Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Jesus de Ritinha de Miúdo terça, 09 de abril de 2024

FANÁTICO (CORDEL DO COLUNISTA JESUS DE RITINHA DE MIÚDO)

 

FANÁTICO

Jesus de Ritinha de Miúdo

Cada vez que eu te vejo
Dispara meu coração
Em virtude da beleza
Ante a minha visão
E se não posso tocar-te
Deixa apenas mirar-te
Com minha admiração.

Se acaso disseres “não”
Respeitarei teu querer
Prometo cegar meus olhos
– Sofrendo não sei viver –
Melhor ser cego de guia
Do que não ter a alegria
Por não poder mais te ver.

Porém, se eu merecer
De ti, essa permissão
Seguirei com mais respeito
E sem perder a razão
Louvar-te-ei em meus versos
De sentimentos dispersos
Em disfarçada paixão.


Jesus de Ritinha de Miúdo segunda, 11 de março de 2024

SONHO E REALIDADE (POEMA DO COLUNISTA JESUS DE RITINHA DE MIÚDO)

 

SONHO E REALIDADE

Jesus de Ritinha de Miúdo

Eu me deixei escondido
Numa esquina da rua,
Te vi sob a luz da lua
Sem por ti ser percebido.
O teu vestido comprido
De um tecido encarnado
No teu corpinho colado
Prendeu mais minha visão
Me fez perder a razão
No singular rebolado.

Meu olhar admirado
Te acompanhou na calçada
Com minha vista vidrada
Em cada passo, teu, dado.
Para ficar complicado
Chegou-me a inspiração
Atiçou meu coração
Por toda beleza tua
De vermelho, sob a lua,
E ante a minha visão.

Se isso tudo é paixão
Não divulgada, vivida,
Se sempre correspondida
Eu não sei te dizer não.
Só sei que perco a razão
Quando te vejo passando
Na realidade, ou sonhando,
Em teu vestido encarnado
De longe teu rebolado,
Segue assim me inspirando.

E eu sigo preso em ti.


Jesus de Ritinha de Miúdo terça, 06 de fevereiro de 2024

CAVALO ALADO (POEMA DO COLUNISTA JESUS DE RITINHA DE MIÚDO)

 

CAVALO ALADO

Jesus de Ritinha de Miúdo

Ah, se desse d’eu voar
Com você em mim montada
Cruzando os céus do espaço
Dando no ar rabeada…
Você agarrada em mim
Subindo e descendo assim
Num voo, em galopada.

E nessa viagem alada
Eu feito aquele pavão
Mysterioso e formoso,
Fogoso nessa ação,
Fazendo um voo dos sonhos
Dando razantes medonhos
Co’as asas dessa paixão.

Se tudo isso é ilusão
Eu não quero acreditar
Que sou como um passarinho
Que se cansou de voar
E por delírio me faço
Cavalo alado, de aço,
Para você cavalgar.

Sem temer tempo no ar
Sem respeitar o espaço.


Jesus de Ritinha de Miúdo segunda, 22 de janeiro de 2024

UMA GLOSA - 26.03.23 (CORDEL DO COLUNISTA JESUS DE RITINHA DE MIÚDO)

 

UMA GLOSA

Jesus de Ritinha de Miúdo

Sobre este mote criado por meu amigo Manoel Pinheiro Netto

“A saudade é a dor que faz doer
E que marca em meu peito a cicatriz”,

e lembrando de uma pessoa muito querida que perdeu sua filhinha aos quatro anos de idade, eu escrevi a seguinte glosa:

Num minuto se foi minha alegria
Meu tesouro, meu tudo, meu amor,
O meu ar se perdeu, restou-me a dor
No lugar onde ela me sorria.
Minha vida tornou-se agonia
Num instante, fiquei tão infeliz
Que estar no lugar dela eu quis
Mas foi ela que Deus quis recolher
A saudade é a dor que faz doer
E que marca em meu peito a cicatriz.


Jesus de Ritinha de Miúdo domingo, 07 de janeiro de 2024

MINHA AGONIA (ÚLTIMOS VERSOS) - (POEEMA DO COLUNISTA JESUS DE RITINHA DE MIÚDO)

 

MINHA AGONIA (Últimos versos)

Jesus de Ritinha e Miúdo

Eu vivo lá no passado
Meu futuro se perdeu
Não tenho sequer presente
– Este tempo não é meu –
Parece que a natureza
Gerou-me para a tristeza
Quando o amor floresceu.

Sem luz, vivendo um breu,
Minha alma inquieta
Não crê mais que o tempo passa
Virou alma abjeta
Não sonha, não sente dor,
Hoje não crer mais no amor
Deixa aqui de ser poeta.

