Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

MPB da Velha Guarda sexta, 02 de dezembro de 2022

CHORA, DOUTOR, SAMBA, COM BLECAUTE - 1959

 

 


MPB da Velha Guarda domingo, 27 de novembro de 2022

GERALDO MEDEIROS E O ZÉ CARIOCA NO FREVO

 

 
GERALDO MEDEIROS E O ZÉ CARIOCA NO FREVO

Raimundo Floriano

 

 

Geraldo Medeiros

 

Zé Carioca frevando 

                        O frevo de rua é um tipo de música alegre, vibrante, vívida, contagiante. Mas há frevos de rua mais animados que os outros, os quais fazem os foliões recobrarem o gás e caírem no cordão, mesmo estando cansados ou caindo pelas tabelas de tanto pularem.

 

                        Em minha experiência de trombonista de Carnaval, especializado em salões de clubes e em blocos de sujos, classifico três deles nessa valiosa categoria: VassourinhasFogão, e Zé Carioca no Frevo.

 

                        Os dois primeiros botam pra derreter em qualquer situação. Geralmente, um é executado após o outro, emendados, como a corda e a caçamba. No tríduo momesmo pernambucano, é o que mais se ouve pelas ruas do Recife ou de Olinda. Já o Zé Carioca no Frevo, em que pese sua beleza e andamento, parece que ficou esquecido naquelas paragens.

 

                        Mas em Balsas, minha cidade natal, no sertão sul-maranhense, é, sobremaneira conhecido e executado. Eu, com meu trombone de vara, Leonizard Braúna no sax, Zé Raimundo no pistom e Edvaldo na sanfona, acompanhados pela Banda FM, do cantor Félix Matias, constituída de baixo, guitarra, teclado e competente bateria, botávamos pra quebrar nos salões do Clube Recreativo Balsense de outrora. Era só puxar o Zé Carioca no Frevo, e o povo se danava no passo, pulando, frevendo, desembestando.

 

                        Mas eu digo era. Todos os músicos balsenses acima citados já se foram. E eles, com seus instrumentos, já não fariam mais faz sucesso neste Século XXI, com seus axés, raps e funks. Nem mesmo lá em meu sertão.

 

                        Antes de mostrar-lhes esse famoso frevo, vou falar um pouco do seu compositor, muito pouco mesmo, pois dele quase nada se tem registrado, tampouco existindo foto sua. A maior parte do que aqui exponho é baseada na Enciclopédia da Música Brasileira - Erudita, Folclórica e Popular, da Art Editora Ltda.

 

                        Geraldo Medeiros dos Santos, instrumentista, compositor e arranjador, nasceu em Areia, PB, a 28.11.1917.

 

                        Neto de um Maestro de Banda em Guarabira, PB, iniciou os estudos musicais com Pedro Rodrigues, continuando-os mais tarde com o avô.

 

                        Em 1938, era maestro da Banda da Escola Correcional de Pindobal, em Mamanguape, PB. Transferindo-se para a Capital, integrou, como pistonista, a Jazz Tabajara, de João Pessoa, passando a Primeiro Pistonista quando o Maestro Severino Araújo assumiu o comando do grupo, a partir daí chamado Severino Araújo e Sua Orquestra Tabajara.

 

                        Em 1944, foi para o Rio de Janeiro, estreando com a Orquestra Tabajara na Rádio Tupi em janeiro de 1945. Teve, com a orquestra, sua primeira música gravada, Zé Carioca no Frevo.

 

                         O título da música é uma alusão Zé Carioca, apelido do papagaio José Carioca, criado no começo da década de 40 pelos estúdios Walt Disney, em turnê pela América Latina, que fazia parte dos esforços dos Estados Unidos para reunir aliados durante a Segunda Guerra Mundial, esforço esse denominado Política da Boa Vizinhança.

 

                        Trabalhou em outras orquestras, como a de Ary Barroso, viajando pela América Latina e pela Europa, e na que ele mesmo constituiu, denominada Geraldo Medeiros e Sua Orquestra.

 

                        Como compositor, destacou-se com O Sanfoneiro Só Tocava Isso, arrasta-pé, com Haroldo Lobo, Bum-qui-ti-bum, maracatu, Pé na Tábua, frevo, Maxixando, maxixe, A Dança do Caranguejo, marcha, com Nestor de Holanda, Cala a Boca, Etelvina, samba, Centenário, frevo, Mamãe Não Quer Dar, frevo, Ranchinho da Saudade, marcha, com Alípio Miranda, Saia Branca, samba, e Malicioso, choro. Com Jorge Tavares, seu parceiro mais constante, compôs Maracatucá, maracatu, Saia Curta, marcha, Bogari, baião, e O Baile Começou, baião.

 

                        Trabalhou como pistonista e com sua orquestra em várias emissoras de rádio e televisão, além de inúmeras gravações acompanhando diversos intérpretes.

 

                        Informações obtidas com a Editora Revivendo, quanto à data, e com o pesquisador Renato Phaelante, quanto ao local, dão conta de que Geraldo Medeiros faleceu a 13 de julho de 1978, na cidade do Rio de Janeiro, RJ.

                       

                        A seguir, pequena amostra do trabalho desse grande compositor da MPB.

 

                        Inicialmente, este youtube com Tonico e Tinoco interpretando o arrasta-pé O Sanfoneiro Só Tocava Isso, de Geraldo em parceria com Haroldo Lobo:

 

                        E, a seguir, outros sucessos de sua autoria: 

 

                        A Dança do Caranguejo, marchinha, em parceria com Nestor de Holanda, gravação com os Vocalistas Tropicais, 1947:

 

                        Cala a Boca, Etelvina, samba, gravação com Jorge Veiga, 1950:

 

                        Centenário, frevo de rua, gravação com a Orquestra Tabajara, 1954:

 

                        Mamãe Não Quer Dar, frevo-canção, gravação com Manezinho Araújo, 1947:

 

                        Ranchinho da Saudade, marchinha, em parceria com Alípio Miranda, gravação com de Pato Preto, 1951:

 

                        Saia Branca, samba, gravação com Cauby Peixoto, 1951:

 

                        Saia Curta, marchinha, em parceria com Jorge Tavares, gravação com Safira, 1951:

 

                        Zé Carioca no Frevo, frevo de rua, gravação com Geraldo Medeiros e Sua Orquestra, 1949 (Atenção para o diálogo entre as palhetas e os metais):

 


MPB da Velha Guarda sábado, 26 de novembro de 2022

MARLENE E A MPB DE MEIO DE ANO
MARLENE E A MPB DE MEIO DE ANO

Raimundo Floriano

 

 

                        Marlene, nome artístico de Victória Bonaiuti de Martino, depois Victória Bonaiuti Delfino dos Santos, nasceu em São Paulo (SP), a 22 de novembro de 1922, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), a 13 de junho de 2014, com quase 92 anos de idade, vítima de severa pneumonia. Cantora, compositora e atriz brasileira, foi casada com o ator Luís Delfino.

 

                        Tendo gravado mais de quatro mil canções em sua carreira, Marlene – junto com Emilinha Borba – foi um dos maiores mitos do rádio brasileiro na época de ouro. Sua popularidade nacional também resultou em convites para o cinema – fez onze filmes –, e para o teatro – cinco peças –, tendo também trabalhado em cinco shows do teatro de revista Suas atividades internacionais incluíam turnês pelo Uruguai, Argentina, Estados Unidos – onde se apresentou no Waldorf-Astoria Hotel e em Chicago – e França, onde se atuou por quatro meses e meio no Teatro Olympia, em Paris, a convite de Édith Piaf, que a vira no Copacabana Palace, no Rio.

 

                        Nascida na capital paulista, no bairro da Bela Vista, conhecido reduto de ítalo-brasileiros, seus pais eram italianos, era a mais nova de três filhas. Herdou o nome do pai, que morreu sete dias antes de seu nascimento. A viúva, Antonieta, não se casou novamente, e criou sozinha as filhas, dando aulas de alfabetização, no Instituto de Surdos e Mudos de São Paulo, e como costureira.

 

                        Devota da Igreja Batista, a mãe internou-a no Colégio Batista Brasileiro, cujas mensalidades foram dispensadas em troca de serviços prestados ao colégio, como arrumação dos quartos. Marlene estudou ali dos nove aos quinze anos, destacando-se nas atividades esportivas, assim como no coro juvenil da igreja.

 

                        Ao deixar o colégio, foi cursar a Faculdade de Comércio, situada na Praça da Sé, com o objetivo de se tornar Contadora. Na mesma época, empregou-se, durante o dia, num escritório comercial. É quando começa a participar de uma entidade de estudantes, recém-formada, passando a dispor de um espaço na Rádio Bandeirantes, A Hora dos Estudantes, programa em que atuaria como cantora. Foi quando seus colegas estudantes, por eleição, escolheram seu nome artístico, em homenagem à atriz alemã Marlene Dietrich.

 

                         Victória acabou deixando o curso em segundo plano, priorizando sua atividade artística. Então, em 1940, estreou como profissional na Rádio Tupi de São Paulo. Tudo isto, no entanto, fez escondido da família que, devido a razões religiosas e sociais vigorantes na época, não poderia admitir uma incursão no mundo artístico. O pseudônimo esconderia sua verdadeira identidade até ser descoberta faltando aulas por causa de seu expediente na rádio, o que resultou num castigo exemplar da parte de sua mãe. Mas ela já estava decidida a seguir carreira.

 

                        Assim, em 1943, cercada pela desaprovação da família, partiu para o Rio de Janeiro, onde, após ser aprovada no teste com Vicente Paiva, passou a cantar no Cassino Icaraí, em Niterói. Ali permaneceu por dois meses até conhecer Carlos Machado, que a convidou para o Cassino da Urca, contratando-a como vocalista de sua orquestra.

 

                        Em 1946, houve a proibição dos jogos de azar e o consequente fechamento dos cassinos por decreto do presidente Eurico Gaspar Dutra. Marlene, então, mudou-se com a Orquestra de Carlos Machado para a Boate Casablanca. Dois anos depois, tornou-se artista do Copacabana Palace, a convite de Caribé da Rocha, que a promoveu de crooner a estrela da casa.

 

                        Passou, então, a atuar também na Rádio Mayrink Veiga e, no ano seguinte, na Rádio Globo. Nesse ínterim, já se tinha dado sua estreia no disco, pela Odeon, em meados de 1946, com as gravações dos sambas Suingue no Morro de Amado Régis e Felisberto Martins, e Ginga, Ginga, Moreno, de João de Deus e Hélio Nascimento Mas foi no Carnaval do ano seguinte que Marlene emplacou seu primeiro sucesso, com a marchinha Coitadinho do Papai, de Henrique de Almeida e M. Garcez, em companhia dos Vocalistas Tropicais, campeã do concurso oficial de músicas carnavalescas da Prefeitura do Distrito Federal. E foi cantando essa música que ela estreou no Programa César de Alencar, na Rádio Nacional, com grande sucesso, em 1948.

 

                        Marlene se tornaria uma das maiores estrelas da emissora, recebendo o slogan Ela que canta e dança diferente. Ainda nesse ano, foi contratada pela gravadora Continental, estreando com os choros Toca, Pedroca, de Pedroca e Mário Morais, e Casadinhos, de Luís Bittencourt e Tuiú, este cantado em duo com César de Alencar. Marlene esperou o fim de seu contrato com o Copacabana Palace para abandonar os espetáculos nas boates, dedicando-se ao rádio, aos discos e, posteriormente, ao cinema e ao teatro.

 

                        Nessa época, a maior estrela da Rádio Nacional era Emilinha Borba, mas as irmãs Linda e Dircinha Batista eram também muito populares, e as vencedoras, por anos consecutivos, do concurso para Rainha do Rádio. Esse torneio era coordenado pela Associação Brasileira de Rádio, sendo que os votos eram vendidos com a Revista do Rádio, e a renda era destinada para a construção de um hospital para artistas. Então, em 1949, Marlene venceu o concurso de forma espetacular. Para tal, recebeu o apoio da Companhia Antarctica Paulista. A empresa de bebidas estava prestes a lançar no mercado um novo produto, o Guaraná Caçula, e, atenta à popularidade do concurso, pretendia usar a imagem de Marlene, Rainha do Rádio, como base de propaganda de seu novo produto, dando-lhe, em troca, um cheque em branco, para que ela pudesse comprar quantos votos fossem necessários para sua vitória. Assim, Marlene foi eleita com 529.982 votos. Ademilde Fonseca ficou em segundo lugar, e Emilinha Borba, dada como vencedora desde o início do concurso, ficou em terceiro. 

 

                        Desse modo, originou-se a famosa rivalidade entre os fãs de Marlene e Emilinha, uma rivalidade que, de fato, devia muito ao marketing e que contribuiu expressivamente para a popularidade espantosa de ambas as cantoras pelo país. Prova disso foram as gravações que elas fizeram em dueto naquele ano, com o samba Eu Já Vi Tudo, de Amadeu Veloso e Peter Pan, e a marchinha Casca de Arroz, de Arlindo Marques Jr. e Roberto Roberti, sucessos no Carnaval de 1950, e, no começo desse ano, com a marchinha A Bandinha do Irajá, de Murilo Caldas, também sucesso carnavalesco.

 

                        A eleição para Rainha do Rádio ainda lhe rendeu um programa exclusivo na Rádio Nacional, intitulado Duas Majestades, e um novo horário no Programa Manuel Barcelos, em que permaneceu como estrela até o fechamento do auditório da Rádio Nacional. A estrela Marlene ajudou vários colegas seus, inclusive usando seu prestígio e influência junto à direção da Rádio Nacional. Trouxe para a emissora, as vozes de Jorge Goulart e Nora Ney, que ali permaneceram por décadas, só saindo por causa de problemas com o governo da época do poder militar no país.

 

                        Marlene manteve o título ainda pelo ano seguinte. Ela então passou a ser cantora exclusiva do programa Manuel Barcelos, enquanto que Emilinha tornou-se exclusiva do de César de Alencar. Ainda naquele ano, gravou dois de seus maiores sucessos, acompanhada de Os Cariocas, Severino Araújo e Orquestra Tabajara, os baiões Macapá e Que Nem Jiló, de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga

 

                        A seguir, alguns sucessos de meio de ano de Marlene: 

                        Ai, Como Sufro, frevo-canção de Nélson Ferreira:

                        Casadinhos, samba de Luiz Bittencourt e Tuyú, cantam Marlene e César de Alencar:

 

                        Dona Vera Tricotando, maxixe de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira:

                        Foi Despacho, samba de Sereno:

 

                        Grand Monde do Crioléu, samba-de-breque de Ary Barroso:

                        Macapá, baião de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, cantam Marlene Os Cariocas:

                        Panchito no Mambo, mambo de S. Campos, Murilo Vieira e Nélson Lucena:

 

                        Patinete no Morro, samba de Luiz Antônio:

 

                        Quem É?, chorinho de Custódio Mesquita:

                        Qui Nem Jiló, baião de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, cantam Marlene e Os Cariocas:

 

                        Recenseamento, samba de Assis Valente:

                        Se a Lua Contasse, marchinha de Custódio Mesquita:

                        Só Se Fala na Baiana, samba-de-breque de César Siqueira:

                        Suspiro Que Vai e Vem, maracatu de Manezinho Araújo e Ismael Neto, cantam Marlene e Ivon Curi:

 

                        Tome Polca, polca de Luiz Peixoto e José Maria de Abreu:

                        Vai, Meu Samba, samba de Custódio Mesquita:

 

 


MPB da Velha Guarda quarta, 23 de novembro de 2022

EMILINHA BORBA ROMÂNTICA
EMILINHA BORBA ROMÂNTICA

Raimundo Floriano

 

  

                        Emília Savana da Silva Borba, nasceu no Bairro da Mangueira, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), em 31 de agosto de 1923, onde veio a falecer, no dia 3 de outubro de 2005, aos 82 anos de idade. Era filha de Eugênio Jordão da Silva Borba e Edith da Silva Borba.

 

                        Ainda menina, e contrariando um pouco a vontade de sua mãe, apresentava-se em diversos programas de auditório e de calouros. Ganhou seu primeiro prêmio, aos 14 anos, na Hora Juvenil, da Rádio Cruzeiro do Sul. Cantou também no programa Calouros de Ary Barroso, obtendo a nota máxima ao interpretar O X do Problema, de Noel Rosa. Logo depois, começou a fazer parte dos coros das gravações da Columbia.

 

                        Formou, na mesma época, uma dupla com Bidu Reis, chamada As Moreninhas. A dupla se apresentou em várias rádios, durante cerca de um ano e meio. Logo depois, gravou para a Discoteca Infantil um disco em 78 RPM com a música A História da Baratinha, numa adaptação de João de Barro. Desfeita a dupla, Emilinha passou a cantar sozinha e foi logo contratada pela Rádio Mayrink Veiga, recebendo de César Ladeira o slogan Garota Grau Dez.

 

                        Em 1939, foi convidada por João de Barro para participar da gravação da marchinha Pirolito, cantada por Nilton Paz, sendo que no disco seu nome não foi creditado, apenas o do cantor.

Em março do mesmo ano grava, pela Columbia e com o nome de Emília Borba, seu primeiro disco solo em 78 RPM, com acompanhamento de Benedito Lacerda e Seu Conjunto, com o samba-choro Faça o Mesmo, de Antônio Nássara e Eratóstenes Frazão, e o samba Ninguém Escapa, de Eratóstenes Frazão.

                        No mesmo ano, atuou no filme Banana da Terra, de Alberto Bynton e Rui Costa. Esse filme contava com grande elenco: Carmen Miranda, Aurora Miranda, Dircinha Batista, Linda Batista, Almirante, Aloísio de Oliveira, Bando da Lua, Carlos Galhardo, Castro Barbosa, Oscarito e Virgínia Lane, A Vedete do Brasil.

 

                        Ainda em 1939, foi levada por sua madrinha artística, Carmen Miranda, de quem sua mãe era camareira, para fazer um teste no Cassino da Urca. Por ser menor de idade, e na ânsia de conseguir o emprego, alterou-a alguns anos a mais. Além disso, Carmen Miranda emprestou-lhe um vestido e sapatos plataforma. Aprovada pelo empresário Joaquim Rolla, proprietário do Cassino, foi contratada e passou a se apresentar como crooner, tornando-se, logo em seguida, uma das principais atrações daquela casa de espetáculos.

 

                        Em 1940, gravou, com acompanhamento de Radamés Gnattali e Sua Orquestra, os sambas O Cachorro da Lourinha e Meu Mulato Vai ao Morro, da dupla Gomes Filho e Juraci Araújo. Nesse ano, apareceu nos filmes Laranja da China, de Rui Costa e Vamos Cantar, de Leo Marten.

 

                        Em1941, assinou contrato com a Odeon, gravadora onde sua irmã, a cantora Nena Robledo, casada com o compositor Peterpan, era contratada. Já com o nome de Emilinha Borba, lançou os sambas Quem Parte Leva Saudades, de Francisco Scarambone, e Levanta José, de Haroldo Lobo e Valdemar de Abreu. Gravou, ainda, um segundo disco na Odeon, com o samba O Fim da Festa, de Nelson Teixeira e Nelson Trigueiro, e a marchinha Eu Tenho Um Cachorrinho, de Georges Moran e Osvaldo Santiago.

 

                        Em 1942, foi contratada pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, desligando-se meses depois. Em setembro de 1943, retornou ao cast daquela Emissora, firmando-se, a partir de então, e durante os 27 anos que lá permaneceu contratada, como a Estrela Maior da emissora, PRE-8, a líder de audiência.

 

                        Enquanto na Nacional, Emilinha atingiu o ápice de sua carreira artística, tornando-se a cantora mais querida e popular do país. Teve participação efetiva em todos os seus programas musicais, bem como, foi a campeã absoluta em correspondência, por 19 anos consecutivos, até quando durou a pesquisa naquela emissora, 1964.

 

                        Em 1942, o Cineasta norte-americano Orson Welles estava filmando no Brasil, o documentário inacabado It's All True. Nessa época, Linda Batista era a cantora mais popular do Brasil e a estrela absoluta do Cassino da Urca, de onde Orson Welles não saía. Enquanto permanecia no Rio de Janeiro em farras e bebedeiras, Welles, inicia um romance com Linda Batista. Até que coloca os olhos em Emilinha, já com postura de futura estrela. O cineasta não perdoa a pouca idade de Emilinha, nem o fato de ela namorar o cantor Nilton Paz. Começa a assediá-la, prometendo levá-la para Hollywood. Também lhe enviava agrados e bilhetes em que se dizia O Rei do Café.

 

                        Linda Batista, ao saber o que estava acontecendo, descarregava suas frustrações na mãe de Emilinha, camareira no Cassino da Urca, humilhando-a sempre que podia. Até que um dia, Linda cerca Emilinha nos bastidores, dá-lhe alguns tapas e rasga seu melhor vestido, com o qual ela se apresentaria dali a pouco.

 

                        Orson Welles deixou Emilinha em paz, e voltou para os Estados Unidos. Mas, desde essa época, Linda e Emilinha, nunca mais se deram bem. Segundo Jorge Goulart, Linda Batista usava de todo o seu prestígio como estrela absoluta do Cassino da Urca para dificultar a ascensão de Emilinha Borba naquele espaço.

                        Em 1949, Emilinha já era a maior estrela da Rádio Nacional, mas as irmãs Linda Batista e Dircinha Batista eram também muito populares, e as vencedoras, por anos consecutivos, do concurso para Rainha do Rádio. Esse torneio era coordenado pela Associação Brasileira de Rádio, sendo que os votos eram vendidos com a Revista do Rádio, e a renda era destinada para a construção de um hospital para artistas.

 

                        Nese ano, Emilinha gravou a marchinha Chiquita Bacana, primeiro lugar nas paradas de sucesso, e passou a ser considerada a vencedora do concurso. Entretanto, Marlene, uma cantora novata, apareceu e venceu o concurso de forma espetacular. Para tal, recebeu o apoio da Companhia Antarctica Paulista. A empresa de bebidas estava prestes a lançar no mercado um novo produto, o Guaraná Caçula, e, atenta à popularidade do concurso, pretendiam usar a imagem de Marlene, Rainha do Rádio, como base de propaganda de seu novo produto, dando-lhe, em troca, um cheque em branco, para que ela pudesse comprar quantos votos fossem necessários para sua vitória.

 

                        Assim, Marlene foi eleita com 529.982 votos. Desse modo, originou-se a famosa rivalidade entre os fãs de Marlene e Emilinha, uma rivalidade que, de fato, devia muito ao marketing e que contribuiu expressivamente para a popularidade espantosa de ambas as cantoras pelo país. Só em 1953, Emilinha foi finalmente coroada como Rainha do Rádio, unicamente com o apoio popular. A quantidade de votos que lhe deu a vitória era maior que a das outras concorrentes somadas.

  

                        Os concursos populares, que servem como termômetro de popularidade do artista, sempre foram constantes, e, das pesquisas realizadas, na fase áurea do rádio, 99,9% deram vitória a Emilinha Borba, tornando-a a artista brasileira que possivelmente possui mais títulos, troféus, faixas e coroas.

 

                        Nas edições da Revista do Rádio, Radiolândia e do jornal A Noite, Emilinha se comunicava com seus fãs, amigos e leitores desses órgãos da imprensa, através de colunas como Diário da EmilinhaÁlbum da EmilinhaEmilinha Responde e Coluna da Emilinha.

 

                        O simples anúncio de sua presença, em qualquer cidade ou lugarejo do país, era feriado local, e Emilinha, simbolicamente, recebia as chaves da cidade e desfilava em carro aberto pelas principais ruas e avenidas, sendo aplaudida, ovacionada e acarinhada pelos habitantes e autoridades da localidade. Devido ao enorme sucesso após o seu terceiro espetáculo realizado no Teatro Santa Rosa em João Pessoa (PB, Emilinha teve que cantar em praça pública, junto ao Cassino da Lagoa, para um incalculável público, só comparado aos dos comícios de Luiz Carlos Prestes ou Getúlio Vargas.

 

                        Emilinha foi a primeira artista brasileira a fazer uma longa excursão pelo país com patrocínio exclusivo. O Laboratório Leite de Rosas, até então, investia em artistas internacionais, como a Orquestra de Tommy Dorsey, e contratou e patrocinou Emilinha por três meses consecutivos em excursão pelo Norte e Nordeste.

 

                        Sua foto era obrigatória nas capas de todas as revistas e jornais do país. Na Revista do Rádio, numa semana, era ela; na seguinte, outro artista; e, na posterior, ela novamente. Até agosto de 1995, Emilinha Borba foi a personalidade brasileira que maior número de vezes foi capa de revistas no Brasil. Calcula-se aproximadamente umas 350 capas nos mais diversos órgãos.

 

                        De 1968 a 1972, Emilinha esteve inativa, por problemas de saúde. Padeceu de edema nas cordas vocais e, após três cirurgias e longo estudo para reeducar a voz, voltou a cantar.

 

                        Em 2003, após 22 anos sem gravar um trabalho só seu, a Favorita da Marinha lançou o CD Emilinha Pinta e Borba, com participações de diversos cantores, como Cauby Peixoto, Marlene, Ney Matogrosso, Luís Airão, Emílio Santiago, entre outros, vendendo este de forma bem popular, na Cinelândia, em contato direto com o público. No início de 2005, lançou o CD Na Banca da Folia, para o Carnaval do mesmo ano.

 

                        Emilinha continuou fazendo espetáculos pelo Brasil inteiro, tendo marcado presença, nos seus três últimos anos de vida, em vários Estados Brasileiros, como Pernambuco, Ceará, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Bahia.

 

                        Sua arte, admirada e aplaudida por milhões, sempre foi em prol da cultura popular e, assim, carismática, Emilinha Borba, cuja trajetória artística, pontilhada de sucessos, personifica-se como verdadeira e autêntica representante da Era de Ouro do Rádio Brasileiro.

 

                        Em fevereiro de 2004, Emilinha foi hospitalizada, após cair da cama e fraturar o braço direito. Em junho de 2005, ela esteve internada, após cair de uma escada, sofrer traumatismo craniano e hemorragia intracerebral.

 

                        Faleceu na tarde do dia 3 de outubro de 2005 de infarto fulminante, enquanto almoçava em seu apartamento, no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, aos 82 anos. Seu corpo foi velado durante toda a noite e, pela manhã, por amigos, familiares e fãs, na Câmara dos Vereadores no Rio de Janeiro, sendo sepultado no Cemitério do Caju.

                        Aqui, alguns sucessos de sua face romântica:

 

                        Vem Cantar Também, choro de Paulo Pinheiro e J. Ferreira:

 

                        Dez Anos, bolero de Raphael Hernandez e Lourival Faissal:

 

                        Deixa Que Amanheça, samba-canção de Olavo Bilac e Oswaldo Santiago:

 

                        Vizinho do Cinquenta e Sete, choro de René Bittencourt:

 

                        Os Meus Olhos São Teus, samba-canção de Peterpan:

 

                        Jerônimo, toada de Lourival Faissal e Getúlio Macedo:

 

                        Contraste, samba de José Maria de Abreu e Alberto Ribeiro:

 

                        Escandalosa, rumba de Djalma Ribeiro e Moacyr Silva:

 

                        Noite de Chuva, bolero de Peterpan e José Batista:

 

                        Rumba em Jacarepaguá, rumba de Haroldo Barbosa:

 

                        Se Queres Saber, samba-canção de Peterpan:

 


MPB da Velha Guarda sábado, 05 de novembro de 2022

TONHECA DANTAS E A VALSA ROYAL CINEMA

 

TONHECA DANTAS E A VALSA ROYAL CINEMA

Raimundo Floriano

 

 

Tonheca Dantas (187 –1940)

 

(No mês de abril de 2011, o adolescente saxofonista H. Dantas adicionou-me no Orkut. Chamou-me à atenção o fato de ele residir em Carnaúba dos Dantas (RN). Perguntei-lhe se era aparentado de Tonheca Dantas, ao que respondeu não saber de quem se tratava. Isso me levou a redigir a presente matéria, buscando resgatar a figura desse ilustre desconhecido, ignorado até por músicos do rincão que lhe serviu de berço.)

 

                        Antônio Pedro Dantas, o Tonheca Dantas, é um dos nomes mais importantes da história artística do Rio Grande do Norte.

 

                        Nasceu a 13 de junho de 1870, dia de Santo Antônio, no sítio Carnaúba de Baixo, próximo à Vila São José, local em que hoje se encontra a cidade de Carnaúba dos Dantas, assim nomeada em homenagem a essa grande família de compositores potiguares, e faleceu em Natal, Capital do Estado, em 7 de fevereiro de 1940.

 

                        Viveu sua infância no sítio onde nasceu e, logo cedo, iniciou-se nas duras lides do sertão, apanhando algodão nas terras de seu pai e nos sítios vizinhos. Era o quinto filho do Tenente-Coronel João José Dantas e da escrava alforriada Vicência Maria do Espírito Santo.

 

                        A maioria de seus irmãos demonstrava tendência e talento para a Música. Além de lições elementares de teoria musical recebidas de José Venâncio, seu irmão mais velho, Tonheca não teve aprendizado sistemático nessa Arte.  Cedo, e rapidamente, dominou diversos instrumentos – flauta, pistom, saxofone, trompa, trombone, bombardino, violão e clarineta, seu preferido – e o canto sacro, indispensável às festas religiosas.

 

                        De posse dos conhecimentos necessários, foi admitido na Banda de Música de Carnaúba dos Dantas, cuja superior missão era tocar nos ofícios religiosos da Festa de Nossa Senhora da Guia, da Padroeira de Acari e de outras paróquias da região do Seridó, e até de cidades do vizinho Estado da Paraíba. A Banda também era chamada para tocar nas recepções, visitas de pessoas ilustres, festas escolares e cívicas.

 

                        A dedicação à arte musical e seu talento fizeram-no um grande profissional. Assim, em 1898, foi contratado como Mestre da Banda de Música da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, e, em 1903, admitido na Banda de Música do Corpo de Bombeiros do Estado do Pará. Em 1927, ingressou na Polícia Militar da Paraíba, sendo, em pouco tempo, promovido a 1º Sargento Músico, ocasião em que passou de Contramestre a Mestre da Banda.

 

                        Deixou cerda de mil composições, entre dobrados, marchas, sambas, choros, gavotas, polcas, maxixes, hinos, xotes, polcas, e, principalmente, valsas. Uma das mais conhecidas, Royal Cinema, foi executada diversas vezes pela Orquestra da Rádio BBC de Londres, durante a Segunda Guerra Mundial. Essa valsa, juntamente com A Desfolhar Saudades, mereceu o registro sonoro por diversas Bandas de Música Militares do Nordeste.

  

                        Teve ainda músicas gravadas por Ivanildo do Sax de Ouro, Zé de Elias, Quarteto de Cordas da UFRN e Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte. Foi homenageado pelo bisneto Antônio José Madureira com a Suíte Retreta, gravada no disco Romançal, pelo Quarteto Romançal em 1997. Recebeu, também, homenagem do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, com a inauguração da Sala Tonheca Dantas, no Teatro Alberto Maranhão.

 

                        Nem mesmo Tonheca sabia o número exato e o título de todas as composições de sua autoria. Aqui vai uma pequena relação:

 

A Desfolhar Saudades, valsa; Acydália, valsa; Afeto de Mãe, valsa; Aí, Barrigudo, polca; Amor Constante, valsa; Ana Dantas, valsa; Aristófanes Fernandes, dobrado; Batalhão de Segurança, marcha; Boas Festas, valsa; Capitão André Fernandes, dobrado; Carli Fernandes, valsa; Cecília Medeiros, valsa; Comandante Nei Pedro, dobrado; Comandante Vitoriano, dobrado; Coronel Pedro Soares, dobrado; Correio do Norte, dobrado; Dagmar Dantas, valsa; Delírio, valsa; Desilusão, valsa; Edi Fernandes, valsa; Embaixador da Paraíba, dobrado; Força Pública, marcha solene; Guiomar, valsa; Gumercindo Saraiva, dobrado; Hino ao Duque de Caxias, hino; Iolanda, valsa; Iremita Medeiros, valsa; Ivanisa Fernandes, valsa; Joana Machado, valsa; Joel de Oliveira, dobrado; José Paulino, dobrado; Laurita, valsa; Louca Por Amor, valsa; Lúcia Pires Lemos, valsa; Lydia Cavalcanti, valsa; Maria de Lourdes, valsa; Maria Leonor, valsa; Matilde, valsa; Melodia do Bosque, valsa; O Velho Sabido, samba-choro; Odete Fernandes, valsa; Onze de Dezembro, dobrado; Os Três Corcovados, maxixe; Paisagens de Acari, dobrado; Perfume do Coração, valsa; Pinto Não É Galo, samba; Ramos de Rosas, valsa; Republicana, marcha de procissão, Royal Cinema, valsa; Sargento Luís Gonzaga, dobrado; Saudades de Minha Filha, valsa; Saudades de Minha Noiva, valsa; Saudades do Pará, dobrado; Silvino Cabral, valsa; Sou Imperoso, Porque Posso, maxixe; Tenente Augusto Toscano, dobrado; Tenente João Machado, dobrado; Tenente Luís Cândido, dobrado; Teresinha França, valsa; Triunfo de Virgem, marcha; Troca de Beijos, gavota; Xiquexique, maxixe; Yaperina Guerra, valsa; Zé Grande, choro; Zuzuca, choro.

 

                        Sua descendência também é extensa, como se adiante se vê:

 

Auta, do casamento com Rosa Lima; Marfisa, do relacionamento com Olívia; Antônia, do casamento com Ana Florentina; Antônio Pedro Dantas Filho (1º), do casamento com Francisca Lucas; Antônio Pedro Dantas Filho (2º), Afonso, José, Mirto, Salvador, Ivone, Cleto e Evilásio, do casamento com Francisca Lino Bezerra.

 

(Os dados até aqui constantes foram colhidos nestas fontes: Enciclopédia da Música Brasileira, da Art EditoraWikipédiaA Desfolhar Saudades, livro de Cláudio GalvãoDicionário Cravo Albin da MPB, arquivo pessoal e depoimento de vários amigos pesquisadores espalhados por este Brasil afora.)

 

                        Que se saiba, apenas um de seus filhos abraçou a Arte Musical, o instrumentista e compositor Antônio Pedro Dantas Filho (2º), o Tonheca Filho, ainda vivo. Conheci-o, de vista, aqui em Brasília, como Sargento Músico – trombone e bombardino – do BGP - Batalhão de Guarda Presidencial. Em homenagem a esse ilustre descendente, aí vai sua foto, para que não se perca sua memória com o passar do tempo.

 

Tonheca Filho 

                        No início dos Anos 1960, havia em João Pessoa um mulato atarracado muito ladino, o Potiguara, fazedor de biscates lá por perto do Banco do Brasil, cujos funcionários gostavam de emprestar-lhe dinheiro a fundo perdido, só pelo gosto de deliciarem-se com sua prosa, suas piadas, seus improvisos e seu parangolé. Para os turistas, ele exibia uma habilidade adicional: assobiava com exímia perfeição, a valsa Royal Cinema, mediante a recompensa com qualquer trocado que lhe caísse na bandeja.

 

                        No intuito de que todos possam avaliar o quanto isso lhe exigia perícia no bico, ofereço-lhes a valsa Royal Cinema, com a Banda de Música do Catre (RN):

 

                        E mais estas preciosidades de sua autoria, também com a Banda de Música do Catre: 

                        Delírio, valsa, com Antônio Gonçalves da Silva no solo de clarineta:

 

                        Lúcia Pires Lemos, valsa:

 

                        A Desfolhar Saudades, valsa, com Antônio Gonçalves da Silva o solo de clarineta:

 

                        Melodia do Bosque, valsa, com Antônio Gonçalves da Silva no solo de clarineta:

 

                        José Paulino, dobrado:

 


MPB da Velha Guarda domingo, 30 de outubro de 2022

ASSIS VALENTE, O PREFERIDO DE CARMEN MIRANDA
ASSIS VALENTE, O PREFERIDO DE CARMEN MIRANDA

Raimundo Floriano

 

 

Assis Valente (19.03.1911 – 10.03.1958)

 

                        O dia 19 de março de 1911, foi uma data especial aqui em casa. Comemoramos o Dia de São José, Padroeiro da Chuva no Nordeste, o aniversário da boníssima Dona Etelvina, minha falecida sogra, e o Centenário do compositor Assis Valente, de quem passo a falar.

