessário acionar a corporação, pois o Lago Paranoá é o habitat dos jacarés, como esclareceu o major Souza Júnior. “Nesse caso, não é necessário resgate, a não ser que ele esteja ferido ou possa oferecer risco a alguém. Mas é importante destacar que não se deve alimentar o animal de forma alguma, assim como tocá-lo ou se aproximar. Isso é tanto para a segurança do bicho quanto da pessoa”, salientou.
 
Além do jacaré-tinga, outra espécie que aparece no Lago Paranoá é a de-papo-amarelo. Mas ambas são inofensivas. Para o biólogo Roberto Cabral, os brasilienses precisam respeitar o espaço desses animais. “O que mais ocorre em Brasília é que os moradores da área querem estar próximos à natureza, mas de uma forma seletiva. O desejo é de conviver com a beleza cênica, mas não com os bichos que moram ali. Por exemplo, com a tirada das cercas das invasões às margens do lago, houve reclamações, porque, às vezes, as capivaras aparecem nos ‘quintais’ dessas pessoas. Sendo que nós somos os convidados, não as espécies que estão no habitat delas”, frisou o especialista.
 
Roberto Cabral acrescentou que os brasilienses não precisam ter medo de conviver com os animais do cerrado como um todo, porque, “aqui na América do Sul, os humanos passaram a conviver com os bichos após as espécies delimitarem os grupos de presas”. “Isso é diferente na África, por exemplo, onde os humanos se desenvolveram com os animais do continente. Portanto, ali, não se anda em uma savana desacompanhado e, sobretudo, à noite. São ambientes diferentes. Claro que pode ocorrer um ataque por aqui, mas isso seria a exceção, não a regra.”
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quinta, 09 de janeiro de 2020

PLANTAR PARA O FUTURO

 

Plantar para o futuro
 
Capixaba que chegou à capital em busca de trabalho foi o responsável pelo plantio, em 1962, da famosa árvore cujas raízes se espalham pela comercial da 405/406 Norte. Cinquenta e sete anos depois, ele se emociona com a altura da planta e se orgulha de sua trajetória

 

» Thais Umbelino

Publicação: 09/01/2020 04:00

 (Minervino Junior/CB/D.A Press)  
 
Brasília é conhecida pelas áreas verdes e pela quantidade de árvores. Algumas delas são famosas e têm quase a mesma idade que a capital, como uma que está localizada entre as comerciais da 405 e 406 Norte. A planta da espécie fícus é conhecida entre os motoristas, que precisam desviar da estrutura larga, com troncos fortes e raízes visíveis. O que poucos sabem é que o monumento vivo foi plantado em novembro de 1962, por um candango vindo do Espírito Santo.

“Eu fico olhando para ela e admirando. Nunca imaginei a árvore ficar deste tamanho”, conta Argeu Pelanda, 84 anos. A decisão do plantio, segundo ele, teve como base um aprendizado da infância. “Por onde tivesse um lugar na minha vida que eu conseguisse plantar alguma coisa, eu plantava. Quando eu vejo um lote vazio, eu planto. Aprendi com meu pai. Um dia, ele me explicou que, quando ele tinha nascido, havia abacate no mundo, porque alguém tinha plantado. A gente planta para o futuro. Aquilo serviu de exemplo para mim.”

Argeu saiu do interior do Espírito Santo e veio para Brasília em 1958 em busca de trabalho. Os conhecimentos adquiridos com o pai o ajudaram nos primeiros anos na capital. Ele fez de tudo um pouco: montou mesas, caixões, fez portais, montou máquinas, subiu casas, fez carroceria de caminhões e... plantou árvores. À época, quando perguntado se sabia fazer alguma coisa, ele logo respondia: “Se a gente combinar, eu faço, eu me adapto”.

O candango morou em diversas regiões do Distrito Federal, entre elas, Sobradinho, Núcleo Bandeirante e Guará. Mas foi na Asa Norte, na 406, que ele resolveu deixar um legado para as gerações futuras. “Eu morava com um casal que praticamente tinha me adotado como filho. A dona da casa tinha dois jarros grandes, cada um com uma árvore. Mas a planta estava pegando no teto e caía muita folha. Então, ela me pediu para tirá-las dos jarros”, relata. Com um enxadão, Argeu plantou as fícus na quadra. Uma embaixo do bloco, próximo ao local onde hoje funciona o Sebinho, e a outra perto de um antigo ponto de ônibus. “Naquela época, era tudo mato, não tinha nada. Quando fui plantar, me falaram que não iriam construir na área”, lembra.

Muita coisa aconteceu depois de 57 anos. Argeu nunca imaginou que a árvore ficaria tão grande. A pedido do Correio, o aposentado voltou para visitar as plantas que antigamente eram pequenas e cabiam dentro de um apartamento. O semeador observa, de todos os ângulos, cada detalhe — galhos, troncos largos e raízes visíveis. Por fim, exclama: “Impressionante o tamanho que ficaram”.

Coragem
 
Argeu Pelanda era o único filho homem entre seis irmãs. Começou a trabalhar ainda pequeno, aos 9 anos. Certo dia, aos 19, decidiu buscar outro meio de trabalho e se mudou para Colatina (ES), cidade próxima à capital capixaba, Vitória, para mexer com máquinas. Em uma das visitas à família, ele conheceu Brasília por meio das telonas.

“Para vê-los (a família), eu tinha que parar em Vitória, porque naquela época o meio de transporte era apenas trem. Eu chegava à cidade à noite e depois tinha que esperar para seguir a viagem no dia seguinte. Nesse intervalo, decidi ir ao cinema. Antes do filme, passou uma propaganda de Brasília, mostrando o início da cidade. Eu pensei assim: ‘Se estou atrás de trabalho, vou me dar bem indo para um lugar onde estão fazendo uma capital nova, porque lá deve precisar de tudo’. Então, decidi embarcar nessa aventura”, recorda.

No início, a capital era apenas poeira, cheia de construções e sem energia elétrica. A coragem foi o que trouxe Argeu: “Eu não tinha medo de nada, nem de passar fome”. Trabalho não faltou para o candango. Os conhecimentos de marcenaria e carpintaria lhe possibilitaram atuar em diversas áreas. Quando não sabia fazer alguma coisa, aprendia. Foi assim que o obreiro entrou para o comércio, vendendo material de construção.

Depois de alguns anos na profissão, o destino trouxe outra oportunidade de atuação de forma inusitada. A história começou quando um conhecido pediu ajuda a Argeu para subir um cofre de três toneladas que havia vendido para um mercado na W3 Sul. “A estratégia foi colocar uma talha nas escadas e usar um carrinho de mão para levar o cofre”, explica.

A empreitada deu certo e foi vista por um dos diretores de obra do GDF. “Ele me convidou para fazer um concurso da Sociedade de Abastecimento de Brasília (SAB) e, três dias depois, me chamaram. Trabalhei durante 35 anos”, conta. Criada em 1962 para suprir o mercado varejista do Distrito Federal, a SAB foi extinta oficialmente em 2002. O candango começou como ajudante. “Fui encarregado de depósito, encarregado geral, subgerente, gerente e depois fui requisitado para o Palácio do Planalto, onde trabalhei durante quase quatro anos”, detalha.

No mercado em que trabalhou, na 406 Sul, conheceu a mulher que viria a ser sua esposa. Maria do Perpétuo Socorro chamou a atenção do gerente por levar a vida sempre de bom humor. Tiveram cinco filhos, oito netos e um bisneto: “Para um cara que saiu de casa sem instrução, sem nada, conseguir formar uma família bonita e conseguir ter casa… É uma vitória”.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quarta, 08 de janeiro de 2020

VOLTA ÀS AULAS: LISTA DE MATERIAL MAIS EM CONTA

 

VOLTA ÀS AULAS
 
Lista de material mais em contaL
 
ivros didáticos usados são uma saída para brasilienses que querem gastar menos nas compras do ano letivo de 2020. No ramo das papelarias, os preços devem ter reajuste de até 3,5%, e a estimativa de crescimento para o setor é de 5%

 

» WALDER GALVÃO

Publicação: 08/01/2020 04:00

Sebos compram e vendem material usado por estudantes em anos anteriores (Walder Galvao/CB/D.A Press)  

Sebos compram e vendem material usado por estudantes em anos anteriores

 

 
O início do ano letivo costuma movimentar o comércio do Distrito Federal. Desde o fim de 2019, o número de clientes cresce em papelarias e livrarias. Entretanto, o preço, principalmente dos livros didáticos, intimida o brasiliense. Aqueles que procuram economizar um pouco mais encontram nos livros usados uma saída para poupar dinheiro e reaproveitar o material. Por isso, os sebos são alvo de muitos consumidores.
 
Segundo Aritana Rodrigues, vendedora de um sebo em Taguatinga, conta que, por causa do pagamento do 13° salário, a movimentação de pessoas no estabelecimento cresceu desde novembro. “Temos procura o ano inteiro, não apenas dos didáticos, mas dos literários também. Porém, até março, os clientes devem vir mais”, afirma. O lugar recebe doações das obras, além de comprar e vender os itens usados por estudantes em anos anteriores.
 
De acordo com Aritana, um livro de segunda mão pode custar até menos da metade do valor de mercado. “Neste ano, por exemplo, temos didáticos que custam R$ 200 nas livrarias. Aqui, você encontra por R$ 80. É uma grande economia”, garante. De acordo com ela, a clientela adepta a itens usados cresce a cada ano e é de regiões diversas. “Temos clientes que vêm de Sobradinho, Brazlândia e até do Entorno, como Valparaíso (GO) e Cidade Ocidental (GO)”, exemplifica.
 
Na tentativa de economizar, a pedagoga Gislene Batista, 45 anos, comenta que, neste ano, vai à procura de livros usados para a filha. “Minha menina saiu do sétimo para o oitavo ano. Conseguimos comprar três obras, mas ainda estamos tentando vender as do ano passado. Já temos a de gramática, um livro paradidático e um dicionário”, detalha. Ela ressalta que os didáticos são os mais difíceis de encontrar, mas que geram uma boa economia. “Se eu fosse comprar tudo novo, gastaria cerca de R$ 2,5 mil. Até agora, comprei três livros por R$ 100, e o restante que falta deve sair por bem menos do que o orçamento padrão”, prevê. Ela opina que os pais devem incentivar os filhos a conservarem os livros, para que outras pessoas possam usar.
 
Ressalvas
 
O Sindicato de Papelarias e Livrarias do DF (Sindipel) recomenda os sebos como uma alternativa para economizar. Entretanto, o presidente da entidade, José Aparecido da Costa Freire, destaca que os consumidores devem ficar atentos para não comprarem o material errado. “A edição sempre deve ser verificada. Os livros podem ser reformulados, e capítulos são inseridos. Quem opta por livros antigos corre o risco de ter de comprar novamente.”
 
Outra dica é os pais olharem a capa, porque ela sempre é atualizada quando ocorrem reformulações. Quem compra na internet deve dobrar a atenção, porque os sites podem não mudar o material. “São cuidados necessários que os pais precisam ter. Livros didáticos são produtos caros, e o pai ter que comprar duas vezes é muito doloroso”, informa José Aparecido.
 
Quem trabalha em sebos também precisa ficar alerta na hora da comercialização do material. Helena Alves é dona de um quiosque de livros usados em Taguatinga. De acordo com ela, na hora da compra e das doações, a edição do livro sempre é verificada para que não ocorram erros. “Já temos muita gente procurando nosso comércio desde dezembro. A expectativa é de que as vendas aumentem ainda mais até março”, diz.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense terça, 07 de janeiro de 2020

TRANSPORTE: MUDANÇA PROVOCA FILAS

 

TRANSPORTE
 
 
Mudança provoca filasPrimeiro dia dos ônibus do Entorno na Rodoviária do Plano foi marcado pela longa espera

 

DARCIANNE DIOGO

Publicação: 07/01/2020 04:00

110 linhas para 11 localidades do Entorno estão operando nos 15 boxes da Plataforma D da Rodoviária (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

110 linhas para 11 localidades do Entorno estão operando nos 15 boxes da Plataforma D da Rodoviária

 



Longas filas e tumulto marcaram o fim da tarde de ontem dos brasilienses na Rodoviária do Plano Piloto, em razão da alteração do ponto de embarque e desembarque dos ônibus do Entorno. O antigo local, o Terminal Metropolitano de Brasília (no Edifício Touring), foi fechado no domingo por decisão do Governo do Distrito Federal. Contudo, a mudança não agradou a todos e causou confusão.

A camareira Edilene Pereira, 50 anos, reprovou o serviço. Ela mora na Cidade Ocidental e conta que, antes da mudança, conseguia embarcar no horário correto, mas agora, o coletivo atrasou. “Deveria melhorar a estrutura daqui antes de mudar para cá. O ônibus está demorando mais de 30 minutos para chegar, tem muito tumulto e falta espaço” disse.

No total, 110 linhas de sete empresas operam em 15 boxes da Plataforma D da Rodoviária do Plano. Os coletivos atendem a 11 localidades goianas. São elas: Planaltina, Valparaíso, Luziânia, Céu Azul, Cidade Ocidental, Jardim Ingá, Santo Antônio do Descoberto, Novo Gama, Padre Bernardo, Jardim ABC e Cocalzinho. Para informar os passageiros, há placas improvisadas e destinos escritos em cartolinas, além de adesivos com o nome das cidades colados no chão.

A cozinheira Isabel Gomes, 35, pega três ônibus para chegar ao trabalho, em um restaurante do Lago Sul. A moradora de Águas Lindas reclamou do tumulto e da desorganização das filas. “O pessoal está formando três e quatro filas para pegar o mesmo ônibus. Desse jeito complica. Acho que isso ainda vai dar confusão, principalmente pela falta de aviso dos responsáveis. Parece que fazem pouco caso dos moradores de Goiás”, afirmou. Pela manhã, por volta das 8h, Isabel também esteve na Rodoviária e disse ter visto vários fiscais para tirar as dúvidas dos passageiros, mas no horário de pico, por volta das 18h, o serviço estava precário.

Uma das funcionárias da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) que supervisionava o público informou ao Correio que duas equipes da empresa atuam para orientar os passageiros. Segundo ela, um grupo trabalha pela manhã, das 5h30 às 14h, e outro à tarde, das 15h às 22h. No momento em que a reportagem esteve na Rodoviária, agentes do Departamento de Trânsito (Detran) e policiais militares auxiliavam no serviço.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense segunda, 06 de janeiro de 2020

GLOBO DE OURO

 

GLOBO DE OURO
 
Sam Mendes é a surpresa da festa
 
Com 1917, britânico leva os prêmios de melhor direção e melhor filme de drama. Era uma vez em... Hollywood fica com três estatuetas. Joaquin Phoenix confirma o favoritismo e deixa a cerimônia como o melhor ator pelo papel título de Coringa

 

» Ricardo Daehn

Publicação: 06/01/2020 04:00

 

Cineasta exibe os dois troféus conquistados na premiação: defesa das produções tradicionais  (Frederic J. Brown / AFP)  

Cineasta exibe os dois troféus conquistados na premiação: defesa das produções tradicionais

 

 

 

 

Protagonista de Coringa: 23kg a menos para o longa (Valerie Macon / AFP )  

Protagonista de Coringa: 23kg a menos para o longa

 

 

 

 

Renée Zellwegger, eleita a melhor atriz por Judy (Frederic J. Brown / AFP)  

Renée Zellwegger, eleita a melhor atriz por Judy

 

 

 

 

O diretor Bong Joon Ho (C) com atores de Parasita (Frederic J. Brown / AFP )  

O diretor Bong Joon Ho (C) com atores de Parasita

 

 

 

 

Brad Pitt se destacou no filme de Quentin Tarantino (Frazer Harrison/AFP)  

Brad Pitt se destacou no filme de Quentin Tarantino

 

 

 

 

Relativizar o potencial e o alcance tanto do cinema quanto da televisão, nos dias dominados pelo streaming da gigante Netflix, foi a missão inicial para o apresentador da 77ª cerimônia dos prêmios Globo de Ouro, o comediante britânico Ricky Gervais. Coube, entretanto, ao protagonista da maior surpresa da noite, o vencedor de melhor direção de longa Sam Mendes (à frente do filme que trata da Primeira Guerra 1917) recolocar coroa e cetro no cinema tradicional. No discurso como melhor diretor, ele sintetizou: “Não há nenhum diretor no mundo que não tenha se apoiado nos ombros de Martin Scorsese (diretor de Taxi driver e O irlandês, além de uma das autoridades máximas nas pesquisas de filmes).

 

Quando veio a segunda maior surpresa: o longa 1917 ter sido dado como o melhor produção, novamente, Mendes marcou posição: “Quero que o público veja o filme na tela grande — esse foi nosso desejo”. Poder de voto, a responsabilidade de eleger políticos, feminismo e cuidados com o ecossistema deram o tom da maioria dos discursos da noite que representou os eleitos da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood.

 

Única concorrente feminina na categoria de melhor trilha sonora, Hildur Gudnadóttir trouxe para o blockbuster Coringa um dos troféus da noite. Ela se disse motivada pela interpretação fenomenal de Joaquin Phoenix, à frente do longa. Phoenix, na sexta indicação ao prêmio, faturou como melhor ator, com esforços como o de perder 23 quilos para o papel do sofredor Arthur Fleck. O ator de Johnny e June engrossou o coro ao espírito de união levantado por muitos dos discursos. “Muitos enviaram apenas desejos positivos (no palco). Nem sempre fui virtuoso, mas vejo que é o tempo de nos unirmos, para trazer mudança”, incitou, ao demarcar terreno para as futuras eleições de 2020.

 

O prêmio de melhor atriz em drama foi para Renée Zellweger, que encarnou a diva das telas e dos palcos Judy Garland, em Judy — Muito além do arco-íris. Pela terceira vez, desde a vitória com o roteiro do longa Pulp Fiction, em 1995, Quentin Tarantino levou novamente o troféu, desta vez por Era uma vez em... Hollywood. O autor de Django livre (2013) enfatizou que o elenco acrescentou muitas camadas a seu texto, numa obra valorizada como a melhor comédia em longas e que rendeu ainda prêmio para a performance do coadjuvante Brad Pitt. Tarantino foi exaltado por Pitt como “o cara, o mito, a lenda”. Já o colega de cena (e que, novamente, perdeu prêmio) Leonardo DiCaprio suscitou o trocadilho infame do agradecimento de Pitt a LDC (as iniciais do ator), “um astro e cavalheiro”, nas palavras de Pitt.

 

Menção às queimadas

 

Descolado de qualquer discurso cômico, coube a Russell Crowe, vencedor como ator de minissérie (por The loudest voice) dar o recado ecológico, ao mandar uma mensagem em que enfatizou o alarmante estágio das queimadas na Austrália, de onde se pronunciou. A tragédia que transcorre naquele país ecoou em muitos dos discursos da 77ª edição do Globo de Ouro.

 

O retrato de Crowe de um magnata da tevê, envolvido em caso de assédio sexual, foi valorizado pelos votantes do Globo de Ouro, às vésperas do julgamento de Harvey Weinstein. Jared Harris (Chernobyl) era, entretanto, o favorito. Outro momento que trouxe surpresa foi a vitória do ator cômico de Ramy, Ramy Yousseff (de ascendência egípcia), que se destaca numa história de stand-up, em meio ao exame das tradições muçulmanas. O concorrente Bill Hader (de Barry), inesperadamente, perdeu o troféu. Os efeitos de catástrofe de agressão à natureza retratados na série Chernobyl trouxeram prêmio para a produção HBO no segmento de minissérie.

 

Quem encantou com um discurso a favor do poder de escolha das mulheres, especialmente por meio das futuras votações nos EUA, foi a atriz Michelle Williams (ganhadora pela minissérie Fosse/Verdon). Como esperado, entre as séries de tevê, Succession despontou como a melhor, ao revelar os bastidores da sucessão de herdeiros de um império de notícias globais. Capitaneando o elenco e força-motriz para o enredo, o personagem do veterano Brian Cox Logan Roy deu razão para seu prêmio, o primeiro Globo de Ouro em mais de 60 anos de carreira. Ele se disse chocado no mesmo caso do representante da equipe da animação Link perdido — que desbancou títulos como Toy Story 4 e Frozen 2 —, vencedora como melhor longa-metragem.

 

O discurso de contorno mais politizado foi o da coadjuvante em minissérie ou filme de tevê Patricia Arquette, elogiadíssima em The act, baseado em crime da vida real revelado em 2015, e que expunha uma mãe dona de relação patológica junto à filha. “Nos livros de história, o 5 de janeiro de 2020 virá a ser apresentado como um dia em que os Estados Unidos estavam a ponto de ir para a guerra, e no qual o presidente investia em tuítes a respeito de bombas. Veremos pessoas jovens arriscando suas vidas, e ainda poderemos lembrar os incêndios tomando conta da Austrália. Temos que lutar por um mundo melhor para todos. Mais adiante, temos que votar novamente: temos que chamar todos que conhecemos a votarem também”.

 

Desbancando figuras como Taylor Swift, Beyoncé e Andrew Lloyd Webber, nomes alinhados na disputa pela melhor música original, Elton John e Bernie Taupin (colaboradores eternos no filão das criações musicais) venceram na categoria com I´m gonna love me again  (de Rocketman). “Não é só uma canção; fala da nossa relação: um casamento (profissional) de 52 anos”, demarcou Bernie Taupin. O ator Taron Egerton, na primeira indicação ao prêmio, levou pela caracterização de Elton John (em Rocketman).

 

A figura de mulheres poderosas foi reverenciada em ao menos dois prêmios: um deles, o de melhor atriz de série dramática atribuído a Olivia Colman (por The Crown), em que, a exemplo do feito em A favorita, interpretou mais uma rainha: Elizabeth II. Já expoente no elenco do longa História de um casamento, a coadjuvante Laura Dern exaltou o diretor do filme Noah Baumbach: “Ele deu voz aos sem-voz. E eu fiz isso mesmo: uma homenagem à figura de uma advogada de divórcio”, brincou, para, em seguida, saudar a mensagem de união do filme.

 

Surpresas

 

Outro desbancado na festa foi Andrew Scott, o padre gato de Fleabag, responsável por tensão sexual da série. Quem faturou o prêmio de melhor coadjuvante em série foi Stellan Skasrsgard, que interpreta representante do governo soviético, em meio ao desastre de Chernobyl. O veterano ator de Mamma Mia! brincou com um episódio em que se deu conta de suas limitações cênicas, pela sua falta de sobrancelhas. Outra tragédia, a do luto mas tratado sem o peso esperado, e que abate a personagem de Phoebe Waller-Bridge, em Fleabag, rendeu o Globo de Ouro de melhor atriz de comédia. A escalada da confusa solitária britânica que investe em desejos sexuais para superar o luto emplacou ainda premiação de Fleabag como melhor série de tevê.

 

Talvez um dos prêmios mais previsíveis, o prêmio de melhor filme estrangeiro ficou para Parasita (de Bong Joon Ho). O diretor sul-coreano Ho enfatizou no palco: “Quando a gente supera a barreira das legendas, descobrimos filmes incríveis. Falamos uma única língua: o cinema”. A despedida, com muito apoio de talentos chineses, trouxe para a atriz Awkwafina (revelada em fitas como Podres de rico) o troféu de melhor performance em comédia ou musical. No palco, ela agradeceu à avó, “melhor amiga” e a mulher que a criou.

 

Saída do filão do entretenimento e da difusão de informações, a apresentadora Ellen DeGenneres que recebeu o prêmio honorário Carol Burnett, brincou na ocasião, dizendo que, estando premiada no palco, “não precisaria fingir interesse nas falas dos outros”. Como profissional, ela destacou o emblema que leva à frente, anos a fio, na tevê: “Quero que (os espectadores) fiquem bem e sorriam”. Seguindo a mesma linha da colega, outro homenageado foi Tom Hanks, que agraciado com o importante troféu Cecil B. DeMille. 

 

Jornal Impresso


Correio Braziliense domingo, 05 de janeiro de 2020

RODOVIÁRIA DO PLANO PILOTO: O CORAÇÃO DA CAPITAL FEDERAL

No centro da asa do avião, a Rodoviária do Plano Piloto, que completará 60 anos em setembro, recebe cerca de 700 mil pessoas diariamente e é um reflexo da realidade do DF. Por lá se encontram passageiros de todas as idades, regiões e ocupações.  (Ed Alves/CB/D.A Press)

 

O coração da capital federal
 
 
Com seis décadas de histórias e dificuldades, Rodoviária do Plano Piloto reflete a realidade da capital, com seus passageiros de diferentes idades, regiões e ocupações

 

ALAN RIOS
JULIANA ANDRADE

Publicação: 05/01/2020 04:00

Imagens históricas de uma complexa construção: o terminal rodoviário do Plano Piloto começou a ser erguido ainda nos anos 1950, a partir de projeto do arquiteto e urbanista Lucio Costa. Após a inauguração, em 12 de setembro de 1960, o terminal virou referência, ligou as asas Sul e Norte e passou a direcionar a movimentação dos primeiros habitantes de Brasília (Instituto Moreira Salles/Reprodução
)  

Imagens históricas de uma complexa construção: o terminal rodoviário do Plano Piloto começou a ser erguido ainda nos anos 1950, a partir de projeto do arquiteto e urbanista Lucio Costa. Após a inauguração, em 12 de setembro de 1960, o terminal virou referência, ligou as asas Sul e Norte e passou a direcionar a movimentação dos primeiros habitantes de Brasília

 

 
O coração é um dos maiores símbolos da vida. Sempre em movimento, ele é vital para todas as outras partes do corpo. Por isso, não à toa, a Rodoviária do Plano Piloto é considerada o “coração” de Brasília. No centro da asa do avião, o local recebe cerca de 700 mil pessoas diariamente: brasilienses de diferentes idades, regiões e ocupações, que passam, muitas vezes, em ritmo acelerado. Os sons dos alto-falantes instalados nas plataformas acabam se confundindo com o barulho dos ônibus, dos passos e dos gritos de ofertas dos comerciantes, um cenário bem diferente do projeto inicial de Lucio Costa. Entre reclamações, como a falta de acessibilidade e a insegurança, o espaço acumula histórias que se misturam com as de Brasília. Na segunda matéria da série Brasília Sexagenária, o Correio reencontra o espaço localizado no coração da cidade e que completa 60 anos em 12 de setembro.
 
A rodoviária parece um lugar à parte no meio do Eixo Monumental. Se, no gramado central, a calmaria e a visita de turistas predominam, no terminal, o que ganha destaque são os ruídos, a correria do dia a dia, as filas de espera e os veículos lotados. “Aqui não tem essa história de rico ou pobre, todo mundo se encontra, toda hora. É um ponto com metrô, ônibus, perto de shopping”, opina Agna da Cruz, 35 anos, usuária do transporte público. A baiana, que mora na capital, sente gratidão por Brasília, mas pede mais cuidado. “O governo tem oportunidades boas na rodoviária, porque é um espaço grande que poderia ser bem aproveitado. Penso que seria ótimo se tivesse, por exemplo, uma galeria de arte, com acessibilidade, garantindo um complemento à educação e trazendo segurança”, sugere.
 
Para o historiador Wilson Vieira, a rodoviária reflete a realidade de Brasília. Ali, estão moradores do Plano Piloto, das demais regiões administrativas e do Entorno. “Ela se tornou um grande centro metropolizado da população do Distrito Federal. Foi além do planejado, virou um espaço popular”, ressalta. Vieira explica que o projeto inicial era um centro de conveniência, com cafés e restaurantes, algo parecido com o que é o aeroporto hoje. “À medida que a cidade foi crescendo, a população foi assumindo este espaço. A presença do comércio formal e informal é característica da nossa história como formação da cidade. São coisas que demonstram que o desenho de um arquiteto não consegue planejar a tomada popular do espaço. O povo é muito mais forte e mais presente do que a prancheta de um profissional”, destaca.
 
Um dos habitantes da capital que fazem parte desse processo é Joabem José da Silva, 49. Ele chegou ao DF em 2004 em busca de oportunidades e hoje reclama do tratamento dado aos espaços públicos. “Tenho dificuldades de locomoção, uso muletas e moro nas ruas, então sinto ainda mais os problemas. Faz anos que a escada rolante não funciona. Lembro-me de poucas vezes que pude usar, que estava normal. Isso é algo grave, as pessoas se machucam por falta de acessibilidade. É caso de direitos humanos”, avalia. Procurada, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) informou que “o processo licitatório das escadas rolantes e dos elevadores está dentro da normalidade” e que o órgão “está analisando as propostas das empresas que participaram da concorrência para, em seguida, fazer a homologação”.
 
Obra complexa
A construção da Rodoviária do Plano Piloto é considerada por especialistas uma das mais complexas da época em que ocorreu. Atrás dos paredões que seguem sentido Eixos Sul e Norte, há grandes vãos. “São caixas, espaços livres enormes. Dava para construir um shopping ali dentro”, detalha o historiador Wilson Vieira. O professor de arquitetura e urbanismo da Universidade de Brasília (UnB) Antônio Carlos Carpintero explica que as vigas de construção da rodoviária são protendidas, ou seja, construídas com ferros internos, que pressionam o concreto e aumentam a possibilidade de fazer grandes vãos.
 
Para Antônio Carlos, apesar da importância da obra, ela não exigiu um trabalho inédito. “Os vãos que ela tem são grandes. A rodoviária estava no limite máximo da construção da época, mas não era nenhuma técnica desconhecida”, avalia. Porém, ele alerta que essas ferragens, assim como toda a obra, exigem manutenção constante, pois podem diminuir a capacidade de sustentação se oxidarem.
 
O arquiteto ainda comenta que a rodoviária foi construída a 750 metros do lugar do projeto original, em direção à Torre de TV. “Ela estaria na altura da W3, mas, para a própria construção, foi feita essa mudança, e o Lucio Costa encarregou-se de projetar a rodoviária da forma que foi feita”, conta. Antônio acrescenta que a plataforma superior ficaria no chão, ligada aos setores bancários e comerciais. “O pedestre poderia circular livremente nesse plano.”
 
Segurança
Citada constantemente como ponto negativo do terminal, a segurança acaba sendo uma barreira até mesmo para a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). “O alto índice de reincidência é uma grande dificuldade. Muitos detidos no DF voltam a praticar outros crimes, por vezes na mesma região, devido às brechas contidas na legislação, que facilitam o retorno dos criminosos às ruas e geram a sensação de impunidade”, informou a corporação, em nota oficial. Porém, nos primeiros dias de 2020, um novo esquema de policiamento passou a atuar na área. “Antes, os policiais ficavam no posto fixo na parte superior da estação. Agora, o patrulhamento é feito em viaturas e assessorado pelo Comando Móvel estacionado na rodoviária”, disse a PMDF.
 
Reformas constantes
Os problemas da rodoviária são antigos. O terminal passa por constantes reformas. Em junho do ano passado, parte da estrutura foi interditada após riscos de desabamento. Técnicos do governo identificaram crescimento de algumas fissuras, o que poderia provocar um desmoronamento, caso não fossem feitos os reparos necessários. Para garantir a segurança, o trânsito de carros na parte superior, sentido sul, foi interrompido.
 
A estrutura precisou ser demolida e reconstruída. Segundo a Novacap, a obra foi concluída no início de novembro. Também foram feitas novas instalações elétricas e hidráulicas; instalados ar-condicionado e sistema de som; executado novo piso em granitina em toda a extensão da rodoviária; trocado o piso tátil direcional; e substituída toda a iluminação interna e de borda.
 
Parceria público-privada
A parceria público-privada é a saída defendida pelo GDF para melhorar a oferta de serviços para a população na Rodoviária do Plano Piloto. A reclamação dos milhares de brasilienses que usam o local diariamente é constante pelos problemas históricos de infraestrutura. Em novembro, seis grupos empresariais foram selecionados pela Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) para apresentar estudos de viabilidade técnica para a concessão da rodoviária. O prazo para que eles apresentassem o projeto que definirá os moldes da nova gestão era de 120 dias a partir da definição. Após a entrega, os estudos serão analisados por comissão técnica instituída pela pasta. A escolha do projeto não garante que a empresa ou o consórcio responsável pela elaboração seja vencedor da licitação.
 
700 
mil
 
pessoas circulam pela Rodoviária do Plano Piloto diariamente
 
149
 
Quantidade de bancas abertas no terminal
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense sábado, 04 de janeiro de 2020

A PIONEIRA 108 SUL

 

A pioneira 108 Sul
 
A primeira quadra de Brasília completa 60 anos e abre série de reportagens sobre os prédios da capital que completam seis décadas. Moradores, a maioria idosos, relembram histórias que marcaram a construção do Distrito Federal

 

» JULIANA ANDRADE
» THIAGO COTRIM*

Publicação: 04/01/2020 04:00

Canteiros de obras da 108 Sul e a Igrejinha: conjunto habitacional começou a ser erguido em 1958 (Mario Fontenelle/Arquivo Público do DF)  

Canteiros de obras da 108 Sul e a Igrejinha: conjunto habitacional começou a ser erguido em 1958

 



São 60 anos de histórias. Uma trajetória que começou a ser escrita antes da inauguração de Brasília. A 108 Sul, a primeira superquadra do Plano Piloto, celebra em fevereiro o sexagenário aniversário. Poucos blocos seguem o visual original, mas ainda é possível ver os traços de Oscar Niemeyer no conjunto habitacional que começou a ser erguido em 1958. Muitos apartamentos passaram por reformas, assim como fachadas. Além disso, a quadra carrega memórias de quem cresceu em meio ao cerrado.
 
Com fotos em preto e branco, a bancária aposentada Regina Faleiro, 67 anos, conta lembranças da infância e adolescência na 108. Ela, que veio de Minas Gerais com os pais, chegou a Brasília em 1961. A moradia era um apartamento funcional no Bloco J, que o pai ocupou por trabalhar no Ministério de Minas e Energia. “Os apartamentos funcionais eram o atrativo. Nem todos os funcionários queriam largar as suas cidades e o conforto de casa para vir se aventurar em Brasília. O apartamento era uma vantagem”, comenta.
 
Regina cresceu brincando nos pilotis. Estudava ao lado do bloco da família, na Escola Classe 108 Sul, e, à tarde, frequentava a Escola Parque. Aos fins de semana, curtia o Clube Vizinhança. Tudo nos arredores. “Foi uma infância maravilhosa. A gente podia ficar até mais tarde embaixo do bloco, não tinha perigo. Eu ia andando à escola, ao comércio, à escola parque”, recorda. Nas fotos, ela mostra os coqueiros que se tornaram cenários para as fotos com a família. O amor pelo local é tanto que Regina, após se casar, se mudou, mas não demorou para voltar. A bancária comprou um apartamento no Bloco I, onde vive até hoje. “Para mim, é um privilégio morar aqui. Temos tudo pertinho, tem metrô também. É uma quadra excelente e tem valor sentimental muito grande”, ressalta.


Foto histórica de blocos da 108 Sul em construção: conceito de Lucio Costa concebido por Oscar Niemeyer (Arquivo público do DF)  

Foto histórica de blocos da 108 Sul em construção: conceito de Lucio Costa concebido por Oscar Niemeyer

 



A 108 Sul foi a primeira quadra residencial a ser concluída em Brasília. O professor e arquiteto da Universidade de Brasília (UnB) José Carlos Córdova Coutinho explica que as construções eram feitas por institutos de previdência e que existia uma cerca competição de quem entregava as fundações iniciais e as lajes, por exemplo.
 
Segundo o especialista, o primeiro prédio a ser construído na Asa Sul fica na 106, mas a conclusão da 108 é pioneira. “Foi um dos projetos que materializaram a ideia da superquadra, como concebido por Lucio Costa. Ele e Oscar Niemeyer tinham uma proximidade muito grande. Na 108, o Oscar interpreta exatamente o que o Lucio Costa pretendia como superquadra.” As quadras 308, 107 e 307 Sul formam a unidade de vizinhança mais completa de Brasília. “Têm igreja, clube, comércio, parquinho e escola”, explica José Carlos.
 
A técnica de necropsia Mônica Quintas, 57, revela as histórias e lembranças vividas com a mãe, Isa Vasquintas, 90, uma das mais antigas da 108 Sul. Ela veio para Brasília com Mônica na barriga. O pai, jornalista, chegou antes, a trabalho. Na superquadra, Mônica deu os primeiros passos. “Foi uma infância maravilhosa. Aqui em cima, tinha uma creche de freiras. A gente tocava a campainha e saía correndo. Havia muita diversão”, conta a moradora.


Regina Faleiro em 2020 e nos anos 1960: lembranças de uma vida (Vinicius Cardoso/Esp. CB/D.A Press)  

Regina Faleiro em 2020 e nos anos 1960: lembranças de uma vida

 



Mônica chegou à quadra na barriga da mãe:  

Mônica chegou à quadra na barriga da mãe: "Infância maravilhosa"

 



O jornaleiro Lourivaldo inaugurou a primeira banca da cidade, na 108 (Vinicius Cardoso/Esp. CB/D.A Press)  

O jornaleiro Lourivaldo inaugurou a primeira banca da cidade, na 108

 



 
Reforma
 
No início, os apartamentos eram funcionais, e os moradores, na maioria, funcionários públicos. Os imóveis só passaram a ser vendidos em 1966, segundo o Sindicato da Habitação do Distrito Federal (Secovi). À época, eles custavam, em média, Cr$ 19.610.000 — R$ 284.941,66, em valores atuais —, podendo ser vendidos em até 30 parcelas a juros de 2% ao ano. As características não são mais as mesmas. Mônica, com o tempo, reformou o imóvel. “Tivemos de mudar. São 60 anos. Se não reforçasse, cairia tudo”, justificou.
 
O diretor do Secovi, Ovídio Maia, explica que, apesar de se tratar de uma quadra histórica, a média de preços dos apartamentos na 108 Sul é parecida com as demais quadras da Asa Sul. Muitos imóveis precisam de revitalização.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sexta, 03 de janeiro de 2020

TT CATALÃO DEIXA UM LEGADO DE RESISTÊNCIA E AMOR BRASÍLIA

 

 

Um salve para o mestre TT Catalão
 
 
 
Poeta, jornalista e militante cultural deixa legado de resistência e de amor a Brasília

 

» Severino Francisco
» José Carlos Vieira
» Lis Cappi*

Publicação: 03/01/2020 04:00

 
TT Catalão, Ary Para-Raios e Antônio Pitanga em cena do filme A Idade da Terra, de Glauber Rocha, na redação 
do Correio Braziliense (Paloma Cinematográfica/Divulgacão)  

TT Catalão, Ary Para-Raios e Antônio Pitanga em cena do filme A Idade da Terra, de Glauber Rocha, na redação do Correio Braziliense

 

 
 (Reprodução)  
 
 (Reprodução)  
 
 (Reprodução)  
 
 (Reprodução)  
 
 (Reprodução)  
 
 (Reprodução)  
 
 (Paulo de Araujo/CB/D.A Press)  
 
 (Reprodução)  
 
 (Reprodução)  
 
 
“Era um esteio da reflexão e da ação cultural de Brasília. Foi um mestre da atuação cultural, um grande amigo”, diz ao Correio Gilberto Gil, compositor e ex-ministro da Cultura, sobre o poeta TT Catalão, que morreu na madrugada de quinta-feira, em razão de complicações renais.
TT sempre teve a poesia engatilhada na língua, nos dedos, nos pés e nos olhos. Não precisava se preparar. Ela fluía naturalmente como água-viva manando da fonte. Tinha a palavra certa para cada momento de Brasília e do Brasil: “Eles fazem os muros; nós, os pulos”, escreveu na década de 1980, no período de redemocratização.
 
E, em uma das últimas postagens, grafou sobre as silhuetas de Charlie Chaplin de mãos dadas com uma mulher: “Não desista de você. Não desista do Brasil”. Era rápido no gatilho e esteve tão presente nos momentos cruciais da cidade, desde quando desembarcou no Planalto Central, no início da década de 1970, que o poeta Nicolas Behr chegou a fazer um alerta em versos: “Calma, gente/essa frase é minha/não é do TT Catalão”.
 
Vanderlei dos Santos Catalão, o TT Catalão, jamais se entregou à doença. Lutou e manteve a dignidade e a esperança até o fim, segundo amigos. O corpo de TT será velado, hoje, a partir das 10h, no Espaço Cultural Renato Russo da 508 Sul. A família pede aos que  forem reverenciar o poeta que usem roupas brancas.
TT Catalão será sepultado na ala dos pioneiros do cemitério Campo da Esperança, às 16h, a pedido do governador em exercício, Paco Britto. Em nota oficial, o governador afirma: “Brasília chora e lamenta a morte de TT Catalão, poeta, músico, visionário, figura marcante na cultura de Brasília, que nos deixa mais pobres, embora suas palavras continuem vicejando. (…) Mas o luto pelo poeta não sufoca a poesia. Como diz um de seus mais conhecidos poemas: “Ah/ esta solidão celular/ ter tantos ao meu alcance/ e não ter com quem falar”.
 
Viver a c idade
 
TT morava no Rio de Janeiro, produzia reportagens para a revista O Cruzeiro, quando recebeu o convite de vir a Brasília. Foi chamado para se tornar o guitarrista da banda de rock Portal, e aceitou. Aqui, encontrou as pessoas vivendo a cidade, uma grande comunidade tão sonhada por Oscar Niemeyer. “(A cidade) Não tinha uma fronteira, uma divisa muito delineada. Eram pessoas, em tribo mesmo, que experimentaram a cidade enquanto espaço público. Isso é uma coisa muito importante. Não ficava uma cidade tão sitiada nos seus guetos, nos seus ‘quadrados’, que isola. As pessoas tinham a sensação de viver uma cidade comum”, comentou, em abril passado ao programa Natureza Viva, da EBC.
 
A Brasília em busca de identidade e o contato com o caldeirão de múltiplos Brasis inspirou e impactou o poeta. Logo, ele se instalou na redação do Correio Braziliense, em 1976, e iniciou um ciclo fecundo de participação na vida cultural brasiliense, com seus petardos poéticos certeiros. “Plano Pilatos, a arte de Athos Bulcão sobe pelas paredes, anestesia ampla geral e irrestrita. Existir é resistir. A vida sempre revida. Com quantos lapsos se faz um colapso? Escangalha a canga/é ginga versus gangue — Brasília — a terra prometida virou terra de promissórias.”
 
Ele era uma máquina de escrever que falava a língua dos jornais, dos cartazes, das camisetas, da internet e dos muros. Sempre à margem da margem. Muito antes do Twitter, ele já fazia contos de 144 toques. Escreveu o texto da Sinfonia das Diretas, do maestro Jorge Antunes. Editou e coeditou suplementos antológicos, tais como o intitulado Mostra do Horror Nacional, em protesto contra a censura no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, ou capas marcantes como o poema-poster publicado no Correio como peça da campanha de paz no trânsito: “A Paz/Quem quer/Faz”.
 
O ator e diretor de teatro João Antônio destaca que, além de ser humano extraordinário, era pessoa agradabilíssima: “Era a nossa voz, irriquieta, crítica e de amor a Brasília”, comenta. “Sempre defendeu Brasília com unhas, dentes, poesia e linguagem visual de maneira brilhante. Fará uma imensa falta para nós, principalmente neste momento. Dizia sempre o que precisava ser dito”.
 
Ensinamentos
 
Poeta-jornalista, jornalista-poeta, design-poeta, ativista experimental, franco-atirador, compositor e gestor cultural, tinha a língua sempre engatilhada de epifanias. O arsenal de TT era rico: do ensaio de página inteira até o poema de 12 toques. Pensava a página na forma gráfica: “Sou da geração que surgiu para a vida artística no início dos anos 1970”, enfatiza Guilherme Reis, ator, diretor e ex-secretário de Cultura do DF. “Desde então convivo com TT, com a sua persistente luta por uma cidade viva, colhendo seus ensinamentos sobre os atalhos e caminhos que levam ao Brasil verdadeiro, ao país que interessa. Ele sempre foi um grande parceiro e iluminou o caminho de muita gente. Por isso é tão amado”.
 
Clodo Ferreira destaca a faceta pouco conhecida: a do compositor TT Catalão. Na década de 1970, chegou a formar um grupo de música aleatória chamado Clodo, TT Catalão, Wiliam e a turma da cozinha: “A gente fazia música no palco ao vivo a partir de um pequeno roteiro, tudo improvisado. Ele tinha canções lindas, não sei porque abandonou a música”.
 
O compositor Renato Matos lembra que TT foi a primeira pessoa que encontrou em Brasília que tinha disco do baiano Smetack, mestre da música experimental. Em parceria com TT, Renato compôs a canção Solidão celular: “Para mim, ele é um dos maiores poetas. Os textos dele tinham rima oculta e ritmo musical. Por isso, o que ele falou fica na gente como algo presente. A gente sente um vazio estranho no coração”.
 
Uma outra faceta de TT Catalão era a de gestor cultural. Entre 2007 e 2008, ele foi subsecretário de Políticas Culturais e teve papel crucial na aprovação da Proposta de Emenda à Lei Orgânica do DF, que vinculou 0,3% da Receita Corrente Líquida do Distrito Federal para o FAC (Fundo de Apoio à Cultura). Em 2010, assumiu a Secretaria de Programas e Políticas Culturais do Ministério da Cultura (MinC), auxiliando na implantação do Programa Cultura Viva como uma política de Estado em 2014.
 
Consciência
 
Juca Ferreira, ministro da Cultura de Lula de 2008 a 2010 e do segundo governo de Dilma Rousseff, em 2015 e 2016, conheceu o trabalho de TT Catalão na década de 1980. Juca era secretário do Meio Ambiente, em Salvador, e veio a Brasília para conhecer TT e pedir permissão para usar uma frase do poeta: “O meio ambiente começa no meio da gente”. Logo ficaram amigos, e Juca convidou TT para trabalhar no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “O convidei porque, na época, ele tinha uma das maiores consciências para trabalhar a cultura indígena e a cultura popular no Brasil”.
 
Juca ressalta que o trabalho de TT foi reconhecido internacionalmente: “Fez um trabalho maravilhoso. O Instituto do Patrimônio em Andaluzia, na Espanha, utilizou a experiência de TT como referência. Ele era um humanista radical e sensível, e sofria com os retrocessos políticos do Brasil”.
 
E, para TT, não havia separação entre o poeta e o gestor. Ele era poeta da cabeça aos sapatos 24 horas por dia: “Redes rompem paredes (cultura digital é mais que dedos teclando dados)”, escreveu como plataforma de um projeto. Ou: “Fazer de cada local um lugar/ressignificar o ermo, o longe e o derradeiro/fazer do território um terreiro”. Clodo comenta: “Nunca foi uma pessoa de separar nada. Ele tinha utopia e era em si mesmo uma utopia. E, para nós de Brasília, ele representa esse tipo de cultura que Brasília nasceu para fazer. Uma cultura cósmica, mais do que do mercado artístico. Era uma pessoa rara.”
 
TT Catalão está no panteão afetivo marginal, afirma o poeta Nicolas Behr. Era uma pessoa extremamente original. “Tenho inveja de várias frases dele. Não sei se concordo com a visão de perda. Seria perda se ele não tivesse compartilhado nada. Existe perda, mas também ganho com tudo que ele fez e compartilhou generosamente”.
 
Pelas redes sociais, a filha Nanã Catalão destacou: “‘A vida se dá a quem se doa’. É o que ele sempre nos ensinou em palavras, gesto e atitude. E hoje celebramos a vida inteira de doação à família, à cidade e ao país”.
Valeu, mestre TT...
 