O silêncio me completa
De agora em diante
Os versos se calarão
Não falarão do instante
De quando nos misturamos
Do quanto nós dois gozamos
No tempo pouco distante.

Porque nós passamos do tempo.


Jesus de Ritinha de Miúdo sábado, 30 de dezembro de 2023

LEMBRANÇAS DO MEU AVÔ CHIQUINHO (CRÔNICA DO COLUNISTA JESUS DE RITINHA DE MIÚDO)

 

LEMBRANÇAS DO MEU AVÔ CHIQUINHO

Jesu de Ritinha de Miúdo

Sempre invejei quem na vida teve a figura dos avós.

Eu não tive.

Aliás, tenho o infortúnio de haver nascido treze anos depois da exata data em que minha avó paterna Norinha partiu deixando dez filhos. O mais velho contando quase vinte e três anos, o caçula contando sete meses incompletos.

Daí fui em segredo compartilhado apenas comigo mesmo na hora de dormir, quando rezava em sussuros pelos de minha família, adotando os avós dos amigos mais chegados: Birina e Seu Ciço Muniz avós de Tunéa, D. Perpétua avó dos meninos de D. Miriam, D. Ana avó dos meninos de Dodó; além do casal de vizinhos Baixinho e Toinha, que de fato nos ensinaram, a nós lá de casa, a chamá-los de avô e de avó.

Meu avós maternos morreram bem antes de eu nascer. Vovó Maria Pequena nos meados dos anos cinquenta, vovô Chico Ciano em sessenta e dois.

As únicas lembranças que ainda carrego de um avô de sangue são as lembranças de Vovô Chiquinho. Elas são apenas três. Uma delas eu já lutei para apagá-la.

Eu cheguei na casa do meu tio-avô Zeca Sapateiro, e vovô conversava com sua irmã Mariana. Uma perna estirada e a outra dobrada. Sentava-se “à meia bunda” numa balaustrada.

– Tome a bença do seu avô – ordenou-me a tia-avó.

–  Abença vovô?

Ele assanhou meus cabelos sorrindo, abençoou-me e perguntou por papai.

–  ‘Tá trabalhando – respondi. E essa lembrança acaba aqui.

A outra memória são apenas de suas calças azuis, para lá e para cá em um dia de festa. Eu sob a mesa do seu café, brincando com meu tio caçula, fruto do segundo casamento, mais velho que eu alguns meses.

A terceira lembrança, triste memória, traz Vovô Chiquinho deitado em seu último leito, não acordando para me dar a benção que eu, inocentemente, lhe pedi segurando o caixão com minhas duas mãos.

Eu tinha apenas três anos e nove meses.


Jesus de Ritinha de Miúdo quarta, 27 de dezembro de 2023

ÂNGELO E AUGUSTO (CRÔNICA DO COLUNISTA JESUS DE RITINHA DE MIÚDO)

 

ÂNGELO E AUGUSTO

Jesus de Ritinha de Miúdo

Eu tenho buscado, a fim de não parar ante os diários com notícias tétricas da atualidade, agarrar-me nas coisas trazendo alegria e sensação de paz.

Nessa busca encontrei o perfil do Instagram da pedagoga @lucigmaia.

Mãe de autistas, gêmeos, Luci (imagino que os próximos a chamem assim) é uma mulher além do seu tempo. Não se prendeu às dificuldades dos filhos, tampouco aos preconceitos certamente muito mais fortes e latentes na sociedade dos anos oitenta, e criou seus filhos Ângelo e Augusto com o verdadeiro amor e zelo que de uma mãe se espera.

Não se absteve da responsabilidade de mãe, nem parou nos reclames e mi-mi-mis dos que se fazem coitados, quando poderiam se fazer vencedores.

Uma mulher que passei a admirar com toda a minha devoção.

Parece-me que, altruísta social, Luci nos entrega diariamente vídeos dos seus filhos com a finalidade de “educar” e incentivar outros pais. Não sei se ela tem consciência, porém, os vídeos vão além desse papel. Eles alegram, divertem, emocionam demais e trazem paz na alma de quem os assiste, independentemente se temos anjos como os dela.

Ângelo e Augusto nos transmitem algo recheado de muita pureza. Não obstante suas limitações, ensinando-nos uma lição sublime: a felicidade reside no lugar onde a alma é mais simples.

Obrigado, Luci!

Portanto, quero dividir com vocês, queridos leitores deste JornaL da Besta Fubana:

ÂNGELO E AUGUSTO

São dois anjos na terra encarnados
Dois presentes de Deus para este mundo
Que num ato de amor firme e profundo
Nos mandou esse par de abençoados.
Já cresceram por muitos sendo amados
Cada dia despertam mais paixão
No sorrir de um irmão para outro irmão
Aprendemos a arte da bondade,
Inocência, pureza, sem maldade,
Como sermos melhor de coração.