 

                        José de Assis Valente nasceu durante uma viagem de sua mãe a Salvador (BA), próximo a Bom Jardim – atual Catuiçara – distrito de Santo Amaro, e, ainda pequeno, foi tirado dos pais – dizia ele que foi roubado – por uma Família de Alagoinhas, que mais tarde se mudou para a Capital Baiana e depois para o Rio de Janeiro. Permaneceu ele, entretanto, em Salvador, trabalhando na farmácia do Hospital Santa Isabel e estudando, à noite, desenho e escultura, no Liceu de Artes e Ofícios.

 

                        Em seguida, foi para o interior do Estado, empregando-se noutra farmácia, que logo deixou para acompanhar um circo em suas andanças. De volta a Salvador, retomou os cursos no Liceu e passou a estudar também prótese dentária.

 

                        Em novembro de 1927, foi para o Rio de Janeiro, onde conseguiu vender alguns desenhos e ilustrações para revistas da cidade. Em 1932, trabalhando como protético, passou a compor sambas, incentivado pelo famoso músico e compositor Heitor dos Prazeres. Seu primeiro samba, Tem Francesa no Morro, que satirizava a moda “elegante” de falar Francês, foi lançado nesse ano, por Aracy Cortes. Entusiasmado pela interpretação de Carmen Miranda do samba Sorriso Falso, de Baiano – Cícero de Almeida –, conseguiu, depois de muitas tentativas, conhecê-la pessoalmente e lhe entregou duas músicas de sua autoria, o samba Etc. e a marchinha Good Bye, esta satirizando, agora, a moda de falar Inglês. A partir de sua gravação, no início de 1933, Carmen Miranda tornou-se uma de suas intérpretes mais constantes, tendo lançado a maioria de suas composições de sucesso.

 

                        Ainda em 1933, Carlos Galhardo gravou, além de outras, sua marcha natalina Boas Festas, com grande êxito. No mesmo ano, para as festas juninas, compôs a marcha Cai, Cai, Balão, gravada em dupla por Francisco Alves e Aurora Miranda. 

 

                        A partir de então, suas músicas começaram a ser lançadas por outros cantores em evidência, como Aracy de Almeida, Sônia Carvalho, Bando da Lua, Moreira da Silva, Jaime Vogeler, Orlando Silva, Trio Madrigal, Namorados da Lua, Marília Batista, Marlene, Hebe Camargo, Quatro Ases e Um Curinga, Anjos do Inferno, Dircinha Batista, Trigêmeos Vocalistas, Vocalistas Tropicais, Nuno Roland, Irmãs Pagãs, Luiz Gonzaga, Almirante, Ademilde Fonseca e muitos outros.

 

                        Em 1941, casou-se com Nadile, com quem teve uma filha e de quem se separou mais tarde. Com a ida de Carmen Miranda para os Estados Unidos e a entrada em cena de novos compositores e cantores, sua carreira começou a declinar.

 

                        A 13 de maio de 1941, a cidade se comoveu com sua tentativa de suicídio: depois de atirar-se do alto do Corcovado, ficou preso a uma árvore, de onde foi retirado pelo Corpo de Bombeiros. Recuperando-se, lançou, em junho de 1942, o samba Fez Bobagem, grande sucesso na voz de Aracy de Almeida, mas reduziu sua atividade de compositor, dedicando-se a seu laboratório de prótese dentária.

 

                        Na década de 1950, viu-se novamente deprimido por sua situação financeira e tentou outra vez o suicídio, cortando os pulsos, depois que a cantora Elvira Pagã lhe cobrou uma dívida.

 

                        A 10 de março de 1958, endividado e esquecido, consegui, afinal, dar cabo da existência: foi para a Praia do Russel, onde bebeu formicida misturada a uma garrafa de guaraná.

 

                        Aos depois, suas músicas passaram a ser relembradas. Em 1973, Chico Buarque Maria Bethânia e Nara Leão cantaram Minha Embaixada Chegou, no filme Quando o Carnaval Chegar, de Cacá Diegues. Uva de CaminhãoBrasil Pandeiro e E O Mundo Não se Acabou foram relançados, respectivamente, por Marlene, no espetáculo Te Pego Pela Palavra, pelos Novos Baianos e por Maria Bethânia.

 

(Dados biográficos extraídos da Enciclopédia da Música Brasileira – Erudita, Folclórica e Popular, da Art Editora Ltda., de São Paulo, editada em 1977.)

 

                        Dentre os 171 sucessos de Assis Valente que possuo aqui em meu acervo, é difícil selecionar um como representativo de seu trabalho. Escolhi estes, os mais cantados e tocados, quando a MPB da Velha Guarda ainda era curtida pelos brasileiros:

 

                        Tem Francesa no Morro, samba, com Aracy Cortes, de 1938:

 

                        Good Bye, marchinha, com Carmen Miranda, de 1933:

 

                        Boas Festas, marchinha natalina, com Carlos Galhardo, de 1933:

 

                        Cai, Cai, Balão, marchinha junina, com Francisco Alves e Aurora Miranda, de 1933:

 

                        Fez Bobagem, samba, com Aracy de Almeida, de 1942:

 

                        Uva de Caminhão, samba, com Carmen Miranda, de 1939:

 

                        Brasil Pandeiro, samba, com Anjos do Inferno, de 1941:

 

                        E o Mundo Não Se Acabou, com Carmen Miranda, de 1938:

 

                        Recenseamento, samba, com Carmen Miranda, de 1940:

 

                        Finalmente, este youtube com o samba Minha Embaixada Chegou, na voz de Carmen Miranda, gravação original para o Carnaval de 1935, porque me faz lembrar um falecido amigo e colega da Câmara dos Deputados, José Taumaturgo da Silva, que gostava de cantá-la em nossas farras, e também por ser um momento muito especial do filme Quando o Carnaval Chegar:

 

 


MPB da Velha Guarda quarta, 26 de outubro de 2022

FRED WILLIAMS, SUA GAITA E SEU CONJUNTO
FRED WILLIAMS, SUA GAITA E SEU CONJUNTO

Raimundo Floriano

 

 

Fred Williams e sua gaita

 

                        Na festa de minha posse na Academia Passa Disco da Música Nordestina, no Recife, o Padre Walter Azevedo, viciado gaiteiro, apresentou-me seu amigo Jeová da Gaita, exímio e consagrado instrumentista, que ali comparecera para prestigiar-me. Imediatamente, animei-me e falei que, desde a infância, eu também andara dando minhas assopradas, mas que nunca passara do bê-á-bá! Aí, Jeová interrompeu minha conversa para afirmar:

 

                        – Você não tocava gaita não. O que você tocava mesmo era vialejo!

 

                        Espantei-me! Até aquele momento, eu pensava que vialejo – corruptela de realejo – era um termo usado apenas pelos meninos matutos de meu sertão sul-maranhense. Pois ali estava um grande artista pernambucano que também o conhecia. Dali pra frente, nossa conversa correu frouxa.

 

                        Não houve menino de mina faixa etária que não ganhou um realejo, talvez o único brinquedo manufaturado daquele nosso rincão. Eu possuí vários. Tocá-lo era como qualquer outro ato corriqueiro, coçar-se ou respirar. Uns faziam-no bem, outro nem tanto.

 

                        Quando comecei, foi com esses comuns, fabricados pela Hering, em várias versões: Sonhadora, Gloriosa, Serenata, Yara, Tico-tico, todas sem chave, ou seja, os acidentes – sustenidos e bemóis –, o que impossibilitava executar uma carrada de músicas. De Asa Branca, por exemplo, só saía a primeira parte, não sendo possível tocar a introdução.

 

                        Em dezembro de 1951, meu irmão Bergonsil, o Chilim, me presenteou com o primeiro realejo com chave, já então chamado gaita de boca, o modelo Membi, 40 vozes, da Hering. Nessa mesma época, meu irmão Afonso Celso, que era gaiteiro contratado pela Rádio Brasil Central da Goiânia, me ensinou a fazes os baixos com a língua, um negócio muito complicado.

 

                         De posse da Membi e dominando a baixaria, aventurei-me na primeira música com acidentes de minha vida, uma ousadia sem igual: o choro Brasileirinho de Waldir Azevedo. Quem quiser saber como isso era dificílimo, tente!

 

                        Nesse ínterim, as rádios e as gravadoras incentivavam-nos a prosseguir investindo na gaita de boca, apresentando grandes astros internacionais, como o americano Johnny Puleo, o belga Toots Thielemans, e o brasileiro Eduardo Nadruz, ou simplesmente Edu, o Mago da Gita, que, em 1956, extasiou o Mundo ao gravar o Moto Perpétuo, de Paganini, pela vez primeira num instrumento de sopro.

 

                        E, logo após esse estrondoso feito de Edu, que encheu de orgulho o peito de seus patrícios, novo som me apareceu e me maravilhou, pois eu não conseguia atinar o modo como o novo artista do gênero na praça, chamado Fred Williams, conseguia tirar aqueles instigantes efeitos com sua gaita.

 

                        E só vim a saber o segredo daquele mistério, quando meu irmão Afonso, novamente veio passar férias em Balsas, trazendo pequena valise cheia de gaitas de boca, de vários tamanhos, modelos e escalas, uma delas enormes, como estas que Fred Williams adiante exibe:

 

Fred Williams e seu arsenal

 

                        Só então, compreendi aquele surpreendente, extraordinário, admirável efeito que tanto me baratinava. E só então, também fique sabendo que nas gravações de Fred Williams e Seu Conjunto, atuavam, no mínimo, três gaitas diferentes.

 

                        Nas gaitadas da vida, cheguei a possuir 3 Hohner alemãs, 48 vozes, a última das quais guardei tão bem guardada, que nunca mais consegui encontrá-la. Contento-me com uma similar, Hering Velvet Voice, também ótimo equipamento.

 

                        De todos os gaiteiros que conheci até hoje, eu reconheço estes dois como os maiores: Edu, no gênero erudito, e Fred Williams, no popular!

 

                        Edu, gaúcho de Jaguarão (RS), nasceu a 13.10.1916 e faleceu a 23.08.1982. O carioca Fred Williams, batizado Manoel Xisto, nasceu a 28.12.1926 e, pelo que me consta, ainda se encontra entre nós.

 

                        Para que vocês conheçam um pouco de seu virtuosismo e sua obra, disponibilizo-lhes estas faixas, solicitando muita atenção para o solo e a baixaria:

 

                        Baião da Serra Grande, baião de Fred Williams, uma das grandes recordações que guardo de minha juventude:

 

                        Uma Farra na Churrascaria, samba de Fred Williams:

 

                        Vou Tocar em Pernambuco, frevo de Fred Williams:

 

                        Coisinha Linda, rancheira de Maria Clara:

 

                        Barril de Vinho, polca de Fred Williams:

 


MPB da Velha Guarda segunda, 10 de outubro de 2022

ARACY COSTA, A ESQUECIDA E SAUDOSA LADY CROONER

 

ARACY COSTA, A ESQECIECIDA E SAUDOSA LADY CROONER

Raimundo Floriano

 

 

Aracy Costa 

                        Aracy Cortes Costa de Almeida nasceu no Rio de Janeiro (RJ) a 03.12.1932, onde faleceu a 19.10. 1976, aos incompletos 44 anos de idade.

 

                        Nestes fragmentos biográficos, presto homenagem a essa grande cantora de minha juventude, que teve lugar de destaque nos festejos carnavalescos e na MPB daquele tempo, mas ficou completamente esquecida, isso devido a seu desaparecimento prematuro, há 35 anos.

 

                        Aracy Costa iniciou-se na carreira artística desde criança, começando pelo circo. Em 1948, aos 16 anos, inscreveu-se no concurso À Procura de Uma Lady Crooner, promovido pela Rádio Clube do Brasil, para a Orquestra de Napoleão Tavares, com quem passou a trabalhar. Meses depois, venceu o programa de calouros Papel Carbono, de Renato Murce, obtendo contrato com a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, de onde saiu, em 1949, para integrar o quadro da Rádio Guanabara. Decorrido algum tempo, foi levada pelo compositor Haroldo Barbosa para a Rádio Tupi carioca.

 

                        Gravou seu primeiro disco em 1950, pela Todamérica, com os baiões Obalalá, de Xerém e Guará, e Rio Vermelho, de Guará e José Batista. Um de seus maiores sucessos foi a marchinha Papai Me Disse, de Peterpan e José Batista, para o Carnaval de 1951.

 

                        Excursionou pela Argentina e pelo Uruguai, com a Orquestra do Maestro Carioca, e, depois, pelos Estados Unidos da América, com a Orquestra de Ary Barroso.

 

                        Em 1955, foi eleita A Melhor Cantora das Associadas. Em 1960, com o samba Favela Amarela, de Jota Júnior e Oldemar Magalhães, foi eleita Rainha do Carnaval, época em que experimentou seu apogeu artístico. Aliás, o início dos Anos 1960 foi cruel para a Velha Guarda, diante da força com que apareciam a Bossa Nova, o Rock e a Jovem Guarda, com a Televisão para difundi-los.

 

                        Nos bancos de dados virtuais e impressos, nada encontrei que indicasse o motivo de seu desaparecimento, em 1976, no vigor de sua mocidade. Dona Sinhá, memória viva do Forró, viúva do zabumbeiro Miudinho, disse-me que Aracy Costa, sua amiga, faleceu vítima de câncer no útero, doença da qual, na época, se evitava falar.

                       

                        Em 1959, Aracy Costa participou da chanchada da Atlântida Entrei de Gaiato, dirigida por J. B. Tanko, espécie de pré-estreia do Carnaval de 1960, cantando a marchinha Carnaval na Lua, de João de Barro. O elenco principal era formado por Zé Trindade, Dercy Gonçalves, Costinha, Chico Anysio, Roberto Duval, Marina Marcel, Evelyn Rios, Hamilton Ferreira e Procopinho. 

 

                        Nesse filme, Moacyr Franco interpreta a marchinha Me Dá Um Dinheiro Aí, dos irmãos Glauco, Homero e Ivan Ferreira, que o lançou para o estrelato e até hoje é das mais tocadas nos salões e blocos de sujo. Outros sucessos carnavalescos ficaram a cargo de Grande Otelo, Linda Batista, Carlos Galhardo, Blecaute, Joel de Almeida e Emilinha Borba, além dos próprios atores, Dercy e Zé Trindade, este com a marchinha Cobra Que Não Anda, dele e Walter Levita.

 

                        Tenho em meu acervo, as seguintes preciosidades do repertório de Aracy Costa: A Mulher do Fu-Man-Chu, marchinha de João de Barro e Alberto Ribeiro; Abre a Porta, samba de Arlindo Marques Júnior e José Batista; Alice, baião de Victor Simon e Neco; Baile das Caveiras, marchinha de Milton de Oliveira e Ruthnaldo; Botão de Laranjeira, marchinha de Ruthnaldo Brasinha e Jorge Gonçalves; Brotinho Bossa Nova; samba de João Roberto Kelly; Carnaval na Lua, marchinha de João de Barro; Consolo de Otário, samba de João Roberto Kelly; Depois das Sete e Quarenta, foxtrote de Carlos César e Fernando César; Dim-dim-dim, samba de Peterpan e José Batista; Eu Sou Assim; samba de Peterpan e Amadeu Veloso; Favela Amarela, samba de Jota Júnior e Oldemar Magalhães; Iaiá da Bahia, baião-macumba de Clodoaldo Brito e João Melo; Kanimambo, foxtrote da A. Fonseca, R. Ferreira e M. Sequeira; Luz da Mangueira, samba de P. Menezes, D. Furtado e E. Rocha; Lá no Irajá, marchinha de Paquito e Romeu Gentil; Maxixe do Beijo, maxixe de Roberto Martins e Ary Monteiro; Mustafá Bossa Nova, chá-chá-chá de Mustapha, Bob Azzam, Ed Barclay e Luiz Mergulhão; Samba do Teleco-teco, samba de João Robeto Kelly; Se Você Me Adora, samba de Roberto Martins e Ary Monteiro; Também Vou na Jogada, samba de José Batista e João da Silva; Tequila, mambo-rock de Chuck Rio e Paulão Rogério; Zum-zum-zum, marchinha de Haroldo Lobo e Brasinha; Na Beira-mar, baião de Zé Dantas: e Obalalá, baião de Xerém e Guará. 

                        Para vocês, pequenaamostra de seu trabalho, em gravações originais: 

                        Obalalá, bailao de Xerém e Guará, sua primeira grvação, lançada em 1950:

 

                        Carnaval na Lua, marchinha de João de Barro, sucesso no Carnaaval de 1960:

 

                        Brotinho Bossa Nova, samba de João Roberto Kelly, lançad em 1960:

 

                        Maxixe do Beijo, maxixe de Roberto Martins e Ari Monteiro, lançado em 1951:

 

                        Favela Amarela, samba de Jota Júnior e Oldemar Magalhães,lançado em 1959:

 

                        Samba do Teleco-teco, samba de João Roberto Kelly, lançado em 1958:

 

                        Zum-zum-zum, marchinha de Haroldo Lobo e Brazinha, lançada em1956:

 

                        Papai Me Disse, marchinha de Peterpan e José Batista, seu grande sucesso carnavalesco, lançada em 1951:

 

                        E, para que vocês conheçam seu visual em cena, esta atuação eno filme Entrei de Gaiato, interpretando a marchinha Canaaval na Lua:

 

 


MPB da Velha Guarda sexta, 07 de outubro de 2022

BLECAUTE, O GENERAL DA BANDA

 

BLECAUTE, O GENERAL DA BANDA

Raimundo Floriano

 

 

Foto inédita do General da Banda 

 

                        Otávio Henrique de Oliveira, o Blecaute, nasceu Pinhal (SP), a 05.12.1919, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), a 09.02.1983, aos 63 anos de idade.

 

                        Órfão de pai e mãe, aos seis anos foi levado para São Paulo, onde trabalhou como engraxate e entregador de jornais. Aos 14 anos, estreou como cantor no programa de calouros A Estrela de Ouro, da Rádio Tupi e, oito anos mais tarde, começou a atuar na Rádio Difusora, adotando, por sugestão do Capitão Furtado, o nome Blecaute, aportuguesado do Inglês black-out, que significa preto por fora.

 

                        Se fosse nos tempos atuais da patrulha politicamente correta, esse pseudônimo seria imediatamente execrado. Na época do cantor, ele foi aceito de forma pacífica e natural. Em 1955, vi-o, em Teresina (PI) definir seu cognome: “Preto por fora, mas branco por dentro. Sou um preto de alma branca.” E sorria com aquela boca de 360 incisivos e caninos.

 

                        Entre 1942 e 1943, foi para o Rio de Janeiro, contratado pela Rádio Tamoio, atuando também nas Radio Nacional e Mauá. Em 1944, participou, como cantor, do filme Tristezas Não Pagam Dívidas, direção de José Carlos Burle e J. Ruy. Seu primeiro sucesso em disco veio com a marchinha Pedreiro Valdemar, de Wilson Batista e Roberto Martins, para o Carnaval de 1949.

 

                        O maior êxito de sua carreira, que estourou a banca no Carnaval de 1950, foi o samba General da Banda, de Sátiro de Melo, José Alcides e Tancredo Silva. O sucesso foi tão estrondoso, que Blecaute o incorporou a seu visual, passando a apresentar-se, a partir de então com uniforme estilizado, conforme vocês viram na foto inédita acima.

 

                        Blecaute participou de várias chanchadas da Atlântida e, como compositor, deixou-nos um sucesso inesquecível, a valsinha Natal das Crianças, que ele mesmo gravou em 1955, com regravações por diversos cantores, até hoje muito tocada no período natalino.

                        Possuo em meu acervo 59 peças de seu trabalho musical, seja como cantor ou como compositor. Vou relacionar aqui apenas os sucessos carnavalescos que o consagraram e que até hoje são contados nos bailes da saudade e nos blocos de sujo:

 

A Bolsinha do Waldemar, marchinha de João Roberto Kelly, 1973; Chora, Doutor, samba de J. Piedade, O. Gazzeneo e J. Campos, 1959; Dona Cegonha, marchinha de Armando Cavalcanti e Klécius Caldas, 1953; General da Banda, samba de Sátiro de Melo, José Alcides e Tancredo Silva, 1950; Mamãe, Eu Quero, marchinha de Jararaca e Vicente Paiva, 1937; Marcha das Fãs, marchinha de Wilson Batista e Jorge de Castro, 1956; Marcha do Gago, marchinha de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, 1950; Maria Candelária, marchinha de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, 1952; Maria Escandalosa, marchinha de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, 1955; O Direito de Nascer, marchinha de Blecaute e Brasinha, 1966; O Pé de Anjo, marchinha de Sinhô, 1920; Papai Adão, marchinha de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti 1951; Pedreiro Valdemar, marchinha de Wilson Batista e Roberto Martins, 1949; Piada de Salão, marchinha de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, 1954; Que Samba Bom!, samba de Geraldo Pereira e Arnaldo Passos, 1949; Rei Zulu, marchinha de Nássara e Antônio Almeida, 1950; Soldado de Israel, marchinha de Luiz Antônio, 1968; e Vôte, Que Mulher Bonita, marchinha de João de Barro e Antônio Almeida, 1949.

 

                        Blecaute, como todos os grandes astros da Velha Guarda, conheceu o ocaso no final dos Anos 1950, embora depois disso, vez em quando, emplacasse um sucesso carnavalesco, como O Direito de Nascer, em 1966, e Soldado de Israel, em 1968.

  

                        Todos os anos, quando se aproxima o período de concursos de músicas para o Carnaval, recebo pedidos de vários compositores para que avalie seus trabalhos, antes de os submeterem ao crivo da Comissão Julgadora. E eu sempre lhes dou o mesmo conselho: na Música, como na vida, a simplicidade é tudo. Quanto mais elaborada, mais a composição é rejeitada pelo público. Como exemplo, cito a singeleza do samba General da Banda, que se tornou sucesso inesquecível desde 1950:

 

Chegou general da banda

Ê! Ê!

Chegou general da banda

Ê! Á!

 

Mourão! Mourão!

Vara madura que não cai

Mourão! Mourão!

Oi, catuca por baixo

Que ele vai

(Obá!)

 

                        Edigar de Alencar, em O Carnaval Carioca Através da Música, registra: “Uma batucada com todas as características de ponto de macumba se ouve pelas ruas, mormente nos ensaios pré-carnavalescos dos blocos avulsos. A melodia já era conhecida em alguns lugares do Estado do Rio, como saudação a Ogum.” 

                        Era o General da Banda, que agora vocês relembrarão, na voz de Blecaute, clicando aqui:

 

                        Ouçam, também, mais estes sucessos do repertório de Blecaute: 

                        Natal das Crianças, valsinha de sua autoria, 1955:

 

                        A Bolsinha do Waldemar, marchinha de João Roberto Kelly, 1973:

 

                        Chora, Doutor, samba de J. Piedade, O. Gazzeneo e J. Campos, 1959:

 

                        Marcha das Fãs, de Wilson Batista e Jorge de Castro, 1956:

 

                        Maria Candelária, marchinha de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, 1952:

 

                        Maria Escandalosa, marchinha de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, 1955:

 

                        O Direito de Nascer, marchinha de Blecaute e Brasinha, 1966:

 

                        O Pé de Anjo, marchinha de Sinhô, composta em 1920:

 

                        Papai Adão, marchinha de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, 1951:

 

                        Pedreiro Waldemar, marchinha de Wilson Batista e Roberto Martins, 1949:

 

                        Piada de Salão, marchinha de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, 1954:

 

                        Que Samba Bom!, samba de Geraldo Pereira e Arnaldo Passos, 1949:

 

                         Rei Zulu, marchinha de Nássara e Antônio Almeida, 1950:

 

                        Soldado de Israel, marchinha de Luiz Antônio, 1968:

 

                         Vôte, Que Mulher Bonita, marchinha de João de Barro e Antônio Almeida, 1949:

 

 


MPB da Velha Guarda sexta, 16 de setembro de 2022

LEILA SILVA, A ESTRELA DE SÃO PAULO

 

SILVA, A ESTRELA DE SÃO PAULO

Raimundo Floriano

 

 

Três momentos de Leila Silva 

                        A enxurrada avassaladora do rock, bossa nova e ie-iê-iê da Década de 1960 varreu do cenário artístico todos os grandes nomes da Velha Guarda da Música Popular Brasileira, assim acontecendo com Emilinha Borba, Marlene, Jorge Veiga, Aracy de Almeida, Carlos Galhardo e muitos outros. Mas, vez em quando, ainda ouvíamos deles falarem. O caso de Leila Silva é impressionante. Desapareceu sem deixar rastros na mídia, perdurando somente na memória de seus fãs, como é meu caso.

 

                        Todos os anos, no período que vai de dezembro até fevereiro, tempo de férias, eu me lembro de minha fase de solteiro em Balsas (MA), na mesma época da enxurrada, quando saía com os amigos seresteiros, nas madrugadas, cantando na porta das garotas da cidade. No final de 1960, o que dominou nosso repertório foi o samba-canção Não Sabemos, de Rubens Caruso, gravação de Leila Silva, que dedicávamos a alguns de nossos ex-amores. Era o tema tapas e beijos dito de amena forma.

 

                        Leila Silva foi revelada ao grande público exatamente no início da década cruel para a MPB e, de imediato, conheceu estrondoso êxito, graças a sua voz maleável e extensa, de timbre inconfundível, e capacidade interpretativa. Configurava-se numa cantora para todos os gêneros e todas as músicas, além de sambista verdadeira, artigo que, mesmo no Brasil, berço do samba, não mais é muito encontrável. Alguém aí ainda se recorda dessa grande estrela?

 

                        Inezilda Nonato da Silva, a Leila Silva, filha de Seu Raimundo e de Dona Raimunda da Silva, nasceu a 07.06.1935, em Manaus (AM), na Rua Ajuricaba, Bairro da Cachoeirinha, onde foi criada. No início da Década de 1950, seu pai, que era telegrafista, resolveu buscar uma localidade que oferecesse melhores condições de vida para os 10 filhos, transferindo-se, então, para a cidade de Santos (SP) com a família.

 

                        Aos 15 anos de idade, Leila demonstrou grande tendência artística. Estudou piano durante seis anos além de receber aulas de violão.

 

                        Começou a cantar na Rádio Atlântica, de Santos, acompanhada pelos conjuntos regionais de Pascoal Melilo e de Maurício Moura. Mais tarde, ingressou na Rádio Clube, e Rádio Cacique, ambas de Santos. Na primeira, chegou a ter um programa exclusivo. Nessa época, ganhou o Troféu A Melhor Intérprete, do jornal A Tribuna, e foi coroada Rainha dos Músicos de Santos.

 

                        Também era crooner da Orquestra do Maestro J. Pinto, em bailes e no dancing Samba Danças, e também da orquestra Los Cubancheros, do Maestro Cabral, com repertório dominantemente de mambos, rumbas e outros ritmos latino-americanos.

 

                        A Capital Paulista, para onde se mudou em 1959, passou a ser sua meta natural. Naquele ano, foi contratada pela gravadora Califórnia e estreou em discos cantando os sambas-canções Resignação, de Plínio Metropolo, e Mentira, de Denis Brean e Osvaldo Guilherme. Nessa época, por sugestão de Denis, adotou o nome artístico de Leila Silva.

 

                        No mesmo ano, levada pelo compositor Diogo Mulero, o Palmeira, transferiu-se para a gravadora Chantecler, gravando o tango Mar Negro, de Leo Rodi e Palmeira, e o samba-canção Irmã da Saudade, de João Pacífico e Portinho.

 

                        Em 1960, gravou, com a Orquestra do Maestro Guerra Peixe, o tango Tango Triste, de Osvaldo de Souza e Haroldo José, e o samba-canção Sarjeta, de J. Luna e Clodoaldo Brito, o Codó. Em setembro daquele ano, teve bom êxito com a balada Perdão Para Dois, de Palmeira e Alfredo Corleto, e, em novembro, estourou no mercado fonográfico com o samba Não Sabemos, maior sucesso de todos os tempos de sua carreira. Ainda no mesmo ano, lançou seu primeiro LP, Perdão Para Dois, com orquestras regidas pelos Maestros Élcio Alvarez e Guerra Peixe.

 

                        Em 1961, gravou os sambas Justiça de Deus, de Normindo Alves e Ruth Amaral e Nossa União, de Vicente Clair; o tango Promessa, de W. White, versão de Teixeira Filho; o rock-balada Adeus Amor, de Haroldo José e Eufrásio Boreli, e o bolero Na Solidão do Meu Quarto, de Rubens Machado. Ainda em 1961, lançou pela Chantecler o LP Quando a Saudade Apertar.

 

                        No ano de 1962, gravou, ainda na Chantecler, o bolero Vai Dar no Mesmo, de Edmundo Arias e Teixeira Filho; as baladas Mais Uma Vez, Adeus, de G. Auric e D. Langdon, versão de Teixeira Filho, e Meu Amor Pertence a Outra, com adaptação de Teixeira Filho, sobre tema de Beethoven, e o samba O Que É Que Eu Faço?, de Ribamar e Dolores Duran.  Naquele ano, assinou contrato com a gravadora Continental embora ainda lançasse mais três discos pela Chantecler.

 

                        Em seu disco de estreia na nova gravadora, registrou a balada Deus, o Mundo e Você, de Palmeira e Alvares Filho, e o tango Desespero, de Umberto Silva, Luiz Mergulhão e Paulo Aguiar. Também em 1962, lançou pela Chantecler o LP Quando Canta Leila Silva.

 

                        Em 1963, gravou a balada Canção do Fim, de U. Mincci e R. Jaden, versão de Paulo Rogério, e os sambas Correio das Estrelas, de Denis Brean e Osvaldo Guilherme, Coração a Coração, de Arquimedes Messina e B. Barrela, e Não Diga a Ninguém, de José Messias. Nesse ano, lançou seu último disco pela Chantecler, o LP Novamente Ela.

 

                        Em 1964, gravou pela Continental os sambas Juca do Braz; Nó de Porco e Joguei Fora o Brilhante, de Haroldo José e Romeu Tonelo; e Favela do Vergueiro, de K-Ximbinho e Laércio Flores.

 

                        Ainda na Década de 1960, apresentou um programa na TV Record de São Paulo que ficou no ar durante três anos.

 

                        Sua carreira discográfica incluiu ainda as gravadoras RGE, RCA Victor, Bervely, Copacabana e Warner, contabilizando, até 1978, 27 compactos e 15 LPs. Teve também discos lançados na Itália, França, Japão, México, Argentina, Paraguai e Uruguai. Recebeu inúmeros prêmios ao longo de sua trajetória, sendo detentora de quatro Roquete Pinto, cinco Chico Viola e cinco Discos de Ouro. Em Curitiba, recebeu o Pinheiro de Prata. Além disso tudo, foi também coroada pela Revista do Rádio como Rainha do Samba. E, do compositor Palmeira, recebeu o título de A Estrela de São Paulo.

 

                        Em 2001, apresentou-se no programa da Saudade na TV, do cantor Francisco Petrônio, no canal Rede Vida. Em 2002, a Revivendo Músicas lançou o CD Leila Silva - O Mais Puro Amor, com 21 faixas, incluindo antigos sucessos, cuja capa e contracapa vocês aí estão:

  

                        Tanto esse LP, quanto outros títulos fonográficos lançados pela cantora, já se encontram fora de catálogo, mas são facilmente encontráveis em sebos virtuais.

 

                        Atualmente residindo em Santos, Leila Silva continua na ativa, apresentando-se por todo o Brasil, mas sem cobertura da mídia.

 

                        Para que vocês conheçam um pouquinho de seu trabalho, disponibilizo-lhes estas fixas, pinçadas do CD Leila Silva, O Mais Puro Amor:

 

                        Justiça de Deus, samba de Normindo Alves e Ruth Amaral Dias, lançado em 1961:

 

                        Que Será de Ti, guarânia de D. Ortiz, M. Tereza Marquez e Hélio Ansaldo, lançada em 1961:

 

                        O Amor Mais Puro, toda de Palmeira, lançado em 1960:

 

                        Apesar de Você, samba de Chico Buarque, lançado em 1970:

 

                        Não Sabemos, samba-canção de Rubem Caruso, lançado em 1960:

 

 


MPB da Velha Guarda sexta, 09 de setembro de 2022

CARLOS GALHARDO, O REI DA VALSA

 

CARLOS GALHARDO, O REI DA VALSA

Raimundo Floriano

 

  

                        Castello Carlos Guagliardi, o Carlos Galhardo, filho dos italianos Pietro Guagliardi e Saveria Noveli, nasceu em São Paulo (SP), a 24.04.1913, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), a 25.07.1985, aos 72 anos de idade.

 

                        Com um ano de nascido, sua família mudou-se para o Rio. Aos oito anos de idade, com o falecimento de Saveria, o pai deixou-o com um parente, no bairro do Estácio, para aprender o ofício de alfaiate.

 

                        Apesar de não gostar desse trabalho, aos 15 anos já era alfaiate, abandonando os estudos, apenas com o Primário completo, para dedicar-se à profissão. Passou por várias alfaiatarias cariocas e, numa delas, trabalhou com Salvador Grimaldi, alfaiate e barítono, com quem costumava ensaiar duetos de opera. Em casa, gostava de entoar sozinho canções italianas e árias.

 

                        O início de sua carreira como cantor profissional aconteceu em 1933, ano em que, numa reunião em casa de um irmão, onde estavam presentes Mário Reis, Lamartine Babo, Jonjoca e Francisco Alves, cantou a modinha Deusa, de Freire Júnior. Gostando muito de sua voz, Francisco Alves aconselhou-o a tentar o rádio. Nessa época, Carlos trabalhava numa barbearia e, através da manicure e cantora portuguesa Maria Fernanda, conseguiu entrar em contato com pessoas influentes da Rádio Educadora, hoje Tamoio, onde se apresentou, naquele ano, cantando a valsa Destino, de Nonô e Luís Iglésias. No dia seguinte, foi procurado por um representante da RCA Victor, que o convidou para fazer um teste na gravadora. Cantando o samba Até Amanhã, de Noel Rosa, foi aprovado, incorporando-se ao coro que acompanhava os artistas, até gravar seu primeiro disco, com os frevos-canção Você Não Gosta de Mim, dos Irmãos Valença, e Que É Que Há?, de Nelson Ferreira, que fizeram muito sucesso no Recife.

 

                        Logo a seguir, lançou seu segundo disco, com dois sambas de Assis Valente, Pra Onde Irá o Brasil e É Duro de se Crer. Ainda em 1933, gravou Samba Nupcial, de José Luís e Jaime Silva, Elogio da Raça, marchinha, Pra Quem Sabe Dar Valor, samba, e Boas Festas, marcha natalina, composições de Assis Valente, e o samba Pão de Açúcar, de Assis e Artur Costa. Era o desabrochar de uma careira vitoriosa que se manteve firme até 1978, quando registrou seu último LP. Além da RCA Victor, da qual era contratado, trabalhou, mediante cachê, em várias emissoras do Rio, entre elas Mayrink VeigaRádio ClubePhilips e Rádio Sociedade, arrebentando no Carnaval de 1934 com a marchinha Carolina, de Hervé Cordovil e Bonfiglio de Abreu, gravada pela RCA Victor.

 

                        Em 1935, já contratado pela gravadora Colúmbia, estreou como cantor romântico, com a valsa Cortina de Veludo, de Paulo Barbosa e Oswaldo Santiago, seu primeiro grande sucessos no gênero. Grande destaque mereceu em 1936 sua gravação da valsa Italiana, de Paulo Barbosa, José Maria de Abreu e Oswaldo Santiago. Desde então, passou a ser um dos intérpretes mais requisitados no cenário musical carioca. Em 1938, participou do filme Banana da Terra, dirigido por J. Ruy.

