Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Balsas, Cidade Sorriso terça, 22 de março de 2022

ANIVERSÁRIO DE BALSAS! 22 DE MARÇO! HOMENAGEM A THUCYDIDES BARBOSA, O CONSOLIDADOR!
 

THUCYDIDES BARBOSA, O CONSOLIDADOR

Raimundo Floriano

 

 

 Coronel Thucydides Barbosa

 

Balsas foi notável potência jornalística na primeira metade do século passado. A Evolução e O Lábaro constituíram-se em célebres marcos daquele tempo, mas deles não restou sequer um exemplar. Recentemente, havia O Fazendeiro, no qual andei publicando alguns escritos. Hoje, tenho notícias da Folha do Cerrado e de vários periódicos on-line. O mais constante de todos foi e é o Jornal de Balsas, que nasce, morre e renasce, teimando em continuar sua trilha cultural. Mais adiante, falarei de sua criação.

 

Houve por lá um jornal denominado O Repórter, do qual tive notícia por um letreiro na parede de bela casa à Rua Isaac Martins, 160. Essa rua era também conhecida como Rua do Fio, Rua Grande, Rua do Areão e, onde começa, Azeite de Coco.

 

A mencionada casa pertencia, quando me chamou a atenção, ainda em minha infância, a Seu Mundico Pedreiro, pai de meu falecido amigo Luizão. Tinha eira e beira brancas e, logo no início da parede alaranjada, lia-se esta inscrição em alto-relevo com letras brancas de, aproximadamente, 15 centímetros de altura: TLIM! TLIM! TLIM! OLÁ! QUEM FALA? A REDAÇÃO DO REPÓRTER, QUE QUERES? PROGRESSO! EIS AÍ UM PROGRESSISTA, AO LADO DE NOSSA QUERIDA PÁTRIA E DIGNOS BALSENSES!

 

Essa inscrição foi aos poucos se corrompendo pelo desgaste do tempo, até que se esvaecesse por completo. No início de 1960, tive o cuidado de anotá-la e também de guardá-la de cor, sem saber que, um dia, ela me seria de grande utilidade, como agora, ao redigir este episódio.

 

A conclusão a que chego hoje sobre o mistério ali contido é a que passo a expor. Deduzo que naquele casarão funcionava a redação do jornal O Repórter, onde o Redator atendeu a uma chamada telefônica:

 

– Tlim! Tlim! Tlim! – toca o telefone.

– Olá! – atende o Redator.

– Quem fala? – pergunta o Interlocutor.

– A Redação d’O Repórter, que queres? – responde o Redator.

– Progresso! – informa o Interlocutor.

Por fim, o Redator proclama:

– Eis aí um progressista, ao lado de nossa querida Pátria e dignos Balsenses!

 

Jornal de Balsas foi o de mais longa vida. A página a seguir, da Edição nº 76, de 16.3.1938, foi-me gentilmente disponibilizada pela Professora e escritora Edilza Virgínia, duma coleção que lhe foi presenteada pelo Doutor Eloy Coelho Netto, poeta, historiador e o maior escritor balsense.

 

Jornal de Balsas, Nº 76, de 16.03.1938

 

Sua existência se deve ao arrojo do Coronel Thucydides Barbosa, valoroso empreendedor sul-maranhense. Antes de continuar minha narrativa, deixem-me falar um pouco sobre esse grande realizador.

 

Pertenceu ele à Guarda Nacional, e o tratamento de Coronel não lhe é uma simples deferência. O Diário Oficial da União, de 22 de julho de 1911, estampa sua nomeação para Tenente-Coronel Comandante do 188º Batalhão de Infantaria da Comarca de Loreto (MA).

 

Filho do Tenente-Coronel da Guarda Nacional José Barbosa, e de Dona Maria Pires Ferreira, Thucydides Barbosa nasceu em Loreto, a 8 de julho de 1885, e faleceu em São Luís, Capital do Estado do Maranhão, a 5 de novembro de 1954.

 

Foi comerciante, advogado provisionado em Balsas, Coletor de Rendas do Estado, Diretor do Tesouro, o equivalente, hoje, a Secretário Estadual da Fazenda, Deputado Estadual, de 1913 a 1924, e Prefeito de Balsas, de 1925 a 1927.

 

Sua atuação parlamentar se fez marcante pela apresentação do projeto que elevou a Vila de Santo Antônio de Balsas à condição de Município, convertido na Lei nº 775, de 22 de março de 1918. Desse modo, o Coronel Thucydides, consolidando-a, dava à terra que tanto amava os foros de cidade autônoma, condizente com sua prosperidade econômica, política e cultural que naquele momento alcançava.

 

Nesse mesmo ano de 1918, foi fundada a primeira agremiação desportiva de Balsas, estando ele à frente, presidindo-a por muitos anos. A Associação Esportiva Balsense teve a primeira Diretoria composta por Thucydides Barbosa, Presidente, Mário Coelho, Vice-Presidente, Ascendino Pinto, Secretário, e José de Carvalho Borba, Tesoureiro.

 

Em 1919, outro importante projeto de iniciativa do Coronel Thucydides beneficiou a população balsense. Tratava-se da lei que estabeleceu e instalou a linha telegráfica até São Luís, propiciando uma comunicação mais rápida e, com isso, um maior desenvolvimento de Balsas.