Vão prendendo a nossa atenção
Na inocência, crianças já crescidas
Alegrando decerto outras vidas
Lhes enchendo de paz e emoção.
Nesses gêmeos já vemos a ação
De um Deus muito bom e provedor
Por usar Seu poder de criador
E fazer na candura dois tão belos,
Nos trazendo gigantes tão singelos
Deus mostrou o Seu mais perfeito amor.

Outra vez obrigado, Luci.


Jesus de Ritinha de Miúdo quinta, 21 de dezembro de 2023

PAULO BENÍCIO (CRÔNICA DO COLUNISTA JESUS DE RITINHA DE MIÚDO)

 

PAULO BENÍCIO

Jesus de Ritinha de Miúdo

O nosso maluco mais beleza nos deixou ontem.

 

Acary perde um dos seus patrimônios humanos mais caros.

E eu me lembrei agora de quando um deputado estadual, tentando a reeleição para Assembléia Legislativa do nosso estado, apertava-me o juízo a fim de votos através do meu apoio em Acary, não respeitando a minha vontade de ficar à margem naquela eleição.

Eu disse para ele “não insista que não vou me meter nessa campanha. Mas, se você quiser, eu tenho um amigo, Paulo Benício, que na última eleição municipal ficou na suplência da Câmara de Vereadores”.

O deputado se mostrou interessado e nós marcamos um encontro entre ele e Paulo Benício, no sábado à noite, lá no Bar de Augusto.

Na hora marcada o deputado, que voltava de Caicó, chegou em minha casa e nós marchamos para o encontro.

Eu liguei para Paulo. Em poucos minutos ele chegou com aquele cabelão, um short dois números a mais que o ideal, uma camiseta sem gola idem e, nos pés, um par de tênis estranhos.

Eu o apresentei com as pompas merecidas, tecendo os melhores elogios ao “homem público Paulo Benício”, enquanto ele próprio ia repetindo muito sério “isso! Isso!”, concordando comigo.

O deputado, cheio de cerimônias, levantou-se e apertou a mão de Paulo chamando-o de senhor, reiterando o prazer que era conhecê-lo. Mas olhou para mim um pouco desconfiado, tanto pela aparência, quanto pelo microfone meio enferrujado na mão do meu amigo.

Já Paulo, com aquele jeito meio bruto dele, disse logo “vamos ao que interessa. Quanto você tem pra me dar pelo apoio?”

O deputado se mostrando assombrado lhe perguntou quantos votos ele tivera.

– Nove! – rasgou Paulo orgulhoso e ainda mais sério. – Eu fiquei na vigésima sétima suplência – respondeu com aquele seu jeito de valorizar ainda mais as tônicas das palavras.

Ao saber o potencial político e a posição de suplente de Paulo, o deputado olhou para mim e exclamou com olhar de tristeza:

– Jesus…

– Vou deixar vocês fecharem o negócio – falei me despedindo e deixando-os lá, planejando o pleito.

O certo é que Paulo, reencontrando-me no outro dia, “p… da vida” com o deputado, falou-me com raiva:

– Aquilo é um liso! Pedi quinhentos mil reais, e ele veio me oferecer um guaraná – disse pondo os dois cantos da boca para baixo, fazendo uma careta de insatisfação. – Num me traga outro daquele nunca mais! ‘Tá ouvindo?

Deixará saudade no coração do nosso povo.

Fará discursos nas praças do céu.

O outro Jesus com certeza lhe dando a mesma corda, que este aqui sempre deu.


Jesus de Ritinha de Miúdo terça, 19 de dezembro de 2023

DUAS GLOSAS - 09.06.2023 (CRÔNICA DE JESUS DE RITINHA DE MIÚDO)

 

DUAS GLOSAS

Jesus de Ritinha de Miúdo

Sinto a nossa esperança se queimado
Na fogueira da seca nordestina.

Sobre o mote acima, do poeta Diomedes Mariano, o tabirense Marcílio Pá Seca Siqueira escreveu a seguinte glosa:

Quando a nuvem da chuva foi embora
Que o vento passou varrendo o chão
Vi na lama rachada do porão
Um carão que tristonho geme e chora
Uma vaca turina numa escora
Um bezerro mamando na turina
Sem achar uma gota pequenina
Na cacimba de amor que tá sugando
Sinto a nossa esperança se queimado
Na fogueira da seca nordestina.