*Estagiária sob supervisão de Severino Francisco
 
 
"Era um esteio da reflexão e da ação cultural de Brasília. Foi um mestre da atuação cultural, um grande amigo” 
Gilberto Gil 
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quinta, 02 de janeiro de 2020

SANTUÁRIO DOM BOSCO: AJUDA PARA RESTAURAR UM SÍMBOLO DA CIDADE

 


SANTUÁRIO DOM BOSCO
 
Ajuda para restaurar um símbolo da cidade
 
Prestes a completar 50 anos, igreja pede doações da comunidade para reformar os icônicos vitrais azuis, que nunca passaram por reparos. Valor arrecadado até agora está longe dos R$ 7 milhões necessários para começar a obra

 

» CAROLINE CINTRA

Publicação: 02/01/2020 04:00

Inaugurado em 23 de maio de 1970, santuário foi eleito uma das sete maravilhas de Brasília em 2008 e incluído pelo GDF na rota turística da capital (Fotos: Ed Alves/CB/D.A Press)  

Inaugurado em 23 de maio de 1970, santuário foi eleito uma das sete maravilhas de Brasília em 2008 e incluído pelo GDF na rota turística da capital

 



Uma imensidão azul abraça os visitantes que adentram o Santuário Dom Bosco, na 702 Sul. A beleza, que toca mesmo aqueles que não são religiosos, fez do local um dos principais monumentos de Brasília. Prestes a completar 50 anos, em 23 de maio, a igreja — cujo nome oficial é Santuário São João Bosco — pode começar a primeira restauração dos famosos vitrais azuis em 2020. A congregação salesiana do templo lançou uma campanha, em junho do ano passado, em busca de apoio financeiro para realizar a reforma, nunca feita desde a inauguração, em 1970. No entanto, o montante arrecadado até agora não foi suficiente para iniciar a obra, com valor estimado em R$ 7 milhões.

Cerca de 20% dos vitrais estão danificados e precisam ser substituídos. Os outros 80% devem passar por restauro, limpeza e reparo nos rejuntes. “Por causa do clima seco de Brasília e do passar dos anos, as peças do santuário têm caído e a estrutura de ferro está comprometida. Agora, a gente conta com a comunidade para conseguir realizar essa reforma, porque se trata de um trabalho com custo bem alto”, diz o reitor da paróquia, padre Jonathan Costa.

Desde a inauguração do Santuário Dom Bosco pouco foi feito nos vitrais. Quando caídos, foram substituídos por pedaços de acrílico de outras cores. “Quando a pessoa entra e olha o conjunto não percebe as peças com outra tonalidade, nem as rachaduras e os vidros quebrados. Depois de algum tempo, conseguem ver os detalhes. Tem pedaços que caíram e refizemos como deu, mas não fica igual”, conta o pároco.

Vitrais azuis foram produzidos pelo artista belga Hubert Van Doorne  

Vitrais azuis foram produzidos pelo artista belga Hubert Van Doorne

 


Para a restauração, parte dos vidros quebrados será reutilizada e os rejuntes de chumbo precisarão ser derretidos e refeitos com o mesmo material que há nas paredes do templo. Os ferros de sustentação devem ser trocados. Devido ao desgaste, eles podem apresentar riscos se mantidos por muito mais tempo. Para que as peças tenham maior durabilidade, a ideia é colocar proteção de vidro na parte inferior dos vitrais. “Muitas pessoas colocam o pé nos vitrais durante as missas e, com o peso, acabam quebrando”, destaca o padre.

Outra medida que deve ser tomada para conservar as novas peças é a retirada dos jardins externos, próximo às paredes com vitrais. O intuito, de acordo com o pároco, é diminuir a umidade gerada pelo ambiente, um dos motivos do desgaste do material. O espaço será cimentado.

Cerca de 20% dos vitrais estão danificados e devem ser substituídos (Caroline Cintra/CB/D.A Press)  

Cerca de 20% dos vitrais estão danificados e devem ser substituídos

 


Custo alto

A paróquia fez orçamentos com algumas empresas e os valores das obras variam de R$ 5 milhões a R$ 7 milhões. Desde que a campanha começou, pouco foi arrecadado. Todo a quantia levantada foi usada para as despesas básicas do santuário, como o pagamento de contas de água e energia. “Ainda não conseguimos uma doação extraordinária. Tudo o que entra sai para cobrir essas despesas. A visão das pessoas é de que o santuário tem muito dinheiro, mas as despesas são altas e poucas pessoas ajudam a manter”, afirma o reitor.

Ele lembra do desastre na Catedral de Notre-Dame, em Paris, na França, em abril deste ano. “Infelizmente, as pessoas só se sensibilizam depois que acontece alguma coisa. Se o santuário fechar, vai virar notícia. Como aconteceu com a Notre-Dame. Há anos precisando de uma manutenção, aí pega fogo e agora ganha até a mais. Ou seja, a gente precisa pensar em catástrofe para poder ajudar e colaborar”, declara.

Para ajudar, os doadores podem fazer transferência bancária ou entrar em contato com o administrativo do santuário por telefone ou e-mail (Veja Como ajudar). A partir do meio de janeiro, será disponibilizado um formulário no qual os voluntários poderão solicitar um boleto bancário.

Reitor da paróquia, Jonathan Costa diz esperar o apoio da população  

Reitor da paróquia, Jonathan Costa diz esperar o apoio da população

 


Eleito uma das sete maravilhas de Brasília, em 2008, pelo Bureau Internacional de Capitais Culturais (IBOCC), entidade sediada em Barcelona (Espanha), o Santuário Dom Bosco foi inaugurado em 23 de maio de 1970. Com o título, o local foi incluído pelo Governo do Distrito Federal na rota turística de Brasília. Na lista ainda estão a Catedral Metropolitana de Brasília, o Congresso Nacional, o Palácio da Alvorada, o Palácio do Planalto, o Templo da Boa Vontade e a Ponte JK.

Mensalmente, cerca de 4 mil turistas passam pela paróquia e, pelo menos, 15 mil pessoas são atendidas na eucaristia. Gerente administrativa da loja de souvenir da paróquia há cinco anos, Roniane Kelly de Sousa, 33 anos, lembra da primeira vez que entrou na igreja. “No primeiro momento a gente vê a beleza, depois percebe os danos. Os problemas ambientais maltrataram muito. E é necessário voltarmos os olhos para essa joia de Brasília”, afirma. Desde que começou a trabalhar no santuário, ela lembra de momentos marcantes. “Vi pessoas se emocionarem só de entrar aqui. Elas não sabem explicar a sensação de pureza que aquieta a alma. Precisamos resgatar esse espaço”, ressalta.

Em Brasília pela primeira vez, o sociólogo Francisco de Sales, 64, encantou-se com o santuário. Ele vai ficar na capital por 10 dias e fez questão de visitar todos os pontos turísticos. Ao entrar no templo, percebeu o desgaste dos vitrais. “É tudo muito bonito e aconchegante, mas a gente vê a necessidade. São 50 anos sem uma restauração, é muito tempo. Espero voltar para cá um dia e estar tudo lindo e restaurado”, pontua o turista.

Construção do santuário começou em 1963. Projeto é do arquiteto mineiro Carlos Alberto Naves (ArquivoCB/D.A Press - 17/5/79)  

Construção do santuário começou em 1963. Projeto é do arquiteto mineiro Carlos Alberto Naves

 


História

A construção do santuário está ligada ao nascimento da nova capital. Por iniciativa da Congregação Salesiana, as obras iniciaram em 2 de junho de 1963. O projeto é de autoria do arquiteto mineiro Carlos Alberto Naves e os vitrais assinados por Hubert Van Doorne (Veja Para Saber Mais). Ao todo, a edificação tem 80 colunas de 16 metros e é decorada pelos vitrais com 12 tonalidades de azul. No interior, um lustre, composto de 9 mil elementos de vidro brilhante e 3,5 metros de altura, chama a atenção dos visitantes. Nas portas há quadros em alto-relevo gravados em bronze.

Além disso, ainda há uma estátua em tamanho real de Dom Bosco com um pedaço de osso do braço direito do santo, uma relíquia, trazida em 2017 da Itália. A escultura fica no subsolo do templo. “Desde a chegada dessa relíquia, temos um fluxo maior de pessoas. Diante disso, a manutenção se faz ainda mais necessária”, arremata o padre Jonathan.


Incêndio
Um incêndio de grandes proporções atingiu a Catedral de Notre-Dame em 15 de abril de 2019. As chamas destruíram grande parte da edificação, que fica no centro da capital francesa e é rodeada pelo Rio Sena. O fogo atingiu toda a estrutura do telhado, considerado por pesquisadores uma obra de arte, com mais de oito séculos de existência. Ninguém ficou ferido.


Para saber mais

Da Bélgica para o Brasil

Nascido em 1914, o vidraceiro belga Hubert Van Doorne viveu no Brasil, em São Paulo, por muitos anos. Fez parte de um coletivo de artistas belgas radicados na capital paulista. Além dos vitrais do santuário Dom Bosco, ele assina os vidros coloridos da igreja Nossa Senhora de Fátima, em Goiânia.


Como ajudar

A colaboração financeira para a campanha de restauração dos vitrais do Santuário São João Bosco pode ser feita por transferência bancária

Banco do Brasil
  • Agência: 1230-0
  • Conta: 425.553-4
O colaborador também pode entrar em contato pelo telefone 3323-5562 ou pelo e-mail santuariosjbdf@salesiano.br.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quarta, 01 de janeiro de 2020

VIDA NOVA EM 2020

 

Vida nova em 2020
 
Para muitos brasilienses, a virada de ano será repleta de mudanças e expectativas. Viagem, empreendimento, maternidade e casamento aparecem como alguns dos desafios que se abrem para o próximo ciclo. Em comum, a vontade de investir na felicidade

 

JULIANA ANDRADE
THAIS UMBELINO*

Publicação: 01/01/2020 04:00

Década, ano e capítulo novos na história. O ciclo de 2020 começa hoje recheado de esperança e planos. Enquanto alguns abrem o negócio próprio, outros começam uma família, embarcam em aventuras ou dão um grande passo na vida a dois. Mudanças podem ser planejadas, mas também podem pegar muita gente de surpresa. Em um misto de ansiedade e sentimento de realização, brasilienses contam os desafios traçados para este ano e mostram que 2020 pode ser diferenciado e ganhar uma página de destaque na caminhada da vida.


 (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

A família cresceu
Tornar-se mãe é uma reviravolta. Uma criança traz sorrisos, prioridades e responsabilidades. Além das mudanças físicas no corpo da mulher, surge um mundo de fraldas, noites maldormidas e, sobretudo, amor. A fisioterapeuta Ineya Abdul-Hak Amorim (foto), 31 anos, conta os dias para a chegada do filho, Airan. Há sete meses, o sono frequente e o crescimento da barriga chamou a atenção dela e do marido, Luan Amorim. “A gente foi fazer um exame e descobriu a gravidez”, conta.

Depois do susto, veio a comemoração. “Assim que soube, fiquei em choque, mas, com o apoio do meu companheiro e da família, fui trabalhando isso em mim até entender que era um presente”, explica. “Hoje, a minha maior alegria é saber que, em 2020, ele (o bebê) está vindo”, afirma.

Para o novo ano, o casal planeja sair da casa dos pais de Luan. “Estamos nos organizando para ter a nossa casa própria e, ainda, trocar de carro. Temos conversado bastante. Esse momento necessita de muita reflexão e parceria do casal”, ressalta.

A certeza é de que 2020 será de grandes mudanças: “A rotina vai modificar bastante. Os planos são ter um bom parto e que tudo ocorra bem. É algo muito maravilhoso, e estou muito feliz de Deus ter me permitido passar por isso”, celebra Ineya.  “O que não será preocupação serão as fraldas e as roupinhas”, conta Ineya. O restante será comprado aos poucos, como carrinho e banheira.

A analista comercial Bruna Souza, 25, também se prepara para passar por todas essas emoções em 2020. Em junho, a jovem terá o primeiro filho. “Sinto que vai mudar tudo. A maneira de ver o mundo, as prioridades, a rotina”, prevê. A jovem não planejou a gravidez. Mas comemorou bastante quando soube. “Eu sempre quis ser mãe e nova; então, a notícia me deixou muito feliz”, destaca.

Os pais ainda não sabem o sexo da criança; por isso, o nome segue indefinido. A preferência é por Maria Júlia e João. “Ainda não comprei muitas coisas. Estou esperando saber o sexo do bebê, mas ganhei alguns presentes e compramos o carrinho”, revela. (TU e JA)



 (Arquivo Pessoal)  

Uma jornada pela Europa
Em alguns casos, a vida recomeça com mudança de endereço. Mas o destino do gestor de produtos João Apolinário, 27 anos, está em outro continente, a Europa. Em 2020, ele embarca para Viena, Áustria. Na mala, sonhos, expectativas e planos.

João trocará os traços modernos de Brasília para viver em meio a prédios históricos da capital austríaca. Tudo ocorreu depois de uma proposta de emprego. “Eu fui em 2019 para um período de três meses. Era um trabalho temporário, mas tinha essa possibilidade de ficar. Se eu me adaptasse e eles gostassem, poderia ir em definitivo. Deu certo e, agora, vou com visto de trabalho, sem passagem de volta”, conta.

João soube da transferência em outubro. “Tomei como um desafio, porque foi bem em cima. É uma mudança grande, uma oportunidade boa para fazer algo diferente”, destaca. Em Brasília, o gestor de produtos deixará amigos e familiares. “Tenho uma carreira de freelancer aqui, não vou abandonar totalmente, mas muda bastante. Vou para uma nova jornada, uma aventura. Até porque eu nunca tinha ido à Europa. A primeira vez foi nesses três meses de teste e, agora, estou indo de vez”, afirma.

Em Viena, a língua oficial é o alemão, desafio a mais para João. Para o alívio do jovem, que não fala o idioma, o posto de trabalho exige apenas o inglês. O brasiliense alugou uma quitinete, onde passará os dois primeiros meses.

Apesar de o tempo na cidade europeia ser incerto, João Apolinário planeja voltar ao Brasil. “Eu espero que esse período seja de aprendizado, de conhecer outras formas de ver o mundo e outra cultura, mas quero voltar em algum momento. Eu vejo isso como uma oportunidade de crescer”, explica. (JA)



 (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Foco no próprio negócio
Inaugurar um empreendimento é um desafio, mas, com planejamento e dedicação, Ana Letícia Brum, 34 anos, realiza o sonho de ter uma cafeteria. Com 15 de experiência na área comercial, a empresária sempre desejou administrar o próprio negócio. “Há muitos anos, eu queria sair de uma grande corporação, e o café era quase que um oásis. Sempre pensei em abri-lo como um espaço físico confortável e familiar. No início, eu imaginava uma casinha na W3, onde o cliente fosse como um convidado. Como o plano diretor de Brasília mudou, o Café Marilda — o nome é em homenagem à avó materna — abrirá na área de comércio da W3 Norte. Felizmente, vamos conseguir manter esse astral caseiro”, explica.

A expectativa é de abrir a loja após o carnaval. “Entre os amigos, estamos brincando de ser “o Bloco do Marilda Café”. Mas é necessário lidar com imprevistos. “A obra é sempre um estresse à parte, um cano num lugar inesperado que te obriga a mudar o plano inicial, por exemplo”, conta.

A possibilidade de criar um ambiente mais intimista despertou a vontade de Ana para escolher uma cafeteria como negócio. “As pessoas querem estar juntas, cada vez mais conectadas não virtualmente. E nada melhor do que um café com um bom papo no fim do dia para isso, não? Por isso, acho que 2019 foi o ano do boom de novos cafés na cidade”, opina.

A localização do Café Marilda será um estímulo. “Estaremos em um local que foi marginalizado nos últimos anos e que, atualmente, passa por um novo olhar. Tanto a W3 Sul quanto a W3 Norte recebem novas lojas e novos empreendedores, que se preocupam com a ocupação desses espaços tradicionais”, avalia.

Para Ana Letícia, o ano de 2020 traz muitas expectativas. “Estou muito animada”, reconhece. “Eu desejo um ano repleto de paz e com muito tempo de qualidade.” O foco, reforça a empresária, será o novo negócio. “Nesse primeiro momento, a minha preocupação é fazer da melhor forma possível o que eu me proponho a fazer”, ressalta. “Eu tento aplicar uma frase da Marilda: ele (o futuro) é apenas uma consequência do que estamos fazendo no presente”, diz. (TU)



 (Arquivo pessoal)  

Casamento dos sonhos
A auditora Rafaella Corado, 30 anos, mudará de lar e de vida em 2020. O motivo é a consolidação do amor de dois anos com o perito André Knychala, 33. Em 2019, a jovem surpreendeu-se com o pedido de casamento durante uma viagem à Namíbia, na África. “Desde que a gente começou a namorar, pensávamos em casar. Isso estava nos planos, mas foi uma surpresa. Eu não imaginava que ele me pediria em casamento naquele momento”, admite Rafaella. André pediu a mão da auditora de frente para o deserto, ao nascer do Sol. “Foi momento bem especial.”

O casamento está marcado para o segundo semestre de 2020, em Pipa, no Rio Grande do Norte. Até lá, preparativos, planos e viagens para o destino nordestino. “É bem difícil organizar uma festa de longe. A minha sogra mora em Natal e ajuda, mas não quero deixar o trabalho para ela e também quero ser a protagonista do meu casamento”, comenta Rafaella. O casal passou a virada de ano na cidade potiguar e deve voltar a Pipa pelo menos mais uma vez antes da cerimônia.

Segundo a noiva, o casamento dará uma reviravolta na vida. A jovem sempre morou com os pais e, para ela, sair de casa será um grande passo. “Não vai ser mais a casa dos meus pais, vai ser a minha casa. E estou organizando-a para ter filhos. Vou, realmente, tomar conta do lugar. Com certeza, virão grandes mudanças, e eu estou preparada para isso”, garante.

Para Rafaella, os desafios serão repletos de amor e fé. “Eu sempre desejei casar e, agora, encontrei a pessoa certa, e estou pronta para isso. É um passo muito sério, pois decidimos compartilhar os sonhos e a vida”, ressalta. (JA)

* Estagiária sob supervisão de Guilherme Goulart
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense terça, 31 de dezembro de 2019

PREVISÃO: O QUE ESPERAR PARA 2020

 

 

PREVISÃO
 
O que esperar para 2020
 
Um vidente, uma taróloga e uma astróloga fazem previsões para o próximo ano no Distrito Federal e no Brasil. Reviravoltas na política, apostas no amor e sinal verde para os negócios estão entre os acontecimentos por vir

WALDER GALVÃO

Publicação: 31/12/2019 04:00

Com a chegada do novo ano, surgem planos dos mais diversos. Entrar na academia, trocar de emprego, mudar a rotina ou investir no amor estão na cabeça de quem se planeja para o próximo ciclo. Para que o leitor possa ter uma ideia do que esperar de 2020, o Correio ouviu uma taróloga, uma astróloga e um vidente, que revelaram algumas previsões para o próximo ano.

De acordo com os entrevistados, 2020 será semelhante a 2019: com fortes acontecimentos em diversas áreas, como política e meio ambiente. Para o Distrito Federal, as previsões apontam melhora no cenário do desemprego e emoções no Executivo. O ano também será favorável para aqueles que desejam apostar em namoros ou abrir um negócio. Entretanto, nesses casos, a dedicação deve ser constante. Confira:



O vidente José Acleildo prevê que as áreas de saúde, educação e economia vão melhorar no próximo ano (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

O vidente José Acleildo prevê que as áreas de saúde, educação e economia vão melhorar no próximo ano

 


Vidência

Dinamismo, direção segura e investimento


O pernambucano José Acleildo de Andrade, 57, é vidente desde os 12 anos. Ele chegou ao Distrito Federal em 1983, quando passou a se dedicar às análises espirituais. Hoje, ele trabalha com tarô, búzios e runas, além de fazer psicografias e receber orientações de entidades. “Sou muito feliz com o que eu faço”, afirma. Morador de Águas Claras, ele afirma que 2020 será um ano de grandes reviravoltas em diversos cenários, mas considera que questões, como violência e escândalos, devem diminuir em comparação a 2019.

“Será o ano do fogo, e pessoas do signo desse elemento, que é o caso de áries, leão e sagitário, estarão no comando. Isso significa que teremos um período de dinamismo e de direção segura. Um ano melhor do que os outros 10 passados”, prevê. De acordo com ele, o Governo do Distrito Federal (GDF) terá resultados positivos no próximo ano, mas a população tem papel importante para que isso aconteça. “As pessoas devem cobrar bastante do Executivo para que haja respostas”, alerta.

Mente aberta
De acordo com o vidente, as áreas da saúde, educação e economia vão melhorar em 2020. “No âmbito nacional, teremos redução do valor do dólar e melhorias na preservação do meio ambiente, além da redução do preço da carne e de vegetais. No DF, o desemprego deve cair bastante”, acredita. José Acleildo também prevê que o Brasil terá mais investimento do mercado internacional.

Para quem for apostar em relacionamentos, o vidente aconselha que a pessoa esteja de mente aberta. De acordo com ele, os namoros alternativos menos adeptos à monogamia estarão mais presentes na vida do brasileiro. “É um ano muito bom para avançar nas relações e para amar. Também é um momento bom para trocar de namorado e deixar o passado para trás”, reforça. De acordo com ele, as relações LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) também estarão em alta.



Segundo a astróloga Jaqueline, a conjunção de quatro planetas  

Segundo a astróloga Jaqueline, a conjunção de quatro planetas "terá energia de transformação e mudanças estruturantes"

 


Astrologia

O Sol no poder

A astróloga brasiliense Jaqueline Marques, 36, começou a trabalhar na área há quatro anos, após fazer cursos e se especializar. “Tive um processo pessoal, quando a minha mãe faleceu. Fiquei perdida, e a astrologia me ajudou. Fiz um mapa astral com uma profissional, e isso me ajudou muito. Em seguida, comecei a estudar e me profissionalizei”, conta. Além dos atendimentos, Jaqueline é agrônoma. “É como se eu trabalhasse com a terra e com os astros”, brinca.

Segundo ela, 2020 será um ano especial do ponto de vista astrológico. De acordo com ela, ocorrerá a conjunção de quatro planetas do signo de capricórnio: Saturno, Plutão, Júpiter e Marte. “Por causa desse fenômeno, o ano terá energia de transformação e mudanças estruturantes. Com a energia forte em capricórnio, vai ter uma noção muito maior de responsabilidade, rigor, disciplina e seriedade”, explica.

Por causa da influência do signo, a astróloga comenta que o âmbito da polícia e do judiciário serão bastante afetados. “Em 2019, tivemos um ano de Marte e, agora, teremos o Sol. Como tivemos muitos problemas, brigas e disputas no mundo, a tendência é de que isso continue”, diz. Além disso, com o Sol no poder, Jaqueline ressalta que “coisas obscuras” serão reveladas, como esquemas de corrupção no governo.

Do ponto de vista econômico, ela alerta que o ano deverá ser de austeridade e que o ideal é poupar e se planejar para investimentos a partir de 2021, quando ocorrerão oportunidades melhores para as finanças. No emprego, a dica é investir em profissionalização e buscar uma área de trabalho prazerosa. Os apaixonados terão momentos de altos e baixos. “Se você está em um relacionamento verdadeiro, continue. Caso contrário, pule fora. Para o próximo ano, as pessoas tendem a buscar relações firmes e duradouras”, explica.



 (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

Tarô

Ano propício ao amor


Desde a infância, Luciane de Souza Barbosa, 34 anos, tem visões e conversa com entidades. Há 15 anos, começou a frequentar casas de santos e, há 10, trabalha como taróloga em Samambaia. Hoje, ela é conhecida como a Cigana das Sete Saias e define o próprio dom como “vidências que não têm explicações”. Como religião, ela adota a umbanda, mas também tem um “pé no candomblé”. “Não trabalho na linha do mal, não faço amarração”, ressalta.

Luciane explica que 2020 é o ano do Sol e será coberto por Oxalá, que, no sincretismo, é equivalente a Jesus Cristo. Além disso, Xangô será o regente do próximo ano, significando que o ano será marcado pela justiça. “Será um período com muitas mortes, tragédias, descobertas e prisões”, prevê. A Cigana das Sete Saias reforça que o ano será difícil, principalmente no primeiro semestre. “A partir de julho, quando a estagnação passar, o ideal será investir em negócios, porque vai ser quando o dinheiro vai começar a entrar na cidade.”

Na política, a taróloga alerta que há muitas coisas que podem ser descobertas no governo. “Alguns esquemas serão revelados. A partir de julho, o caminho de alguém do governo vai secar. A corrupção será cobrada com ferro e fogo”, alerta. Para driblar cenários ruins no próximo ano, a Cigana das Sete Saias aconselha que o ideal é se apegar a orações e pedir proteção, independentemente da religião.

Apesar das previsões negativas, o ano está propício para aqueles que querem apostar no amor. “Se você investir em um relacionamento, você ganhará um. Porém, traições não serão aceitas. Quem deixar o amor o perderá para sempre”, comenta.



"Se você investir em um relacionamento, você ganhará um. Porém, traições não serão aceitas. Quem deixar o amor o perderá para sempre”
Luciane de Souza Barbosa, taróloga

 


Correio Braziliense segunda, 30 de dezembro de 2019

AS CORES DO RÉVEILLON

 

As cores do réveillon
 
Preparativos para a virada estão a mil, mas há quem se organize com antecedência para transmitir o que deseja para 2020 por meio da roupa escolhida para a festa. Especialistas explicam preferência pelo branco, e astrólogos dão dicas para começar o ano bem

 

SARAH PERES

Publicação: 30/12/2019 04:00

A servidora pública Tereza Araújo e a filha Alice Castro escolhem a roupa da virada pela simbologia das cores (Fotos: Ed Alves/CB/D.A Press


)  
A servidora pública Tereza Araújo e a filha Alice Castro escolhem a roupa da virada pela simbologia das cores


Astróloga Nidia Dias-Mendes indica cores e pedras para cada signo  
Astróloga Nidia Dias-Mendes indica cores e pedras para cada signo



A virada de ano serve, para muitos, como oportunidade de mudança. É momento de reflexão sobre as escolhas do passado e as que serão feitas para o futuro. Na Esplanada dos Ministérios, na Praça dos Orixás, ou em festas pela capital federal, a cor mais comum é o branco, que simboliza paz e harmonia. Essa tradição surgiu por influência das religiões afro-brasileiras, como umbanda e candomblé. Mas há quem prefira tomar outro caminho e variar nas cores, casando os desejos de um novo ano com a simbologia de cada tonalidade (veja Significado).

Segundo Alan Oliveira, professor de comunicação social da Universidade Católica de Brasília (UCB) e doutorando de cultura afro-brasileira pela Universidade de Brasília (UnB), o uso do branco, em diversas cidades do país, teve início nos anos 1970. “Podemos notar que o branco está relacionado a algumas religiões pelo mundo, além da umbanda e do candomblé. Percebemos a cor em segmentos do islamismo e do budismo, por exemplo. No Brasil, a influência é pela cultura afro, que teve as tradições construídas no nosso país”, detalhou.

De acordo com o professor, a cultura do branco no ano-novo popularizou-se, primeiramente, nas praias do Rio de Janeiro e de Salvador. “Vale ressaltar que a cor é de Oxalá e, do mesmo modo que vestimos roupas nesse tom no réveillon, isso também ocorre às sextas-feiras. Nesse último caso, por ser o dia de semana deste orixá”, acrescentou Alan.

A dentista Maria de Fátima Alves dos Santos, 50, opta pelo branco tanto pela representação de paz quanto pela relação com Oxalá. “É o que sempre visto, porque é o que eu quero para a minha vida. Além disso, é uma cor que está ligada ao divino e às minhas crenças. Então, todos os anos, uso a roupa nesse tom e peço para que todas as coisas ruins do último ano possam ir embora e, assim, eu entre mais leve na nova caminhada”, disse a moradora do Núcleo Bandeirante.

De acordo com Tata Nkince Kajamungongo, líder do centro de candomblé Abassá Ogum Tayó, em Ceilândia, Oxalá é o pai maior dentro das religiões de matriz africana, e o uso da roupa branca seria para trazer proximidade com a divindade. No entanto, o pai de santo destaca que não se trata de obrigação dessas religiões. “Nem todos os terreiros estipulam como obrigação usar essa cor. O réveillon é uma convenção mundial, a qual indica uma nova contagem e um novo momento em nossas vidas. Portanto, a pessoa pode vestir-se com a tonalidade que representa o santo da cabeça dela, com o intuito de agradar o orixá. Se você é filha de Iansã, por exemplo, pode-se vestir de vermelho na virada”, ressaltou.

Superstições
Desde cedo, Tereza Araújo, 53, começou a estudar a simbologia das cores e as energias que emanam no réveillon. Na virada de 1994 para 1995, a então moradora de Teresina decidiu se vestir de amarelo para atrair dinheiro e, consequentemente, a mudança de cidade. “Naquele ano, consegui passar no concurso da UnB para a área de assistente social e me mudei para a capital federal. Aqui, comecei outra fase da minha vida. Fiquei completamente surpresa”, relembrou a moradora de Águas Claras.

A servidora pública relatou que, há alguns anos, rompeu com a tradição da escolha da roupa conforme os planos para o novo ano. Ao passar em uma loja, avistou um belo vestido cinza e decidiu usá-lo na data festiva. “Foi uma experiência horrível, pois tive um ano péssimo. Um amigo próximo faleceu, tive problemas de saúde, terminei um namoro de longa data e, além disso, houve diversos desentendimentos familiares. Desde então, nunca mais duvidei que a cor influencia nas energias para o próximo ano”, afirmou.

Com confiança nas próprias superstições, Tereza passou a ensinar a filha, Alice Castro, sobre a simbologia e a influência das cores no ano-novo. A jovem de 20 anos seguiu os passos da servidora pública e, nos primeiros meses do ano, começa a pensar na cor que usará na virada. Em 2018, a estudante usou verde. “Usei essa cor, porque representa a esperança e, ainda, a cor do curso que desejava fazer de faculdade, que é medicina. À época, estava no cursinho e almejava muito passar no vestibular. Então, neste ano, a minha aprovação veio”, comemorou.

Alice passou para medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde estuda atualmente. Para isso, ela mora em Macaé. Nas férias, a jovem retorna para Brasília e fica na casa da mãe, em Águas Claras. “Fiz as minhas reflexões para este ano e decidi que a melhor cor seria o azul. Escolhi essa tonalidade porque quero que a serenidade e a tranquilidade dos planos que realizei em 2019 continuem em 2020”, refletiu a estudante.

A astróloga e taróloga Nidia Dias-Mendes destaca que as cores podem ser escolhidas conforme os desejos para o novo ano. “Tendo consciência dos objetos, mais se vibra energeticamente ao universo. A simbologia, por si só, é capaz disso, pois traz à tona vários sentimentos. Quem quer atrair o amor pode usar uma roupa vermelha, em tom mais intenso. Se é dinheiro, o amarelo é o mais indicado”, revelou.

Nidia também argumentou que a escolha da roupa para a virada pode ser determinada conforme o signo solar de cada pessoa. “Isso auxiliará para conseguir boas energias e alcançar os objetivos propostos para o novo ano. São cores que estão em coerência com o signo solar. Por exemplo, para o signo de câncer, um dos tons sugeridos é a prata. Isso pode proporcionar o contato com o mundo externo em vez de esconder na ‘concha’. Essas energias relacionadas com os signos também podem ser potencializadas com o uso de pedras”, detalhou a astróloga (veja Signos).
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense domingo, 29 de dezembro de 2019

QUE VENHA 2020!

 

Que venha 2020!

 

Publicação: 29/12/2019 04:00

 

 (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

 

Tome um banho relaxante, escolha uma bela roupa, prepare um delicioso drinque — saudável, de preferência — e comece a traçar as metas para o próximo ano. Não é fácil listar os objetivos, mas, com planejamento, é possível, sim, cumpri-los

 

TV

Confira o que a programação televisiva reserva para o próximo ano

 

Casa

Saiba como usar o azul clássico, cor eleita pela Pantone, na decoração

 

Bichos

Todo cuidado é pouco com os pets nestes dias quentes de verão 

Jornal Impresso


Correio Braziliense sábado, 28 de dezembro de 2019

IBANEIS: CRECHES E DELEGACIAS PAR 2020

 

Creches e delegacias para 2020
 
 
Em reunião com o secretariado, o governador Ibaneis Rocha anuncia pacotes de medidas para saúde, educação e segurança. Além de reformas e construções nessas áreas, o chefe do Buriti quer ampliar a capacidade de atendimento à população

 

CIBELE MOREIRA
MATHEUS FERRARI

Publicação: 28/12/2019 04:00

 (Renato Alves/Agência Brasília)  

"Nós temos regiões onde não tem batalhões da Polícia Militar; então, foi determinada a elaboração desses projetos. Eu quero também levar a Polícia Civil e o Corpo de Bombeiros para essas áreas”
Ibaneis Rocha, governador


O governador Ibaneis Rocha (MDB) destacou ontem os projetos previstos para o ano de 2020. Entre as prioridades estão investimentos nas áreas da saúde, educação e segurança. O chefe do Executivo local citou a construção de 15 creches para o próximo ano, além de implementação de novas Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e da reforma em hospitais. O conjunto de obras e benfeitorias foi anunciado após reunião com secretários e representantes do governo, no Palácio do Buriti. O chefe do Palácio do Buriti ressaltou o desejo de criar postos de segurança em áreas carentes, como Estrutural e Sol Nascente. “Nós temos regiões onde não tem batalhões da Polícia Militar; então, foi determinada a elaboração desses projetos. Eu quero também levar a Polícia Civil e o Corpo de Bombeiros para essas áreas”, adiantou.    

De acordo com o governador, essas duas regiões têm um grande número de reclamações em relação à violência e à ausência do Estado. “Precisamos trazer mais qualidade de vida para a população”, destacou Ibaneis. Ainda na segurança, o governador anunciou reformas de delegacias da Polícia Civil, mas não detalhou quais unidades.     

Na educação, estão previstas recuperações de escolas e construção de unidades de ensino, principalmente em cidades mais afastadas, onde, atualmente, há necessidade de transporte escolar. “Existem recursos alocados. As licitações vão sair agora no início de 2020, e a gente espera, já para o segundo semestre, ter várias escolas construídas”, projetou. Segundo o chefe do Executivo, 10 creches serão construídas no primeiro semestre, além de outras cinco, no segundo semestre, totalizando 15 ao longo do ano.    

Ibaneis também anunciou projetos complementares voltados para a educação. Um deles é o cartão do pão e leite. “Vamos dar para as famílias dos estudantes para que as crianças saiam alimentadas pela manhã”, detalhou. Outro benefício será o cartão-creche, com cerca de R$ 800. “Foi feito um levantamento de todas as creches particulares, e esse foi um valor que atende a todas. Vamos fazer o cadastramento das crianças por área, em janeiro”, ressaltou. Ainda de acordo com o governador, 5 mil vagas serão liberadas em creches, no início do ano.

Atendimento
Mais um benefício com previsão para o início de janeiro é o que o governador chamou de cartão do contraturno, com o objetivo de disponibilizar um valor para as famílias investirem em atividades como academias, escolas de línguas e de artes “para que os alunos tenham uma formação cada vez melhor”. No entanto, segundo o chefe do Palácio do Buriti, a iniciativa depende da aprovação da Câmara Legislativa, pois implica “transferência de renda”.    

Para Ibaneis, é preciso melhorar a infraestrutura de atendimento à população. “Avançamos muito na área da saúde, mas a capacidade de atendimento ainda é pequena. Vamos aumentar a capacidade para 100 mil atendimentos por mês. Agora, vamos ampliar com a construção de UPAs e de Unidades Básicas de Saúde (UBS), além da reforma dos hospitais de Planaltina, do Gama, de Ceilândia e de Sobradinho”, disse.
 
Jornal Impresso
 
 

Correio Braziliense sexta, 27 de dezembro de 2019

LIVERPOOL É MESMO IRRESISTÍVEL

 

Liverpool é mesmo irresistível
 
No primeiro jogo pós-conquista do Mundial, sobre o Flamengo, time de Jürgen Klopp goleia o Leicester, 2º colocado no Campeonato Inglês, e se isola na liderança. Vitória por 4 x 0 teve gols de Firmino

 

Publicação: 27/12/2019 04:00

 (Oli Scarff/AFP)  



O Liverpool deu ontem um grande passo em seu objetivo de encerrar o jejum de títulos de quase 30 anos do Campeonato Inglês. No Boxing Day, feriado na Inglaterra, o atual campeão europeu e mundial contou com grande atuação do brasileiro Roberto Firmino e do lateral-direito Alexander-Arnold para atropelar o vice-líder Leicester City, fora de casa, no King Power Stadium, goleando por 4 x 0, pela 19ª rodada. Será muito difícil para a equipe de Jürgen Klopp perder a tão sonhada conquista, que não vem desde a temporada 1989/1990, quando o torneio ainda era organizado pela Football League. Dois anos depois, os clubes fundaram a Premier League.

A cada rodada que passa, o único time invicto na competição — e que ainda tem um jogo a menos —, amplia o seu domínio e não dá brecha aos rivais. Com mais um triunfo, chegou aos 52 pontos e abriu 12 de frente para o vice-líder. São 35 partidas de invencibilidade, considerando esta e a última edição da competição. O último revés na liga inglesa está perto de completar um ano. Foi no dia 3 de janeiro para o Manchester City, por 2 x 1.

No primeiro jogo após derrotar o Flamengo e levantar a taça do Mundial de Clubes da Fifa, no Catar, o Liverpool fez uma partida que condiz com seu estilo de jogo. Se venceu nas últimas rodadas mesmo cambaleando, ontem o líder voltou a brilhar e conquistou uma vitória com categoria. Foi seguro na defesa, intenso, efetivo e letal.

Roberto Firmino, mais uma vez, foi decisivo. O brasileiro, que marcou nos últimos três jogos seguidos, comandou o passeio em Leicester. Aos 30 minutos de um primeiro tempo com leve domínio dos visitantes, o atacante recebeu cruzamento de Alexander-Arnold e subiu mais alto que a zaga rival para abrir o placar. Na sequência, o goleiro dinamarquês Schmeichel se jogou para evitar o gol de Sadio Mané.

O melhor do Liverpool ficou para a etapa final, período em que os comandados de Klopp consolidaram o seu domínio com grande volume de jogo e eficácia nas chances criadas. Foram três gols em seis minutos. Além disso, o líder contou com a sorte e erros do adversário, como no lance em que a bola bateu no braço de Soyuncu dentro da área. O árbitro assinalou a penalidade com convicção e Milner, que acabara de entrar, bateu com categoria para ampliar aos 26 minutos.

Aos 29 minutos, Firmino começou e terminou a jogada do gol mais bonito da partida. Formando grande parceria com Arnold, ele recebeu mais um cruzamento na medida do lateral-direito dentro da área, teve tempo de dominar, ajeitar e bater colocado no ângulo esquerdo de Schmeichel.

Depois de ser garçom duas vezes, Alexander-Arnold coroou a sua atuação de gala com o gol que sacramentou o massacre em Leicester. Ele foi acionado por Mané na direita e arrematou de primeira, cruzado, no canto direito de Schmeichel.

Outros jogos
O Manchester United se recuperou dos dois últimos jogos sem vitória na Premier e goleou o Newcastle por 4 x 1 em casa, no estádio Old Trafford, em Manchester. O resultado positivo reaproxima o Man-U do grupo dos quatro primeiros colocados na tabela de classificação, de modo que o time do técnico norueguês Ole Gunnar Solskjaer subiu para a sétima posição com 28 pontos, a quatro do Chelsea, que fecha o G4. O Newcastle é o 10º colocado, com 25.

A vitória é ainda mais importante para Solskjaer, que ganha sobrevida no cargo. Ele tem sido pressionado em razão da irregularidade da equipe e vem sido criticado por boa parte da torcida. Alguns entoaram cânticos pedindo a sua saída.

Por sua vez, o Tottenham de José Mourinho abriu o Boxing Day com uma vitória de virada, por 2 x 1, sobre o Brighton, enquanto Mikel Arteta estreou como técnico do Arsenal com um empate em 1 x 1 com o Bournemouth. Com a vitória, o time do técnico português assumiu o quinto lugar na tabela e está a três pontos da última equipe na Zona Champions, o Chelsea (4º), derrotado pelo Southampton (14º) por 2 x 0.

Demais resultados do Boxing Day: Everton (13º) e Aston Villa (18º) venceram por 1 x 0 Burnley (12º) e Norwich (20º), respectivamente, enquanto o Crystal Palace (8º) superou nos acréscimos por 2 a 1 o West Ham (17º).

Hoje, o Manchester City (3º) pega o Wolverhampton e pode tirar a segunda colocação do Leicester, goleado pelo Liverpool.
 
Jornal Impresso
 
 
 
 

Correio Braziliense quinta, 26 de dezembro de 2019

QUITUTES QUE DÃO LUCRO

 

QUITUTES QUE DÃO LUCRO

Dedicação total faz a diferença

 

Publicação: 26/12/2019 04:00

Inaiá Sant%u2019ana, confeiteira, proprietária do Quitutices:  

Inaiá Sant'Ana, confeiteira, proprietária do Quitutices: "Sempre tive muita segurança e noção de que é preciso fazer as coisas sempre bem estruturadas, estudadas, pautadas, e, com meu negócio, não foi diferente"

 



Em abril de 2016, a chef confeiteira Inaiá Sant’Ana iniciava uma nova etapa da sua vida: abriu a própria confeitaria em Brasília, voltada para um público de celíacos (intolerância ao glúten) e de alérgicos à proteína do leite. Com uma clientela bastante restrita e exigente, a nova empreitada começou a passos lentos, mas foi ganhando tração à medida em que eram realizados investimentos e análises de mercados. Naquele ano de estreia, o Produto Interno Brasileiro (PIB) recuou 3,6% no Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Apesar de toda dificuldade que a cercava, Inaiá seguiu firme e se dedicou bastante para manter seu sonho vivo e de pé. Diante da crise, não podia vacilar. Era preciso ter a certeza de onde estava se metendo. “Sempre tive muita segurança e noção de que é preciso fazer as coisas sempre bem estruturadas, estudadas, pautadas, e, com meu negócio, não foi diferente”, diz. E essa postura vale para hoje. “A todo momento, estou na confeitaria. Como tenho apenas uma loja, faço questão de acompanhar tudo de perto. Olho o movimento, observo o que está acontecendo e acompanho o mercado”, pontua.

Não é só. A receita de sucesso de Inaiá inclui um ingrediente preponderante: ter boas pessoas ao seu lado, sobretudo em momentos de dificuldades. É preciso ainda ter paciência. As pessoas precisam saber esperar os resultados. “Tenho a consultoria do Sebrae, uma consultoria particular e, recentemente, contratei um consultor financeiro, que me ajuda bastante. Sabemos que a crise ainda não acabou, mas, quando você está bem preparado, consegue enxergar o mercado em que você está, não tem como dar errado. Quando entrei nesse negócio, não tinha a opção de dar errado”.

Cuidados

Comunicadora por formação, área que trabalhou por cerca de 15 anos, a chef largou tudo para se dedicar à gastronomia em 2014. Focou em aprender a arte da pâtisserie e realizou diversos cursos de especialização em preparos de pratos livres de glúten e lácteos. Começou testando as receitas em casa e, por três anos, trabalhou somente com encomendas para familiares e amigos. O incentivo para abrir a confeitaria veio do nascimento da filha, que apresentou sintomas de alergia ao leite. A empresária não queria que sua herdeira deixasse de comer doces por conta do problema.

Lídia Nasser, chef e proprietária do Empório Árabe:  

Lídia Nasser, chef e proprietária do Empório Árabe: "Quem disser que nunca passou por uma crise de uma forma negativa, está mentindo. A recessão foi algo que abalou todo o país. Foi muito difícil. Enfrentamos queda de faturamento de mais ou menos 27% no primeiro ano da crise. Ficamos muito apreensivos"

 



A primeira loja da Quitutices era bem pequena e tinha apenas cozinha, balcão e quatro mesas. O carro-chefe da loja eram as encomendas. Como as guloseimas despertaram o interesse do público, muita gente passou a querer degustá-las no local. Inaiá, então, resolveu mudar de local e ir para um lugar maior, na Asa Sul. “O modelo de negócio que escolhi foi de uma única loja, a melhor do segmento, com segurança alimentar. Hoje, muitas pessoas pensam somente em crescer, e se esquecem de cuidar da empresa, o que é extremamente importante”, ressalta. Mais: “Investindo em quem está perto de você e não tratando seu funcionário apenas como um colaborador ou como um funcionário qualquer, você estará no caminho certo. Nada se faz sozinho nessa vida. É importante ajudar quem lhe ajuda”, receita.

Aprendizado


Com a crise econômica que o Brasil passou — a recuperação segue lenta —, os pequenos empreendedores temem pela instabilidade. Para a chef brasiliense Lídia Nasser, proprietária do Empório Árabe, não é diferente. Diante das turbulências na economia, ela precisou cortar o quadro de funcionários para tentar equilibrar as contas, que reduziu drasticamente. “Quem disser que nunca passou por uma crise de uma forma negativa, está mentindo. A recessão foi algo que abalou todo o país. Foi muito difícil. Enfrentamos queda de faturamento de mais ou menos 27% no primeiro ano da crise. Ficamos muito apreensivos”, conta, ao lembrar do período mais difícil.

Lídia salienta que teve de adiar vários planos, pois só tinha em mente tentar sair do vermelho. “Não consegui fazer os investimentos que gosto, no sentido de ampliar mais e diversificar os negócios, por conta da redução de pessoal. Isso foi um ponto que a crise me pegou de jeito, fiquei impossibilitada de fazer qualquer coisa”, afirma. Mas não desanimou. Neta de libaneses, a chef se interessou pelos sabores e temperos da Arábia ainda pequena. Nos almoços e jantares da família, ficava ao lado da avó paterna, Anitta Sertek Perides, para aprender a fazer pratos e doces da terra natal de seus familiares. O primeiro prato que conduziu sozinha foi arroz com lentilha.

O Empório Árabe começou em 2005, quando Miguel Nasser e Cleuda Perides, pais de Lídia, abriram um mercado de iguarias árabes em Taguatinga. Miguel queria colocar no Distrito Federal um pouco da cultura e da gastronomia do país de seus familiares. O projeto deu certo e, em poucos anos, o pequeno estabelecimento se transformou em dois restaurantes, um, em Águas Claras, outro, na Asa Sul.