 

Em 1925, o Coronel Thucydides foi eleito Prefeito de Balsas, com votação esmagadora, fazendo uma administração competente e atuante, alargando ruas, delimitando praças e construindo escolas primárias e as duas principais rampas no Rio Balsas, que serviriam de ancoradouro para vapores, lanchas e outros tipos de embarcação.

 

No decorrer desse seu mandato, passou por Balsas, em novembro de 1925, a temida Coluna Prestes, cujos membros eram conhecidos nos sertões como “os revoltosos”. Enquanto o General Juarez Távora – na época, Tenente desertor do Exército Brasileiro – permaneceu em Riachão, hospedado na casa do Coronel Felipe José dos Santos, o restante da tropa, sob o comando dos Coronéis Siqueira Campos, Luís Carlos Prestes, João Alberto e Cordeiro de Farias, dirigiu-se a Balsas, onde o Prefeito Thucydides, diplomaticamente, a recepcionou. A Prefeitura transformou-se em Quartel-General da Coluna, que permaneceu na cidade de 22 a 27 daquele mês, sem causar qualquer tipo de perturbação à ordem pública.

 

No início da década de 1930, o Coronel Thucydides, com seu gosto pela modernidade e pelas comunicações, instalou a primeira linha telefônica da cidade, que interligava sua residência ao depósito de couro de gado, de sua propriedade. Esse depósito servia para armazenar o couro que seria, depois de beneficiado, exportado para os Estados do Piauí e Ceará. Mais tarde, o Coronel instalou outra linha, que ligava a já existente à Prefeitura e à Coletoria.

 

Em fins de 1931, novamente sua veia comunicativa e intelectual falava mais alto. Junto a vários colaboradores, dentre eles seus irmãos Antônio e Sadoc, e outros amigos, o Coronel Thucydides organizou e fundou a Empresa Tipográfica de Balsas.  Em 27 de janeiro de 1932, começou a circular o primeiro número do Jornal de Balsas. A aceitação foi excelente em todo o sertão sul-maranhense e até mesmo em São Luís e outras regiões do Estado. Além das notícias locais, o Jornal de Balsas mantinha vasto e minucioso serviço telegráfico com São Luís e o Rio de Janeiro, então Capital Federal, o que contribuiu para que fosse muito bem recebido por todos. Thucydides foi seu diretor e proprietário até o ano de 1935. Em 1936, o Jornal de Balsas passou à direção do Padre Cincinato Ribeiro Rego; pouco depois, em 1938, à do Padre Clóvis Vidigal, sendo editado até 1940, período em que, apesar de não estar mais à frente da direção do periódico, o Coronel continuou atuando como colaborador.

 

Em fins da década de 30, o Coronel Thucydides, intelectual atuante, foi eleito membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e primeiro ocupante da Cadeira 25, patroneada pelo jurista maranhense Domingos de Castro Perdigão. Historiador, autodidata e arguto pesquisador, ele escreveu muitas obras, algumas editadas, mas perdidas, outras inéditas, razão por que não chegaram ao conhecimento do público. Dentre os livros e artigos publicados, destacam-se: Subsídios para a História de BalsasA Hecatombe de Alto AlegreUm Crime ProvocadoNome sem SignificaçãoBiografia de Isaac Martins dos ReisSubsídios para a História do MaranhãoAs Boiadas SertanejasCidades Desconhecidas e Dados Genealógicos.

 

Thucydides casou-se a 30 de julho de 1907, em Loreto, com a balsense Maria Rodrigues Botelho, filha do Coronel Braulino Antônio Botelho e de Dona Severiana Rodrigues Botelho. Dessa união, nasceram-lhes nove filhos: Alzira, José Barbosa Neto, Jacyra, Heloísa, Braulino, Antônia, Myrthes, Stella e Carlos Alberto. Legou ele aos filhos e demais descendentes, aos seus amigos e a todos que o conheceram a figura de um homem probo e inteligente que muito amava Balsas e o Maranhão e que sempre pensava no desenvolvimento e na magnitude de sua terra e de sua gente.

 

(Os dados biográficos aqui constantes foram pesquisados pelo então Seminarista João Pecegueiro, meu primo pela enésima geração, hoje Padre, não só da Igreja Católica Apostólica Romana, ordenado em 2013, como da Igreja Sertaneja, fazendo parte do Clero diretamente ligado a meu
Cardinalato.)

 

Para terminar este fragmento biográfico, não poderia eu deixar de aqui registrar um acontecimento jocoso, não tanto merecedor da seriedade com que até agora me portei, mas que é verídico, permanece na memória das gerações balsenses mais antigas, faz parte de seu anedotário, e não pode, por conseguinte, ser esquecido. Ad perpetuam rei memoriam!

 

Corria o ano de 1939. A 1º de setembro daquele ano, as Forças Armadas Alemãs deram início à invasão da Polônia, também conhecida como Operação Fall Weiss, marcando o deflagrar da Segunda Guerra Mundial. Nessa época, o Jornal de Balsas tinha como correspondente, sem remuneração, em São Luís, o Jornalista J. Pires, dono do jornal O Imparcial.