Eu tenho dito quando posso que o poeta Marcílio é um entre os maiores poetas populares contemporâneos deste país. Seus versos são gigantes.

Prestem atenção na beleza do oitavo verso, na genialidade do poeta em transformar os peitos de uma vaca em “cacimba de amor”. Nada é mais lírico!

Bom, ainda inebriado sob a beleza dos versos de Marcílio, eu, Jesus de Ritinha de Miúdo, seridoense e potiguar de Acary, havendo recebido o trabalho dele por WhatsApp, pelo mesmo meio lhe respondi com versos meus, que ora trago para os leitores do JBF.

Ei-los:

Vejo a dor do menino retirante
Pés descalços no barro da estrada
Rosto sério em triste caminhada
Sob um sol sem clemência e escaldante.
Seu futuro é um tempo tão distante
Que fugiu do alcance da retina
Seu olhar de lamento se neblina
Por lembrar do torrão que vai deixando
Sinto a nossa esperança se queimando
Na fogueira da seca nordestina.


Jesus de Ritinha de Miúdo terça, 12 de dezembro de 2023

DUAS GLOSAS - 04.06.2023 (CRÔNICA DO COLUNISTA JESUS DE RITINHA DE MIÚDO)

 

DUAS GLOSAS

Jesus de Ritinha de Miúdo

Ontem eu fui surpreendido por uma espécie de êxtase que só me acomete quando tenho contato com algo que, para mim, é sublime demais como arte.

O poeta tabirense Marcílio Pá Seca Siqueira enviou-me pelo WhatsApp uma glosa sobre o mote do poeta Júnior Monteiro, e eu ouso em dizer que ambas as construções – mote e glosa – beiram a perfeição na construção de uma poesia no estilo próprio.

O mote:

“Minha vida sem ela é um xadrez
Que não tem mais a peça da rainha.”

Eis o que Marcílio inspirado divinamente escreveu:

Tá sem cor e sem vida o tabuleiro
O meu bispo sem cetro e sem batina
Meu cavalo pendeu caiu a crina
Meu peão sem a dama e sem roteiro
O meu rei sem castelo e sem dinheiro
Minha torre sem luz e camarinha
A rainha cansada de ser minha
Deu um xeque na minha embriaguez
“Minha vida sem ela é um xadrez
Que não tem mais a peça da rainha”

Diante de tão extraordinária composição, e seguindo a visão do tabuleiro criado por Marcílio, eu me arrisquei em glosar também.

De minha mente saíram os seguintes versos:

Eu tentei dar um roque foi em vão
Sou um rei acuado e sem saída
Quanto mais eu me mexo na partida
Mais eu sinto que perco a posição.
Já não tenho nenhuma proteção
‘Tou cercado e exposto sob a linha
Do amor, que era só o que mantinha
Certa fé na vitória e solidez
“Minha vida sem ela é um xadrez
Que não tem mais a peça da rainha.”


Jesus de Ritinha de Miúdo segunda, 04 de dezembro de 2023

JARDIM DA SAUDADE (VERSOS DO COLUNISTA JESUS DE RITINHA DE MIÚDO)

 

JARDIM DA SAUDADE

Jesus de Ritinha de Miúdo

Foto cedida gentilmente por Maria Izabel, amiga deste colunista

 

Na lembrança da casa onde cresci
Eu me vejo sentado no batente
Com os olhos fechados até sinto
Que o passado invadiu o meu presente
Ouço sons que parecem tão reais
Sinto o cheiro da pele dos meus pais
Invadindo o meu peito e a minha mente.

Um chocoalho balança bem plangente
E me traz muito mais recordações
Eu me lembro papai, todo encourado,
Conduzindo seu gado nos grotões
Já mamãe, eu recordo, cuidadosa
No jardim da saudade ela é a rosa
Mais bonita das minhas sensações.


Jesus de Ritinha de Miúdo sábado, 02 de dezembro de 2023

MEU NOME (CRÔNICA DO COLUNISTA JESUS DE RITINHA DE MIÚDO)

 

Dr. Joel, médico em Currais Novos nas eras de setenta do século passado, garantiu a mamãe que eu estava sentado “na barriga” dela.

– Provavelmente teremos uma cesariana – afirmou.

Mamãe, com dois partos normais nas “coxas”, morrendo de medo de cirurgia, ajoelhou-se em casa e prometeu a Deus numa oração:

– Se o bebê nascer de parto normal, dou-lhe o nome de Jesus. – E acrescentou: Que seja menino ou menina.

Papai concordou.

Eu lembro como se fosse hoje. De agorinha. Dei uma cambalhota – na verdade um triplo mortal carpado – dentro da barriga dela e já caí na posição de nascer. De cabeça para baixo. Bem bonitinho.