Lídia reconhece que, com a crise, precisou mudar a forma de gerenciar os negócios. “Agora, somos mais criteriosos na compra de mercadorias. Criamos um departamento para cotar preços, que variam de forma absurda. Esse mecanismo faz com que a gente analise melhor as mercadorias e encontre um bom valor. Antigamente, comprávamos alimentos para uma semana, hoje em dia, adquirimos para duas ou três. Assim, evitamos comprar toda hora”, declara. “Acredito que minha passagem pela crise foi superpositiva, pois me ensinou a ser mais flexível e mais criativa. Comparo a crise à punição de um pai ou de uma mãe para o filho. A princípio, é ruim, mas, depois, você vê que aprendeu com aquilo.” (AP)
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quarta, 25 de dezembro de 2019

LIS E MEL: UM NATAL DE GRATIDÃO

 

Um Natal de gratidão
 
Lis e Mel, as irmãs siamesas que emocionaram o Brasil em 2019, passarão o primeiro Natal em casa recuperadas da cirurgia de separação, feita há sete meses. Procedimento foi inédito no Distrito Federal e o terceiro desse tipo no país

 

» HELLEN LEITE

Publicação: 25/12/2019 04:00

As meninas se vestiram de Mamãe Noel e deram um show de simpatia (Nayara Stival/Divulgação)  

As meninas se vestiram de Mamãe Noel e deram um show de simpatia

 


Sete meses após a cirurgia de separação, as gêmeas siamesas brasilienses Lis e Mel vão passar o primeiro Natal recuperadas com a família. Depois de viver momentos difíceis desde a descoberta da gravidez rara (leia Uma história de superação), a mãe das meninas, Camilla Vieira Neves, 25 anos, conta que este fim de ano terá significado especial. “Meu sentimento é de gratidão e amor por poder passar o Natal super bem com elas”, comemora.

No aniversário de 1 ano, já separadas após a operação médica, elas ganharam uma festa junina (HCB/Divulgação)  

No aniversário de 1 ano, já separadas após a operação médica, elas ganharam uma festa junina

 

Mais crescidas e independentes, as meninas, de 1 ano e 6 meses, ficaram encantadas com a decoração de Natal da cidade. Segundo os pais, elas amam as luzes, as árvores e o Papai Noel. Católica, Camilla também montou um presépio em casa para ensinar que a data vai além de presentes. “Elas ficam olhando o presépio, apontam para Jesus e Maria e os chamam de papai e mamãe. Ensinamos para elas o significado do Natal”, conta, orgulhosa.

As bebês receberam alta médica em junho deste ano do Hospital da Criança de Brasília (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

As bebês receberam alta médica em junho deste ano do Hospital da Criança de Brasília

 

Cada data importante, evolução e vitória de Lis e Mel sempre foram comemoradas pela família das meninas. Desde que nasceram, elas ganham, todo dia 1º, um bolo e um tema de “mesversário”. Já tiveram festa com os temas Branca de Neve, Panda, Minnie e Mulher Maravilha. Não seria diferente no Natal. Camilla fez questão de vesti-las a caráter para comemorar o fim de um ano cheio de desafios e conquistas.
 
As fotos das meninas vestidas de Mamãe Noel fizeram sucesso entre os familiares e amigos. O cenário da foto foi todo preparado no tema natalino. Lis e Mel surgiram sorridentes sentadas em um banquinho ao lado de um boneco de neve e uma árvore de Natal ao fundo. Como sempre, as meninas deram um show de simpatia e fofura.
Gêmeas no dia em que se reencontram pela primeira vez depois da cirurgia de separação (Maria Clara Oliveira/HCB)  

Gêmeas no dia em que se reencontram pela primeira vez depois da cirurgia de separação

 



Uma história de superação
 
As meninas nasceram em 1º de junho de 2018, no Hospital Materno-Infantil (Hmib). Elas foram o primeiro caso de gêmeos craniópagos (unidos pelo crânio) registrado no Distrito Federal. O procedimento de separação é de extrema complexidade e foi dividido em 36 etapas, entre as 6h30 do dia 27 de abril e as 2h30 do dia seguinte. Conduzida por uma equipe do Hospital da Criança de Brasília, a cirurgia foi a terceira do país e a décima do mundo. As duas enfrentaram uma maratona de 20 horas. Capitaneada pelo neurocirurgião Benício Oton, uma equipe de mais de 50 pessoas se dedicou à cirurgia delicada, rara e inédita na capital. Lis acordou primeiro, Mel depois, mas saiu primeiro da unidade de tratamento intensivo (UTI). As duas se reencontraram em 21 de maio. “Colocamos elas sentadas mais perto e pegaram na mão uma da outra. Acho que foi um momento de paz delas. Foi a coisa mais linda. Finalmente elas estavam ali, juntinhas. Elas ficaram se olhando, como se estivessem se reconhecendo”, contou Camila à época. Após sete meses, Lis e Mel se recuperam bem e frequentam, duas vezes por semana, a Escola de Educação Precoce do Governo do DF, que é um serviço de atendimento a crianças que nasceram com alguma deficiência física ou cognitiva ou de forma precoce. Elas também têm uma rotina de sessões de fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional. As meninas já andam sozinhas e, aos poucos, estão aprendendo as primeiras palavras.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense terça, 24 de dezembro de 2019

O RITMO DA CONFRATERNIZAÇÃO

 

O ritmo da confraternização
 
Para muitas famílias, a trilha sonora está entre os itens essenciais da noite de hoje e é tão importante quanto a ceia e a troca de presentes. Se você concorda, o Correio lhe ajuda na missão de embalar a festa (Não se preocupe. Vamos muito além do Então é Natal)

 

» Ronayre Nunes
» Lis Cappi*
» Thiago Cotrim*
* Estagiários sob supervisão de Marina Mercante

Publicação: 24/12/2019 04:00

Na casa dos Herculanos, a preparação se inicia de manhã (Arquivo Pessoal)  

Na casa dos Herculanos, a preparação se inicia de manhã

 


As comidas saborosas, a expectativa dos presentes, o reencontro com os familiares, as discussões por política ou futebol: sim, as festividades de Natal chegaram. As características que fazem da época uma data tão especial, no entanto, seriam completamente diferentes sem um bom e sólido embalo musical.
 
As canções que ditam o ritmo da noite de confraternização de uma forma mais leve e descontraída são vistas por muitos como itens essenciais na programação. É o caso da família Herculano, que não dispensa ter música ao se reunir na noite de Natal.
 
Leonardo Herculano, 25 anos, conta que as preparações começam de manhã. “Nos reunimos na casa da minha vó há 30 anos. A noite começa com músicas natalinas de época. Depois, colocamos músicas eletrônica e até sertanejo. Acho interessante porque, desta forma, as crianças da nova geração acabam se identificando mais”, conta. 
 
Ele trabalha com consultorias tributárias na cidade de São Paulo há quatro meses, mas sempre viaja para a casa da avó, na QNN 19 de Ceilândia Norte, durante as festividades. “Apesar das diferenças e da distância de algumas pessoas da família, essa data não só une como também aumenta o sentimento de pertencimento.”
 
No lar dos Oliveiras, a parte sonora também é prioridade. O técnico em contabilidade Antônio de Oliveira, 53, conhecido como um dos tios da família, é quem comanda a seleção no jantar de véspera do feriado. Ele tem preferência por canções mais tranquilas e que remetem a esta época. “Happy Christmas, do John Lennon, e Então é Natal, da Simone, estão sempre na lista. Às vezes, a gente coloca alguma do padre Fábio de Melo. Há alguns anos, um grupo de pagode gravou músicas natalinas, e eu coloquei também, para não ficar na mesmice e não sair do clima”, relata.
 
Segundo Antônio, na reunião de família, que conta geralmente com 15 pessoas, as músicas fazem parte da festa como se fossem a ceia. A tradição começou há mais de 10 anos, quando a matriarca, Maria, ainda estava presente nas comemorações. “Quando minha mãe estava viva, a gente colocava muita MPB, e ela sempre pedia músicas alegres”, lembra.
 
Na pegada mais instrumental, as tardes de Natal do dia 25 na casa de Fábia Paixão, 52, costumam misturar o jazz de artistas como Glenn Miller, em discos de vinil, com música popular brasileira, na própria televisão. A professora de educação infantil destaca que, com a ajuda do som, o momento se torna mais leve e descontraído para a família. “Eu acho que sempre alegra. Fica uma escolha livre, e aí quem está com vontade de colocar alguma música, vai colocando o que quer. O pessoal fica dançando, brincando. Toma sol, ouve música, é bem legal”, conta.

Oliveiras: tradição das músicas especiais começou há mais de 10 anos  

Oliveiras: tradição das músicas especiais começou há mais de 10 anos

 

Para dar play em casa
Ficou animado com as histórias de famílias e quer levar um pouco do “agito” na ceia deste ano? Para ajudar na missão, o Correio foi atrás de quem entende do assunto para elaborar uma playlist perfeita para receber a família e os amigos nas festividades natalinas.
 
Fernando Ferreira, 33, mais conhecido como DJ Underluv, discoteca profissionalmente há quatro anos e preparou duas listas de músicas: uma com clássicos atemporais, indicada para pessoas mais experientes que não dispensam a chance de relembrar faixas que marcaram época, e outra para os mais jovens, com hits dançantes e letras mais chicletes.
 
“A música vai te conectar com aquele momento, faz parte quase de uma experiência de espírito. Em confraternizações, por exemplo, as músicas vão marcar a memória daquela ocasião, que foi vivida com os amigos e familiares”, diz Underluv.
 
Naturalmente, você pode mesclar as playlists e fazer a festa bem mais animada, afinal, os mais velhos nem sempre preferem os clássicos, e os mais jovens podem adorar uma música de época. Entre as obras de Ed Motta, Stevie  Wonder e Frank Sinatra, passando por Bruno Mars, Mark Ronson e The Black Eyed Peas, a regra é apenas uma: se divertir.
 
Escolha a sua playlist (ou mescle as duas!)
 
Clássica
 
Linus & Lucy  (Wynton Marsalis Septet)
Jingle bell rock  (Bobby Helms)
It’s the most wonderful time of the year  (Andy Williams)
Jingle bells  (Michael Bublé & The Puppini Sisters)
Parc  (Anomalie)
I’m beginning to see the light  (John Pizzarelli)
Sweetest Berry  (Ed Motta)
Liquid sunshine  (John Cameron)
Rockin’ around the Christmas tree  (Brenda Lee)
Master Blaster  (Stevie Wonder)
Ring-a-ding-ding  (Frank Sinatra)
It’s Christmas  (Jamie Cullum)
 
Contemporânea
 
8 days of Christmas (Destiny’s child)
Love never felt so good (Michael Jackson & Justin Timberlake)
Uptown funk (Mark Ronson & Bruno Mars)
Mistletoe  (Justin Bieber)
Need to know (Otis Junior & Dr. Dundiff)
Beautiful losers (Hocus Pocus & Alice Russell)
Seven Days in sunny june  (Jamiroquai)
Lifes gets better (Ed Solo & Skool of Thought & Darrison)
I’m good (GRiZ)
83  (John Mayer)
Union  (The Black Eyed Peas)
Christmas rappin’ (Kurtis Blow) 
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sexta, 20 de dezembro de 2019

MORRE FRANCISCO BRENNAND, O CERAMISTA, AOS 92 ANOS

OBITUÁRIO

Francisco Brennand, 92, ceramista

 

» Pedro Ibarra*

Publicação: 20/12/2019 04:00

O artista plástico no museu que leva seu nome, no bairro da Várzea, em Recife (PE), em novembro de 2016 (Paulo Paiva/Diário de Pernambuco - 21/11/16)  

O artista plástico no museu que leva seu nome, no bairro da Várzea, em Recife (PE), em novembro de 2016

 



A arte brasileira perdeu um nome fundamental ontem com a morte do artista plástico Francisco Brennand, que faleceu, aos 92 anos, em decorrência de complicações de uma infecção respiratória. Ele estava internado havia 10 dias no Real Hospital Português de Recife, diagnosticado com um quadro grave de pneumonia. O velório ocorreu no mesmo dia na Capela Imaculada Conceição, que fica na Capela da Oficina de Cerâmica Francisco Brennand, em Recife, em cerimônia aberta para o público. Hoje, às 10h, será a cerimônia de cremação do corpo do artista, no Cemitério Morada da Paz,  aberta apenas para a família e convidados.

O governo de Pernambuco decretou luto oficial de três dias em homenagem a Francisco Brennand. A Assembleia Legislativa do estado fez um minuto de silêncio em decorrência da morte do artista. Nas redes sociais, alguns famosos se pronunciaram, como o cantor pernambucano Johnny Hooker: “Que Francisco voe livre para o Universo. O que é lembrado fica”, escreveu o músico no Twitter. Hooker também lembrou do documentário em curta-metragem sobre o artista  Brennand — De Ovo Omnia, dirigido pela mãe do cantor, Liz Donovan.

Conhecido por esculturas gigantes, Brennand deixa vasto legado para a arte, com mais de 80 painéis em prédios públicos no Brasil e em outros países. Destacam-se os murais do Aeroporto internacional dos Guararapes, em Recife, e da sede da Bacardi, em Miami; um museu que leva o nome dele em Recife; além de mais obras na cidade natal do artista, como as expostas no Marco Zero. Ao todo, o escultor assinou 90 trabalhos no local que ficou conhecido em Recife como Parque das Esculturas.
 
Trajetória
 
Francisco Brennand nasceu no bairro da Várzea, em Recife, em 11 de junho de 1927. Filho de Ricardo de Almeida Brennand e Olímpia Padilha Nunes Coimbra, o artista viveu até os 10 anos em Recife, quando, em 1937, saiu para estudar em Petrópolis (RJ). Dois anos depois, o então menino Francisco, voltou para Recife.

O interesse por arte sempre existiu, no entanto, foi em 1942 que ele começou a ter contato com o que seria um dos marcos da carreira: a cerâmica. Aos 15 anos, ainda se descobrindo artista, ele começou a trabalhar na Cerâmica São João, fábrica fundada pelo pai. Na época, o responsável por ensinar Brennand foi o também ceramista e esculturista pernambucano Abelardo da Hora, que trabalhava para o estabelecimento.

A partir do descobrimento do interesse pela arte, Francisco Brennand se voltou à pintura e à ilustração. Ele chegou a fazer desenhos para poemas de Ariano Suassuna, amigo de escola do artista, e começou a ser acompanhado e ensinado pelo membro fundador da Academia de Belas Artes de Pernambuco Álvaro de Amorim.

Ao longo da vida, ele teve um estudo muito aprofundado nas técnicas das artes plásticas e pôde aprender com famosos mestres europeus. Andre Lother, Fernand Legèr e Murillo La Greca foram alguns dos mentores do artista durante estadia em cidades como Barcelona (Espanha), Perugia (Itália) e Paris (França).

Brennand se tornou distinto na escultura e na cerâmica. A partir de 1971, começou um trabalho de revitalização de uma antiga fábrica de telhas e tijolos da família, transformada em museu-ateliê, que atualmente concentra mais de três mil obras. Em setembro de 2019, a oficina se tornou um instituto sem fins lucrativos com foco na preservação do patrimônio e legado de Francisco Brennand.
 
* Estagiário sob a supervisão de Cláudia Dianni
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quinta, 19 de dezembro de 2019

GOLEIRO É PRESO POR AGREDIR MULHER

 

Goleiro é preso por agredir a mulher

 

Publicação: 19/12/2019 04:00

Com rosto ferido, Milena publicou vídeo em que denuncia o goleiro Jean (Fotos: Reprodução/Video
)  

Com rosto ferido, Milena publicou vídeo em que denuncia o goleiro Jean

 



 


Preso na manhã de ontem em Orlando, na Flórida, o goleiro Jean pode ir a julgamento nos Estados Unidos. Existe a possibilidade de isso acontecer também no Brasil. Ele foi acusado pela esposa, Milena Bemfica, de tê-la agredido durante discussão no hotel onde estavam hospedados. O casal e as duas filhas estavam em férias. O São Paulo acompanha o caso e acena com a possibilidade de rescindir o contrato do jogador de 24 anos — o vínculo vai até o fim de 2022.

Para Jean responder a um processo nos Estados Unidos, Milena Bemfica precisa realizar uma queixa formal mesmo após ela ter divulgado o vídeo em que relata as agressões. Ela tem três dias para isso. Por se tratar de violência doméstica, considerada uma ação pública incondicionada, o Ministério Público apresenta a denúncia mesmo que a vítima não demonstre interesse em fazê-la ou se sinta ameaçada.

Ciente do fato, a diretoria do São Paulo acompanha o caso e está reunida para decidir o futuro do goleiro. A tendência é de que ele tenha o contrato rescindido. Em nota oficial divulgada ontem, o clube afirmou que vai aguardar a apuração do caso.
Segundo o Boletim de Ocorrência, Jean agrediu Milena com oito socos e foi algemado. Além disso, o documento relata que a mulher se defendeu com uma chapinha de cabelo e feriu o goleiro com o objeto, em ato de legítima defesa. A ficha de Jean está publicada no site do Departamento de Correções do Condado de Orange.



“Eu estou aqui em Orlando e olha o que o Jean acabou de fazer comigo. Jean acabou de me bater. Gente, socorro! Olha para isso, gente. Jean, goleiro do São Paulo, olha o que ele fez comigo. Eu quero justiça, eu quero justiça!”

Milena Bemfica, esposa do goleiro Jean, em vídeo gravado trancada no banheiro e publicado em rede social
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quarta, 18 de dezembro de 2019

LUTA CONTRA O CÂNCER: DO LABORATÓRIO PARA O PACIENTE

LUTA CONTRA O CÂNCER

Do laboratório para o paciente
 
 
Em meio à perspectiva de diminuição de verbas, Universidade de Brasília (UnB) desenvolve mais de 50 projetos de pesquisa que têm o câncer como foco de estudo, com o objetivo de encontrar novos e melhores tratamentos

 

Emilly Behnke

Publicação: 18/12/2019 04:00

A professora Graziella Joanitti integra grupo que estuda o efeito de compostos naturais contra os tumores (Emilly Behnke/CB/D.A Press - 19/11/19)  

A professora Graziella Joanitti integra grupo que estuda o efeito de compostos naturais contra os tumores

 



Um dos principais polos de pesquisa no Centro-Oeste, a Universidade de Brasília (UnB) está entre as instituições brasileiras que se dedicam a estudos sobre o câncer. No entanto, a possibilidade de uma redução significativa no orçamento da entidade para 2020 preocupa a equipe. A previsão é de que a verba seja de R$ 1.370.581.487, montante 23,79% menor do que o deste ano. Os recursos, de acordo com a UnB, são insuficientes para honrar as despesas obrigatórias.

Os 54 projetos atuais da universidade relacionados à doença não se restringem à Faculdade de Medicina. Eles ocorrem em áreas como química, física, biologia animal e nutrição. Parte das pesquisas é conduzida por um grupo de 21 integrantes do Programa de Pós-Graduação em Nanociência e Nanobiotecnologia do Instituto de Ciências Biológicas, entre eles a professora doutora Graziella Joanitti, que estuda o efeito de compostos naturais contra o câncer.

“O objetivo é buscar na natureza compostos com atividade antitumoral. Eu trabalho particularmente com o câncer de pele e o câncer de mama”, explica Graziella. Os estudos têm como foco óleos derivados de frutos de açaí, buriti e pequi. “A gente coloca esses óleos em pacotes nanométricos, porque o óleo livre, muitas vezes, não tem efeito contra o câncer por não se misturar com a água, e a célula não consegue interagir com ele”, detalha.

A professora orienta seis trabalhos de mestrado e doutorado e outros quatro projetos de iniciação científica, todos na mesma linha de pesquisa. “O que também fazemos com esses nanossistemas são terapias combinadas. Com o óleo, colocamos quimioterápicos já usados clinicamente”, esclarece. A intenção é potencializar o tratamento e reduzir os efeitos colaterais.

Os projetos citados pela pesquisadora receberão neste mês os últimos recursos financeiros, e a equipe dela aguarda a abertura de novos editais. “Com os materiais que temos hoje, conseguimos seguir com os estudos até o início do ano que vem, mas, depois disso, vamos precisar de novas fontes”, enfatiza Graziella.


Pesquisadores trabalham para reduzir a toxicidade da quimioterapia  (João Paulo Longo/UNB)  

Pesquisadores trabalham para reduzir a toxicidade da quimioterapia

 




Interdisciplinaridade
O uso da nanobiotecnologia para potencializar tratamentos médicos também é trabalhado pelo professor João Paulo Longo. Ele conduz projetos com foco em nanomateriais para aplicações biológicas. Para isso, conta com o auxílio de conteúdos fora da biologia. “A nanociência por natureza exige um formato de grupos interdisciplinares. Precisa do conhecimento de física, matemática e biologia para ampliar isso na parte médica”, informa.

João Paulo é responsável por um grupo de 10 participantes, entre mestrandos, doutorandos e alunos de iniciação científica. “A gente tem três focos: reduzir a toxicidade da quimioterapia; controlar o desenvolvimento de metástase; e utilizar tecnologia para ativar o sistema imunológico dos pacientes.”O professor destaca que parte dos projetos em nanobiotecnologia tem apoio de universidades do exterior. “Nossos principais colaboradores são alemães e chineses. A internacionalização agrega muito no universo da ciência. A qualidade das hipóteses e das perguntas melhoram”, observa.

Segundo o diretor da Faculdade de Ciências da Saúde, Laudimar Alves de Oliveira, a UnB tenta continuamente parcerias internacionais, para que os pesquisadores daqui desenvolvam os trabalhos lá fora. “É mais comum o brasileiro ir para essas universidades do que o estrangeiro vir, porque a infraestrutura laboratorial e a estrutura de pesquisa no exterior são mais favoráveis.”

O diretor indica que o alto custo da infraestrutura e dos equipamentos da área é a maior barreira para a Universidade de Brasília. “Hoje precisamos de R$ 10 milhões para construir um laboratório de graduação plenamente satisfatório do ponto de vista de pesquisa e ensino”, exemplifica.

Financiamento
O comprometimento de verbas é um empecilho para a inovação, destaca a professora Maria Emília Walter, decana de Pesquisa e Inovação da UnB (leia Três perguntas para). Para ela, o incentivo governamental é essencial no âmbito acadêmico. Dos 54 projetos sobre câncer, a UnB financia apenas dois. Os demais têm bolsas de financiadoras, que também não têm perspectivas favoráveis para o ano que vem.

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por exemplo, subsidia 11 pesquisas e, em 2019, teve dificuldades para transferir o dinheiro as bolsas. O governo federal aprovou suplementação de crédito de R$ 250 milhões para o pagamento do auxílio dos meses de outubro, novembro e dezembro. O orçamento do ano que vem, ainda não aprovado, é 6,3% maior. O aumento, entretanto, é no valor total e vem acompanhado de mudanças na distribuição dos recursos. A verba de fomento, que inclui compra de equipamentos e custeio de pesquisas, poderá ter corte de 87%.

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que custeia trabalhos da UnB, também tem perspectiva de redução. A previsão é de que o orçamento da instituição, ainda a ser aprovado pelo Congresso Nacional, fique em R$ 3,671 bilhões — 7,7% menor do que o de 2019.

Outros estudos da universidade contam com o financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF). A instituição recebe como dotação mínima 2% da receita corrente líquida do DF. Em 28 de novembro, a Câmara Legislativa aprovou, em primeiro turno, a proposta de emenda à Lei Orgânica do DF que garante ao governo o direito de usar para outros fins recursos destinados à FAP não empenhados até 15 de novembro deste ano.

O texto, de autoria do Executivo, ainda precisa ser avaliado em segundo turno. Ele não foi o primeiro apresentado com o objetivo de mexer no orçamento da FAP. No início de novembro, o Governo do Distrito Federal (GDF) enviou projeto à Câmara que previa redução em cerca de 80% na verba da fundação — estabelecia repasse de apenas 0,3% dos recursos do DF para a FAP. A proposição foi repudiada pela comunidade acadêmica e tirada de pauta, mesmo que, segundo nota do GDF, continue a tramitar no Legislativo.

Maior incidência
Enquanto as pesquisas buscam novos tratamentos, a incidência do câncer cresce no Brasil. No ano passado, foram registrados 582.590 pacientes. Uma estimativa do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) prevê 600 mil novos casos para 2019.

Tema de conscientização do mês de novembro, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens no Brasil, apenas atrás do câncer de pele — que é tema do Dezembro Laranja, o último mês temático de conscientização do ano. Na UnB, cinco projetos estudam o câncer de próstata. Já o câncer de mama é alvo de 12 pesquisas. Entre as mulheres, o câncer de mama prevalece como segundo tipo da enfermidade mais frequente, também atrás do câncer de pele, e é o que mais mata.




"Com o material que temos, conseguimos seguir até o início do ano que vem. Depois, vamos precisar de mais fontes”

Graziella Joanitti, doutora do Instituto de Ciências Biológicas
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense terça, 17 de dezembro de 2019

MARCELO CAFÉ: A REVOLUÇÃO É MUSICAL

 

A revolução é musical
 
Cantor e compositor de Ceilândia, Marcelo Café se utiliza do poder da música para falar sobre empoderamento e defender o lugar de fala dos negros

 

Cibele Moreira

Publicação: 17/12/2019 04:00

 

"Temos de tomar posição, celebrar nossa negritude com o que é nosso de direito. A música brasileira é negra, a cultura é negra, o carnaval é negro, o samba é negro"

 

“Falar sobre a beleza negra, o empoderamento, o assumir a negritude, tudo isso é fator de existência.” Com essas palavras, Marcelo Fernandes Rocha — conhecido como Marcelo Café — defende o poder de fala e a importância de se posicionar em uma sociedade racista. Destaque na cena artística brasiliense, o cantor e compositor de 46 anos passeia pelos estilos do samba e do samba-rock com forte militância. “Temos de tomar posição, celebrar nossa negritude com o que é nosso de direito. A música brasileira é negra, a cultura é negra, o carnaval é negro, o samba é negro.”
 
Marcelo nasceu em Niterói (RJ). Aos 10 anos, veio para Brasília com a família para acompanhar o pai, funcionário da Rádio Planalto. Ainda criança, teve contato com instrumentos musicais. “Comecei a tocar de 7 para 8 anos. Minha mãe deu meu primeiro violão, me ensinou os primeiros acordes”, lembra. Na infância e em parte da adolescência, tocava na igreja acompanhando a mãe, que era do coral. Já adulto, fez apresentações em barzinhos e, em 2007, assumiu o vocal da banda autoral Casa-Grande, que misturava bossa-nova e rock. “Esse foi um dos momentos mais importantes da minha carreira, para me aceitar como compositor.”
 
O morador de Ceilândia se consolidou na carreira e coleciona prêmios por suas composições, a exemplo de A Revolução é Preta, ganhadora do Festival Universitário de Música Candanga (Finca), em 2017. No ano seguinte, Marcelo foi finalista do festival de música da Rádio Nacional como melhor intérprete.
 
O artista conta que a letra da canção premiada veio por inteira após ler a frase “I have seen God and she’s black” (em português, “Vi Deus, e ela é negra”), usada pelo movimento Black Powers, nos Estados Unidos. “A Revolução é Preta foi composta em um momento mágico. Estava na Universidade de Brasília, andando do ICC Norte para o ICC Sul, quando tive a visão de uma mulher sob as nuvens e, ao redor dela, ogans negros tocavam tambores. E ela vinha trazendo o samba, a cura. É uma música muito forte, que fala de empoderamento, de amor”, relata.
 
E empoderamento tem de sobra nas canções de Marcelo Café. A primeira composição de cunho étnico e político foi Preto Empoderado. A letra, feita em parceria com Cristiane Sobral, fala sobre a beleza do negro, de se aceitar como é, com o cabelo black, a cor de pele. “Tem músicas minhas que eu toco hoje que existem há pelo menos 10 anos, mas a gente sempre fica na dúvida de colocar para jogo. Especialmente quando é uma música política como a minha. Eu demorei muito para começar a revelar”, expõe o artista, que pretende lançar um disco apenas com canções que enaltecem a negritude. No novo EP, programado para ser lançado no meio do ano que vem, haverá sete músicas autorais, entre elas, A Revolução é Preta, O Samba Cura e Monalisa é Negra.
 
A inspiração para essa reverência de fala por meio da música veio de um outro artista influente. “O Luiz Melodia foi importante para o meu reconhecimento como negro. Quando eu vi esse cara cantando Pérola Negra e a forma como ele se movimentava no palco, vestido todo de vermelho, eu pensei: ‘olha só esse cara, eu também posso fazer isso’”.
 
Preconceitos
 
Para Marcelo Café, dificilmente um negro não tenha passado por algum episódio de preconceito no Brasil. Um gesto, um olhar, uma fala, que, às vezes, nem se percebe. “Quando você desperta para isso, é fácil notar como a televisão te invisibiliza. Apesar de ser maioria na população, o negro é minoria em muitos lugares e nos espaços de poder. O Brasil não assume que é um país racista, não assume que existe essa segregação, que existe o racismo institucional que nos mata todos os dias, nos tira direito.”
 
Uma das frases destacadas pelo músico durante a entrevista ao Correio foi que “a gente não nasce negro no Brasil, a gente se torna negro”. De acordo com ele, todo o sistema colabora para isso. “Quando uma criança negra sai de casa para ir à escola, ela se depara com uma realidade em que a cor de pele dela não é aceita, o cabelo não é o bonito. E principalmente o ensino de história não favorece. E, nesse processo, você se torna realmente negro, começa a perceber como as pessoas te olham. Com isso, vem o empoderamento, o orgulho e o entender o que é ser negro no país.”
 
Projetos
 
Com 20 anos de carreira como músico, Marcelo Café também movimenta a cena artística da cidade com vários projetos independentes, principalmente em regiões da periferia. Um deles é o Tardezinha do Samba, que ocorre em Ceilândia e, em 28 de dezembro, terá sua segunda edição. Será na Casa do Cantador, das 12h às 23h. Onze artistas do DF vão se apresentar, e a entrada é gratuita.
 
Outra iniciativa é o Baile do Café, realizado sempre em maio, para comemorar o aniversário do cantor. O evento, aberto à população, mistura várias vertentes da cultura negra, como o soul, charme e o rap.
 
Sacerdote
No candomblé, ogan é o nome do sacerdote escolhido pela divindade ancestral orixá, que permanece lúcido durante todos os trabalhos. Não entra em transe, mas, ainda assim, recebe a intuição espiritual. Geralmente toca instrumentos de percussão.
 
Preto Empoderado
Preto de cabelo black não é homem de bem
Preta de cabelo black não tem a aparência que convém
Elas são negras, o manual da melanina
Então abaixa, alisa, corta e investiga
Não sabe que tem que clarear
Que ousadia
Pois espere o inesperado
É o preto empoderado
Eu tenho orgulho da minha cor, do meu cabelo e do meu nariz
Porque eu sou crioulo
 
Monalisa Negra
Eu fiz o samba só pra ela
Num domingo de manhã, que o céu acordou o dia
Lá na feira eu vi você soltar o pixaim
Renascença ébano, um Da Vince negro pixe
Um sorriso, um enigma
Me encantando e convidando
Me senti privilegiado quando ela me fitou
Uma tela feita óleo
Que oxalá me regalou
Monalisa negra dominando tudo
Na cor de tua pele, escrevi o meu futuro
 
Especial
A série Histórias de consciência presta homenagem a mulheres e homens negros que ajudam a construir uma Brasília justa, tolerante e plural. Todos os perfis deste especial e outras matérias sobre o tema podem ser lidos no site www.correiobraziliense.com.br/ historiasdeconsciencia 
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense segunda, 16 de dezembro de 2019

CORREIO DIGITAL REDUZ CUSTOS

 

Governo digital reduz custos
 
Com mais de 500 serviços fornecidos pela internet, como carteira de trabalho e pedido de aposentadoria, União faz economia milionária. Objetivo é chegar a 100% de digitalização até 2022 e diminuir gastos para Estado e população

 

» Simone Kafruni

Publicação: 16/12/2019 04:00

Para Moisés Maciel, a tecnologia representa qualidade de vida:  

Para Moisés Maciel, a tecnologia representa qualidade de vida:"Já tirei passe livre digital e acessei serviços do INSS digitalmente para não precisar me deslocar"

 



O Brasil tem a quarta maior demanda do mundo de serviços públicos, no entanto, até 2018, estava na 44ª posição global em oferta digital. Para sair do prejuízo, o Executivo deu início a um processo de transformação, com o objetivo de chegar a 100% de digitalização até 2022. Este ano, colocou na rede mais de 500 serviços, antes prestados apenas de forma presencial. Vinte e seis órgãos estão acessíveis na palma da mão, via internet nos dispositivos móveis, como o celular.
 
Em um ano, superou em 20% a meta da transformação digital de serviços públicos. Carteiras de trabalho, estudantil e de trânsito, solicitação de aposentadoria por tempo de contribuição e certificado internacional de vacinação e profilaxia são os de maior impacto entre a população. O documento trabalhista, por exemplo, que demorava 17 dias, em média, para ficar pronto, agora sai no mesmo dia. A aposentadoria pode ser obtida no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em poucas horas.
 
A economia chega a R$ 1,7 bilhão por ano, dos quais R$ 1,38 bilhão deixam de ser gastos pela população em deslocamentos, tempo de espera e despesas com despachantes. Além disso, a redução da burocracia faz com que 146,8 milhões de horas/ano deixem de ser perdidas. É o equivalente a mais de um dia inteiro de trabalho de toda a população economicamente ativa na Grande São Paulo. Os serviços transformados representam 19 milhões de demandas anuais.
 
O secretário de Governo Digital do Ministério da Economia, Luis Felipe Monteiro, explica que a estratégia de transformação digital é a saída para possibilitar a redução do custo e o tamanho do Estado e aumentar de forma exponencial a qualidade dos serviços para o cidadão. “A redução de custos do governo chega a R$ 345 milhões. Ao adotar os canais digitais, a transação é 97% mais barata do que a presencial”, compara. O certificado nacional de vacinação, exemplifica, teve a equipe reduzida em 660 pessoas, que antes ficavam nos aeroportos batendo carimbo e foram realocadas para fazer fiscalização, serviço com maior necessidade de pessoal.
 
No caso da carteira de trabalho digital, a estimativa é de redução de 3,2 mil servidores nos postos de entrega. “Hoje, são menos de 300 pessoas responsáveis no Brasil inteiro. A carteira virou um aplicativo no celular, com todas as relações trabalhistas. Para quem já tem, inclusive”, destaca. Os profissionais foram realocados para onde há carência de pessoal, em atividades mais complexas do que simplesmente fazer uma entrega. “Onde a competência agrega mais valor ao serviço público”, frisa.
 
No caso do INSS, a estimativa é de redução de 1,1 mil pessoas nos postos de atendimento. “O fenômeno foi mais acelerado do que imaginávamos. Em abril de 2019, de todos os serviços, apenas 7% eram feitos por canais remotos e 93%, pelos presenciais. Com a digitalização, encerrada em setembro, a relação se inverteu: hoje são 10% presenciais e 90%, remotos”, pontua o secretário. A maioria das agências não foi fechada, mas as filas acabaram.
 
Para Moisés Augusto Maciel, de 40 anos, morador do Riacho Fundo II, a digitalização representa qualidade de vida. “Já tirei passe livre digital e acessei serviços do INSS digitalmente para não precisar me deslocar”, conta. “Só para fazer o agendamento, tinha de ir à agência. Perdia de 1 hora e meia a 2 horas. Além disso, ficava na fila mais de 2 horas. Teve um dia que perdi 3 horas”, recorda. Cadeirante, Moisés tem direito ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) da Lei Orgânica de Assistência Social (Loas). “Agora, minha mãe está se aposentando e pôde fazer a solicitação pelo aplicativo. Muito melhor”, comemora.
 
Apesar dos avanços, o secretário Monteiro reconhece que o Brasil largou atrasado no processo de digitalização. “Demoramos muito tempo para iniciar. Embora algumas áreas estejam mais maduras, como a Receita Federal e o Tribunal Superior Eleitoral, ainda falta integração entre os órgãos. Por isso, estamos migrando tudo para um único portal, o Gov.br”, afirma. Ainda assim, o Brasil está na frente de países como a China, Arábia Saudita, Peru, Equador, Panamá, Venezuela, Bolívia, Paraguai e México em digitalização, conforme levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU).
 
Govtechs
 
Mesmo avançando bem para atingir a meta de governo de oferecer 100% dos serviços públicos federais de forma digital até 2022, há muito por fazer, admite Monteiro. As chamadas govtechs — startups que oferecem soluções tecnológicas para as esferas governamentais — são um ramo promissor. “Estamos construindo uma plataforma aberta onde as startups poderão conectar suas soluções”, afirma.
 
O diretor de projetos da aceleradora de govtechs BrazilLab, Renato Rebelo, explica que existem soluções capazes de reduzir até R$ 127 bilhões de custos com perdas por erros operacionais no sistema da Previdência Social. A BrazilLab é um hub (centralizador) de inovação que conecta startups com o governo. Das 300 empresas inscritas, 30 foram escolhidas por oferecerem as melhores soluções, passaram por mentoria e agora estão em processo de contratação por governos.
 
Uma delas, que auditou a folha de pagamentos do Recife, conseguiu promover uma economia de R$ 10 milhões em um ano. “As govtechs vão movimentar até US$ 400 bilhões em 2025. No Brasil, no entanto, as barreiras são a legislação e a falta de pessoal especializado. Há um deficit de mão de obra e de profissionais de TI (tecnologia da informação)”, assinala.


"A redução de custos do governo chega a R$ 345 milhões. Ao adotar
os canais 
digitais, a transação é 97% mais barata do que a presencial”
 
Luis Felipe Monteiro, 
secretário de Governo Digital do Ministério da Economia
 
Jornal Impresso


Correio Braziliense sábado, 14 de dezembro de 2019

CHUVA E VENTO CAUSAM ESTRAGOS

 

Chuva e vento causam estragos
 
Árvores caídas na Asa Norte atingiram um prédio e bloquearam vias, principalmente a W3. Apesar do susto, ninguém ficou ferido. Além disso, partes do Guará, Setor Habitacional Lucio Costa e da Candangolândia ficaram sem luz por volta das 21h

 

» DARCIANNE DIOGO
» MATHEUS FERRARI

Publicação: 14/12/2019 04:00

 
"Presenciei a árvore quebrando, mas ela não tinha caído ainda. Bateu o vento forte, e ela veio com tudo. Quebrou o vidro da minha casa e rasgou o sofá novinho" Socorro Lopes, moradora da 706 Norte
Na altura da 708 Norte, uma árvore caiu e bloqueou uma das faixas da W3: risco para os motoristas que trafegavam pelo local à noite  (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  
Na altura da 708 Norte, uma árvore caiu e bloqueou uma das faixas da W3: risco para os motoristas que trafegavam pelo local à noite
Chuva e ventos fortes causaram transtornos no Distrito Federal na noite de ontem. Moradores da Asa Norte, que sofrem com inundações frequentes, passaram por momentos de tensão, em função do temporal. Três árvores caíram na região, que também ficou sem luz por alguns minutos. Além disso, houve queda de energia no Guará, no Setor Habitacional Lucio Costa e na Candangolândia. Por volta das 21h de ontem, a Defesa Civil emitiu alerta de chuvas fortes com rajadas de vento e raios.

Na Asa Norte, uma árvore de porte médio tombou na 706, atingindo um prédio residencial e assustou os moradores. “Eu estava rezando e pedindo: ‘Meu Deus do céu, me proteja’. O vento foi muito forte, e eu vi que cairia”, disse a aposentada Socorro Lopes. “Presenciei a árvore quebrando, mas ela não tinha caído ainda. Bateu o vento forte, e ela veio com tudo. Quebrou o vidro da minha casa e rasgou o sofá novinho, que estava encostado”, completou Socorro.

A árvore bloqueou a passagem de veículos. Carros e motos precisaram fazer a volta e retornar pela mesma via, sem conseguir acessar a W3. Ao longo da avenida, o Correio identificou mais estragos. Na 708, uma árvore caiu no canteiro central, entre as duas vias da W3, chegando a bloquear uma faixa. Na mesma quadra, parte do outdoor de uma loja foi arrancado pela ventania. “Todo mundo teve de sair daqui correndo para não cair em cima da gente. Em menos de 10 segundos, ventou muito e começou a estalar tudo de uma vez. Aconteceu muito rápido”, contou uma moradora da região, que não quis se identificar.

Na 702, em frente ao Colégio Marista João Paulo II, outra árvore tombou, bloqueando as três pistas da via, no sentido Asa Sul. Agentes do Departamento de Trânsito (Detran) estiveram no local para orientar motoristas e desviar o fluxo de veículos.
 
Danos
 
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), entre as 20h e as 20h30 de ontem, a Estação Sudoeste registrou 0,4 milímetros de volume de água na área central de Brasília. “Consideramos que foi uma chuva rápida, mas forte o suficiente para causar estragos. O que chamou a atenção nesse período foi a forte rajada de ventos”, explicou Mamedes Luíz Melo, meteorologista do Inmet.

Nas regiões de Planaltina e Sobradinho, o volume de água foi maior, segundo o instituto. Entre as 19h e as 20h, choveu 18,4mm nas respectivas cidades. Para hoje, o Inmet prevê sol, com possibilidade de chuva em áreas isoladas. A temperatura mínima será de 16°C, e a máxima, de 30°C. A umidade relativa do ar deve ficar entre 35% e 95%.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sexta, 13 de dezembro de 2019

HISTÓRIA DA PAQUISTANESA MALALA: QUINTAL DE POSSIBILIDADES

 

Quintal de possibilidades

 

Roberta Pinheiro

Publicação: 13/12/2019 04:00

História da paquistanesa Malala, contada pela jornalista Adriana Carranca, ganha adaptação para o teatro com músicas de Adriana Calcanhoto (Flávia Canavarro/Divulgação)  

História da paquistanesa Malala, contada pela jornalista Adriana Carranca, ganha adaptação para o teatro com músicas de Adriana Calcanhoto

 

 
O poder da transformação. Transformar quintal em palco, peteca em caneta, balão em abóbora, tijolo em cadeira, carência em riqueza. Idealizado pela atriz Tatiana Quadros, com direção de Renato Carrera e adaptação de Rafael Souza-Ribeiro, o espetáculo musical Malala, a menina que queria ir para a escola é a primeira adaptação teatral do livro-reportagem da escritora e jornalista Adriana Carranca. 
 
Contada em primeira pessoa, a peça narra a viagem de Adriana ao Paquistão, dias depois do atentado à vida de Malala por membros do Talibã, por defender o direito de meninas à educação. “Ela se questiona o porquê uma menina de 15 anos sofre um atentado tão brutal por querer ir à escola e, nessa jornada, se depara com o universo da tribo de Malala e o poder de transformação por meio da educação, do amor e da liberdade. São três palavras-chave que guiam a história, o que aconteceu e o caminho”, detalha Tatiana. 
 
O relato da menina que nasceu em uma sociedade patriarcal e tribal, mas que, pelo olhar do amor e das oportunidades, sobretudo promovido pelo pai, um educador e ativista político, é transfigurado e encenado no palco a partir de uma ótica brasileira. Malala, a menina que queria ir para a escola é um espetáculo corporal, com dança, música ao vivo, projeções e interpretação, além de muitas brincadeiras no quintal de uma casa. “Os personagens não são fixos paquistaneses, são contadores de histórias. Fazemos tudo de uma forma lúdica e poética. Tudo foi pensado a partir da ideia de transformação. A Malala transforma o mundo de alguma forma pela possibilidade de educação que recebeu, de se expressar e queremos ampliar isso para os outros”, comenta a atriz. 
 
Apesar da ênfase, a interpretação e à narrativa, canções costuram as cenas trazendo leveza, poesia e graça. Entre o repertório do espetáculo, estão três músicas inéditas escritas pela cantora Adriana Calcanhoto. “Nesse momento, trabalhar com cultura, com teatro, falar de Malala, sobre o quanto a educação é fundamental e seu o oposto é a barbárie, não é uma arte simples. A gente acredita que é possível, também, transformar essa situação que a gente vive, não é uma questão de partido ou posicionamento político. Sentimos que está faltando muita resistência e amor, amor à arte e à humanidade”, finaliza Tatiana.

Serviço
Malala, a menina que queria ir para a escola
No Teatro da Caixa Cultural Brasília. Hoje, amanhã e domingo, sempre às 17h. Ingressos: R$ 16 (inteira) e R$ 8 (meia-entrada) Livre para todos os públicos.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quinta, 12 de dezembro de 2019

DESLIZAMENTO NA ASA SUL - DEFESA CIVIL IDENTIFICA FALHA NA EXECUÇÃO

 

DESLIZAMENTO NA ASA SUL
 
Defesa Civil identifica falha na execução
 
Para subsecretário do órgão, barreira de contenção erguida na construção de centro clínico não tinha altura suficiente para segurar grande volume de chuva. Os quatro carros engolidos pela cratera aberta na 709/909 são retirados

 

» ALAN RIOS
» CIBELE MOREIRA

Publicação: 12/12/2019 04:00

Um guincho auxiliou a retirada dos veículos que caíram na cratera: risco de aumentar o buraco caso caia outra chuva forte (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Um guincho auxiliou a retirada dos veículos que caíram na cratera: risco de aumentar o buraco caso caia outra chuva forte

 


 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

 
Após o susto, as ações. Os quatro carros engolidos por um deslizamento em obra da Asa Sul foram retirados da cratera ontem, e os danos começaram a ser calculados. Com o auxílio de um guincho, os veículos subiram por uma espécie de rampa de lama, construída para facilitar o içamento. Tiago Carvalho, 33 anos, teve o carro retirado do buraco. “Achei que os danos seriam bem piores. Agora, vamos fazer a avaliação pelo seguro e com a empresa (construtora responsável pela obra) e aguardar. A companhia nos forneceu um veículo provisório, que ajuda. Fica só o susto e a história”, afirma.

Mas quem mora ou trabalha na região da 709/909 Sul se preocupa com o risco de a cratera aumentar caso caia outra chuva intensa. A previsão do tempo alerta para fortes precipitações nos próximos dias. Para resguardar quem passa pelo local e quem teme outro desastre, representantes da Defesa Civil e do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) discutem o motivo para o acidente de terça-feira. O Crea defende que a obra tomou todos os cuidados técnicos necessários, avaliando que e o caso tenha sido uma fatalidade. Técnicos da Defesa Civil, no entanto, entendem que os engenheiros podem ter deixado de analisar impactos relevantes de fatores externos, como a chuva.

“É interessante observar que não houve rompimento de rede de esgoto ou de água no Plano Piloto em nenhum outro lugar após aquela forte precipitação. Isso só ocorreu em uma obra que estava, de certa forma, desprotegida e com necessidade de contenção”, alegou o subsecretário do Sistema de Defesa Civil, coronel Sérgio Bezerra. Segundo ele, houve falha entre o planejamento e a execução da construção do centro clínico, pois a barreira de contenção não tinha altura suficiente para segurar grande volume de chuva. “Qualquer tipo de construção tem de considerar todas as variáveis. Trânsito que passa perto do local, peso dos veículos, fluxo da água da chuva. Tudo isso tem de ser levado em conta para a criação da parede de contenção a fim de evitar um deslizamento como esse”, ressaltou Sérgio.

Ele acrescentou que, com a força da água, combinada com terra fofa e úmida, a parte do solo que sustentava a tubulação de drenagem deslizou, tirou o apoio dos canos e pode ter impactado para o rompimento da estrutura. “A água tem poder de escavação e acabou comprometendo a estrutura de sustentação”, completou. 

No entanto, só a perícia da Polícia Civil determinará as causas do deslizamento. O laudo ficará pronto em até 30 dias. Até lá, há chance de que cedam mais partes do asfalto ao redor da cratera. “Tem estruturas ali que estão por desabar. É necessário o compromisso da empresa para começar a recuperação imediata. Vai cair mais chuva, vai infiltrar a água na escavação. Eles vão trazer bombas para ficar aí à disposição e retirar essa água”, explicou o subsecretário.