 

Ao saber da invasão, o Redator do Jornal de Balsas enviou um telegrama a J. Pires, para ser publicado em O Imparcial, com violento manifesto dirigido a Hitler, no qual o admoestava por sua inobservância aos princípios de não intervenção e autodeterminação dos povos.

 

  1. Pires não deu a mínima atenção ao assunto, razão pela qual o Redator lhe enviou desaforado telegrama, informando-o de que, a partir daquele momento, estava ele destituído das funções de correspondente do Jornal de Balsas. Logo em seguida, a resposta de J. Pires não se fez esperar, num telegrama que, laconicamente, continha uma única palavra: ADREMÁÀV.

 

O momento era de muito suspense no mundo inteiro, e as mensagens importantes eram todas codificadas, para não serem interceptadas pelos alemães. Os códigos mais usados em Balsas eram o Ribeiro, o Mascote e o Particular. O Redator consultou as respectivas chaves, mas nenhuma conseguiu esclarecer o enigma. Certo poliglota, funcionário da Redação, opinou que a palavra devia ser francesa, pois continha dois acentos, tal como révèillon, mas o Dicionário de Francês deixou a todos na mesma. A solução foi o Redator sair pelas ruas solicitando ajuda aos intelectuais da cidade, tudo em vão. Até que um deles teve a feliz ideia de aconselhar ao Redator que submetesse a mensagem ao exame de Seu Rosa Ribeiro, meu saudoso pai, Tabelião do 2º Ofício, Cruciverbista intitulado, Parafrasta juramentado, matador de charadas e exímio Decifrador de Cartas Enigmáticas. Assim o fez a comitiva.

 

Encontraram-no na loja do meu Tio Cazuza Ribeiro, seu irmão, onde, vez em quando, ele dava uma colaboração. Seu Rosa pegou o telegrama, examinou atentamente o conteúdo, colocou-o aberto em cima do balcão, foi até a prateleira da loja, apanhou um espelhinho desses de bolso, posicionou-o no final da palavra e conclamou a todos:

 

– Agora, leiam o que está escrito no espelho!

 

Foi constrangimento total para o Redator e os intelectuais circunstantes. No espelho, lia-se, simplesmente, mas com todas as letras, essa debochada imprecação: VÁ À MERDA.

 

Texto publicado em meu livro Memorial Balsense, centrado na cidade de Balsas, nos homens que fizeram a grandeza de sua história e nos fatos marcantes de minha infância, feliz, cheia de peripécias e arriscosa, como a de todo menino sertanejo de meu tempo.

 

 

Em outro livro meu, De Balsas Para o Mundo, conto a História da Navegação Fluvial Balsas – Oceano Atlântico, que foi intensa, a partir de 1911, com a chegada do primeiro vapor ao Porto das Caraíbas, até o início dos anos 1960, quando o transporte rodoviário e a construção da Barragem de Boa Esperança sem eclusas, a tornou inviável, com fotos e desenhos de suas principais embarcações e perfis dos homens que fizeram isso acontecer.

 

  

Esses dois livros se encontram disponíveis, em Balsas, com a Socorro da Liana, à Rua 11 de Julho, 200, Centro.

 

MÚSICAS TENDO BALSAS COMO TEMA

 

Balsas Querida, marcha-rancho, de Augusto Braúna, com Deusamar Santos:

  

Balsas, Cidade Sorriso, samba, de Martinho Mendes e viajante desconhecido, com Felipe Rodrigues:

 

Hino de Balsas, de Edilza Virgínia Pereira, com o Coral do Colégio São Pio X:

 

CENTENÁRIO DE BALSAS - 221 IMAGENS 

Clique neste link, para abrir o álbum de fotos no Facebook: 

https://www.facebook.com/raimundo.floriano/media_set?set=a.1079652172177943&type=3

 


Balsas, Cidade Sorriso sexta, 21 de agosto de 2020

HINO DE BALSAS - VOCAL


Balsas, Cidade Sorriso sexta, 24 de julho de 2020

DESCIDA DE BOIA NO RIO BALSAS - A INVENÇÃO

 

DESCIDA DE BOIA NO RIO BALSAS -  A INVENÇÃO

Raimundo Floriano

Descida de boia: Riacho da Pendanga à esquerda

 

Como tentei demonstrar em meus escritos, Balsas é uma cidade abençoada. O Rio Balsas, que a banha, é uma dádiva dos céus. Nos primórdios da colonização, foi ele a principal via de transporte desde a cidade até Uruçuí, no Piauí, onde desemboca no Rio Parnaíba, que leva suas águas até o Oceano Atlântico.

Na descida, as balsas, carregadas de passageiros e da produção agropecuária da região. Na subida, os batelões, impulsionados por varas e remos, até o ano de 1911, quando se inaugurou intensa navegação de vapores, lanchas e motores, num fluxo que durou 50 anos, e só se acabou com a construção da Barragem de Boa Esperança. A história dessa navegação, com seus armadores, mestres, contramestres, comandantes, práticos, marinheiros e embarcações foi objeto de minuciosa exposição nesta Primeira Parte do livro.       