Vim ao mundo na vizinha Currais Novos numa segunda-feira de Carnaval, com a marchinha Aurora tocando num carro de som. Parto normal, apesar do cordão umbilical passando no pescoço.

“Um menino nos nasceu”. Nasceu Jesus.

Daí o velho Padre Deó, sabendo da promessa de mamãe, passou no Fórum e deixou um recado para papai com a dona do Cartório de Registros Civis, isso já em Acary:

– Maricota, quando Miúdo vier batizar o menino dele, diga-lhe que coloque um nome antes de Jesus. Senão não batizo. – E acrescentou: – D’onde já se viu botar o nome de Jesus num pecador? É uma blasfêmia!

Papai recebeu o recado.

– E agora? Que danado de nome vou botar na frente de Jesus? – perguntava enquanto pensava “não posso ter um filho pagão.”

Minha irmã Josélia, sete anos mais velha que eu, impactada por um filme de Joselito, astro infantil mexicano naqueles dias fazendo sucesso no Cine São José, de Acary, pediu com insistência e quase gritando, agarrando papai pelo braço:

– Bote Joselito, pai! Bote Joselito!

Papai ponderou. Os dois primeiros filhos já tinham nomes começados com a letra jota.

– Bote aí, Maricota. Bote bem assim: Joselito Jesus de Araújo Silva.

Eu!

E papai tinha razão. Joselito é um nome danado. Danado de feio. A verdadeira blasfêmia? Um nome desses ante o de Jesus.

Se o padre foi ignorante, o povo foi sábio. Virei na voz do povo Jesus de Ritinha de Miúdo. E, dizem, a voz do povo é a voz de Deus.

Pronto!
Por isso eu gosto mesmo é que me chamem assim: Jesus de Ritinha de Miúdo.

Quase nome de santo de verdade.

Se o Papa Chico me canonizar em vida não fará mais que sua obrigação.


Jesus de Ritinha de Miúdo terça, 28 de novembro de 2023

VIAGEM (CRÔNICA DO COLUNISTA JESUS DE RITINHA DE MIÚDO)

 

VIAGEM

Jesus de Ritinha de Miúdo

Peguei as veredas do teu corpo e deslizei meus olhos nas curvas da tua beleza.

Percorri teus sertões sedento por tuas águas, imaginando matar a minha sede no ribeiro delicioso que escorre dividindo teus montes.

Por entre tuas serras.

Aos meus olhos és também como nuvem benfazeja, esperada com ansiedade.

Oh, vem chover em mim! Pois, quero ser areia com calor para produzir mormaço em nós.

Se eu percebo um inverno inteiro dentro de ti?

Sim! E eu quero ser eletrizado pelos teus raios, sem me assombrar com os estrondos dos trovões em teus sussuros. Tua chuva não pode parar de molhar meu chão.

Também olho o teu corpo como um vale fértil. Tens a planície do meu desejo.

Tu tens fartura no olhar, e eu insisto em olhar-te com meus olhos de terra seca, pedinchona por uma inundação de ti.

Tua carne – que imaginei fria após teu banho – chamou meus olhos para este passeio, meio apressado, enquanto te arrumavas e me seduzias com teu olhar de brejo.


Jesus de Ritinha de Miúdo quinta, 23 de novembro de 2023

DE MASSAS, QUEIJOS E SALAMES (CRÔNICA DO COLUNISTA JESUS DE RITINHA DE MIÚDO)

 

DE MASSAS, QUEIJOS E SALAMES

Jesus de Ritinha de Miúdo

Um homem foi chamado e entrou na casa de seu vizinho na hora do jantar.

Sentou-se à mesa que estava posta e, para se sentir ainda mais visto e confortável, abriu uma sacola de supermercado para distribuiu às pessoas pães, queijos e salames.

Em troca recebeu sorrisos e afagos através de elogios.

Sem os donos perceberem, na saída, levou objetos caros da estante e os vendeu para adquirir mais pães, mais queijos e mais salames.

No outro dia tudo se repetiu. Desde o convite até o furto dos objetos.

Apenas uma coisa mudou: com a confiança do vizinho, o homem andou por outros cômodos da casa.

E nessa incursão surrupiou pequenos objetos mais valiosos, estuprou a filha primogênita, matou o gato, quebrou as patas do cachorro e agrediu o casal dono da casa.

Houve um imenso alarido.

Um policial que caminhava próximo ouviu os gritos e resolveu averiguar. Entrando na casa, ele encontrou o rastro de sangue e as pessoas feridas. No entanto, os pequenos objetos furtados já não estavam mais na posse do homem.