Rompimento
 
No momento, não há riscos estruturais nas edificações vizinhas à cratera, segundo a Defesa Civil. No entanto, comerciantes estão apreensivos. As aulas na Cultura Inglesa, prédio ao lado da obra, tiveram impacto apenas no período da manhã. “Seguimos a recomendação governamental e só abrimos às 8h, após a verificação técnica. As quatro turmas que temos no turno matutino foram transferidas para quinta-feira (hoje), e as atividades no período da tarde e da noite seguiram normalmente”, detalhou o professor Pedro Bueno, 25 anos. Ainda assim, existe preocupação quanto a novo deslizamento.
O farmacêutico José Antônio Gontijo, 55, conta que trabalha com receio no edifício ao lado do acidente. “A gente fica apreensivo. Abrimos a loja após a liberação da Defesa Civil, mas estamos em alerta. Qualquer sinal de abalo ou se não sentirmos segurança de ficar no prédio, vamos fechar a loja”, relatou Gontijo.

A esteticista Adelaide Roque, 45, cancelou a agenda com os clientes hoje. “Tive que fazer isso por prudência, até para preservar os clientes. Não sinto segurança aqui no prédio; então, preferi remarcar”, contou Adelaide, que presenciou o desabamento. “Foi um susto enorme. Fiquei nervosa. O meu primeiro pensamento foi se alguém tinha se machucado”, lembrou. Ela é dona de um estúdio de estética e não sabia se trabalharia nesta quinta-feira.

Na tarde de ontem, equipes da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) trabalhavam no local para interromper a ligação da rede de esgoto. A tubulação de águas pluviais também foi desviada para evitar complicações na recuperação do buraco. Equipes da D&B Construtora e Incorporadora, responsável pela obra, iniciaram a contenção. Em nota, a empresa informou que “está providenciando laudos periciais para investigar o motivo do deslizamento” e que os quatro proprietários de veículos atingidos “foram devidamente assistidos”. Por fim, ressaltou que nenhum dos prédios vizinhos foi afetado e que a construção se encontra em situação regular.

A presidente do Crea, Fátima Có, comunicou que o conselho realizou uma fiscalização na obra e verificou que ela cumpriu todo o rito legal. “Não há nada para falarmos que seja uma imperícia profissional. Existiu um fator externo que deve ter contribuído para o desabamento. Estamos sabendo que, devido à chuva, houve um rompimento, talvez, na rede de águas pluviais”, adiantou, ressaltando que a precisão do que houve será analisada no laudo da Polícia Civil.

A construção obteve registro no Crea em agosto de 2018. Porém, durante as obras, percebeu-se a presença de uma rede da Caesb. “Essas interferências foram desviadas para haver a escavação e acabaram sendo colocadas atrás da contenção. Devido à chuva, houve o rompimento, e a água encharcou a parede de contenção, que cedeu.” Para ela, é irresponsabilidade apontar culpados antes do resultado da perícia.


Previsão 
do tempo
 
Olívio Bahia, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), prevê que o Distrito Federal terá chuvas fortes e período de instabilidade até sexta-feira. “Não podemos precisar exatamente onde a chuva vai cair com mais intensidade, mas estamos em estado de alerta de chuva forte em toda a área, inclusive no Plano Piloto”, explicou. Segundo Olívio, a expectativa é de que, a partir de sábado, as precipitações diminuam, deixando o clima estável. “As temperaturas podem subir, e existe a possibilidade de uma semana de estiagem”, aponta.
 
Jornal Impresso
 
 

Correio Braziliense quarta, 11 de dezembro de 2019

CRATERA ENGOLE QUATRO CARROS NA ASA SUL

 

Cratera engole quatro carros na Asa Sul
 
 
Rede de águas pluviais não resiste ao volume de chuvas entre a madrugada e a tarde de ontem e provoca deslizamentos em um canteiro de obras, na 709/909 Sul. Ninguém fica ferido, mas dois prédios são interditados

 

» ALAN RIOS
» DARCIANNE DIOGO
» MATHEUS FERRARI

Publicação: 11/12/2019 04:00

A cratera que se abriu chegou a 20 metros de largura e 10 metros de profundidade: outros veículos ficaram a poucos metros de serem atingidos (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

A cratera que se abriu chegou a 20 metros de largura e 10 metros de profundidade: outros veículos ficaram a poucos metros de serem atingidos

 

 
Os quase 90 milímetros de água que caíram sobre a capital entre a madrugada e a tarde de ontem contribuíram para uma das imagens mais marcantes desde o início do período chuvoso na capital federal: uma cratera de 20 metros de largura e 10 metros de profundidade engoliu quatro carros em um canteiro de obras, na 709/909 Sul, em frente à Cultura Inglesa. Na hora do incidente, por volta das 15h30, choveu 28,8mm na área central, índice considerado elevado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Informações preliminares apontam que a tubulação de águas pluviais não suportou o volume de chuva.

A cena chamou a atenção pela destruição no local onde será erguido um centro clínico. Veículos virados, pedaços de madeira e de placas, além de blocos de concreto, se misturavam à terra que deslizou sobre o canteiro de obras. No momento em que o muro de contenção despencou, cachoeiras de água se formaram à beira do asfalto esfacelado. O veículo da pesquisadora Mariana Fontenele, 38, escapou por cerca de 10m. Ela havia estacionado próximo ao local do desabamento para levar os filhos a uma consulta. “A terapeuta das crianças chegou correndo e falando para a gente que uns carros caíram em uma cratera. Quando fui chegando perto, a sensação foi apavorante, mas vi que o meu não foi atingido”, disse.

Ninguém ficou ferido, mas dois edifícios foram evacuados e interditados pela Defesa Civil, o Biocárdios e a Cultura Inglesa. De acordo com o subsecretário da Defesa Civil, coronel Sérgio Bezerra, a situação seguia instável até o início da noite de ontem. “A cena é bastante insegura, e a cratera pode evoluir e aumentar de tamanho. Não há riscos de o desabamento atingir os outros prédios, mas isolamos por uma questão de segurança, até porque há um tráfego alto de pessoas no local”, explicou.

Quem trabalha no prédio ao lado do canteiro de obras sentiu tremor na região. Foi o caso do podólogo José Alves, 43. “Estava atendendo quando ouvi um barulho muito forte que achei se tratar de um raio. Senti como se fosse um terremoto começando. Ficamos assustados, senti o piso balançar e olhei pela janela para ver o que tinha acontecido. Os carros estavam caídos, e muita gente do prédio da frente começou a correr”, detalhou. José não chegou a perceber nada de anormal na obra, mas uma funcionária dele reparou em um desnível no local onde o buraco foi aberto. “Ela disse que, duas semanas atrás, o piso estava cedendo um pouco e ficou preocupada”, relembrou.

Alisson Santiago, 27, é proprietário de um dos veículos engolidos pelo buraco. O advogado estava com a mulher quando estacionou para ir a uma consulta, minutos antes de a cratera se abrir. “Vi que era uma obra normal, estacionamento regular, outros veículos também estavam lá. Então, não me preocupei. Quando saímos da clínica, vimos todas as viaturas dos bombeiros e nos assustamos.” Ele pensou que uma árvore tivesse caído no local, mas percebeu em seguida que a proporção do acidente era maior. “Quando observei bem, percebi que era onde o meu carro estava. O bombeiro informou como eram os veículos danificados, mostrou foto e vi que o meu estava lá. Acho que a primeira sensação foi de alívio por não estar dentro dele quando isso aconteceu”, desabafou.

Dinarte Miguel de Oliveira, 60, também teve o carro levado pela cratera. Ele havia emprestado o automóvel para a filha ir ao médico e levou um susto quando ela descreveu a situação. “Acionei o seguro para tomar ciência e vou ver com a construtora como eles vão arcar. Mas agora é dar graças a Deus, porque não tinha ninguém dentro. A gente sempre vê calamidades acontecendo por aí, mas não imagina que elas vão acontecer com a gente”, comentou o aposentado.

O tenente do Corpo de Bombeiros Walmir Oliveira avaliou que o rompimento das instalações de água pluvial provocou o dano. Militares da corporação e técnicos da Defesa Civil foram acionados para atender à ocorrência. “Tivemos o desabamento de um muro de arrimo em uma obra de escavação, provavelmente por causa da chuva. O solo atrás desse muro ficou pesado e encharcado; então, cedeu. No que caiu, houve o deslizamento de terra”, explicou o oficial.

Os quatro carros engolidos estavam estacionados ao lado de um tapume que isolava a obra. Nenhum motorista estava no interior do veículo no momento do acidente, assim como não havia funcionários na construção quando aconteceu o incidente.
 
Compromisso
 
A Defesa Civil emitiu um termo de notificação à empresa responsável pela obra, a D&B Construtora e Incorporadora, determinando a recuperação imediata da construção. “Com isso, tentaremos evitar mais danos na área. A construtora também assumiu o compromisso de ressarcir os proprietários e alugar um carro para cada um, enquanto os veículos não são retirados da cratera”, informou o coronel Sérgio Bezerra.

O engenheiro Carlos Medeiros, responsável pela obra, disse ao Correio que a construção ocorria de forma regular e que a D&B tem mais de 200 intervenções no Distrito Federal sem intercorrências. “O que aconteceu não é comum. Houve a ruptura de uma rede pluvial, que atingiu o muro de contenção. Então, essa estrutura acabou cedendo, para explicar de forma resumida. Esse é um prédio comercial, em fase de fundação, que começou a ser construído no começo deste ano”, informou.

O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Distrito Federal (Crea/DF) esteve no local e não verificou nenhuma irregularidade relacionada aos responsáveis pela obra. À reportagem, a entidade informou que orienta as construtoras a sempre ter um profissional habilitado acompanhando as obras, evitando que sejam colocadas sob a responsabilidade de leigos. A sociedade pode ajudar na fiscalização de possíveis irregularidades por meio de denúncias no aplicativo Crea-DF-Cidadão.

A Defesa Civil solicitou ao Departamento de Trânsito (Detran) a redução do tráfego na região do desabamento para evitar sobrepeso na W4. Além disso, orienta a população a evitar a W4 e a W5 Sul, na altura da 709/909. Parte do trânsito está interditado no local.


 O Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil isolaram a área onde houve o deslizamento de terra. O carro de Alisson Santiago caiu no buraco: %u201CAcho que a primeira sensação foi de alívio por não estar dentro dele%u201D (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

O Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil isolaram a área onde houve o deslizamento de terra. O carro de Alisson Santiago caiu no buraco: "Acho que a primeira sensação foi de alívio por não estar dentro dele."

 


 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  



Condições de perigo
Da 1h às 6h de ontem, o Inmet registrou 63mm de chuva. “Podemos considerar que a quantidade é suficiente para deixar os terrenos encharcados, com condições de perigo e danos, além de ocasionar desabamentos”, afirmou o meteorologista Francisco de Assis, do Inmet


Riscos estruturais
Entre 1° de janeiro e 10 de dezembro, a Defesa Civil interditou 115 construções por riscos estruturais no DF. Segundo o órgão, os danos estruturais em edificações é causado, na maioria das vezes, pela ocupação desordenada do solo e pelo improviso nas construções.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense terça, 10 de dezembro de 2019

A MAGIA DA DANÇA - DIVERSIDADE NA PONTA DOS PÉS

 

Diversidade na ponta dos pés
 
Centro de Dança oferece aulas que vão desde o tradicional balé até movimentos afrocontemporâneos. Professores destacam os benefícios das atividades para o corpo e para o combate à desigualdade

 

» Lis Cappi*
» Thiago Cotrim*

Publicação: 10/12/2019 04:00

Aulas de balé são ministradas de segunda a sexta-feira, com diferentes valores e horários (Ed Alves/CB/D.A Press - 22/10/19)  

Aulas de balé são ministradas de segunda a sexta-feira, com diferentes valores e horários

 



Itan é o termo utilizado para designar o conjunto de todos os mitos, canções, histórias e outros componentes da cultura iorubá, um dos maiores grupos étnico-linguísticos da África Ocidental. Culturalmente, esse conjunto é passado de geração em geração. Uma referência ao termo é aplicada, desde julho, em um projeto de dança afrocontemporânea no Centro de Dança do Distrito Federal: o projeto Itans, um curso gratuito que explora ritmos e expressões corporais para formar multiplicadores em dança e cultura negra. A iniciativa é promovida pelo Instituto Casa da Vila e apoiada pela Fundação Cultural Palmares (FCP).
 
A educadora física Heloísa Adão, 40 anos, é uma das alunas. Ela reforça a importância da gratuidade do curso e confessa que, no início, se emocionava bastante ao final das aulas. “É algo que eu não achei que pudesse fazer, mas está me trazendo um crescimento, ajudando a minha saúde, meu condicionamento, e ajuda a levar essa nova informação para os meus alunos, já que trabalho bastante essa questão da consciência negra em sala de aula. Quem está aqui está levando a sério, e é muito importante o curso ser gratuito, porque abriu portas para pessoas que não têm condições de participar.”
 
Radicado na capital desde 1996, o professor Paulo César ministra o curso às terças, quintas e sábados. “A pretensão é formar jovens adultos de diversas cidades-satélites para serem referências e multiplicadores dessa prática. Em Brasília, existem poucos professores dessa dança específica, então eu realizo esse trabalho com o intuito de criar uma identidade cultural da dança negra no DF para fazer com que a sociedade fique mais diversa e mais informada em relação à cultura. Às vezes, as pessoas não conhecem a dança negra e confundem com a religião, e o que nós fazemos aqui é arte, não religião”, ressalta.

A professora Micheline frequenta o Centro de Dança desde a inauguração, em 1993: 'Ensaiava aqui' (Ed Alves/CB/D.A Press - 22/10/19)  

A professora Micheline frequenta o Centro de Dança desde a inauguração, em 1993: 'Ensaiava aqui'

 



'Realizo esse trabalho com o intuito de criar uma identidade cultural da dança negra no DF', diz Paulo César (Thiago Cotrim/CB/D.A Press - 25/10/19)  

'Realizo esse trabalho com o intuito de criar uma identidade cultural da dança negra no DF', diz Paulo César

 

 
Representatividade
 
A atuação tem como base as culturas de matriz africana e aborda temas como história e fundamentos da dança negra; noções de fisiologia e consciência corporal; construção de movimentos a partir da história; simbologia de danças ritualísticas; composição e sequências coreográficas; improvisação e criação de performances e apresentações públicas. Ao término, os participantes receberão um certificado.
 
Paulo explica que houve uma pré-seleção dos candidatos, e muitos desistiram por achar que não haveria cobrança. Por se tratar de um curso de formação, as aulas são bastante intensivas. “A forma de trabalhar o corpo negro é um pouco diferente, tem que ter algo além. Nós realizamos exercícios específicos para quadril, tronco, pernas. As chamadas são regulares, e o aluno pode ter até três faltas no mês”, pontua.
 
O professor de artes visuais da Universidade de Brasília (UnB) Nelson Inocencio, 58, ficou sabendo do curso por meio das redes sociais e, por já ter feito uma oficina com um outro professor do Centro de Dança há 10 anos, não perdeu a oportunidade de participar. “Fiquei muito animado depois que percebi a densidade da proposta, e isso me deu mais vontade de me envolver. Em uma sociedade tão complexa onde o racismo perdura, é fundamental olhar para a diversidade dos saberes negros e tentar aprender com essas experiências. Eu espero concluir o curso para me tornar um multiplicador e trabalhar esses conhecimentos com as comunidades negras” destaca.
 
Maritza Guilherme, 24, que também é educadora, garante que o exercício é benéfico para diversas áreas da vida e espera que seja o pontapé inicial para a imersão em outros espectros da cultura negra. “Isso tudo vai além do mover-se. É uma forma de saber através do corpo que reverbera nas esferas mais complexas. É uma imersão que faz com que nós estabeleçamos uma energia em grupo através da dança.”, exalta.

Michele foi em uma aula experimental e decidiu se matricular na dança (Ed Alves/CB/D.A Press - 22/10/19)  

Michele foi em uma aula experimental e decidiu se matricular na dança

 

 
Todo tipo de dança
 
Além do projeto, o Centro de Dança tem sido espaço multiplicador de outras modalidades artísticas. O local, reinaugurado em fevereiro de 2018 após cinco anos de portas fechadas para reparos, ainda está em adaptação para as novas atividades. Atualmente, são oferecidas aulas de balé, jazz, samba e tango. Para 2020, a intenção é ampliar a oferta de cursos, workshops e eventos, principalmente ações gratuitas que atendam a comunidade.
 
“A ideia é que aqui possa ter uma diversidade maior, assim como melhorou em relação a 2018. Ano passado não tinha nada de dança africana, agora são três atividades, duas com fomento cultural”, afirma o responsável pela programação do Centro de Dança, Aghatto dos Santos. Ele explica que atualmente as atividades oferecidas são baseadas em propostas de profissionais da dança feitas diretamente ao Centro. Em 2020, o processo deve ser feito mediante um edital de chamamento público. “Entre os critérios, terá prioridade quem oferecer alguma quantidade de aulas gratuitas. Quanto mais aberto para a comunidade, melhor vai ser.”
 
Clássico acessível
 
Outra modalidade que tem sido ofertada no Centro de Dança é o balé, com aulas comandadas pela professora de dança Micheline Santiago, 46. Ela conta que decidiu começar o projeto para proporcionar o ensino da vertente clássica para pessoas de outras áreas artísticas. “Pensei em receber pessoas que vêm do teatro, do espetáculo com improvisação, ou da dança de rua, e se interessam em aprender um pouco do clássico”, afirma. 
 
A procura dos que não têm experiência em dança também surgiu. Ela garante que todos são bem-vindos. “O perfil da turma é eclético. Tem quem já dançou por muito tempo e agora quer voltar, e tem iniciante, mesmo, que chegou adulto e tem vontade de começar a explorar a dança”, conta. Para quem ainda não tem experiência, a bailarina lista alguns dos benefícios propostos pela prática e faz o convite para que se experimente as aulas que ocorrem às terças e quintas, no horário de almoço: “Dança é autoconhecimento, é você saber sobre o seu corpo. Saber como se movimenta, como se manifesta. É uma forma de se comunicar com o mundo também, porque o corpo é uma interface entre você e o mundo. Você proporcionar isso é um presente que você dá para você”.
 
A relação de Micheline com o Centro de Dança começou na época da inauguração, em 1993, quando fazia ensaios no local junto ao grupo Cio da Dança. “Meus anos de bailarina profissional foram ensaiando aqui. É um espaço muito importante, e a gente sentiu muita falta dele quando foi fechado. É importante ter um espaço que possibilite trabalhar bem, com espaço e chão adequados. A reabertura foi fundamental para os profissionais de dança da cidade”, ressalta.
 
Michele Bezerra, 42, foi pela pela primeira vez ao espaço cultural no dia em que a reportagem acompanhou a aula. Ela decidiu fazer uma lição experimental de balé após a recomendação de um amigo e garante que vai continuar a frequentar as classes. “Eu amei e vou me matricular. Nunca fiz balé, até achava impossível na fase adulta, mas depois da aula, vi que não”, afirma.
 
O amigo que a convidou é o baiano Alipio do Prado, 38. Ele está na turma de Micheline há quase um ano e só tem elogios sobre a experiência. Nem o fato de ser o único homem nas aulas o incomoda. “Para mim é indiferente. No momento do balé, tento ser meditativo e estar presente no que estou fazendo. Tento me concentrar ao máximo no movimento, não fico atento a quem está do lado”, compartilha o fisioterapeuta, acrescentando que as aulas fazem diferença na rotina. “É um momento em que você para e ganha qualidade física, dá risada. É um trabalho do lúdico. Também cresce, dá alegria e qualidade de vida.”
 
Assim como os dois novos dançarinos, Bárbara de Oliveira, 24, está em sua primeira experiência no balé. Ela começou as aulas há pouco mais de três meses, mas diz já ter se encontrado na dança. Para a psicóloga, fazer balé era um sonho antigo, não realizado na infância devido aos altos custos. “Na época era muito caro, parecia uma coisa muito distante”, diz. “Aí eu tinha uma ideia de que, se eu não comecei quando criança, não dava mais. Mas essa vontade não passou. Aí eu disse: ‘vou fazer’”, complementa.
 
*Estagiários sob supervisão de Fernando Jordão
Jornal Impresso

Correio Braziliense segunda, 09 de dezembro de 2019

QUATRO CARIMBOS NO PASSAPORTE DO FLAMENGO

 

QUATRO CARIMBOS NO PASSAPORTE DO FLAMENGO

Vice baixa a bola do campeão
 
Santos goleia Flamengo por 4 x 0 e conquista a segunda posição do campeonato. Agora, rubro-negro foca atenção no Mundial

 

Publicação: 09/12/2019 04:00

Marinho abriu o placar na Vila Belmiro: Peixe dominou a partida (Ivan Storti/Santos FC
)  

Marinho abriu o placar na Vila Belmiro: Peixe dominou a partida

 





No duelo entre os primeiros colocados, o Santos levou a melhor sobre o campeão Flamengo e terminou o Campeonato Brasileiro como vice. A equipe alvinegra goleou por 4 x 0, ontem, na Vila Belmiro, em jogo que pode ter marcado a despedida do técnico Jorge Sampaoli. Na mira do Palmeiras, que ficou em terceiro lugar, o argentino terá uma reunião com o presidente José Carlos Peres nesta segunda-feira para avaliar o projeto do Peixe para 2020.

O Santos foi intenso desde os primeiros minutos: pressionou, criou chances e construiu o placar com facilidade. O Flamengo parecia estar de olho na disputa do Mundial de Clubes da Fifa. O elenco rubro-negro viaja ao Catar na sexta-feira e estreia no torneio no dia 17 contra o vencedor do confronto entre Al Hilal, da Arábia Saudita, e Espérance, da Tunísia. Se passar, fará a decisão no dia 21, provavelmente diante do Liverpool, da Inglaterra.

O jogo na Vila Belmiro começou elétrico. Com força máxima em campo, o Santos abriu o placar aos 14 minutos com o atacante Marinho. A equipe não diminuiu o ritmo e logo ampliou: aos 22, com Carlos Sánchez. O meio-campista uruguaio, aliás, se despediu de 2019 com mais uma ótima atuação.

Do time considerado ideal, o Flamengo não teve apenas o lateral-direito Rafinha. O que mudou muito, porém, foi a postura dos jogadores em campo. Aquela equipe que dominou o Brasileirão não apareceu na Vila Belmiro. Apática, acabou sendo presa fácil para o Santos.

Nem no segundo tempo o ritmo de jogo diminuiu. O Flamengo melhorou, passou a rondar a intermediária adversária e chegou a levar perigo. Mas quem voltou a marcar foi o Santos. Eduardo Sasha fez o terceiro e Carlos Sánchez fechou a goleada na Vila Belmiro.

Com o placar decidido, as torcidas se provocaram de maneira sadia nas arquibancadas. Os flamenguistas cantaram “é campeão”. Os santistas responderam com “bi mundial”. Campeão em 1981, o clube rubro-negro tentará o segundo título mundial a partir da próxima semana.

Maracanã
Com mais de 67 mil torcedores, o Vasco promoveu uma festa no Estádio do Maracanã para a última partida pelo Campeonato Brasileiro. Artistas vascaínos agitaram o público com shows antes de a bola rolar e durante o intervalo. No entanto, o resultado dentro de campo não foi o esperado e o time carioca se despediu com um empate por 1 x 1 contra a rebaixada Chapecoense. Vencia até os 47 minutos do segundo tempo, quando sofreu o gol adversário.


24 jogos
Série invicta do Flamengo no Brasileirão, quebrada ontem pelo Santos
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense domingo, 08 de dezembro de 2019

CANDANGÃO FEMININO: REAL BRASÍLIA CONQUISTA TÍTULO INÉDITO

 


CANDANGÃO FEMININO
 
 
Real Brasília conquista título inédito

 

Fernando Jordão

Publicação: 08/12/2019 04:00

Estreante na competição, as Leoas do Planalto tiveram o melhor aproveitamento ofensivo, com 76 gols (Minervino Junior/CB/D.A Press
)  

Estreante na competição, as Leoas do Planalto tiveram o melhor aproveitamento ofensivo, com 76 gols

 




Criada neste ano, a equipe feminina do Real Brasília conquistou o primeiro título do Candangão Feminino, ontem, ao bater o Minas/Icesp, no Estádio Abadião, em Ceilândia, por 2 x 0, com transmissão ao vivo da TV Brasília. A primeira partida, disputada em 30 de novembro, havia terminado empatada em 1 x 1.

Os gols saíram todos no segundo tempo. Aos 19 minutos, Dani Silva chutou, a defesa do Minas/Icesp cortou mal e a bola sobrou para Marcela, artilheira do campeonato com 19 gols, balançar as redes mais uma vez.

Marcela também teve participação no segundo gol. Aos 27 minutos da etapa final, a atacante invadiu a área e foi derrubada por Luyara. Maiara cobrou e converteu o pênalti que deu números finais à partida.

Esta foi a 23ª edição do Candangão Feminino. O Real conquistou o título inédito, enquanto o Minas/Icesp levantou o caneco três vezes — de forma consecutiva nas três edições anteriores.

Derrubar hegemonias, aliás, foi o destino do Real no campeonato. Para chegar à final, as Leoas do Planalto eliminaram o Cresspom, maior campeão brasiliense. A equipe ainda terminou a fase de classificação como líder e teve o melhor ataque da competição: 76 gols em 11 jogos.

Transmissão
Pela primeira vez na história, uma partida local de futebol feminino contou com transmissão em canal aberto de televisão. A TV Brasília repetirá a dose em 2020, transmitindo todos os jogos que ocorrerem aos sábados do Candangão masculino.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sábado, 07 de dezembro de 2019

SOLIDARIEDADE: ARTE PARA AJUDAR A QUEM PRECISA

 


SOLIDARIEDADE
 
Arte para ajudar quem precisa
 
Abrigados da Vila do Pequenino Jesus foram retratados por artistas da capital. Obras serão reunidas em calendário, que será colocado à venda, com renda revertida para a instituição

 

» DARCIANNE DIOGO

Publicação: 07/12/2019 04:00

Cada um dos 12 homenageados recebeu uma tela com sua imagem. Obras foram produzidas com variadas técnicas artísticas (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Cada um dos 12 homenageados recebeu uma tela com sua imagem. Obras foram produzidas com variadas técnicas artísticas

 

 
Um trabalho filantrópico que evidencia a arte e resgata a autoestima. A Vila do Pequenino Jesus, no Lago Sul, acolhe pessoas de todas as idades com deficiência física e intelectual. Entre os mais de 60 abrigados, 12 foram selecionados para participar de um projeto do bem. Os escolhidos foram fotografados e, depois, retratados por artistas da capital em uma tela, cada um com uma técnica artística diferente. O resultado se transformou em um calendário, que será vendido e a renda revertida para a Vila.

O processo de elaboração do calendário levou dois meses. A coordenadora do espaço, Cássia Stumpf, convocou o artista plástico Toninho Euzébio para dar o início à produção. “Tínhamos esse sonho desde o ano passado, mas, efetivamente, começamos agora. Mais do que arrecadar dinheiro para ajudar nas despesas do abrigo, a intenção é valorizar e dar visibilidade a esse público. Também temos a preocupação de elevar a autoestima de cada um e passar para eles um sentimento de pertencimento”, afirmou.

Cada um dos 12 abrigados representa um mês do ano. As variadas técnicas artísticas utilizadas (colagem, grafite, aquarela, caricatura, óleo sobre a tela) permitem um novo olhar sobre a pessoa com deficiência, ao valorizar os traços estéticos e as características individuais de cada acolhido, como humor, timidez, espontaneidade e delicadeza. “Durante a etapa de criação, senti que deveria convidar outros pintores para o foco não ficar só em mim. Os 12 profissionais convocados abraçaram essa causa, justamente por ser um trabalho tão diferenciado e especial”, explicou Toninho.
 
Emoção
 
Um vídeo produzido por Toninho mostra a reação dos abrigados ao receberem os quadros do próprio retrato. A emoção toma conta dos acolhidos e eles parecem não acreditar no que estão vendo. Alguns chegam a chorar de emoção. “Quando eles viram as imagens nas telas, ficaram encantados. É uma sensação forte que sentimos ao ver a alegria deles. Me sinto honrado por ter participado desse trabalho tão comovente e peculiar”, frisou o artista.

Conhecido pelo nome ‘Ratão’, Luís Souza foi um dos pintores convocados para participar do projeto. Ele retratou o acolhido Maycon Cardozo, 40. “Não pensei duas vezes em colaborar com a atividade. Quando mostramos o quadro para o Maycon, ele ficou eufórico e contente. Não há dinheiro que pague ver esse sentimento.”

Pintor desde a adolescência, Luís conta que levou quatro dias para elaborar a tela com o método de colagem. “Fiz uma leitura de efeitos de sombra com pedaços pequenos de papel. É uma arte diferente e que exige um cuidado especial”, explicou.
Pedro de Oliveira está há três anos na Vila como abrigado e foi um dos contemplados, sendo retratado pela artista Mille Montenegro. “Fiquei muito feliz. Vou fazer questão de olhar para esse quadro todos os dias”, disse.
Diferente dos calendários, as telas não serão vendidas e ficarão expostas na própria instituição.
 
Contribuição
 
A Vila do Pequenino Jesus foi fundada em Brasília em 2008, pela fisioterapeuta Cássia Stumpf e pelo marido, Jorge Deister. O casal morava em Petrópolis (RJ) e promovia ações voluntárias em uma instituição da cidade, quando foi convocado pelo presidente da Vila para reproduzir o serviço na capital. “Nós fazíamos uma obra semelhante ao que fazemos aqui, que é o acolhimento de pessoas com deficiência. Descobri que era apaixonada por esse trabalho apenas quando o meu pai morreu. Entrei em depressão e, para lidar melhor com o luto, decidi ajudar as pessoas”, lembrou Cássia.

Na instituição, ela é chamada de mãe pelos abrigados. “É impossível não nos apegarmos às pessoas daqui. Esse projeto do calendário é mais uma ação que tem como objetivo valorizar a pessoa com deficiência e dar a eles a oportunidade de se sentirem representados em uma arte”, argumentou.

No total, são 69 acolhidos e mais de 100 funcionárias, entre psicólogas, enfermeiras, técnicas em enfermagem e cozinheiras. Para manter o andamento da Vila, a equipe conta com doações da sociedade (saiba como doar no quadro ao lado). “Aqui, temos muitos gastos. Por mês, são mais de 9 mil fraldas descartáveis que temos de prover, além da alimentação que é por base de dieta, e medicações caras”, explicou a fisioterapeuta.

Para ajudar na arrecadação, os calendários serão vendidos a R$ 20, em dois pontos da capital: na loja Letícia e Decorações, na 211 Sul, e na livraria Ave Maria, na 705 Norte.

Rosângela da Silva, por Rodrigo Nardotto  

Rosângela da Silva, por Rodrigo Nardotto

Jornal Impresso


Correio Braziliense sexta, 06 de dezembro de 2019

CHÁ: CONVERSA COM ESPECIALISTAS

 

Conversa com especialista
 
O segredo dos chás

 

Publicação: 06/12/2019 04:00

 (Antonio Cunha/CB/D.A Press - 3/7/15)  
Amanhã e domingo, Brasília sediará o Brazil Tea Festival. O evento será no Centro do Convenções Ulysses Guimarães, das 9h às 22h, e oferecerá ao público diversas atividades voltadas para ampliar o conhecimento sobre os chás. Leda Alves, da Rome Eventos, empresa que organiza o festival, afirma que a expectativa é receber 5 mil pessoas durante os dois dias.
 
“Esse é um evento para toda a família. Teremos espaço para as crianças poderem ficar enquanto os pais circulam pelo festival”, pontua. Ela informa que há um restaurante disponível para atender o público. “Nossa ideia é oferecer uma programação bem diversificada sobre esse assunto, com simpósio médico, stands, degustação, cursos e workshops”, informa Leda. A organizadora ainda destaca os espaços montados para receber o público, como o Espaço Floresta e o Espaço Zen.
 
Outra atração do evento são as palestras voltadas para a área de saúde. Entre essas, a dermatologista Letícia Oba falará sobre aplicações do chá nos cuidados com a pele; o odontólogo Rivadávio Amorim (Universidade de Brasília) abordará o tema do uso de chá e doenças orais. “O simpósio trará médicos para falar sobre os benefícios comprovados cientificamente que o chá pode oferecer”, pontua Leda.
 
Também promete agradar o público do festival são as aulas. Serão cursos de formação com temas voltados para o uso do chá além do trivial. O mixologista Victor Quaranta, por exemplo, ensina sobre a elaboração de drinques com chá. Já a sommelier de chás Raquel Magalhães tratará sobre a profissão, definição e tendências desse mercado.
 
A proprietária da loja Camellia Comércio de Chás, Ana Paula Mota Batista, que abrirá em breve uma filial na cidade, conta que o principal objetivo do festival é apresentar a versatilidade dessa bebida. “As pessoas relacionam o chá a bebida quente. No festival a ideia é desfazer essa imagem, teremos, por exemplo, o salão do chá, com degustações a cada três horas harmonizadas com alternativas que combinem bem com a bebida degustada”, informa.
 
Ana Paula ainda destaca que o evento apresentará o sommelier de água Rodrigo Rezende. “Ele é o primeiro sommelier certificado de água do Brasil”, anuncia Ana Paula. No evento, ele dará o curso “Estudo da água no preparo do chá”, que apresenta as diferenças entre as águas minerais, os conceitos para a degustação de água mineral, harmonização de água. “É um festival feito com muito carinho, nosso objetivo é dar informações para as pessoas e que elas saiam satisfeitas”, conclui Ana.
 
SERVIÇO
Brazil Tea Festival
Centro de Convencões Ulysses Guimarães (Eixo Monumental). Amanhã, das 9h às 22h; domingo, das 9h às 18h. Evento com diversas atividades e palestras sobre chás. Ingressos por R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada ou para quem doar 1kg de alimento não perecível). Classificação indicativa livre.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quinta, 05 de dezembro de 2019

MATO A PRÓPRIA MÃE E CONFESSA TER MATADO O FILHO

 

Pai diz ter matado filho
 
O servidor público Paulo Roberto Osório confessa à polícia o sequestro e o assassinato do filho, Bernardo, de 1 ano e 11 meses. O menino foi envenenado com remédios para dormir e teve o corpo jogado na BR-020, a caminho da Bahia

 

» SARAH PERES
» WALDER GALVÃO

Publicação: 05/12/2019 04:00

Bernardo e a mãe, Tatiana: segundo a polícia, o pai matou a criança para se vingar da ex-namorada e da ex-sogra (Facebook/Reprodução)  

Bernardo e a mãe, Tatiana: segundo a polícia, o pai matou a criança para se vingar da ex-namorada e da ex-sogra

 



Todos os dias, Bernardo da Silva Marques Osório, de 1 ano e 11 meses, aguardava a chegada do pai, o servidor público Paulo Roberto Caldas Osório, 45, em uma creche da 906 Sul. Antes de reencontrar a mãe, com quem morava no Lago Sul, o menino passava um tempo na casa do agente de estação da Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô/DF), na 712 Sul. Na última sexta-feira, como de rotina, o garoto entrou no carro, mas, daquela vez, recebeu um suco de uva. Tomou a bebida e, ao chegar à residência, passou mal e vomitou. O pai deu um banho na criança e a vestiu. Em seguida, o filho adormeceu. Nunca mais acordou.

Segundo a investigação, Paulo Roberto — o homem cumpriu pena de 10 anos por matar a mãe, em 1992 (leia mais na página 20)— havia colocado três remédios para dormir no suco do filho e, quando constatou a morte do menino, abandonou o corpo às margens da BR-020 e fugiu para a Bahia. Para a polícia, ele cometeu o assassinato por vingança contra a mãe da criança, a advogada Tatiana da Silva Marques, 30, e a ex-sogra, Juciane Mascarenhas Nascimento, 57.

Em depoimento à Divisão de Repressão ao Sequestro (DRS), o servidor público explicou que não gostou de a ex-namorada ter entrado com pedido de pensão alimentícia na Justiça, em 29 de agosto. “Fiquei chateado, pois estou passando por uma fase bem difícil. Perdi o meu pai, tive de fazer o inventário e pagar algumas coisas dele. Houve a greve do metrô. Então, achei muito oportuno elas virem justo agora, sendo que não tinha necessidade. Elas não precisam do dinheiro”, alegou.
Para o delegado Leandro Ritt, titular da DRS, o servidor público premeditou o crime. “Não foi só pela pensão, tiveram outros fatores. Ele relatou desrespeito e humilhação. Então, o que parece é que as frustrações se acumularam e acabaram nessa tragédia. A principal impressão é de que ele preparou tudo e tinha, sim, a intenção de matar. Ele pensou em um assassinato indolor ao filho, pois, na cabeça dele, nutria uma afeição pelo menino”, analisou.

O investigador destacou que Bernardo morreu no dia do sequestro, quando passou mal na residência do pai. “Na casa, havia uma grande quantidade de vômito da criança; por isso, essa é a teoria mais provável”, disse. Após o assassinato, o objetivo de Paulo Roberto era prosseguir com o plano de vingança. “Ele nutre um ódio muito forte pela mãe do garoto, mas, sobretudo, pela ex-sogra. Acredito que esse sentimento provocou uma ira tão grande que a afeição que ele sentia pela criança foi deixada de lado. Tudo isso para colocar essas pessoas em um profundo sofrimento”, acrescentou Leandro Ritt.

Troca de mensagens entre Paulo Roberto e Tatiana: %u201CAdeus para vcs duas. Espero que agora entendam 
o que é ficar sem ele (Bernardo)%u201D  

Troca de mensagens entre Paulo Roberto e Tatiana: "Adeus para vcs duas. Espero que agora entendam o que é ficar sem ele (Bernardo)"

 



Ameaças
 
A aflição da advogada Tatiana começou na sexta-feira, quando o filho foi sequestrado pelo ex após buscá-lo na creche. Mesmo após ligar para o celular de Paulo Roberto e procurá-lo em casa, ficou sem respostas. Dois dias depois do crime, no domingo, o servidor público fez contato com a mulher por meio de mensagens enviadas pelo celular. Tatiana tomou a iniciativa da conversa: “Paulo, a gente sempre tentou manter contato e uma amizade com você. Você nunca quis. A gente sempre quis estar presente com o Bernardo, sempre fizemos tudo. Como você faz uma coisa dessas? O negócio é dinheiro? Pode ficar com o seu dinheiro, eu não preciso dele, não. Só quero meu filho.”
Paulo respondeu, escrevendo que a ex-namorada passaria o resto da vida sem ver o filho: “Boa sorte pra você. Espero que sofra muito. Eu falei que, no dia que você se metesse entre eu e o meu filho, eu ia passar por cima de você. Agora, você está entendendo o recado? Você não vai ver Bernardo mais nunca. Você vai morrer sem vê-lo.”
 
Buscas
 
Depois de envenenar o filho, o servidor público seguiu de carro com a criança pela BR-020. À polícia, contou que apenas percebeu que o filho estava morto em um posto de gasolina. “Olhei pelo retrovisor e notei que ele estava com a cabeça muito de lado. Fui arrumá-lo na posição, e a cabecinha dele estava muito mole. Assustei-me. Pulei para o banco de trás para ver os sinais (vitais) dele”, descreveu, em depoimento aos investigadores.

Ao constatar a morte de Bernardo, Paulo Roberto seguiu dirigindo e decidiu deixar o corpo da criança em área de vegetação densa, após a divisa de Goiás com a Bahia. A Polícia Civil do DF realizou buscas ontem, com veículos terrestres e um helicóptero, mas não encontrou o garoto. O ponto inicial foi Roda Velha, um distrito do município baiano de São Desidério, distante 665km de Brasília.

“Os policiais foram 50km adiante da cidade, rumo a Salvador, e 50km no caminho inverso. No total, foram 100km de buscas infrutíferas, pois ele indicou o local errado de onde a criança foi deixada. Desde o princípio, o objetivo de Paulo era perpetuar o sofrimento da mãe de Bernardo e da ex-sogra para que elas, realmente, nunca mais vissem o menino. Ele não quer que o corpo seja encontrado”, ressaltou o delegado Leandro Ritt.

O acusado em depoimento ao delegado Leandro Ritt, da Divisão de Repressão ao Sequestro (DRS): %u201CEle nutre um ódio muito forte pela mãe do garoto%u201D  

O acusado em depoimento ao delegado Leandro Ritt, da Divisão de Repressão ao Sequestro (DRS): "Ele nutre um ódio muito forte pela mãe do garoto."

 



Esperança
 
O fato de o corpo de Bernardo não ter sido encontrado mantém a esperança no coração da mãe, Tatiana Marques. “Minha ficha não caiu ainda. Eu tenho expectativa de que meu filho vai ser encontrado com vida. De vez em quando, eu choro, mas estou tentando ser forte pela minha família”, lamentou a advogada. Ao Correio, ela ressaltou que namorou Paulo por um tempo, mas que não chegaram a se casar.

A advogada descreveu a relação deles como harmoniosa. “Nunca tivemos problemas ou brigas. Tudo era conversado. O desentendimento começou por causa da pensão”, lamentou. A mulher também ressaltou que não sabia dos antecedentes do ex-namorado, condenado pela morte da mãe há 27 anos.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quarta, 04 de dezembro de 2019

TESOURINHAS INTERDITADAS

 

Tesourinhas interditadas
 
Quatro quadras das Asas Sul e Norte recebem reparos simultaneamente. Desvio é feito para os eixinhos W e L

 

» Cibele Moreira
» Lis Cappi*

Publicação: 04/12/2019 04:00

Até dezembro de 2020, todas as 96 passagens do Plano Piloto passarão por melhorias, segundo o governo (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Até dezembro de 2020, todas as 96 passagens do Plano Piloto passarão por melhorias, segundo o governo

 



Moradores do Distrito Federal, principalmente das Asa Sul e Norte, precisam se preparar para um ano de muitas alterações no trânsito. Empresas de engenharia começaram reparos em vários viadutos da cidade nesta semana. Os acessos para a 103/104 Sul, a 207/208 Norte e a 215/216 Norte foram fechados para manutenção e devem permanecer bloqueados durante três meses. Na próxima semana, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) pretende interditar os acessos da tesourinha na 115/116 Sul. A escolha das quadras foi baseada em um levantamento de risco feito pelo órgão após o desabamento do viaduto da Galeria dos Estados, em fevereiro de 2018.

Para melhorar o fluxo nas vias onde houve interdição, o Departamento de Trânsito (Detran-DF) aumentou o tempo dos semáforos nas entrequadras e fez desvios para os eixinhos L e W. Com a conclusão das obras, as equipes vão passar para outros locais, até que todos os viadutos e tesourinhas estejam revitalizados.

Duas empresas de engenharia foram contratadas para conduzir o trabalho, a Impermear Serviços de Engenharia e a Construtora LDN. A primeira cuidará dos reparos da Asa Sul; a segunda, da Asa Norte. A manutenção será feita simultaneamente em quatro quadras, duas de cada setor. Ao todo, 96 passagens terão estruturas e estéticas recuperadas. O custo total da obra é de R$ 7.337.880. A entrega final está prevista para dezembro de 2020.

No caso da Asa Sul, os viadutos ficarão sem as atuais cerâmicas, com o concreto aparente. “Toda estrutura de concreto tem desgaste natural com o passar do tempo. Então, a revitalização é para dar mais durabilidade, evitar queda de materiais, deterioração e perda da estrutura. É para que o concreto tenha uma sobrevida maior”, explica o engenheiro responsável pelos reparos da 103/104 Sul, Humberto Silva, 55 anos.

Comerciante da 113 Sul, Alexandre reclama de queda no movimento (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Comerciante da 113 Sul, Alexandre reclama de queda no movimento

 


Renata Aragão, aposentada: %u201CSe é para melhorar, não tem problema%u201D (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Renata Aragão, aposentada: "Se é para melhorar, não tem problema."

 



Opiniões divididas
 
Os reparos foram bem recebidos pelos moradores, mas causam discussões no comércio por terem sido iniciados no fim do ano. Empresários da 215 Norte relatam que as vendas já diminuíram após as mudanças de acesso para a quadra, feitas há 10 dias. “Prejudicou a quadra toda. Nosso movimento caiu muito. Tinha muita gente que vinha da W3 Norte, e ter que fazer um balão imenso faz com que não venham aqui”, afirma a supervisora de uma panificadora na 215 Norte, Juliana Vieira, 32. O dono de um estabelecimento próximo à padaria, Rodrigo Guimarães, 37, confirma: “o trânsito fica ruim, e a pessoa não passa mais aqui. Deveriam deixar isso para depois do Natal. Nesses dias em que está fechado, minhas vendas diminuíram 15%. As vendas já estão bem ruins, e ainda diminui na época em que poderíamos faturar um pouco. Tinha que ser de outra forma”.

Na Asa Sul, a preocupação é a mesma. O dono de um salão de beleza na Quadra 103 foi pego de surpresa pelo fechamento da tesourinha que dá acesso à quadra, na última segunda-feira, e teme pela diminuição de clientes. “Acho que começou no mês errado. É mês de chuva e pode atrapalhar. O comércio está ruim e ainda vai fazer no Natal? Por que não esperou janeiro?”, questiona Alexandre Neves, 52. “Tem que ter planejamento. Outros comerciantes também estão reclamando. Todo mundo sofre com isso”, diz.

A aposentada Renata Aragão, 60, conta que o bloqueio da tesourinha mudou a dinâmica da 216 Norte e diz não se importar com novos percursos. “Se é para melhorar, não tem problema.” Contudo, afirma que o bloqueio dos acessos para tesourinhas provoca manobras perigosas dos condutores. “Pela falta de retorno, os carros fazem ‘gatos’. Acho um risco para motos e bicicletas. Já vi um atropelamento por conta disso”, pontua.
 
Trabalho preventivo
 
Os viadutos das tesourinhas das quadras 105/106 e 205/20 da Asa Norte estarão interditados das 9h30 às 11h de hoje para uma vistoria preventiva da Secretaria de Obras e Infraestrutura. O bloqueio será feito pela equipe do Detran, que desviará o trânsito para os eixinhos L e W. Até o fim deste ano, todos os viadutos das tesourinhas do Plano Piloto serão vistoriados para a identificação de falhas estruturais.

Além das universidades, participam do grupo de trabalho de vistoria seis universidades parceiras, os conselhos Regional de Engenharia (Crea-DF) e de Desenvolvimento Econômico, Sustentável e Estratégico (Codese-DF), a Defesa Civil e o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF). Os relatórios das vistorias serão encaminhados para a Novacap, que garante que nenhum viaduto está em perigo. “Não foi detectado risco de desabamento, é apenas para manutenções preventivas das estruturas dos viadutos”, diz trecho da nota encaminhada pela empresa.
 