 

                        Em 1943, gravou aquele que seria um de seus maiores sucessos e que se tornaria em espécie de seu prefixo, a valsa Fascinação, de Marcelo Marchetti, com versão de Armando Louzada.

 

                        Em 1945, gravou, na Continental, com Dalva de Oliveira e Os Trovadores, a adaptação de João de Barro para a história infantil Branca de Neve e os Sete Anões, em dois discos, com músicas de Radamés Gnatalli. Em 1952, passou o ano inteiro em Portugal, realizando apresentações por todo aquele país. Em 1953, foi eleito o Rei do Disco, pela Revista do Disco.

 

                        Em 1955, casou-se com Eulália Salomon Bottini e participou do filme Carnaval em Lá Maior, dirigido por Ademar Gonzaga. Em 1957, atuou no filme Metido a Bacana, de J. B. Tanko.

 

                        Carlos Galhardo dominou em todos os gêneros da MPB, do Romance ao Carnaval. Guardo em meu acervo 504 títulos que ele gravou, sendo 182 de marchinhas e sambas carnavalescos. Isso em falar nos inúmeros sambas de meio de ano e das valsas que o consagraram. Até mesmo as gerações mais modernas, do Século XXI, não desconhecem as marchinhas Alá-lá-ô, de Nássara e Haroldo Lobo, gravada em 1941, e Cadê Zazá?, de Roberto Martins e Ari Monteiro, lançada em 1948.

 

                        Sua popularidade nas Décadas de 1940 e 1950 foi tão grande que era apresentado como Carlos Galhardo, O Cantor Que Dispensa Adjetivos, ficando também conhecido como O Rei da Valsa, títulos consagrados pela Revista do Rádio e a mídia em geral.

   

                        Como um dos cantores que mais venderam discos no Brasil, chegou à era do LP com força total. Aqui apresento capas de alguns de seus vinis:

  

  

                        O início dos Anos 1960, marcado pela avalanche produzida pelo Rock e pela Bossa Nova, fez com que sua carreira entrasse em declínio, como acontecia com todos os ídolos da Velha Guarda, arrefecimento também registrado com os programas radiofônicos, frente à onda avassaladora da TV.

 

                        Como acima foi dito, gravou seu último LP em 1978. Em 1983, participou de seu derradeiro espetáculo montado, o show Alá-lá-ô, em homenagem ao compositor Nássara, que também atuava ao lado da cantora Marília Barbosa, dirigidos ambos por Ricardo Cravo Albin, igualmente autor do roteiro da atração, apresentada na Sala Funarte.

 

                        Ao final da vida, atuava, com frequencia, em shows por todo o Brasil. Faleceu no dia 25 de julho de 1985, no Rio de Janeiro, em casa, vítima de infarto, e seu corpo foi sepultado no Cemitério São João Batista.

                       

                        Carlos Galhardo foi um dos cantores que mais venderam discos no Brasil, contabilizando, só em discos 78 RPM, cerca de 580 gravações. Hoje, seus álbuns são ainda encontrados, com certa facilidade, em sebos virtuais.

 

                        A Editora Revivendo, em seu excelente trabalho divulgador dos ídolos que fizeram nossa história musical, tem em seus catálogos os seguintes CDs: 

 

                        Aqui vai pequena amostra de seu imenso repertório: 

                        Boas Festas, marcha natalina, de Assis Valente, lançada em 1933:

 

                        Alá-lá-ô, marchinha, de Nássara e Haroldo Lobo, de 1941:

 

                        Bye, Bye, My Baby, frevo-canção, de Nélson Ferreira, de 1944

 

                        Cadê Zazá?, marchinha, de Roberto Martins e Ari Monteiro, de 1948:

 

                        Deus Me Ajude, samba de Francisco Alves, David Nasser e José Roy, de 1952:

 

                        Para finalizar, ouçamos a valsa Fascinação, de Marcelo Marchetti, versão de Armando Louzada, gravação de 1943, que sempre vem à baila quando o nome de Carlos Galhardo é mencionado, e que lhe deu, mui merecidamente, o título de O Rei da Valsa:

 


MPB da Velha Guarda quarta, 07 de setembro de 2022

PEDRO CAETANO - É COM ESSE QUE EU VOU

 

PEDRO CAETANO - É COM ESSE QUE EU VOU

Raimundo Floriano

 

 

Pedro Caetano: bico-de-pena de Miécio Café 

                        Pedro Walde Caetano, compositor, figura de destaque na chamada Época de Ouro da Música Popular Brasileira, nasceu numa fazenda do Município de Bananal (SP), a 01.02.1911, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), a 27.07.1992, aos 81 anos de idade. Era filho do agricultor Durval Mendo Caetano e da professora Zelpha Schotts Caetano.

 

                        Aos três anos de idade, os pais levaram-no para outra fazenda, em Maricá (RJ), de onde, aos doze anos, se mandou para o Rio de Janeiro, que era a Capital Federal, empregando-se numa sapataria, à Rua Uruguaiana, Nº 11, da qual viria, no futuro, a ser sócio e, mais tarde, proprietário, com a morte do sócio, o espanhol Constantino Esteves Cid, em 1951, mantendo-se no negócio até 1965, quando encerrou suas atividades.

 

                        Por essa época, já estudava piano e começou, também com a mania de fazer música. Sempre que saía do trabalho, ia encontrar-se com os companheiros na Ponte do Maracanã, que ficava na altura da Rua Senador Furtado, onde morava. Sempre trazendo um sambinha ou uma marchinha para ensaiar com a turma, surgiu, em 1933, aos 22 anos de idade, com algo diferente, metade samba, metade choro, a que deu o titulo de Foi Uma Pedra Que Rolou. Voltarei a falar dessa composição mais adiante.

 

Pedro Caetano e com Claudionor Cruz, seu parceiro mais constante 

                        Em 1935, teve sua primeira composição gravada, o samba-canção O Tocador de Violão, em parceria com o músico Claudionor Cruz, pela Odeon, na voz de Augusto Calheiros, também conhecido como a Patativa do Norte. Claudionor foi seu primeiro parceiro e o mais constante, com quem produziu mais de 300 títulos.

 

                        O primeiro sucesso da dupla aconteceu em julho de 1937, com a valsa Caprichos do Destino – Se Deus um dia, olhasse a Terra e visse o meu estado... –, na voz de Orlando Silva.

 

                        Em 1941, lançou, com Claudionor Cruz, o samba-canção Nova Ilusão – É dos teus olhos a luz que ilumina e conduz... – gravação de Renato Braga, que mais tarde viria a tornar-se grande sucesso na voz de Paulinho de Viola.

 

                        Em 1942, Ciro Monteiro, um de seus melhores intérpretes, gravou o que seria um de seus maiores sucessos, o choro Botões de Laranjeira – Maria Madalena dos Anzóis Pereira... – e, no mesmo ano, Francisco Alves lançaria o samba-exaltação Sandália de Prata, de Pedro Caetano e Alcyr Pires Vermelho, que também foi um de seus grandes parceiros. Com o retumbante sucesso dessas duas músicas, o nome de Pedro Caetano estava definitivamente consagrado no Mercado Fonográfico Brasileiro.

 

                        A seguir, em traço do caricaturista Adail, vemos Pedro Caetano, Manuel Baña, espanhol, dono do Café Nice e seu parceiro eventual, e Alcyr Pires Vermelho.

 

Pedro Caetano, Manuel Baña e Alcyr 

                        Em 1944, Francisco Alves lançou a marchinha Eu Brinco – Com pandeiro ou sem pandeiro... –, de Pedro Caetano e Claudionor, que obteve grande êxito no Carnaval daquele ano. Ainda em 1944, a parceria lançou o samba de meio de ano Disse Me Disse – Chega, eu já sei o que vens me dizer... –, na voz de Carlos Galhardo.

 

                        Em março de 1946, Pedro lançou o choro O Que se Leva Desta Vida – O que se leva desta vida é o que se come, o que se bebe... –, gravação de Ciro Monteiro, que se tornaria um dos clássicos do repertório do cantor.

 

                        Em 1947, lançou, em parceria com Alcyr Pires Vermelho e Silvino Neto, o samba-canção Cinco Letras Que Choram – Adeus, adeus, adeus, cinco letras que choram... – em magistral interpretação de Francisco Alves.

 

                        No Carnaval de 1947, estourou com o samba Onde Estão os Tamborins? – Mangueira, onde é que estão os tamborins, ó nêga?... –, gravado pelo conjunto Quatro Ases e Um Curinga. No Carnaval de 1948, dominou com o samba É Com Esse Que Eu Vou – É com esse que eu vou sambar até cair no chão... – também com os Quatro Ases e Um Curinga. No Carnaval de 1949, fez grande sucesso com o samba Mangueira em Férias – Quem foi que disse que eu não brigo mais... –, dele e de Alcyr Pires Vermelho, gravado por Nuno Roland. Para o Carnaval de 1952, lançou a marchinha Quem Tem Amor, Não Dorme – Passo a noite contemplando a lua... –, gravada pelos Vocalistas Tropicais.

 

                        Desde então, Pedro Caetano afastou-se um pouco do ambiente musical do Rio, dedicando-se mais ao cenário capixaba. Mesmo assim, em 1954, quando a brasileira Martha Rocha acabava de ser desclassificada no concurso de Miss Universo, porque tinha duas polegadas a mais nos quadris, ele, Carlos Renato e Alcyr Pires Vermelho compuseram a marchinha Duas Polegadas – Por duas polegadas a mais, passaram a baiana pra trás... –, que a própria Martha gravou e foi muito cantada durante o ano e no Carnaval de 1955. Do outro lado do disco, Martha gravou o baião Rio, Meu Querido – Rio, meu querido, é o meu coração que te diz... –, dos mesmos autores da marchinha.

 

                        Pedro Caetano era casado com Rosa Provedel Caetano, a Rosário, italiana criada no Espírito Santo, que conhecera em Minas Gerais. Em 1951, influenciado por ela, foi passear em Guarapari, famoso balneário capixada, onde, após assistir, à noite, a um show da lua nas pedras da arrebentação marinha, e ver nascer, no dia seguinte, uma linda manhã de sol, compôs a valsa Guarapari – Quer viver o sonho lindo que eu já vivi... –, que Nuno Roland Gravou e se tornou praticamente no hino daquela cidade.

 

                        No rastro de Guarapari, outras cidades do Espírito Santo foram homenageadas, o que valeu a Pedro Caetano, no decorrer do tempo, vários Títulos de Cidadão, placas de rua com seu nome, ainda em vida, e gravação de um LP, financiado pelo Governo do Estado, com as respectivas composições.

 

Pedro Caetano recebendo o título de Cidadão Cachoeirense, em 1969, e capa do LP oficial 

                        Mesmo afastado do ambiente carnavalesco, Pedro Caetano, inspirado no drama do operário que vê os sambistas do morro faturando alto no Carnaval, compôs um samba mirando o infeliz que esquece sua condição de trabalhador que tem de acordar de madrugada para pegar no batente e vai pela noite adentro em busca de um tema. Assim, nasceu o samba Olha o Leite das Crianças – É madrugada, o morro está descansando, mas o sambista vai bolando uma ideia genial... –, que a cantora Marlene defendeu no Concurso Oficial do Carnaval Carioca de 1969, obtendo o honroso 4º Lugar dentre mais de 3.000 músicas inscritas. A foto a seguir registra o momento da premiação.

 

Pedro Caetano com Marlene e Luiz Reis 

                        Sendo somente compositor, Pedro Caetano teve oportunidade de gravar apenas um LP, ele mesmo interpretando seus maiores sucessos, pela gravadora RCA Camden, lançado em 1975, com o título É Com Esse Que Eu Vou:

  

                        Em 1976, a Editora Abril lançou a série Nova História da Música Popular Brasileira, vendida nas Bancas de Revistas, com 75 volumes, cujo Número 66 focalizou o trabalho de Pedro Caetano e Claudionor Cruz: 

 

                        No começo da Década de 1980, Pedro Caetano recebeu, das mãos de Abelardo Barbosa, o Chacrinha, o troféu Velho Guerreiro, do qual muito ele se orgulhava:

  

                        Em 1984, foi homenageado com o primeiro show montado de sua obra, o espetáculo É Com Esse Que Eu Vou, realizado na Sala Sidney Miller da Funarte, na série Projeto Carnavalesco, com roteiro e direção de Ricardo Cravo Albin, que fez de seu repertório uma autêntica Revista Musical. Teatralizando as marchinhas de atualidade política e social, Albin produziu um espetáculo alegre e muito bem-humorado, que contou com as participações de Marlene e o grupo Céu da Boca, além do próprio compositor, incluindo peças carnavalescas recentes, como a marchinha Cineangiocoronariografia – Cineangiocoronariografia, o moderno exame de cardiologia –, feita em parceria com Alcyr Pires Vermelho e Manuel Baña, sátira aos problemas de que era vítima o então Presidente da República João Batista Figueiredo, já gravada por Nara Leão.

 

Pedro Caetano, e Marlene e o grupo Céu da Boca

 

                        Ainda em 1984, Pedro Caetano lançou um livro em comemoração a seus 50 anos de carreira, relançado em 1988 com o título 54 Anos de Música Popular Brasileira - O Que Fiz e o Que Vi, edição que me foi autografada por ele em 24.10.1991, nove meses antes de seu falecimento. No prefácio, José Ramos Tinhorão, jornalista, pesquisador e crítico musical, declara que, diante da memória curta da Música Popular, o ideal seria que cada artista, ao julgar cumprida sua trajetória, se debruçasse sobre seu álbum de recortes e, pessoalmente, escrevesse sua biografia. E lamenta que, salvo honrosas exceções, os compositores e cantores são os primeiros a não saber nada de suas próprias carreiras.

 

                        O exemplar cuja capa vocês veem logo abaixo serviu-me por demais na redação desta matéria, revelando-me fatos desconhecido, mas peca muito ao não os amarrar às datas em que ocorreram. Em determinados trechos, há lapsos de memória, quando o próprio autor declara não se lembrar de partes da composição que está mencionando. Mas, repito, mesmo com essa falha, orientou-me bastante e é leitura indispensável a qualquer pesquisador.

 

                         Isso estabelecido, passemos ao samba-choro Foi Uma Pedra Que Rolou. Jô Soares, em seu magnífico best-seller O Homem Que Matou Getúlio Vargas, criou um personagem fictício, o bósnio Dimitri Borja Korozec, sobrinho bastardo de Getúlio Vargas. Dimitri, sujeito desastrado além da conta, vem ao Brasil para assassinar o tio, mas todas as tentativas são malogradas, devido a sua “propensão natural para a catástrofe”. Jô coloca o terrorista atrapalhado em perigosas situações verídicas, das quais Getúlio saiu ileso, mas deixou passar uma, que ficou fartamente documentada nos anais de nossa história: a pedra que rolou!

 

                        Em 1933, Getúlio seguia de automóvel pela Estrada Rio–Petrópolis quando, no Quilômetro 53, enorme bloco de pedra se desprendeu duma encosta de granito à beira da estrada, amassando a capota do carro, matando seu Ajudante de Ordens, Coronel Celso Pestana, e ferindo, além do próprio presidente, sua mulher, Dona Darcy Vargas.

 

                        Se Jô Soares deixou passar esse episódio em branco, tal não aconteceu com Pedro Caetano, que soube glosá-lo muito bem. Mas, em seu livro, se esqueceu de mencionar a inspiração, contando apenas os fatos que antecederam a gravação daquela que foi a primeira composição de sua vida.

 

                        Entre seus companheiros da Ponte do Maracanã, havia um, conhecido como Torrinhos, primo de Sílvio Caldas, que se prontificou a apresentá-lo ao cantor. O encontro se deu quando Sílvio jogava bilhar no Salão Trianon, que ficava em frente ao Café Nice.

 

                        Sílvio os recebeu muito bem mas, naturalmente, porque já andava saturado de ouvir tantos chatos com mania e fazer música, não acreditou muito. Entretanto, quando os dois começaram a cantar o samba-choro bem próximo à mesa em que ele jogava, foi-se chegando, passou a interessar-se, chamou-os, aprendeu o samba e, assim, aconteceu o lançamento de mais um “careta” na Musica Popular Brasileira, ocorrido no início de 1934, no Programa do Casé, da Rádio Philips. Lançado o samba-choro, Sílvio Caldas prometeu gravá-lo na semana seguinte, mas o tempo foi-se passando, e a promessa só se fez cumprir 20 anos depois, quando a música já havia sido gravada, em 1940, pela dupla Joel e Gaúcho.

 

                        Esta matéria ficou muito longa, e acho que isso aconteceu pela admiração que nutro por Pedro Caetano desde meus tempos de criança, quando aprendi a gostar da Música Popular Brasileira, e suas composições ajudaram a construir meu repertório de marchinhas e sambas, tanto os carnavalescos como os de meio de ano.

 

                        Possuo em meu acervo 136 títulos de Pedro Caetano, quer dele individualmente ou com parceiros. Escolhi 6 faixas como amostra de seu trabalho, uma, por ter sido sua primeira composição, outra, por ser um samba-exaltação, gênero que aprendi a curtir desde quando o Brasil mandou seus pracinhas para o front europeu, na Segunda Guerra Mundial, e as demais por fazerem parte de minhas lembranças do tempo em que e MPB dominava nosso cenário musical: 

                        Foi Uma Pedra Que Rolou, samba-choro, na voz de Sílvio Caldas, de 1954:

 

                        Sandália de Prata, samba-exaltação, na voz de Francisco Alves, de 1942:

 

                        Cinco Letras Que Choram, samba-canção, com Francisco Alves, de 1947:

 

                        Onde Estão os Tamborins?, samba, com Quatro Ases e Um Curinga, de 1947:

 

                        É Com Esse Que Eu Vou, samba, com Quatro Ases e Um Curinga, de 1951

 

                        Não poderia faltar a valsa Guarapari, na voz de Nuno Roland, gravada em 1951:

 


MPB da Velha Guarda quarta, 07 de setembro de 2022

MIGUEL GUSTAVO E O SESQUICENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA

 

MIGUEL GUSTAVO

E O SESQUICENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA

Raimundo Floriano

 

 

 

                         Miguel Werneck Gustavo de Sousa Martins, compositor, jornalista e poeta, nasceu a 24.03.1922, no Rio de Janeiro (RJ), onde veio a falecer a 22.01.1972, jovem ainda, aos 49 anos de idade.

 

                        Criado na Capital fluminense, morou nos subúrbios de Sampaio, Osvaldo Cruz, Caxambi e no sopé do Morro da Mangueira. Aos 19 anos, deixou os estudos para trabalhar como discotecário na Rádio Vera Cruz, onde, depois, passou a radialista e escrevia um programa de 30 minutos, em versos, denominado As Mais Belas Páginas.

 

                        No ano de 1950, começou a escrever jingles, alguns dos quais o fizeram ficar famoso e chegaram a causar polêmica, como o das Casas da Banha, que aproveitava a melodia de Jesus, Alegria dos Homens, de Johann Sebastian Bach. Nessa época, teve início sua carreira de compositor.

 

                        O primeiro sucesso veio em 1955, com o samba Café Soçaite (Doutor de anedota e de champanhota/Estou acontecendo no café soçaite...), na voz de Jorge Veiga. Sua discografia registra grandes títulos da MPB, como o samba E Daí (Proibiram que eu te amasse/Proibiram que eu te visse...) gravado em 1959 por Isaurinha Garcia; a marchinha Fanzoca do Rádio (Ela é fã da Emilinha/Não sai do César de Alencar...), gravada pelo palhaço Carequinha, em 1958; e a marcinha Brigitte Bardot (Brigitte Bardot, Bardot/Brigitte beijou, beijou...), gravada por Jorge Veiga, em 1961. Também de grande impacto na fonografia nacional foram os sambas de breque gravados pelo cantor Moreira da Silva, que lhe valeram a alcunha de Kid Moringueira.

 

                        Dentre seus jingles mais conhecidos, estão Vamos Jangar (Na hora de votar eu jangar, eu vou jangar/É Jango, é Jango, é o Jango Goulart...) com Jorge Veiga e outros artistas, que o Brasil inteiro cantou em 1960 e foi responsável pela eleição de João Goulart à Vice-Presidência da República, e Tatuzinho, propaganda de apreciada marca de cachaça (Ai tatu, tatuzinho/Abre a garrafa e me dá um pouquinho...), muito lembrado até hoje,

 

                        Todas as músicas acima citadas tornaram-se bem conhecidas pela melodia, pela letra, pelo ritmo, pelo intérprete, mas nunca se sabendo quem era seu autor, seu criador.

 

                        Em 1979, um jingle feito por Miguel Gustavo para cervejaria patrocinadora das transmissões dos jogos pela televisão da Copa do Mundo de Futebol de 1970 tirou-o do anonimato, fazendo seu nome conhecido por todos os brasileiros: Pra Frente, Brasil (Noventa milhões em ação/Pra Frente, Brasil, do meu coração...). A marchinha transformou-se, imediatamente, no Hino da Seleção Canarinho e, até hoje, não apareceu outra que a substituísse.

 

                        Durante muito anos, Miguel Gustavo foi casado com a jornalista e depois vereadora Sagramor de Escudero, com quem teve a filha Ana Maria. A foto a seguir é de 1954.

 

Miguel, Sagramor e Ana 

                        No próximo dia 7, sexta-feira, o Brasil assinala o 190º Aniversário da Independência. Não sei se haverá comemorações. Em 1971, no Sesquicentenário, as festas foram com toda a pompa e circunstância.

  

                        Em 1971, pouco antes de sua morte, Miguel Gustavo deixou-nos, para o Carnaval de 1972, a marchinha Marcha do Sesquicentenário da Independência, gravação de Miltinho. Transformada posteriormente em dobrado, foi tocada pelas Bandas de Música, militares ou civis, que desfilaram na festa de 7 de Setembro de 1972. E é sobre ela que agora passo a lhes falar.

 

                        Como pesquisador e colecionador da MPB, sendo o Carnaval e o Dobrado duas de minhas especialidades, jamais eu poderia deixar de tê-la em minhas estantes. Como, de fato, eu a possuía, na interpretação do Coral Joab. Com a proximidade dos 190 anos da Independência, lancei-me à caça, usando de todos os meios para conseguir e a gravação original, a do Miltinho.

 

Miltinho 

                        Consegui localizá-la num site de busca estrangeiro, não me recordo qual. Depois de cumprir todas as exigências burocráticas, recebi esta mensagem: “Bonjour raimundo76; Voici le montant total que nous avons débité sur votre carte: 15.06 EUR. Votre commande sur CDandLP.com a été expédiée par le vendeur recordsbymail le 09/03/2012.” A despesa ficou em torno de R$38,00.

 

                        No dia 24.04.2012, mais de um mês depois, chega-me as mãos, remetido pelo vendedor Craig Moerer, de Portland, Oregon, USA, o compacto que adiante lhes mostro:

  

                        É um compacto simples, uma faixa de cada dado. Ao gravar a Marcha do Sesquicentenário da Independência, Lado 2 do disco, Miltinho deixava de lado o estilo que o caracterizava: o samba balançado e sincopado. Mas só nessa faixa. De quebra, no Lado 1 – a principal para gravadora, supõe-se –, retomava seu estilo com um samba de Luiz Reis, Crioulo Branco, que nunca aconteceu nas paradas.

 

                        Foi, como se diz no jargão jornalístico, um esforço de reportagem, mas valeu! Valeu, porque agora tenho a oportunidade de compartilhar com toda a Comunidade Fubânica essa raridade musical e o talento de dois monstros sagrados da Música Popular Brasileira, o compositor Miguel Gustavo e o cantor Miltinho.

 

                        Miguel Gustavo não é um ilustre desconhecido aqui neste jornal. A 29 de março deste ano, Bruno Negromonte, nosso confrade e grande pesquisador da MPB, já nos brindara com duas de suas composições: Esse Norte é Minha Sorte, baião em parceria com Ruy Duarte, na voz de Dolores Duran, e Café Soçaite, cantado por Jorge Veiga. Trago-o à tona outra vez, não só para que ele seja relembrado, como também para festejar a grande data dos 190 anos da Independência do Brasil. 

                        Com vocês, a Marcha do Sesquicentenário da Independência, em gravação original:

 

                        E mais estes sucessos da autoria de Miguel Gustavo: 

                        Café Soçaite, samba-de-breque, com Jorge Veiga, lançado em 1955:

 

                        Fanzoca do Rádio, marchinha, com Carequinha, lançada em 1958:

 

                        Brigitte Bardot, marchinha, com Jorge Veiga, lançada em 1961:

 

                        Pra Frente, Brasil, marchinha, com a Turma da Copa, gravada em 1970:

 


MPB da Velha Guarda segunda, 22 de agosto de 2022

JAMELÃO: MINHA VELHA MANGUEIRA QUE SE FOI
JAMELÃOMINHA VELHA MANGUEIRA QUE SE FOI

Raimundo Floriano

 

 

José Clementino Bispo dos Santos, o Jamelão, e a bandeira da Verde e Rosa

(Jamelão: Rio de Janeiro (RJ), 12.5.1913 – 14.6.2008) 

 

                               Sou Mangueira desde meus tempos de pés no chão e calças curtas lá no sertão sul-maranhense. Mal atingira a idade da razão, e já me maravilhava com os lindos sambas mangueirenses, entoados por Dona Maria Bezerra, minha saudosa mãezinha, enquanto controlava a meninada nas tarefas de limpar terreiro e terreno, roçar, capinar, plantar, colher, debulhar legumes, descaroçar algodão, desembaraçar meada, ou nas suas corriqueiras tarefas domésticas ao pé do fogão, à boca do forno e à frente do tear. Mangueira, Despedida de Mangueira e Sabiá de Mangueira foram das primeiras músicas que aprendi a cantar.

 

                        A Mangueira introduziu em meu altar o primeiro super-herói dos muitos que eu viria a cultuar. Chamava-se Laurindo e era seu mestre-de-bateria. Estávamos no tempo da Guerra, e o Brasil se aliara a outros países na luta contra o Eixo. Por isso, vigorava o “esforço de guerra”, no qual o governo se empenhava na angariação do máximo de metal para a fabricação de material bélico. Vivíamos, igualmente, na iminência do fim da Praça Onze como templo do Carnaval Carioca.

 

                        No samba Laurindo, vemos o sambista chegar com sua bateria àquele local, constatar seu ocaso, apitar a “evolução” e toda a Escola largar a bateria no chão, formando imensa pirâmide a ser derretida no mencionado esforço. Mas não ficou só nisso. Em Lá Vem Mangueira, vemos a Escola descer o morro sem Laurindo à frente da bateria, pois fora ele convocado para o Front. Em Cabo Laurindo, temos sua volta triunfal com as duas divisas que merecidamente conquistou. Em Comício em Mangueira, ele declina da oportunidade que lhe ofereciam para disputar qualquer cargo eletivo.

 

                        A bateria da Mangueira é inconfundível. Enquanto as outras têm o surdão e a resposta – TUM-tum, TUM-tum, TUM-tum –, ela tem apenas um tempo forte no qual, à distância, ouve-se somente a pancada do surdão – TUM-(   ),  TUM-(   ),  TUM-(   ). Deu pra entender? Não,? Pois então ouçam as gravações existentes para conferir. E isso foi invenção do inesquecível e lendário Cabo Laurindo.

 

Bateristas da Mangueira

 

                        Aí, em 1949, chegou o Jamelão. Ele já fizera várias incursões no mudo musical, porém foi na Mangueira que encontrou o ambiente para se afirmar como cantor e se transformar no maior intérprete de sambas-de-enredo de todos os tempos, reinado que durou por 57 anos, até sua morte. Seu primeiro disco, ainda em 1949, em 78 rotações, constou do calango A Jibóia Comeu, e do samba Pensando Nela. Naquele tempo, os sambas-de-enredo ainda não representavam possibilidade de lucro para as gravadoras, que preferiam investir com força nas marchinhas e nos sambas carnavalescos, cantados nos corsos e nos salões. Dessa forma, muita coisa boa se perdeu. Ainda que não concordasse com a nova roupagem que tomou o samba, Jamelão sempre fez questão de defender a Escola na Avenida. Como prova Das Águas do Velho Chico, Nasce Um Rio Esperança, de 2006, seu último trabalho.

 

Jamelão: a Mangueira e o Vasco no coração 

                        Jamelão tinha comigo e com Jackson do Pandeiro algo em comum: não era de andar se abrindo facilmente, feito cadeado de soldado. O que levou alguns dos seus críticos a chamarem-no de mal-humorado. Mas porra, digo eu, como pode ser mal-humorado um cara que vive envolvido com música, fazendo do cântico sua profissão. Concordo com ele quando, ao ser interpelado por uma repórter sobre por que não ria, disparou: “Rir de quê?”.

 

                        Durante muitos anos foi crooner da Orquestra Tabajara, de Severino Araújo, com quem gravou grandes sucessos do compositor Lupicínio Rodrigues, do qual é até hoje considerado também o melhor intérprete. Caderia VaziaMeu Pecado e Nervos de Aço são belos sambas-canções que povoaram minhas serenatas nos tempos de rapaz solteiro, namorador e raparigueiro.

 

                        Jamelão nasceu no Rio de Janeiro (RJ), no dia 12 de maio de 1913. Ao falecer, no dia 14 de junho de 2008, aos 95 anos de idade, Jamelão nos deixou uma obra de extrema importância para a MPB. Ao partir, levou consigo a velha Mangueira tradicional, hoje submetida a longos sambas plastificados – o último samba-de-enredo que gravou dura 6:33 min –, difíceis de cantar ou de assobiar, e que morrem na quarta-feira de cinzas.

 

                        Agora, outro vulto histórico da Velha Guarda da Mangueira se foi, deixando-a quase órfã de suas raízes: 

 

                        Hélio Laurindo da Silva, o Delegado – por prender as cabrochas na conversa –, estava com quase 91 anos de idade.

 

                        Delegado, Presidente de Honra de Mangueira, foi o Mestre-Sala mais famoso do Carnaval Carioca. Jamais tirou nota abaixo de 10 nos desfiles da agremiação e, nos últimos três anos, mesmo lutando contra o câncer que o vitimou, participava de todos os eventos da Escola à qual dedicou todos os momentos de sua existência.

 

                        A Mangueira continua, sobreviverá sempre, com a força de seus fieis valores, como as cantoras Alcione Beth Carvalho: 

 

                        Sua Velha Guarda será a fonte inspiradora para a juventude mangueirense: 

 

                        Belas mulheres também darão brilho especial a seus desfiles: 

 

                        Entretanto, mesmo com toda a beleza visual, com toda a modernidade e com toda a arte apresentada nos efeitos especais e nas coreografias, considero que a Mangueira dos sambas bonitos, que se cantavam para sempre, é apenas história. Os sambas plastificados, quilométricos, com seus ritmos acelerados, acabaram com a musicalidade, restando apenas o espetáculo, feito mais para a TV do que para verdadeiros sambistas.

 

                        Possuo em meu acervo fonográfico 42 sambas que cantam a Mangueira, alguns, como acima citados, fazendo parte de minha infância.

 

                        Para mostrar-lhes um pouquinho do trabalho do Jamelão, aqui vão títulos que ficaram para sempre no coração dos brasileiros de seu empo.

 

                        As Três Rendeiras do Universo, samba-enredo de Hélio Turco, Alvinho e Jurandir da Mangueira - 1991:

 

                        Cântico à Natureza, samba-enredo de Nélson Matos, Jamelão e A. Lourenço - 1955:

 

                        Capitão da Mata, samba de Henrique de Almeida, Gadé e Humberto de Carvalho - 1950:

 

                        Caymmi Mostra ao Mundo o Que a Bahia e a Mangueira Têm, samba-enredo de Ivo, Paulinho e Lula - 1986:

 

                        Cem Anos de Liberdade, Realidade ou Ilusão?, samba-enredo de Hélio Turco, Jurandir e Alvinho - 1988:

 

                        E Deu a Louca no Barroco - samba-enredo de Hélio Turco, Jurandir e Alvinho -1990:

 

                        Eu Agora Sou Feliz, samba de Jamelão e Mestre Gato - 1963:

 

                        Exaltação à Mangueira, samba de Enéas Brites e Aloísio Augusto da Costa - 1956:

 

                        Fechei a Porta, samba de Sebastião Mota e Ferreira dos Santos - 1960:

 

                        Guarde Seu Conselho, samba de Alcebíades Nogueira, L. França e Átila Nunes - 1959:

 

                        Imagens Poéticas de Jorge de Lima, samba-enredo de Tolito, Mosar e Délson - 1975:

 

                        O Samba É Bom Assim, partido-alto de Hélio Nascimento e Norival Reis - 1959:

 

                        Os Tambores da Mangueira na Terra da Encantaria, samba-enredo de (Chiquinho Campo Grande e Marcondes - 1996:

 

                        Quem Samba, Fica, partido-alto de Jamelão e Tião Motorista - 1963:

 

                        Se Todos Fossem Iguais a Você, samba-enredo de Hélio Turco, Alvinho e Jurandir da Mangueira - 1992:

 

                        Só Meu Coração, samba de Ferreira dos Santos e José Garcia - 1962:

 

                        Terra de Caruaru, samba de Sidney da Conceição e Antônio Corvina - 1970:

 

                        Trinca de Reis, samba-enredo de Ney João, Adílson da Viola e Fandinho - 1989:

 

 

 

 


MPB da Velha Guarda sábado, 20 de agosto de 2022

JARARACA E RATINHO
JARARACA E RATINHO

Raimundo Floriano

 

 

 

                        Dupla sertaneja formada em 1927 pelo violonista José Luís Rodrigues Calazans, o Jararaca, nascido em Maceió (AL), a 19.9.1896, e falecido no Rio de Janeiro (RJ) a 11.10.1977, e pelo saxofonista Severino Rangel de Carvalho, o Ratinho, nascido em Itabaiana (PB), a 13.4.1896, e falecido em Duque de Caxias (RJ), a 08.9.1972.

 

                        José Luís encontrou Severino em 1918, nas rodas artísticas do Recife. Começaram a tocar juntos, organizando um grupo, Os Turunas Pernambucanos, onde apareciam ao lado de Pirauá, Romualdo e João Frazão, violonistas, Robson, cavaquinista, Artur Souza, percussionista, e um vocalista não identificado, que usava o pseudônimo Preá.

 

Os Turunas Pernambucanos

 

                        Todos os seus integrantes adotavam apelidos de bichos, permanecendo os de Jararaca e Ratinho, mesmo depois de sua dissolução: Juntamente com os Turunas da Mauriceia, influenciaram a música carioca no final da Década de 1920 e começo da Década de 1930, como pode ser verificado no grupo Bando de Tangarás, criado no bairro de Vila Isabel, que contava entre outros com Noel Rosa, Almirante e Braguinha.

 

                        Em 1921, os Turunas Pernambucanos exibiram-se por 15 dias no Cine-Teatro Moderno com o conjunto Oito Batutas – formado por Pixinguinha, saxofone e flauta, Donga, violão, China, voz, violão e piano, Raul Palmieri, violão, Nélson Alves, cavaquinho, José Alves, bandolim e ganzá, Jacó Palmieri, pandeiro, e Luís Oliveira, bandola e reco-reco –, que visitava o Recife. Foi o estímulo decisivo para o grupo, convidado então para os festejos do Centenário da Independência do Brasil, no Rio de Janeiro, em 1922, fazendo grande sucesso com suas emboladas, cocos, choros, valsas e seus trajes típicos: alpercatas e chapéus de couro.

 

                        Desfazendo-se os Turunas, formou-se a dupla na inauguração do Teatro Santa Helena, na Praça da Sé, São Paulo, em 1927, empolgando o público com emboladas e esquetes humorísticos, geralmente satirizando o momento político vivido na época. Seus quadros exploravam também situações envolvendo “turcos”, caipiras e gente da roça.

 

Jararaca e Ratinho: campões de irreverência 

                        Ratinho imortalizou-se como saxofonista, ao compor e gravar o choro Saxofone, Por Que Choras?, item obrigatório em qualquer antologia chorona. Seu trabalho como instrumentista é aqui apresentado nas Faixas de 01 a 19.