Mesmo assim o policial o prendeu.

Porém, um juiz entendeu que aquele homem havia sido convidado a entrar na casa e que os gritos e os machucados poderiam ter sido autoflagelação apenas para incriminá-lo e que, assim, ele deveria ser libertado. Ademais, o policial que o prendeu estava “à paisana”.

O homem, agora livre, voltou a passear pela frente da mesma residência, com uma sacola de supermercado ainda mais cheia de pães, de queijos e de salames. Até que um dia o filho caçula daquela gente, inocentemente, abriu a porta e lhe chamou.

Era bem a hora do jantar.

O casal e sua a filha mais velha foram contra. Mas nada puderam fazer porque o homem estava na companhia justamente do juiz que o libertou.

Agora eu lhe pergunto, caro leitor, qual as chances de todos os atos do homem serem repetidos, mesmo sob o nariz do magistrado?


Jesus de Ritinha de Miúdo quinta, 16 de novembro de 2023

VIDA (TEXTO DE JESUS DE RITINHA DE MIÚDO, COLUNISTA DESTE ALMANAQUE)

 

VIDA

Jesus de Ritinha de Miúdo

O paraibano de Paulista, Derosse Júnior, vaqueiro dos bons por gosto e livre escolha profissional, também poeta por descanso da alma, escreveu em um grupo de WhatsApp os versos que seguem:

A vida segue em frente
Mas o que é bom vai ficando
A imagem a mente grava
E o coração vai guardando
A emoção a saudade
Que inunda que invade
E nele vai se alojando.

Este colunista, seridoense do Acary potiguar, inspirado nos versos do amigo paraibano, assim que os leu, lhe respondeu no mesmo estilo:

A vida é como um galope
Que a gente vai controlando
Pelas rédeas do destino,
No acaso cavalgando…
Às vezes vira um trote
Nem precisa de chicote
Pra vida seguir andando.

Muitas vezes esporando
O passo da vida altera…
Puxar rédeas, dar um freio,
E a carreira modera
Trazendo à marcha – a vida –
Controlando com a brida
Mas, ela teima e acelera.

E assim seguimos nós.


Jesus de Ritinha de Miúdo terça, 07 de novembro de 2023

MEU NOME EM CRACHÁS (CRÔNICA DE JESUS DE RITINHA DE MIÚDO, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

MEU NOME EM CRACHÁS

Jesus de Ritinha de Miúdo

O meu nome me faz viver certas situações engraçadas. Outras vezes constrangedoras. Dentre as centenas eu separei uma para contar hoje.

Quando universitário eu fui passar uma semana em Fortaleza participando do ENEAD – Encontro Nacional dos Estudantes de Administração.

 

 

 

 

Ficamos quase todos alojados num único clube da cidade. Milhares de alunos e ex-alunos, também, do referido curso.

Nossa caravana partiu de Currais Novos o dia ainda estava escuro e chegou ao meio dia na Terra da Virgem dos Lábios de Mel. Uma fila com centenas de estudantes ocupava as calçadas de alguns quarteirões, para o recebimento do crachá de indentificação, mais a pulseira de acesso aos ambientes do encontro. Logo essa fila se tornou quilométrica.

Chegando a minha vez, uma mocinha respondeu ao meu boa-tarde e perguntou para o preenchimento manual do crachá:

– O nome do senhor, por favor?

– Jesus – respondi de pronto.

Ela olhou para mim, baixou a cabeça e repetiu a pergunta.

– O nome do senhor. Por favor.

Voltei a responder “Jesus”.

A mesma pergunta se repetiu a terceira vez, obtendo a mesma resposta. Afinal não havia outra resposta.

Na quarta vez que ela me questionou, sem me olhar nos olhos e balançando negativamente a cabeça, eu já notei certa irritação em sua voz.

A irritação foi demonstrada sem qualquer cerimônia quando, recebendo novamente a minha resposta, ela levantou a cabeça e olhou para mim querendo me fulminar com o olhar.

– Moço, não estou aqui para brincadeiras. Eu sei que o nome do Senhor é Jesus. Leio a Bíblia! ‘Tá? – e apontando com pincel para a fila continuou: – Olhe o tamanho dessa fila. Então. Me diga por favor o nome do senhor. Certo?

A última palavra veio com os dentes quase trincados.

– Moça, sei que a senhora está perguntando o meu nome – falei evidenciando os últimos fonemas – e eu estou lhe dizendo que “o meu nome” é Jesus. Eu me chamo Jesus.

Eu fiz questão de falar soletrando a última frase.

– Ah! Então o senhor se chama Jesus? – perguntou-me com olhos arregalados.