Com sua perenidade e cristalina água despoluída durante quase todo o ano, potável, sem necessidade de qualquer sistema de filtragem, esse rio proporciona as duas principais atrações turísticas do sertão sul-maranhense. A primeira é a descida de balsa, desde o Porto da Tomázia, 180 km acima, até o Porto da Rampa, também conhecido como Porto das Caraíbas, no centro da cidade.

Essa viagem é demorada; durando três dias, exige muitos equipamentos e, pelo aspecto oneroso, é acessível apenas às pessoas mais aquinhoadas. A segunda, de curta duração e ao alcance de qualquer bolso, é a descida de boia, partindo do Porto da Canaã. E é sobre ela que lhes quero falar.

É o passeio praticamente obrigatório dos finais de semana. Não há visitante que não o experimente. Ficou mundialmente famoso quando o jovem Adílson Oliveira Jr., de Piracicaba-SP, bolsista da EMBRAPA em Balsas, dele participou e, ao retornar à sua terra natal, fundou a Comunidade Já desci o Rio Balsas de Boia, no Orkut, extinta recentemente, não sei o porquê, cujo número de membros ultrapassou a casa dos 2.000, espalhados pelos quatro cantos do nosso planeta. A 31 de dezembro de 2009, reativei-a, na esperança não só de reagrupar todos os antigos membros, como também de angariar novos sócios, no intuito de promover, mais ainda, o nome de nossa cidade. Em 2005, foi realizada a Descida das Mil Boias, evento a que acorreram balsenses e demais entusiastas de todo o país e também do exterior, sendo registrada por observadores para que conste do Guiness Book of Records.

            Mas... Como tudo isso começou? A seguir, minha versão.

Em julho de 1952, aos 16 anos, desci, sozinho, o Rio Balsas, do Porto do Canto Alegre, hoje Porto da Canaã, pela primeira vez. Que se saiba, ninguém fizera isso antes. No dia seguinte, repeti a aventura. Aventura mesmo, pois desconhecia os meandros, as corredeiras, o xenhenhém, as margens, o tempo gasto no percurso.

Naquela época, eu não possuía relógio. Hoje, sei que são duas horas, mais ou menos, sem paradas e com o vento não soprando para cima.

Comecei usando talo de buriti ou tronco de bananeira. Não havia carros em Balsas, exceto uns caminhões, cujas câmaras de ar eram remendadas até a exaustão e, ao serem descartadas, só forneciam mesmo tiras para fazer baladeira.

Quando ali estou a passeio, desço todos os dias. Em julho de 1991, fiz 30 descidas. Se não encontro companhia, pego um táxi até lá e desço só. O que eu não posso perder é o encanto da paisagem, o mistério das águas, o maravilhoso sol.

Histórias tenho para contar. Em 1964, por exemplo, meu primo Doutor Cazuzinha e eu descemos do Canto Alegre numa grande enchente, cobra pra todo lado, quase ao anoitecer. Não acreditam? Pois ele está lá em Balsas, pronto para confirmar esse arrepiante lance!

Não quis dizer que “inventei a roda”. Isso não! Antes de mim, muitos navegaram por ali, como os balseiros, que há séculos singram aquelas águas. Outros também faziam uma minidescida, partindo do Rasião, cerca de quilômetro e meio acima da Rampa. Mas como diversão, como passeio, declaro-me o primeiro. Peguei um talo de buriti e, por não achar companheiro, segui sozinho, a pé, para o desafio.

Escolhi o caminho de ida porque eu já o conhecia: na margem oposta, fica o Canto Alegre, fazenda do meu saudoso Tio Cazuza, do lado da Tresidela. Nos dias seguintes, sempre desacompanhado, repeti o feito.

            Só bem depois, quando o progresso chegou a Balsas, é que se iniciou o uso de câmaras de ar como boia.

Em julho de 1991, reconhecendo o meu pioneirismo, Júnior Coelho, Presidente da Câmara Municipal, me conferiu o troféu Um Amigo do Rio das Balsas. Por isso, fico orgulhoso, emocionado até, quando contemplo as fotos da Descida das Mil Boias. Pena que certos problemas ortopédicos tenham impedido a minha participação.

FLAGRANTES DA DESCIDA DAS MIL BOIAS:

 

O percurso Balsas – Canaã no passado

 

Na minha adolescência, o percurso de ida, 9 km, era assim: eu saía da Rua do Frito, atual 11 de Julho, e seguia, talo de buriti às costas, rumo à aventura. Com um quilômetro, estava atravessando a vau o Riacho do Lava-cara, no final da hoje Rua Benedito Leite. Ainda não havia a ponte. Seguindo adiante, agora só mato, alcançava a Bacaba, onde morava o Canário, oficial de justiça, pioneiro afro-brasileiro da colonização balsense. Logo em seguida, o Riacho da Bacaba, esse com ponte e, mais adiante, o cemitério. Andava um estirão e chegava ao Salgadinho, mais ou menos onde há hoje uma cancela e um curral. Logo depois, onde hoje há um areão, ficava a Lagoa do Canto Alegre. Lagoa perene, imensa, com jacarés, cágados, traíras, piabas, garças, patos, marrecos, paturis, mergulhões, tudo que é ave piscívora, lindo recanto que o desmatamento se encarregou de destruir. Depois, era caminhar muito, até chegar ao Porto do Canto Alegre. E lá, à espera, o aconchegante rio!