 

Jararaca e Ratinho em ação

 

                        Jararaca, por sua vez, não deixou por menos, isso no âmbito do Carnaval Brasileiro. A marchinha Mamãe, Eu Quero, dele e de Vicente Paiva, é até hoje a mais tocada e cantada em qualquer festejo momesco, seja nos salões ou nos blocos de sujo.

 

                        Para dar-lhes pequena amostra do variadíssimo repertório da Dupla, escolhi as faixas abaixo, dentro dos diferenciados gêneros que a fizeram famosa.

 

RATINHO EM SOLO DE SAXOFONE 

Brincando - Choro (Ratinho) 1930

 

Cenira - Valsa (Ratinho) 1930

 

Nas Bandas do Sul - Rancheira (Ratinho) 1931

 

Brincando Contigo - Choro (Ratinho) 1939

 

Vera - Valsa (Ratinho) 1940

 

Pinicadinho - Choro (Ratinho) 1947

 

Fala, Saxofone - Choro (Ratinho) 1949

 

Minha Tristeza - Choro (Ratinho) 1951

 

Não Me Compreendeste - Valsa - (Ratinho) 1951

 

Saxofone, Por Que Choras? - Choro (Ratinho) 1930

  

JARARACA NO CARNAVAL 

A Baiana Tem - Maxixe (Jararaca e Sátiro de Melo) Jararaca - 1940

 

As Vitaminas - Marcha (Pixinguinha e Jararaca) Jararaca - 1948

 

Bonito! - Marcha (Jararaca e Ratinho) Jararaca e Ratinho - 1945

 

Eu Vou Quebrar o Coco - Samba (Jararaca e Roberto Martins) Jararaca - 1940

 

Flauta de Bambu - Marcha (Nássara e Sá Roris) Jararaca - 1939

 

Lá Vai Ela - Marcha (Jararaca e Vicente Paiva) Jararaca - 1937

 

Meu Pirão Primeiro - Marcha (Jararaca e Valfrido Silva) Jararaca e Ratinho - 1945

 

Oh! Zé - Marcha (Jararaca e Vicente Paiva) Jararaca - 1939

 

Vamos, Maria, Vamos - Maxixe (Jararaca e Vicente Paiva) Jararaca - 1938

 

Mamãe, Eu Quero - Marcha (Jararaca e Vicente Paiva) Jararaca - 1937

 

 

JARARACA E RATINHO 

                        Aqui, vocês encontrarão as gravações da dupla nos gêneros que a popularizaram no início da carreira: embolada, coco, desafio e outros. 

Sapo no Saco - Embolada (Jararaca) Jararaca e Ratinho - 1929

 

Gato Cabeçudo - Embolada (Jararaca) Jararaca e Ratinho - 1929

 

Vamo Apanhar Limão - Embolada (Jararaca) Jararaca e Ratinho - 1929

 

Baiana - Maxixe (Luperce Miranda) Jararaca e Ratinho - 1929

 

Meu Noivado - Embolada (João Pernambuco) Jararaca e Ratinho - 1930

 

Coco do Mato - Coco (Jararaca e Ratinho) Jararaca e Ratinho - 1930

 

Vamo Cortá Cana - Embolada (Jararaca) Jararaca e Ratinho - 1930

 

Saco e Bisaco - Embolada (Jararaca) Jararaca e Ratinho - 1930

 

A-B-C - Embolada (João Pernambuco) Jararaca e Ratinho - 1930

 

Lá Vai Desafio - Desafio (Jararaca) Jararaca e Ratinho - 1948

 

 


MPB da Velha Guarda domingo, 31 de julho de 2022

ISAURINHA GARCIA, A PERSONALÍSSIMA
ISAURINHA GARCIA, A PERSONALÍSSIMA

Raimundo Floriano

 

 

                        Isaura Garcia, mais conhecida como Isaurinha Garcia, cantora brasileira, nasceu em São Paulo (SP), a 26 de fevereiro de 1923, onde veio a falecer, a 30 de agosto de 1993, aos 70 anos de idade. Era filha de Amélia Pancetti, irmã do célebre pintor paulista Giuseppe Pancetti, não se tendo conhecimento do nome de seu pai.

 

                        Aos 13 anos, ela e a mãe inscreveram-se no programa de calouros A Hora da Peneira Rhodine, da Rádio Cultura de São Pulo, mas nenhuma das duas consegui classificar-se. Algum tempo depois, porém, obteve o primeiro lugar no programa de Otávio Gabus Mendes, da Rádio Record, em que se apresentou cantando o samba Camisa Listrada, de Assis Valente. O êxito deu-lhe a chance de participar de um programa especial, que reunia calouro selecionados.

 

                        Em 1938, foi contratada pela Rádio Record de São Paulo, onde permaneceu por toda a carreira artística. No início, formou dupla com o cantor Vassourinha, da mesma emissora, para shows e apresentações em circos. Em seu repertório, predominavam criações de Carmen Miranda e Aracy de Almeida, duas cantoras que muito a influenciaram.

 

                        Sua primeira gravação, um jingle para o saponáceo Radium, despertou atenção para seu estilo de cantar. Na Columbia, do Rio de Janeiro, gravou, em 1942, seu primeiro disco, com Chega de Tanto Amor, de Mário Lago, e Pode Ser, de Geraldo Pereira e Marino Pinto. No mesmo ano, lançou outros títulos, como A Baratinha, de Antônio Almeida, Eu Não Sou Pano de Prato, de Mário Lago e Roberto Martins, Aproveita, Beleléu, de Marino e Murilo Caldas e O Telefone Está Chamando, de Benedito Lacerda e Popeye do Pandeiro.

                       

                        Seus primeiros êxitos em disco, porém, aconteceram na RCA Victor, com Aperto de Mão, de Meira, Dino e Augusto Mesquita e O Sorriso do Paulinho, de Gastão Viana e Mário Rossi, lançados em 1943, quando também gravou Duas Mulheres e Um Homem, de Ciro de Sousa e Jorge de Castro. Em 1945, lançou Barulho no Morro, de Roberto Martins, e, em 1946, Mensagem, de Cícero Nunes e Aldo Cabral, que se tornaria um clássico de seu repertório e maior sucesso de sua carreira.

 

                        Em 1947, com Os Namorados da Lua, laçou o samba de Lúcio Alves e Haroldo Barbosa De Conversa em Conversa, outro de seus grandes hits. Nessa época, apesar de ser uma cantora de São Paulo, tinha popularidade nacional e era uma das maiores estrelas da Rádio Record. Costumava apresentar-se, também, no Copacabana Palace Hotel e no programa César de Alencar, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, além de realizar excursões por todo o Brasil.

  

                        Crescente foi, igualmente, o êxito que ia alcançando na RCA Victor: A toada Mariquinha, de Denis Brean e Raul Duarte, o choro Velho Enferrujado, de Gadê e Valfrido Silva, e o baião Pé de Manacá, de Hervé Cordovil e Marisa Pinto Coelho, cantado em dupla com Hervé, foram de imenso sucesso em 1950.

 

                        Continuou na Victor até 1956, quando se transferiu para a Odeon, estreando com o samba de Billy Blanco Mocinho Bonito. Em 1957, gravou seu primeiro LP – 10 polegadas –, A Personalíssima, alusão ao cognome que lhe fora dado por Blota Júnior, animador da Record. 

 

                        Por essa época, numa excursão ao Recife, conheceu o organista Walter Wanderley, com quem viria a se casar e gravar alguns elepês, entre eles Sempre Personalíssima, destacando-se Feiura Não É Nada, de Billy Blanco, e E Daí, de Miguel Gustavo; Saudade Querida, destacando-se Ninho do Nonô, de Denis Brean e Corcovado, de Tom Jobim; A Pedida É Samba, destacando-se Palhaçada, de Haroldo Barbosa e Luís Reis, e Que É Que Eu Faço, de Ribamar e Dolores Duran; Sambas da Madrugada, destacando-se Ah! Se Eu Pudesse, de Ronaldo Bôscoli e Roberto Menescal; e Atualíssima, destacando-se Errinho À-toa, da mesma dupla. 

 

                        Em 1969, voltou a gravar, para a Continental, dois elepês: Martinho da Vila/Dolores Duran na Voz de Isaura Garcia e Ary Barroso/Billy Blanco na Voz de Isaura Garcia, e participou do V FMPB, da TV Record, defendendo a canção Primavera, de Lupicínio Rodrigues e Hamilton Chaves. Em 1970, lançou Chico Buarque/Noel Rosa na voz de Isaura Garcia, aposentou-se da Rádio Record, mas continuou a apresentar-se em shows na Igrejinha, na Casa de Badalação e no Tédio, em São Paulo. 

 

                        Em1973, gravou, ainda para a Continental, o LP Isaura Garcia, em que se destacavam as faixas Desmazelo, de Antônio Carlos e Jocafi, e reprise de De Conversa em Conversa e Mensagem

 

                        Fazendo excursões ocasionais, nunca deixou de morar em São Paulo

 

                        Com mais de cinquenta anos de carreira, gravou em torno de 300 canções. No ano de 2003, foi homenageada com a peça Isaurinha - Samba, Jazz & Bossa Nova, interpretada por Rosamaria Murtinho, grande sucesso de crítica e de público.

 

                        Para que vocês conheçam um pouco do trabalho desse genial ícone da MPB, apresento-lhes algumas canções que inebriaram minha geração.

 

                        Aperto de Mão, samba de Meira, Dino e Augusto Mesquita, lançado em 1943:

                        O Sorriso do Paulinho, samba de Gastão Viana e Mário Rossi, lançado em 1943:

 

                        Barulho no Morro, samba de Roberto Martins, lançado em 1945:

 

                        Mensagem, samba-canção de Cícero Nunes e Aldo Cabral, lançado do 1946:

 

                        Não Faças Caso, Coração, samba de Custódio Mesquita e Ewaldo Ruy, lançado em 1945:

 

                        De Conversa em Conversa, samba-canção de Lúcio Alves e Haroldo Barbosa, com a participação de Os Namorados da Lua, lançado em 1947:

 

                        Pé de Manacá, baião de Hervé Cordovil e Marisa Pinto Coelho, com a participação de Hervé, lançado em 1950:

 

                        Babaquara, marchinha de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, lançada em 1952

 

                        Mocinho Bonito, samba-canção de Billy Blanco, lançado em 1956:

 

                        E Daí?, samba de Miguel Gustavo, lançado em 1958:

 

                        Corcovado, samba-canção de Tom Jobim, lançado em 1960:

 

                        Palhaçada, samba de Haroldo Barbosa e Luís Reis, lançado em 1963:

 


MPB da Velha Guarda quarta, 20 de julho de 2022

CARMEN MIRANDA, A PEQUENA NOTÁVEL
CARMEN MIRANDA, A PEQUENA NOTÁVEL

Raimundo Floriano

 

 

Carmen Miranda

(9.2.1909 – 5.8.1955)

 

                        Maria do Carmo Miranda da Cunha nasceu em Marco de Canavezes, Portugal, a 9.2.1909. Tinha apenas 10 meses quando veio para o Brasil com sua mãe, Maria Emília Miranda da Cunha e a irmã mais velha, Olinda, seguindo o pai, o barbeiro José Maria Pinto da Cunha, que aqui já se encontrava, o qual lhe dera o cognome Carmen devido à sua grande paixão pela ópera.

 

                         Nunca voltou à sua terra natal, o que não impediu que a Câmara do Conselho de Carmo de Canavezes, muitos anos mais tarde, desse seu nome ao Museu Municipal.

 

                        Fez os primeiros estudos no colégio de freiras Escola Santa Teresa, do Rio de Janeiro e, desde essa época, revelou jeito extraordinário para cantar. Apresentou-se no colégio declamando para o Núcleo Apostólico, chamando a atenção por sua peculiar gesticulação.

 

                        Dificuldades financeiras da família obrigaram-na a trabalhar. Aos 15 anos, conseguiu emprego de balconista e, mais tarde, de chapeleira, numa loja de artigos femininos. Costumava cantar com as irmãs Olinda e Cecília na pensão que a mãe instalara, sempre frequentada por músicos.

 

                        Em 1929, o violonista Josué de Barros, seu descobridor e protetor artístico, levou-a para a Rádio Sociedade. Para sua primeira gravação, realizada na Brunswick, recém-inaugurada, Josué compôs os sambas Não Vá-se Embora e Se o Samba é Moda. No seu segundo disco, já na RCA Victor, lançou as toadas Triste Jandaia e Dona Balbina, ambas também de Josué.

 

                        Para o Carnaval de 1930, gravou as marchinhas Iaiá, Ioiô, de Henrique Vogeler, Luiz Peixoto e Marques Porto, e Taí (Pra Você Gostar de Mim), escrita especialmente para ela por Joubert de Carvalho, a qual teve sucesso estrondoso é até hoje é tocada nos salões e nos blocos de sujo em que se cultuam os sucessos carnavalescos do passado.

 

                        Daí pra frente, sua carreira teve ascensão meteórica. Trabalhou em teatros, revistas, clubes, participou de filmes e excursionou pelo Brasil e países da América do Sul. Sua discografia de quase 500 faixas consigna todos os grandes autores de sua época.

                        Em 1933, começou a gravar composições de Assis Valente, de quem se tornaria a principal intérprete, lançando entre as primeiras as marchinhas e Etc. e Good Bye. No ano seguinte, vieram novos êxitos: Alô, Alô, samba de André Filho, Isto É lá com Santo Antônio, marcha de Lamartine Babo, em dupla com Mário Reis, e nova excursão ao exterior, dessa vez à Argentina, com Aurora Miranda, sua irmã mais nova, e o Bando da Lua.

 

                        Em 1938, ao lado de Dircinha Batista, Linda Batista, Emilinha Borba, Carlos Galhardo, Orlando Silva e Aurora Miranda, atuou no filme Banana da Terra, de J. Ruy, no qual se apresentou pela primeira vez vestida de baiana para interpretar, acompanhada pelo Bando da Lua, o samba de Dorival Caymmi O Que É Que a Baiana Tem, também lançado em disco, em dueto com Caymmi, para o Carnaval de 1939.

 

                        Acompanhada pelo Bando da Lua, apresentava-se no Cassino da Urca, no Rio de janeiro, com roupa de baiana estilizada que, assim como sua característica gesticulação com os braços, marcou fundamentalmente sua imagem pública.

 

                        Em 1939, quando era a cantora de maior prestígio da Música Popular Brasileira, seguiu para os Estados Unidos, contratada pelo empresário norte-americano Lee Schubert, estreando, com o Bando da Lua – que lá ficou conhecido como The Moon Gang – na revista musical Streets of Paris, na Broadway, onde cantava Mamãe, Eu Quero, de Jararaca e Vicente Paiva, Marchinha do Grande Galo, de Lamartine Babo e Paulo Barbosa), Touradas em Madrid, de João de Barro e Alberto Ribeiro, e South American Way, de Al Dubin e Jimmy Mc Hugh, um de seus grandes sucessos na Terra de Tio Sam. Nesse mesmo ano, exibiu-se com a Orquestra de Romeu Silva na Feira Mundial de Nova Iorque.

 

                        Em 1940, apresentou-se na Casa Branca para o presidente Franklin Delano Roosevelt, já sendo considerada a terceira personalidade mais popular de Nova Iorque. Era então conhecida como The Brazilian Bombshell. Nesse período, manteve casos amorosos com os atores John Wayne e Dana Andrews e também com o brasileiro Aloysio de Oliveira, integrante do Bando da Lua.

 

                        Em julho do mesmo ano, voltou ao Brasil e, apesar da calorosa recepção durante sua chegada, sua re-estréia no Cassino da Urca foi marcada pela frieza do público.

 

                        Acusada de voltar “americanizada”, reformulou então seu repertório – naquela fase com ritmo muito à base de rumbas – e apresentou-se novamente no Cassino, obtendo êxito esmagador. Gravou, pela Odeon, as músicas que cantava no show e que eram, de certa maneira, uma resposta às críticas: Disseram Que Voltei AmericanizadaDisso É Que eu GostoVoltei Pro Morro, as três de Vicente Paiva e Luiz Peixoto, e Diz Que Tem, de Vicente Paiva e Hannibal Cruz.

 

                        Em 1941, voltou para os Estados Unidos, contratada para atuar no cinema, em Hollywood, onde viveu até o fim da vida. Trabalhou em Uma Noite no Rio, de Irving Cummings, Aconteceu em Havana, de Walter Lang, Minha Secretária Brasileira, de Irving Cummings, Entre a Loura e a Morena, de Busby BerkeleySerenata Boêmia, de Walter Lang, e mais outros filmes. Em 1944, chegou a ser uma das artistas mais bem pagas naquele país, trabalhando em show, filmes e rádio. Anos mais tarde, estrelou o filme Copacabana, de Alfred Green, ao lado de Grouxo Marx, apresentou-se com grande sucesso no teatro Palladium, em Londres. Também atuou no Havaí.

 

                        Em 1947, casou-se com o americano David Sebastian. Esse matrimônio é apontado por todos os biógrafos e estudiosos de Carmen Miranda como o começo de sua decadência física. O marido, antes um simples empregado de produtora de cinema, tornou-se seu “empresário” e conduzia mal os negócios contratados. Também era alcoólatra, e pode ter induzido Carmen a consumir bebidas alcoólicas, das quais se tornou dependente.

 

                         O casamento entrou em crise já nos primeiros meses, mas ela não aceitava o divórcio, pois era católica convicta. Engravidou em 1948, mas sofreu aborto espontâneo depois de uma apresentação.

 

                                                Em 1954, consagrada internacionalmente, voltou ao Brasil para rever a família e descansar de esgotamento nervoso, realizando alguns espetáculos.

 

                        Retornou para os Estados Unidos em 1955 e, quatro meses depois, a 5 de agosto, com apenas 46 anos de idade, vinha a falecer do coração em sua casa, em Beverly Hills, Hollywood. Suas últimas atuações foram em Havana, em Las Vegas e na TV americana, em shows de Jimmy Durante.

 

                        Seu enterro no Rio de Janeiro foi acompanhado por cerca de 500 mil pessoas, cantando Taí, seu primeiro sucesso.

 

                        A Pequena Notável, como era também conhecida, que marcava suas apresentações cantando e dançando com turbante na cabeça, tamancos altíssimos e muitos balangandãs, gesticulando com as mãos e revirando os olhos, deixou sua imagem registrada em 19 filmes e mais de 150 discos, norte-americanos e brasileiros. Além da aura que sempre cercou sua personalidade esfuziante, capaz de fascinar a juventude, tantos anos depois de sua morte.

 

                        Na matéria Carmen Miranda e o Carnaval, apresentei um pouco de sua atuação nos festejos momescos. Aqui vi uma pequena amostra de seu trabalho de meio de ano.

 

                        Voltei Pro Morro, samba de Vicente Paiva e Luiz Peixoto, lançado em 1940:

  

                        Disseram Que Voltei Americanizada, samba de Vicente Paiva e Luiz Peixoto, lançado em 1941:

  

                        Boneca de Piche, samba de Ary Barros e Luiz Iglésias, coma participação de Almirante, lançado em1938:

  

                        Na Baixa do Sapateiro, samba de Ary Barroso, lançado em 1938:

  

                        Recenseamento, samba de Assis Valente, lançado em 1941:

 

 

                        Para que tenham ideia de seu visual, selecionei esta bonita cena do filme americano Copacabana, onde canta, acompanhada pelo Bando da Lua, o choro Tico-tico no fubá, de Zequinha d Abreu, Drake e Aloysio de Oliveira: 

 

 


MPB da Velha Guarda quinta, 14 de julho de 2022

OSWALDO NUNES E O CARNAVAL
OSWALDO NUNES E O CARNAVAL

Raimundo Floriano

 

 

Oswaldo Nunes - Acervo Recanto das Letras

 

                        Oswaldo Nunes, cantor compositor, nasceu no Rio de Janeiro (RJ), no dia 2.12.1930, cidade onde veio a falecer, no dia 18.6.1991, aos 60 anos de idade, assassinado misteriosamente em seu apartamento.

 

                        Foi autor de grandes sambas carnavalescos que se incorporaram a meu repertório de trombonista, quando aprendi a tocar o instrumento, 1972/1973, época em que ele dominava os salões de clubes e blocos de sujos, com suas belíssimas composições.

 

                        Não chegou a conhecer os pais e foi criado em instituições de caridade. Trabalhou como baleiro, engraxate e camelô, além de artista ambulante. Já adulto, enveredou pela marginalidade, chegou a ser preso, mas, frequentando Escolas de Sambas e Blocos de Carnaval, acabou por abraçar a carreira artística.

 

                        Nunca se afastou do Bairro da Lapa, onde chegou a conhecer Madame Satã. Quando deixou a marginalidade, fez sua primeira composição, isso aos 20 anos, o samba Real Melodia. Em 1951, seu samba Vidas Iguais, com Ciro de Souza, e o samba-canção Estranho, com Cabeção, foram gravados por Leny Eversong na Continental.

 

                        Em 1955, o samba-canção Aquele Quarto, com Aníbal Campos, foi gravado por Dalva de Andrade, na Continental. Em 1962, gravou seu primeiro disco, no selo pernambucano Mocambo/Rozemblit, com os sambas Lar Vazio e Agradecimento, ambos de sua autoria. No mesmo ano, gravou o twist Vem, Amor, parceria com Lino Roberto, o samba Fim, de Lino Roberto, e, juntamente com o Bloco Carnavalesco Bafo da Onça, gravou aquele que seria seu maior sucesso, o samba Oba (Bafo da Onça), que continuou a embalar os desfiles do bloco nas décadas seguintes e se tornou o Hino Oficial daquele Bloco.

 

                        Ainda em 1962, embalado pelo sucesso de Oba, lançou, também pela Mocambo, seu primeiro LP, com o mesmo título, no qual gravou composições próprias como Alô, Meu BemChorei, Chorei, Lar Vazio, e Nunca Mais, esta última em parceria com Ruy Borges, além de Volta Por Cima, de Paulo Vanzolini, Diário de Amor, de Senô, Gosto de Você de Graça e Zé da Conceição, de João Roberto Kelly, Oito Mulheres, de José Batista, Faço Um Iê, Iê, Iê, de Luiz Reis e Haroldo Barbosa, e Fim, de Lino Roberto.

 

 

                        Em 1963, gravou os sambas Zé da Conceição, de João Roberto Kelly, e Alô! Meu Bem, de sua autoria. Nesse ano, seu Samba do Saci, com Lino Roberto, foi gravado por Clóvis Pereira, em interpretação de órgão, e os sambas Chorei, Chorei e Samba do Saci foram registrados pelo Bloco Carnavalesco Bafo da Onça.

 

                        Gravou, para o Carnaval de 1965, o do Quarto Centenário do Rio de Janeiro, as marchinhas A Dança da Pulga, de sua autoria e Pernambuco, e Saudações ao Rei Momo, de sua autoria. Nesse ano, fez grande sucesso com o samba Na Onda do Berimbau, de sua autoria.

 

                        No Carnaval de 1967, dominou com a marchinha Mãe-iê, de sua autoria. Destacou-se, em 1968, com o samba Voltei, e, em 1969, com o samba Levanta a Cabeça.

 

                        Na segunda metade da Década de 1960, apresentou-se em shows, acompanhado pelo Grupo The Pop’s, com o qual gravou, em 1969, o LP Tá Tudo Aí, no qual interpretou as músicas Tá Tudo AíVocê DeixaTamanqueiroDendecaDoce CançãoChoreiChorei, e Canto da Sereia, todas de sua autoria, além de Outro Amor de Carnaval, com Raul Borges e Humberto de Carvalho, Cascata, com A. Marcilac, e Mulher de Malandro, com Celso Castro. 

 

                        Em 1970, obteve o Segundo Lugar no IV Festival de Músicas de Carnaval com o samba Não Me Deixes, de sua autoria, em parceria com Milton de Oliveira e Élton Menezes. No mesmo festival, foi finalista com o samba A Escola Vai Descer, com Aristóteles II.

 

                        Em 1971, sagrou-se Tricampeão do Concurso Oficial de Músicas de Carnaval da Guanabara promovido pela Secretaria de Turismo da Guanabara, TV Tupi e jornais O Dia e A Notícia, com o samba Saberás, parceria com J. Aragão e Rubem Gerardo. No mesmo ano, lançou, pela CBS, o LP Você Me Chamou, no qual cantou, apenas de sua autoria, a faixa Real Melodia (apud Dicionário Cravo Albin da MPB)..

 

                        Em 1978, já pela RCA Victor, lançou o LP Ai, Que Vontade, no qual interpretou as músicas Êh Viola, de Joel Menezes e Noca da Portela, Dança do Bole-bole, de João Roberto Kelly, Ai, Que Vontade, de Dão e Beto Sem Braço, Se Você Me Quer, de Anézio, Vou Tomar Um Porre, de Jurandir Bringela e Paulinho da Mocidade, O Dono da Justiça, de Marco Polo e Genaro da Bahia, e Se Você Quiser Voltar, de Gerson Alves e Jorginho Pessanha, além de composições suas como Tem-tem, com Celso Castro, A Dança do Jongo, com Geraldo Martins, Tim-tim-tim, ô-lê-lê, com Zé Pretinho da Bahia, Dendê na Portela, com Hilton Veneno, e O Que É Que Eu Faço.

 

 

                        O samba Ai, Que Vontade alavancou e consolidou minha carreira como trombonista popular, no Clube de Balsas, no Carnaval de 1978, nos bailes de sábado, domingo, e segunda-feira, e na cidade de Riachão, na terça-feira gorda, onde, junto com Leonizard Braúna e seu Conjunto, fizemos o primeiro Carnaval de Rua, e à noite, fomos sucesso estrondoso no Clube. A malícia da letra em muito contribuiu para isso. Até hoje, foliões daquela época, atualmente na casa dos 50/60 anos, quando me veem, relembram esse samba, com muita saudade.

 

                        Oswaldo Nunes, talentoso cantor de tanto ritmo, excelente voz e também grande compositor, era um homossexual assumido. Não dava bandeira, tinha cara de mau, era valente e adotava uma postura de cabra macho. Muitas vezes, quebrou o pau lá pelo bairro boêmio onde sempre viveu.

 

                        Em 18.6.1991, foi assassinado enquanto dormia, em seu apartamento na Lapa. Onze anos depois, a Justiça deu a sentença do espólio do cantor. Em testamento, o sambista deixou um apartamento e todos os seus direitos autorais, compreendendo mais de 40 composições, para o Retiro dos Artistas, no Rio.

 

                        Como mostra de seu trabalho, disponibilizarei aqui cinco de seus mais conhecidos sambas, que ficaram para sempre na memória dos foliões de outrora.

 

                        Oba (Bafo da Onça), de sua autoria, maior sucesso dele em todos os tempos, gravado em 1962:

 

 

                        Voltei, seu, com Denis Lobo e Celso de Castro, muito lembrado hoje, com menção às diligências da Operação Lava Jato, gravado em 1968: 

 

                        Não Me Deixes, seu, com Élton Menezes e Milton de Oliveira, de 1970, Segundo Lugar IV Festival de Músicas de Carnaval: 

 

                        Saberás, seu, com J. Aragão e Rubem Gerardo, Campeão do Carnaval Carioca de 1971, que ressalta o efeito do trombone em sua melodia, gravado em 1971:

  

                        Ai, Que Vontade, de Beto Sem Braço e Dão, gravado em 1978, cuja letra maliciosa é, lembrada até hoje pelos foliões daquele tempo:

 

 


MPB da Velha Guarda quarta, 13 de julho de 2022

LINDA RODRIGUES, VERDES OLHOS DA MPB
LINDA RODRIGUES, VERDES OLHOS DA MPB

Raimundo Floriano

 

Encantadores olhos verdes

 

                        Tenho o prazer de  arpresentar-lhes verdadeira preciosidade, configurada nesta cantora, ícone da MPB há muito tempo no ostracismo, no baú do esquecimento da Memória Nacional.

 

                        Linda Rodrigues, batizada Sofia Gervazone, nasceu no Rio de Janeiro (RJ), a 11 de agosto de 1919, onde faleceu em novembro de 1997. Foi considerada uma das cantoras que melhor representaram a dor de cotovelo.

 

                        Carioca, nascida na Tijuca, sua formação moral foi das mais rígidas, pois fez o Curso Primário e o Ginasial na Escola Maria Raythe, um colégio de freiras do bairro, sendo seu padrinho de crisma o Cardeal Dom Sebastião Leme, que gostava muito dela. Atendendo um pedido de sua mãe, formou-se em Enfermeira pela Escola Ana Nery, embora nunca tenha exercido a profissão. Começou a estudar Medicina em Belém do Pará, onde morou 2 anos com a irmã e o cunhado, que era comandante da Marinha de Guerra. Pouco depois, sua mãe falecia.

 

                        Sua primeira experiência artística aconteceu em 1936, no Rio de Janeiro, quando cantou na Radio Transmissora, sob a orientação de Renato Murce, atuando ao lado de Odete Amaral, Ciro Monteiro, Orlando Silva e Emilinha Borba, que era igualmente amadora como Linda.

 

                        Poucos são os dados biográficos sobre essa grande cantora da Velha Guarda, por isso, vou ater-me, daqui pra frente, ao que consta do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.

 

                        Começou a carreira artística em 1945, na Continental, onde gravou os sambas Enxugue as Lágrimas, de Elpídio Viana e Carneiro da Silva e Abaixo do Nível, de Alvaiade e Odaurico Mota. Daí em diante, consolidou seu nome no mercado fonográfico.

 

                        Em 1946, gravou a marchinha Atchim, de J. Piedade e Príncipe Pretinho, e o samba Claudionor, de Cândido Moura e Miguel Bauso. Em 1948, gravou a rumba Jack, Jack, Jack, de Haroldo Barbosa e Armando Castro, e o samba-canção Mais Um Amor, Mais Uma Desilusão, de José Maria de Abreu. Em 1951, gravou, pela Star, o samba-canção Os Dias Que Lhe Dei, de Newton Teixeira e Airton Moreira, e o samba Raça Negra, de Ailce Chaves e Paulo Gesta. Em 1952, gravou o samba Lama, de Paulo Marques e Ailce Chaves, que veio a ser, não apenas seu maior sucesso como um dos sambas-canções mais celebrados no repertório da fossa, e o bolero Nossos Caminhos, de Airton Amorim e Nogueira Xavier.

 

                        Lama embalou os momentos seresteiros de minha juventude e mereceu inúmeras regravações, inclusive de outras consagradas intérpretes, como Ângela Maria, Núbia Lafayette, Maria Bethânia e, há bem pouco tempo, relançada pelo forrozeiro/brega João Bandeira.

 

                        Em 1953, gravou, pela Sinter, o samba Sombra e Água Fresca, de Geraldo Mendonça e Russo do Pandeiro, e a marchinha Bambeio Mas Não Caio, de Elvira Pagã, Ailce Chaves e Paulo Marques. Em 1954, gravou o samba Sereno Cai, de Raul Sampaio e Ricardo Galeno, e a marchinha Tá Tão Bom, de Três Amigos. Em 1955, gravou, pela Continental, o samba Ninguém me Compreende, de Peterpan, e o samba-canção Vício, de sua autoria e José Braga, com acompanhamento de Guaraná e sua Orquestra. No mesmo ano gravou, pela Todamérica, a marchinha Rico É Gente Bem, de A. Rebelo, Jorge Rupp e Ari Monteiro, e o samba Folha de Papel, de Paulo Marques, Sávio Barcelos e Ari Monteiro.

 

 

                        Em 1956, gravou os sambas-canções Farrapo Humano, de sua autoria e Ailce Chaves, e Queimei Teu Retrato, de Noel Rosa e Henrique Brito. Em 1957, gravou os sambas Violeta, de Mirabeau e Dom Madri, e Recompensa, de Tito Mendes, Nilo Silva e Osvaldo França. No mesmo ano, gravou os sambas-canções Pianista, de Irani de Oliveira e Ari Monteiro, e Comentário Barato, de Jaime Florence e J. Santos. Em 1958, gravou os sambas Chorar Pra Quê?, de Aldacir Louro e Silva Jr., e Quando o Sol Raiar, de Mirabeau, Sebastião Mota e Urgel de Castro. No mesmo ano, registrou ainda o samba Sereno no Samba, de Aldair Louro e Dora Lopes, e o bolero Nada Me Falta, de sua autoria e Aldacir Louro, e teve a marchinha Copa do Mundo e o samba Samba da Vitória, ambos com Aldacir Louro, gravados na RCA Victor pelo Coro e Orquestra RCA Victor. Em 1959, gravou, pela RCA Victor, o samba Tem Areia, de sua autoria e José Batista, e a marchinha Marcha da Folia, de sua autoria, Aldacir Louro e Silva Jr.

 

                        Em 1960, gravou os sambas-canções Negue, de Adelino Moreira e Enzo de Almeida Passos, e Tenho Moral, de sua autoria e Castelo. No mesmo ano, gravou Companheiras da Noite, samba-canção de sua autoria, Ailce Chaves e William Duba. Em 1961, lançou, pela Chantecler, o LP Companheiras da Noite:

 

 

FAIXAS DESSE ÚNICO LP DE LINDA RODRIGUES:

LADO A

1 - Lama (Ailce Chaves e Paulo Marques)

2 - Negue (Adelino Moreira e Enzo de Almeida Passos)

3 - Tião (Jair Amorim e Dunga)

4 - Pedro no Caminho (Aldacyr Louro e Linda Rodrigues)

5 - Documento (Aldacyr Louro e Linda Rodrigues)

6 - Final de Nosso Drama (Aldacyr Louro e Linda Rodrigues)

LADO B

1 - Aquelas Mãos (Aldacyr Louro e Linda Rodrigues)

2 - Pó do Asfalto (Aldacyr Louro e J. Portela)

3 - Cigarra Noturna (Aldacir Louro e Genival Melo)

4 - Companheiras da Noite (Ailce Chaves e William Duba)

5 - Tenho Moral (Linda Rodrigues e Castelo)

6 - Escondida (Luiz Alcarez; versão de Martha de Almeida)

 

                        Como visto acima, Além de cantar, Linda Rodrigues era compositora e fez parcerias com grandes criadores como J. Piedade, Ailce Chaves, Aldacir Louro, José Batista, Castelo, José Braga e outros.

 

                        No ano de 1955, o samba-canção Vício, fruto de uma parceria com José Braga, levou-a às paradas de sucesso. Sua discografia, que vai de 1945 a 1961, gira em torno de 50 títulos.

 

 

                        O início da Década de 1960, com o aparecimento da Bossa Nova e o incremento do Rock, foi cruel para o pessoal da Velha Guarda e marcou a retirara voluntária de Linda Rodrigues do meio artístico. Poderia, com suja esfuziante beleza, ser uma das estrelas da TV. Mas os tempos modernos requeiram novas caras, o que resultou em impiedosa iconoclastia.

 

                        Esta foi uma das poucas estrelas do sul-maravilha que conheci em Teresina (PI), onde estudava, em 1953, quando, após o retumbante sucesso de Lama, fez uma turnê pelo Nordeste, sendo por lá praticamente desconhecida.

 

                        Linda Rodrigues nadou de braçada pelos ritmos dominantes em sua época. Como amostra disso, aí vai esta pequena seleção:

 

                        Chorinho - Banco da Praça, Paquito, Ciro de Souza e João Bastos Filho;

 

                        Marchinha - Barca da Cantareira, de Arnaldo Ferreira e J. Rupp;

 

                        Samba - Cantora de Samba, de Armando Régis;

 

                        Rumba - Jack, Jack, Jack, de Haroldo Barbosa e Armando Castro;

 

                        Bolero - Nossos Caminhos, de Airton Amorim e Nogueira Xavier, tremendo sucesso em 1952; e

 

                        Samba-canção - Lama, de Paulo Marques e Ailce Chaves, sucesso absoluto ontem, hoje e sempre. 