– Sim! É isso que eu estou tentando dizer à senhora. Jesus é o meu nome desde a barriga de mamãe – falei rindo disfarçadamente da confusão feita por ela.

– Entendi. Desculpe-me.

Eu, como um bom Jesus, perdoei-lhe.

Recebi meu crachá.

Daí não sei quantas vezes naquele ENEAD eu tive que responder a pergunta “sério?! Seu nome é Jesus?”

Bom. Era o que estava escrito no crachá.


Jesus de Ritinha de Miúdo quinta, 26 de outubro de 2023

UMA TAMPA DE CRUSH! (CRÔNICA DE JESUS DE RITINHA DE MIÚDO, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

UMA TAMPA DE CRUSH!

Jesus de Ritinha de Miúdo

Dois colunistas do JBF tomando uma na bodega

 

Quinta-feira passada eu visitei a bodega do inigualável Jessier Quirino.

Tomei uma lapada de cana com tira-gosto de simpatia, mais um petisco bem assado da simplicidade desse nordestino arretado. Fora os caldos de causos e risadas servidos no balcão do estabelecimento.

E o bodegueiro, que em nada ficou adormecido, ainda me serviu com altruísmo um prato quentinho de conhecimento sobre a cultura matuta do sertão de todos nós.

Lá eu voltei ao passado e carreguei embrulhada num papel de bodega a sensação de pertencimento naquele pedacinho de paisagem do interior, que eu levo nas lembranças das bodegas de minha infância, lá no Acary do meu amor.

Da hospitalidade de Jessier Quirino me abasteci de um caminhão completo de satisfação.

O meu coração ficou alegre feito um pinto ciscando um terreiro coberto todinho de Vitamilho, e minha alma segura feito um parafuso de cabo de serrote, apertado na certeza de que o Nordeste é um país sem par. Jessier sendo hoje o seu maior embaixador.

Deixei meu nome escrito na caderneta dos sonhos da bodega, em um fiado que só pagarei noutra visita, desde que eu já possa fazer outro fiado, deixando-o pendurado no prego da melhor saudade.

Viva Jessier Quirino, o tampa de Crush!

O original!

O maior do Nordeste!

 

 

(Em memória dos bodegueiros acarienses Pacanã, Gabriel Severiano, Chico Torres, Tomaz Araújo, Zé Birro, Marcos de Pernambuco, Zé de Nequim e Chico da Bodega. As bodegas da minha infância)


Jesus de Ritinha de Miúdo segunda, 16 de outubro de 2023

PETER PARKER (CONTO DE JESUS DE RITINHA DE MIÚDO, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

PETER PARKER

Jesus de Ritinha de Miúdo

Quinta-feira passada no café da manhã do hotel em João Pessoa, um lugar de pouco espaço entre os móveis, um garotinho aparentando seus cinco anos corria desembestado – como diria o povo lá de nós – entre as cadeiras repletas de turistas vindos em uma caravana do Sul.

O pai, sentado à mesa com a mãe, apenas reclamava de leve quando o menino passava próximo de onde estavam, chamando-o pelo nome:

– Heitor!

Depois dizia sem ser ouvido pelo filho um “você cai” meio sem graça.

Do meu canto eu ficava vendo o menino “tirar fino” nas mesas, nas pessoas e na ilha de comidas expostas, esperando só o grito de alguém e torcendo para ninguém se machucar. Torcer era tudo que podia fazer.

Uma senhora levantou-se no corredor central. Nas mãos uma xícara e um prato.

Não deu tempo de desviar. Na carreira que vinha o menino bateu na lateral do seu corpo. Xícara e pratos no chão. Por sorte a senhora foi amparada por alguém.

– Heitor!

O pai se levantou e agarrou a criança brutalmente pelos braços.

– Não se levante mais daí – vociferou jogando literalmente o filho numa cadeira. – Está me ouvindo? – perguntou irritado.

A esposa se limitou em dizer que havia avisado.

Eu fiquei pensando por que ele não tomaram uma atitude antes?

Heitor ficou sentado ao meu lado direito, com os olhos marejando.

Lembrei-me dos meus dois netos. Especialmente de Levi, com quem o menino do hotel guarda certa semelhança.

Fiquei pensando que aquela criança não tem nenhuma culpa do despreparo dos pais. Talvez sua desobediência seja apenas “um produto do meio”. Bateu um dó em mim…

– Oi, Heitor – puxei assunto.

Ele me olhou desconfiado e voltou-se ao pai, como se quisesse dizer “esse desconhecido está falando comigo”.

– Fala com o tio – compreendeu o pai.

– Oi! Eu sou o Heitor – ele respondeu com os olhos ainda muchos de vergonha.