 

O percurso Canaã – Caraíbas hoje

Raimundo Floriano, no Porto da Canaã

 

Sem parada e vento calmo, 12 km, duas horas de duração. Aos 10 minutos, à direita, em frente a uma vazante, gameleira frondosa debruça-se sobre o rio. No galho rente à água, cágados costumam dormir, quentando-se ao sol. 30 minutos: tapera e vestígios da antiga fazenda do Jair Gaúcho. No meio do rio, é muito raso, a boia raspa o leito. O local poderia ser batizado de Rala-bunda. É de bom alvitre jamais amarrar garrafa na boia, pois ela se quebra nas pedras. Uma hora: Pendanga, com seu riachinho, a roda-d’água e, mais adiante, o emocionante xenhenhém. É aí que as boias surfam n’água, em imensas ondas. Agora, de vez em quando, mirar o horizonte à frente, pois, com uma hora e meia, aparece, lá bem longe, a antena da Rádio Rio Balsas. Faltam, portanto, 30 minutos para a chegada. Com mais um pouco, surgem sinais da cidade. Daí, é comemorar a façanha!

 

Companheiros de descida

 

Acompanharam-me nas descidas, ao longo desses 57 anos: Veroni, minha esposa, Elba e Mara, nossas filhas; Pedro Silva; José, o Carioquinha; Bergonsil Albuquerque e Silva, Valéria e Maurício; Afonso Celso de Albuquerque e Silva e Afonso Celso; Maria dos Mares Albuquerque e Silva; Rosimar Albuquerque e Silva, Renato, Luciana, Marianne e Adriane; Ceres, Paula e Gustavo Noleto; José de Sousa e Silva Filho, o Doutor Cazuzinha; Esmaragdo e Silva Neiva, Casusa Neto e Antônio Estevam; Oscar Fernandes, Nívia Kury, Flávia e Léo; José Elias Kury e Maria Luíza, a Lu; Márcia Kury, Rosy Neto, Ramom e Thiago; Winston Kury e Ilza Kury; João Emigdio da Costa e Silva, Clarissa, Carmen e Juliana; Luís Fernando da Costa e Silva e sua irmã Ana Alice; Walber Reis; Carlos Kutiansky, Ana Maria, Felipe, Fernando e Diogo; Pedro Ivo da Silva Sobrinho; Dodolfo Fonseca, Isaura, Adolfinho e Fernando; Gláucia Holanda, Liana Vieira; os irmãos Gomes: Evaneide, a Joanna, e Francisco de Assis, o Tico; Raimundo Ribeiro, o Titina, Juracy e Maria Lúcia; João Ribeiro Filho; Adalberto Pereira Lima e Vânia; Carlomagno Pereira Lima, o Carló, e Terezinha; Carmélia Coelho, Gustavo, Vítor e Felipe; Walter Kury e Crisálida; Doutor Luzimar Miranda da Silva.

 

Depoimento de uma balsense há quase 60 anos moradora em Niterói-RJ, minha prima e cunhada

 

Raimundo, não há a menor dúvida, você é realmente o pioneiro das descidas de boia no Rio Balsas. Sua descrição é perfeita, rica em detalhes, detalhes dos quais eu sequer me lembrava e que me emocionaram. Ao ler sua menção ao Canário, lembrei-me de tudo, do rosto dele, da casa e até do pé de umbu comum que havia na porta de sua casa. A Bacaba, o Lava-Cara, o Salgadinho... O Rasião me fez lembrar da Josefa da "Berada", com sua voz estridente. E a Lagoa, quanta lembrança agradável! Ali, o papai sempre parava para apreciarmos a natureza, especialmente as garças. Que saudade do meu tempo de criança, do Balsas que já não existe, a não ser em nossas lembranças e em nossos corações! Há 11 anos, não vou a Balsas e nem sei se algum dia voltarei. Mas, se voltar, certamente ficarei triste com a destruição de quase tudo e a ausência de quase todos que povoaram a minha infância. Com exceção da minha família, praticamente não identifico ninguém, é uma cidade cheia de pessoas desconhecidas. Restam a Igreja Matriz de Santo Antônio e o maravilhoso Rio Balsas, que, apesar de maltratado, persiste em sua perenidade e em sua correnteza, que leva as águas, mas não as nossas lembranças. Obrigada por ter-me enviado esse relato, que tantas recordações me trouxe e me emocionou a ponto de me deixar em lágrimas. Um grande abraço. (a) Izaura Maria. 

 

É sabido em Balsas o caso de um forasteiro que foi realizar sozinho essa descida e tratou logo de encher a cara, levando consigo uma garrafa de pinga pra beber no percurso. Como era de se esperar, foi mesmo que botar num dedo o anel da dormideira. O resultado disso foi que passou direto pelas Caraíbas, despercebido, roncando na boia, e só foi resgatado em Sambaíba, a primeira cidade rio abaixo.

            Caso o sono persistisse, poderia ter chegado ao Oceano!