 

 


MPB da Velha Guarda domingo, 10 de julho de 2022

ODETE AMARAL E O CARNAVAL
ODETE AMARAL E O CARNAVAL

Raimundo Floriano

 

 

Odete Amaral 

                        Odete Amaral, cantora, nasceu em Niterói (RJ), no dia 28.4.1917, e faleceu no Rio de Janeiro, no dia 11.10.1984, aos 67 aos de idade.

 

                        Filha caçula do lavrador Alfredo Amaral e Albertina Ferreira do Amaral, mudou-se com a família, em 1918, para o Rio de Janeiro, onde o pai se tornou chofer de caminhão.

 

                        Aos seis anos de idade, Odete entrou para o Colégio Uruguai, onde fez o Curso Primário. Em 1929, aos 12, empregou-se na América Fabril como bordadeira. Por sua bonita voz, era sempre convidada a cantar no teatro da escola, além de festas de aniversário.

 

                        Em 1933, aos 16 anos, fez um teste para a Rádio Guanabara, acompanhada pelo pianista e compositor Felisberto Martins, cantando o samba Minha Embaixada Chegou, de Assis Valente. Aprovada no teste, foi logo escalada para participar do Programa Suburbano, onde também se apresentavam Sílvio Caldas, Marília Batista, Noel Rosa, Almirante, Aurora e Carmen Miranda, entre outros.

 

                        Levada por Almirante, passou a cantar também na Rádio Clube. Na mesma época, participou da inauguração do Cassino Atlântico e, pouco depois, apresentava-se na Rádio Ipanema. Atuou, ainda, em várias emissoras, dentre as quais a Sociedade, a Philips e a Cruzeiro do Sul, e também no Teatro cantando a marchinha Ganhou Mas Não Leva, de Milton Amaral, numa Revista levada no João Caetano.

 

                        Em 1936, assinou seu primeiro contrato, na Rádio Mayrink Veiga. Naquele ano, gravou, na Odeon, seu primeiro disco, com os sambas, Palhaço, e Milton Amaral e Roberto Cunha, e Dengoso de Milton. Em seguida, foi levada por Ary Barroso para a RCA Victor, onde estreou com o samba Foi de Madrugada e a marchinha Colibri, ambos de Ary. Paralelamente, cantava em coros, atuando em muitos discos de colegas como Francisco Alves, Mário Reis e Almirante.

 

                        Por essa época, recebeu de César Ladeira o slogan de A Voz Tropical.

 

                        Em 1937, participou da inauguração da Rádio Nacional, onde permaneceu por dois anos, e gravou o samba Sorrindo, de Ciro Monteiro e L. Pimentel, a rumba Terra de Amores, de Gadé e Valfrido Silva, o samba-canção Só Você, de Haníbal Cruz, além da marchinha Não Pago o Bonde, J. Cascata e Leonel Azevedo, sucesso no Carnaval do ano seguinte.

 

                        Em 1938, casou-se com o cantor Ciro Monteiro, com quem teve um filho. Ainda em 1938, gravou, de Ataulfo Alves e Alcebíades Barcelos, o Bidê, os sambas Ironia e Não Mando em Mim, e, de João da Baiana, o samba É Melhor Confessar do Que Mentir.

 

                        Em 1939, mudou-se para São Paulo, contratada pela Rádio Cultura, onde atuou durante um ano e meio, percorrendo vários Estados do Brasil nos intervalos dos programas, acompanhada de Ciro Monteiro. Participou do filme da Cinédia O Samba da Vida, de Luís de Barros, e gravou, com Ciro Monteiro, os sambas Sinhá, Sinhô e Bem-querer, ambos de Aloísio Silva Araújo.

 

                         Em 1940, gravou a marcha O Gato e o Rato, de Wilson Batista, Arnô Canegal e Augusto Garcez, e os sambas Eu Já Mandei, de J. Cascata e Leonel Azevedo, e Quando Dei Adeus, de Ataulfo Alves e Wilson Batista.

 

                        Em 1941, retornou para a Rádio Mayrink Veiga, no Rio, e lá ficou por seis anos. No mesmo ano, gravou a marchinha Serenata, de Felisberto Martins e Sá Róris, o samba Pode Chorar Se Quiser, de Roberto Cunha e o frevo-canção Não Sei o Que Fazer, de Capiba. Na mesma época, passou a gravar na Odeon, onde estreou com a valsa Minha Primavera, de Gadé e Almanir Grego, e a fantasia Minha Voz, de Eratóstenes Frazão. Em seguida, gravou Não Quero Dizer Adeus, samba-choro de Laurindo de Almeida.

 

                        Em 1942, gravou os sambas Quem Não Chora, Não Mama, de Laurindo de Almeida e Ubirajara Nesdem, Caminhar Sem Destino, de Felisberto Martins e Henrique Mesquita, e Por Causa de Alguém, de Ismael Silva.

 

                        Em 1943 registrou o foxe Primavera em Flor, com música de Georges Moran sobre versos do poeta J. G. de Araújo Jorge, e os sambas Favela Morena, de Estanislau Silva e João Peres, e Resignação, de Geraldo Pereira e Arnô Provenzano.

 

                        Em 1944 gravou, de Geraldo Pereira e Ari Monteiro, o samba Carta Fatal, com o Quarteto de Bronze, a valsa Toureador, de Georges Moran e Osvaldo Santiago, e o choro Murmurando, de Fon-Fon e Mário Rossi, seu maior sucesso, que se tornou um verdadeiro clássico da MPB. Em 1945, lançou, de Haroldo Lobo e Eratóstenes Frazão, a marchinha Quem Tem Mágoa, Bebe Água.

 

                        Passou um período em que realizou poucas gravações, fazendo alguns registros no pequeno selo Star, entre eles, a marchinhas A Moleza do Faquir, de Dênis Brean e Osvaldo Guilherme, e o samba Por Que Mentir?, de Luiz Antônio e Ari Monteiro, ambos em 1948.

 

                        Atuou na Rádio Mundial de 1947 a 1951, ano em que, contratada pela Rádio Tupi, se apresentou no Programa matutino O Rio se Diverte e, à noite, no Rádio Sequência G-3. Em 1949, chegou ao fim seu casamento com Ciro Monteiro.

 

                        Em 1951, retornou à Odeon, com os choros Bichinho Que Rói, de Dênis Brean, e Mais Uma Vez, de Cachimbinho e Delore. No mesmo ano, assinou contrato com a Rádio Tupi.

 

                        Em 1952, regravou o clássico samba canção Ai, Ioiô, de Henrique Vogeler, Luiz Peixoto e Marques Porto. No ano seguinte, gravou Carneirinho de São João, marcha junina de Luiz Vieira.

 

                        Em 1954, gravou os sambas Nasceu Pra Sofrer, de Arnô Provenzano, Isaias Ferreira e Oldemar Magalhães, e Vem, Amor, de Enésio Silva, Isaias Ferreira e Jorge de Castro. Ainda nesse ano, lançou o samba-canção Quando Eu Falo com Você, de Mário Rossi e Gadé, o choro Girassol, de Mário Rossi, o afro Pai Benedito e Iemanjá, de Henrique Gonçalves, os sambas-canções Divina Visão, de Vargas Júnior, e Cruz Para Dois, de Chocolate e Jorge de Castro, além da regravação do samba-canção Carteiro, de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins.

 

                        Em 1957, assinou contrato com a gravadora Todamérica, na qual estreou com os sambas Dedo de Deus, de Raul Marques e Ari Monteiro, e Tô Chegando Agora, de Monsueto Menezes e José Batista. No mesmo ano, lançou seu primeiro LP, com arranjos do maestro Guio de Moraes, Tudo Lembra Você

 

                        Em 1959, lançou, para o Carnaval de 1960, o samba Enquanto Houver Mangueira, de Roberto Roberti e Arlindo Marques Jr. Em 1962, assinou contrato com a Copacabana. Um de seus trabalhos mais interessantes foi o LP Do Outro Lado da Vida - Os Que Perderam a Liberdade Contam Assim Sua História, gravado com Ciro Monteiro Jr., no qual interpretaram composições de presidiários do então Estado da Guanabara e de São Paulo, entre as quais, Luar de Vila Sônia, valsa de Paulo Miranda, Nos Braços de Alguém, samba-canção de Quintiliano de Melo, e SilêncioÉ Madrugada, samba-canção de Wilson Silva. Lançou, com Silvio Viana e Seu Conjunto, o LP Sua Majestade Odete Amaral - A Rainha dos Disc-Jockeys

 

                        Em 1968, lançou, com sucesso, dois sambas clássicos da MPB, Alvorada no Morro, de Cartola, Carlos Cachaça e Hermínio Bello de Carvalho, e Sei Lá, Mangueira, de Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho, além de Tempos Idos, de Cartola e Carlos Cachaça, que ela gravou com Cartola, todos reunidas no mesmo disco, o histórico LP Fala Mangueira, ao lado de Cartola, Clementina de Jesus, Nélson Cavaquinho e Carlos Cachaça, mais tarde transformado em CD. 

 

                        Em 1975, participou da Série MPB 100 ao Vivo, irradiada pelo Projeto Minerva, da Rádio MEC, em cadeia nacional de emissoras. Ao lado de Paulo Marques, cantava os grandes sucessos dos anos 1930. A Série, de 30 Programas, deu origem a oito LPs criados por seu produtor, Ricardo Cravo Albin. Em 1979, teve lançado seu último LP, Odete Amaral, Sempre Sambista.

 

                        Em 1977, participou do show Café Nice, ao lado de Paulo Marques e Altamiro Carrilho, com direção e narração de Ricardo Cravo Albin.

 

                        Sendo uma das cantoras populares brasileiras de voz mais pessoal e afinada, nunca chegou a atingir o estrelato de musas como Carmen Miranda, Aracy de Almeida ou as irmãs Linda e Dircinha Batista, mas é ainda hoje considerada uma das melhores intérpretes brasileiras da Década de 1930 e de todos os tempos.

 

                        Seus discos são facilmente encontráveis no mercado virtual, além de 123 títulos remasterizadas de bolachões 78 RMP.

 

                        Como pequena amostra de seu trabalho, escolhi as cinco faixas abaixo: 

                        Ali Babá, marchinha de Roberto Roberti e Arlindo Marques Júnior, gravada para o Carnaval de 1938

  

                        Não Pago o Bonde, marchinha de J. Cascata e Leonel Azevedo, grande sucesso no Carnaval de 1938 e nos posteriores: 

 

                        Não Sei o Que Fazer, frevo-canção de Capiba, lançado no Carnaval de 1941:

  

                        Pavãozinho Dourado, marchinha de Roberto Cunha, lançado no Carnaval de 1940:

  

                        Quem Tem Mágoa, Bebe Água, marchinha de Haroldo Lobo e Frazão, lançada no Carnaval de 1945: 

 

 


MPB da Velha Guarda sábado, 09 de julho de 2022

DERCY GONÇALVES, CANTORA, VEDETE E ATRIZ
DERCY GONÇALVES

Raimundo Floriano

 

 

Dercy Gonçalves

 

                        Guardo comigo uma preciosidade musical, raridade mesmo, que agora desejo compartilhar com todos vocês. Mas, para fazê-lo, acho necessário falar um pouco da história de sua intérprete.

 

                        Dolores Gonçalves Costa, a Dercy Gonçalves, nasceu em Santa Maria Madalena (RJ), a 23.6.1907, e faleceu no Rio de Janeiro, a 19.7.2008. Foi uma atriz, humorista e cantora brasileira, oriunda do Teatro de Revista, notória por suas participações na produção cinematográfica brasileira das décadas de 1950 e 1960, sendo reconhecida pelo Guinness Book como a atriz com maior tempo de carreira na história mundial: 86 anos. Celebrada por suas entrevistas irreverentes, bom humor e emprego constante de palavras de baixo calão, foi um dos maiores expoentes do teatro de improviso no Brasil.

 

                        Originária de família muito pobre, nasceu no interior fluminense, em 1905, sendo registrada apenas em 1907, procedimento comum na época, pela falta de acesso a Cartórios e informações sobre a importância de um registro. Faleceu, portanto aos 103 nos de idade.

 

                        Era filha do alfaiate Manuel Gonçalves Costa e da lavadeira Margarida Gonçalves Costa. Sua mãe abandonou o lar e os sete filhos, ao descobrir a infidelidade do marido. Dercy, abandonada pela mãe ainda pequena, foi criada pelo pai, alcoólatra. A menina foi crescendo na convivência com um pai bêbado em casa e sofreu muito com o abandono da mãe, de quem nunca mais teve notícia.

 

                        Para ajudar nas despesas de casa, Dercy foi trabalhar numa bilheteira de cinema. Vendo os filmes nas horas de expediente do serviço, aprendeu a se maquiar e a atuar como as artistas. Seu grande sonho era seguir carreira artística. Mesmo não sendo ainda atriz profissional, apresentava-se em teatros improvisados para hóspedes dos hotéis em sua cidade natal.

 

                        Aos dezessete anos, com o intuito de ver seu sonho virar realidade, fugiu de casa para Macaé, embaixo do vagão de um trem, arriscando a própria vida pelo sonho de ser artista, isso para se juntar a uma trupe de teatro mambembe que lá estava, com diversos atores de circo experientes, na qual ela poderia trabalhar, a Companhia de Maria Castro.

 

                        Após algum tempo morando em Macaé e trabalhando no teatro circense, Dercy seguiu com a Companhia para Minas Gerais, onde estreou em 1929. Nessa vida itinerante, fez dupla com Eugênio Pascoal, em 1930, com quem se apresentou por cidades do interior de alguns estados, sob o nome de Os Pascoalinos.

 

                        Dercy apaixonou-se por Eugênio Pascoal, que foi seu primeiro namorado. Após alguns anos juntos, acabaram se separando, devido a incompatibilidade de gênios. Ela era uma típica moça do interior, ingênua e alegre, que, mesmo fugida de casa e tendo se relacionado com o namorado, ainda brincava com bonecas de pano que tinha desde criança. Isso mostra seu espírito doce e infantil, a sensibilidade que lhe possibilitou ser de fato uma artista.

 

 

                        Enquanto excursionava com a trupe pelo interior de Minas Gerais, Dercy contraiu tuberculose, tendo que se afastar de sua maior paixão, o circo. Um exportador de café mineiro, chamado Ademar Martins Senra, a conheceu quando passava próximo à tenda do circo, e se encantou por ela, não importando a moléstia grave de que padecia, e pagou todas as contas do sanatório para sua internação, vez que ela que não dispunha de recursos suficientes para custear o tratamento.

 

                        Depois de curada, em 1934, e tendo largado o circo, Dercy viveu um romance com Ademar, mesmo ele sendo casado, advindo, desse relacionamento de 2 anos, Dercimar, sua única filha, em 1936. Quando a menina nasceu, Ademar registrou-a, e, às vezes, ia visitá-las, mas não podiam morar juntos pelo fato de ele ser casado e o romance deles ser secreto. Um dia, porém, não apareceu mais, o que fez Dercy encarar, sozinha, a criação da filha, voltando à vida teatral, que abandonara por conta do romance então desfeito.

 

                        Especializando-se na comédia e no improviso, participou do auge do Teatro de Revista Brasileiro, nos anos 1930 e 1940, protagonizando algumas delas, como Rei Momo na Guerra, em 1943, de autoria de Freire Júnior e Assis Valente, na Companhia do empresário Walter Pinto.

 

                        Na década de 1960, iniciou sua carreira solo. Suas apresentações, em diversos teatros brasileiros, conquistavam um público cheio de moralismos. Nesses espetáculos, introduziu um monólogo, no qual relatava fatos autobiográficos. Paralelamente a essas apresentações, atuou em diversos filmes do gênero chanchada e comédias nacionais.

 

                        Na televisão, chegou a ser a atriz mais bem paga da TV Excelsior, em 1963, onde também conheceu o executivo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Depois, passou para a TV Rio e, mais tarde, já na TV Globo, convenceu Boni a trabalhar na emissora, junto com Walter Clark.

 

                        De 1966 a 1969, apresentou, na Globo, um programa de auditório de muito sucesso, Dercy de Verdade, que acabou saindo do ar com a intensificação da censura no país após o AI-5. No final dos Anos 1980, quando a censura permitiu maior liberalismo na programação, Dercy passou a integrar corpos de jurados em programas populares, como em alguns apresentados por Silvio Santos, e até aparições em telenovelas da Rede Globo. No SBT, voltou a experimentar um programa próprio que, entretanto, teve curtíssima duração.

 

                        Sua carreira foi pautada pelo individualismo, tendo sofrido, já idosa, um desfalque nas economias por parte de um empresário inescrupuloso, o que a fez voltar ao batente, na octogenariedade.

 

                        Recebeu, em 1985, o Troféu Mambembe, numa categoria criada especificamente para homenageá-la: Melhor Personagem de Teatro.

 

                        Em 1991, foi enredo – Bravíssimo – Dercy Gonçalves, o Retrato de Um Povo –, da Unidos do Viradouro, na primeira apresentação da Escola no Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro. Na ocasião, Dercy causou polêmica, ao desfilar, no último carro com os seios à mostra.

 

                        Em 4 de setembro de 2006, aos 99/101 anos, recebeu o título de Cidadã Honorária da Cidade de São Paulo, concedido pela Câmara de Vereadores.

 

                        No dia 23 de junho de 2007, Dercy completou cem anos, oficialmente, comemorados com grande festa na Praça Coronel Braz, Centro do Município de Santa Maria Madalena, sua cidade natal.

 

                        Foi também nesse mês que Dercy subiu pela última vez ao palco, na comédia teatral Pout-Pour Rir, espetáculo criado e dirigido pela dupla Afra Gomes e Leandro Goulart, onde comemorou Cem Anos de Humor, com direito a linda festa e noite de autógrafos de seu DVD biográfico.

 

                        Dercy faleceu no dia 19 de julho de 2008, no Hospital São Lucas, em Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro, sendo sepultada em Santa Maria Madalena. A causa da morte teria sido complicações decorrentes de uma pneumonia comunitária grave. O Estado do Rio de Janeiro decretou luto oficial de três dias em sua memória.

  

                        Sua biografia encontra-se narrada no livro Dercy de Cabo a Rabo, de Maria Adelaide Amaral, lançado em 1994. Dercy de Verdade é o título da minissérie sobre sua vida, também escrita por Maria Adelaide Amaral, direção de Jorge Fernando, com 4 capítulos, exibida pela Rede Globo a partir do dia 10 de janeiro de 2012.

 

                        A filmografia de Dercy Gonçalves, que vai de 1943, com Samba em Berlim, até 2008, com Nossa Vida Não Cabe Num Opala, perfaz 25 títulos.

 

                        Em 1986, quando adquiri meu primeiro videocassete, assisti a todos os filmes brasileiros disponíveis nas locadoras do Distrito Federal. Consequentemente, a todos os estrelados por Dercy, quer como protagonista, quer como coadjuvante. Aqui, as capas de alguns deles:

 

 

                        Agora, passo a falar da raridade acima prometida. Ela foi interpreta por Dercy no filme Absolutamente Certo, de 1957, cuja capa adiante se vê: 

 

                        Trata-se do maxixe Jura, composto por Sinhô em 1929. O que o faz raro é o fato de aqui ser apresentado na íntegra. No filme, facilmente acessado através do Google, a melodia é intercalada com de cena da trama, para, mais adiante, ser retomada. 

                        Ouçamos, portanto, Dercy Gonçalves cantando, sem cortes, o maxixe Jura

 


MPB da Velha Guarda sexta, 08 de julho de 2022

CIRO MONTEIRO, O MESTRE DO SAMBA
CIRO MONTEIRO, O MESTRE DO SAMBA

Raimundo Floriano

 

 

                        Seu nome é grafado de duas formas, ora com “Y”, ora com “I”. Prefiro esta última, consagrada na Enciclopédia da Música Brasileira, da Art Editora Ltda., edição coordenada pelo Maestro Régis Duprat.

 

                        Ciro Monteiro, cantor e compositor, nasceu no subúrbio do Rocha, Rio de Janeiro, no dia 25.5.1913, cidade onde veio a falecer a 13.7.1973, aos 60 anos de idade. Seu pai, dentista, era Capitão do Exército reformado e funcionário público. Tinha nove irmãos, todos com nomes começados pela letra “C”. Era primo de Cauby, Andyara e Araken Peixoto, e sobrinho do pianista Moacyr Peixoto

 

                        Aos dois anos de idade, mudou-se para Niterói, entrando, em 1920, para o Grupo Escolar Alberto Brandão, cursando, a partir de 1925, a Escola Profissional Washington Luís, e, depois, em 1929, o Instituto de Humanidades.

 

                        Nessa época, já cantava em festas em dueto com o irmão Careno, quando um tio, chamado Nonô, costumava levar a dupla Sílvio Caldas e Luís Barbosa para ensaiar em sua casa. Daí, surgiu sua primeira oportunidade no rádio: em 1933, Silvio Caldas convidou-o para substituir Luís Barbosa no Programa do Casé, da Rádio Philips. A nova dupla fez sucesso, mas ele, com remorso de ter abandonado o irmão, resolveu não mais cantar.

 

 

 

                        Em 1934, porém, o produtor Diocleciano Maurício levou-o de volta ao rádio, para trabalhar no Programa das Donas de Casa, idealizado e dirigido por Napoleão Tavares, na Rádio Mayrink Veiga. Foi aí que começou a desenvolver seu próprio estilo, elaborado a partir do gênero de Luís Barbosa, cantando sempre com uma caixa de fósforos na mão, a marcar o ritmo.

 

                        Sua primeira gravação aconteceu na Odeon, com o samba Perdoa, de Kid Pepe e Jaime Barcelos, e a marchinha Vê Se Desguia, de Kid Pepe, Germano Augusto e Fadel, em 1935, para o Carnaval de 1936.

 

                        Nesse mesmo ano, passou para o horário noturno da Rádio Mayrink Veiga, atuando ao lado de outros cantores de sucesso, como Chico Alves, Carmen Miranda e Mário Reis.

 

                        Participando de programas em todas as emissoras cariocas, lançou, em 1937, no Programa Piccolino, de Barbosa Júnior, seu primeiro grande sucesso, Se Acaso Você Chegasse, samba de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, que gravou pela RCA Victor, em 1938.

 

                        A partir de então, Formigão – apelido que ganhou do compositor Frazão – começou também a compor, geralmente em parceria com Dias Cruz. Em 1939, formou com o cantor Dilermando Pinheiro a Dupla Onze, que passou a atuar na Rádio Mayrink Veiga.

 

                        Gravou, em 1940, Oh, Seu Oscar, samba de Ataulfo Alves e Wilson Batista, e, até o final da década, destacou-se, a cada ano, com pelo menos um samba de sucesso pela Victor.

 

                        Vejamos alguns deles: Beijo na Boca, de Ciro de Souza e Augusto Garcez, e Os Quindins de Iaiá, de Ari Barroso, em 1941; O Bonde São Januário, de Ataulfo Alves e Wilson Batista, vencedor do Carnaval, Você É o Meu Xodó, de Ataulfo Alves Wilson Batista, afirmando-se como grande intérprete, e Botões de Laranjeira, de Pedro Caetano, em 1942; Beija-me, de Roberto Martins e Mário Rossi, em 1943; Falsas Baiana, de Geraldo Pereira, compositor a quem muito ajudou, em 1944. Boogie-woogie na Favela, de Denis Brean, abafando de norte a sul, em 1945; Deus Me Perdoe, de Humberto Teixeira e Lauro Maia, O que se Leva Dessa Vida, de Pedro Caetano, e Santo Antônio Amigo, de Pereira Matos, Neneco e A. Gomes, três registros consagrados pelo povo em 1946. Pisei Num Despacho, de Geraldo Pereira e Elpídio Viana, em 1947; e Sereia de Copacabana, marchinha de A. F. Marques e Antônio Borges, em 1948.

 

                        Ciro Monteiro foi casado com a cantora Odete Amaral, outro grande nome da Música Popular Brasileira.

 

                        E 1940, começou ele a apresentar sintomas de distúrbios pulmonares, passando, então, a diminuir seus compromissos artísticos.

 

                        Em 1954, gravou, pela Todamérica, outro samba de sucesso, Escurinho, de Geraldo Pereira, e, dois anos mais tarde, estreou como ator na peça Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes, fazendo o papel de Apolo, pai de Orfeu.

 

                        A seguir, apresentou-se em boates paulistas, entre as quais a Cave, e, em 1958, fez, com Dias da Cruz, sua música de maior êxito como compositor, Madame Fulano de Tal, grande êxito gravado por Nélson Gonçalves.

 

                        Internou-se, em 1959, no Sanatório de Correias, sendo submetido a uma intervenção cirúrgica que o fez pensar em parar de cantar.  Mas, ao mostrar uma composição para Paulo Marques, na CBS, dois anos depois, foi convidado por Roberto Corte Real para gravar, surgindo, então, seu LP Sr. Samba, que o relançou. 

 

                        Nessa mesma época, voltou para a Rádio Mayrink Veiga e começou a participar de shows na televisão.

 

                        A seguir, gravou, pela CBS, o LP Sr. Samba, Volume 2, e passou a fazer parte do programa Bossaudade, apresentado, e 1965, na TV Record de São Paulo, por Elizeth Cardoso, do qual sairia um LP gravado ao vivo pela Copacabana, como acompanhamento do Regional de Caçulinha. Ainda em 1965, apresentou-se, em São Paulo, com Dilermando Pinheiro, no show montado por Sérgio Cabral, Telecoteco Opus nº 1, com muito sucesso, gravando um LP, pela Philips, com o mesmo nome – reeditado pela Fontana, nove anos depois –, no qual se destacaram músicas como Alô, João, de Baden Powell, Minha Palhoça, de J. Cascata. Emília, de Wilson Batista e Haroldo Lobo, Florisbela, de Nássara e Frazão, e Formosa, de Baden Powell e Vinicuis de Moraes, que ele havia lançado no programa O Fino da Bossa

 

                        Em 1968, lançou, com Nora Ney e Clementina de Jesus, o LP Mudando de Conversa, pela Odeon, gravação do show do mesmo nome, produzido por Hermínio Belo de Carvalho, realizado no Teatro Santa Rosa, do Rio de Janeiro. Com Jorge Veiga, gravou, em 1971, o LP De Leve, pela RCA Victor, em que cada um repassou o respectivo repertório, cantando em dupla ou sozinho.

 

                        A última vez em que registrou sua voz foi cantando com Vinícius de Moraes e Toquinho os sambas Que Martírio!, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, e Você Errou, de sua autoria, gravações lançadas em 1974, depois de sua morte, no LP Toquinho, Vinícius, e Amigos.

  

                        Ciro faleceu no Rio de Janeiro, com apenas 60 anos, como já dito.  Foi sepultado, com grande acompanhamento, no Cemitério São João Batista, no bairro de Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, ao som do Hino do Flamengo, do qual era apaixonado torcedor, cantado por integrantes da Torcida Jovem e coberto com as bandeiras rubro-negra, de seu clube, e verde-e-rosa, da Estação Primeira de Mangueira.

 

                        O poeta e compositor Vinicius de Moraes o considerava "o maior cantor popular brasileiro de todos os tempos". Em 2009, a sessão Hoje na História, do Jornal do Brasil, publicou reportagem relembrando seu falecimento. Segundo a reportagem ele teria dito as seguintes palavras, em algum momento durante os 10 dias em que ficou internado: "Leve um recado pros meus amigos Vinícius de Moraes, Fernando Lobo e Reinaldo Dias Leme. Diga a eles que é pra não chorar, porque eu tenho um encontro marcado com Pixinguinha, Stanislaw Ponte Preta e Benedito Lacerda. Eu não bebo há dois anos, e agora vou tomar o maior pileque da minha vida". 

                        Ficou conhecido pelos admiradores como "O cantor das mil e umas fãs". 

                        Os discos aqui citados, encontram-se à disposição nos sites de busca, assim como coletâneas contendo remasterizações de sucessos que nos deixou, como esta: 

 

                        Ciro Monteiro legou-nos um repertório e 212 faixas, a maioria sambas de meio de ano. Para relembrar o trabalho desse inesquecível ícone da MPB, escolhi algumas de suas criações que gosto de cantar: 

                        Se Acaso Você Chegasse, samba de Lupicínio Rodrigues, e Felisberto Martins, seu primeiro sucesso:

  

                        Falsa Baiana, samba de Geraldo Pereira, merecedor de regravações por vários intérpretes:

  

                        Santo Antônio Amigo, samba de Pereira Matos, Neneco e A. Gomes, que tem muito a ver com Balsas, minha terra Natal, cujo padroeiro é Santo Antônio: e

 

                        Deus Me Perdoe, onde os cearenses Humberto Teixeira e Lauro Maia se juntaram para fazer uma obra-prima do samba brasileiro:

  

                        Você É o Meu Xodó, samba de Ataulfo Alves e Wilson Batista, onde ele mostra um gingado muito especial:

 

 


MPB da Velha Guarda quinta, 07 de julho de 2022

CÉSAR DE ALENCAR E O CARNAVAL
CÉSAR DE ALENCAR E O CARNAVAL

Raimundo Floriano

 

 

César de Alencar

 

                        Hermelindo César Matos de Alencar, o César de Alencar, cantor, compositor, locutor, apresentador de programas de rádio e televisão, nasceu em Fortaleza (CE), no dia 6.6.1917, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), a 14.1.1990, aos 72 anos de idade.

 

                        Com sua voz e estilo cativantes, foi campeão de audiência no rádio por mais de 15 anos, popularizando, no Brasil, fórmulas que faziam sucesso nos Estados Unidos, como paradas de sucessos e programas de calouros.

 

                        Formado em Letras, mudou-se de Fortaleza para o Rio de Janeiro, em 1939, atuando na Rádio Clube do Brasil, onde seu timbre de voz e sua conversa fluente foram notados pelo consagrado radialista Renato Murce, daí surgindo o convite para fazer um programa diário como locutor. Criou, em 1941, com enorme sucesso, o primeiro concurso de músicas de carnaval, ao lado de Herivelto Martins, Benedito Lacerda e Francisco Alves.

 

                        Em 1945, passou a trabalhar na Rádio Nacional, fazendo locução comercial e narrações, além de participar como ponta em novelas radiofônicas, tendo atuado nas novelas Fechei a Porta do Destino e Uma Sombra em Minha Vida.

 

                        Naquela emissora, deu início ao Programa César de Alencar, transmitido aos sábados, das 15h às 19h, que, em pouco tempo, se afirmou como um dos maiores sucessos da Nacional, tendo como estrela principal a cantora Emilinha Borba. Na mesma época, apresentou também o Programa Expresso Carnavalesco Mauá – Praça Onze.

 

                        Em 1948, estreou em disco, ao lado da cantora Marlene, com o choro Casadinhos, de Luiz Bittencourt e Tuiú. Em 1949, gravou, com Emilinha Borba, o choro Cabide de Molambo, também de Luiz Bittencourt e Tuiú. Em 1950, gravou a marcha Marcha Ré, de Peterpan e Amadeu Veloso, e os sambas Você Não Tem Vez, de Valzinho e Domício Costa, e Arrependimento, de Roberto Faissal e Domício Costa.

 

                        Em 1952, gravou, pela RCA Victor, o samba-choro Há Sinceridade Nisso?, de Carvalhinho, Manezinho Araújo e Dozinho, e a marchinha A Coisa, de Charles Green e Augusto Mesquita. No mesmo ano, gravou, com Heleninha Costa as marchinhas Dez Anos e A Voltinha da Maçã, de Manezinho Araújo e Carvalhinho, e Marcha do Trouxa, de Adelino Moreira, Nélson Gonçalves e Herivelto Martins. Em 1953, gravou, de Manelão e Carvalhinho, o samba Casa do Sem Jeito, e, de J. B. Bittencourt e Durval Gonçalves, o baião Bendenguê. No mesmo ano, gravou, de Wilson Batista e Haroldo Lobo o samba Emília.

 

César de Alencar, com Emilinha, Marlene, Dircinha,

Heleninha e outros artistas, no set de gravação 

 

                        Em 1954, gravou Que Confusão, marcha de Manezinho Araújo e Marino Pinto e a marchinha Coitado do Abdala, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira. No mesmo ano, gravou, com Emilinha Borba, a valsa Noite Nupcial, de Peterpan, e o samba Os Quindins de Iaiá, de Ary Barroso, e teve seu samba Se Você Pensa, gravado por Cauby Peixoto.

 

                        Por essa época, com seu programa dos sábados no auge, abriu uma Casa Noturna em Copacabana, A Cantina do César, onde atuavam quase todas as estrelas da Rádio Nacional, especialmente Dolores Duran, Julie Joy, Carminha Mascarenhas e muitas outras.

 

                         Em 1956, gravou, de Humberto Teixeira, Xote do Tirrum, e, de Manezinho Araújo, o choro Não Sei o Que Faço e a marchinha Alegria do Peru, de Mirabeau, Milton de Oliveira e Jorge Gonçalves. No mesmo ano, a cantora Nora Ney gravou seu samba Eu Vivo Tão Só. Em 1957, gravou o maxixe Dorinha, Meu Amor, de J. Francisco de Freitas e a marchinha Marcha da Fofoca, de Wilson Batista e Jorge de Castro. Em 1958, gravou as marchinhas O Diabo é Esquisito, de Haroldo Lobo e Milton Oliveira.

 

                        Em 1959, gravou, de Manezinho Araújo, os sambas Ai, Doutor e Estou Precisando Chorar, pela RGE. Em 1960, gravou as marchinhas Achou Quem Te Leva, de Otolindo Lopes e Arnô Provenzano, e Marcha da Galinha, de Wilson Batista e Jorge de Castro. No mesmo ano, gravou, pela Philips, os sambas 21 de Abril, de Paulo Borges, e Ela Vai à Feira, de Almanir Grego e Roberto Roberti. Em 1961, gravou, de Antônio Almeida, Jorge de Castro e Wilson Batista, as marchinhas Garota Bossa-nova e Bolinho de Cachaça.

 

                        Em 1963, teve a marchinha carnavalesca Garota Tentação, composta em parceria com Erli Muniz e B. Toledo, gravada por Francisco Carlos.

 

                        Com o início do período militar de 1964, sua carreira começou a declinar, uma vez que se declarou colaboracionista do novo governo junto à direção da rádio, passando, segundo testemunhas do ator e compositor Mário Lago e do veterano radialista Gerdal dos Santos, a delatar inúmeros colegas de rádio envolvidos em atividades políticas.

 

                        Foi o mesmo estigma que prejudicou Wilson Simonal para sempre. E agora, com alguns daqueles que foram presos por desejarem, no passado, implantar o regime comunista no Brasil sendo novamente presos desta vez pela Justiça, num regime democrático, como é que fica essa história? Isso sem falar nos atores do Mensalão, do Petrolão e outros ãos.

 

                        Tal episódio provocou um grande desgaste em sua imagem, o que acabou por resultar na extinção de seu famoso programa. Em 1976, até que foi escolhido para Assistente da Superintendência da Radiobrás, empresa criada para centralizar as emissoras oficiais, entre elas a própria Nacional. Apesar de algumas tentativas de volta ao microfone, na mesma Rádio Nacional, já não tinha o carisma de antes e acabou por ingressar no ostracismo.

 

                        Morreu no dia 14 de janeiro de 1990, no Rio de Janeiro, aos 72 anos de idade, vítima de enfisema pulmonar.

 

                        Sua filmografia é extensa. Estreou no cinema com Corações Sem Piloto, em 1944, continuando suja trajetória com O Ébrio, em 1946, Folias Cariocas e Pra Lá de Boa, em 1948, Está Com Tudo, em 1949, Carnaval no Fogo e Todos Por Um, em 1950, Carnaval em Lá Maior e Carnaval em Marte, em 1955, Colégio de Brotos e Vamos Com Calma, em 1956, Garotas e Samba, em 1957, Virou Bagunça, e Viúvo Alegre, em 1960, e As Testemunhas Não Condenam, em 1962. Alguns de seus cartazes:

 

 

                        Sua discografia não chega a uma centena de títulos, mas 52 deles, remasterizados de bolachões 78 RPM, são facilmente encontráveis em sites de busca.