– Seu nome é bonito. O meu também é.

– Como o tio se chama? – Quis saber.

– É um segredo. Se eu lhe contar promete não falar para ninguém? – aticei sua curiosidade.

– Prometo! – respondeu já se animando com “o segredo” e esquecendo o ocorrido.

Olhei para os seus braços. Estavam vermelhos. As marcas dos dedos do pai em sua pele branquinha.

– Promete mesmo?

– Sim!

O sim dele já veio recheado por aquela ansiedade própria das crianças.

Então. Eu me voltei para o seu lado, inclinei meu tronco e falei arregalando um pouco os meus olhos, como se revelasse algo muito importante:

– Peter Parker.

– Ô pai, o tio é o Homem Aranha! – Seu grito ecoou pelo restaurante. – O Homem Aranha, pai!

– Ssiu! Não fale alto, Heitor. O Duende Verde pode estar aqui – pedi pondo meu indicador nos lábios.

– Certo. Certo!

– Agora somos amigos – falei com a mão fechada para ele bater.

Seus olhos já eram todo alegria.

Eu amo fazer essa brincadeira do Homem Aranha com crianças.

E Heitor comeu sentado, educadamente e sem mais contratempos.

À noite o pai de Heitor me revelaria que ele passou o dia todo pedindo segredo às pessoas, e confessando quase cochichando:

– Eu sou amigo do Homem Aranha.


Jesus de Ritinha de Miúdo terça, 10 de outubro de 2023

DE CONVERSAS QUE ME INSPIRAM (CRÔNICA DE JESUS DE RITINHA DE MIÚDO, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

DE CONVERSAS QUE ME INSPIRAM

Jesus de Ritinha de Miúdo

Ontem na fila do almoço do Hotel Aram Imirá Beach Resort, onde eu estava dando um treinamento para a equipe comercial do nosso distribuidor aqui do Rio Grande do Norte, testemunhei uma conversa exageradamente engraçada. E constrangedora também.

 

 

Uma senhora à minha frente trazia uma tatuagem nas costas, na altura da “par direita”, como diria minha querida Tia Santa. Era um rosto um tanto quanto esquisito em virtude do enrugamento natural daquela parte do corpo, quando carne e pele não conseguem mais resistir aos poderes da famosa Lei de Newton e descem das costas como se quisessem fazer parte de outra parte.

Abaixo desse mesmo rosto havia ainda a criação de John Wallis, contemporâneo do mesmo Newton, ou seja, havia o número “oito deitado” sobre um coração, simbolizando “amor eterno”. Foi assim que eu interpretei.

Já pelas cores desbotadas dos desenhos, eu vinha calculando a idade da tatuagem em uns… quinze anos. No mínimo. O que coincidia com a segunda data tatuada ao lado do coração: 2008. A outra data era 1958 sobre duas argolas que eu entendi como alianças. As datas eram separadas pelo coração.

Toda essa arte simbólica sendo imprensada e um pouco descaracterizada pela ação do tempo.

Ela, digo, a senhora, servia-se da feijoada quando um senhor bem atrás de mim – aliás, apenas eu os separava – conversou animado e em tom de admiração:

– Nossa como a senhora é fã do Amigo da Onça. Até tatuou o rosto dele nas costas!

Eu não sei quantas vezes aquela senhora é abordada com tal comentário; mas, ela virou-se tão rapidamente que temi sua feijoada caindo do prato sobre os meus pés e dei, por puro reflexo, um passo atrás, deixando-os frente à frente.

– Fala comigo? – ela perguntou altiva.

O senhor respondeu que sim, acrescentando que na infância adorava as piadas do Amigo da Onça.

Eu vi o rosto da senhora se contrair, acentuando ainda mais as rugas na pele branca. Com um sotaque que muito me pareceu ser do outro Rio Grande, ela respondeu:

– Pois, saiba o senhor que este rosto é do meu saudoso marido Péricles – e concluiu demonstrando bastante chateação – seu indelicado!

O senhor olhou para mim com um misto de vergonha e decepção no olhar, enquanto a senhora saiu irritada da fila para se sentar uns quatro metros à nossa frente.

– Rapaz, que coincidência! O Péricles dela era a cara do personagem do outro Péricles – ele falou quase num cochicho.

Eu ri um pouco por fora, segurando como pude a gargalhada querendo explodir do meu peito.

– Aqui para nós dois – baixei o tom de minha voz ao nível da dele, pisquei marotamente um olho e lhe confessei – eu também jurava ser uma homenagem ao Amigo da Onça.

Ríamos juntos quando um turista gritou lá atrás “anda a fila”.


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