 

 


Balsas, Cidade Sorriso quarta, 01 de julho de 2020

FOTOS ANTIGAS DE BALSAS - 221 IMAGENS

FOTOS ANTIGAS DE BALSAS

221 IMAGENS

CLIQUE NO LINQUE ABAIXO, PARA ABRIR O ÁLBUM NO FECEBOOK

https://www.facebook.com/raimundo.floriano/media_set?set=a.1079652172177943&type=3


Balsas, Cidade Sorriso domingo, 26 de abril de 2020

MAGAL TOCA DO SAMBA E BALSAS, CIDADE SORRISO


Balsas, Cidade Sorriso sexta, 27 de março de 2020

FLEXIBILIZAÇÃO DO ISOLAMENTO: PRONUNCIAMENTO DO DR. ERIK SILVA, MÉDICO E PREFEITO DE BALSAS


Balsas, Cidade Sorriso domingo, 22 de março de 2020

ANIVERSÁRIO DE BALSAS! 22 DE MARÇO! HOMENAGEM A THUCYDIDES BARBOSA, O CONSOLIDADOR!

 

THUCYDIDES BARBOSA, O CONSOLIDADOR

Raimundo Floriano

 

 

 Coronel Thucydides Barbosa

 

Balsas foi notável potência jornalística na primeira metade do século passado. A Evolução e O Lábaro constituíram-se em célebres marcos daquele tempo, mas deles não restou sequer um exemplar. Recentemente, havia O Fazendeiro, no qual andei publicando alguns escritos. Hoje, tenho notícias da Folha do Cerrado e de vários periódicos on-line. O mais constante de todos foi e é o Jornal de Balsas, que nasce, morre e renasce, teimando em continuar sua trilha cultural. Mais adiante, falarei de sua criação.

 

Houve por lá um jornal denominado O Repórter, do qual tive notícia por um letreiro na parede de bela casa à Rua Isaac Martins, 160. Essa rua era também conhecida como Rua do Fio, Rua Grande, Rua do Areão e, onde começa, Azeite de Coco.

 

A mencionada casa pertencia, quando me chamou a atenção, ainda em minha infância, a Seu Mundico Pedreiro, pai de meu falecido amigo Luizão. Tinha eira e beira brancas e, logo no início da parede alaranjada, lia-se esta inscrição em alto-relevo com letras brancas de, aproximadamente, 15 centímetros de altura: TLIM! TLIM! TLIM! OLÁ! QUEM FALA? A REDAÇÃO DO REPÓRTER, QUE QUERES? PROGRESSO! EIS AÍ UM PROGRESSISTA, AO LADO DE NOSSA QUERIDA PÁTRIA E DIGNOS BALSENSES!

 

Essa inscrição foi aos poucos se corrompendo pelo desgaste do tempo, até que se esvaecesse por completo. No início de 1960, tive o cuidado de anotá-la e também de guardá-la de cor, sem saber que, um dia, ela me seria de grande utilidade, como agora, ao redigir este episódio.

 

A conclusão a que chego hoje sobre o mistério ali contido é a que passo a expor. Deduzo que naquele casarão funcionava a redação do jornal O Repórter, onde o Redator atendeu a uma chamada telefônica:

 

– Tlim! Tlim! Tlim! – toca o telefone.

– Olá! – atende o Redator.

– Quem fala? – pergunta o Interlocutor.

– A Redação d’O Repórter, que queres? – responde o Redator.

– Progresso! – informa o Interlocutor.

Por fim, o Redator proclama:

– Eis aí um progressista, ao lado de nossa querida Pátria e dignos Balsenses!

 

O Jornal de Balsas foi o de mais longa vida. A página a seguir, da Edição nº 76, de 16.3.1938, foi-me gentilmente disponibilizada pela Professora e escritora Edilza Virgínia, duma coleção que lhe foi presenteada pelo Doutor Eloy Coelho Netto, poeta, historiador e o maior escritor balsense.

 

Jornal de Balsas, Nº 76, de 16.03.1938

 

Sua existência se deve ao arrojo do Coronel Thucydides Barbosa, valoroso empreendedor sul-maranhense. Antes de continuar minha narrativa, deixem-me falar um pouco sobre esse grande realizador.

 

Pertenceu ele à Guarda Nacional, e o tratamento de Coronel não lhe é uma simples deferência. O Diário Oficial da União, de 22 de julho de 1911, estampa sua nomeação para Tenente-Coronel Comandante do 188º Batalhão de Infantaria da Comarca de Loreto (MA).

 

Filho do Tenente-Coronel da Guarda Nacional José Barbosa, e de Dona Maria Pires Ferreira, Thucydides Barbosa nasceu em Loreto, a 8 de julho de 1885, e faleceu em São Luís, Capital do Estado do Maranhão, a 5 de novembro de 1954.

 

Foi comerciante, advogado provisionado em Balsas, Coletor de Rendas do Estado, Diretor do Tesouro, o equivalente, hoje, a Secretário Estadual da Fazenda, Deputado Estadual, de 1913 a 1924, e Prefeito de Balsas, de 1925 a 1927.