*Estagiária sob supervisão de Marina Mercante


Vistorias

  Dias e locais de interdição 
  Das 9h30 às 11h
 
Dezembro
 
Dia 5
Acesso às tesourinhas da 107/108 e da 207/208 da Asa Sul
 
Dia 6 
Acesso às tesourinhas da 107/108 e da 207/208 da Asa Norte
 
Dia 9
Acesso às tesourinhas da 109/110 e da 209/210 da Asa Sul
 
Dia 10
Acesso às tesourinhas da 109/110 e da 209/210 da Asa Norte
 
Dia 11
Acesso às tesourinhas da 111/112 e da 211/212 da Asa Sul
 
Dia 12 
Acesso às tesourinhas da 111/112 e da 211/212 da Asa Norte
 
Dia 13
Acesso às tesourinhas da 113/114 e da 213/214 da Asa Sul
 
Dia 16
Acesso às tesourinhas da 113/114 e da 213/214 da Asa Norte
 
Jornal Impresso
 
 

Correio Braziliense terça, 03 de dezembro de 2019

A BOLA DE OURO E O MELHOR GOLEIRO

 

Messi, o conquistador
 
Depois de faturar o The Best, da Fifa, craque ganha também a Bola de Ouro e se torna o maior vencedor da premiação francesa

 

Publicação: 03/12/2019 04:00

 
Messi encerrou o jejum de quatro anos sem receber a Bola de Ouro e se tornou o maior vencedor, com seis (Franck Fife/AFP
)  

Messi encerrou o jejum de quatro anos sem receber a Bola de Ouro e se tornou o maior vencedor, com seis

 


Messi conquista a Bola de Ouro pela sexta vez e se torna o maior vencedor da premiação entregue pela revista francesa France Football. O brasileiro Alisson é eleito o melhor goleiro do mundo.

A Bola de Ouro, renomada premiação entregue pela revista France Football, é novamente de Lionel Messi. Ontem, em evento realizado em Paris, o craque do Barcelona e da Argentina teve seu talento reconhecido ao ser escolhido o melhor jogador da última temporada.

O prêmio a Messi vem após uma temporada em que conduziu o Barcelona ao título do Campeonato Espanhol. E se soma a outras cinco Bolas de Ouro recebidas por ele, a primeira delas em 2009. Depois, ele voltaria a ser premiado em 2010, 2011, 2012 e 2015 e, agora, em 2019, repetindo o prêmio da Fifa que conquistou neste ano.

Assim, Messi, além de encerrar o jejum de quatro anos sem receber a Bola de Ouro, se torna o seu maior ganhador, com seis, uma a mais do que o astro português Cristiano Ronaldo.

Messi brilhou, como de costume, na última temporada pelo Barcelona, com 51 gols marcados em 50 jogos. Mas, em termos de conquistas, com exceção do Espanhol, fracassou em outros torneios, caindo com o seu time na decisão da Copa do Rei e nas semifinais da Liga dos Campeões. Além disso, perdeu nas semifinais da Copa América com a Argentina.

O anúncio do prêmio foi feito por Didier Drogba, mas Messi o recebeu das mãos do croata Luka Modric, que, em 2018, faturou a Bola de Ouro, mas, desta vez, não figurou nem entre os 30 melhores.

Messi teve o holandês Van Dijk, zagueiro do Liverpool, como seu principal concorrente, tanto que ele foi o segundo colocado. O astro português Cristiano Ronaldo, da Juventus, ficou em terceiro.

Mulheres
Na premiação feminina, a Bola de Ouro ficou com a americana Megan Rapinoe, que também foi eleita a melhor jogadora do mundo neste ano pela Fifa. A atleta, de 34 anos, liderou a seleção dos EUA na conquista do título mundial, além de ter sido protagonista na luta por respeito à diversidade e condições igualitárias para as jogadoras.

A lateral inglesa Lucy Bronze, do Lyon, foi a segunda colocada na votação da Bola de Ouro, com a norte-americana Alex Morgan sendo a terceira melhor. Nesse caso, elas inverteram as suas posições na comparação com o prêmio distribuído pela Fifa.

Jornal Impresso


Correio Braziliense segunda, 02 de dezembro de 2019

NATAL COM MÚSICA: QUEBRA-NOZES CANDANGO

Projeto leva corais com canções natalinas e balé para shows gratuitos na Praça dos Três Poderes, ao lado da Casa de Chá. Grupos da UnB, do Senado, da Fundação Mokiti Okada e de várias igrejas se apresentam.  (Ana Rayssa/CB/D.A Press)

 

Quebra-Nozes candango
 
Praça Três Poderes recebe o Projeto Natal na Praça. Shows de corais e balé são algumas das atrações aos fins de semana

 

AGATha gonzaga

Publicação: 02/12/2019 04:00

 
 
O Projeto Natal na Praça começou nesse fim de semana e vai oferecer, até o dia 22 deste mês, apresentações de corais e do balé do Quebra-Nozes gratuitamente. Os shows acontecem na Praça dos Três Poderes ao lado da Casa de Chá. Ontem, a apresentação do coral Madrigal da UnB encheu a praça com turistas e moradores de Brasília.
 
O ferroviário Edilson Fonseca não esperava encontrar o espetáculo e aproveitou para filmar a novidade. “Eu venho a Brasília toda semana fazer um curso da CNT (Confederação Nacional dos Transportes), mas nunca tenho tempo pra conhecer os pontos turísticos. Hoje, vim à Praça dos Três Poderes e vi o coral”, afirmou.
 
Quem também curtiu o espetáculo foram as crianças. O publicitário Rafael de Oliveira levou a pequena Cecília, de um ano e oito meses, para apreciar o ballet, modalidade que a menina já pratica na escolinha. “É bom sair um pouco dos passeios convencionais de shopping e lugares fechados”, concluiu.
 
De acordo com a secretária de turismo, Vanessa Chaves, o objetivo é ocupar a cidade com atividades culturais. “Nós queremos os nossos monumentos com vida, a nossa cidade cheia de atrações para a população e para o turista”, informou.
 
As apresentações acontecerão em todos sábados e domingos, até 22 de dezembro, das 18h às 19h. Corais tradicionais da cidade vão interpretar canções natalinas e os bailarinos do Grupo Bailarinos de Brasília prometem encantar com O Quebra-Nozes, do compositor russo Piotr ILitch Tchaikovsky.
 
No próximo fim de semana, o Coral Adventista de Brasília e o Coral do Senado assumem o palco (confira a programação). No dia 14, o evento contará, também, com a passagem da Caravana de Natal da Coca-Cola.
 
 
 
Programação
 
30/11 — Serenata de Natal da UnB (140 vozes)
 
01/12 — Coro Madrigal da UnB (20 vozes)
 
07/12 — Coral Adventista de Brasília (40 vozes)
 
08/12 — Coral do Senado (35 vozes)
 
14/12 — Conjunto Mais que Palavras, da Presbiteriana Nacional (40 vozes)
 
15/12 — Coral Infantil Totus Tuus, da Igreja Dom Bosco (26 vozes)
 
21/12 — Coral Coro Encena (14 vozes)
 
22/12 — Corais Mokiti Okada de Brasília – Infanto Juvenil, Adulto e Vozes de Ouro, 
da Igreja Messiânica de Brasília (60 vozes)
 
 Jornal Impresso
 

Correio Braziliense domingo, 01 de dezembro de 2019

A SAÍDA É FAZER BICO

 

A saída é fazer bico
 
Com desemprego em altas taxas, o trabalhador recorre à informalidade para sustentar a família. Especialistas indicam caminhos para sair dessa situação

 

» Ana Maria da Silva*
» Geovana Oliveira*
» Rayssa Brito*

Publicação: 01/12/2019 04:00

De vez em quando, passamos por humilhações. Mas precisamos sobreviver, e essa é a forma que encontramos para isso. Não podemos ligar muito pra isso%u201D
Antônio Fernandes (Geovana Oliveira/Esp. CB/D.A Press - 20/11/19)  

De vez em quando, passamos por humilhações. Mas precisamos sobreviver, e essa é a forma que encontramos para isso. Não podemos ligar muito pra isso –  Antônio Fernandes

 

De acordo com a pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual de desocupados no Distrito Federal no terceiro trimestre de 2019 foi de 221 mil pessoas. Um aumento de 6,75% em comparação com o mesmo período do ano passado. Esse quadro de incertezas revela a dura realidade de muito brasilienses que fazem de tudo para se sustentar. A opção tem sido a informalidade, como é o caso de Antônio Fernandes de Jesus, 57 anos, vendedor de doces e salgadinhos em ônibus que circulam pelo DF.
 
Morador de Águas Lindas de Goiás, o ambulante conta que a rotina de trabalho começa cedo. “Essa é a rotina de um vendedor, de um pai de família que luta pela sobrevivência. Correndo pra lá e pra cá atrás de ônibus. São uns 18 por dia”, destaca, com um olhar cansado, mas determinado. Pai de três filhos, ele explica que sua única fonte de renda vem do comércio de salgadinhos. O preconceito e o descaso dos consumidores não impedem o trabalho de Antônio. “De vez em quando, passamos por humilhações. Mas precisamos sobreviver, e essa é a forma que encontramos para conseguir dinheiro. Não podemos ligar muito para o que as pessoas pensam”.

Segundo Antônio, o serviço depende da boa vontade dos outros, desde passageiros até motoristas de ônibus. “A gente fica chateado quando o motorista nega uma carona, mas não podemos condená-los, porque eles também estão cumprindo ordem das empresas”, explica. “Muitos passageiros não gostam de ser incomodados, e com razão, porque às vezes a pessoa está cansada”, compreende. Apesar dos corriqueiros episódios, o ambulante se mantém resiliente: “A gente precisa trabalhar, precisa sobreviver e não podemos crucificar ninguém. Só agradecemos, porque hoje em dia emprego está difícil”.

O presidente do Conselho de Economia do DF, César Bergo, diz que o desemprego atingiu níveis preocupantes no país. Isso acontece devido à recessão e às novas formas de relação de trabalho provocadas pela introdução de tecnologias. “Para o primeiro caso, a volta do crescimento consistente da economia poderá implicar novas ofertas de postos de trabalho. E, para o segundo problema, o trabalhador deverá buscar na qualificação a saída com o objetivo de buscar um posto no mercado de trabalho”, explica César.
Flávia Vieira: %u201CNo momento, é minha única renda, o problema é pagar o aluguel e a luz quando a venda não rende%u201D (Rayssa Brito/Esp. CB/D.A Press - 21/11/19)  

Flávia Vieira: – No momento, é minha única renda, o problema é pagar o aluguel e a luz quando a venda não rende.

 

De acordo com o economista, esses motivos são os principais fatores que causam a falta de colocação no mercado de trabalho e levam o trabalhador a recorrer aos “bicos”. A situação é corriqueira na capital, que tende a acompanhar o que acontece no Brasil em termos estatísticos. “Aqui realça o fato da alta dependência do setor público. Com a pressão sobre as contas públicas, o mercado de trabalho em Brasília tende a ter maiores problemas na geração de emprego”, ressalta.
 
Conquistas
A dificuldade de empregabilidade também é vivenciada pelos noivos Ruan Ribacki, 27, e Sabrinny Caxeta, 19, moradores da Candangolândia. Eles vendem dindim aos finais de semana no Parque da Cidade. “Já procuramos emprego formal diversas vezes. Cheguei a passar por duas entrevistas, e ela (Sabrinny) também. Ainda estamos tentando”, afirma Ruan. A ideia de serem autônomos surgiu da falta de oportunidade no mercado de trabalho: “Foi para não ficarmos parados. As contas não esperam, não se pagam sozinhas”, lamenta o jovem.

“É realmente muito difícil ser ambulante. Tem gente que passa e nem olha pra gente”, relata Sabrinny. Ela acredita que, apesar das frustrações, é importante seguir em frente e manter o foco. “Nós nunca pensamos em desistir, essa é a nossa única fonte de renda. É preciso lutar pelos seus ideais de maneira honesta, alegre, passando uma mensagem positiva para a sociedade”, completa. Com parte da quantia arrecadada, os noivos se orgulham da primeira aquisição: o anel de noivado. “Estamos há seis meses nisso. De pouco em pouco, vamos conquistando coisas novas”, comemora Sabrinny.

Além das diárias
A realidade da diarista Roseni Alves Mesquita, 38, também não é fácil. A mineira se mudou para Brasília aos 14 anos à procura de emprego. Ao chegar, começou a trabalhar em uma lanchonete do aeroporto e, após engravidar, tornou-se doméstica. Hoje, Roseni vive de diárias, e acrescenta que a rotina é trabalhosa: “Têm dias que preciso sair 5h da minha casa para conseguir chegar 8h no serviço. Não é fácil. A gente passa praticamente mais tempo no ônibus do que trabalhando”, lamenta. Apesar das dificuldades enfrentadas, Roseni não desistiu de procurar por uma ocupação fixa: “Eu fiz um curso de cuidadora de idoso, e quero arrumar um emprego mais seguro, mas, como estou sem experiência na carteira, devido às diárias que ando fazendo, está sendo bem difícil”, completa.

A diarista percebe o aumento do desemprego na capital. “Está complicado ultimamente. Eu me lembro que, quando eu cheguei em Brasília, era tão fácil arrumar emprego. Não ficava sem trabalhar nenhum dia”, recorda. Com seis pessoas para sustentar, ela busca alternativas para os momentos em que o bolso aperta: “A gente se vira como pode. Tem dia que cato latinha na rua para conseguir uma renda maior. Eu ando, vejo e cato. Não desperdiça”, diz.
Sabrinny (E), ao lado de Ruan: %u201CFoi para não ficarmos parados que começamos a vender dindim. As contas não se pagam sozinhas%u201D (Geovana Oliveira/Esp. CB/D.A Press - 20/11/19)  
Sabrinny (E), ao lado de Ruan: "Foi para não ficarmos parados que começamos a vender dindim. As contas não se pagam sozinhas"
Novas chances
Há cerca de três meses, João Eudes Alves de Carvalho, 56, morador da Ceilândia, vende espetinhos em uma churrasqueira improvisada próximo a uma parada de ônibus. O autônomo explica que era proprietário de uma empresa que não ia bem por conta da crise e, por isso, resolveu apostar na informalidade. “A empresa não estava dando retorno suficiente para o sustento. Eu estou me virando da forma que dá”. João é pai de cinco filhos e paga pensão alimentícia para uma menina que ainda não atingiu a maioridade. “Como é uma espécie de comércio, tem semanas que dá bom retorno e tem semana que não dá tanto. É muito complicado depender somente disso”, lamenta.

Ele afirma que a rotina é dura e que, às vezes, é difícil manter a cabeça erguida, até porque, para quem trabalha na rua e lida diretamente com diversas pessoas, o contato nem sempre é fácil e muita gente age com preconceito. “Isso daqui não é para qualquer um mexer. É preciso ter coragem e colocar a vergonha de lado, até porque não é motivo nenhum de vergonha, você está trabalhando”, acrescenta.

Para ele, mesmo com as dificuldades, é preciso ter perseverança. “Nunca desista! Vamos tocar a vida para frente com força de vontade”, aconselha.
 
Sonhos
“Meu sonho é ser empresária”, revela Flávia Vieira, 19. Ela vende artesanatos na Rodoviária e em alguns pontos da capital com a irmã, Tamires Pereira, 25. Flávia conta que decidiu sair de Minas Gerais para dar melhor condição à família. “Trabalho na Rodoviária todo santo dia. A gente vem todos os dias,  aos sábados e aos domingos também”, afirma. Para a jovem, todos os trabalhos têm suas dificuldades: “Têm vezes que conseguimos vender, têm vezes que não, a gente tenta se virar do jeito que pode”, diz Flávia.
 
Moradora do Valparaíso de Goiás, ela acorda cedo todos os dias para separar os objetos que levará. “Demora cerca de uma hora e vinte para chegar à Rodoviária”, informa. Flávia afirma que muitas vezes chega ao local por volta das 8h e vai embora às 22h. “No momento, é minha única renda, o problema é pagar o aluguel e a luz quando a venda não rende”, afirma. Mas isso não impede que Flávia sonhe. Com a chegada do Natal, ela espera aumentar as vendas. “Eu pretendo crescer, ter uma loja. Mas até lá é muito chão”, conclui.

O coordenador do curso de economia do Centro Universitário Iesb, Riezo Almeida, lembra que o caso de Brasília é um pouco diferente por conta da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal (Ride). “A consequência é o aumento da procura de emprego no Plano Piloto, que não consegue atender o alto número (de procura)”. Riezo explica que os empregos informais fazem parte da cultura brasileira, pois são a primeira opção da população no momento de desemprego. “Muitos recorrem à informalidade quando não estão conseguindo alcançar suas necessidades”, explica o economista.

Dicas para sair da informalidade 
Por Anna Cherubina  Scofano, mentora de carreiras e professora de gestão de pessoas na Fundação Getúlio Vargas.
 
» Não desanimar
 
» Buscar algo que tenha interesse maior, informar-se e atualizar-se por meio de pesquisas em sites gratuitos que possibilitem um aprimoramento e ampliação de conhecimento. Dessa forma, a pessoa pode dizer, em uma entrevista de emprego, que não tem experiência na área, mas, em contrapartida, tem lido e mostrado interesse pelo assunto.
 
» Entender quais são seus objetivos e buscar capacitação, por meio de conhecimentos e práticas.
 
» Cercar-se de pessoas que tenham visão de negócio e sistêmica. Iisso contribuirá para a expansão de ideias. Inovação e criatividade fazem parte da reinvenção, e, se não houver  essas características dentro das organizações, certamente existirão dificuldades para se estabelecer no mercado.
 
» Ser resiliente, ter bom relacionamento interpessoal e ser proativo.  É também fundamental se atentar a como se portar e vestir em entrevistas de emprego. 
 
Iniciativas para qualificação 
Com o objetivo de oferecer à população alternativas para enfrentar a crise, a Secretaria de Estado de Trabalho do Distrito Federal (Setrab) desenvolveu algumas ações, como qualificação profissional, abertura da Agência do Trabalhador onde há demanda, empréstimo orientado a pequenos empreendedores, cursos e palestra.
 
Cursos de qualificação gratuitos
» A Setrab afirma que ofereceu mais de 2.000 vagas para os diversos cursos de Formação Inicial e Continuada e de Educação Profissional Técnica de Nível Médio — Qualificação Profissional do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac)  em parceria com a Secretaria de Trabalho. O Programa Senac Gratuidade (PSG) destina-se a pessoas de baixa renda, na condição de alunos matriculados ou egressos da educação básica e trabalhadores, empregados ou desempregados.
 
Agência do Trabalhador
» Pela primeira vez, a Setrab e a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) inauguram uma Agência do Trabalhador na Câmara. A nova Agência do Trabalhador presta o serviço de intermediação de mão de obra por meio do Sistema Integrado Nacional do Emprego (Sine). Diariamente, são ofertadas em torno de 300 vagas de trabalho por esse sistema nas 17 Agências do Trabalhador.
 
Fábrica social
» O programa Fábrica Social qualificou 1.200 alunos em cinco cursos diferenciados, e, em parceria privada, os encaminhou para empresas para vivência e inserção no mercado de trabalho.
 
Microcrédito
» O Programa de Microcrédito Prospera, da Setrab, formalizou a entrega de cartas de crédito do programa para 696 pequenos empreendedores, em um montante de R$ 10 milhões, alcançando um novo recorde emprestado e com a menor taxa de devedores registrada.
 
Recolocação profissional
» Com o intuito de amenizar a situação de desemprego, a Secretaria de Trabalho disponibiliza gratuitamente à população do DF a Palestra de Recolocação Profissional, que aborda temas como: empregabilidade, como participar de uma entrevista de emprego; e marketing pessoal, como melhorar o seu currículo. Neste ano, a palestra foi realizada em 18 de outubro no Auditório da Agência do Trabalhador da Estação 112 Sul do Metrô, a previsão é de que outras palestras com a mesma  temática  aconteçam em 2020. 
 
* Estagiárias sob supervisão de José Carlos Vieira
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sábado, 30 de novembro de 2019

JAQUELINE DE JESUS: PESQUISA, MILITÂNCIA E RESPEITO

 

Pesquisa, militância e respeito
 
Jaqueline de Jesus foi a primeira transexual a entrar para o doutorado na Universidade de Brasília. Hoje, a ceilandense vive no Rio, onde é professora universitária. Engajada, ela ajudou na formulação das cotas raciais da UnB e é uma das organizadoras da Parada LGBT da cidade

 

» Thays Martins

Publicação: 30/11/2019 04:00

 (Arquivo Pessoal)  
 
Uma mulher de sucesso. Assim pode ser definida Jaqueline Jesus. Aos 41 anos, a brasiliense tem um currículo extenso. O último título foi de pós-doutora pela Fundação Getulio Vargas e de pesquisadora do Centro de Políticas e Desigualdades em Saúde, da Universidade de Duke, nos Estados Unidos. Além das conquistas, a psicóloga carrega a fuga de uma triste estatística. Jaqueline é transexual e negra. Cerca de 82% dos travestis e transgêneros não chegam a terminar nem a escola fundamental, de acordo com levantamento da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) e apenas 34% dos estudantes de ensino superior são negros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
 
Jaqueline de Jesus:  

Jaqueline de Jesus: "Vim de uma família que valoriza muito os estudos. A minha mãe era professora, ela foi a primeira a entrar na universidade"

 

É tanto que ela foi a primeira transexual a terminar um doutorado pela Universidade de Brasília (UnB). Isso foi em 2010. Um dos grandes diferenciais dela? O apoio familiar. “Vim de uma família que valoriza muito os estudos. A minha mãe era professora, ela foi a primeira a entrar na universidade. Sempre tive acesso a livros. Depois que eu já era crescida, meu pai também fez faculdade”, conta.
 
E o apoio não foi no incentivo para ter uma carreira, mas também em aceitá-la como ela é. Jaqueline se assumiu como Jaqueline há pouco mais de 10 anos, quando estava no doutorado, outro fator que ela cita como facilitador. “Eu decidi, aos 29 anos, que me reconhecia como mulher trans e resolvi começar minha transição e viver como mulher. Tive muito apoio da minha família, bem diferente do que costuma ser”, recorda.
 
“Mesmo sendo uma pessoa negra que conseguiu lutar e ocupar meu espaço enquanto negra. Não sei se tivesse passado pela transição antes teria chegado à universidade. São vários fatores a serem avaliados”, destaca.
 
Carreira de sucesso
 
Dessa forma, a moradora da Ceilândia tomou como natural que fosse para a universidade. O primeiro curso escolhido foi química, para depois perceber que sua vocação estava na psicologia. Começou a militar por causas raciais e LGBTs na graduação, ainda em 1997. “Sempre quis associar minha pesquisa com a psicologia e a prática da militância.”
 
E ela conseguiu. No mestrado, iniciado assim que terminou a graduação, ela pesquisou como os libertadores de escravos enxergam a questão. Ao mesmo tempo, a jovem psicóloga foi convidada para ser assessora do vice-reitor da universidade à época, Timothy Mulholland, e ajudar na formulação das cotas raciais. A UnB foi pioneira na política. O ano era 2003, de lá para cá, quase oito mil negros ingressaram na instituição por meio da política pública. “Foi bem desafiador. A temática era questionada pela mídia e também pelo meio jurídico”, lembra.
 
Em 2006, ela entrou para o dourado. “Dessa vez, escolhi um tema mais político, que foi investigar as paradas do orgulho LGBT”, explica. O engajamento de Jaqueline a levou a fundar uma ONG de pesquisa ligada à sexualidade de gênero, ser eleita como presidente do Fórum LGBT do DF e do Entorno e ser uma das organizadoras da Parada LGBT de Brasília.
 
Mas não parou por aí, Jaqueline, então, partiu para o pós-doutorado. Por isso, resolveu sair de Brasília. Foi para o Rio de Janeiro com apoio da Fundação Getulio Vargas (FGV). No Rio, ela começou a atuar no núcleo de extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) atendendo os moradores do Complexo da Maré e passou no concurso para ser professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), onde hoje dá aulas para os cursos ligados à economia criativa. “Ser professora está no meu sangue. Detesto usar esse clichê, mas apesar de suas limitações, ele facilita a compreensão do que eu quero dizer pelo fato de ser filha de professora. Sala de aula é um lugar que eu conheço desde antes de conhecer a mim mesma. Na cesta de vime em que minha mãe me levava, quando bebê, para assistir suas aulas no curso de pedagogia”, relata em de suas publicações nas redes sociais.
 
Uma marca triste
 
Jaqueline concorreu a deputada estadual do Rio nas últimas eleições. Ela e mais 32 mulheres negras resolveram fazer da candidatura uma homenagem a vereadora assassinada Marielle Franco. Dessas, três foram eleitas. “Foi uma experiência bem interessante, cansativa, mas rica. Foi possível observar como a política é extremamente focada na ideia do cândido homem, hétero, cisgênero, e como isso é prejudicial para a mulher de maneira geral”, explica.
 
A ativista recorda que foi escolhida por Marielle Franco para receber a medalha Chiquinha Gonzaga, uma honraria entregue a personalidades femininas que tenham se destacado em prol das causas democráticas, humanitárias, artísticas e culturais. “Fui a primeira mulher negra e trans a receber. Isso marcou muito. Eu estava com ela, em 8 de março de 2018, em um evento e, no dia 14, depois de um debate, ela foi executada. O que mostra a vulnerabilidade da mulher negra, favelada, LGBT. Ela ficou muito exposta. Já chegaram matando logo”, lamenta.
 
Publicações
 
Jaqueline fez de seu trabalho uma obra, e a intenção e os frutos podem ser vistos. Ela tem vários livros publicados e não para uma segundo, entre um evento e outro. A entrevista até teve que ser interrompida para Jaqueline partir para mais um lançamento de livro. Mas ela garante que tudo vale a pena. “Tem momentos de tristeza que ficamos desanimado com o mundo, mas buscamos nos fortalecer”, diz.
 
Jaqueline ainda lembra que ela é um exemplo para suas alunas e pessoas negras e trans. “O que é ser mulher trans negra depende de cada uma. Ser Jaqueline é ser uma mulher trans negra que acredita muito nas pessoas, acredita no poder do conhecimento. Só a educação que vai fortalecer as pessoas discriminadas. Eu luto por isso. Eu sigo lutando como professora para que a gente busque uma conscientização, para que nos colocamos no lugar do outro e entendermos que diversos somos todos”, afirma.


Especial
Para marcar o Mês da Consciência Negra, a série Histórias de consciência é publicada ao longo de novembro e presta homenagem a mulheres e homens negros que ajudam a construir uma Brasília justa, tolerante e plural. Todos os perfis deste especial e outras matérias sobre o tema podem ser lidos no site www.correiobraziliense.com.br/historiasdeconsciencia 


Conheça algumas publicações da psicóloga e ativista
 
Transfeminismo: Teorias e prática
 
» Autora: Jaqueline Gomes de Jesus
» Editora: Metanoia Editora
» R$ 35
» 206 páginas
» Homofobia: Identificar e prevenir
» Autora: Jaqueline Gomes de Jesus
» Editora: Metanoia Editora
» R$ 34
» 111 páginas
 
 
O que é Racismo?

» Autores: Jaqueline Gomes de Jesus, Paulo de Carvalho, Rosália Diogo, Paulo Granjo
» Editora: Escolar
» 127 páginas
 
 
Ainda que tardia: escravidão e liberdade no Brasil contemporâneo
 
» Autora: Jaqueline Gomes de Jesus
» Editora: Gramma Livraria e Editora
» R$ 19,90
» 128 páginas
»  Travestis e prisões: Experiência social e mecanismos particulares de encarceramento no Brasil
 
» Autores: Guilherme Gomes Ferreira (Autor), Rapha Jacques (Ilustrador), Maria de Fátima Beghetto (Editor), Jaqueline Gomes de Jesus (Prólogo), Aline Kerber(Introdução), Eduardo Pazinato (Introdução)
» Editora: Multideia Editora
» R$ 15
» 195 páginas
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sexta, 29 de novembro de 2019

SEQUESTRO DE BEBÊ: CINCO HORAS DE DESESPERO

 

SEQUESTRO
 
 
Cinco horas de desespero
 
Estudante de fonaudiologia de 23 anos leva recém-nascido do Hospital Regional de Taguatinga, mas é flagrada na unidade de saúde de Ceilândia após simular parto em casa e acionar o Samu. Apesar do susto, mãe e criança passam bem

 

ALAN RIOS
CAROLINE CINTRA
JULIANA ANDRADE

Publicação: 29/11/2019 04:00

A mãe, Larissa, com Miguel Pietro, e a namorada, Luana: final feliz  (Arquivo Pessoal)  

A mãe, Larissa, com Miguel Pietro, e a namorada, Luana: final feliz

 



HRT, local do crime: após o sequestro, a Secretaria de Saúde informou que revisará os protocolos de segurança (Ed Alves/CB/D.A Press - 30/3/16)  

HRT, local do crime: após o sequestro, a Secretaria de Saúde informou que revisará os protocolos de segurança

 



A dor do parto de 36 horas, o alívio pelo nascimento saudável e o pânico do sequestro do filho, ainda na maternidade do Hospital Regional de Taguatinga (HRT). Larissa Almeida, 21 anos, passou por tudo isso nos últimos dias. A mãe de primeira viagem teve o bebê, Miguel Pietro, tirado dos braços por uma mulher de jaleco, que a convenceu a entregar o recém-nascido alegando que havia a necessidade de um exame de glicemia. A criança, no entanto, foi levada pela estudante de fonoaudiologia Dayane da Fonseca Santos, 23. À polícia, a jovem informou que perdeu um bebê em agosto, mas manteve a história da gravidez para a família, o que teria motivado o crime. O caso chama a atenção também pela frequência com que ocorrem sequestros de bebês na capital federal (leia Memória).

O crime de ontem ocorreu por volta das 3h. Larissa contou aos investigadores que sentiu um aperto no coração minutos depois de entregar a criança. Foi quando decidiu procurar alguém da equipe do hospital. O terror começou quando ela foi informada que aquele tipo de exame não era feito naquele horário. Sem encontrar Miguel nem a mulher de jaleco, a enfermeira registrou uma ocorrência no posto policial do HRT. No início da manhã, a mãe foi levada à 12ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Centro) para prestar depoimento, iniciando a investigação da Divisão de Repressão ao Sequestro (DRS).

Larissa tem quatro irmãos e mora no Gama com a namorada, Luana Soares, 22, que contou detalhes dos momentos de aflição. “Desde o começo, ela achou aquela mulher estranha, porque ela estava no hospital desde cedo, pedindo para fazer teste nos bebês. Como é o primeiro parto da Larissa, ela entregou, na inocência”, afirmou. A namorada só tinha visto o filho por foto e se emocionou pensando na possibilidade de não conhecê-lo. “A Larissa tinha me mandado foto dele, dizendo: ‘Olha que lindo!’. Logo depois, ele foi tirado dela. Não dava para acreditar. É cruel. Isso mostra que o mundo está perdido”, lamentou.

A família mobilizou-se e seguiu para a porta do HRT, ainda durante a madrugada. O irmão, Rodson Almeida, 27, não conteve as lágrimas. “Eu não acreditei, fiquei muito indignado. É o primeiro bebê menino, porque a nossa mãe só teve netas. É o nosso xodó, e eu ainda sou padrinho dele. A gente batalhou e comprou tudo para o bebê. Nunca pensei que eu pudesse me sentir destruído assim”, disse. Enquanto os parentes esperavam notícias no hospital, Larissa descrevia aos investigadores as características da sequestradora.


Luiz Henrique Sampaio, delegado:  

Luiz Henrique Sampaio, delegado: "Ela conversou com outras mães, mas Larissa estava desacompanhada. Esse foi, provavelmente, o motivo da escolha daquela mãe e daquela criança como alvo"

 




Reviravolta em Ceilândia
Mãe de Larissa, a cabeleireira Francisca Almeida Ribeiro, 55, acompanhou o parto e lembrou do momento em que recebeu a primeira boa notícia do caso. Ela estava na delegacia com a filha, registrando ocorrência, quando um dos investigadores deu uma esperança: “Ele disse que tinha uma mulher no Hospital Regional de Ceilândia com um bebê que poderia ser o Miguel”. A tal paciente do HRC havia acionado o Samu por volta das 5h, dizendo que tinha acabado de dar à luz. A equipe médica, porém, achou estranho o recém-nascido estar limpo e com sinais de ter sido vacinado, além de a possível mãe estar bem para quem tinha acabado de passar por um parto.

Francisca e Larissa foram levadas ao Hospital de Ceilândia para verificar se aquela criança era Miguel. Por volta das 8h30, elas reencontraram a criança. “A minha filha chegou lá e reconheceu a mulher e o bebê. Eu o reconheci também, porque eu o vi nascer, registrei e tudo. Nenhuma família merece passar pelo que a gente passou”, declarou.

Crime premeditado
Em depoimento à Polícia Civil, a estudante de fonoaudiologia Dayane confessou o crime, segundo os investigadores. Antes de sequestrar o bebê, a jovem havia estado no Hospital Regional de Taguatinga duas vezes, em 23 e em 25 de novembro, para observar a rotina das grávidas. “Ela foi ao HRT e começou a conhecer o local. No momento em que estava próxima à porta, ela viu uma lista com informações do número do quarto onde estavam as mães e os recém-nascidos. Com isso, ela entrou dizendo que faria uma visita a um determinado quarto”, detalhou o diretor adjunto da DRS, Luiz Henrique Sampaio.

No dia do crime, Dayane chegou ao hospital à tarde, por volta das 15h, e permaneceu no local até a madrugada. Para disfarçar, ela usou um jaleco para ser confundida como servidora da unidade de saúde. “Ela conversou com outras mães, mas Larissa estava desacompanhada. Esse foi, provavelmente, o motivo da escolha daquela mãe e daquela criança como alvo”, avaliou o delegado.

Para sair do HRT, Dayane colocou o bebê em uma bolsa. Em casa, manteve a criança no quarto até que, pela manhã, o irmão da acusada ouviu o choro do recém-nascido. Nesse momento, ela contou que tinha dado à luz, e a família chamou o Samu. Segundo os investigadores, a jovem sujou o banheiro de sangue para simular o cenário do parto — ainda não se sabe a origem do sangue.

Um bebê era bastante esperado pela família e pelo namorado de Dayane. Os agentes revelaram que a jovem fez um enxoval e apresentou o cartão do pré-natal do filho que perdeu ao chegar no HRC. Dayane tem um filho de 5 anos. “A gente percebe que ela sofre um drama emocional, e tudo isso pode ter contribuído para o crime”, comentou o delegado Luiz Henrique. A acusada está presa em flagrante por subtração de incapaz. A pena para esse tipo de crime é de 2 a 6 anos de reclusão.

Em nota oficial, a Secretaria de Saúde informou que a direção do HRT “esclarece que preza pela segurança dos pacientes e que tem uma rigorosa vigilância”. A pasta acrescentou que, com esse caso, “os protocolos estão sendo revistos para aprimorar o trabalho e garantir que situações como essa não se repitam”, além de adiantar que está em andamento um projeto para implementação de uma central de monitoramento. O órgão detalhou, ainda, que Miguel Pietro passa bem. “O recém-nascido está internado no Hospital Regional de Ceilândia, recebendo toda a assistência necessária. Está em observação, apenas em cumprimento aos protocolos hospitalares. De lá, com a mãe, receberá alta, procedimento que ainda não tem data prevista”, ressaltou a pasta.




Memória

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press - 7/5/19)  


11 de fevereiro de 1981

» Com dois dias de vida, Luís Miguel foi levado dos braços da mãe, Sueli Gomes da Silva, na porta do Hospital Regional do Gama. À época, a mulher tinha 16 anos e morava em um orfanato. Ao sair da unidade de saúde com o filho e acompanhada por dois funcionários do abrigo — um homem e uma mulher —, ligou para a dona do abrigo, de um orelhão, e deixou a criança com a moça que estava com ela. Quando encerrou a ligação, não encontrou mais o filho. Apenas em 2013, após a morte da proprietária do abrigo, Sueli contou a história à polícia. A investigação durou seis anos. Em abril deste ano, por meio de um exame de DNA, a Polícia Civil confirmou que o corretor de imóveis e morador da Paraíba Ricardo Araújo, 38 anos, é filho de Sueli.


 (Carlos Moura/CB/D.A Press - 3/5/03)  


21 de janeiro de 1986
» O sequestro de Pedro Rosalino Braule Pinto é um dos casos mais famosos do país. Vilma Martins Costa, passando-se por enfermeira, entrou no quarto onde Maria Auxiliadora Braule Pinto se recuperava do parto do filho. Ela disse que levaria o bebê para fazer exames, mas sumiu com ele. O crime ocorreu no Hospital Santa Lúcia, na Asa Sul. Passados 16 anos, o menino foi encontrado em Goiânia, vivendo com a família de Vilma, sob o nome de Osvaldo Martins Borges. Após cumprir 5 dos 19 anos das penas inicialmente impostas pela Justiça, a sequestradora de Pedrinho ganhou a liberdade condicional em 2008.


 (Luis Nova/Esp. CB/D.A Press - 8/6/17)  


6 de junho de 2017
» Um dia antes de receber alta, Jhony Júnior foi sequestrado do Hospital Regional da Asa Norte (Hran). A mãe da criança, Sara Maria, 19 anos, havia dado à luz em um posto de saúde na Estrutural, em 25 de maio, e, depois, levada, com o filho, para a unidade de saúde do Plano Piloto. A equipe de enfermagem percebeu que o bebê não estava mais lá durante o horário de almoço. As buscas começaram com vigilantes e policiais militares no hospital. No dia seguinte, a criança foi encontrada com Gesianna de Oliveira Alencar. Ela foi presa. Em 6 de setembro do mesmo ano, a Justiça a condenou a pagamento de multa e a penas alternativas, como prestação de serviços comunitários ou doação de cestas básicas.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quinta, 28 de novembro de 2019

LULA É SENTENCIADO A 17 ANOS DE PRISÃO EM 2ª INSTÂNCIA

 

Lula é sentenciado a 17 anos de prisão
 
 
TRF-4 confirma condenação do ex-presidente por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no processo do sítio de Atibaia e aumenta a pena

 

» Renato Souza

Publicação: 28/11/2019 04:00

Para a defesa de Lula, a decisão em segunda instância reforça a perseguição ao petista (Nelson Almeida/AFP)  

Para a defesa de Lula, a decisão em segunda instância reforça a perseguição ao petista

 



Por unanimidade, a 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no processo relacionado ao sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP). O relator do caso, João Pedro Gebran Neto, votou para manter a condenação da primeira instância e pelo aumento da pena de 12 anos e 11 meses, decretada pela juíza substituta Gabriela Hardt, da 13ª Vara Federal de Curitiba, para 17 anos, um mês e 10 dias. O entendimento dele foi seguido pelos desembargadores Leandro Paulsen e Thompson Flores. Com a decisão, o petista enfrenta mais um entrave em suas pretensões eleitorais.

A sentença fez Lula sofrer a segunda condenação em segundo grau de Justiça, já que também foi condenado pelo TRF-4 no processo relacionado ao triplex do Guarujá (SP). Na ação penal analisada ontem, o ex-presidente é acusado de receber propina do Grupo Schain, de José Carlos Bumlai, e das empreiteiras OAS e Odebrecht por meio de reformas no sítio frequentado pelo petista e familiares.

Os magistrados rejeitaram alegações de perseguição política por parte do então juiz da Lava-Jato no Paraná, Sérgio Moro, hoje ministro da Justiça, e avaliaram que o petista não pode ser beneficiado por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que anulou a condenação do ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine.

Na ação de Bendine, o Supremo entendeu que as alegações finais devem ser apresentadas pelos réus citados em delação apenas depois dos delatores, para que os acusados possam se defender. O TRF-4 entendeu que no caso de Lula não ficou provado que ele sofreu prejuízo por conta da ordem de apresentação nessa fase do processo, embora ele tenha tido o mesmo prazo que Léo Pinheiro, delator da OAS, para se manifestar. Em relação a Moro, Gebran Neto entendeu que ele passou a integrar o governo do presidente Jair Bolsonaro somente após o processo ser finalizado. O relator afirmou que ficou comprovada a culpa de Lula no caso e que ele era a liderança do esquema.

Fiador


Marcelo Odebrecht, ex-presidente da Odebrecht, também foi condenado, mas se beneficia por ter firmado um acordo de delação. “Há prova documental e testemunhal a respeito da participação do grupo Odebrecht, representado por seus principais dirigentes, no esquema de corrupção para direcionamento de contratação da Petrobras e pagamento de propina a agentes públicos e políticos e, mais especificamente, o dirigente do PT, tendo o ex-presidente como mantenedor e fiador desse esquema. Mantenho assim a sentença na condenação de Luiz Inácio e Marcelo Odebrecht pelas práticas dos crimes de corrupção ativa e passiva”, disse Gebran.

O advogado Cristiano Zanin Martins, que integra a defesa de Lula, pretende usar como base, em novos recursos, a alegação de que o TRF-4 não respeitou a decisão do Supremo sobre a anulação de sentenças em que réus delatados e delatores apresentaram as alegações finais no mesmo prazo. “A decisão de hoje (ontem) é incompatível com o posicionamento da Suprema Corte ao definir ser necessário dar à defesa dos corréus delatados a oportunidade de falar após corréus delatores”, frisou o advogado.

Em nota, o PT alegou que o tribunal de segunda instância agiu como “um pelotão de fuzilamento”. “Além de ignorar as nulidades do processo do sítio de Atibaia e de, mais uma vez, combinar previamente o aumento da sentença injusta, a Turma desacatou abertamente o Supremo Tribunal Federal, num verdadeiro motim contra a hierarquia do Poder Judiciário e contra a ordem constitucional democrática do país”, alegou a sigla.


"Havia a expectativa que se comportasse (Lula) em conformidade com o direito e que coibisse ilicitudes. Ao revés disso, o que se verifica, nesses casos, é uma participação e uma responsabilização pela prática dos diversos atos de corrupção”
João Pedro Gebran Neto, desembargador.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quarta, 27 de novembro de 2019

ATIVISMO POR MEIO DA ARTE

 

Ativismo por meio da arte
 
 
Professor da UnB, Nelson Inocencio tem trajetória acadêmica e artística marcada pela luta contra o preconceito e pela conscientização das questões raciais

 

» Emilly Behnke

Publicação: 27/11/2019 04:00

A arte pode ser transformadora, 
se ela tem intenção. Eu me comprometi com a arte de modo que o meu trabalho fosse engajado (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

A arte pode ser transformadora, se ela tem intenção. Eu me comprometi com a arte de modo que o meu trabalho fosse engajado

 



“Ser e tornar-se negro é ter a dimensão política do que é ser uma pessoa negra no mundo. Não é só a diferença de melanina.” Essa é a visão de Nelson Fernando Inocencio da Silva, 58 anos, professor do Departamento de Artes da Universidade de Brasília (UnB). Filho de pais cariocas que vieram para o centro do país transferidos, Inocencio é um dos brasilienses que ajudaram a dar forma ao movimento negro na capital.
 
Com 17 anos, começou a participar de grupos que buscavam construir uma identidade negra no Distrito Federal. Por meio da arte, encontrou seu jeito de contribuir. “Eu entrei na universidade já com uma formação política, que o ativismo me deu”, relata. Como calouro, em 1980, Inocencio lamentava o fato de ser uma das poucas pessoas negras do ambiente.
 
“Era tão rara a presença de estudantes afrobrasileiros que, às vezes, vinham falar comigo em inglês ou francês, achando que eu era aluno do convênio do Brasil com os países africanos”, lembra. Para ele, ser o único negro em um local não era motivo de orgulho — como ouviu de muitas pessoas. “Isso não era algo para ser celebrado”, diz.
 
Esse cenário mudou, quando comparado com 40 anos atrás. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pela primeira vez, a população que se declara preta ou parda passou a representar mais da metade (50,3%) dos alunos de ensino superior da rede pública. “A paisagem do câmpus tem sofrido uma mudança. Ainda não é radical, mas é importante”, opina.
 
Como professor da UnB desde 1995, ele duvida da estatística. “É uma presença mais significativa do que no passado, mas não é majoritária.” E chama a atenção para o baixo número de professores negros. “É ainda mais diminuto na carreira docente. Nós não chegamos a 5% do total, talvez nem a 3%”, calcula.
 
Tabu
 
Uma das principais vitórias da luta contra o preconceito no Brasil, segundo Inocencio, é poder colocar o racismo em pauta como um dos temas de importância nacional. Para ele, houve um “adensamento” do debate, mas ainda é um tabu. “Sou de uma época em que o mito da democracia racial era algo muito forte no Brasil. Com muita dificuldade, se admitia o preconceito racial”, comenta.
 
No fim da década de 1970, em pleno regime militar, ele ingressou na vida ativista. “Nós ousamos falar de racismo quando o assunto era tratado como subversão. Fizemos um trabalho corajoso.” Na época, a questão racial não era preocupação das organizações. “Mesmo as mais avançadas não tinham convicção de que o racismo era um fenômeno extremamente danoso. Era quase um monólogo, poucas ouviam”, ressalta.
 
De lá para cá, a luta das entidades ganhou maior espaço. Mas Inocencio alerta: “Lutar contra o racismo não pode ser um compromisso só do movimento negro. Não fomos nós que inventamos o problema. O compromisso é da sociedade”. Na avaliação do educador, autor de três livros sobre o tema, a conjuntura política e social não é favorável para os movimentos sociais. “Estamos vivendo um retrocesso intenso, mas não vamos esmorecer. É um absurdo que um país como o Brasil, com a segunda maior população negra do mundo, a trate da forma como vem tratando”, critica.
 
“Artivismo”
 
Publicitário por formação, Nelson Inocencio sempre teve aptidão pelas artes. Foi o medo do curso de educação artística acabar que o fez pedir transferência para comunicação social, área em que também fez mestrado. Segundo ele, a parte midiática da luta é fundamental, porque há um vício histórico da sociedade brasileira de “sobrerrepresentação de brancos e uma subrepresentação de negros e indígenas”. É equivocado, contudo, na opinião do doutor em artes, dizer que o negro nunca foi representado. “A representação sempre existiu, mas sempre tendeu para o lado negativo: como caricatura, exótica e risível. Era a desumanização e não o reconhecimento”, argumenta.
 
Apesar de reconhecer a importância estratégica da comunicação para ampliar o debate racial, é pela arte que Inocencio mais manifesta seu ativismo — o qual resume como “artivismo”. “A arte pode ser transformadora, se ela tem intenção. Eu me comprometi com a arte de modo que o meu trabalho fosse engajado”, explica.
 
A arte tem a capacidade de sensibilizar, e essa é uma das funções da militância negra, de acordo com Inocencio. “Quando eu digo sensibilizar, falo de agir. O sentimento tem que se transformar em alguma coisa”, esclarece. Ele acrescenta que a sensibilização para transformar é tanto do negro em relação à sua consciência quanto dos outros membros da sociedade quanto à questão racial. “Todos nós precisamos nos responsabilizar, se a gente quer uma sociedade verdadeiramente democrática.”


Especial
Para marcar o Mês da Consciência Negra, a série Histórias de consciência é publicada ao longo de novembro e presta homenagem a mulheres e homens negros que ajudam a construir uma Brasília justa, tolerante e plural. Todos os perfis deste especial e outras matérias sobre o tema podem ser lidos no site www.correiobraziliense.com.br/ historiasdeconsciencia.
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense terça, 26 de novembro de 2019

PROJETO PARA ACELERAR REINTEGRAÇÃO DE POSSE

 

Projeto para acelerar reintegração de posse
 
Presidente Jair Bolsonaro diz que mandará ao Congresso proposta de criação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) do campo. De acordo com o chefe do Planalto, governadores protelam o cumprimento das decisões judiciais de restituição de terras invadidas

 

AUGUSTO FERNANDES
RENATO SOUZA

Publicação: 26/11/2019 04:00

 

Bolsonaro: %u201CA GLO não é uma ação social, chegar com flores na mão. É chegar preparado para acabar com a bagunça%u201D (Antonio Cruz/ Ag?ncia Brasil)  

Bolsonaro: " A GLO não é uma ação social, chegar com flores na mão. É chegar preparado para acabar com a bagunça."