 

                        Como pequena amostra de seu trabalho, escolhi os títulos abaixo, pinçados de seu repertório carnavalesco:

 

                        Coitado do Abdala, marchinha de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, sucesso no Carnaval de 1954:

  

                        Alegria do Peru, marcinha de Mirabeau, Milton de Oliveira e Jorge Gonçalves sucesso no Carnaval de 1956:

  

                        Marcha da Fofoca, marchinha de Jorge de Castro e Wilson Batista, sucesso no Carnaval de 1957: 

 

                        Mexerico da Candinha, marchinha de José Costa, Fernandinha e Lair Moreira, homenagem a César de Alencar, Emilinha Borba e Cauby Peixoto, gravação de Moacyr Franco para o Carnaval de 1962:

                           Acho-te Uma Graça, marchinha de Benedito Lacerda Haroldo Lobo e Carvalhinho, participação de Heleninha Costa, para o Carnaval de 1952:

 

 

 


MPB da Velha Guarda quarta, 06 de julho de 2022

HELENINHA COSTA E O CARNAVAL
HELENINHA COSTA E O CARNAVAL

Raimundo Floriano

 

 

Heleninha Costa

 

                        Helena Costa Grazioli, a Heleninha Costa, cantora, nasceu no Rio de Janeiro (RJ), no dia 18.1.1924, cidade onde veio a falecer, no dia 12.4.2005, aos 81 anos de idade.

 

                        Ainda menina, transferiu-se com a família para Santos (SP), iniciando sua carreira na Rádio Clube local, em 1938, aos 14 anos de idade.

 

                        Pouco tempo depois, mudou-se para São Paulo, atuando nas Rádios Record e Bandeirantes daquela capital. Em 1940, gravou, pela Colúmbia, seu primeiro disco, um 78 RPM, com a marcha Sortes de São João, de Alcir Pires Vermelho e Osvaldo Santiago, e o samba Apesar da Goteira do Quarto, de Pedro Caetano e Alcir Pires Vermelho. Em 1941, gravou, da dupla Pedro Caetano e Alcir Pires Vermelho, a marchinha Tocaram a Campainha e o samba Está Com Sono, Vai Dormir.

 

 

                        Em 1943, voltou para o Rio de Janeiro, passando a cantar na Rádio Clube do Brasil, depois Mundial. Foi lady crooner e bailarina do Cassino da Urca, cantando, também no Cassino Quitandinha. Naquele mesmo ano, gravou o samba de grande sucesso, Exaltação à Bahia, de Chianca Garcia, revistógrafo português, e Vicente Paiva, na época diretor musical do cassino, que compunha sambas de exaltação para os finais apoteóticos dos shows.

 

                        Exaltação à Bahia transformou-se no maior sucesso de sua carreira e eternizou-se como um clássico da MPB.

 

                        Em 1944, gravou, na Continental, com o conjunto Milionários do Ritmo, O Samba Que Eu Fiz, de Oscar Bellandi e Dilo Guardia. Em 1946, convidada por César Ladeira, passou a atuar na Rádio Mayrink Veiga. Em 1947, também a convite de César, transferiu-se para a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, participando do Programa Música do Coração e dos melhores musicais noturnos da emissora. No mesmo ano, gravou, na Continental, o samba Você É Tudo Que Eu Sonhei, de Laurindo de Almeida e Del Loro, e o choro Amor, de Laurindo de Almeida e Valdomiro de Abreu. Em 1948, lançou o samba Recordações de Um Romance, de Bartolomeu Silva e Constantino Silva, e o maxixe Ginga, de Sá Róris.

 

                        Em 1951, gravou dois de seus grandes sucessos, o bolero Afinal, de Ismael Neto e Luis Bittencourt, e o foxe Cartas de Amor, de Young e Heyman, versão de Alberto Ribeiro. No mesmo ano, gravou, com César de Alencar, o baião Não Interessa Não, de José Menezes e Luiz Bittencourt, e o maxixe Que É Isto?, de Nestor de Holanda e Abelardo Barbosa, o Chacrinha, e esteve presente no primeiro LP brasileiro lançado com repertório para o Carnaval, juntamente com Marion, Neusa Maria, Oscarito, Geraldo Pereira, Os Cariocas, César de Alencar e as Irmãs Meireles.

 

 

                        Em 1952, gravou, na RCA Victor, da dupla Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, Baião Serenata e, de Marino Pinto e Don Al Bibi, o bolero Por Quanto Tempo?. No mesmo ano, gravou um de seus maiores sucessos carnavalescos, Barracão, samba de Luiz Antônio e Oldemar Magalhães, que seria revivido, alguns anos depois, com igual êxito, por Elizeth Cardoso. No mesmo ano, gravou, com o radialista César de Alencar, o samba-canção Está Fazendo Um Ano, de Ismael Neto e Manezinho Araújo, e o choro Me Dá, Me Dá, de Ismael Neto e Claudionor Cruz.

 

                        Em 1953, gravou os baiões Santo Antônio Disse Não, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, e, com acompanhamento de Os Cariocas, Que É Que Tu Qué?, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas. Nesse ano, casou-se com Ismael Neto, líder do Conjunto Os Cariocas. Em 1954, gravou os sambas Arranha-céu, de Luiz Antônio e Oldemar Magalhães, e Morro, de Luiz Antônio. Em 1956, registrou o samba-canção Eu Já Disse, de Lúcio Alves. Em 1958, gravou os sambas Estrela de Ouro, de Luiz Bandeira e José Batista e Por Que Choras?, de Alberto Rego e Alberto Jesus.

 

                        No ano de 1956, a gravadora Copacabana lançou o LP Heleninha Costa, contendo 8 faixas. Em 1960, a gravadora Todamérica lançou o LP Heleninha Costa, com 12 faixas. No começo da Década de 1980, a Collector’s Editora Ltda. lançou um LP em sua homenagem, com 12 faixas, na Série Os Ídolos do Rádio, LP da série, no qual mereceu texto escrito pelo crítico Ricardo Cravo Albin, que a considerou uma das mais belas vozes de todos os tempos da radiofonia carioca.

 

 

                         A partir do final dos Anos 1970, Heleninha retirou-se definitivamente da carreira artística, não mais aceitando convites para quaisquer aparições públicas.

 

                        Encantou-se no dia 12 de abril de 2005, no Rio de Janeiro, aos 81 anos, vítima de falência múltipla dos órgãos, e foi enterrada no Cemitério São João Batista, em Botafogo, Zona Sul da cidade.

 

                        Sua dioscografia é extensa, e a maioria dos discos gravados são facilmente encontráveis nos sites de busca especializados, bem como mais de 120 faixas remasterizadas de bolachões de 78 RPM.

 

                        Como pequena amostra de seu trabalho, escolhi 5 números do repertório carnavalesco, músicas que fizeram parte de minha vida, tanto como curtidor da MPB da Velha Guarda, quanto como trombonista dos salões e blocos de sujos.

 

                        Coitado do Frederico, marchinha de Alberto Ribeiro e José Maria de Abreu, gravada para o Carnaval de 1949:

 

                        Fracassei, samba de Peterpan, A. Chaves e Edmundo de Souza, gravado para o Carnaval de 1949:

 

                        Rádio-Patrulha, samba de Marcelino Ramos, J. Dias, Silas de Oliveira e Luizinho, gravado pra o Carnaval de 1956:

 

                        Exaltação à Bahia, samba de Vicente Paiva e Chianca Garcia, lançado em 1943, para ao Carnaval de 1944, que se tornou num dos clássicos da MPB:

 

                        Barracão, samba de Luiz Antônio e Oldemar Magalhães, campeão absoluto no Carnaval de 1953:

 

 


MPB da Velha Guarda segunda, 04 de julho de 2022

WALTER LEVITA E O CARNAVAL
WALTER LEVITA E O CARNAVAL

Raimundo Floriano

 

 

 

                                Do fundo do baú do esquecimento, taí Walter Levi, campeoníssimo nos Carnavais de 1956, 1961 e 1963.

 

                        Walter, Levita, cantor e compositor, nasceu na Bahia, em 1920, e faleceu em setembro de 2010, aos 90 anos, em casa, em consequência de uma queda. Morava em Brasília, onde foi enterrado, no Cemitério Campo da Esperança, após passar longos anos de conforto, já distante havia muito do meio artístico, domiciliado numa grande casa em Itapoã.

 

                        Os dados constantes desta matéria foram pinçados do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.

 

                        Atuou nas décadas de 1950, 1960 e 1970. Estreou em discos em 1952, na gravadora Star, lançando o baião Vamô Misturá, de sua autoria e Mary Monteiro, cantado em dueto com Maria Celeste, e o samba Dilema, de Ataulfo Alves e Aldo Cabral. No mesmo ano, teve o samba Uma Mulher É Pouco, com Ernâni Seve, gravado na RCA Victor por Francisco Carlos, e, na Copacabana, o samba-canção Disfarce, com Mary Monteiro, registrado pelo cantor Hélio Chaves.

 

                        Em 1953, foi contratado pela Odeon e gravou, com acompanhamento de orquestra, os xaxados Xaxado Não É Baião, de sua autoria e Rodrigues Filho, e Não Me Condenes, de Altamiro Carrilho e Armando Nunes. Em seguida, gravou, também com acompanhamento de orquestra, o foxe Chora, de Kolman e Lourival Faissal, e o samba-canção Não Devemos Fingir, de José Batista e Jorge Faraj. No ano seguinte, gravou o bolero Sinceridade, de G. Perez e Ghiaroni, e a toada Meu Erro, Meu Castigo, de Orlando Trindade e José Batista.

 

                        Gravou, com acompanhamento de orquestra e coro, em 1955, a marcinha Montanha Russa, de Arlindo Marques Jr. e Roberto Roberti, e o samba-canção Falam Tanto de Mim, de Alcyr Pires Vermelho e Ivon Cury. Em seguida, gravou, com acompanhamento de conjunto, coral e orquestra, de Severino Filho, a toada Vento Malvado, de Orlando Trindade e José Batista, e o samba-canção Drama Conjugal, de Armando Nunes e Cícero Nunes. Sua interpretação da marchinha Montanha Russa foi incluída no LP Cantando Para Você, que a Odeon lançou, com a participação de astros como Joel de Almeida, Roberto Luna, e Alcides Gerardi, entre outros.

 

                        Para o carnaval de 1956, lançou, com acompanhamento de orquestra e coro, o samba Eu Sou a Fonte, de Monsueto Menezes, Geraldo Queiroz e José Batista, que foi incluído também no LP Carnaval!... Carnaval!..., da gravadora Odeon, e a marchinha Cabeça Prateada, de Aldacir Louro, Edgard Cavalcanti e Anísio Bichara, uma das mais tocadas no Carnaval daquele ano.

 

                        Ainda em 1956, fez sucesso com o samba Favela, de Roberto Martins e Valdemar Silva. Gravou, ainda, para o Carnaval de 1957, os sambas Até Você Chorou e Comissário Valdemar, ambos de Haroldo Lobo e Raul Sampaio.

 

                        Para o Carnaval de 1960, gravou, pela Discobras, a marchinha A Maria Tá, com a qual se tornou um dos campeões do ano, e o samba Primeiro Amor, ambas de Haroldo Lobo, Milton de Oliveira e Jair Noronha.

 

                        Para o Carnaval de 1961, gravou, pela Continental, com acompanhamento de orquestra carnavalesca, as marchinhas Vaca de Presépio e Índio Quer Apito, ambas de autoria da dupla Haroldo Lobo e Milton de Oliveira. Esta última, aproveitando a efervescência reinante no país com a recente inauguração de Brasília, onde se dizia ser habitada por índios, foi o grande sucesso na época, e, mesmo posteriormente, além de incluída no LP Carnaval de 1961, que a gravadora Continental lançou com diversos artistas. Adiante a capa desse LP e de uma das regravações: 

 

                        Para o Carnaval de 1962, gravou, na Continental, a marchinha Nega do Congo, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, e o samba Incerteza, de Jorge Martins, José Garcia e Maragogipe. No mesmo ano, lançou, pela gravadora Copacabana, o bolero Até Sempre, de Mário Clavel e Teixeira Filho, e o samba Vai, Tristeza, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira.

 

                        Ainda 1962, participou dos dois volumes da série Carnaval de 1962 lançados pela Continental, com a presença de nomes como Ângela Maria, Jorge Goulart, Gordurinha, Risadinha, e Jamelão, entre outros. Foram suas as interpretações das marchas

 

                        No Carnaval de 1963 suas interpretações para as marchinhas Garota Que Vai Pra Lua, de João de Barro e Jota Júnior, e Metade Homem, Metade Mulher, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, foram incluídas no LP Carnaval de 1963 produzido pela gravadora Continental, com a participação de vários artistas. Com essas duas marchinhas, bombou naquele ano.

 

 

                        No mesmo ano, gravou o rock-balada Faz Tanto Tempo, de Tepper e Bennet, em versão de Carlos Imperial, e os sambas de meio de ano Julgo-me, de Umberto Silva, Luiz Mergulhão e Toso Gomes, Tindô-le-lê, de sua autoria e Renato Mendonça, e Ora Meu Bem, de Henrique de Almeida e Carlos Marques.

 

                        Pouco depois, lançou, pelo pequeno selo Athena, o samba-canção Dilúvio, de Wilson Batista e Jorge de Castro, e o samba Eu Quis Amar, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, e as marchinhas Ora, Meu Bem, de Henrique de Almeida e Carlos Marques, e Espeta o Vudu, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, foram incluídas no LP Carnaval de 1964, da gravadora Continental.

 

                        Nessa época, especializou-se definitivamente em gravar músicas destinadas ao repertório carnavalesco, participando de inúmeras coletâneas do gênero. Em 1964, participou de duas coletâneas destinadas ao carnaval: no LP Carnaval de Ontem e de Hoje, do selo Audience, com a marchinha A Maria Tá, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, e do LP Carnaval RIO/65, da Continental, para o qual gravou especialmente as marchinhas Strip-tease, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, e Vaca Malhadinha, de sua autoria e Fernando Noronha.

 

                         Em 1966, participou dos dois volumes da série Carnaval RCA 1967, da RCA Camden, lançados para o carnaval do ano seguinte, gravando, para o Volume 1 a marchinha Quando Vira a Maré, de sua autoria, Aloísio Vinagre e João Laurindo, e, para o Volume 2, a marchinha Bananeira, de Rutinaldo e Milton de Oliveira.

 

                        Participou, no ano de 1967, da coletânea Carnaval de Verdade 1968, Volumes 1 e 2, da gravadora Philips, que reuniu, entre outros, os nomes de Orlando Silva, Blecaute, Marlene, Dircinha Batista, e Zé Keti. Para o Volume 1, gravou a marchinha Deixa o Coração Cantar, de Luís Bonfá e Maria Helena Toledo, e, para o Volume 2, marchinha Felicidade, de Francis Hime e Vinicius de Moraes.

 

                        Em 1968, participou de nova coletânea, gravada no segundo semestre do ano, visando ao Carnaval do ano seguinte. Assim, pela RCA Camden, gravou a marchinha Adão Ficou Tantã – Marcha da Pílula Anticoncepcional –, de Antônio Almeida. Em 1969, participou do LP Festival de Carnaval da Polydor, registrando as marchinhas A Lua Conquistada, de Milton de Oliveira e Roberto Jorge, que glosava com a chegada do homem à lua, e Bela Napolitana, de Milton de Oliveira e Élton Menezes.

 

                        Em 1970, gravou as marchinhas Um, Dois, Três – O Que É Que Faz Com Ele? –, de Moacir Paulo e Fernando Noronha, e Benvenuta, Garota Enxuta, de Milton de Oliveira, para o LP Carnaval 1971, da Entré/CBS. Em 1972, participou do LP Carnaval de Vanguarda, da Premier/RGE, interpretando a marcha Boneca de Alode, de Milton de Oliveira. No mesmo ano, gravou um disco solo, interpretando canções românticas: o LP Uma Seresta na Fossa, do selo Itamaraty/CID, no qual cantou as músicas Inimigo Ciúme, de Umberto Silva e O. Trindade, A Serenata Que Ela Não Ouviu, de Jacobina e Taba, Fracasso, de Mário Lago, Chão de Estrelas, de Silvio Caldas e Orestes Barbosa, Da Cor do Pecado, de Bororó, Você É Todo Mal Que Me Faz Bem, de Paulo Aguiar, Umberto Silva e M. Vieira, Dilema, de Ataulfo Alves e Aldo Cabral, Mais Uma Ilusão, de Jacobina e Taba, Até Breve, de Ataulfo Alves e Cristóvão de Alencar, Suburbana, de Silvio Caldas e Orestes Barbosa, Ponta de Rua, de W. Tourinho, N. Wanderley e O. Trindade, e Molambo, de Jaime Florence "Meira" e Augusto Mesquita.

 

                        Em 1976, num momento em que as músicas carnavalescas já se encontravam em pleno declínio voltou a participar de uma coletânea do gênero, no LP Carnaval 76, da Musicolor/Continental, para o qual interpretou a marchinha Brinca Com o Meu Coração, de Cid Magalhães e Milton de Oliveira.

 

                        Três anos depois, gravou as marchinhas Não É Disco Voador, de Dozinho e Cláudio Paraíba, e O Burro Sou Eu, de Cláudio Paraíba, para o LP Gandaia Carnaval de 1980, uma gravação independente.

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                        Para o Carnaval de 1981, já residindo aqui em Brasília, surpreendi-me com o samba Chorei, Sim, pela beleza da melodia e da letra, passei a tocá-lo nos cordões e nos clubes, e, só muito depois, vim a saber que se tratava de autoria de Walter Levita, em parceria dom Rômulo Marinho e gravação de Edson Lima, pratas da casa brasiliense. 

 

                        Como amostra de seu trabalho, escolhi estas 5 faixas, que ficaram na memória dos foliões de ontem e de sempre: 

                        Cabeça Prateada, marchinha de Aldacyr Louro e E. Cavalcante, de 1956:

 

                        Índio Quer Apito, marchinha de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, glosa de piada muito em voga na época, supercampeã absoluta em 1961 e presente nos Carnavais seguintes, faixa obrigatória em qualquer coletânea e até hoje cantada pelos foliões de todas as idades: 

 

                        Garota Que Vai Pra Lua, marchinha de João de Barro e Jota Jr., de 1963:

  

                        Metade Homem e Metade Mulher, marchinha de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, de 1963: 

 

                        Chorei, Sim, samba candango de Walter Levita e Rômulo Marinho, na voz Edson Lima, para o Carnaval de 1981. A orquestra é a Banda do Sol, do Maestro Zuza, maranhense, meu amigo, pioneiro de Brasília, na época Sargento do BGP, que animava a maioria das festas carnavalescas nos clubes e nos palanques da Capital da República:

 

 

 


MPB da Velha Guarda domingo, 03 de julho de 2022

GILBERTO MILFONT
GILBERTO MILFONT

Raimundo Floriano

 

 

Gilberto Milfont

 

                        Este é um dos grandes ídolos que encantaram os Anos Dourados da Música Popular Brasileira e de minha juventude!

 

                        João Milfont Rodrigues, o Gilberto Milfont, cantor e compositor, nasceu em Lavras da Mangabeira (CE), no dia 7.11.1922. Nada se sabe a respeito de sua filiação e infância.

 

                        Cantou em público pela primeira vez os 14 anos, convidado por um tio para o programa Hora Infantil, na PRE-9, Rádio Clube de Fortaleza, onde trabalhou mais tarde domo Diretor Artístico.

 

                        Integrou também um conjunto regional com Zé Cavaquinho, o José Menezes, na época em que sua voz de adolescente se assemelhava muito à de Carmen Miranda. Na fase de mudança de voz, afastou-se da carreira por dois anos, retornando para cantar no mesmo programa em que estreara.

 

                        Naquele tempo, os discos lançados no Rio de Janeiro demoravam muito a chegar ao Ceará, e, para que seu repertório não ficasse ultrapassado, a conselho de um amigo, aprendeu taquigrafia. Assim, ouvindo emissoras cariocas, taquigrafava as letras, enquanto Mariinha, sua irmã gêmea, prestava atenção nas melodias. Com esse método, chegou a apresentar-se em primeira audição no Ceará, antes mesmo de sair a gravação de Orlando Silva, no Rio de Janeiro, o samba Atire a Primeira Pedra, de Ataulfo Alves e Mário Lago, muito cantado no Carnaval de 1944.

 

                        Transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1945, estreando na Rádio Mayrink Veiga, ano em que levou ao Cassino da Urca o samba Esquece, de sua autoria, para Dick Farney ouvir, o que resultou na gravação por esse grande astro d MPB de todos os tempos.

 

                        Em 1946, Gilberto gravou, na RCA Victor, seu primeiro disco, com a regência do Mastro Gaó, contendo duas canções, ambas de Joubert de Carvalho, Jeremoabo e Maringá. No mesmo ano, lançou dois sambas de Pedro Caetano e Claudionor Cruz, Estão Vendo Aquela Mulher e Apelo, e, para o Carnaval de 1948, o samba de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira O Meu Prazer, seu primeiro sucesso.

 

 

                        Por intermédio de Luiz Gonzaga, fez um teste na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, em abril de 1948, sendo aprovado por unanimidade. Lá, estreou no Programa A Canção Romântica, convidado por Francisco Alves.

 

                        Para o Carnaval de 1950, lançou o samba Um Falso Amor, de Haroldo Lobo, Milton de Oliveira e Jorge Gonçalves, e, para o de 1951, o samba Pra Seu Governo, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, ambos consagrados pelos foliões.

 

                        Obteve grandes sucessos como cantor de meio de ano com os boleros Senhora e Que Será de Ti, versões de Lourival Faissal, além dos sambas-canções As Aparências Enganam, e Castigo, ambos de Lupicínio Rodrigues.

 

                        Entre suas composições de maior êxito, estão o samba Reverso, parceria com Marino Pinto, de 1950; Tudo Acabou, samba, em 1951; e o samba-canção Tudo Acabou, em 1952, estes em parceria com Milton de Oliveira.

 

                        Em 1954, transferiu-se para a Continental, lançando a toada Valei-me Nossa Senhora, de Paquito e Romeu Gentil, o foxe Amor Secreto, versão de Giusepe Ghiaroni. Gravou, ainda, a apedido da Direção da Continental, o Hino a Getúlio Vargas, de João de Barro.

 

                        Sua carreira como cantor vai até o ano de 1963, quando deixou de gravar, continuando, porém, a compor e trabalhando no Projeto Minerva, da Rádio Ministério da Educação, no Rio de Janeiro.

 

                        Na Década de 1970, participou do Projeto MPB - 100 ao Vivo, do qual resultaram oito LPs produzidos por Ricardo Cravo Albin, nos quais cantou oito músicas.

 

                        Nos Anos 1980, participou de LPs lançados pela Associação Atlética do Banco do Brasil, produzidos por José Silas Xavier, para resgatar memórias musicais valiosas.

 

                        Nos anos de 2000 e 2003, participou, com sucesso, do Baile Popular Carnavalesco na Cinelândia, Centro do Rio de Janeiro, onde apresentou músicas tradicionais de seu

 

                        Em 2011, foi lançada pelo selo Discobertas em convênio com o ICCA – Instituto Cultural Cravo Albin, a caixa 100 Anos de Música Popular Brasileira, na qual Gilberto Milfont interpreta várias canções que o fizeram um ídolo no coração do povo. A coleção contém 8 LPs, depois resgatada em 4 CDs duplos. Eis a capa de 4 dos LPs:

 

 

                        Essa coleção, além de 86 faixas gravadas por ele em 78 RPM, agora, remasterizadas, encontra-se à disposição dos aficionados no mercado virtual.

 

                        Em 1985, como dito acima, a FENABB – Federação Nacional de Associações Atléticas Banco do Brasil lançou um projeto que ficará para sempre na memória dos amantes da MPB. Trata-se de Velhos Sambas, Velhos Bambas, Volume 1, com 3 elepês, e Volume 2, este em 1989, com dois. Além de resgatar alguns intérpretes tradicionais, trouxe-nos, com grande orquestra e arranjos modernos, a fina flor do que ainda restava da Velha Guarda de nosso cancioneiro sambista: Roberto Silva, Ademilde Fonseca, Violeta Cavalcanti, Roberto Paiva, Zezé Gonzaga, Adoniran Barbosa, Adeilton Alves, Luiz Cláudio, Núbia Lafayette, e, como não poderia faltar, Gilberto Milfont.

 

 

                        Para mostrar um pouco de seu trabalho, escolhi estas preciosidades:

 

                        O Meu Prazer, samba de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, seu primeiro sucesso, lançado no Carnaval de 1948:

 

                        Senhora, bolero, versão de Lourival Faissal, retumbante êxito, lançado em 1952:

 

                        Pra Seu Governo, samba de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, lançado para o Carnaval de 1951, cantado até hoje pelos foliões e valorizado pelo arranjo onde predominam os metais:

 

                        Novo Amor, samba de Ismael Silva, composto em 1929, aqui valorizado com a nova roupagem que lhe deu a produção da FENABB:

 

                        Castigo, samba-canção de Lupicínio Rodrigues, composto em 1959, mais um resgate da FENABB:

 

 


MPB da Velha Guarda sábado, 02 de julho de 2022

ROBERTO SILVA, O PRÍNCIPE DO SAMBA
ROBERTO SILVA, O PRÍNCIPE DO SAMBA

Raimundo Floriano

 

 

Roberto Silva 

                        Na Música Popular Brasileira, sou monarquista por demais. Porém não aceito qualquer tipo de Monarca. Para mim, até agora, e para sempre, só reconheço três Reis: Chico Alves, o Rei da Voz, Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, e Jackson do Pandeiro, o Rei do Ritmo. Porém, no que tange ao restante da Corte, há respeitadíssimo número de príncipes, de um dos quais passo agora a falar.

 

                        Roberto Napoleão Silva, cantor, nasceu no Morro do Cantagalo, Copacabana, no Rio de Janeiro, no dia 9.4.1920, cidade onde veio a falecer, no dia 9.9.2012, aos 92 anos de idade. Era filho do chapeleiro italiano Gilisberto Napoleão com a carioca Belarmina Adolfo.

 

                        Para mim, foi o intérprete que com mais elegância se apresentou nos palcos brasileiros, quer no Teatro ou na TV, só encontrando rival nesse item com Ataulfo Alves, outro ícone sagrado da MPB, que também primava no garbo e na galhardia onde quer que estivesse.

 

                        Aos seis anos de idade o pai mudou-se com a família para o subúrbio de Inhaúma. Ainda menino, a mãe o presenteou com uma flauta, que logo foi trocada por um violão. Mas, como gostava de cantar, não aprofundou estudos em qualquer dos instrumentos. Frequentava as festinhas da vizinhança, cantando músicas de Pixinguinha, Benedito Lacerda e, principalmente, dos cantores da época, como Sílvio Caldas, Orlando Silva, de quem teria muita influência no estilo de cantar, e Francisco Alves.  Aos 12 anos, começou a trabalhar numa marmoraria, na Rua do Matoso. Depois, aprendeu e exerceu outras profissões, como lustrador de móveis e mecânico. Em 1936, foi trabalhar no Departamento de Correios e Telégrafos.

 

                        Iniciou sua carreira artística no Programa Canta, Moçada, na Rádio Guanabara, em 1938. Dois anos depois, fez um teste na Rádio Mauá, passando a atuar no Programa Trabalhadores Cantando.

 

                        Em 1945, gravou, pela Continental, seu primeiro disco, com os sambas Ele É Esquisito, de L. Guilherme, Walter Teixeira e R. Lucas, e O Errado Sou Eu, de Erasmo Andrade e Djalma Mafra. No mesmo ano, Evaldo Ruy e Haroldo Barbosa levaram-no para a Rádio Nacional, onde permaneceu um ano e meio quando foi, então, convidado por Paulo Gracindo a integrar o elenco da Rádio Tupi.

 

                        Ele e Ciro Monteiro foram os grandes sucessores do estilo de cantar samba sincopado, com rica divisão rítmica, lançado por Luís Barbosa e Vassourinha. Consagrado popularmente, passou para a gravadora Star, onde lançou seu primeiro sucesso em disco, o samba Mandei Fazer Um Patuá, de Raimundo Olavo e Gilberto Martins.

 

                        Em 1949, participou do filme Eu Quero É Movimento, direção de Luís Barros, passando, depois, a excursionar pelo país, interpretando grandes sucessos, com Maria Teresa, de Altamiro Carrilho, Juraci Me Deixou, de Raimundo Olavo e Oldemar Magalhães, Normélia, de Raimundo Olavo e Norberto Martins, e O Baile Começa às Nove, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira. Por essa época, fazia-se acompanhar ao violão.

 

 

                        Em 1958, gravou o primeiro LP da Série Descendo o Morro, pela Copacabana, acompanhado por Altamiro Carrilho, na flauta, Raul de Barros, no trombone, Dino e Meira, nos violões, Canhoto, no cavaquinho, e Jorge, Gilson, Décio e Rubens na percussão. A série continuou até o Volume 4.

 

 

                        Também, pela Copacabana, foram lançados os LPs O Samba é Roberto Silva, Volumes 1 e 2, Eu, o Luar e s Serenata, Volumes 1 e 2, O Príncipe do Samba, e Saudade em Forma de Samba.

 

 

                        Destacam-se nesses discos sucessos como Lembras-te daquela Zinha?, de Geraldo Pereira e Augusto Garcez, Crioulo Sambista, de Nélson Trigueiro e Sinval Silva, Domine Sua Paixão, de João Bastos Filho e Djalma Mafra, Escurinho, de Geraldo Pereira, Chora, Cavaquinho, de Dunga, Emília, de Wilson Batista e Haroldo Lobo, Diz a Verdade Todinha, de Roberto Faissal, Boneca, de Benedito Lacerda e Aldo Cabral, e muito outros. Seu repertório contabiliza 192 títulos.

 

                        Roberto Silva faleceu no Hospital Salgado Filho, no Méier, vítima de um AVC. Conhecido como O Príncipe do Samba, as primeiras homenagens públicas que lhe foram prestadas vieram do Instituto Cultural Cravo Albin, na Rádio Roquete Pinto, e do Instituto Moreira Salles.

 

                        Em 1985, a FENABB – Federação Nacional de Associações Atléticas Banco do Brasil lançou um projeto que ficará para sempre na memória dos amantes da MPB. Trata-se de Velhos Sambas, Velhos Bambas, Volume 1, com 3 elepês, e Volume 2, este em 1989, com dois. Além de resgatar alguns intérpretes tradicionais, trouxe-nos, com grande orquestra e arranjos modernos, a fina flor do que ainda restava da Velha Guarda de nosso cancioneiro sambista: Gilberto Milfont, Ademilde Fonseca, Violeta Cavalcanti, Roberto Paiva, Zezé Gonzaga, Adoniran Barbosa, Adeilton Alves, Luiz Cláudio, Núbia Lafayette, e, como não poderia faltar, Roberto Silva.

 

 

                        E é com essa nova roupagem que escolhi alguns números para mostrar um pouco do talento e da voz do Príncipe do Samba:

 

                        Divina Dama, samba de Cartola, que já recebeu diversas regravações:

 

                        Cansei, samba de Sinhô, outro clássico da MPB sempre regravado.

 

                        Você Não Tem Palavra, samba de Ataulfo Alves, e Newton Teixeira, uma das boas lembranças de minha infância:

 

                        Amar a Uma Só Mulher, samba de Sinhô, um dos clássicos da MPB: e

 

                        Na Virada da Montanha, samba de Ary Barroso e Lamartine Babo, que, a meu ver, tem em Roberto Silva seu melhor intérprete: 

 

 


MPB da Velha Guarda sexta, 01 de julho de 2022

NORA NEY
NORA NEY

Raimundo Floriano

 

 

Nora Ney

 

            ‘           Iracema de Sousa Ferreira, a Nora Ney, cantora, nasceu no Rio de Janeiro (RJ), a 20.3.1922, cidade onde veio a falecer, no dia 28.10.2003, aos 81 anos de idade. Era filha de Dárcio Custódio Ferreira, funcionário da Câmara dos Deputados.

 

                                Aos oito anos, foi matriculada num Grupo Escolar em Olaria e, mais tarde, formou-se em Contabilidade, pelo Instituto Rui Barbosa.

 

                        Aprendeu sozinha sua primeira música ao violão, Valsa de Cristal, observando as aulas que suas irmãs tomavam com uma professora. O pai, surpreso e entusiasmado, resolveu presenteá-la com um violão. Apesar disso, só passou a estudar música mais tarde, com Aída Gnattali, solfejo e leitura musical. Em casa, chamavam-na de Ceminha.

 

                        Antes de decidir-se pela carreira de cantora, frequentava assiduamente os programas radiofônicos de auditório, onde não perdia a oportunidade, se o animador solicitasse aos ouvintes da platéia que subissem ao palco e cantar um sucesso estrangeiro – achava que não poderia cantar em Português por causa dos seus “erres” muito carregados.

 

                        No final dos Anos 1940, antes de se lançar profissionalmente, fez parte do Fã-Clube Sinatra-Farney, que promovia festas na residência do cantor Dick Farney, tendo à bateria seu irmão Cyl Farney. Nesses encontros informais, já mostrava seu talento, cantando com os outros participantes, como Johnny Alf e Carlos Guinle, os sucessos de Frank Sinatra e Dick Farney. Esses saraus acabaram sendo o passaporte para sua profissionalização. Com o grupo, participou de alguns shows estrelados por Dick Farney, desistindo, então, de sua profissão de Contadora.

 

                        Levada por Dick Farney, Lúcio Alves e Osvaldo Elias, estreou, em fins de 1951, no Programa de José Mauro, Fantasia Musical, da Rádio Tupi, cantando músicas estrangeiras, sob o pseudônimo de Nora May. Quando Aracy de Almeida entrou de férias, passou a substituí-la no Quadro Viva o Samba, do Programa Rádio Sequencia G-3, de Haroldo Barbosa, que insistiu para que ela abandonasse o repertório em Inglês.

 

                        Apesar das dúvidas quanto a sua voz muito grave e de sua pronúncia carregada de “erres”, conseguiu impor-se com seu ritmo e afinação, criando um novo estilo de interpretação para os sambas-canções da época.

 

                        Pouco depois, foi convidada pelo Maestro Copinha para cantar na Boate Midnight, do Copacabana Palace Hotel, substituindo Carmélia Alves, a Rainha do Baião, sendo também contratada pela Rádio Nacional, que transmitia da boate, ao vivo, o Programa Ritmos da Panair, no qual atuou durante quatro anos, ao lado de Dóris Monteiro e Jorge Goulart, que, mais tarde, se tornou sem companheiro e eventual parceiro na vida profissional.

 

                        Antes de Jorge Goulart, ela vivera um casamento que não deu certo, resultando dessa união dois filhos, Vera Lúcia e Hélio.

 

Jorge Goulart e Nora Ney - O Primeiro LP de Nora

 

                        Em 1952, gravou, com grande êxito, na Continental, seu primeiro disco, com as músicas Menino Grande, de Antônio Maria, que se lançava como compositor, e Quanto Tempo Faz, de Paulo Soledade e Fernando Lobo. Com Ninguém Me Ama, de Antônio Maria e Fernando Lobo, conheceu sua fase de notável sucesso, que lhe valeu o Disco de Ouro como melhor cantora, por cinco anos consecutivos, sendo eleita, em 1953, Rainha do Rádio.

 

                        Ainda em 1953, lançou os sambas-canções De Cigarro em Cigarro, de Luís Bonfá, e Preconceito, de Antônio Maria e Fernando Lobo, além do samba-choro É Tão Gostoso, Seu Moço, de Mário Lago e Chocolate.

 

                        Em 1954, gravou o samba-canção Aves Daninhas, de Lupicínio Rodrigues. Em 1955, outros grandes lançamentos: o samba-canção Se Eu Morresse Amanhã de Manhã, de Antônio Maria, e o samba Meu Lamento, de Ataulfo Alves e Jacob do Bandolim. Em 1956, arrebentou a boca do balão com o samba-canção Só Louco, de Dorival Caymmi. Em 1958, repetiu a dose com o maxixe Vai Mesmo, de Ataulfo Alves.