 

Sua atuação parlamentar se fez marcante pela apresentação do projeto que elevou a Vila de Santo Antônio de Balsas à condição de Município, convertido na Lei nº 775, de 22 de março de 1918. Desse modo, o Coronel Thucydides, consolidando-a, dava à terra que tanto amava os foros de cidade autônoma, condizente com sua prosperidade econômica, política e cultural que naquele momento alcançava.

 

Nesse mesmo ano de 1918, foi fundada a primeira agremiação desportiva de Balsas, estando ele à frente, presidindo-a por muitos anos. A Associação Esportiva Balsense teve a primeira Diretoria composta por Thucydides Barbosa, Presidente, Mário Coelho, Vice-Presidente, Ascendino Pinto, Secretário, e José de Carvalho Borba, Tesoureiro.

 

Em 1919, outro importante projeto de iniciativa do Coronel Thucydides beneficiou a população balsense. Tratava-se da lei que estabeleceu e instalou a linha telegráfica até São Luís, propiciando uma comunicação mais rápida e, com isso, um maior desenvolvimento de Balsas.

 

Em 1925, o Coronel Thucydides foi eleito Prefeito de Balsas, com votação esmagadora, fazendo uma administração competente e atuante, alargando ruas, delimitando praças e construindo escolas primárias e as duas principais rampas no Rio Balsas, que serviriam de ancoradouro para vapores, lanchas e outros tipos de embarcação.

 

No decorrer desse seu mandato, passou por Balsas, em novembro de 1925, a temida Coluna Prestes, cujos membros eram conhecidos nos sertões como “os revoltosos”. Enquanto o General Juarez Távora – na época, Tenente desertor do Exército Brasileiro – permaneceu em Riachão, hospedado na casa do Coronel Felipe José dos Santos, o restante da tropa, sob o comando dos Coronéis Siqueira Campos, Luís Carlos Prestes, João Alberto e Cordeiro de Farias, dirigiu-se a Balsas, onde o Prefeito Thucydides, diplomaticamente, a recepcionou. A Prefeitura transformou-se em Quartel-General da Coluna, que permaneceu na cidade de 22 a 27 daquele mês, sem causar qualquer tipo de perturbação à ordem pública.

 

No início da década de 1930, o Coronel Thucydides, com seu gosto pela modernidade e pelas comunicações, instalou a primeira linha telefônica da cidade, que interligava sua residência ao depósito de couro de gado, de sua propriedade. Esse depósito servia para armazenar o couro que seria, depois de beneficiado, exportado para os Estados do Piauí e Ceará. Mais tarde, o Coronel instalou outra linha, que ligava a já existente à Prefeitura e à Coletoria.

 

Em fins de 1931, novamente sua veia comunicativa e intelectual falava mais alto. Junto a vários colaboradores, dentre eles seus irmãos Antônio e Sadoc, e outros amigos, o Coronel Thucydides organizou e fundou a Empresa Tipográfica de Balsas.  Em 27 de janeiro de 1932, começou a circular o primeiro número do Jornal de Balsas. A aceitação foi excelente em todo o sertão sul-maranhense e até mesmo em São Luís e outras regiões do Estado. Além das notícias locais, o Jornal de Balsas mantinha vasto e minucioso serviço telegráfico com São Luís e o Rio de Janeiro, então Capital Federal, o que contribuiu para que fosse muito bem recebido por todos. Thucydides foi seu diretor e proprietário até o ano de 1935. Em 1936, o Jornal de Balsas passou à direção do Padre Cincinato Ribeiro Rego; pouco depois, em 1938, à do Padre Clóvis Vidigal, sendo editado até 1940, período em que, apesar de não estar mais à frente da direção do periódico, o Coronel continuou atuando como colaborador.

 

Em fins da década de 30, o Coronel Thucydides, intelectual atuante, foi eleito membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e primeiro ocupante da Cadeira 25, patroneada pelo jurista maranhense Domingos de Castro Perdigão. Historiador, autodidata e arguto pesquisador, ele escreveu muitas obras, algumas editadas, mas perdidas, outras inéditas, razão por que não chegaram ao conhecimento do público. Dentre os livros e artigos publicados, destacam-se: Subsídios para a História de Balsas, A Hecatombe de Alto Alegre, Um Crime Provocado, Nome sem Significação, Biografia de Isaac Martins dos Reis, Subsídios para a História do Maranhão, As Boiadas Sertanejas, Cidades Desconhecidas e Dados Genealógicos.

 

Thucydides casou-se a 30 de julho de 1907, em Loreto, com a balsense Maria Rodrigues Botelho, filha do Coronel Braulino Antônio Botelho e de Dona Severiana Rodrigues Botelho. Dessa união, nasceram-lhes nove filhos: Alzira, José Barbosa Neto, Jacyra, Heloísa, Braulino, Antônia, Myrthes, Stella e Carlos Alberto. Legou ele aos filhos e demais descendentes, aos seus amigos e a todos que o conheceram a figura de um homem probo e inteligente que muito amava Balsas e o Maranhão e que sempre pensava no desenvolvimento e na magnitude de sua terra e de sua gente.

 

(Os dados biográficos aqui constantes foram pesquisados pelo então Seminarista João Pecegueiro, meu primo pela enésima geração, hoje Padre, não só da Igreja Católica Apostólica Romana, ordenado em 2013, como da Igreja Sertaneja, fazendo parte do Clero diretamente ligado a meu
Cardinalato.)