 

 

O governo federal quer alterar a legislação que trata sobre reintegração de posse nas áreas rurais para permitir que o próprio presidente da República autorize a atividade de tropas das Forças Armadas no cumprimento das decisões judiciais que ordenem a retirada de invasores. Para isso, o chefe do Executivo, Jair Bolsonaro, prepara um projeto de lei que propõe a criação de uma “GLO (Garantia da Lei e da Ordem) para o campo”. Segundo ele, o objetivo é dar celeridade às ações que envolvem a restituição de terras.

Como justificativa, Bolsonaro disse haver governadores que demoram a pôr em prática as decisões de reintegração de posse em imóveis rurais proferidas por juízes — hoje, cabe aos Poderes Executivos de cada um dos 27 entes federativos acionar as forças de segurança pública locais, como a Polícia Militar, para atuar nos casos de invasão.
“Quando marginais invadem propriedades rurais, e o juiz determina a reintegração de posse, é quase regra que governadores protelam. Poderia, pelo nosso projeto, ter uma GLO do campo para chegar e tirar o cara da propriedade”, frisou o presidente.

O Executivo não quer, contudo, retirar a responsabilidade dos estados, conforme afirmou Bolsonaro. Para ele, os governos federal e estaduais podem atuar em conjunto. “Onde a propriedade privada não existe é no socialismo, no comunismo. Não chegamos lá ainda”, argumentou. “O cara invade a fazenda, queima o gado, depreda patrimônio, mata animais e fica por isso mesmo. Tem de ser algo urgente. E você, dando uma resposta urgente, inibe outros de fazerem isso.”

Apesar de não falar em datas, o chefe do Planalto disse que encaminhará a proposta ao Congresso. “Deixo bem claro que isso passa pelo parlamento. Se o parlamento achar que assim deve ser tratada a propriedade privada, aprova. Se achar que a propriedade privada não vale nada, aí não aprova”, frisou. Ele espera aprovação geral da bancada ruralista, composta por 247 deputados e 38 senadores.

Membro da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado, Luis Carlos Heinze (PP-RS) acredita que o tema não terá dificuldades para avançar em nenhuma das Casas. “Em qualquer lugar do mundo, a propriedade é um direito sagrado. Portanto, o que precisamos é respeitar esse direito. Têm casos no país que a reintegração leva dois, três, quatro anos”, destacou.

A proposta pode tramitar em paralelo com outro projeto enviado por Bolsonaro ao Congresso, na semana passada, que trata sobre excludente de ilicitude para agentes em ações de GLO, ou seja, uma espécie de “salvaguarda jurídica” para policiais que, porventura, matarem em serviço. A medida já encontra resistência no parlamento e, caso não seja aprovada, Bolsonaro disse que “GLOs raramente serão editadas”. “A GLO não é uma ação social, chegar com flores na mão. É chegar preparado para acabar com a bagunça. Mas, se não querem, não estou ameaçando ninguém, não. Não tem problema. A caneta Compactor é minha. Não tem GLO. Ponto final.”

A intenção de utilizar as Forças Armadas para reintegrações de posse levanta críticas, pois Exército, Marinha e Aeronáutica são treinados para situações de guerra e de conflito armado, e não para garantir o cumprimento de decisões da Justiça. Porém, o professor Terence Trennepohl, pós-doutor em direito ambiental pela Universidade de Harvard, nos EUA, afirmou ser comum que medidas judiciais desse tipo não sejam cumpridas, principalmente por falta de pessoal.

“De acordo com a Constituição, as Forças Armadas são instituições organizadas, sob a autoridade suprema do presidente da República, e destinam-se à defesa da pátria, à garantia dos poderes e, por iniciativa de qualquer desses, da lei e da ordem. É exatamente aqui que se legitima a proposta do presidente”, avalizou.

Saiba mais

Queda no número de invasões
Os números mais atualizados de invasões de terras rurais no país, divulgados pela Comissão Pastoral da Terra, revelam que, no ano passado, 143 áreas foram apropriadas de forma irregular. Em comparação aos anos anteriores, a estatística caiu: 169 foram invadidas em 2017; e 194, em 2016. A quantidade de invasões a terras indígenas, porém, está em alta. Em 2018 inteiro, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), órgão vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), registrou 111 ocorrências em 76 áreas. Até setembro deste ano, a instituição contabilizou 160 invasões em 153 localidades.

Rigor contra invasor de casa

O presidente Jair Bolsonaro disse, ontem, que enviará projeto de lei ao Congresso para garantir que uma pessoa armada possa fazer “tudo contra o invasor” dentro de sua casa. “Como você deve se comportar dentro de casa, armado, se alguém entrar? Hoje em dia, como que é a legislação? Queremos garantia absoluta de que, dentro da casa, você pode tudo contra o invasor”, frisou. Segundo o presidente, a medida é parte de um pacote de projetos que o governo deve enviar ao Congresso, composto também pela sugestão de excludente de ilicitude para agentes durante ações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). “Poder Público, não tem o governador (como) proporcionar segurança para todo mundo 24h. Dentro de casa, você tem de ser dono de você”, argumentou, sem detalhar o teor da proposta. “Qualquer pessoa que entrar na sua casa, você pode ter o poder absoluto sobre ela”, repetiu.
 

 Jornal Impresso
 

Correio Braziliense segunda, 25 de novembro de 2019

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM DEBATE

 

Violência contra a mulher em debate
 
Programação da campanha dos 16 dias de ativismo pelo fim das agressões contra elas inclui atos públicos, sessões solenes e colóquio promovido pelo Correio. Atividades começam hoje, Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres

 

JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 25/11/2019 04:00

O gramado da Esplanada dos Ministérios amanhece hoje com com 1.206 cruzes fincadas na grama. Segundo o grupo de mulheres responsável pelo ato, cada uma representa uma vítima de feminicídio no país em 2018 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

O gramado da Esplanada dos Ministérios amanhece hoje com com 1.206 cruzes fincadas na grama. Segundo o grupo de mulheres responsável pelo ato, cada uma representa uma vítima de feminicídio no país em 2018

 



Vinte e sete mulheres vítimas de feminicídio, 474 estupradas e 12.115 casos de violação à Lei Maria da Penha contra elas. Os números fazem parte do balanço da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) referente ao período de janeiro a outubro. Os casos de violência contra a mulher na capital do país alarmam não só pela frequência como também pela quantidade de ocorrências: em média, 41 registros por dia, se levados em conta os três tipos de crimes. Até agora, a quantidade de mulheres assassinadas por condição de gênero no DF chegou a 30, o maior número desde a criação da lei que tipifica o delito, em 2015.

Há décadas, o tema tem sido foco de ações de diferentes setores. Para reforçar a importância da luta constante contra essa realidade, em 1991, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o 25 de novembro como o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres. A data de hoje dá início à campanha anual de 16 dias de ativismo pelo fim dessa prática e inclui uma série de atividades — em Brasília, no restante do Brasil e no mundo — para debater o tema e alertar para a gravidade do cenário. As ações ocorrem até 10 de dezembro, quando se comemora a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Por ocasião da data, o gramado em frente ao Congresso Nacional amanheceu com 1.206 cruzes fincadas na grama. Cada uma representa uma vítima de feminicídio no país em 2018. O ato incluirá, ainda na manhã de hoje, a formação da palavra “Basta” pelas participantes. A concentração começa às 9h30. Em seguida, às 11h, haverá uma sessão solene no plenário da Câmara dos Deputados, presidida pela deputada federal Flávia Arruda (PL).

A parlamentar considera o cenário “uma verdadeira epidemia” e afirma que o objetivo do ato é marcar a data como um dia de luta e de homenagem a todas as vítimas. “Não podemos nos esquecer dessas vidas. Não são apenas estatística. São mães, filhas, amigas, esposas que tiveram a vida interrompida. Temos lutado diariamente no Congresso (Nacional) para garantir que a Lei Maria da Penha seja cumprida, para que tenhamos mecanismos de punição severa para os agressores, de proteção à vítima e, especialmente, de prevenção”, reforça Flávia.

Ainda hoje, o secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, será o primeiro ouvido pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Feminicídio, na Câmara Legislativa. O comitê havia aprovado um requerimento dos distritais Fábio Félix (PSol) e Arlete Sampaio (PT), solicitando a participação de Torres. No entanto, o próprio titular da pasta enviou um ofício em que se ofereceu para participar da audiência. A reunião, restrita a parlamentares e assessores, está prevista para as 14h.

Angústia
Presenciar agressões físicas e verbais do pai contra a mãe de Sharlene*, 32 anos, foram uma constante. Desde criança, ela e as três irmãs presenciaram momentos de tensão e dor. “A primeira lembrança que tenho do meu pai agredindo-a foi de quando ele chegou bêbado em casa. Estávamos as quatro sentadas no sofá, ele começou a brigar com ela (a mãe). De repente, deu um murro no nariz dela. Jorrou muito sangue. Lembro-me dela abaixada, imóvel, para que ele parasse de bater. O nariz quebrou e, até hoje, ela tem sequelas”, relata.

Depois disso, as agressões pioraram ao longo dos 35 anos de casamento: tapas, murros e violência verbal. “Crescemos nessa realidade. Às vezes, nos trancávamos no quarto com ela para impedir que ele entrasse e a machucasse”. Há dois anos, Sharlene presenciou outra briga marcante. O pai chegou à casa de familiares e disse que esfaquearia a mulher. Espantados, os cunhados o denunciaram. No entanto, quando a polícia chegou, a mãe desistiu de fazer a acusação.

Sharlene conhece o cotidiano da mãe, mas não sabe como ajudar. O ciúme doentio por parte do pai tira qualquer possibilidade de relacionamento saudável. “Há um tempo, ele não a agride mais, mas com palavras é muito constante. Percebo que a vida dela é de muita angústia, ela é uma mulher muito triste. Qualquer tipo de vaidade que ela tem, ele acha que ela ‘vai aprontar’. Um dia, ela começou a chorar, disse que queria que ele morresse e que tem medo de ele matá-la”, lamenta a auxiliar administrativo.

Reeducação
Para a psicóloga Jeane Cristine de Sá, um dos maiores desafios no atendimento a mulheres vítimas de violência é fazer com que elas compreendam que estão em uma relação tóxica e que aquilo pode mudar. “Além disso, tem a questão da dependência emocional e financeira e de casos em que há filhos do casal. Quando consigo provar para elas as consequências fisiológicas, mostrar que elas têm perdas significativas na saúde, muitas começam a se conscientizar”, explica.

Idealizadora do Projeto Support, de atendimento a mulheres em situação de risco e acompanhamento psicológico, Jeane comenta que as consequências de um relacionamento abusivo e permeado por violência provocam perdas de substâncias importantes para o corpo, como a serotonina, que controla sono, apetite e humor. “A tristeza está presente em todas elas (vítimas). Muitas vezes, elas fazem ‘escolhas ruins’ porque estão tristes”, analisa. “E os homens precisam ser tratados. Não há a menor dúvida. Há essa coisa da posse. Uma imaturidade emocional tão grande. Eles precisam mudar conceitos dentro de si para que o comportamento venha a ser outro”, completa Jeane.

Procuradora de Justiça aposentada e autora de livros sobre violência contra a mulher, a advogada criminal Luiza Nagib Eluf lembra que esse tipo de comportamento trata-se de uma “demonstração de força bruta por parte de homens inconformados que querem dominar as mulheres”. “Essa dominação, em resumo, é uma afronta total aos direitos da mulher. É uma afronta a todas as nossas leis, aos direitos humanos, aos direitos da família, das crianças”, elenca. “Sempre percebi essa discriminação, que é, na verdade, uma tentativa de amputação da mulher. No sentido físico, sexual, mental. É uma forma de castrá-las.”

Além de ressaltar a necessidade de um processo de mudança de mentalidade e de reeducação, Luiza cobra a criação de cotas nos três poderes. A advogada recomenda, ainda, que as mulheres encontrem apoio umas nas outras. “A primeira coisa que temos de fazer é ter amigas. Sair e conversar com elas. É preciso acordar para o fato de que é o único apoio que a mulher tem é o de outra mulher”, argumenta.

*Colaborou Thais Umbelino (estagiária sob supervisão de Guilherme Goulart)




Legislação
Sancionada em agosto de 2006, a Lei Maria da Penha surgiu para criar mecanismos que coíbam a violência doméstica e familiar contra a mulher. O crime configura-se como qualquer ação ou omissão baseada no gênero que cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial à vítima. O delito constitui violação aos direitos humanos e vale para o âmbito da unidade doméstica, familiar ou em qualquer relação íntima de afeto, independentemente de coabitação e de orientação sexual.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense domingo, 24 de novembro de 2019

FLAMENGO: UMA APOTEOSE EM TRÊS MINUTOS

 

Uma apoteose em três minutos
 
Trinta e oito anos depois, a torcida rubro-negra delira com a conquista. O 2 x 1 sobre o River Plate foi um %u201CAi, Jesus%u201D, como no hino. Próxima parada: Catar, para reviver o sonho de ser o dono do mundo

 

FaBIO Grecchi

Publicação: 24/11/2019 04:00

 

Diego Alves, Éverton e Diego erguem a taça, na tripla comemoração dos capitães da equipe durante a campanha. Jogadores entram para a história do clube com 2º título da Libertadores (Ernesto Benavides/AFP
)  

Diego Alves, Éverton e Diego erguem a taça, na tripla comemoração dos capitães da equipe durante a campanha. Jogadores entram para a história do clube com 2º título da Libertadores

 

 


Se perguntarem a qualquer rubro-negro se Flamengo 2 x 1 River Plate foi um bom jogo, possivelmente a resposta será “não”. Os brasileiros não conseguiram desfazer o nó cego passado pelos argentinos e, para piorar, ainda bateram cabeça no gol que, até os 43 minutos do segundo tempo, levava o título da Libertadores para Buenos Aires. Mas, e daí? Com sofrimento, os rubro-negros, em menos de cinco minutos, espantaram o cheirinho com que os “secadores” sempre provocaram e encheram os pulmões com o mais puro e inebriante perfume da vitória.

Os 38 anos de distância entre o primeiro e o segundo título não se comparam em agonia com os aproximadamente 85 minutos de domínio pleno do River, que entendeu o jogo do Flamengo desde o primeiro minuto – o contrário não aconteceu, em momento algum, diga-se. A marcação pesada da equipe de Marcelo Gallardo era um sufocamento para um time leve, acostumado a mandar nas ações, mas que já devia ter percebido que os adversários também criam antídotos. O 4 x 4 com o Vasco, em pleno Maracanã, não serviu de aviso.

Foi esse descompasso que levou Willian Arão e Gérson a dizerem, um para o outro, “deixa que eu deixo”, e permitir que Borré batesse seco para o fundo do gol, numa bola vinda do fundo. Aliás, justiça se faça ao River: notou que o lado esquerdo do Flamengo é um latifúndio e colocou Nacho Fernándes ali, entre Filipe Luiz e o lento Pablo Marí. Na direita, Casco e De La Cruz aprontavam um salseiro em cima de Rafinha, impedindo-o de ir ao ataque e obrigando Rodrigo Caio a trabalhar dobrado.

A rigor, o Flamengo não chutou a gol no primeiro tempo. Bruno Henrique e Gabigol estavam isolados na frente, onde a bola não chegava; Éverton Luiz recebia pelo menos três marcadores em cima e não conseguia flutuar; Arrascaeta padecia do mesmo mal e passou o primeiro tempo nessa teia. A proposta do River era inteligente: reduzir a velocidade do time de Jorge Jesus. E com brilho, conseguiu. Já diz a máxima futebolística: final não se joga, se ganha.

Bom, o “Mister” já leu a tática dos argentinos e, no segundo tempo, vai desfazê-la. Qual o quê! O Flamengo voltou do intervalo novamente desarvorado, afobado, chutando bola para o alto, errando passes. Desalento – dessa forma, a Libertadores já tem dono. Armani, lá atrás, agradecia todos os cruzamentos na área. Não é goleiro da seleção por acaso.

Mas talvez Marcelo Gallardo tenha cometido seu maior erro ali pelos 30 minutos, quando começou a substituir jogadores. O fez para ganhar tempo? Por achar que a taça estava na mão? Por ter percebido cansaço depois de tanto esforço? Dificilmente confessará. Não foi coincidência que, a partir daí, o Flamengo passou a achar os espaços que não encontrara até então. No primeiro gol, Bruno Henrique lançou Arrascaeta, que, escorregando, conseguiu cruzar para Gabigol empatar, aos 43.

Ufa! Uma chance de levar para a prorrogação e para os pênaltis; pressão para o outro lado. Eis que, porém, o inacreditável acontece: Gabigol se dá bem na disputa com o duro Pinola e... 2 x 1!

Acaba!, acaba o jogo, seu juiz! Chega!

Ainda teve expulsão de Gabigol, pisão em Bruno Henrique, empurra-empurra – e o árbitro, que não é trouxa nem nada, esperou a bola dar uma roladinha para trilar o apito. Aí, meus amigos, foi a festa que não se viu nas últimas copas do mundo.

Nota final: agradecemos o tuíte do River reconhecendo o título. E deem licença, que a hora é de desfrutar o perfume e a alegria da vitória.

“Eu imaginava ser campeão, mas foi melhor. Foi a cara do Flamengo, acreditando até o fim. Valeu a pena todo esforço que fizemos para chegar até aqui”

Éverton Ribeiro,
capitão do time rubro-negro

"Tenho orgulho dos meus jogadores, podem ficar de cabeça erguida. O Flamengo é um grande rival, para muitos era o favorito. Em campo não se viu isso. Graças ao trabalho do River. Fomos melhores por 85 minutos. Temos que saber perder"

Marcelo Gallardo


trajetória do título

Fase de grupos


5/3 - San José 0 x 1 Flamengo
Na altitude de 3.700 m de Oruro, Bolívia, o Flamengo fez o improvável. Com gol de Gabriel Barbosa e noite inspirada de Diego Alves, a equipe ainda comandada por Abel Braga estreou com vitória fora de casa na Libertadores.

13/3 - Flamengo 3 x 1 LDU
Apesar de ter cometido dois pênaltis, o time carioca venceu por 3 x 1, no primeiro jogo no Maracanã, com gols de Éverton Ribeiro, Gabriel Barbosa e Uribe. Cristian Borja descontou para os visitantes.

3/4 - Flamengo 0 x 1 Peñarol
Derrota amarga em casa. Com poucas chances criadas e Gabriel expulso, o Flamengo perdeu o jogo e a liderança do Grupo D para o Peñarol. Viatri saiu do banco para dar a vitória aos uruguaios, aos 42 minutos do
segundo tempo.    

11/4 - Flamengo 6 x 1 San José
Foi do Flamengo a maior goleada da Libertadores de 2019. Com gols de Éverton Ribeiro (2), Diego Ribas (1), Arrascaeta (1), Vitinho (1) e Gutiérrez (contra), o Flamengo venceu por 6 x 1 e reassumiu a liderança do Grupo D.

24/4 -  Liga de Quito 2 a 1 Flamengo  
Em Quito, o Flamengo até saiu na frente com Bruno Henrique, mas Anangonó e Chicaíza marcam para os equatorianos. Derrota rubro-negra por 2 x 1.

8/5 - Peñarol 0 x 0 Flamengo  
Flamengo desperdiçou oportunidades, perdeu Pará (expulso aos 18 do 2º tempo), mas segurou o empate fora de casa. E se classificou para as oitavas como líder da chave.

Oitavas de final
24/7- Emelec 2 x 0 Flamengo  
Com Jorge Jesus no comando, perdeu por 2 x 0 para o Emelec no jogo de ida das oitavas de final, no Equador. Godoi e Caicedo marcaram para o time da casa e ligaram o alerta do treinador português.

31/7 - Flamengo 2 x 0 Emelec
Como diria a torcida: hoje tem gol do Gabigol. E não foi apenas um: dois gols de Gabriel levaram a decisão da vaga às quartas de final da Libertadores para os pênaltis. Com 4 x 2 nos tiros livres, o Flamengo avançou à fase seguinte.

Quartas de final
21/8 - Flamengo 2 x 0 Internacional
Com dois gols de Bruno Henrique, no segundo tempo, o Flamengo venceu o Internacional no jogo de ida das quartas de final da Libertadores.

28/8 -  Internacional 1 x 1 Flamengo
Em casa, o Internacional abriu o placar com Rodrigo Lindoso. Mas um erro de Sarrafiore, e o contra-ataque rubro-negro, Gabriel Barbosa fez o gol de empate que cravou a classificação do Flamengo para a semifinal.

Semifinal
2/10 - Grêmio 1 x 1 Flamengo
Em um jogo eletrizante, as redes da Arena do Grêmio balançaram cinco vezes — três gols foram anulados pelo VAR. Bruno Henrique abriu o placar, em falha da marcação tricolor. Pepê, que saiu do banco, decretou o empate e empurrou a decisão da vaga para o Maracanã.

23/10 - Flamengo 5 x 0 Grêmio  
Uma humilhação que quase 70 mil pessoas testemunharam no Maracanã! Apesar de um primeiro tempo equilibrado, o Flamengo deu um nó tático no time de Renato Portaluppi no segundo. Com gols de Gabriel (2), Bruno Henrique (1), Pablo Mari (1) e Rodrigo Caio (1), o time de Jorge Jesus atropelou os gaúchos e  garantiu a vaga na final da Libertadores.

final

23/11 - Flamengo 2 x 1 River Plate
Com virada épica em Lima, no Peru, o Flamengo reconquista a América. 

 

Jornal Impresso


Correio Braziliense sábado, 23 de novembro de 2019

CRISTIANE SOBRAL: A ARTE COMO FORMA DE LUTAR

 

A arte como forma de lutar
 
Radicada em Brasília, a atriz e escritora Cristiane Sobral tem história entrelaçada com a questão racial e reconstrói a identidade negra dentro dos projetos que desenvolve

 

Vinícius Veloso*

Publicação: 23/11/2019 04:00

 (Raissa Tuany/Divulgação - 11/10/19)  
A luta pela população negra e a relação com a arte e o teatro são os mantras que direcionam a vida da atriz, escritora e professora Cristiane Sobral, 45 anos. Ela defende os ideais desde a infância. Adotada, nunca conheceu os pais biológicos, mas encontrou naquelas que a criaram uma grande inspiração. “As primeiras referências de luta que tenho são da minha mãe, líder comunitária preocupada com as ações coletivas, e do meu pai, um homem caseiro que realizava as tarefas domésticas”, lembra.
 
Criada no subúrbio do Rio de Janeiro, onde a maioria da população é negra, ela conviveu desde criança com uma realidade difícil. Cristiane viu a vida mudar quando, aos 8 anos, a mãe, Marina Sobral, morreu. Por isso, ainda criança começou a entender, em partes, por que o cotidiano era tão difícil para aquele povo excluído socialmente. “Após a morte da minha mãe, pela primeira, vez me deparei com as questões de ser uma criança negra e órfã. Eu sentia o racismo incindir no meu corpo negro”, conta.
 
À época, sem o entendimento real do tamanho da discussão racial, ela conseguiu formar uma visão de mundo a partir de observações da realidade. “Minha mãe não me deixava ver televisão. Após a morte dela, comecei a assistir e entendi o motivo. A televisão representava o negro em papéis terríveis: de bandidos, malandros e prostitutas. E, ao olhar para as pessoas ao meu redor, eu via muita sabedoria e alegria, mas essas histórias não eram retratadas”, lembra.
 
Esse ponto foi essencial na trajetória de Cristiane. Ali, ela percebeu que seria escritora e atriz, com a intenção de retratar um mundo no qual os negros seriam melhor representados. Na adolescência, após um curso profissionalizante de teatro em terras cariocas, embarcou para Brasília, onde construiu uma trajetória de sucesso artístico e cultural.
 
Na capital federal, formou grupos de artes cênicas no ensino médio e foi aprovada para o bacharelado em interpretação teatral na Universidade de Brasília. Anos depois, foi a primeira atriz negra a se graduar no mesmo curso na cidade.

 (Marilia Cabral/Divulgação)  


Conhecimento para todos
 
Em Brasília, Cristiane entrou para um projeto na Embaixada da Angola no qual recebia para ler sobre a História da África. Durante seis meses, conciliou esse papel com a direção da companhia de arte negra Cabeça Feita — que completou 20 anos em 2019 — e acabou juntando todos os conhecimentos.
 
Palestras sobre a cultura angolana se misturaram às peças teatrais que abordavam a temática racial. A artista começou, também, a explorar o lado literário com a produção de livros infantis, poéticos, históricos e teatrais. Neste ano, foi a Guiné-Bissau, Moçambique e a oito universidades dos Estados Unidos para falar sobre o próprio trabalho.
 
Entretanto, ter acesso às produções de Cristiane, apesar do esforço da autora, não é tarefa tão fácil. Nas grandes livrarias, por exemplo, não se encontram exemplares das obras dela. Mesmo com a dificuldade de alcançar um público mais amplo, ela continua a produzir para desmistificar a questão racial.
 
“Escrevo com o sonho de constituir na literatura e no teatro a humanidade de pessoas negras, contando essas histórias e os legados delas. Com a escrita negra, surge a questão do meu fortalecimento feminino, social, materno e de cidadã, percebendo que essa representatividade é cada dia maior e inspiradora”, afirma Cristiane. “Realizo trabalhos nas escolas, nas penitenciárias e em outros locais. Essa discussão contribui para negros e não negros. São produções que denunciam uma sociedade ainda racista, mas que falam para leitores heterogêneos”, acrescenta.
 
Mudança
 
Para Cristiane Sobral, existem maneiras de se reverter a questão da discriminação e do racismo na sociedade brasileira, reconhecendo a existência de um apartheid e percebendo que, mesmo a passos lentos, muita coisa mudou. Partindo desse pressuposto, dois pilares são fundamentais nessa reconstrução histórica, acredita.
 
O primeiro é o reconhecimento social da existência do preconceito. “Vivemos em uma sociedade que ainda tem preconceito de ter preconceito, que tem dificuldade de assumir o nosso racismo de cada dia e que tem dificuldade de admitir que a população negra não está inclusa na vida pública do país. Não temos pessoas negras nos espaços de poder do país e da nossa cidade”, argumenta.
 
O segundo é a educação. “O Estado precisa de ações afirmativas para que possamos ter um desenvolvimento social melhor. A educação étnico-racial é uma grande ferramenta no combate ao racismo. Precisamos de uma educação antirracista. Nós não nascemos racistas. O racismo é aprendido, então ele pode ser desaprendido e combatido”, explica.
 
Para ela, faltam conteúdos sobre as vitórias, a ancestralidade e a intelectualidade do povo negro. “Precisamos falar da negritude e pensar em um contexto de positividade. A partir do momento em que você visualiza a história do seu povo de maneira positiva, você prepara o cidadão ao ingresso no campo social de outra maneira. Ele estará muito mais preparado para contribuir com o país.”
 
A artista diz, ainda,  que os livros de história e os meios de comunicação contribuem para uma construção social racista quando apresentam uma imagem estereotipada e negativa da população negra. “O processo de tornar-se negro, de ter uma consciência da  negritude não acontece quando nascemos biologicamente. Como temos o racismo em um sistema institucionalizado, muitas vezes nós, negros, passamos pelo processo de um segundo nascimento. A negritude não é dada como valor de positividade a nenhum negro. O negro tem que aprender a gostar mais de si mesmo, amar a sua cor, amar o seu cabelo e seus traços”, argumenta.
 
*Estagiário sob supervisão de Alexandre de Paula
 
"Escrevo com o sonho de constituir na literatura e no teatro a humanidade de pessoas negras, contando essas histórias e os legados delas. Com a escrita negra, surge a questão do meu fortalecimento feminino, social, materno e de cidadã, percebendo que essa representatividade é cada dia maior e inspiradora.”
 
"Vivemos em uma sociedade que ainda tem preconceito de ter preconceito, que tem dificuldade de assumir o nosso racismo de cada dia e que tem dificuldade de admitir que a população negra não está inclusa na vida pública do país.”
 
Especial
Para marcar o Mês da Consciência Negra, a série Histórias de consciência é publicada ao longo de novembro e presta homenagem a mulheres e homens negros que ajudam a construir uma Brasília justa, tolerante e plural. Todos os perfis deste especial e outras matérias sobre o tema podem ser lidos no site www.correiobraziliense.com.br/ historiasdeconsciencia.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sexta, 22 de novembro de 2019

MORRE TONIQUINHO, O HOMEM QUE DESCOBRIU BRASÍLIA

 

OBITUÁRIO
 
 
O homem que cobrou JK
 
Responsável indireto pela construção de Brasília, ao questionar se o então presidente cumpriria a Constituição e mudaria a capital do Rio de Janeiro para o Planalto Central, Antônio Soares Neto, o Toniquinho, faleceu aos 94 anos

 

Deborah Fortuna

Publicação: 22/11/2019 04:00

[FOTO1]

À época da pergunta que mudou o rumo da história, Antônio tinha 29 anos e era vendedor de seguros (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 19/3/15 )  

À época da pergunta que mudou o rumo da história, Antônio tinha 29 anos e era vendedor de seguros

 



Em um dia chuvoso de 4 de abril de 1955, Antônio Soares Neto faria uma pergunta que mudaria a história do país. Durante o primeiro comício de Juscelino Kubitschek, em Jataí, no interior de Goiás, o vendedor de seguros, à época com 29 anos, levantou o braço e perguntou ao então candidato à Presidência da República se ele cumpriria o que dizia a Constituição e mudaria a capital do Rio de Janeiro para o Planalto Central. Toniquinho, como era conhecido, faleceu na manhã de ontem, aos 94 anos, recém-completados em outubro, após uma parada cardiorrespiratória.

“Ele era uma boa pessoa, gentil, generosa e ousada”, relembra o jornalista e documentarista Edson Luiz de Almeida, responsável pelo filme A pergunta que mudou a história do Brasil, que conta a versão do vendedor de seguros daquele dia em que Toniquinho deixou Juscelino em uma “saia justa”.

Almeida, que ouviu muitos depoimentos e testemunhas sobre aquele 4 de abril, conta que o diálogo entre Toniquinho e JK ocorreu em um comício improvisado, depois que uma chuva forte dispersou a multidão que acompanhava o político em uma praça pública. Perto de uma concessionária de veículos, um caminhão foi feito de palanque. Como sobraram poucas pessoas depois do temporal, JK resolveu dialogar com o pequeno público presente. “E nisso, o seu Toniquinho, que estava estudando a Constituição porque queria fazer concurso, sentiu um calor no corpo e levantou o braço. JK disse ‘pois não, senhor?’. Eu ouvi essa história dele [Toniquinho] dezenas de vezes. Sempre contada do mesmo jeito. E ouvi isso de outras testemunhas também”, disse o documentarista.

Se há dúvidas de que o presidente foi incentivado a pensar em Brasília por causa dessa pergunta, esse questionamento pode ser respondido pelo próprio JK, em um trecho do documentário da Secretaria do Território e Habitação do DF, também disponível no filme de Almeida. “Confesso que, até aquela altura, eu não havia pensado nesse assunto, mas quando Toniquinho me colocou o problema, pensei subitamente. Dei um ou dois segundos de espera e disse: Se a Constituição exige a construção da nova capital, vou respeitá-la e construirei a nova capital do Brasil no Planalto Central”, afirmou JK.

Àquela altura, o projeto de metas de Juscelino estava pronto, contendo 30 itens. Nenhum deles, contudo, fazia referência à construção. Brasília não se tornou a 31ª meta de governo, mas sim o cerne de toda a campanha de JK ao Planalto. A promessa se cumpriu cinco anos depois daquele dia, em 21 de abril de 1960, quando os fogos de artifício encheram o céu para inaugurar a nova capital federal. “A importância do Toniquinho é fundamental para a história do Brasil”, defende o jornalista.


Descrito por amigos e familiares como muito carismático, Toniquinho deixa cinco filhos, 11 netos e dois bisnetos (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 19/3/15 )  

Descrito por amigos e familiares como muito carismático, Toniquinho deixa cinco filhos, 11 netos e dois bisnetos

 




Carisma
Mas Toniquinho não foi apenas o homem que mudou os rumos da capital. Segundo Almeida, era uma das figuras “mais carismáticas” que conheceu. Ao longo dos anos, o vendedor de seguros estudou a Constituição Federal e se tornou advogado. Mudou-se para Brasília e depois voltou a morar, com a esposa, em Goiás.

Para a mulher, Nelita Vilela, 82 anos, Toniquinho foi um marido carinhoso, amigo e companheiro. “Ele era uma pessoa humana e gostava de ajudar as pessoas menos favorecidas. Era muito humilde, inteligente. Foi um bom pai, avô, bisavô”, disse. Os dois completariam 64 anos de casados em dezembro. Toniquinho deixa cinco filhos, onze netos e dois bisnetos.

O velório começou na noite de ontem, na Câmara Municipal de Jataí. O sepultamento está marcado para as 11h de hoje, também na cidade goiana.

O governador em exercício do DF, Paco Britto, emitiu uma nota em que lamenta a morte e lembra a história de Toniquinho, afirmando que o homem "entrou para a história oficial de Brasília como o responsável pelo surgimento do Distrito Federal"



"Confesso que, até aquela altura, eu não havia pensado nesse assunto, mas quando Toniquinho me colocou o problema, pensei subitamente. Dei um ou dois segundos de espera e disse: ‘Se a Constituição exige a construção da nova capital, vou respeitá-la e construirei a nova capital do Brasil no Planalto Central"
Juscelino Kubistschek, sobre a influência de Toniquinho.
 
Jornal Impresso

 


Correio Braziliense quinta, 21 de novembro de 2019

MARIA IVATÔNIA: PRIMEIRA DESEMBARGADORA NEGRA DO DF

 

Amor pelos estudos e busca pela justiça
 
Para a primeira desembargadora negra do DF, a tocantinense Maria Ivatônia, negros bem-sucedidos precisam mostrar que vencer é possível

 

» ANA MARIA CAMPOS

Publicação: 21/11/2019 04:00

 

"A política de cotas é fundamental. Se você é de uma família que não estudou em escola boa e vai prestar vestibular, qual é a sua chance? Zero"

 

 
Maria Ivatônia Barbosa dos Santos poderia ser um exemplo de que é possível vencer desafios para chegar longe na carreira sem se beneficiar de cotas. A primeira desembargadora negra do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) tornou-se magistrada e ascendeu sem qualquer política afirmativa. Aos 5 anos, “fugiu para a escola”, como gosta de dizer. Foi alfabetizada em dois meses, sempre se destacou como a aluna mais nova da turma e ostentava um boletim com notas excelentes. Aos 16 anos, prestou vestibular. Aos 21, formou-se em direito. Passou em primeiro lugar no concurso para delegada da Polícia Civil de Goiás. Quatro anos depois, em maio de 1993, ingressou na magistratura do Distrito Federal.
 
Hoje, aos 57 anos, é celebridade na cidade em que nasceu, Arraias, estado de Tocantins. Na última terça-feira, quando foi promovida a desembargadora, Maria Ivatônia entrou para o rol dos negros mais ilustres do planeta em cartaz produzido pelas crianças da escola onde estudou, ombreando com Nelson Mandela, Barack Obama, Bob Marley, Pelé e Zumbi dos Palmares. A singela homenagem foi exibida aos colegas com orgulho na primeira sessão da 5ª Turma Cível, da qual participou ontem pela primeira vez depois de ser escolhida, por unanimidade, pelo Pleno do Tribunal de Justiça do DF para a vaga aberta com a aposentadoria do desembargador Marco Antônio da Silva Lemos.

 (Arquivo Pessoal)  
 
Durante a primeira sessão, Ivatônia ouviu de um colega, o desembargador Ângelo Passarelli, um suposto elogio: “Nunca a vi como uma mulher negra. Olho para a senhora e não vejo uma negra, não”. Querida no TJDFT e entre advogados, delegados e promotores de Justiça, Ivatônia tem vários amigos na magistratura. É o caso do presidente da Associação dos Magistrados de Brasília, Fábio Esteves, um dos poucos negros nas varas de justiça brasileiras. O Censo do Poder Judiciário de 2018, realizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), mostrou que apenas 18% dos magistrados do país se declaram negros.

Entre as referências de Ivatônia, estão desembargadoras como Carmelita Brasil, Sandra de Santis e Ana Maria Amarante, além de celebridades como a ex-primeira-dama dos Estados Unidos Michelle Obama. “Eu não gosto de aparecer. Mas Michelle Obama disse que nós, negros, não podemos nos dar ao luxo de querer ter a vida tão discreta, tão afastada de holofotes como a gente prefere, porque a gente precisa que nossos irmãos de cor, como ela diz no livro (Becoming), olhem para a gente e digam: é possível.”
 
O pai, Antônio Gentil, professor e um sábio na educação dos filhos, também é um dos ídolos. Suas lições além das salas de aula nunca foram esquecidas. Aos 8 anos, adiantada na escola, a menina passou a se considerar adolescente. Queria viver as rebeldias das colegas de 13 ou 14 anos e decidiu deixar as tarefas de lado. O boletim marcou a diferença de comportamento. Ao perceber a modificação, o pai chegou em casa com uma “surpresa” para a filha, uma enxada embrulhada em papel de presente. “Aqui nesta casa, quem não estuda trabalha”, disse. Assim, as notas voltaram a subir.
 
Apesar do mérito pessoal, Ivatônia é defensora de políticas afirmativas que abram possibilidades para negros. “A política de cotas é fundamental. Se você é de uma família que não estudou em escola boa e vai prestar vestibular, qual é a sua chance? Zero”, afirma. “Pode esquecer. É por isso que, mesmo depois de 2000, a porcentagem de 2% de negros (na magistratura) não se alterou. Não é uma questão racista do tribunal de não deixar passar negros. Que isso fique muito claro. É porque os negros não chegam a esse tribunal com conhecimento necessário para disputar com os meninos que, graças a Deus, tiveram estudo”, avalia. “Então, é preciso haver essas ações afirmativas, para diminuir essas diferenças”, acrescenta. “Até hoje, o número de negros no tribunal não chega aos dedos de uma mão”, lamenta.
 
Preconceito
 
Maria Ivatônia narra passagens de discriminações que viveu, inclusive no próprio Tribunal por parte de servidores. Certa vez, a juíza foi barrada por um segurança no corredor de autoridades por onde passaria o então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski. Mas Ivatônia não o denunciou. “Ele também era negro. Pensei: vou reclamar dele, abrir um processo administrativo? Ele vai ser demitido. Vai ter mais filhotes negros sem escolas. É mais um para dar problema… É melhor esquecer a cara do segurança”, disse. No Rio de Janeiro, ela viu um amigo branco e loiro ser recebido com deferência em um hotel de luxo, enquanto era tratada com desconfiança. Já ouviu também que era “negra de alma branca”.
 
Graduada em direito pela Universidade Católica de Goiás (UCG), a magistrada é pós-graduada em direito constitucional eleitoral pela Universidade de Brasília (UnB), em direito penal e direito administrativo pela Universidade Católica de Brasília (UCB) e em direito penal, direito processual penal e direito constitucional pela Universidade Católica de Goiás (UCG). Estudou vários idiomas, como inglês, espanhol, francês, alemão e italiano. E brinca que, muitas vezes, prefere entrar num hotel chique falando outra língua, para não ser destratada. “Assim vão pensar que sou uma americana rica”, diz, com bom humor.
 
Com um companheiro há 17 anos, a desembargadora optou por não ter filhos biológicos. Primeira de uma prole de sete irmãos, ela preferiu cuidar da família e de amigos. Adotou de coração dois jovens, que são como filhos. Um deles é uma servidora de sua equipe que tem ananismo. “Ela é a minha filhinha. É o tempero do nosso gabinete”, conta.
 
Como juíza, atuou na 2ª Vara de Entorpecentes e Contravenções Penais. Foi titular da Auditoria Militar e da 2ª Vara Criminal de Taguatinga; diretora do Fórum de Taguatinga e do Fórum Desembargador José Júlio Leal Fagundes; e coordenadora da Central de Guarda de Objetos de Crime (CEGOC). Apesar de ter lidado com muitos processos penais envolvendo policiais militares, ela admira a corporação. “Temos a melhor Polícia Militar do país. Nossa Polícia Civil também é muito técnica, de muita qualidade”, avalia.
 
É na meditação, no tai chi chuan e na ioga que Ivatônia se desestressa. Ela também gosta de corrida, mas, pelo bem da saúde das articulações, adotou as caminhadas como atividade física. “Somos um receptáculo de muitas crises”, afirma, referindo-se aos motivos para trabalhar a sanidade mental. No Judiciário, também busca equilíbrio. “Nenhum juiz é super-homem. Nenhuma juíza é supermulher. Somos pessoas que trabalham pela justiça e pelo bem”, acredita.


Especial
Para marcar o Mês da Consciência Negra, a série Histórias de consciência é publicada ao longo de novembro e presta homenagem a mulheres e homens negros que ajudam a construir uma Brasília justa, tolerante e plural. Todos os perfis deste especial e outras matérias sobre o tema podem ser lidos no site www.correiobraziliense.com.br/ historiasdeconsciencia.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense quarta, 20 de novembro de 2019

CIDADANIA: CINEMA FEITO NA VIDA REAL
 
 
CIDADANIA
 
Cinema feito de vida real
 
No próximo domingo, no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, estreia Maria Luiza. Em 1h20 de duração, o longa-metragem brasiliense conta a história da primeira e única mulher transexual das Forças Armadas Brasileiras (FAB)

 

MARCELO ABREU
ESPECIAL PARA O CORREIO

Publicação: 20/11/2019 04:00

Gravações ocorreram entre 2015 e 2017 em cidades de Goiás, no Rio de Janeiro e em Brasília: lugares determinantes para a vida da protagonista (Diego Bresani/Divulgação)  

Gravações ocorreram entre 2015 e 2017 em cidades de Goiás, no Rio de Janeiro e em Brasília: lugares determinantes para a vida da protagonista

 



Aos 5 anos, quando ouvia o barulho de um avião no quintal de casa, a criança corria para ver aquela coisa grande no céu. Estamos em Ceres, interior de Goiás, distante 280km de Brasília. É 1965. “Eu dormia e sonhava com aquilo, com o barulho do avião.” Aos 7 anos, gostava tanto de empinar pipa, que inventou uma engenhoca: “Era uma carretilha, que melhorava o desempenho da pipa na hora de voar. Ela soltava a linha mais rapidamente e recolhia também”, lembra.

Aos 9, construía aeronaves com latas velhas da casa. A criança sempre quis voar. Sempre. Aos 18, José Carlos da Silva realizou o sonho de uma vida. Foi servir a Força Aérea Brasileira (FAB). Virou mecânico de avião. Logo se destacou. Tornou-se o melhor da turma. Passou a fazer, cada vez mais, cursos de especialização. Somaram-se os certificados, as medalhas e as condecorações pelos bons serviços prestados à nação. Virou, nesse período, instrutor de cursos de preparação de solo às aeronaves. “A minha promoção foi publicada em boletim”, conta, com orgulho.

Os anos se passaram. José começou a perceber, na verdade sempre soube, que algo o inquietava. Não gostava do corpo, e sua cabeça não era exatamente de homem. Procurou ajuda numa junta médica da Aeronáutica. “Disseram que era tensão, estresse, que podia passar”, conta. Mas ele insistia que era mais do que isso. Era algo que sempre o acompanhou.


O diretor Marcelo Díaz ao lado de Maria Luiza no Cine Brasília, onde será exibido o documentário  (Vinicius Cardoso/Esp. CB/D.A Press)  
O diretor Marcelo Díaz ao lado de Maria Luiza no Cine Brasília, onde será exibido o documentário



Sentença
Em 1998, José ouviu pela primeira vez que era transexual. Era como ele se sentia. Uma mulher, com alma de mulher, no corpo de um homem. Veio a separação da mulher e da única filha. Em 2000, o Correio Braziliense encontrou José Carlos. Era o começo de uma série de reportagens que durou uma década. Capítulos de uma história recheada de dor, preconceito e uma luta sem fim. Era o começo do filme Maria Luiza, que estreia neste domingo (24), às 15h, no 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. É o único do DF que fará parte da Amostra Vozes, na categoria nacional. Já esteve nos principais festivais de cinema no Rio, em São Paulo, na Argentina, na Holanda e no México.

Ainda em 2000, o jornal teve acesso a um laudo confidencial do Alto Comando da Caserna. Lá, o mecânico, antes condecorado e agraciado com medalhas, não servia mais para o ofício que executou por 22 anos seguidos. No laudo médico, o parecer: “Atrofia testicular por provável ação medicamentosa. Transexualismo”. E a sentença: “Incapaz, definitivamente, para o serviço militar. Não é inválido. Não está impossibilitado total e permanentemente para qualquer trabalho. Pode prover os meios de subsistência. Pode exercer atividades físicas”. Era — e ainda continua sendo — o primeiro caso de transexualidade das Forças Armadas brasileiras.

Começava, então, a luta de José Carlos para permanecer na carreira militar e para fazer a cirurgia de mudança de sexo. Com o apoio da Promotoria de Justiça Criminal de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde, do Ministério Público do DF (Pró-vida), teve início a segunda parte dessa história. Afastado da FAB, começou o tratamento no Hospital Universitário de Brasília (HUB), para pacientes transexuais. Rotinas de consultas com psiquiatra e psicólogo. E, finalmente, em junho de 2005, aos 45 anos, no Hospital das Clínicas de Goiânia, foi realizada a cirurgia da mudança de sexo, sempre com o apoio do Ministério Público do DF. José Carlos deixava de existir. Deu lugar à Maria Luiza da Silva, ao que sempre foi.


 (Vinicius Cardoso/Esp. CB/D.A Press)  



Homenagens
“Maria porque minha mãe, muito católica, disse que, se fosse menino, ia se chamar José; menina, Maria. E Luiza porque minha avó materna foi muito importante na minha vida”, explica Maria Luiza, a cabo reformada da Aeronáutica.

O filme, que só foi possível ser realizado graças ao Fundo de Apoio à Cultura (FAC), da Secretaria de Cultura do GDF, se chama apenas Maria Luiza. E o diretor Marcelo Díaz, brasiliense de 44 anos, casado, um filho e oito documentários na bagagem, entre curtas e médias, explica o seu primeiro longa-metragem, que contou com equipe de cerca de 50 pessoas: “É um documentário de 1h20 de duração. Rodamos entre 2015 e 2017, com filmagens em Brasília, Ceres, Goiânia, onde ela fez a cirurgia, e no Rio de Janeiro. Lugares determinantes da vida dela e de tudo que passou e viveu em cada uma dessas cidades”. E, claro, o filme conta a trajetória dela, que, há 19 anos, luta para receber as promoções a que tem direito, mesmo reformada.

O advogado de Maria Luiza, Max Telesca, 45 anos, disse ontem ao Correio que a ação que pede a nulidade do ato de reforma, em 2000, e as consequências financeiras do ato, foram causas ganhas em primeira e segunda instâncias. “Agora, a ação está no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Tenho certeza de que o entendimento será favorável”, avalia Telesca.

No documentário, há depoimentos marcantes de pessoas da família, dos colegas da FAB e de todos que conviveram com ela e acompanharam a história de perto. “É um filme que fala de uma pessoa muito simples e sua dualidade entre ser militar e uma mulher trans”, explica o diretor. E prossegue: “Eu me interesso por histórias de superação, de transformação. Vi na Maria Luiza a história de uma senhora com uma vida muito simples, do interior de Goiás, que só queria ser aceita e continuar a carreira militar a que tinha direito, antes de ser reformada contra a vontade e sofrendo muitos preconceitos”.