 

                        Viajando em turnê de seis meses pelo Exterior, apresentou-se nas Américas, Europa, África e Oriente Médio, tornando-se grande divulgadora da MPB em países nos quais era praticamente desconhecida, como Chipre, U.R.S.S e República Popular da China.

 

                        Em 1971, fez uma temporada com Jorge Goulart na Boate Feitiço da Vila, em Belo Horizonte, e, no ano seguinte, gravou, pela Som Livre, o LP Tire Seu Sorriso do Caminho Que Eu Quero Passar Com Minha Dor, contendo, entre outros hitsConselho, de Denis Brean e Osvaldo Guilherme, e Quando Eu Me Chamar Saudade, de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito.

 

 

                        Em 1974, participou, com Jorge Goulart, do show Brazilian Follies, no Hotel Nacional do Rio de Janeiro, reeditado cinco anos depois. Em 1977, lançou, com Jorge Goulart, o LP Jubileu de Prata, pela Som Livre, no qual interpretou, entre outras canções, Ronda, de Paulo Vanzolini, Se Eu Morresse Amanhã de Manhã, de Antônio Maria, e Canção de Quem Espera, de Sivuca e Glória Gadelha.

 

LPs Jubileu de Prata e Meu Cantar É Tempestade de Saudade

 

                        Em 1979, participou, com Jorge Goulart, do Projeto Seis e Meia, na Sala Funarte/ Sidney Miller, em show de apreciável sucesso, intitulado Casal Vinte, contando com roteiro e direção de Ricardo Cravo Albin. No ano seguinte, na mesma Sala, apresentaram o espetáculo Roteiro de Um Boêmio, sobre a vida e a obra de Lupicínio Rodrigues. Nessa época, passou por sérios problemas de saúde, por conta de um câncer na bexiga, do qual se recuperou.

 

                        Em 1982, comemorou, com Jorge Goulart, 30 anos de vida em comum, com o espetáculo De Coração a Coração, no Teatro Gonzaga, em Marechal Hermes. Em 1985, de volta ao Projeto Pixinguinha, fez dupla com Jamelão, apresentando-se em Florianópolis, Curitiba, Goiânia e Brasília DF. Em 1987, lançou o LP Meu Cantar É Tempestade de Saudade.

 

                        Em 1989, ao lado das cantoras Carmélia Alves, Violeta Cavalcanti, Zezé Gonzaga, Rosita Gonzales e Ellen de Lima, atuou no show As Eternas Cantoras do Rádio. Um ano depois, realizou o espetáculo comemorativo do Aniversário da Rádio Cultura, de São Paulo.

 

                        Em 1992, depois de 39 anos de vida em comum, casou-se com o cantor Jorge Goulart. Meses depois, quando se apresentava em um show no Fluminense, sofreu um AVC, que lhe deixou sequelas, impedindo-a de voltar aos palcos, continuando o casal a residir no Rio.

 

                        Em 2000, foi homenageada no show do cantor Elymar Santos, no Canecão, quando emocionou o público ao cantar Ninguém Me Ama, em cadeira de rodas, cercada por Jorge Goulart, Carmélia Alves e Ricardo Cravo Albin.

 

                        A partir de 2001, com o agravamento do seu estado de saúde, passou a maior parte do tempo em hospitais da zona norte da cidade do Rio de Janeiro, Bairros da Tijuca e Andaraí.

 

                        A 28.10.2003, Nora faleceu num hospital do Bairro da Tijuca, vítima de falência múltipla dos órgãos, devido a um câncer generalizado provocado por enfizema pulmonar. Seu viúvo, Jorge Goulart, havia programado um espetáculo em sua homenagem, para o fim de 2003, no Teatro João Caetano.

 

                        Sua discografia é extensa, e seus LPs e canções remasterizadas são facilmente encontráveis nos sites e busca.

 

                        Algumas delas estão contidas neste excelente CD, da Série Grandes Vozes, lançado pela Som Livre, em 2007: 

 

                        Como pequena amostra de seu trabalho, escolhi as quatro faixas a seguir:

 

                        É Tão Gostoso, Seu Moço, samba-canção de Mário Lago e Chocolate, gravado em 1953:

 

                        Vai Mesmo, maxixe de Ataulfo Alves, grande êxito em 1958:

 

                        Provei, samba de Vadico e Noel Rosa, constante do LP Jubileu de Prata e do CD Grandes Vozes, gravação de 1977, com a participação especial de Jorge Goulart:

 

                        Ninguém Me Ama, samba-canção de Antônio Maria e Fernando Lobo, de 1942, regravado, anos depois, em Português, pelo cantor americano Nat King Cole:

 

                        De Cigarro em Cigarro, samba-canção de Luís Bonfá, gravado em 1953, maior sucesso de sua carreira:

 

 

 


MPB da Velha Guarda quinta, 30 de junho de 2022

IVON CURI, O CANÇONETISTA
IVON CURI, O CANÇONETISTA

Raimundo Floriano

 

 

Ivon Curi

 

                        Ivo José Curi, o Ivon Curi, ator, cantor e compositor nasceu em Caxambu (MG), a 5.6.1928, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), a 24.6.1995, aos 67 anos de idade. Era filho do comerciante José Kalil Curi e de Maria Curi. Teve oito irmãos, dentre eles os locutores da Rádio Nacional Alberto e Jorge Curi.

 

                        Por volta de 1944, começou a cantar sambas-canções e cançonetas francesas em festas, shows e, depois, na rádio de sua cidade, onde estudou o Curso Ginasial. Aos 11 anos de idade, ainda em Caxambu, ganhou um concurso de calouros onde interpretou J'attendrai, música que fazia grande sucesso na voz de seu maior ídolo francês, Jean Sablon.

 

                        No início dos Anos 1940, transferiu-se com a família para o Rio de Janeiro, onde cursou o Científico e trabalhou na extinta Companhia Aérea Panair. Nessa ocasião, cantou diversas vezes no Programa Sequência G-3, comandado por Paulo Gracindo, na Rádio Tupi, porém de forma ainda amadora.

 

                        Em 1947, conseguiu seu primeiro contrato, este com a Rádio Nacional, para apresentar-se como convidado nos programas e Emilinha Borba, Marlene, Dalva de Oliveira e Ângela Maria. Em seguida, transferiu-se para a Rádio Tupi.

 

                        Ainda em 1947, foi contratado como crooner da Orquestra do Maestro Zaccarias, do Hotel Copacabana Palace, com indicação dos cantores Nuno Roland e Elda Maida. Em 1948, atuou no Programa Ritmos da Panair, da Rádio Nacional. Por coincidência, este programa tinha o patrocínio da empresa onde trabalhara antes de iniciar sua carreira como cantor.

 

                        Em 1949, gravou, em dupla com Carmélia Alves, pela Continental, o baião Me Leva, de Hervê Cordovil e Rochinha. Em 1950, participou do filme Aviso aos Navegantes, da Atlântida, e, no ano seguinte, apareceu em Aí Vem o Barão. E 1952, atuou em Barnabé, Tu És Meu. No total, sua carreira contabiliza 12 filmes.

 

                        Seu primeiro disco solo acontecera em 1948, pela Continental, com os foxes La Vie en Rose, de R. S. Louiguy, e Nature Boy de Eden Abhez, seguindo-se C’est Si Bon, de Charles Trenet, e Obrigado, de sua autoria, Tá Fartando Coisa em Mim, dele em parceria com Humberto Teixeira, 1950, Humanidade, de sua autoria, Margarida, de Humberto Teixeira e Copinha, 1952, e Orquídeas ao Luar, versão de Cristóvão Alencar, 1952.

 

                        Nessa época, modificou seu estilo, passando a fazer mímicas e contar piadas, tornando-se cançonetista, com apreciável repertório nordestino.

 

 

                        Em 1953, lançou, pela RCA Victor, Amor de Hoje, de Ari Monteiro e Bruno Marnet, música que havia interpretado no filme É Fogo na Roupa. Vieram, a seguir, Baião das Velhas Cantigas, de Jair Amorim, Caxambu, de Zé Dantas e David Nasser, Farinhada, de Zé Dantas, Xote das Meninas, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, além da valsa de sua autoria, João Bobo, e a canção israelita Beija-flor, versão de Caribé da Rocha.

 

                        Depois de excursionar pelo Brasil, fez uma temporada pela Europa, entre 1956 e 1957. Em Portugal, adotou, pela primeira vez, o estilo one-man-show, sendo considerado o melhor intérprete de música brasileira por lá.

 

                        Em 1961, casou-se com Ivone Freitas, que lhe deu quatro filhos: Ivana, Ivan, Ivna e Ivo.

 

                        Com o aparecimento da Jovem Guarda, afastou-se temporariamente da vida artística, reaparecendo, em 1971, com o espetáculo Ivon de Todos os Tempos, no Teatro Casa Grande, apresentando-se como show-man, quando fez uma retrospectiva de sua carreira, lançando um LP com o mesmo título.

 

 

 

                        Participou da noite carioca como proprietário de diversas casas noturnas, entre elas Sambão e Sinhá, onde sempre cantava e recebia convidados. Em 1987, lançou o LP Ivon Curi Ontem e Hoje e ingressou na televisão como ator humorístico.

 

 

                        Em 1992, participou da série de shows realizada no Teatro do BNDES em celebração aos 70 anos do Rádio no Brasil, ao lado de Dóris Monteiro, Emilinha Borba e do veterano radialista Gerdau dos Santos, com roteiro e direção de Ricardo Cravo Albin.

 

                        No ano de 1993, foi contratado pela TV Manchete para comandar o Programa Show da Manchete. Neste mesmo ano, realizou o espetáculo A França e 15 Saudades, que se transformou em seu último disco, Douce France.

 

 

                        Sua derradeira participação televisiva foi na TV Globo, no quadro humorístico de Chico Anysio A Escolinha do Professor Raimundo. Participou, em 1995, das gravações do CD João Batista do Vale, lançado pela BMG, em tributo ao compositor João do Vale, na faixa Forró do Beliscão. Esta foi sua última gravação. No dia 24 de junho daquele ano, Dia de São João, viria a falecer.

 

                        Em 2002, sua família doou todo seu acervo, composto de discos, troféus e fotos, ao Instituto Cultural Cravo Albin, que passou a disponibilizá-lo para estudiosos e interessados em sua obra e carreira.

                        Em 2005, relembrado os dez anos de sua morte, foi lançado, pela Revivendo, o CD Farinhada à Francesa reunindo gravações suas realizadas entre 1948 e 1960, dentre as quais os sucessos Farinhada, de Zé Dantas, João Bobo, de sua autoria.

 

 

                        Todos os discos acima citados, relançamentos, coletâneas e 82 títulos remasterizados de gravações em 78 RPM encontram-se disponíveis nos sites de busca especializados. Como pequena amostra de seu trabalho, escolhi estas cinco faixas:

 

                        João Bobo, valsinha de sua autoria: 

 

                        Forró do Beliscão, baião de João do Vale, Ary Monteiro e Leôncio Tavares: 

 

                        C’est Si Bon, foxe, de Charles Trenet: 

 

                        Tutti Buona Gente, tarantela de Bruno Marnet: 

 

                        Farinhada, baião de Zé Dantas: 

 


MPB da Velha Guarda quarta, 29 de junho de 2022

ELLEN DE LIMA
ELLEN DE LIMA

Raimundo Floriano

 

 

Ellen de Lima

 

                        Helenize Teresinha de Lima P. Almeida, a Ellen de Lima, cantora, nasceu em Salvador (BA), no dia 24 de março de 1938.

 

                         Em 1940, com apenas dois anos de idade, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Desde a infância, já demonstrava entusiasmo com as músicas que ouvia no rádio. Aos oito anos, cantou no Programa Papel Carbono, de Renato Murce, na Rádio Nacional, imitando Heleninha Costa, sendo a vencedora da noite.

 

                        Começou sua carreira em 1950, apresentando-se no Programa César de Alencar, destinado à descoberta de novos cantores. Participou, também, do Programa Alvorada dos Novos, da Rádio Mayrink Veiga, onde interpretou sucessos de Ângela Maria no Programa Aí Vem o Sucesso.

 

                        Em 1954, foi contratada pela Socipral – Organização Victor Costa, que congregava a Rádio Mayrink Veiga, a Rádio Nacional de São Paulo e a Rádio Nacional do Rio de Janeiro –, para apresentar-se nas duas maiores cidades brasileiras. Ainda nesse ano, assinou contrato com a gravadora Colúmbia e lançou seu primeiro disco, contendo o samba-canção Até Você, de Armando Nunes, e o foxe Melancolia, de Allain Romano, em versão de Capitão Furtado.

 

                        Em 1957, trocou a Mayrink pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, onde alcançou o auge de sua carreira, fazendo sucesso com o bolero Vício, de Fernando César, gravado pela Colúmbia em seu primeiro LP, Só Ellen, que incluía também o bolero Mente, do mesmo compositor.

 

                        Em seguida, apresentou-se em vários programas de televisão e shows em casas noturnas. Em 1963, gravou o LP Ellen de Lima, lançado pelo selo Chantecler, com Nós (Noi), de G. Malgoni e B. Pallesi, versão de Julio Nagib, e Leva-me Contigo de Dolores Duran. Em 1967, lançou o LP Ellen Canta, com destaque para a canção Na Paz do Seu Olhar, de João Melo, e Você É Todo Mal Que Me Faz Bem, de Umberto Silva e Paulo Aguiar. Nessa época já era contratada pela TV Globo, onde atuou como atriz e cantora.

 

Os três primeiro LPs de Ellen de Lima

 

                        Em 1969, gravou o LP Ellen de Lima, pela Odeon, que incluiu Cante, Cante, de Tito Madi, e Somente Porque Te Amo, de Leci Brandão.

 

                        Atuou em teleteatro ao lado de Fernanda Montenegro e Sérgio Britto, e no Teatro Opinião, com Paulo José e Joana Fomm, entre outros. Participou de diversos festivais e shows pelo Brasil e no Exterior, apresentando-se em várias temporadas em Portugal, no Cassino Estoril.

 

                        Recebeu a Comenda Oswaldo Cruz, por sua participação como cantora na Campanha da Meningite. Foi eleita Madrinha da Polícia Rodoviária Federal. Em 1990, recebeu Menção Honrosa da Câmara Municipal do Rio de Janeiro pelos serviços prestados à Música Brasileira.

 

 

                        Desde 1988, faz parte do grupo As Cantoras do Rádio. Entre junho e outubro de 2001, ficou em cartaz vários meses no Teatro-Café Arena, no Rio, juntamente com Carminha Mascarenhas, Carmélia Alves e Violeta Cavalcanti, no espetáculo As Cantoras do Rádio: Estão Voltando as Flores, espetáculo que correria o Brasil a partir de então e seria gravado em CD pela Som Livre.

 

LPs e Cds de Ellen Lima

                        No show, que homenageava cantoras da época de ouro do rádio no Brasil, Ellen de Lima interpretava sucessos de Dolores Duran, como A Noite do Meu Bem, além de marchinhas carnavalescas dos repertórios de Linda e Dircinha Batista e de Carmen e Aurora Miranda. Estes são os dois últimos CDs lançados com trabalhos dela e de outras estrelas da MPB:

 

 

                        Sua discografia é extensa, contando com mais de 160 títulos. Os LPs e CDs acima citados são facilmente encontráveis em sites especializados, além de 38 faixas remasterizadas de bolachões 78 RMP.

 

                        Como pequena amostra de seu trabalho, escolhi os sucessos a seguir, todos extraídos do CD Estão Voltando as Flores, com as Cantoras do Rádio:

 

                        A Noite do Meu Bem, valsa-balada de Dolores Duran, gravação original de 1959: 

 

                        Canção das Misses, hino, de Lourival Faissal, gravação original de 1957: 

 

                        Leva-me Contigo, samba-canção de Dolores Duran, gravação original de 1960:

 

                        Misturada, marchinha de Rômulo Paes e Aníbal Fernandes, gravação original para o Carnaval de 1961:

  

                        Vício, bolero de Fernando César, gravação original de 1956:

 

 


MPB da Velha Guarda segunda, 27 de junho de 2022

LANA BITTENCOURT
LANA BITTENCOURT

Raimundo Floriano

 

 

Lana Bittencourt

 

                        Irlan Figueiredo Passos, a Lana Bittentourt, cantora, nasceu no Rio de Janeiro (RJ), no dia 5 de fevereiro de 1931.

 

                        Desde menina, causava sensação cantando nas festas familiares e em casa de vizinhos e amigos da família. Antes de escolher a carreira artística, cursava línguas anglo-germânicas na Faculdade de Filosofia. Sempre se destacou pela capacidade de cantar em vários idiomas, o que lhe valeu um prefixo nas rádios: Lana Bittencourt, A Internacional.

 

                        Em 1954, abandonou a Faculdade para ser cantora, estreando na Rádio Tupi do Rio de Janeiro, transferindo-se, depois, para a Rádio Mayrink Veiga.

 

                        Gravou, naquele mesmo ano, pela Todamérica, seu primeiro disco, com os sambas Emoção, de Emanuel Gitahy e Wilson Pereira, e Samba da Noite, de Luís Fernando e Wilton Franco.

 

                        Nessa época, excursionou pelo interior do Brasil e chegou a ter um programa exclusivamente seu, na TV Paulista, Canal 5, de São Paulo, com duração de 30 minutos. Em 1955, transferiu-se para a Columbia, onde gravou grande parte de seus discos. O primeiro deles com o foxe Juca, de Haroldo Barbosa, e o bolero Johnny Guitar, de Victor Young, versão de Júlio Nagib.

 

Primeiros LPs de Lana Bittencourt

 

                        Daí em diante, sua carreira fonográfica deslanchou. Gravou três LPs pela Colúmbia, nos três primeiros anos da Década de 1960: Musicalscope, com Se Alguém Telefonar, de Alcir Pires Vermelho e Jair Amorim, e Little Darlin’, de Wlliams, que foi um de seus maiores êxitos; Exaltação ao Samba, com Exaltação à Bahia, de Vicente Paiva e Chianca Garcia, e Os Quindins de Iaiá, de Ary Barroso; e Sambas do Rio, com composições de Luís Antônio, como Amor... Amor, e de Tom Jobim, como Corcovado.

 

                        Pela CBS, lançou, em 1963, O Sucesso é Lana Bittencourt, Com Chariot, de Stolle e Del Roma, e Canção de Esperar o Amor, de Carlito e Romeu Nunes. Pela Philips, em 1965, lançou Lana no 1800, com Castigo, de Dolores Duran, Ma Vie e Au Revoir, de Alain Barrière Vidalin e Bécaud.

 

                        Cantora muito versátil, caracterizou seu repertório pela interpretação de músicas em vários idiomas. Por conta do sucesso da interpretação de Little Darling, o produtor Nat Shapiro veio ao Brasil para convidá-la, juntamente com Cauby Peixoto e Leny Eversong, a se apresentarem no Ed Sullivan Show, na TV norte-americana.

 

                        Em 1982, lançou o LP Jubileu de Prata, pelo selo AVM, no qual gravou Sangrando, de Gonzaguinha, Me Deixas Louca, de Armando Manzanero, e Samba da Noite, de Wilton Franco, além de regravar os sucessos Little Darlin' e Se Alguém Telefonar. Em 1986, gravou o LP Karma Secular, pelo selo Fermata, com destaque para as composições de autores contemporâneos como em Rosa de Viver, de Abel Silva e Sueli Costa, A Morte do Imortal, de Nonato Buzar e Ronaldo Bôscoli, Onde Foi Que Eu Errei, de Antonio Ferreira e Carlos Café, e a música-título, de Ângela RoRo. Na década de 1990, teve o LP Exaltação ao Samba, relançado em CD, com o título do samba Exaltação à Bahia, já que as 12 faixas do disco têm a Bahia como tema.

 

 

                        Em 1998, teve lançado, pela Polydisc, um CD com seus maiores sucessos, incluindo Ouça, de Maysa, Maria, Maria, de Milton Nascimento e Fernando Brant, e Olhos nos Olhos, de Chico Buarque. Ainda na Década de 1990, começou a fazer pequenos shows para eventos especiais, como casamentos, formaturas e almoços/jantares de celebração

                         Em 2003, continuou em atividade, apresentando-se em espetáculos e eventos pelo Brasil. Em 2006, atuou com o cantor Márcio Gomes no Teatro Ipanema, no show Grandes Nomes em Sintonia, com acompanhamento do Maestro Mirabeau. Em 2010, gravou, em show no Teatro Rival BR, seu primeiro DVD, dirigido pelo jornalista Rodrigo Faour, intitulado Lana Bittencourt - A Diva Passional

 

                        Em 2012, passou a integrar o Grupo As Cantoras do Rádio, em sua nova formação, que estreou no show MPB pela ABL - A Volta das Cantoras do Rádio, récita única no auditório Raimundo Magalhães Jr., todas acompanhadas por Fernando Merlino, com apresentação, criação e roteiro de Ricardo Cravo Albin.

 

                        Em 2013, apresentou-se na Casa de Espetáculos Miranda, na Zona Sul do Rio de Janeiro num show em homenagem à cantora e compositora Dolores Duran. Em 2014, participou, juntamente com as cantoras Ellen de Lima e Adelaide Chiozzo, do espetáculo A Noite - Nas Ondas da Rádio Nacional, apresentado no teatro Rival BR.

 

                        Os discos acima citados e 72 faixas remasterizadas de bolachões 78 RPM são facilmente encontráveis nos sites de busca especializados.

 

                        Como pequena amostra de seu trabalho, selecionei estas cinco faixas:

 

                        Summertime, calipso de G. Gershwin e Du Rose Heyward:

 

                        Ave Maria, samba-canção de Vicente Paiva e Jayme Redondo:

 

                        Malagueña, passo doble de Ernesto Lecuona:

 

                        Rio de Janeiro (Isto É o Meu Brasil), samba de Ary Barroso:

 

                        Little Darlin’, calipso de M. Williams, seu maior sucesso: 

 


MPB da Velha Guarda sábado, 25 de junho de 2022

CLEMENTINA DE JESUS
CLEMENTINA DE JESUS

Raimundo Floriano

 

 

Clementina de Jesus

 

                        Clementina de Jesus da Silva, cantora, nasceu em Valença (RJ), no dia 7.2.1901, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), no dia 19.7.1987, com 86 anos de idade.

 

                         Filha de um violeiro e de uma capoeirista, desde criança ouvia os cantos de trabalho, jongos, benditos, ladainhas e partidos altos cantados pela mãe.

 

                        Mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, passando a adolescência no Bairro de Osvaldo Cruz. Aos 12 anos, desfilava no Bloco Moreninhas das Campinas. Três anos depois, já cantava no Coro de uma das muitas igrejas de seu bairro. Por essa época, participava das rodas de samba na casa de Dona Maria Nenê. Mais tarde, passou a frequentar o Grêmio Recreativo e Escola de Samba Portela

 

                        Em 1940, casou-se com Albino Pé Grande e foi morar no morro da Mangueira. Durante 20 anos, trabalhou como empregada doméstica, cantando só para os amigos, sendo descoberta, aos 63, por Hermínio Bello de Carvalho.

 

                        Sua primeira aparição como cantora profissional se deu em 1964, quando, a convite de Hermínio, participou do show O Menestrel, com Turíbio Santos. Em 1965, integrou o Musical Rosa de Ouro, apresentado no Teatro Jovem do Rio de Janeiro e dirigido por Hermínio Bello de Carvalho e Kleber Santos, ao lado da veterana Aracy Cortes e do Conjunto Rosa de Ouro, que tinha como integrantes, entre outros, Paulinho da Viola, Elton Medeiros e Nelson Sargento. Dele, forram editados dois LPs, o Rosa de Ouro 1, em 1965, e Rosa de Ouro 2, em 1967.

 

 

                        O show seguiu em turnê pela Bahia e teatros São Paulo. Em 1966, Clementina viajou para Dacar e Senegal, representando o Brasil no Festival de Arte Negra, acompanhada de Elizeth Cardoso, Elton Medeiros e Paulinho da Viola. É também de 1966 seu primeiro disco solo, Clementina de Jesus, pela Odeon.

 

                        Nessa época, participou de Concertos na Aldeia de Arcozelo e, em dueto com Helcio Milito, apresentou, na Sala Cecília Meirelles, do Rio de Janeiro, a Missa de São Benedito, de autoria de José Maria Neves. Em 1967, prestou seu histórico depoimento para o MIS - Museu da Imagem e do Som, no qual foi entrevistada por Hermínio Bello de Carvalho e Ricardo Cravo Albin.

 

                        Em 1968, com João da Baiana e Pixinguinha, gravou o disco Gente da Antiga, lançado pela Odeon. Nesse mesmo ano, ao lado de Nora Ney e Cyro Monteiro, lançou o LP Mudando de Conversa, gravação do show homônimo, realizado no Teatro Santa Rosa, no Rio de Janeiro, com roteiro e direção de Hermínio Bello de Carvalho.

 

 

                        Ainda em 1968, lançou o LP Fala Mangueira, com Carlos Cachaça, Cartola, Nélson Cavaquinho e Odette Amaral. No ano de 1970, gravou seu segundo disco solo, Clementina Cadê Você, lançado pelo MIS, no ano de 1973, e, cinco meses depois de sofrer uma trombose que, conforme parecia, ameaçava encerrar sua carreira artística, lançou, pela Odeon, o LP Marinheiro Só, produção de Caetano Veloso.

 

 

                        Ainda em 1973, fez uma participação especial no LP Milagre dos Peixes, de Milton Nascimento, na faixa Escravo de Jô, de Milton e Fernando Brant. No ano de 1976, lançou o LP Clementina de Jesus - Convida Carlos Cachaça. Em 1977, participou, como convidada, de Clara Nunes, do LP As Forças da Natureza. Em 1979, gravou seu derradeiro disco, Clementina e Convidados, pela Emi-Odeon.

 

 

                         No ano de 1982, a Escola de Samba Lins Imperial se apresentou com enredo em sua homenagem: Clementina - Uma Rainha Negra. Em 1983, recebeu, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, grande homenagem. Ainda em 1983, participou do LP O Canto dos Escravos, com Doca e Geraldo Filme, interpretando cânticos dos escravos de Minas Gerais, lançado pela gravadora Eldorado.

 

                        Em 1985, recebeu do Governo Francês, através do Ministro da Cultura Jack Lang, a Comenda da Ordem das Artes e Letras, com a presença de Jorge Amado, Caetano Veloso e Milton Nascimento.

 

                        Seu último show foi no mês de maio no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro, no ano de 1987, vindo a falecer em julho desse mesmo ano.

 

                        Em 2000, às vésperas da comemoração de seu Centenário, foi produzida, por Hermínio Bello de Carvalho e João Carlos Carino, uma caixa com nove CDs, reunindo quase toda sua obra gravada em LPs na Odeon, com exceção do disco produzido no MIS.

 

                        Também a gravadora EMI prestigiou-a com dois CDs, na Série Raízes do Samba, um com partes do show Rosas de Ouro, e outro individual, com grandes sucessos de sua carreira.

 

 

                        Clementina de Jesus ficou conhecida como a Rainha Ginga ou Rainha Quelé. A primeira homenagem, devido a sua importância e grandeza na música popular, divulgando as raízes africanas, e, a segunda, pela corruptela carinhosa de seu nome.

 

                        Todos os discos acima citados são facilmente encontráveis no mercado virtual especializado.

 

                        Sua discografia é extensa. Mencionarei aqui alguns de suas criações que ficaram para sempre em minha cabeça de amante da MPB e trombonista de carnaval: Nasceste de Uma Semente, de José Ramos; Saudosa Mangueira, de Herivelto Martins; Sei Lá, Mangueira, de Pulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho; Sabiá de Mangueira, de Frazão e Benedito Lacerda; Vai, Saudade, de Candeia e David da Portela; A Coruja Comeu Meu Curió, tradidional; A Mangueira Lá no Céu, de Maurício Tapajós e Hermínio Bello de Carvalho; Pergunte ao João, de Helena Silva e Milton Costa; Marinheiro Só, de Caetano Veloso; Tantas Você Fez, de Candeia; Olhos de Azeviche, de Jaguarão; Na Hora da Sede, de Braguinha e Luís Américo; Torresmo à Milanesa, de Adoniran Barbosa e Carlinhos Vergueiro; e Sonho Meu, de Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho.

 

Rainha Quelé

 

                        Dentro de meu agrado, escolhi estes cinco sambas como pequena amostra do trabalho desse grande ícone da Música Popular Brasileira:

 

                        Vai, Saudade, de Candeia e David da Portela:

 

 

                        Pergunte ao João, de Helena Silva e Milton Costa:

 

 

                        Marinheiro Só, de Caetano Veloso:

 

 

                        Sei Lá, Mangueira, de Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho:

 

 

                        Torresmo à Milanesa, de Adoniran Barbosa e Carlinhos Vergueiro, com participação de Adoniran:

 

                        E, a pedido do leitor Flávio Feronato, Incompatibilidade de Gênios, de João Bosco e Aldir Blanco.

 


MPB da Velha Guarda quinta, 23 de junho de 2022

ARACY CORTES
ARACY CORTES

Raimundo Floriano

 

 

Aracy Cortes

 

                        Zilda de Carvalho Espíndola, a Aracy Cortes, cantora e atriz, nasceu no Rio de Janeiro (RJ), no dia 31.3.1904, cidade onde veio a falecer, no dia 8.1.1985, com 80 anos de idade.

 

                        Filha do chorão Carlos Espíndola, foi vizinha de Pixinguinha no Bairro carioca do Catumbi, onde viveu até os 12 anos. Após alguns anos morando com a madrinha, saiu de casa, aos 17, para trabalhar num circo.

 

                        Foi descoberta pelo compositor Luís Peixoto, quando cantava e dançava maxixes no Democrata Circo, e seu nome artístico lhe foi dado pelo crítico teatral do jornal A Noite, Mário Magalhães, ela quando passou a atuar no Teatro de Revista, no início dos Anos 1920.

 

                        Estreou no Teatro Recreio, em dezembro de 1921, na Revista Nós Pelas Costas, de J. Praxedes, tendo composições de Pedro Sá Pereira. Dois anos mais tarde, já era nome consagrado ao atuar na Revista Que Pedaço de Sena Pinto, com música de Paulino Sacramento, onde se destacou com o samba Ai, Madama.

 

 

                        Primeira grande cantora popular brasileira, foi praticamente a única a ter sucesso na Década de 1920, quando, até então, os grandes nomes eram de vozes masculinas. Lançou seu primeiro disco em 1925, pela Odeon, gravando as canções Serenata de ToselliA Casinha e Petropolitana.

 

                        Três anos mais tarde, obteve enorme sucesso ao lançar, na revista Microlândia, o maxixe Jura, de Sinhô, gravado, simultaneamente, por ela e pelo estreante Mário Reis, em fins de 1928. Sua gravação do samba-canção Ai, Ioiô, no disco com o título de Iaiá, de Henrique Vogeler, Marques Porto e Luís Peixoto, realizada naquele ano, e por ela lançado na Revista Miss Brasil, tornou-se uma das mais famosas da discografia da Música Popular Brasileira.

 

                        Na Revista Laranja da China, de Olegário Mariano, com música de Júlio Cristóbal, Pedro Sá Pereira e Ary Barroso, encenada no Teatro Recreio, em 1929, interpretou o samba Vamos Deixar de Intimidade, responsável pelo lançamento de Ary Barroso como compositor.

 

                        Em 1930, lançou, na Revista É do Outro Mundo, o samba-canção No Rancho Fundo, na época denominado Este Mulato Vai Ser Meu, de Ary Barroso e Lamartine Babo, com o subtítulo Na Grota Funda. Nesse mesmo, ano lançou, na Revista Diz Isso Cantando, a música No Morro, de Ary Barroso e Luís Iglésias, que, oito anos mais tarde, seria reescrita e se tornaria o sucesso Boneca de Piche, nas vozes de Carmen Miranda e Almirante.

 

                        Em 1932, gravou, com sucesso, o samba Tem Francesa no Morro, de Assis Valente. Foi a primeira vedete de Revista Nacional a excursionar pelo Exterior, quando, em 1933, o empresário Jardel Jércolis levou à Europa uma companhia, da qual Aracy era a estrela.

 

                        Em 1938, atuou na Revista Rumo ao Catete, levada no Teatro Recreio, contracenando com Eva Tudor e Oscarito.

 

                        Em 1939, novamente no Teatro Recreio, atuou na Revista Entra na Faixa, de Luís Iglésias e Ary Barroso, na qual lançou o samba-exaltação Aquarela do Brasil.

 

                        Entre as Décadas de 1950 e 1960, afastou-se do meio artístico, voltando em 1965, no Espetáculo Rosa de Ouro, promovido por Hermínio Bello de Carvalho e Kleber Santos, ao lado de Clementina de Jesus, onde atuavam Paulinho da Viola e Elton Medeiros, entre outros, acompanhados pelo Conjunto Rosa de Ouro, que rendeu dois LPs, lançados pela Odeon, Rosa de Ouro 1, em 1965, e Rosa de Ouro 2, em 1967.

 

 

                         Em 1976, apresentou-se no Teatro Glauce Rocha e, em 1978, no Teatro Dulcina. Em 1984, foram lançados, pela Funarte, o LP Araci Cortes, uma coletânea com depoimentos da cantora, e um livro de autoria de Roberto Ruiz, comemorativos de seus 80 anos. Também nesse ano, a Sala Sidnei Miller da Funarte homenageou-a com um show biográfico, interpretado pela cantora Marília Barbosa, que revivia sua vida e suas canções, e no qual ela fazia uma rápida participação especial.

 

 

                        Os discos e livro acima citado, além de 76 faixas remasterizadas de bolachões 78 RPM, são facilmente encontráveis nos sites de busca especializados.

 

                        Aracy Cortes, ao morrer, teve o corpo velado no saguão de entrada do Teatro João Caetano, na mesma Praça Tiradentes em cujos Teatros obteve grandes sucessos.

 

                        O Espetáculo Rosa de Ouro foi tão marcante que, posteriormente, a Série Raízes Brasileiras, da gravadora EMI, lançou um CD com 20 de suas faixas mais representativas.

 

 

                        E é desse memorável show que escolhi as cinco peças a seguir, como pequena amostra do trabalho desse grande ícone da MPB.

 

                        Tem Francesa no Morro, samba de Assis Valente:

 

 

                        Ai, Ioiô, samba-canção de Henrique Vogeler, Marques Porto e Luís Peixoto:

 

 

                        Flor do Lodo, samba-canção de Ary Mesquita:

 

 

                        Jura, maxixe de Sinhô:

 

 

                        Os Rouxinóis, marcha-rancho de Lamartine Babo:

 

 

 


MPB da Velha Guarda terça, 21 de junho de 2022

ADELAIDE CHIOZZO
ADELAIDE CHIOZZO

Raimundo Floriano

(Publicado em 18.10.16)

 

 

Adelaide Chiozzo

 

                        Adelaide Chiozzo, acordeonista, cantora, compositora e atriz, nasceu em São Paulo (SP), no dia 8.5.1931, filha de Afonso Chiozzo e Silvinha Chiozzo.

 

                        Aos oito anos de idade, começou a aprender acordeon, e, aos 15, por sugestão da compositora Irani de Oliveira, participou do Programa Papel Carbono, de Remato Murce, na Rádio Clube do Brasil – depois, Mundial –, imitando o sanfoneiro catarinense Pedro Raimundo.

 Adelaide Chiozzo em duas fases de sua carreira

 

                        Estreou no cinema em 1946, atuando em dupla com o pai, Afonso Chiozzo, na comédia Segura Esta Mulher, de Watson Macedo, no qual apareciam acompanhando o cantor Bob Nelson na marchinha country Boi Barnabé, de Bob e Afonso Simão. Ainda em dupla com o pai, trabalhou nas comédias cinematográficas carnavalescas Este Mundo É Um Pandeiro, de Watson Macedo, em 1947, e É com Este Que Eu Vou, de José Carlos Burle, em 1948.