 

Para terminar este fragmento biográfico, não poderia eu deixar de aqui registrar um acontecimento jocoso, não tanto merecedor da seriedade com que até agora me portei, mas que é verídico, permanece na memória das gerações balsenses mais antigas, faz parte de seu anedotário, e não pode, por conseguinte, ser esquecido. Ad perpetuam rei memoriam!

 

Corria o ano de 1939. A 1º de setembro daquele ano, as Forças Armadas Alemãs deram início à invasão da Polônia, também conhecida como Operação Fall Weiss, marcando o deflagrar da Segunda Guerra Mundial. Nessa época, o Jornal de Balsas tinha como correspondente, sem remuneração, em São Luís, o Jornalista J. Pires, dono do jornal O Imparcial.

 

Ao saber da invasão, o Redator do Jornal de Balsas enviou um telegrama a J. Pires, para ser publicado em O Imparcial, com violento manifesto dirigido a Hitler, no qual o admoestava por sua inobservância aos princípios de não intervenção e autodeterminação dos povos.

 

  1. Pires não deu a mínima atenção ao assunto, razão pela qual o Redator lhe enviou desaforado telegrama, informando-o de que, a partir daquele momento, estava ele destituído das funções de correspondente do Jornal de Balsas. Logo em seguida, a resposta de J. Pires não se fez esperar, num telegrama que, laconicamente, continha uma única palavra: ADREMÁÀV.

 

O momento era de muito suspense no mundo inteiro, e as mensagens importantes eram todas codificadas, para não serem interceptadas pelos alemães. Os códigos mais usados em Balsas eram o Ribeiro, o Mascote e o Particular. O Redator consultou as respectivas chaves, mas nenhuma conseguiu esclarecer o enigma. Certo poliglota, funcionário da Redação, opinou que a palavra devia ser francesa, pois continha dois acentos, tal como révèillon, mas o Dicionário de Francês deixou a todos na mesma. A solução foi o Redator sair pelas ruas solicitando ajuda aos intelectuais da cidade, tudo em vão. Até que um deles teve a feliz ideia de aconselhar ao Redator que submetesse a mensagem ao exame de Seu Rosa Ribeiro, meu saudoso pai, Tabelião do 2º Ofício, Cruciverbista intitulado, Parafrasta juramentado, matador de charadas e exímio Decifrador de Cartas Enigmáticas. Assim o fez a comitiva.

 

Encontraram-no na loja do meu Tio Cazuza Ribeiro, seu irmão, onde, vez em quando, ele dava uma colaboração. Seu Rosa pegou o telegrama, examinou atentamente o conteúdo, colocou-o aberto em cima do balcão, foi até a prateleira da loja, apanhou um espelhinho desses de bolso, posicionou-o no final da palavra e conclamou a todos:

 

– Agora, leiam o que está escrito no espelho!

 

Foi constrangimento total para o Redator e os intelectuais circunstantes. No espelho, lia-se, simplesmente, mas com todas as letras, essa debochada imprecação: VÁ À MERDA.

 

Texto publicado em meu livro Memorial Balsense, centrado na cidade de Balsas, nos homens que fizeram a grandeza de sua história e nos fatos marcantes de minha infância, feliz, cheia de peripécias e arriscosa, como a de todo menino sertanejo de meu tempo.

 

 

Em outro livro meu, De Balsas Para o Mundo, conto a História da Navegação Fluvial Balsas – Oceano Atlântico, que foi intensa, a partir de 1911, com a chegada do primeiro vapor ao Porto das Caraíbas, até o início dos anos 1960, quando o transporte rodoviário e a construção da Barragem de Boa Esperança sem eclusas, a tornou inviável, com fotos e desenhos de suas principais embarcações e perfis dos homens que fizeram isso acontecer.

 

  

Esses dois livros se encontram disponíveis, em Balsas, com a Socorro da Liana, à Rua 11 de Julho, 200, Centro.

 

MÚSICAS TENDO BALSAS COMO TEMA

 

Balsas Querida, marcha-rancho, de Augusto Braúna, com Deusamar Santos:

  

Balsas, Cidade Sorriso, samba, de Martinho Mendes e viajante desconhecido, com Felipe Rodrigues:

 

Hino de Balsas, de Edilza Virgínia Pereira, com o Coral do Colégio São Pio X:

 

CENTENÁRIO DE BALSAS - 221 IMAGENS 

Clique neste link, para abrir o álbum de fotos no Facebook: 

https://www.facebook.com/raimundo.floriano/media_set?set=a.1079652172177943&type=3

 


Balsas, Cidade Sorriso sexta, 13 de março de 2020

BALSAS - 102 ANOS - PROGRAMAÇÃO OFICIAL

 

 


Balsas, Cidade Sorriso segunda, 20 de fevereiro de 2017

BALSAS, CIDADE SORRISO, SAMBA DE MARTINHO MENDES E CAIXEIRO VIAJANTE DESCONHECIDO

"


Busca


Leitores on-line

Carregando

Arquivos


Colunistas e assuntos


Parceiros