Na manhã de ontem, o Correio encontrou Maria Luiza e o diretor Marcelo Díaz, no Cine Brasília. Não poderia haver cenário melhor. Em meio à montagem e à arrumação do cinema para o evento, que começa nesta sexta, a conversa foi, na verdade, uma volta à história dela, para relembrar que tudo que está no filme foi contado, com exclusividade, pelo jornal. Há três anos e meio, a reportagem teve o primeiro encontro com o diretor. A conversa, numa padaria do Sudoeste, durou uma tarde inteira. Na pasta dele, havia vários recortes das páginas onde a história de Maria Luiza foi publicada por longos anos.


 



Luta por dignidade
A primeira reportagem foi em 2000. De lá para cá, uma série de matérias especiais produzidas — a última, em 2017, contava sobre o fim das filmagens. Depois da cirurgia, em 2005, a luta para mudar o nome e o sexo nos documentos civis e militares e, sobretudo, a luta que ainda trava para ter de volta os direitos suprimidos. “Eu sou a única mulher militar da minha turma que continua cabo”, diz, com nítida tristeza.

Aos 59 anos, Maria Luiza mora no mesmo apartamento modesto de dois quartos, ainda da FAB, no Cruzeiro Novo. Mas a qualquer momento pode ter que deixar. Pinta, desenha, gosta de fotografia e vai à missa aos domingos, na igreja perto de sua casa. Anda muito a pé, seu esporte diário. “Caminho até três vezes por dia”, diz. Talvez explique os 56kg no corpo de 1,70cm. Extremamente tímida, Maria Luiza é muito reservada quanto à sua vida privada. Solteira, não tem qualquer tipo de rede social, nem mesmo Whatsapp. “Eu sou feliz assim. A gente precisa ser feliz com a gente mesma. Eu sou realista, sou pé no chão.”

Marcelo Díaz ouve Maria Luiza falar. Ele se emociona: “Conhecer a história e conviver com ela me fizeram um ser humano melhor”. E reflete: “A pessoa mais radical e conservadora, se vir o filme, vai se emocionar. É uma história de uma pessoa que corre atrás dos seus direitos, que só quer existir e ser aceita. Sobretudo nesse momento de tanta intolerância que estamos vivendo no Brasil e no mundo”.

E foi a vez de Maria Luiza ouvir o diretor falar. Ela olha para o cartaz com o nome dela. Parece sair dali. Um filme, claro, passou na sua cabeça. Um filme onde ela se tornou a personagem principal da própria vida. Às vezes, histórias contadas num jornal podem parar numa tela bem grande. E emocionar uma multidão. E fazer pensar. Tudo que é real não morre. Pode, até, virar filme.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense terça, 19 de novembro de 2019

PELÉ: OS DOIS GOLS MARCADOS NO DF E MUITO MAIS

 

PELÉ
 
Antes... No dia em que o feito do Rei faz 50 anos, o Correio recorda os dois gols marcados no DF pelo melhor craque de todos os tempos. Ex-jogadores da cidade lembram como foram os históricos jogos na capital do país

 

Marcos Paulo Lima

Publicação: 19/11/2019 04:00

 




Dezenove de novembro de 1969. Rio de Janeiro. Maracanã. Edson Arantes do Nascimento marca o milésimo gol na carreira. A histórica cobrança de pênalti na vitória sobre o Vasco do saudoso goleiro Andrada, por 2 x 1, pela Taça Brasil, comove o país. Cinquenta anos depois daquele feito, a planilha do Rei com sua coleção de 1.283 bolas na rede registra dois marcados no Distrito Federal. Um antes e outro depois do milésimo.

Personagens das duas vezes em que Pelé jogou — e fez gol — no Distrito Federal, os ex-zagueiros Pedro Pradera e Melo, o Melão, falaram sobre os duelos históricos contra o eterno camisa 10 no caderno Pelé, 70 anos, publicado pelo Correio Braziliense em 2010. Um evitou que o craque perdesse a majestade num confronto com a Seleção de Brasília. O outro quase viveu dia de cinderelo depois de peitar o melhor jogador dentro das quatro linhas.

O primeiro gol de Pelé no DF saiu em 25 de maio de 1967, no demolido estádio batizado com o nome dele, o Pelezão. Capitão da Seleção de Brasília, Melo tirou cara ou coroa com o Rei. Posou para fotos e, quando a bola rolou, quase virou piada. “Lembro, até hoje, que o Pelé tentou colocar a bola entre as minhas pernas para fazer graça com a torcida, mas eu me recuperei a tempo. Gesticulei com ele e ouvi: ‘Você abriu as canetas, pô’”, lembra o militar aposentado Moacir Tremendani dos Santos, o Melo, apelido de família.

Além de zagueiro central, Melo fez o papel de pacificador. “Durante o jogo, o Pelé veio reclamar comigo que o Luís estava entrando demais de carrinho. Ele veio na minha direção e falou: ‘avisa para o teu colega que se ele continuar entrando de carrinho em mim eu vou cair por cima dele de cotovelo’”, recorda. Melo deu o recado. “O Luís virou pra mim e disse: ‘Pô, Melo, eu só estou jogando a minha bola”, contou o beque. “Eu respondi: Cara, eu só estou te avisando, se você continuar com essas jogadas o negão falou que vai te partir no meio”.

O concerto do Santos terminou 5 x 1. Apesar da forte marcação de Luís, Pelé marcou um gol. Coutinho, Toninho, Douglas — substituto do Rei, que saiu aplaudido — e Wilson completaram o placar segundo a ficha técnica fornecida à reportagem por Guilherme Gauche, do departamento de história e estatística do Santos Futebol Clube. O lateral-esquerdo Aderbal fez o de honra no combinado candango. “Nossa seleção era formada praticamente por jogadores do Rabelo. Fizemos o possível para segurar o Santos, mas o time deles era uma academia. Tivemos uma aula. O Pepe chutava forte demais, meu Deus!”, lembra Melo.

Deu bolo
O primeiro gol de Pelé na cidade poderia ter saído em 21 de abril de 1961, na comemoração do primeiro aniversário de Brasília. O Peixe venceu por 4 x 0, mas Pelé não jogou. Leia o que diz a justificativa na edição do Correio: “Pelé foi demoradamente aplaudido quando entrou em campo. Mas o público ficou decepcionado: o famoso craque brasileiro estava sem o uniforme de jogo. O técnico Lula e os médicos do clube revelaram que ele estava contundido”.


“Durante o jogo, o Pelé veio reclamar comigo que o Luís estava entrando demais de carrinho. Ele veio na minha direção e falou: ‘avisa para o teu colega que se ele continuar entrando de carrinho em mim eu vou cair por cima dele de cotovelo’”
Melo, zagueiro da Seleção de Brasília em 1967


O primeiro gol no DF

Data: 25/5/1967
Local: Estádio Pelezão

Seleção de Brasília 1

Zé Válter; Didi, Melo,  Varnesi e Aderbal; Luís e Beto (Paulinho); Sabará, Zé Maria, Edinho (Cid)
e Arnaldo.
Técnico: Samuel Lopes

Santos 5


Cláudio; Lima, Joel, Orlando (Oberdan) e Rildo; Zito (Bougleaux) e Clodoaldo; Wilson, Coutinho, (Toninho), Pelé (Douglas) e Abel (Edu).
Técnico: Antoninho

Gols: Pelé, aos 3, e Coutinho, aos 40 minutos do primeiro tempo. Wilson, aos 18, Douglas, aos 35, e Aderbal, aos 38, e Toninho, aos 44 minutos do segundo tempo.


...e depois
do milésimo


O segundo gol de Pelé no Distrito Federal foi em 20 de março de 1974, no velho Mané Garincha. O extinto Ceub perdeu por 3 x 1 pelo Campeonato Brasileiro. Pedro Pradera ousou peitar o rei durante a partida em defesa do lateral-esquerdo Rildo, com quem Pelé jogara na Copa do Mundo de 1966. No dia seguinte, quase calçou uma chuteira dos sonhos.

Na véspera da partida, o técnico do Ceub, Cláudio Garcia, deu entrevista dizendo que Pelé, aos 34 anos, estava desmotivado. Segundo Pradera, o craque interpretou que havia sido depreciado e entrou em campo aborrecido. “Houve uma falta perto da área e ele (Pelé) começou a bater boca com os caras do nosso time. Aí, o Rildo virou pra ele e perguntou: ‘Vem cá, por que tu tá irritado’. Ele respondeu: ‘o teu técnico tá dizendo que eu sou uma m…’”.

No meio da confusão, sobrou para Pradera. “Ele me disse alguma coisa que não lembro e não gostei. Eu era atrevido pra caramba. Olhei pra ele e fui comendo o fígado dele de colherzinha: ‘Vem cá, tu é Pelé para as tuas negas, trata de baixar a tua bola aqui dentro. Você é grande, mas não é dois’. A partir dali, ele não falou mais nada comigo, mas me mandou dois presentes”, revelou em entrevista ao Correio.

Apesar da intimidação, Pelé deixou a marca dele na arena que leva o nome do compadre Garrincha. Nenê e Léo completaram o placar. Gilberto descontou para o time do DF. Após o jogo, Pelé saiu com o amigo Rildo do Ceub. Durante o encontro, elogiou Pradera. “Palavras do Rildo, que hoje mora nos EUA e foi quem me contou: “Gostei muito daquele zagueiro do teu time, é forte e tem muita personalidade. Leva esses presentes e entrega para ele”.

As lembranças eram uma camisa autografada do Santos e um par de chuteiras. “Cara, era uma chuteira da Puma, sonho de qualquer jogador na época”, lembra Pradera. O brinde não ficou com ele. “Não coube nos meus pés. Dei para alguém, só não lembro quem”, divertiu-se o zagueiro. Desapegado, Pradera não guarda nem a camisa. “Está com o meu pai”. (MPL)



“Não coube nos meus pés (a chuteira que Pelé deu de presente). Dei para alguém, só não lembro quem. Cara, era uma chuteira da Puma, sonho de qualquer jogador na época”
Pedro Pradera, zagueiro do Ceub no duelo de 1974


O segundo gol no DF


Data: 20/3/1974
Local: Estádio Mané Garrincha

Ceub 1


Valdir; Luiz Carlos, Pedro Pradera, Emerson e Rildo; Alencar e Rogério (Gilberto); Cardosinho, Renê, Juraci (Carlos Roberto) e Dário.
Técnico: Cláudio Garcia

Santos 3

Wilson; Hermes, Oberdan, Vicente e Turcão; Nelsi, Leo e Nenê (Brecha); Mazinho, Pelé e Edu (Eusébio).
Técnico: Pepe

Gols: Nenê, aos 20 minutos do primeiro tempo. Pelé, aos 23, Léo, aos 28, e Gilberto, aos 33 minutos do segundo tempo.


O DISCURSO DO REI*

Corri para a marca (do pênalti), dei uma paradinha, e chutei. Goooool!


Corri direto para o fundo da rede, peguei a bola e dei um beijo nela. O estádio explodiu, com rojões e aplausos. De repente fui cercado por uma multidão de jornalistas e repórteres. Colocaram microfones na minha frente e eu então dediquei aquele gol às crianças do Brasil. Disse que tínhamos de dar atenção para as criancinhas. Comecei, então, a chorar, fui colocado sobre os ombros de alguém e ergui a bola para o alto. O jogo foi suspenso por 20 minutos, enquanto eu dava uma volta olímpica. Alguns torcedores do Vasco correram em minha direção e me deram uma camisa do time com o número 1.000. Achei estranho, mas não tive alternativa a não ser vesti-la ali mesmo.

Por que falei das criancinhas? Naquele dia, era aniversário de minha mãe, então talvez eu devesse dedicar o gol a ela. Não sei por que não pensei nisso. Mas, diferentemente, na hora, pensei nas crianças. O que aconteceu foi que me lembrei de um acidente que tinha acontecido em Santos alguns meses antes. Eu tinha saído do treino um pouco mais cedo e vi alguns garotos tentando roubar um carro que estava perto do meu. Eram muito pequenos, do tipo para quem se costuma dar um dinheirinho para tomar conta do carro.

Chamei a atenção deles para o que faziam, e eles replicaram que eu não precisava me preocupar, pois só roubariam carros com placas de São Paulo. Mandei-os sair dali, dizendo que eles não roubariam carro de nenhum lugar. Lembro-me de ter comentado, mais tarde, com um companheiro de time, sobre a dificuldade de se crescer e educar no Brasil. Já então me preocupava com a questão da educação das crianças, e essa foi a primeira coisa que surgiu em minha cabeça quando marquei o (milésimo) gol.

Acho que muita gente não entendeu o que eu estava querendo dizer. Fui um pouco criticado, com pessoas me chamando de demagogo. Acharam que eu não tinha sido sincero. Mas isso não me incomodou. Acredito ser importante que pessoas como eu mandem mensagens sobre a questão da educação. Não haverá futuro se você não educar os jovens. Hoje, quando você anda pelo Brasil e vê os problemas que temos, com gente morando nas ruas e gangues em ação, elas também já foram crianças. Agora, dizem que o Pelé estava certo. Não tenho medo de falar com o coração.

*Texto publicado por Edson Arantes do Nascimento na página 52 da autobiografia ilustrada Pelé, minha vida em imagens

Jornal Impresso


Correio Braziliense domingo, 17 de novembro de 2019

BELEZA: OLHAR EM DESTAQUE

 

BELEZA
 
 
Olhar em destaque
 
Sombras com cores fortes, brilhos e neon conquistaram de vez as amantes de maquiagem

 

Por Marcella Freitas*

Publicação: 17/11/2019 04:00

O delineado marcado é a grande tendência: a make como protagonista da produção
 (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

O delineado marcado é a grande tendência: a make como protagonista da produção

 

A maquiagem tem o poder de destacar — ou esconder — uma parte do rosto, camuflar as marcas de uma noite maldormida e dar uma levantada na autoestima. Mas mais do que isso: é possível usar a make como uma ferramenta de expressão e se divertir testando novas combinações e estilos.
 
A tendência no universo de beauté é usar sombras coloridas, brilhos e aplicações, dando um destaque especial à make. Vista nos tapetes vermelhos e nas belezas assinadas nas semanas de moda, a trend tem inspirado cada vez mais os maquiadores pela diversidade de opções. Seja o seu estilo romântico ou clássico, seja mais ousado, opções não faltam para usar aqueles produtinhos esquecidos na nécessaire e inovar o visual.
 
Em suas redes sociais, a maquiadora Luli Maluf realizou um desafio com makes inspiradas na série Euphoria, da HBO, que conta com uma beleza rica em detalhes, brilhos e aplicações. “Cada personagem da série carrega na make um traço de sua personalidade e um pouquinho da sua essência. Quis reproduzir essa peculiaridade de cada uma”, conta a profissional.
 
Para o visual ficar completo, a pele glow, bem iluminada, faz toda a diferença. A maquiadora Camila Lee Crocodilo afirma que o efeito de pele viçosa e saudável deixa a make ainda mais bonita. “Eu amo somar os traços minimalistas do delineador gráfico com um batom mais esfumado e gloss, ou usar um delineador duplo com brilhos, com efeito mais dramático”, detalha.
 
Por ser mais elaborada, a make é indicada para usar em eventos e festas. Vale combinar com a paleta de cores da roupa, brincar com os tons complementares ou deixar a própria maquiagem como protagonista e usar com um look mais minimalista.
 
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte
Algumas makes feitas por Camila Lee Crocodiloa (Fotos: Camila Lee Crocodilo/Divulgação)  
Algumas makes feitas por Camila Lee Crocodiloa
 
 
 
 (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Faça você mesma: delineado gráfico
 
Contemporâneo e geométrico, o delineado gráfico trouxe uma nova forma de make que encantou o mundo pelo poder de destaque para os olhos. Luli Maluf afirma que, apesar de parecer complicado, é possível fazer o traço diferentão sem muito sufoco. Antes de partir para os olhos, a maquiadora recomenda fazer primeiro a preparação de pele para quem ainda não tem muita prática. “Dessa forma, você deixa a pele uniforme e, mesmo que venha errar o delineador ou a sombra, fica mais fácil de corrigir uma só área”, ensina. 
 
  • Para a make, você vai precisar de:
» Pincel chanfrado
» Sombra da sua preferência
» Glitter, se quiser incrementar
  • Comece pelo lado que você tem mais dificuldade em maquiar. Depois, será mais rápido reproduzir o efeito do outro lado.
  • Com um delineador em gel (ou sombra molhada), faça um risco no formato gatinho e suba com o traço, seguindo o formato do côncavo, até a parte interna dos olhos para produzir um efeito de “delineado vazado”. Faça o mesmo nos dois olhos.
  • Para não errar, mantenha a mão o mais firme possível quando for fazer o tracinho.
  • E não precisa ficar encanado: dificilmente os dois olhos ficarão com o delineado igual. Se errou, não fique frustrada! Use demaquilante para remover o excesso e recomece se for necessário.
  • Para arrematar, a maquiadora ainda complementa a make preenchendo a sobrancelha com sombra colorida.
 
 (Eddy Chen/HBO/ Divulgação)  
Euphoria
A série de televisão que estreou na HBO em junho deste ano traz na trama temas que permeiam o íntimo da geração Z — aqueles que nasceram entre meados da década de 1990 e o início dos anos 2010 — como a incessante busca por identidade, pertencimento e descobrimento da sexualidade. Além das temáticas, Euphoria chama a atenção pela arte impecável, da fotografia ao figurino. E as maquiagens superdramáticas usadas pelas personagens — com muito brilho, delineados gráficos e neon — conquistaram o público da série, que logo quis copiar. No Instagram, a moda virou até filtro para os stories.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sábado, 16 de novembro de 2019

MATEMÁTICA: RUMO À CHINA PARA COMPETIR

 

Rumo à China para competir
 
Oito estudantes do colégio Dom Pedro II embarcam para Pequim na próxima segunda-feira (18), onde disputarão a World Mathematics Team Championship, o maior campeonato de matemática daquele país

 

» Luiz Oliveira*
* Estagiário sob supervisão de Ana Sá

Publicação: 16/11/2019 04:00

A equipe é formada pelos estudantes Tiago de Oliveira, Morjorie Nunes, Arthur Narciso, Ilyan Valentino, Lucas Souza, Bruna Marque s, Stella Portella e Lara Hubner (Colégio Militar Dom Pedro II/Divulgação)  

A equipe é formada pelos estudantes Tiago de Oliveira, Morjorie Nunes, Arthur Narciso, Ilyan Valentino, Lucas Souza, Bruna Marques, Stella Portella e Lara Hubner

 


Alunos do 6º e 7º anos do colégio Dom Pedro II irão participar da World Mathematics Team Championship, maior campeonato de matemática da China. O evento ocorre dos dias 21 a 25 de novembro, na capital, Pequim. 
 
A delegação da escola embarca na próxima segunda-feira (18) com oito estudantes: Tiago de Oliveira, Morjorie Nunes, Arthur Narciso, Ilyan Valentino, Lucas Souza, Bruna Marques, Stella Portella e Lara Hubner.  Eles são medalhistas de ouro, a nível estadual, e de prata, a nível nacional, na Olimpíada Matemática Sem Fronteiras 2019, competição internacional e interclasse para alunos do ensino fundamental e médio. 
 
Expectativas
Patrícia Nunes Naves, 41 anos, e Marjorie Nunes, 11, são, respectivamente, mãe e filha. As duas estão bastante animadas para a viagem. “É um privilégio muito grande (participar da olimpíada), vou tentar fazer o meu melhor”, diz Marjorie. 
 
Aluna do sétimo ano, Stella Portella, 12, revela que começou a gostar de matemática quando se preparava para a seleção do Pedro II e diz estar muito ansiosa. “Fiquei sabendo (que tinha sido selecionada) pelas minhas amigas. Na hora, não acreditei. A ficha só foi cair depois que falei com o professor. Estou muito animada, pois quero conhecer a muralha da China.”  
 
Preparação
O professor de matemática Edgard Cândido dos Santos, 41 anos, é um dos responsáveis pela preparação dos alunos. Ele conta como foi o processo até a chegada desse momento. “Tudo começou no início do ano, com um projeto que tinha o intuito de capacitar os estudantes do ensino fundamental em matemática. Depois, passamos a enviá-los para algumas olimpíadas pela escola. Ganharam medalhas de ouro e prata em duas”, revela. 
 
Cândido ressalta a importância desse tipo de evento para diminuir a resistência dos jovens. “Ações assim despertam o interesse pela matemática, uma disciplina que gera muitos afastamentos e desistências. Isso porque possibilita um contato mais aprimorado com a matéria.  Além de ajudar no currículo para entrada nas universidades, porque o aluno que for colecionando essas conquistas,  fica à frente dos demais.” 
 
Apoio da família
Por se tratar de uma competição fora do país, os custos com a viagem são altos. Carla Leal, 37 anos, é mãe de um dos participantes e conta os desafios para conseguir angariar o dinheiro. “A gente soube no dia 24 (de outubro). Meu marido e o Tiago ficaram eufóricos. Eu fui mais pé no chão porque era um valor muito alto, por volta de R$ 12 mil, mas decidimos que ele ia e, com a dica de um amigo, começamos uma vaquinha on-line.” 
 
Ela explica por que decidiu deixar o filho ir para a olimpíada. “Não podia dizer não. Fiquei assustada no início, mas respirei fundo, pois sei o quanto viver essa experiência será importante para ele, abre muitas portas para o futuro." 
 
Os estudantes contam com o apoio, também, da Associação de Pais e Mestres da instituição (Apam), o presidente, Sargento Marcio Santos da Silva, 46 anos, conta a importância de apoiar essa conquista. “Vamos ajudar os pais, pois 54% dos gastos serão custeados pela associação, pois é uma oportunidade única ter os nossos alunos representando a escola, sentimos muito orgulho.”
 
Jornal Impresso

 


Correio Braziliense sexta, 15 de novembro de 2019

PLANALTO CONTABILIZA GANHOS COM BRICS

 

Planalto contabiliza ganhos com Brics
 
 
Afirmação de que questões climáticas devem ser tratadas com respeito à soberania dos países, presente na declaração conjunta dos líderes do bloco, é comemorada pelo governo. Menção à necessidade de reformas é vista como reforço nas negociações com o Congresso

 

RODOLFO COSTA
INGRID SOARES

Publicação: 15/11/2019 04:00

 

Os chefes de Estado, ao fim da plenária, no Itamaraty: visões políticas distintas impediram declaração sobre crise de países latino-americanos (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
)  

Os chefes de Estado, ao fim da plenária, no Itamaraty: visões políticas distintas impediram declaração sobre crise de países latino-americanos

 

 


A afirmação de que a questão climática deve ser tratada com respeito à soberania dos países, incluída na declaração final da 11ª Cúpula do Brics, foi considerada pelo governo como uma das conquistas obtidas pelo país nas reuniões mantidas pelos chefes de Estado dos países-membros do bloco nos últimos dois dias. O tema é caro ao Brasil por causa das recentes queimadas na Amazônia. O Planalto anotou com satisfação também as referências à necessidade de reformas para impulsionar o desenvolvimento, e de combater a corrupção e o crime organizado internacional. De acordo com fontes próximas ao presidente Jair Bolsonaro, ele se sente respaldado por alguns dos principais parceiros comerciais e potências emergentes a insistir junto ao Congresso para avançar nas votações de matérias de interesse do Executivo.

Devido a divergências políticas, a declaração conjunta não mencionou as crises de Venezuela, Chile e Bolívia, embora conflitos em outras regiões do mundo, como na Palestina, tenham sido elencados entre as preocupações dos integrantes do bloco. Ao tratar das questões econômicas, o documento parte da premissa de que as reformas contribuem para o crescimento dos países. E destaca que as nações do Brics — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — foram as principais impulsionadoras do crescimento global na última década, e representam, hoje, um terço da produção global. “Estamos convencidos de que a contínua implementação de reformas estruturais aumentará nosso potencial de crescimento. A expansão do comércio entre os membros do Brics contribuirá ainda mais para fortalecer os fluxos de comércio internacional”, diz o comunicado final do encontro.

Em discurso na reunião plenária, Bolsonaro comentou o esforço para reforçar a atuação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês), o banco do Brics, de modo a atender as demandas do setor privado. A instituição tem uma carteira de projetos de US$ 10 bilhões, mas o potencial para aumentar essa cifra é grande. À noite, ao chegar ao Palácio da Alvorada, ele voltou a celebrar. “A presença (dos chefes de Estado) demonstra que o Brasil é um país sério e que tem muito a oferecer a eles, e eles a nós.”

Crime organizado
O Brics também deixou encaminhada a convergência pelo multilateralismo na discussão dos problemas globais. O presidente da China, Xi Jinping, comemorou. “O aumento do protecionismo e unilateralismo cria deficit de desenvolvimento de governança, de conhecimento, e crescentes incertezas, que são fatores de desestabilização na economia mundial”, avaliou. O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, defendeu a exportação de produtos de maior valor agregado, pelos países emergentes, como forma de erradicar a miséria e o desemprego.

O combate ao terrorismo e ao crime organizado foi outra pauta defendida pelo bloco. Na avaliação do Planalto, o discurso favorece o governo, que tenta emplacar, no Congresso, o pacote anticrime do ministro da Justiça, Sérgio Moro. A agenda foi comentada pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin. “Invariavelmente temos apoiado iniciativas e uma visão compartilhada em série de questões, como promoção da paz, combate a ameaças terroristas e crime organizado”, afirmou. O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, endossou o discurso. “Nós já estamos um pouco mais distantes de um risco tão próximo de uma guerra mundial, no entanto, o terrorismo continua sendo uma grave ameaça a todos os nossos países. Nos últimos anos, 225 mil vidas foram perdidas para o terrorismo.”

“A presença (dos chefes de Estado) demonstra que o Brasil é um país sério e que tem muito a oferecer a eles, e eles a nós”
Jair Bolsonaro, presidente da República

 

Jornal Impresso


Correio Braziliense quinta, 14 de novembro de 2019

EMBAIXADA DA VENEZUELA: INVASÃO

 

Crise política invade embaixada
 
Integrantes da missão indicada pelo líder oposicionista Juan Guaidó ocupam a representação do país em Brasília no dia da cúpula do Brics. Caracas denuncia "ataque" e Bolsonaro nega ter apoiado a ação

 

CAROLINE CINTRA
INGRID SOARES

Publicação: 14/11/2019 04:00

Partidários de Guaidó e do regime chavista discutem diante da missão diplomática: 12 horas de tensão (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Partidários de Guaidó e do regime chavista discutem diante da missão diplomática: 12 horas de tensão

 



Policiais militares guardam a entrada do edifício: incidente começou ao amanhecer, com a entrada dos invadores (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Policiais militares guardam a entrada do edifício: incidente começou ao amanhecer, com a entrada dos invadores

 


No dia em que Brasília foi palco para a abertura da cúpula do Brics, com quatro chefes de Estado visitantes, a Embaixada da Venezuela transformou-se ontem em cenário para mais um capítulo das desavenças entre o governo chavista de Nicolás Maduro e o presidente Jair Bolsonaro, que reconhece o líder oposicionista Juan Guaidó como chefe de Estado interino do país vizinho. Por volta das 4h30 de ontem, um grupo de venezuelanos e brasileiros que integram a representação de Guaidó no Brasil conseguiu entrar na missão diplomática e ocupou parcialmente o local por mais de 12 horas, até se retirar, no fim da tarde, ao fim de negociação com o Itamaraty. O regime de Caracas denunciou o “ataque”, criticou a “passividade” do policiamento e reponsabilizou as autoridades brasileiras pela integridade das instalações e do pessoal. Bolsonaro condenou a ação, inicialmente apoiada pelo filho deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), e anunciou as “medidas necessárias” para restabelecer a normalidade.

“Denunciamos que as instalações de nossa embaixada em Brasília foram invadidas à força ao amanhecer. Responsabilizamos o governo brasileiro pela segurança de nosso pessoal e das instalações”, tuitou o chanceler venezuelano, Jorge Arreaza. O encarregado de negócios da embaixada, que está sem titular desde o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, desmentiu a embaixadora designada por Guaidó, María Teresa Belandria, que alega ter recebido o chamado de funcionários da missão que teriam “mudado de lado” e decidido reconhecer o presidente interino. “Não sabemos como eles entraram aqui pela porta de acesso e saída da embaixada. Tem um veículo que não sabemos de quem é e está dentro do território venezuelano de forma ilegal. Estamos sofrendo uma invasão. O que está acontecendo é muito grave”, protestou Freddy Meregote.

Em nota, a representante de Guaidó, que é reconhecida como embaixadora pelo governo brasileiro, afirmou que a situação foi comunicada ao Itamaraty desde o primeiro contato que recebeu dos supostos funcionários da embaixada. “Eles começaram a abrir as portas e entregar voluntariamente a sede à representação diplomática legitimamente credenciada no Brasil”, diz o texto. Falando a uma emissora de tevê venezuelana, Beliandra disse que o processo estava “em negociação”. “O governo do Brasil terá de tomar as decisões que considerar melhores para os interesses do Brasil e salvaguardar a sede diplomática nas mãos de pessoas legitimamente reconhecidas.”

Desencontros
Em meio aos esforços da diplomacia brasileira para manter a crise na Bolívia fora da agenda do Brics, a invasão da Embaixada venezuelana entrou em cena como mais um foco de diferenças entre o governo Bolsonaro e os da China e da Rússia — ambos próximo tanto de Evo Morales quanto de Nicolás Maduro. No começo da tarde, pelo Twitter, o presidente repudiou “a interferência de atores externos” e garantiu ter ordenado a adoção de medidas “para resguardar a ordem pública e evitar atos de violência, em conformidade com a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas”.

A manifestação de Bolsonaro se seguiu a uma nota na qual o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência classificou como “inescrupulosas e levianas” versões de que o governo teria apoiado a ação dos grupo pró-Guaidó. “O presidente jamais tomou conhecimento e, muito menos, incentivou a invasão”, afirma o texto. “As forças de segurança, da União e do Distrito Federal, estão tomando providências para que a situação se resolva pacificamente e retorne à normalidade.”

Tanto o presidente quanto o GSI desautorizaram, na prática, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Mais cedo, também pelas redes sociais, ele tinha manifestado apoio à ocupação da sede diplomática venezuelana pelos simpatizantes de Juan Guaidó. “Nunca entendi essa situação. Se o Brasil reconhece Guaidó como presidente da Venezuela, por que a embaixadora Maria Teresa Belandria @matebe, indicada por ele, não estava pessoalmente na embaixada?”, questionou o parlamentar. “Ao que parece, agora está sendo feito o certo, o justo.”

Bate-boca
Desde a manhã e por toda a tarde, a área diante da embaixada foi cenário de confrontação entre partidários de Guaidó e do governo chavistas. Atendendo ao chamado do encarregado de negócios, parlamentares do PT e do Psol se somaram a ativistas do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e outras organizações sociais para denunciar a invasão do prédio. O líder petista, Paulo Pimenta (RS), confirmou que os ocupantes pularam o porttão para ter acesso à representação. “Aqui, além da parte administrativa, funciona também a ala residencial, onde residem vários funcionários da Embaixada, com os familiares, e foram surpreendidos durante a madrugada”, relatou. Segundo Pimenta, o grupo bloqueou as entradas. Acompanharam a crise e as negociações também os deputados Glauber Braga (PSol-RJ) e Érika Kokay (PT/-F).

Enquanto persistia o impasse os grupos de manifestantes trocavam insultos, como “Guaidó fascista”e “Guaidó narcotraficante”. Em cartazes improvisados, os defensores de Maduro escreveram lemas como “Fora, milicianos” e “América latina livre”, entre outras.


“As instalações de nossa embaixada em Brasília foram invadidas à força ao amanhecer. Responsabilizamos o governo brasileiro pela segurança de nosso pessoal e das instalações”

Jorge Arreaza, chanceler da Venezuela


“O presidente jamais tomou conhecimento e, muito menos, incentivou a invasão”
Nota do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República


“Se o Brasil reconhece (Juan) Guaidó como presidente, por que a embaixadora indicada com ele não estava
na embaixada? Ao que parece, agora está sendo feito o certo, o justo”

Flavio Bolsonaro (PSL-SP), presidente da Comissão

Jornal Impresso
 

Correio Braziliense quarta, 13 de novembro de 2019

RICHARD SANTOS, UM ANDARILHO DO MUNDO NO CAMINHO PELA IGUALDADE

 

Um andarilho do mundo no caminho pela igualdade
 
 
Richard Santos acumula experiências em diversas áreas das ciências humanas. Carioca e morador de Porto Seguro (BA), ele leva para o restante do país %u2014 e do planeta %u2014 os conhecimentos que adquiriu em sala de aula, na tevê e no movimento do hip hop, para promover transformações sociais

 

JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 13/11/2019 04:00

 

"Existe um projeto de poder hegemônico que impera no Brasil há 500 anos. Aqui e na América Latina, só teremos mudança quando desenvolvermos capacidades plurais, que reflitam a formação social dos povos"

 



“Estamos sós, ninguém quer ouvir a nossa voz / Cheia de razões, calibres em punho / Dificilmente um testemunho vai aparecer / E, pode crer, a verdade se omite / Pois quem garante o meu dia seguinte?” O trecho da música Pânico na Zona Sul, lançada em 1988 pelo grupo Racionais MC’s, ultrapassa barreiras temporais e marca a vida de Richard Santos. Carioca, doutor em ciências sociais, professor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), escritor, comunicador e ex-cantor de rap, ele guarda habilidades diversas adquiridas ao longo de 47 anos de vida. Contudo, mesmo bem-sucedida, a trajetória não o impediu de enxergar a realidade que a canção denuncia, cenário que só quem é negro conhece de verdade.

Com uma história que passa por diferentes cidades, Richard é desbravador, ou “andarilho de mundo”, como ele mesmo define. A vida do professor se desenrolou entre cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e, atualmente, constrói-se em Porto Seguro (BA). Em cada uma delas, ele acumulou mais elementos na bagagem intelectual que carrega Brasil e mundo afora. Entre essas idas e vindas, o professor encontra a equipe do Correio no saguão de um hotel do Setor Hoteleiro Sul.

Descontraído e entusiasmado, Richard fala sobre algumas das principais etapas que viveu, mesclando memórias e referências a teorias científicas. A trajetória de Big Richard — como também é chamado — reflete a transdisciplinaridade que ele próprio buscou ao começar os estudos da graduação. Mesmo com mais de 20 anos de trabalho na comunicação, o interesse acadêmico encontrou base nas ciências sociais. “Queria entender a sociedade em que estamos inseridos”, relata. A partir dali, o caminho se pavimentou por mais etapas de estudos até chegar ao pós-doutorado, que cursa atualmente na Universidade Federal da Bahia (UFBA).

No fim dos anos 1980, teve início a trajetória musical de Richard — outra das facetas do professor —, quando ainda morava no Rio de Janeiro, em meio à efervescência do rap, do reggae e mesmo cenário em que o funk carioca nascia. Dali, surgiram grupos como Planet Hemp, O Rappa, Cidade Negra e nomes como o de Gabriel, O Pensador. No entanto, a inspiração para o gosto pela música estava na capital federal: Legião Urbana. O primeiro baixista da banda, Renato Rocha — morto em 2015 —, também era negro. “Houve uma identificação estética, mas eu não me via cantando em uma banda de garagem, até porque eu não tinha garagem nem instrumentos para fazer o rock.”

O interesse pelo rap surgiu da influência da tevê e de um primo que apresentou a Richard o disco Consciência Black, dos Racionais MC’s. A música Pânico na Zona Sul chamou atenção e o levou aos palcos. Mas, com o tempo, a desilusão provocada pelo modelo do mercado vigente, que não permitia que alguns grupos tivessem o mesmo espaço no rádio e na televisão, fez com que Big Richard desistisse da vida de cantor. “Não faço mais shows. Escrevo, produzo, mas não mais para atuar na indústria cultural. Por mais que o hip hop tenha esse discurso crítico, politizado, você tem de aderir aos signos dela”, destaca.

Experiências
As pesquisas na área da comunicação surgiram apenas durante o mestrado, na Universidade de Brasília (UnB). Servidor público da UFSB, o campo de atuação do professor universitário passa pela indústria cultural, a América Latina, o sistema de tevê pública, além de questões raciais. O livro mais recente dele fala da relação entre a branquitude e a televisão. “Sempre gostei muito de comunicação e de televisão. Sempre tive curiosidade de saber mais sobre esse veículo que cria nosso imaginário. E costumo dizer que as plataformas digitais são uma adaptação dela”, define.

Olhar crítico e experiências nesse meio não lhe faltaram, uma vez que trabalhou nos principais canais privados do país e em tevês públicas, tanto à frente quanto por trás das câmeras. Atuou como figurante na novela Roque Santeiro, foi assessor de imprensa, colaborador na MTV, apresentador de quadro no Fantástico, produtor na RecordTV — onde atuou em outra novela — e na TV Brasil — onde também fez reportagens. Passou, ainda, pela Bandeirantes e pela TV da Gente.

Richard analisa que a formação comunicacional no país é rodeada por problemas estruturais que favorecem uma visão eurocêntrica, tanto em relação aos saberes quanto a posturas estéticas. “Esse conjunto, formado pelo imaginário eurocêntrico colonizador transforma o não branco no outro, no estereótipo, no subalterno. Ainda hoje, você vislumbra esse poder branco pautando e agendando temas, reportagens, perspectivas, visões. Isso é muito claro — ou muito escuro — para a gente”, comenta. “E como formam-se esses núcleos de trabalho hegemonicamente brancos? A partir da concepção branca de que os melhores representam aquilo que você vê no espelho”, completa o professor.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense terça, 12 de novembro de 2019

PARA ABRIR MERCADO AOS JOVENS

 

Para abrir mercado aos jovens
 

 

RODOLFO COSTA
CLAUDIA DIANNI

Publicação: 12/11/2019 04:00

 

Bolsonaro, com Guedes e o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, durante lançamento do programa: pessoas com 55 anos ou mais ficaram fora da carteira Verde Amarela (Carolina Antunes/PR

)  

Bolsonaro, com Guedes e o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, durante lançamento do programa: pessoas com 55 anos ou mais ficaram fora da carteira Verde Amarela

 

 


O governo lançou, ontem, o contrato de trabalho Verde Amarelo, programa que prevê a contratação de jovens entre 18 e 29 anos mediante a desoneração de encargos trabalhistas aos patrões. Somente nesse novo regime trabalhista, a projeção do Ministério da Economia é gerar 1,8 milhão de vagas entre 2020 e 2022. A ação, contudo, integra um pacote mais completo, que prevê a regulamentação da abertura de empresas aos domingos e feriados, medidas de reabilitação de profissionais acidentados, inserção de pessoas com deficiência e estímulo ao microcrédito. Ao todo, a previsão é de atender 4 milhões de pessoas no período (veja arte na página 3).

Todo o pacote é contemplado por dois projetos de lei, um decreto e uma medida provisória, em que está esboçada a proposta do novo regime trabalhista. A intenção do governo sempre foi encaminhar a matéria por meio de MP, mas encontrava resistência do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em debater uma redação tão ampla por meio de um texto que prevê prazo máximo de aprovação nas duas Casas de até 120 dias. A viabilidade política foi possível pela costura feita pelo secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, que entrou no circuito como avalista técnico.

O programa Verde Amarelo e os demais textos acessórios englobam a nova agenda governista, que conta com três propostas de emenda à Constituição (PEC) e sugestões de privatização de estatais. Resta, ainda, a apresentação da reforma administrativa, que ficou para a próxima semana. A articulação política do Planalto e a equipe econômica atuam em conjunto para viabilizar a aprovação de tantas redações. O ministro da Economia, Paulo Guedes, capitaneia a articulação técnica, tendo Marinho como avalista técnico e político. Os dois atuam em conjunto com o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, que recebe as demandas dos parlamentares e as encaminha, a fim de contabilizar votos e apoiamento.

O acordo costurado por Marinho para o encaminhamento da chamada carteira de trabalho Verde Amarela veio de uma orientação do próprio presidente Jair Bolsonaro, a fim de que ele conversasse com as lideranças políticas do Congresso. “Há uma boa receptividade, pois não há um problema mais forte do que a necessária retomada dos empregos e da ocupação dos postos de trabalho, do crédito, de oferecer às pessoas mais pobres políticas que permitam ambiente mais confortável. Houve receptividade muito boa na conversa com vários líderes do Congresso”, destacou o secretário.

As conversas foram acompanhadas de perto por Ramos. Ao Correio, o ministro destacou que Guedes é o “mestre”, conhecedor de tudo da parte econômica, mas lembrou ser ele o responsável por auxiliá-lo nos assuntos políticos. “Fiz uma reunião com o Paulo Guedes. É importante ele conversar com os senadores e deputados, e eu, junto, para trabalhar com ele. Com deputados que sei que são alinhados conosco, com quem não é, quem estará ajudando, quem não estará. É como o presidente sempre fala: ele entende muito de economia, mas de política, ainda está aprendendo. É o vendedor das ideias econômicas, e eu sou o articulador político. Temos de estar lado a lado e nos ajudarmos”, sustentou.

Desoneração
O contrato de trabalho Verde Amarelo é opcional. Mas, para evitar que os patrões demitam trabalhadores e os substituam por funcionários registrados no novo regime, está estabelecido na MP que o limite dessas contratações não pode ser superior a 20% da mão de obra. Por empregado, os patrões receberão uma desoneração média de 30% dos encargos trabalhistas. A contrapartida fiscal virá da contribuição previdenciária do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) a desempregados que recebem o seguro-desemprego. O recolhimento será feito a uma alíquota mínima de 7,5% durante os meses em que o beneficiário receber o benefício, que, na legislação atual, vai de três a cinco parcelas.

Por questões fiscais, pessoas com 55 anos ou mais ficaram fora da carteira Verde Amarela. Também foi excluída uma desoneração escalonada para os patrões que mantiverem os trabalhadores dentro do novo regime por período superior aos contratos de dois anos. Para inseri-las, seria necessário uma receita superior à estimada com a arrecadação da cobrança do INSS sobre o seguro-desemprego, de R$ 2,2 bilhões anuais, que supera os R$ 2 bilhões a serem destinados à desoneração da folha de pagamento para as empresas.

Os incentivos
Confira os benefícios para empresas que contratarem jovens de 18 a 29 anos

» As empresas não precisarão pagar a contribuição patronal para o Instituto Nacional do Seguro Social (de 20% sobre a folha), as alíquotas do Sistema S e do salário-educação;

» A contribuição para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) cairá de 8% para 2%, e o valor da multa poderá ser reduzido de 40% para 20%, decidida em comum acordo entre o empregado e o empregador, no momento da contratação.

» Todos os direitos trabalhistas garantidos na Constituição, como férias e 13º salário, estão mantidos e poderão ser adiantados mensalmente.

» A medida vale para remunerações de até um salário mínimo e meio e apenas para novos postos de trabalhos, com prazo de contratação de dois anos. Ou seja, não será possível substituir um trabalhador já contratado pelo sistema convencional por outro do programa Verde Amarelo. E essa modalidade não poderá ultrapassar o limite de 20% do total de funcionários das empresas.

4 milhões

Total previsto de pessoas que serão atendidas com todas as medidas do governo

 Jornal Impresso
 

Correio Braziliense segunda, 11 de novembro de 2019

A FORÇA DE FIOS E CACHOS

 

A força de fios e cachos
 
A empresária Adriana Ribeiro desafia tendências, deixa de lado os alisantes e conquista clientes com a valorização dos cabelos crespos das mulheres negras. Hoje, dispõe de um canal para ajudar as mães a tratarem da beleza dos filhos

DARCIANNE DIOGO*

Publicação: 11/11/2019 04:00

 (Fotos: Minervino Junior/CB/D.A Press)  
Usar o cabelo de forma natural pode ser um desafio para quem passou boa parte do tempo alisando, puxando e escondendo os cachos. No entanto, assumir os fios enrolados se tornou uma conquista no universo feminino e um sinônimo de resgate de uma identidade. Com a missão de incentivar e valorizar a beleza negra, há oito anos, Adriana Ribeiro, 41 anos, fundou um salão especializado em cabelos ondulados, cacheados e crespos, sem a utilização de produtos químicos. O intuito é elevar a autoestima de mulheres e crianças.
 
O encanto pelo mundo da beleza começou quando Adriana ainda era criança. “Minha mãe era cabeleireira e eu sempre a observava e queria ajudá-la. Quando ela participava de cursos de manicure, eu e minha irmã íamos também. Então, fui observando como ela trabalhava e aquilo me atraiu”, conta.
 
A empresária, então, iniciou a carreira como auxiliar de manicure aos 12 anos. Com 16 anos, ela e a irmã, Maria José da Silva, 47, montaram o próprio salão na garagem de casa, na Candangolândia. “Começamos fazendo unha, mas logo vi que também gostava de montar penteados, maquiar e tirar sobrancelhas.” Lá, elas também realizavam procedimentos químicos, como relaxamento, progressiva e selagem.
 
Mas havia algo que a incomodava. Adriana não entendia o motivo de tanto preconceito com quem tinha os cabelos cacheados. A empresária conta que, quando criança, sofria discriminação na escola pelo fato de ter os fios enrolados. “Sabemos que, em qualquer lugar, estamos sujeitos a esse tipo de situação. A criança branca sempre vai ser a preferida pelo meio social e, a negra, a excluída. Eu me indignei com isso, e passei a lutar pelo espaço da mulher negra na sociedade”, afirma.
 
Em 2006, a empresária resolveu estreitar o atendimento e abriu mão das químicas de alisamento e resolveu voltar a atenção para os cabelos cacheados e crespos. O passo a passo para aprender as técnicas de hidratação e de transição capilar não foi fácil. “Na época, não havia cursos direcionados à beleza e ao cuidado dos fios cacheados e crespos. Então, pegava tudo da internet, assistia a vídeos gringos e traduzia por meio de uma plataforma”, relata.
 
A decisão de Adriana logo incomodou os familiares e amigos. “Muitos me chamaram de louca e falaram que eu ia passar fome. Até porque, eu estava indo contra a maré. Enquanto os salões tradicionais investiam em alisamento, eu deixava os cabelos cacheados e com volume. Era um mercado desacreditado, mas, ao mesmo tempo, tinha pessoas que queriam se libertar desse padrão de beleza, que é o cabelo liso”, diz.
 
A princípio, atrair as clientes não foi uma tarefa simples, a começar pelo tamanho do espaço para o atendimento (25m²),  no Riacho Fundo. Mas a procura de mulheres era tão alta, que logo ela alugou uma nova loja com 50m². “Eu me considero uma profissional chata e exigente. Se eu for uma manicure, maquiadora ou cabeleireira, por exemplo, vou ser a melhor naquilo”, ressalta.
 
Reviravolta
 
De três anos para cá, a carreira de Adriana saltou. O salão com área de 50m² se tornou insuficiente para atender o aumento da demanda. Agora, o espaço Afro & Cia Ponto Chic, localizado no Riacho Fundo I, tem 200m², 25 funcionárias e oferece os mais variados procedimentos para mulheres de cabelo cacheado: botox, hidratação, transição capilar, corte e até sala de maquiagem. Ao lado, ela mantém uma loja de cosméticos, com cremes, shampoos, escovas, ampolas de restauração e nutrição, entre outros produtos. “Minhas funcionárias sempre andam bem arrumadas e maquiadas, até porque estamos em um salão de beleza e temos que passar segurança e confiança para as nossas clientes”, diz ela.
 
Por mês, o instituto de beleza recebe cerca de 600 clientes. Segundo Adriana, a maioria delas estão em processo de transição, ou seja, querem se livrar dos alisamentos e assumir o cabelo natural. “A mulher chega com muitos medos e insegurança, por conta dos achismos e da opinião alheia. É uma etapa difícil, justamente pelos julgamentos das pessoas. Mas o nosso trabalho não é apenas fazer os procedimentos, mas, sim, ensinar a cliente sobre  a questão do empoderamento e o quanto ela se liberta ao deixar os fios cacheados”, conta.
 
Enfrentar a transição capilar foi o caso da administradora de empresas Nhajara Louzeiro, 30. Desde os 12 anos, ela costumava alisar os cabelos e não cogitava a ideia de deixá-los naturais. Em fevereiro deste ano, Nhajara viajou para a praia e optou por não fazer nenhum procedimento. “Durante esse período de férias, eu comecei a ver como meu cabelo era bonito cacheado. Achei aquilo diferente, até que uma amiga me indicou a Adriana”, conta.
 
A administradora iniciou o processo de transição. No começo, teve de lidar com as barreiras e até achou estranho quando se olhou no espelho pela primeira vez com os cabelos cacheados. “Não me arrependo. Não foi fácil tomar a decisão, mas hoje me vejo mais bonita, minha autoestima melhorou e sou apaixonada pelos meus fios”, frisa.
 
Incentivar
 
Adriana também criou o projeto Mães que Curam. O objetivo é ensinar as mães a cuidarem do cabelos dos filhos. “Muitas vezes, a mãe acaba tendo dificuldades de tratar do cabelo do filho, por ser crespo ou cacheado. Nisso, ela fala que é um cabelo ruim ou duro. O primeiro passo é ensiná-la a não proferir esse tipo de vocabulário, como se fosse uma consultoria. Se a criança escuta isso na rua, vai achar que é normal e isso pode gerar graves consequências no futuro”, destaca.
 
No YouTube, a empresária fundou um canal e gravou um workshop gratuito para as mães. “Ensino sobre como elas devem pentear, hidratar e lavar o cabelo das crianças. Quando a criança crescer, tudo bem, ela tem a opção de escolher qual estilo vai querer. Mas o importante é ela se aceitar e se achar linda”, conclui.
 
*Estagiária sob supervisão de Rosane Garcia
 
 
"Muitos me chamaram de louca e falaram que eu ia passar fome. Até porque, eu estava indo contra a maré. Enquanto os salões tradicionais investiam em alisamento, eu deixava os cabelos cacheados e com volume. Era um mercado desacreditado, mas, ao mesmo tempo, tinha pessoas que queriam se libertar desse padrão de beleza, que é o cabelo liso”
Adriana Ribeiro 
 
Especial
Para marcar o Mês da Consciência Negra, a série Histórias de consciência é publicada ao longo de novembro e presta homenagem a mulheres e homens negros que ajudam a construir uma Brasília justa, tolerante e plural. Todos os perfis deste especial e outras matérias sobre o tema podem ser lidos no site www.correiobraziliense.com.br/ historiasdeconsciencia. 
 
Jornal Impresso
 
 

 


Correio Braziliense domingo, 10 de novembro de 2019

SUPERAÇÃO: O AMOR QUE NÃO DESISTE NUNCA

 

SUPERAÇÃO
 
O amor que não desiste nunca
 
 
A rotina de crianças e adolescentes internados em hospitais que, desde cedo, precisam lidar com exames e tratamentos não é fácil. Especialistas ressaltam que acompanhamento psicológico e familiar é crucial. Experientes ou não, mães e pais contam ao Correio como encarar esse desafio, enquanto pacientes revelam os sonhos que guardam para o presente e o futuro

 

JÉSSICA EUFRÁSIO
MARIANA MACHADO

Publicação: 10/11/2019 04:00

Rafaela e Wesley acompanham o tratamento do filho Gabriel Nisiguchi no Hospital da Criança de Brasília (HCB) (Vinícius Cardoso/Esp.CB/D.A. Press
)  

Rafaela e Wesley acompanham o tratamento do filho Gabriel Nisiguchi no Hospital da Criança de Brasília (HCB)

 

O dia a dia na escola com amigos da mesma idade dá lugar à convivência em um quarto, às vezes compartilhado por outras pessoas acamadas. Os inúmeros brinquedos são substituídos por parafernálias de última geração, usadas para monitoramento da saúde. A rotina de atividades ao ar livre se transforma em tardes dedicadas a consultas e exames invasivos. Desde muito cedo, muitas crianças e adolescentes lidam com a realidade de começar a vida em hospitais, internadas ou em tratamento, na expectativa de vencer uma doença grave.
 
Mas essa luta não é motivo para tirar dessas crianças a esperança por um futuro diferente, longe de um quarto de hospital, por mais que as instituições se esforcem para oferecer um ambiente acolhedor e agradável. Em comum, meninos e meninas conservam a capacidade de sonhar, até em momentos nos quais muita gente grande não conseguiria fazer o mesmo. Gabriel Nisiguchi, 4 anos, um desses protagonistas, passou mais de um mês internado no Hospital da Criança de Brasília José de Alencar (HCB).
 
Diagnosticado com um tipo raro de câncer — o linfoma de Burkitt, que ataca região próxima ao abdômen —, Gabriel perdeu o movimento das pernas e, agora, passa por tratamento quimioterápico. Apesar de ter recebido alta médica, as passagens pelo HCB continuam frequentes, tanto para receber medicação quanto para ser reavaliado. A notícia sobre o câncer pegou a família de surpresa, há cerca de dois meses.
 
Diagnóstico
 
Os sinais apareceram quando o menino apresentou dores na barriga. De início, médicos desconfiaram que se tratasse de uma apendicite. Depois, a suspeita mudou para adenite mesentérica — inflamação de nódulos linfáticos ligados ao intestino —, possibilidade descartada por uma tomografia. Após a alta e com a persistência dos sintomas, Gabriel acabou internado novamente. Um segundo exame de imagem mostrou que o quadro havia piorado.
 
Ele perdeu o movimento das pernas, o controle sobre a bexiga e não conseguiu mais se sentar por conta própria. Os pais receberam a notícia de que o quadro estaria associado a um câncer. Gabriel foi transferido para o HCB, onde uma ressonância magnética revelou a presença de um tumor na medula espinhal que alcançou sete vértebras. Ele passou por uma quimioterapia de emergência, por uma cirurgia para remover o edema e permaneceu internado por 40 dias. Uma semana depois da alta médica, o menino voltou para a unidade de saúde, onde permaneceu por mais quatro dias, e foi liberado novamente.
 
Desde que saiu, Gabriel está melhor, mas precisa continuar as sessões de quimioterapia. “Depois que acaba o ciclo, ele fica com a imunidade muito baixa. Tem de se recuperar, pois ela é bem agressiva, puxada. Tem gente que volta para casa no mesmo dia. Mas ele fica uns seis dias internado. Se houver algum tipo de intercorrência — febre, diarreia —, temos de voltar correndo para o hospital”, relata a advogada Rafaela Fumie, 35, mãe de Gabriel. “Falar que é fácil é hipocrisia. Receber diagnóstico de câncer é muito desesperador. Mas estamos vivendo uma experiência de fé”, desabafa.
 
Mesmo com toda a vivência hospitalar, Gabriel é uma criança tranquila, compreensiva e que, segundo a mãe, lida bem com a situação. Apesar da pouca idade, ele faz planos para a vida adulta. “Quero ser médico, para poder cuidar de quem está dodói”, conta. Apaixonado por futebol e flamenguista roxo, ele revela ser fã de Gerson, enquanto reproduz o gesto que o meio-campista faz depois do gol. Entre outros projetos de Gabriel para depois que terminar o tratamento está, obviamente, voltar a jogar bola: “Quero andar, brincar e jogar futebol. Gosto muito que a mamãe conte histórias; de brincar com robô, dinossauro, videogame; e de viajar. E quero ir para a praia, para brincar lá”, completa.
 
Artigo
Por Paula Madsen 
 
Caminhos para o acompanhamento
 
O processo de hospitalização representa um momento delicado na vida de qualquer pessoa, independentemente de idade, escolaridade, classe social ou do gênero. Indicar a internação ocasiona uma série de alterações nas atividades diárias e, muitas vezes, são exigências, inclusive aos familiares. O ambiente hospitalar é bastante restritivo, requer mais controle para que sejam seguidos protocolos de saúde e alcançados os resultados e a eficácia estimada para o tratamento.
 
O adoecimento de uma criança sensibiliza as pessoas que a acompanham. A fragilidade do paciente, o risco de um óbito prematuro, o abandono de sonhos e projetos. O sentimento de medo — da doença, dos procedimentos, do agravamento do quadro, da morte — também é sempre presente. A criança hospitalizada conta com a presença de familiares para acompanhar diariamente todos os procedimentos e favorecer o conforto de referência em um ambiente tão inóspito.
 
No hospital, a criança está privada de muitos estímulos necessários. Medicações, restrição de movimentos e o afastamento de experiências externas podem ser negativos para alguns aspectos do desenvolvimento cognitivo, motor e social, porém, são fundamentais para as investidas de recuperação da saúde.
 
Observam-se, entre as crianças internadas — nas interações sociais com familiares, outras crianças ou pessoas da equipe de saúde — que o paciente expressa, de forma lúdica, a percepção sobre o que acontece, as lembranças e vontades relacionadas à vida fora do hospital, como o retorno para casa, bem como as negociações e projetos esperançosos, construídos em família, assim que receber alta médica. Essas construções são importantes por representarem, também, uma das etapas de enfrentamento da situação.
 
Já os adolescentes apresentam uma percepção mais similar à de um adulto. Compreendem melhor a situação, podem ser mais atuantes no tratamento, suavizando algumas exigências aos familiares. Essa compreensão mais elaborada pode impactar na formação de conceitos e na construção da identidade. No entanto, a percepção de sequelas ou complicações decorrentes da doença podem ser erroneamente compreendidas como condições determinantes ou até irreversíveis. Considerando-se o contexto mais imediatista característico da adolescência, isso pode levar ao isolamento social, à limitação de perspectivas futuras ou mesmo a pensamentos negativos.
 
Assim, acompanhar o processo de hospitalização, promover as estimulações necessárias para cada idade, desenvolver intervenções pautadas em psicoeducação para instruir e orientar pacientes e familiares tornam-se medidas psicológicas necessárias para diminuir o sofrimento, promover qualidade de vida, facilitar a adesão ao tratamento e prevenir comorbidades e riscos de recidivas que possam tornar o processo de internação ainda mais longo.
 
Paula Madsen é psicóloga, mestre em psicologia da saúde e professora do Centro Universitário Iesb
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sábado, 09 de novembro de 2019

ELLEN OLÉRIA: A FORÇA ANCESTRAL

 

A  força ancestral
 
Cantora e atriz Ellen Oléria busca no passado e nas ações coletivas o motor para a luta pela igualdade e visibilidade social

 

» Vinicius Nader

Publicação: 09/11/2019 04:00

 

"O fato de eu ser negra é o que me possibilita cantar o que eu canto, experienciar a arte da forma que eu experiencio" Ellen Oléria, cantora

 

 
“É muito importante a gente cantar a nossa gente, cantar o nosso lugar, o nosso cerrado que luta bravamente para se manter vivo, como nós”. O paralelo entre a luta do movimento negro e o bioma é da cantora e atriz Ellen Oléria,  que despontou de Ceilândia para todo o país ao vencer a primeira temporada do reality show The Voice Brasil.
 
Ela não dissocia a luta contra o racismo do reconhecimento de nossas origens, enquanto brasileiros e cidadãos. “O novembro negro nos chama para isso. É tempo de revisar, pensar, construir novas estratégias se forem necessárias”, afirma. “A gente não é só a cor da pele, temos memória celular de coisas muito mais complexas. O modo com que lidamos com o mundo está presente na forma como o meu corpo reage aos estímulos que recebe. Artistas brancas, pessoas brancas também vivenciam essa memória. É muito complexo num país que tem uma herança patriarcal e racista a gente saber que nosso corpo carrega também essa dimensão ancestral”, completa.
 
Ellen aponta que, mesmo que abolida há mais de um século, a escravidão brasileira ainda traz ecos na sociedade atual. “É muito importante a gente saber de onde a gente veio: um país escravocrata que ainda traz em suas instituições marcas dessa história, dessa prática em que o corpo negro ainda vale menos em relação a posses, serviços, empregos. O Brasil tem uma discrepância (social) muito grande. Não dá para dizer que a gente é um país igualitário, nem um continente e nem um mundo”, reflete a cantora.
 
A necessária reparação social é, para Ellen, um processo contínuo, cujo resultado “a gente vê a longo e médio prazos. As cotas sociais são um exemplo: a ideia é que elas não existam para sempre, é que as cotas minimizem e façam uma reparação imediata de uma história longa e brutal. É, por exemplo, você chegar a um hospital, ser atendido por uma médica negra e isso não ser uma grande surpresa para você, mas ser algo comum.”
 
É essa visão de que falta à sociedade brasileira a inserção do negro. E ela (a inserção) vem com trabalho de formiguinha, com passos para frente e para trás, mas sempre apoiado na coletividade. “Exatamente quando o Estado não consegue atender todas as demandas de uma maneira diversa, a força, o poder coletivo se movimenta, se agrupando e pensando estratégias coletivamente. Eu acredito muito nessa movimentação coletiva e acho que ela só existe porque as pessoas se movimentam individualmente também”, explica Ellen.

No comando do programa Estação plural (TV Brasil/Divulgação - 20/1/16 )  

No comando do programa Estação plural

 



Ellen canta na final do The Voice Brasil (TV Globo/Divulgação - 25/12/14 )  

Ellen canta na final do The Voice Brasil

 

 
A força do afeto
 
Além de cantora, compositora e atriz Ellen Oléria é apresentadora e esteve à frente do programa do Canal Brasil Estação plural, no qual discutia questões ligadas à diversidade, seja ela racial, seja de qualquer outro tipo.
 
“Eu acredito na força do afeto, na conexão entre as pessoas. Foi por meio desses espaços que tive a oportunidade apresentar o Estação plural. A minha ideia é ir me edificando com as pessoas que estão ao meu redor, com os universos em que eu habito. A ideia foi justamente falarmos das diferenças, de como elas podem nos enriquecer. Acho que isso que eu tenho de fazer nos lugares que ocupo”, afirma.
 
Com toda a luta e muitas derrotas impostas ao negro, Ellen Oléria encontra espaço para o otimismo quando olha para o futuro. “Eu sou esperançosa, tenho muita fé. As novas gerações estão trazendo pra gente outras perspectivas de vida, muito mais abertas ao diálogo”, opina Ellen. A cantora reafirma que se sente ainda mais confortável quando compara a atitude de pais com relação à educação dos filhos de gerações anteriores para a de agora. O momento, segundo a cantora, é de dividir a tarefa da educação com a escola e não deixar nas mãos dos educadores.
 
“Vejo mais mães tomando a responsabilidade de criar os filhos para si, não deixando com o Estado. Todo mundo que está perto de uma criança é responsável por ela de alguma maneira. As crianças estão muito atentas ao que está acontecendo o tempo inteiro e estão aprendendo. O mais natural é a criança reproduzir modelos. Quanto mais bons exemplos a criança tiver por perto, mais possibilidade de perceber o mundo ela vai ter. A gente, independentemente de ter relação direta com a escola, é responsável pelas crianças ao nosso redor”, explica.
 
Cria de Ceilândia
 
Durante a trajetória artística, Ellen também não esquece da própria origem. Antes de ser conhecida país inteiro, ao ser a primeira vencedora do The Voice Brasil, gravar cinco discos e ter músicas em trilha de novelas, Ellen era conhecida dos palcos e das feiras culturais da capital federal.
 
Foram vários os shows em que espaços como a Funarte ou o Bistrô Bom Demais, no CCBB, receberam a voz potente e a poesia contundente da cantora Ellen. O lado atriz teve vazão sob a direção de mestres como Hugo Rodas. “Estamos conversando com Brasília fortemente, levo o nome da cidade no peito”, afirma Ellen, que está em estúdio gravando um disco que vai dialogar fortemente com a capital federal.


TRECHOS DE MÚSICAS

Antiga poesia
“A planta é feminina, a luta é feminina
La mar, la sangre y mi América Latina
O meu desejo é que o seu desejo não me defina
A minha história é outra
Tô rebobinando a fita“

Senzala (A feira de Ceilândia)
‘Mas o que você precisa mais na feira não se pode encontrar:
Razão, consciência, senso, inteligência, uma cabeça pra pensar“
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense sexta, 08 de novembro de 2019

STF IMPÕE REVÉS À LAVA-JATO: LULA PODE SER SOLTO

 

STF impõe revés à Lava-Jato
 
Corte proíbe prisão após condenação em 2ª instância, uma das bases da força-tarefa. Decisão permitirá a soltura de milhares de detentos, entre eles, o ex-presidente Lula

 

Renato Souza
Jorge Vasconcellos

Publicação: 08/11/2019 04:00

 

 

"Não é a prisão após segunda instância que resolve esses problemas (de criminalidade), que é panaceia para resolver a impunidade, evitar prática de crimes ou impedir o cumprimento da lei penal – Dias Toffoli, presidente do STF

 

 


Depois de cinco sessões de julgamento, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu, por seis votos a cinco, a execução da prisão após condenação em segunda instância. Com isso, a Corte retrocedeu ao entendimento que vigorou entre 2009 e 2016, impondo um retrocesso no combate à corrupção e um duro revés à Operação Lava-Jato. Pelo menos 38 réus investigados pela força-tarefa devem ser liberados, de acordo com levantamento do Ministério Público Federal do Paraná. O efeito da decisão é imediato, e assim que a ata do julgamento for publicada, advogados poderão solicitar a liberação de condenados  que estão presos em decorrência de sentença tomada em segundo grau. Entre os beneficiados, está o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (leia reportagem na página ao lado).

Além do petista, milhares de presos devem ser soltos para aguardar recursos ao STJ e ao STF. De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a decisão atinge 4.895 detentos em todos os estados. Entre os condenados na Lava-Jato que podem ser liberados em razão do entendimento do Supremo estão o ex-ministro José Dirceu, condenado a oito anos e 10 meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em contratos da Petrobras; o ex-gerente da Petrobras Pedro Augusto Cortes Xavier; o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, além do ex-diretor da Petrobras Renato Duque e do pecuarista José Carlos Bumlai.

Em nota publicada logo após o julgamento, a força-tarefa da Lava-Jato declarou que o entendimento do STF prejudica o combate à corrupção e favorece a impunidade. “A decisão do Supremo deve ser respeitada, mas, como todo ato judicial, pode ser objeto de debate e discussão. Para além dos sólidos argumentos expostos pelos cinco ministros vencidos na tese, a decisão de reversão da possibilidade de prisão em segunda instância está em dissonância com o sentimento de repúdio à impunidade e com o combate à corrupção, prioridades do país”, destacou um trecho do texto.

Procuradores da Lava-Jato lembraram que a grande quantidade de recursos possíveis no sistema jurídico brasileiro resulta, inclusive, na prescrição de crimes. “A existência de quatro instâncias de julgamento, peculiar ao Brasil, associada ao número excessivo de recursos que chegam a superar uma centena em alguns casos criminais, resulta em demora e prescrição, acarretando impunidade. Reconhecendo que a decisão impactará os resultados de seu trabalho, a força-tarefa expressa seu compromisso de seguir buscando justiça nos casos em que atua”, emendou a nota.

O presidente da Associação Nacional do Ministério Público (Conamp), Victor Hugo Azevedo, lamentou o desfecho do julgamento. “Reafirmo a preocupação do Ministério Público brasileiro com o provável retrocesso jurídico, que dificulta a repressão a crimes, favorecendo a prescrição de delitos graves, gerando impunidade e instabilidade jurídica”, ressaltou.

O ministro Edson Fachin, relator dos casos da Lava-Jato no Supremo, afirmou que os trabalhos relacionados à operação vão continuar normalmente na Corte. “Não creio que seja suficiente apenas culpar o sistema de processo penal pelas circunstâncias suscitadas neste julgamento. A relatoria dessa operação vai continuar a fazer o que tem de fazer, que é promover a responsabilização, quando for o caso, e a absolvição, quando for o caso.”

Toffoli
O ministro Dias Toffoli, que desempatou o placar, rebateu críticas de que a medida vai gerar impunidade e destacou que cada magistrado deve avaliar a situação do preso quando receber o pedido de liberdade. “No Brasil, mais de 300 mil pessoas estão presas por condenação em primeira instância. E continuarão presas, pois são pessoas perigosas”, disse o presidente da Corte, defendendo que condenados sejam presos logo após julgamento no Tribunal do Júri, que atua em casos de crimes hediondos, ou seja, dolosos contra a vida. Esse assunto ainda será analisado pelo plenário do Supremo.

Votaram a favor da prisão após condenação em segunda instância os ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux e Cármen Lúcia. Os contrários à detenção antes de apresentar todos os recursos possíveis foram Marco Aurélio (relator), Rosa Weber, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Celso de Mello, além de Toffoli.

Após o resultado, apoiadores do ex-presidente Lula que estavam na Praça dos Três Poderes soltaram fogos de artifício, e o barulho pôde ser ouvido dentro do tribunal. A Polícia Militar reforçou a segurança.

Respeito
No julgamento, a ministra Cármen Lúcia pediu que visões contrárias sejam respeitadas. “Quem gosta de unanimidade é ditadura. Democracia é plural, sempre. Diferente não é errado apenas por não ser mero reflexo”, frisou. Ela declarou que conhece os problemas do sistema penal do país, mas que a precariedade não pode servir como fundamento para não aplicar a lei. De acordo com a magistrada, derrubar a possibilidade de prisão em segunda instância aumenta a impunidade. “Se não se tem a certeza de que a pena será imposta, de que será cumprida, o que impera não é a incerteza da pena, mas a certeza ou pelo menos a crença na impunidade.”

O ministro Gilmar Mendes destacou que mesmo no Superior Tribunal de Justiça (STJ), considerado a terceira instância, é possível anular a pena de uma pessoa condenada nas instâncias inferiores. “O STJ pode corrigir fatos sobre a culpabilidade do agente, alcançando, inclusive, a dosimetria da pena”, disse.

Saiba mais
Três ações

O julgamento encerrado ontem foi sobre o mérito de três ações, movidas pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), PCdoB e Patriota, que tratam sobre a execução antecipada de pena. As ações pediam que fosse confirmada a validade do artigo 283 do Código de Processo Penal, que prevê o trânsito em julgado — quando todos os recursos jurídicos são esgotados — como necessário para estabelecer as condições da prisão. Esse dispositivo foi incluído pelo Congresso Nacional em 2011.

Mudança de posição
O julgamento de ontem marcou a segunda vez que Toffoli mudou de posição sobre o tema. Em fevereiro de 2016, ele admitiu a prisão após condenação em segunda instância. Depois, passou a defender uma solução intermediária — de se aguardar uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Agora, o presidente do Supremo votou pelo trânsito em julgado.

4.895
Número de presos que podem ser beneficiados pela decisão, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)


Contra a prisão
Ricardo Lewandowski
Rosa Weber
Marco Aurélio Mello
Celso de Mello
Gilmar Mendes
Dias Toffoli

A favor da prisão
Edson Fachin
Alexandre de Moraes
Luís Roberto Barroso
Luiz Fux
Cármen Lúcia

Jornal Impresso


Correio Braziliense quinta, 07 de novembro de 2019

STF RETOMA ANÁLISE DE PRISÃO EM 2ª INSTÂNCIA

 

STF retoma análise de prisão
 
 
Supremo Tribunal Federal deve formar maioria, hoje, para definir se mantém ou proíbe o encarceramento de réus após condenação em segundo grau de Justiça. Voto do presidente da Corte, ministro Dias Toffoli, é o mais esperado

 

» RENATO SOUZA

Publicação: 07/11/2019 04:00

» RENATO SOUZA    

O Supremo Tribunal Federal (STF) retoma na tarde de hoje o julgamento sobre a prisão após condenação em segunda instância. Até o momento, quatro ministros votaram para manter o entendimento atual da Corte e permitir a prisão após julgamento em segundo grau de Justiça. Três ministros foram contra, e ainda faltam quatro votos. A sessão deve resultar na formação de maioria, para que o caso seja definido.

De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a revisão do entendimento do STF resultaria na liberdade de 4.895 presos em todo o país. Entre os eventuais beneficiados está o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Luis Roberto Barroso e Luiz Fux votaram a favor da prisão após condenação em segundo grau. Votaram contra Marco Aurélio Mello, Rosa Weber e Ricardo Lewandowski. Faltam os votos de Cármen Lúcia, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Dias Toffoli.

O voto de Toffoli é um dos mais aguardados. Ele já defendeu que a prisão ocorra a partir de condenação pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). No entanto, no mês passado afirmou que ainda não havia tomado uma decisão e que poderia mudar de opinião.

O ministro Edson Fachin, relator dos casos da operação Lava-Jato no Supremo, minimizou os impactos de uma eventual mudança na jusrisprudência da Corte. “A eventual alteração do marco temporal para a execução provisória da pena não significa que, em lugar da execução provisória, quando for o caso, seja decretada a prisão preventiva, nos termos do artigo 312 do Código de Processo Penal (quando o réu representa riscos a investigação ou à sociedade). Então, não vejo esse efeito catastrófico que se indica”, disse o ministro.

Ainda de acordo com Fachin, mesmo que o Supremo derrube a prisão em segunda instância, isso não aumentaria a sensação de impunidade na população. “A rigor, o que contribui para a percepção de impunidade é o tempo demasiado entre o início e o fim do processo penal. Isso significa, portanto, que o processo penal deve ter um transcurso que atenda ao princípio constitucional da duração razoável. Esse é o grande desafio do Poder Judiciário brasileiro”, disse.

Fatos

Defensor da execução da pena em segundo grau de Justiça, Fachin lembrou que o mérito do caso, com a avaliação de culpa e a apresentação de provas, ocorre apenas na primeira fase do processo. “Acho que o correto é aplicar-se o que nós temos aplicado hoje. O STJ e o Supremo não reveem provas, não discutem mais o fato. Não cabe recurso especial para discutir matéria de fato. E o extraordinário só cabe se houver violação da Constituição”, completou Fachin.

Nos bastidores, os ministros já dão como certo que a prisão em segunda instância será proibida pelo Supremo. No entanto, o ministro Luís Roberto Barroso acredita que o resultado ainda pode ser diferente. “Eu acredito em milagres”, afirmou. Outro ministro, ouvido sob a condição de anonimato, declarou que não vê possibilidade de prevalecer a tese defendida anteriormente por Toffoli, para que o encarceramento ocorra após julgamento no STJ.
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense quarta, 06 de novembro de 2019

PACOTE PARA DISCIPLINAR AS CONTAS PÚBLICAS

 

Pacote para disciplinar as contas públicas
 
<b>Governo envia ao Congresso PECs que dão mais recursos e autonomia financeira para estados e municípios, reestruturam o serviço público e criam medidas emergenciais para entes federativos em apuros. Também anuncia projeto de privatização da Eletrobras e, hoje, realiza megaleilão de petróleo </b><br>
Batizado de Plano Mais Brasil, o ambicioso pacote de reforma do Estado lançado pelo governo Bolsonaro inclui três propostas de emenda à Constituição, que, juntas, podem ter impacto de R$ 670 bilhões na economia. Uma delas, a PEC do Pacto Federativo, destina R$ 400 bilhões a mais a estados e municípios nos próximos 15 anos. Outra, a dos Fundos Públicos, permite que R$ 220 bilhões empacados em 248 fundos possam ser usados para amortizar a dívida pública. Já a PEC Emergencial prevê até R$ 50 bilhões para investimentos públicos em 10 anos; reduz despesas obrigatórias; proíbe ente federativo em crise de dar reajuste salarial e autoriza a diminuir jornada e salário de servidores. Ontem, Bolsonaro também entregou o projeto de privatização da Eletrobras, com uma novidade: o governo não terá direito a golden share, ação especial que permite o veto a determinadas decisões da companhia. E hoje ocorre o megaleilão do pré-sal, com a expectativa de arrecadação de pelo menos R$ 106 bilhões. Parte desse dinheiro vai para os cofres de estados e municípios.   , Sergio Lima/AFP
 
 
Jair Bolsonaro e Paulo Guedes entregam ao Senado propostas ambiciosas para "transformar o Estado brasileiro" e permitir maior crescimento do país. Entre as medidas estão a descentralização de recursos para estados e municípios e ajustes no funcionalismo público

 

ANNA RUSSI
MARIA EDUARDA CARDIM

Publicação: 06/11/2019 04:00

Bolsonaro e Guedes seguiram a pé do Palácio do Planalto para o Senado (Sergio Lima/AFP)  

Bolsonaro e Guedes seguiram a pé do Palácio do Planalto para o Senado

 



O governo federal encaminhou, ontem, ao Congresso três propostas de emenda à Constituição (PECs) que, juntas, têm potencial de gerar um impacto econômico de R$ 670 bilhões. As medidas compõem o Plano Mais Brasil, um pacote de ações para direcionar os próximos passos da agenda econômica que “transformará o Estado brasileiro”, nas palavras do ministro da Economia, Paulo Guedes.

Uma das PECs é a do Pacto Federativo que, segundo estimativas, em 15 anos, repassará R$ 400 bilhões a estados e municípios. O segundo texto, denominado PEC Emergencial, prevê até R$ 50 bilhões para investimentos públicos em 10 anos. Já a PEC dos Fundos Públicos propõe usar R$ 220 bilhões, que estão parados em 248 fundos, para amortizar a dívida pública do país.

Guedes explicou que o envio de um plano extenso de reformas foi negociado com lideranças e presidências da Câmara dos Deputados e do Senado. “A razão de colocar tudo junto é que, apesar de os assuntos não estarem tão maduros, foi uma construção conjunta da agenda. O próprio fatiamento das propostas foi indicado e sugerido pelas lideranças políticas”, afirmou.

A maior e mais complexa PEC, a do Pacto Federativo, propõe mudanças no sentido de assegurar uma execução mais eficiente das políticas públicas. “É o primeiro governo, em 40 anos, que fala em descentralizar recursos e fortalecer a democracia”, disse Guedes, ao reforçar a necessidade investimentos em educação, saúde, segurança e saneamento.

A equipe econômica propõe que os municípios com menos de 5 mil habitantes e arrecadação própria menor que 10% da receita total sejam incorporados pela cidade vizinha. Segundo o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, 1.254 municípios se encaixam nesse perfil.

De acordo com o último censo do IBGE, 1.253 (um a menos do que o informado pelo secretário especial) dos 5.570 municípios brasileiros têm menos do que cinco mil habitantes. A medida é apresentada às vésperas de 2020, ano de eleições municipais, mas, na visão do governo, não afetará o pleito. Conforme afirmou o assessor especial do ministro Guedes, Rafaelo Abritta, as cidades que serão incorporadas na medida só serão conhecidas, de fato, em 2023.

“Em 1º de julho de 2023, será feito o aferimento da sustentabilidade financeira do município”, afirmou Abritta. Os municípios que não atingirem o índice de receita não terão eleição municipal em 2024, podendo ser incorporados no ano seguinte. A PEC prevê a fusão de, no máximo, quatro municípios. Também fica definida uma nova restrição à criação de municípios: só poderá ocorrer mediante uma lei complementar.

Para promover a independência do gestor, o governo propõe que estados e municípios passem a receber toda a arrecadação do salário-educação. Dessa forma, eles podem definir o uso dos recursos, que vêm da contribuição social de 2,5% descontada sobre a folha de pagamentos de empresas. Hoje, esses valores são divididos com o governo federal.

Ao dar mais liberdade para os estados e municípios administrarem os próprios recursos, o governo também pretende impor mais responsabilidade a cada um deles. A União fica proibida de socorrer entes em dificuldades fiscal-financeiras a partir de 2026. Não precisará, também, dar crédito para o pagamento de precatórios.

O texto prevê, ainda, a criação de um Conselho Fiscal da República. Segundo Guedes, o colegiado se reunirá a cada três meses para monitorar as contas e garantir o cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal. “Já criamos cultura de estabilidade monetária, ainda que antes da lei de autonomia do Banco Central. No lado fiscal, aconteceu o inverso: não temos a cultura de responsabilidade fiscal, apesar da existência da Lei de Responsabilidade Fiscal. Precisamos consolidar um novo marco institucional da nova ordem fiscal”, disse.

Gatilhos
Semelhante à PEC do Pacto Federativo, a proposta para emergência fiscal apresenta alguns pontos próprios, como a duração das travas automáticas por dois anos. O acionamento dos gatilhos ocorrerá quando as operações de crédito superarem as despesas de capital em um ano. Além disso, dentro do montante economizado com as medidas, 25% do valor será destinado para projetos de infraestrutura.

Já a gestão dos recursos mínimos para saúde e educação, tanto da União quanto dos entes federativos, não sofrerá alteração. O que fica permitido é a realocação dos valores mínimos estabelecidos conjuntamente para as duas pastas. Ou seja, o gestor poderá escolher se, do total para saúde e educação, gastará mais em um ou em outro.

A terceira PEC apresentada muda a situação dos fundos públicos brasileiros. A ideia é liberar o dinheiro parado nessas contas para a amortização da dívida pública. Atualmente, existem 281 fundos públicos no Brasil, no entanto, somente 248 desses serão afetados. De acordo o texto, R$ 220 bilhões estão parados nessas contas estabelecidas por recursos arrecadados com finalidades específicas.

Também fica prevista a extinção da maior parte dos fundos no fim do segundo ano subsequente à aprovação da PEC. Os novos recursos arrecadados com os fundos serão aplicados prioritariamente nos programas de erradicação da pobreza e de reconstrução nacional.




Mais PECs
As medidas entregues ontem são apenas parte do pacotão da agenda econômica do governo pós-Previdência. O ministro afirmou que a transformação ocorrerá em diversas dimensões: tributária, administrativa e de descentralização de recursos. A busca, segundo ele, é transformar um Estado que gasta “muito e mal” em uma máquina eficiente e fraterna. Assim, até o fim do ano, ainda devem ser encaminhadas mais duas PECs: a reforma administrativa, que vai reorganizar o funcionalismo público, e a reforma tributária, que simplificará o sistema do país. A proposta que vai tratar da reestruturação do serviço público deve ser encaminhada à Câmara dos Deputados nos próximos dias. Já a de mudança de impostos será analisadas por uma comissão mista. Além disso, a equipe econômica promete o envio de um projeto de lei que definirá as regras para privatizações.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense terça, 05 de novembro de 2019

O OLHAR DO NEGRO SOBRE O NEGRO

 

O olhar do negro sobre o negro
 
Jovens de Brasília descobriram na fotografia uma forma de registrar o que é ser negro. Luiz Ferreira, Marconi Silva e Ester Cruz aprenderam a olhar a sociedade pela lente do enfrentamento à discriminação e usam a arte como instrumento de luta. No mês da Consciência Negra, eles ressaltam a importância da representatividade como forma de combate ao racismo. O trabalho é um caminho para o respeito e a conscientização.
 
Três fotógrafos de Brasília usam a temática racial em trabalhos como forma de representatividade e protesto

 

Thays Martins

Publicação: 05/11/2019 04:00

“A fotografia, antes de tudo, é um testemunho”. Foi assim que o fotógrafo norte-americano Ansel Adams definiu essa habilidade. E é exatamente assim que três profissionais de Brasília lidam com esse ofício. Negros, eles escolheram dar mais visibilidade para modelos com a mesma cor de pele.
 
Em ensaios e trabalhos autorais de Ester Cruz, Luiz Ferreira e Marconi Silva, estão presentes a beleza, o protesto e a representatividade. Neste ano, Ester começou a atuar em um projeto que, de acordo com ela, será para a vida inteira — de fotografia de retorno às origens africanas. “Eu trago personagens brasileiros com o recorte da ancestralidade”, explica. Para Ester, fotografar negros é sobre representatividade. “É uma queda do estereótipo padrão do homem branco de olho azul. Na minha infância, nunca tive muitas referências, por conta do racismo. Então, é transformar dor em arte”, define.
 
Luiz Ferreira já fez diversos ensaios com a temática racial. “Todo projeto que produzo parte de algum incômodo, reflexão, leituras, estudos. No Juventude Negra: sobre afetos, histórias e vivências, queria retratar uma nova juventude em movimento, em que (os jovens) falam de suas próprias narrativas. Fotografei individualmente cada pessoa e tivemos longas conversas. Compartilhamos histórias, desejos.” De acordo com o artista, o projeto surgiu da leitura sobre o genocídio da juventude negra. “Pensei: ‘precisamos mostrar que juventude é essa’. Não somos números, temos nomes e trajetórias”, afirma.
 
Além do Juventude Negra, exposto no Facebook em 2016, Luiz questionou a relação da masculinidade negra, no projeto Bright e a série Refazimento, em que fala sobre as relações de corpos dissidentes, retirados de seu lugar ancestral.
 
No caso de Marconi Silva, a inspiração surgiu ao ver profissionais que se dedicavam a fotografar negros. “Percebi que, como negro, também poderia falar de negritude através da minha fotografia”, conta. “Está cheio de fotografia de corpos brancos. Eu queria falar do meu povo.”
 
Na Universidade de Brasília (UnB), Marconi tem um projeto autoral em forma de protesto. “É uma universidade majoritariamente branca, tanto de alunos quanto de professores. O acesso aumentou com as cotas, mas ainda é pequeno. Meu curso (artes cênicas) só tem três professores negros”, destaca. A ideia dele era espalhar lambe-lambes pelo câmpus com fotos de alunos negros. Devido à burocracia, a exposição acabou restrita à Diretoria de Diversidade da UnB, de forma permanente. Agora, no mês da Consciência Negra, o projeto foi ampliado para o Centro de Convivência Negra. “Já ouvi, não para mim, que lugar de negro é limpando chão. Mas na UnB temos pessoas que serão os futuros doutores. Negros que querem ocupar seus espaços. É um caminho. A ideia é mostrar a cara do povo negro, que nós estamos resistindo”, afirma.
 
Conheça um pouco de cada um deles
 
 (Fotos: Arquivo Pessoal)  
Resgate da história por meio da fotografia
 
Aos 23 anos, Luiz Ferreira coleciona destaque no mundo da fotografia. Ano passado, uma foto dele foi selecionada para ser exposta na Patchogue Arts Gallery, em Nova York, nos Estados Unidos. Mas a relação com a fotografia começou como um resgate da história da família. “Nos momentos de encontro, minha avó materna sempre abria uma caixa cheia de álbuns. Dali surgiam risadas, retornos, situações e ressignificação e refazimentos”, lembra.
 
Em 2013, percebeu que a fotografia poderia ser mais do que retratos familiares. Começou a estudar. Para ele, a fotografia é “sobre registrar a partir das nossas narrativas, pautas, sentimentos; se mostrar, contar, decupar”.
 
Criado no Recanto das Emas e estudante de artes visuais na Universidade de Brasília (UnB),  Luiz relata que não é fácil ser negro em uma sociedade racista. Mas, para ele, consciência negra não é para falar sobre isso. “É sobre celebração do povo negro. Prefiro falar das novas narrativas que estamos construindo. O racismo é diário”, afirma.
 
 
Nós existimos durante todo o ano
 
Uma exposição de Sebastião Salgado no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), quando ela ainda estava na escola, despertou o interesse de Ester Cruz, 21 anos, para a fotografia. Moradora de Ceilândia, se inscreveu no curso de fotografia do projeto Jovem de Expressão. Hoje cursa fotografia no Centro Universitário Iesb, com bolsa de 50%.
 
De acordo com Ester,  o mundo está melhor, mas ainda há muito o que melhorar. “O racismo é velado. Quando eu era criança, não entendia. Não pensava que era comigo”, relata. Na opinião dela, o caminho só não foi mais difícil por ter uma família bem estruturada. “Eles me ajudaram muito. Minha família é muito unida, mesmo não tendo muita consciência racial. Minha mãe sempre cuidou de tudo. Eu acho que isso facilitou para eu ter essa visão que tenho hoje”, ressalta. A jovem acredita que, mais do que falar sobre consciência negra em novembro, esse debate não pode se restringir a este mês. “Eu queria falar que a gente existe em outras épocas do ano”, declara.
 
 
Corpos negros em destaque
 
Marconi Cristino Silva, 38 anos, é grato ao projeto Jovem de Expressão, de Ceilândia, pelo envolvimento com a fotografia. A iniciativa oferece diversas oficinas e cursos gratuitos para a comunidade em geral. Por meio do projeto, Marconi se descobriu artista. Não só na fotografia, mas também no teatro. “Com isso, eu fui fotografando e pegando isso como expressão artística.”
 
As dificuldades para seguir a profissão não são poucas. Além dos cursos caros, os equipamentos têm custo elevadíssimo. “Eu me considero um fotógrafo, apesar das dificuldades. Eu ainda não tenho equipamento meu, por exemplo, pego tudo emprestado”, relata.
 
Marconi estuda artes cênicas na UnB. O objetivo de Marconi é ser arte-educador e juntar suas duas paixões. “Quero usar o teatro e a fotografia como ferramentas. Qualquer forma de arte é uma ferramenta boa para ajudar no processo educacional”, explica.
 
Para o morador de Ceilândia, discutir consciência negra é falar sobre respeito. “É falar de uma população que é maioria, mas é minoria nos espaços de poder. É falar sobre um povo que luta contra todas as mazelas. Não é por termos pele preta que somos incapazes.”
 
Perfis no Instagram
  • Ester Cruz @stcruzgraphy
  • Marconi Silva @marconi.cs
  • Luiz Ferreira @elefantesbrancos
  • Jornal Impresso

Correio Braziliense segunda, 04 de novembro de 2019

NATALHA NASCIMENTO: VIDA DE LUTA E SONHOS REALIZADOS

 

Vida de luta e sonhos realizados
 
Natalha Nascimento trocou uma indenização em dinheiro pela chance de proferir uma palestra de conscientização para pessoas que a ofenderam e agrediram. E essa foi apenas uma das várias batalhas que enfrentou e venceu na vida

 

Deborah Fortuna

Publicação: 04/11/2019 04:00

 

"Eu sou a única transgênero, negra, favelada licenciada em matemática da América Latina de que se tem notícia. Muitas meninas queriam ter a oportunidade que eu tive e infelizmente não tiveram"

 

 
Era mais um dia em que Natalha Nascimento andava pela Rodoviária do Plano Piloto. Mais um dia de olhares de desaprovação e mais um dia em que, ao passar em frente a uma pastelaria, passou a ouvir ofensas dos funcionários. Naquele 26 de abril, porém, a mulher negra e transexual cansou-se de ouvir calada os xingamentos. 
 
Parou e perguntou por que aqueles homens sempre se comportavam de maneira tão hostil com ela. Então ouviu de um deles: "Eu faço piadinhas quantas vezes eu quiser, seu veado". A frase, somada ao longo tempo de humilhação, fez Natalha perder o controle. "Aquilo foi o estopim. Eu cuspi nele", recorda, dois anos e meio depois.
 
 A reação de Natalha, hoje com 36 anos, fez o homem partir das ofensas para a agressão física. "Eu lembro que caí de costas e que meus cabelos estavam presos na mão dele. Depois, levei um chute na costela", conta. Os outros funcionários apenas olhavam. Foi uma voz distante que a salvou. "Alguém disse para ele não fazer aquilo, que era covardia."
 
Ela só buscou uma delegacia dois dias mais tarde, após uma conversa por telefone com a mãe, que mora no Pará. Depois, Natalha foi ao Conselho de Direitos Humanos, e a denúncia virou processo. "Eu acionei a Justiça porque não vi nenhum crime ou erro cometido por mim que motivasse o comportamento dos funcionários", explica. 
 
Em uma audiência conciliatória, foi oferecida uma indenização, mas Natalha recusou o dinheiro. Queria um pedido de desculpas e a oportunidade de dar uma palestra sobre diversidade e gênero aos funcionários, o que foi aceito pela empresa. Apesar de o agressor não ter participado nem pedido desculpas, outros homens que também a tinham ofendido estavam ali para escutá-la. "Foi uma forma de resgatar o que era meu. Acho que surtiu efeito. Voltei a passar lá na frente e faço isso até hoje. Nunca mais ouvi uma palavra, mas também evito olhar para eles."
 
Cicatrizes
 
O episódio, que tornou Natalha conhecida no país inteiro, após o acordo feito na Justiça ser noticiado por diversos veículos, é só uma das várias batalhas enfrentadas pela mulher nascida na pequena Açailândia, no interior do Maranhão. As cicatrizes nas mãos, no colo e no punho são sinais de uma vida de luta, com muitos sonhos realizados, mas também vários reveses.
 
 Um deles, que ainda machuca a ponto de Natalha não gostar de falar sobre, a tirou de sala de aula. Formada em licenciatura em matemática pela Universidade Estadual de Goiás, ela sempre quis ser professora, o que fez até 2013, ano em que decidiu deixar a sala de aula. "Naquela época, estava uma loucura, com opiniões muito contrárias", limita-se a dizer.
 
Mais um recomeço. Trabalhou como copeira, doméstica e atendente de lanchonete, até que voltou à escola, desta vez, como educadora social voluntária em um colégio na Estrutural, onde mora. Ali, ouve os alunos, acolhe suas angústias e ajuda na inserção dos que se sentem excluídos, como uma aluna autista, que merece grande parte de sua atenção. "Eu percebo que estou contribuindo para a construção de cidadãos fortes", fala sorrindo, sentada na sala da pequena casa em que mora com o cachorro Mailo, cercada de livros de matemática e português.
 
Motivo de orgulho
 
A atuação como educadora social também a ajuda a se preparar para um retorno à sala de aula, um lugar, segundo ela, "impressionante". "Estou engatinhando para voltar hoje", anuncia, com a paciência e o respeito ao próprio tempo que aprendeu a cultivar. Afinal, Natalha sabe que as conquistas até aqui não foram poucas.
 
 Na pequena Açailândia, chegar à universidade era algo "muito distante". Para uma pessoa trans, parecia impossível. "Eu sou a única transgênero, negra, favelada, licenciada em matemática da América Latina de que se tem notícia. Isso é para mostrar o tamanho da desigualdade. Muitas meninas queriam ter a oportunidade que eu tive e infelizmente não tiveram", aponta.
 
Outra oportunidade que Natalha abraça com todas as forças é a própria vida. Dados da União Nacional LGBT apontam que o tempo médio de vida de uma pessoa trans no Brasil é de apenas 35 anos. "Ser uma pessoa transgênero e chegar aos 36 anos de idade é um orgulho. Eu tenho apreço pela vida. Esse é o bem mais precioso que eu tenho."
 
 
 
Especial
Para marcar o Mês da Consciência Negra, a série Histórias de consciência é publicada ao longo de novembro e presta homenagem a mulheres e homens negros que ajudam a construir uma Brasília justa, tolerante e plural. Todos os perfis deste especial e outras matérias sobre o tema podem ser lidos no site www.correiobraziliense.com.br/ historiasdeconsciencia .
 
Jornal Impresso

Busca


Leitores on-line

Carregando

Arquivos


Colunistas e assuntos


Parceiros