 

                        Contratada pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro e artista exclusiva do selo Copacabana, teve seu apogeu no rádio, disco e cinema na Década de 1950, fazendo sucesso como intérprete de músicas juninas e canções brejeiras.

 

                        Estreou no disco em 1950, na etiqueta Star – depois, Copacabana –, com a rancheira Tempo de Criança, de João Sousa e Eli Turquine, e a polca Pedalando, de Anselmo Duarte e Bené Nunes.

 

                        No rádio e em disco, chegou a fazer dupla com a atriz Eliana Macedo, ao lado de quem apareceu, cantando e atando, em diversos filmes, em sua carreira cinematográfica de 23 títulos.

 

Adelaide Chiozzo e Eliana Macedo

 

                        Entre seus maiores sucessos, estão Beijinho Doce, valsa de Nhô Pai, Cabeça Inchada, baião de Hervê Cordovil, Sabiá na Gaiola, baião de Hervê Cordovil Mário Vieira, Orgulhoso, rasqueado de Nhô Pai e Mário Zan, e Lá Vem Seu Tenório, marchinha de Manoel Pinto e Aldari de Almeida Airão, Cabecinha no Ombro, rasqueado de Paulo Borges, Meu Sabiá, toada de Carlos Matos e A. Amaral, e Queria Ser Patroa, marchinha de Manoel Pinto e Aldari de Almeida Airão.

 

                        De 1948 a 1957, atuou em chanchadas como Carnaval no FogoAviso aos NavegantesÉ Fogo na RoupaO Petróleo É NossoBarnabé, Tu És Meu e Sai e Baixo.

 

 

 

                        Também em 1957, participou de dois LPs da gravadora Copacabana: Carnaval de 57 - Nº 1, com a marchinha A Sempre Viva, de Paulo Gracindo e Mirabeau, e do LP Festas Juninas, com o baião Papel Fino, de Mirabeau, Cid Ney e Don Madrid. Em 1958, gravou, com Silvinha Chiozzo, sua mãe, o rasqueado Cabecinha no Ombro, de Paulo Borges, que se tornou um grande sucesso e um clássico da Música Popular Brasileira.

 

                        Ainda em 1958, lançou o LP Lar... Doce Melodia pela gravadora Copacabana no qual cantou três faixas: Vá Embora, de Geraldo Cunha e Carlos Matos; Pagode em Xerém, de Alcebíades Barcelos, o Bide, e Sebastião Gomes; e Meu Veleiro, de Lina Pesce. As demais nove músicas ela interpretou ao acordeom: Viagem a Cuba, de I. Fields e H. Ithier; Night and Day, de Cole Porter; É Samba, de Vicente Paiva, Luis Iglesias e Walter Pinto; Inspiração, de Paulus e Rubinstein; Deixa Comigo, de Índio; Icaraí, de Silvio Viana; Padan-padan, de Glanzberg e Contel; Dance Avec Moi, de Hornez e Lopez; e Granada, de Agustin Lara.

 

 

                        Em 1966, sua gravação da toada Meu Veleiro foi incluída no LP Lina Pesce - Seus Grandes Sucessos, lançado pela Copacabana. Em 1972, Adelaide participou do LP Alma do Sertão, produzido a partir do programa de Renato Murce na Rádio Nacional que levava o mesmo nome. Nesse disco, interpretou, com Eliana, a toada Pingo D'água, de Raul Torres e João Pacífico, e o rasqueado Campo Grande, de Raul Torres.

 

                        Em 1975, apresentou-se ao lado do marido e violonista Carlos Mattos no show Cada Um Tem o Acordeom Que Merece, no Rio de Janeiro e em Niterói.

 

                        Em 1976, a gravadora Philips lançou dois LPs, um relembrando a Era de Ouro dos filmes musicais brasileiros e outro sobre os 40 Anos da Rádio Nacional. No primeiro, intitulado Assim Era a Atlântida, foram remasterizados vários fonogramas apresentados durantes os filmes, incluindo três de suas interpretações: Pedalando, do filme Carnaval no Fogo, que ela cantou sozinha, e Recruta Biruta, de Antônio Almeida, Antônio Nássara e Alberto Ribeiro, e Beijinho Doce, ambas do filme Aviso aos Navegantes, interpretadas juntamente com Eliana.

 

                        No segundo LP, gravado a partir de acetatos obtidos durante programas da Rádio Nacional, foi incluída sua interpretação para o baião Nós Três, de Garoto, Chiquinho do Acordeom, Fafá Lemos e Badaró, cantado juntamente com Carlos Matos.

 

                         Em 1978, atuou na novela Feijão Maravilha, na TV Globo, em 1992, na novela Deus Nos Acuda, na mesma emissora.

 

                         A partir de então, realizou shows pelo Brasil, acompanhada pelo marido e, eventualmente, pelos três netos. Em 1996, participou do Projeto Seis e Meia, no Teatro Dulcina, no Rio de Janeiro, juntamente com o cantor Francisco Carlos, no show Ídolos da Atlântida. Em 2001, teve lançado pelo selo Revivendo o CD Tempinho Bom, com 21 de seus maiores sucessos.

 

 

                        Em 2012, Adelaide passou a integrar o Grupo As Cantoras do Rádio, em sua nova formação, que estreou no show A Volta das Cantoras do Rádio, récita única, no Auditório Raimundo Magalhães Jr., com criação, roteiro e apresentação de Ricardo Cravo Albin. Em 2014, participou, juntamente com as cantoras Lana Bittencourt e Ellen de Lima, do espetáculo A Noite - Nas Ondas da Rádio Nacional, apresentado no Teatro Rival BR.

 

                        Os LPs de Adelaide Chiozzo, 34 faixas remasterizadas de bolachões 78 RMP e coletâneas em CDs são facilmente encontráveis nos sites de busca especializados.

 

                        Aqui vai uma pequena amostra de seu trabalho, por ordem alfabética:

 

                        Beijinho Doce, valsa de Paulo Gracindo e Mirabeau Pinheiro, com participação de Eliana Macedo, gravada em 1951:

 

 

                        Cabecinha no Ombro, rasqueado de Paulo Borges, com participação de sua mãe, Silvinha Chiozzo, gravado em 1958:

 

 

                        Meu Sabiá, toada de Carlos Matos e A. Amaral, gravada em 1954:

 

 

                        Pedalando, polca de Anselmo Duarte e Bené Nunes, com participação de Alencar Terra no acordeom, gravada em 1949:

 

 

                        Sabiá na Gaiola, baião de Hervê Cordovil, com a participação de Eliana Macedo, gravado em 1951:

 

 


MPB da Velha Guarda domingo, 19 de junho de 2022

ZEZÉ GONZAGA, A MORENINHA
ZEZÉ GONZAGA, A MORENINHA

Raimundo Floriano

(Publicado em 18.10.16)

 

 

Zezé Gonzaga

 

                        Maria José Gonzaga, a Zezé Gonzaga, cantora e compositora, nasceu em Manhuaçu (MG), no dia 3.9.1926, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), no dia 22.7.2008, aos 81 anos de idade.

 

                        Filha e neta de músicos, sua mãe chamava-se Oraide e era flautista. O pai, Rodolpho, era luthier, tendo, inclusive, fabricado um bandolim para Luperce Miranda.

 

                        Começou a cantar aos 13 anos, quando se mudou para a cidade vizinha de Além Paraíba e passou a apresentar-se no Rex Clube. Recebeu incentivo da família, que a apoiava no ideal de seguir a carreira de cantora lírica.

 

                        Iniciou os estudos de Canto com a professora Graziela de Salerno, que gostava muito de seu registro de soprano ligeiro.  Além de canto, estudou piano e leitura musical. Fez seus estudos escolares na cidade vizinha de Porto Novo, com bolsa de estudos, compensada por pequenos serviços realizados por seu pai, já que sua família vivia com dificuldade.

 

                        Foi em Porto Novo que fez sua primeira apresentação, cantando a valsa Neusa, de Antônio Caldas, pai do cantor Sílvio Caldas, grande sucesso de Orlando Silva. Iniciou sua carreira como caloura no programa de Ary Barroso, em 1942. Na ocasião, recebeu a nota máxima, ao interpretar Sempre No Meu Coração, bolero de Ernesto Lecuona e versão de Mário Mendes.

 

                        Logo em seguida, recebeu convite para se apresentar no Programa radiofônico Escada do Jacó, do popular radialista Zé Bacurau. Depois de curta temporada no Rio de Janeiro, retornou a Porto Novo para continuar seus estudos. Nessa época, costumava fazer pequenas apresentações num clube de jazz, o que lhe causou problemas na escola pois, além da discriminação racial, enfrentava a discriminação por ser artista.

 

                        Mudou-se definitivamente para o Rio de Janeiro em 1945. Nesse ano, conquistou o primeiro lugar no Programa Pescando Estrelas, da Rádio Clube do Brasil, apresentado por Arnaldo Amaral. Isso lhe valeu um contrato de 800 mil-réis com a emissora, que duraria até 1948. Nessa época, formou, com a cantora Odaléa Sodré, filha do compositor Heitor Catumbi uma dupla chamada As Moreninhas do Ritmo. Com a parceira, cantou no Conjunto do pianista Laerte, na Rádio Jornal do Brasil.

 

                        Em 1948, assinou contrato com a Rádio Nacional. Foi levada para lá a partir de um contato do cantor Nuno Roland, que marcou uma reunião com ela, a pedido do Diretor-Geral da rádio, Victor Costa. Na ocasião, Victor lhe ofereceu um salário bem mais alto, e a cantora, dias depois, já integrava o cast da Nacional, tendo como "padrinhos musicais" o próprio Victor Costa, ao lado do cantor Paulo Tapajós.

 

                         No ano seguinte, gravou seu primeiro disco, pela Star, com os sambas-canções Inverno, de Clímaco César e Desci, de Alcyr Pires Vermelho e Cláudio Luiz. Foi por essa época que Paulo Gracindo começou a chamá-la de "minha namorada musical", em seu programa na Rádio Nacional, nos anos 1940, devido a sua técnica e afinação impecável.

 

                        Depois, integrou vários conjuntos vocais (de diversas formações), alguns dos quais são: As Moreninhas, Cantores do Céu e Vocalistas Modernos. Além disso, participou do Coro de inúmeras gravações na Rádio Nacional. Em 1951, gravou, pela Sinter, o samba-canção Foi Você, de Paulo César e Ênio Santos, e o bolero Canção de Dalila, de Victor Young, versão de Clímaco César, com o qual fez bastante sucesso. Nessa etiqueta gravou outros discos solo e também com o grupo As Moreninhas.

 

                        Em 1952, gravou os sambas Não Quero Lembrar, de Sávio Barcelos, Ailce Chaves e Paulo Marques, e Quero Esquecer, de Brasinha, Salvador Miceli e Mário Blanco, a valsa Festa de Aniversário, de Joubert de Carvalho e a marchinha Um Sonho Que Eu Sonhei, de Alcyr Pires Vermelho e Sá Róris.

 

                        Em 1953, gravou o baião É Sempre o Papai, de Miguel Gustavo e a valsa, alusão ao Dia dos Pais, criado naquele ano. Em 1954, gravou o bolero Meu Sonho, de Pedroca e Alberto Ribeiro, e Baião Manhoso, de Manoel Macedo e Marcos Valentim.

 

                        Ainda em 1954, foi contratada pela Columbia e gravou o foxe Canário Triste, de V. Floriano, versão de Juvenal Fernandes, e o samba-canção Razão de Tudo, de Umberto Silva e Nilton Neves.

 

                        Em 1955, gravou os sambas-canções Sedução, de Carlito e Nazareno de Brito, e Óculos Escuros, de Valzinho e Orestes Barbosa, e a rumba Cerejeira Rosa, de Louiguy e Jacques Larue, versão de Julio Nagib.

 

                        Em 1956, gravou a toada Moreno Que Desejo, de Bruno Marnet, e a valsa Natal das Crianças, de Blecaute. No mesmo ano, gravou seu primeiro LP, Zezé Gonzaga, considerado o melhor disco do ano, trazendo, dentre suas faixas, Ai Ioiô (Linda Flor), samba-canção de Henrique Vogeler e Luiz Peixoto, considerado uma de suas grandes interpretações, além de Nunca Jamais, bolero de Lalo Ferreira, versão de Marques Porto.

 

                        Em 1957, gravou os boleros Não Sonhe Comigo, de Fernando César, Tédio, de Fernando César e Nazareno de Brito, e Vivo a Cantar, de Cícero Nunes e Bruno Marnet. Em 1958, gravou o samba-jongo Cafuné, de Dênis Brean e Gilberto Martins, e o samba-canção Saia do Caminho, de Custódio Mesquita e Evaldo Rui.

 

                        Em 1959, gravou duas músicas da parceria Tom Jobim e Vinícius de Moraes: o samba A Felicidade e o foxe Eu Sei Que Vou Te Amar. Em 1961, passou a gravar na Continental e registrou A Montanha, de Agueró e Moreu, versão de Fernando César, e o samba Que Culpa Tenho Eu?, de Armando Nunes e Othon Russo. No mesmo ano, gravou o bolero Há Sempre Alguém, de Luiz Mergulhão e Umberto Silva, e o samba Um Beijo, Nada Mais, de Almeida Rego e Índio.

 

                         Em 1962, gravou o foxe Rosa de Maio, de Custódio Mesquita e Evaldo Rui, o rasqueado Decisão Cruel, de Palmeira, e o samba Neném, de Tito Madi.

 

                        Considerada uma das mais belas vozes do cast da Rádio Nacional, era com frequência escalada para participar dos grandes musicais noturnos da emissora, dos quais eram responsáveis grandes Maestros como Radamés Gnattali, Léo Peracchi e outros. Gravou vários discos infantis pela fábrica Carrossel, com produção de Paulo Tapajós, e, na Continental, quando se juntou aos Trios Madrigal e Melodia, para cantar e contar historinhas para crianças.

 

                        Na Década de 1960, associou-se com o Maestro Cipó e Jorge Abicalil em uma agência de jingles, vinhetas e trilhas para rádio, TV e cinema, a Tape Produções Musicais Ltda., onde trabalhava como cantora e compositora. Em parceria com o escritor, produtor e apresentador de rádio Luiz Carlos Saroldi, compôs o tema de abertura do Projeto Minerva, apresentado pela Rádio MEC.

 

                        Em 1964, gravou, pela Continental, o LP Nossa Namorada Musical, com destaque para Dengosa, samba de Castro Perret, Poema dos Teus Olhos, bolero de Erasmo Silva e P. Aguiar, e Neném, samba de Tito Madi.

 

                        Em 1967, gravou o LP Canção do Amor Distante, pela Fontana, com destaque para os sambas Sorri, de Elton Medeiros e Zé Kéti, Faça-me o Favor, de Fernando César e Britinho, Não Fique Triste Não, de Jorge Bem, e Veja Lá, de Luiz Fernando Freire e Baden Powell.

 

 

                        Em 1979, gravou, com o Quinteto de Radamés Gnattali, um LP em homenagem a Valzinho, que também participou do disco só de composições suas, com produção de Hermínio Bello de Carvalho. O disco, Valzinho - Um Doce Veneno, teve, além da edição brasileira, uma tiragem destinada ao mercado estrangeiro.

 

                        Zezé fez algumas apresentações nos anos 1980 com o grupo Cantoras do Rádio, ao lado de Nora Ney, Rosita Gonzales, Violeta Cavalcanti e Ellen de Lima, que lhe renderam dois CDs.

 

                        Em 1999, gravou o CD Clássicas, ao lado da cantora Jane Duboc, que também rendeu show encenado no Rio, São Paulo e outras praças brasileiras. O disco trazia, dentre outras, Linda Flor, samba-canção de Henrique Vogeler, Marques Porto e Luiz Peixoto, Olha, foxe de Roberto Carlos e Erasmo Carlos e Cidade do Interior, samba de Mário Rossi e Marino Pinto. No mesmo período, também participou do Espetáculo Lupicínio Rodrigues, ao lado de Áurea Martins, montado em várias casas noturnas do Rio e de São Paulo.

 

 

 

                         Em 2000, participou do Projeto MPB: A História de Um Século, estrelando o primeiro da série de quatro shows no CCBB, Do Choro ao Samba, ao lado de Paulo Sérgio Santos e Maria Tereza Madeira, com roteiro e direção de Ricardo Cravo Albin. Em 2001, apresentou show no Paço Imperial no Rio de Janeiro.

 

                        Em 2002, gravou, pela Biscoito Fino, o CD Sou Apenas Uma Senhora Que Canta, dedicado Elizeth Cardoso, no qual interpretou, dentre outras, Meu Consolo É Você, samba de Roberto Martins e Nássara, Vida de Artista, canção de Sueli Costa e Abel Silva, Pra Machucar Meu Coração, samba de Ary Barroso, Chão de Estrelas, samba-canção de Sílvio Caldas e Orestes Barbosa, e Por Que Te Escondes?, letra inédita do poeta Thiago de Mello para um choro de Pixinguinha.

 

                        Em 2008, saiu, pela gravadora Biscoito Fino o CD Zezé Gonzaga Entre Cordas, produzido por Hermínio Bello de Carvalho, com gravações nunca editadas em disco, retiradas de programas de TV e de áudios inéditos de shows, acompanhada de nomes importantes como Baden Powell e Raphael Rabello.

 

 

                        Todos os discos aqui mencionados, bem como 111 faixas remasterizadas de bolachões 78 RPM são facilmente encontráveis no mercado virtual especializado.

 

                        Muito antes, em 1985, a FENABB – Federação Nacional de Associações Atléticas Banco do Brasil lançou um projeto que ficará para sempre na memória dos amantes da MPB. Trata-se de Velhos Sambas, Velhos Bambas, Volume 1, com três elepês, e Volume 2, este em 1989, com dois. Além de resgatar alguns intérpretes tradicionais, trouxe-nos, com grande orquestra e arranjos modernos, a fina flor do que ainda restava da Velha Guarda de nosso cancioneiro sambista: Violeta Cavalcanti, Roberto Silva, Gilberto Milfont, Ademilde Fonseca, Roberto Paiva, Adoniran Barbosa, Adeilton Alves, Luiz Cláudio, Núbia Lafayette, e, como não poderia faltar, Zezé Gonzaga

 

 

                        E é com essa nova roupagem que escolhi cinco números para mostrar um pouco do talento e desse grande ídolo da Velha Guarda:

 

                        Saia do Caminho, samba-canção de Custódio Mesquita e Evaldo Rui:

 

 

                        Meu Barracão, samba de canção de Noel Rosa:

 

 

                        Segredo, samba-canção de Herivelto Martins e Marino Pinto:

 

 

                        Pela Décima Vez, samba-canção de Noel Rosa:

 

 

                        Cerejeira Rosa, rumba de Louiguy e Jacques Larue, versão de Júlio Nagib, seu maior sucesso, em gravação original de 1955:

 

 

 


MPB da Velha Guarda sexta, 09 de outubro de 2020

AI, IOIÔ (LINDA FLOR), CHORINHO, COM ARACY CÔRTES E CONJUNTO ROSA DE OURO


MPB da Velha Guarda sexta, 09 de outubro de 2020

FLOR DO LODO, MARCHA-RANCHO, COM ARACY CÔRTES E CONJUNTO ROSA DE OURO


MPB da Velha Guarda quinta, 03 de janeiro de 2019

VALSA DE UMA CIDADE, VALSINHA, COM LÚCIO ALVES


MPB da Velha Guarda quinta, 03 de janeiro de 2019

NOVA ILUSÃO, SAMBA-CANÇÃO, COM LÚCIO ALVES


MPB da Velha Guarda quinta, 23 de agosto de 2018

NUNCA MAIS, SAMBA-CANÇÃO, COM LÚCIO ALVES


MPB da Velha Guarda quinta, 23 de agosto de 2018

VIVA MEU SAMBA, SAMBA, COM LÚCIO ALVES


MPB da Velha Guarda quinta, 23 de agosto de 2018

FIM DE CASO, SAMBA CANÇÃO, COM LÚCIO ALVES


MPB da Velha Guarda terça, 29 de novembro de 2016

GERALDO MEDEIROS E O ZÉ CARIOCA NO FREVO

GERALDO MEDEIROS E O ZÉ CARIOCA NO FREVO

Raimundo Floriano

 

Geraldo Medeiros

 

Zé Carioca frevando 

                        O frevo de rua é um tipo de música alegre, vibrante, vívida, contagiante. Mas há frevos de rua mais animados que os outros, os quais fazem os foliões recobrarem o gás e caírem no cordão, mesmo estando cansados ou caindo pelas tabelas de tanto pularem.

 

                        Em minha experiência de trombonista de Carnaval, especializado em salões de clubes e em blocos de sujos, classifico três deles nessa valiosa categoria: Vassourinhas, Fogão, e Zé Carioca no Frevo.

 

                        Os dois primeiros botam pra derreter em qualquer situação. Geralmente, um é executado após o outro, emendados, como a corda e a caçamba. No tríduo momesmo pernambucano, é o que mais se ouve pelas ruas do Recife ou de Olinda. Já o Zé Carioca no Frevo, em que pese sua beleza e andamento, parece que ficou esquecido naquelas paragens.

 

                        Mas em Balsas, minha cidade natal, no sertão sul-maranhense, é, sobremaneira conhecido e executado. Eu, com meu trombone de vara, Leonizard Braúna no sax, Zé Raimundo no pistom e Edvaldo na sanfona, acompanhados pela Banda FM, do cantor Félix Matias, constituída de baixo, guitarra, teclado e competente bateria, botávamos pra quebrar nos salões do Clube Recreativo Balsense de outrora. Era só puxar o Zé Carioca no Frevo, e o povo se danava no passo, pulando, frevendo, desembestando.

 

                        Mas eu digo era. Todos os músicos balsenses acima citados já se foram. E eles, com seus instrumentos, já não fariam mais faz sucesso neste Século XXI, com seus axés, raps e funks. Nem mesmo lá em meu sertão.

 

                        Antes de mostrar-lhes esse famoso frevo, vou falar um pouco do seu compositor, muito pouco mesmo, pois dele quase nada se tem registrado, tampouco existindo foto sua. A maior parte do que aqui exponho é baseada na Enciclopédia da Música Brasileira - Erudita, Folclórica e Popular, da Art Editora Ltda.

 

                        Geraldo Medeiros dos Santos, instrumentista, compositor e arranjador, nasceu em Areia, PB, a 28.11.1917.

 

                        Neto de um Maestro de Banda em Guarabira, PB, iniciou os estudos musicais com Pedro Rodrigues, continuando-os mais tarde com o avô.

 

                        Em 1938, era maestro da Banda da Escola Correcional de Pindobal, em Mamanguape, PB. Transferindo-se para a Capital, integrou, como pistonista, a Jazz Tabajara, de João Pessoa, passando a Primeiro Pistonista quando o Maestro Severino Araújo assumiu o comando do grupo, a partir daí chamado Severino Araújo e Sua Orquestra Tabajara.

 

                        Em 1944, foi para o Rio de Janeiro, estreando com a Orquestra Tabajara na Rádio Tupi em janeiro de 1945. Teve, com a orquestra, sua primeira música gravada, Zé Carioca no Frevo.

 

                         O título da música é uma alusão Zé Carioca, apelido do papagaio José Carioca, criado no começo da década de 40 pelos estúdios Walt Disney, em turnê pela América Latina, que fazia parte dos esforços dos Estados Unidos para reunir aliados durante a Segunda Guerra Mundial, esforço esse denominado Política da Boa Vizinhança.

 

                        Trabalhou em outras orquestras, como a de Ary Barroso, viajando pela América Latina e pela Europa, e na que ele mesmo constituiu, denominada Geraldo Medeiros e Sua Orquestra.

 

                        Como compositor, destacou-se com O Sanfoneiro Só Tocava Isso, arrasta-pé, com Haroldo Lobo, Bum-qui-ti-bum, maracatu, Pé na Tábua, frevo, Maxixando, maxixe, A Dança do Caranguejo, marcha, com Nestor de Holanda, Cala a Boca, Etelvina, samba, Centenário, frevo, Mamãe Não Quer Dar, frevo, Ranchinho da Saudade, marcha, com Alípio Miranda, Saia Branca, samba, e Malicioso, choro. Com Jorge Tavares, seu parceiro mais constante, compôs Maracatucá, maracatu, Saia Curta, marcha, Bogari, baião, e O Baile Começou, baião.

 

                        Trabalhou como pistonista e com sua orquestra em várias emissoras de rádio e televisão, além de inúmeras gravações acompanhando diversos intérpretes.

 

                        Informações obtidas com a Editora Revivendo, quanto à data, e com o pesquisador Renato Phaelante, quanto ao local, dão conta de que Geraldo Medeiros faleceu a 13 de julho de 1978, na cidade do Rio de Janeiro, RJ.

                       

                        A seguir, pequena amostra do trabalho desse grande compositor da MPB.

 

                        Inicialmente, este youtube com Tonico e Tinoco interpretando o arrasta-pé O Sanfoneiro Só Tocava Isso, de Geraldo em parceria com Haroldo Lobo:

 

                        E, a seguir, outros sucessos de sua autoria: 

                        A Dança do Caranguejo, marchinha, em parceria com Nestor de Holanda, gravação com os Vocalistas Tropicais, 1947:

 

                        Cala a Boca, Etelvina, samba, gravação com Jorge Veiga, 1950:

 

                        Centenário, frevo de rua, gravação com a Orquestra Tabajara, 1954:

 

                        Mamãe Não Quer Dar, frevo-canção, gravação com Manezinho Araújo, 1947:

 

                        Ranchinho da Saudade, marchinha, em parceria com Alípio Miranda, gravação com de Pato Preto, 1951:

 

                        Saia Branca, samba, gravação com Cauby Peixoto, 1951:

 

                        Saia Curta, marchinha, em parceria com Jorge Tavares, gravação com Safira, 1951:

 

                        Zé Carioca no Frevo, frevo de rua, gravação com Geraldo Medeiros e Sua Orquestra, 1949 (Atenção para o diálogo entre as palhetas e os metais):

 


MPB da Velha Guarda terça, 29 de novembro de 2016

MARLENE E A MPB DE MEIO DE ANO

MARLENE E A MPB DE MEIO DE ANO

Raimundo Floriano

 

 

                        Marlene, nome artístico de Victória Bonaiuti de Martino, depois Victória Bonaiuti Delfino dos Santos, nasceu em São Paulo (SP), a 22 de novembro de 1922, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), a 13 de junho de 2014, com quase 92 anos de idade, vítima de severa pneumonia. Cantora, compositora e atriz brasileira, foi casada com o ator Luís Delfino.

 

                        Tendo gravado mais de quatro mil canções em sua carreira, Marlene – junto com Emilinha Borba – foi um dos maiores mitos do rádio brasileiro na época de ouro. Sua popularidade nacional também resultou em convites para o cinema – fez onze filmes –, e para o teatro – cinco peças –, tendo também trabalhado em cinco shows do teatro de revista Suas atividades internacionais incluíam turnês pelo Uruguai, Argentina, Estados Unidos – onde se apresentou no Waldorf-Astoria Hotel e em Chicago – e França, onde se atuou por quatro meses e meio no Teatro Olympia, em Paris, a convite de Édith Piaf, que a vira no Copacabana Palace, no Rio.

 

                        Nascida na capital paulista, no bairro da Bela Vista, conhecido reduto de ítalo-brasileiros, seus pais eram italianos, era a mais nova de três filhas. Herdou o nome do pai, que morreu sete dias antes de seu nascimento. A viúva, Antonieta, não se casou novamente, e criou sozinha as filhas, dando aulas de alfabetização, no Instituto de Surdos e Mudos de São Paulo, e como costureira.

 

                        Devota da Igreja Batista, a mãe internou-a no Colégio Batista Brasileiro, cujas mensalidades foram dispensadas em troca de serviços prestados ao colégio, como arrumação dos quartos. Marlene estudou ali dos nove aos quinze anos, destacando-se nas atividades esportivas, assim como no coro juvenil da igreja.

 

                        Ao deixar o colégio, foi cursar a Faculdade de Comércio, situada na Praça da Sé, com o objetivo de se tornar Contadora. Na mesma época, empregou-se, durante o dia, num escritório comercial. É quando começa a participar de uma entidade de estudantes, recém-formada, passando a dispor de um espaço na Rádio Bandeirantes, A Hora dos Estudantes, programa em que atuaria como cantora. Foi quando seus colegas estudantes, por eleição, escolheram seu nome artístico, em homenagem à atriz alemã Marlene Dietrich.

 

                         Victória acabou deixando o curso em segundo plano, priorizando sua atividade artística. Então, em 1940, estreou como profissional na Rádio Tupi de São Paulo. Tudo isto, no entanto, fez escondido da família que, devido a razões religiosas e sociais vigorantes na época, não poderia admitir uma incursão no mundo artístico. O pseudônimo esconderia sua verdadeira identidade até ser descoberta faltando aulas por causa de seu expediente na rádio, o que resultou num castigo exemplar da parte de sua mãe. Mas ela já estava decidida a seguir carreira.

 

                        Assim, em 1943, cercada pela desaprovação da família, partiu para o Rio de Janeiro, onde, após ser aprovada no teste com Vicente Paiva, passou a cantar no Cassino Icaraí, em Niterói. Ali permaneceu por dois meses até conhecer Carlos Machado, que a convidou para o Cassino da Urca, contratando-a como vocalista de sua orquestra.

 

                        Em 1946, houve a proibição dos jogos de azar e o consequente fechamento dos cassinos por decreto do presidente Eurico Gaspar Dutra. Marlene, então, mudou-se com a Orquestra de Carlos Machado para a Boate Casablanca. Dois anos depois, tornou-se artista do Copacabana Palace, a convite de Caribé da Rocha, que a promoveu de crooner a estrela da casa.

 

                        Passou, então, a atuar também na Rádio Mayrink Veiga e, no ano seguinte, na Rádio Globo. Nesse ínterim, já se tinha dado sua estreia no disco, pela Odeon, em meados de 1946, com as gravações dos sambas Suingue no Morro de Amado Régis e Felisberto Martins, e Ginga, Ginga, Moreno, de João de Deus e Hélio Nascimento Mas foi no Carnaval do ano seguinte que Marlene emplacou seu primeiro sucesso, com a marchinha Coitadinho do Papai, de Henrique de Almeida e M. Garcez, em companhia dos Vocalistas Tropicais, campeã do concurso oficial de músicas carnavalescas da Prefeitura do Distrito Federal. E foi cantando essa música que ela estreou no Programa César de Alencar, na Rádio Nacional, com grande sucesso, em 1948.

 

                        Marlene se tornaria uma das maiores estrelas da emissora, recebendo o slogan Ela que canta e dança diferente. Ainda nesse ano, foi contratada pela gravadora Continental, estreando com os choros Toca, Pedroca, de Pedroca e Mário Morais, e Casadinhos, de Luís Bittencourt e Tuiú, este cantado em duo com César de Alencar. Marlene esperou o fim de seu contrato com o Copacabana Palace para abandonar os espetáculos nas boates, dedicando-se ao rádio, aos discos e, posteriormente, ao cinema e ao teatro.

 

                        Nessa época, a maior estrela da Rádio Nacional era Emilinha Borba, mas as irmãs Linda e Dircinha Batista eram também muito populares, e as vencedoras, por anos consecutivos, do concurso para Rainha do Rádio. Esse torneio era coordenado pela Associação Brasileira de Rádio, sendo que os votos eram vendidos com a Revista do Rádio, e a renda era destinada para a construção de um hospital para artistas. Então, em 1949, Marlene venceu o concurso de forma espetacular. Para tal, recebeu o apoio da Companhia Antarctica Paulista. A empresa de bebidas estava prestes a lançar no mercado um novo produto, o Guaraná Caçula, e, atenta à popularidade do concurso, pretendia usar a imagem de Marlene, Rainha do Rádio, como base de propaganda de seu novo produto, dando-lhe, em troca, um cheque em branco, para que ela pudesse comprar quantos votos fossem necessários para sua vitória. Assim, Marlene foi eleita com 529.982 votos. Ademilde Fonseca ficou em segundo lugar, e Emilinha Borba, dada como vencedora desde o início do concurso, ficou em terceiro. 

 

                        Desse modo, originou-se a famosa rivalidade entre os fãs de Marlene e Emilinha, uma rivalidade que, de fato, devia muito ao marketing e que contribuiu expressivamente para a popularidade espantosa de ambas as cantoras pelo país. Prova disso foram as gravações que elas fizeram em dueto naquele ano, com o samba Eu Já Vi Tudo, de Amadeu Veloso e Peter Pan, e a marchinha Casca de Arroz, de Arlindo Marques Jr. e Roberto Roberti, sucessos no Carnaval de 1950, e, no começo desse ano, com a marchinha A Bandinha do Irajá, de Murilo Caldas, também sucesso carnavalesco.

 

                        A eleição para Rainha do Rádio ainda lhe rendeu um programa exclusivo na Rádio Nacional, intitulado Duas Majestades, e um novo horário no Programa Manuel Barcelos, em que permaneceu como estrela até o fechamento do auditório da Rádio Nacional. A estrela Marlene ajudou vários colegas seus, inclusive usando seu prestígio e influência junto à direção da Rádio Nacional. Trouxe para a emissora, as vozes de Jorge Goulart e Nora Ney, que ali permaneceram por décadas, só saindo por causa de problemas com o governo da época do poder militar no país.

 

                        Marlene manteve o título ainda pelo ano seguinte. Ela então passou a ser cantora exclusiva do programa Manuel Barcelos, enquanto que Emilinha tornou-se exclusiva do de César de Alencar. Ainda naquele ano, gravou dois de seus maiores sucessos, acompanhada de Os Cariocas, Severino Araújo e Orquestra Tabajara, os baiões Macapá e Que Nem Jiló, de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga

 

                        A seguir, alguns sucessos de meio de ano de Marlene: 

                        Ai, Como Sufro, frevo-canção de Nélson Ferreira:

                        Casadinhos, samba de Luiz Bittencourt e Tuyú, cantam Marlene e César de Alencar:

                        Dona Vera Tricotando, maxixe de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira:

                        Foi Despacho, samba de Sereno:

                        Grand Monde do Crioléu, samba-de-breque de Ary Barroso:

                        Macapá, baião de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, cantam Marlene Os Cariocas:

                        Panchito no Mambo, mambo de S. Campos, Murilo Vieira e Nélson Lucena:

                        Patinete no Morro, samba de Luiz Antônio:

                        Quem É?, chorinho de Custódio Mesquita:

                        Qui Nem Jiló, baião de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, cantam Marlene e Os Cariocas:

                        Recenseamento, samba de Assis Valente:

                        Se a Lua Contasse, marchinha de Custódio Mesquita:

                        Só Se Fala na Baiana, samba-de-breque de César Siqueira:

                        Suspiro Que Vai e Vem, maracatu de Manezinho Araújo e Ismael Neto, cantam Marlene e Ivon Curi:

                        Tome Polca, polca de Luiz Peixoto e José Maria de Abreu:

                        Vai, Meu Samba, samba de Custódio Mesquita:

 

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MPB da Velha Guarda segunda, 28 de novembro de 2016

EMILINHA BORBA ROMÂNTICA

EMILINHA BORBA ROMÂNTICA

Raimundo Floriano

  

                        Emília Savana da Silva Borba, nasceu no Bairro da Mangueira, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), em 31 de agosto de 1923, onde veio a falecer, no dia 3 de outubro de 2005, aos 82 anos de idade. Era filha de Eugênio Jordão da Silva Borba e Edith da Silva Borba.

 

                        Ainda menina, e contrariando um pouco a vontade de sua mãe, apresentava-se em diversos programas de auditório e de calouros. Ganhou seu primeiro prêmio, aos 14 anos, na Hora Juvenil, da Rádio Cruzeiro do Sul. Cantou também no programa Calouros de Ary Barroso, obtendo a nota máxima ao interpretar O X do Problema, de Noel Rosa. Logo depois, começou a fazer parte dos coros das gravações da Columbia.

 

                        Formou, na mesma época, uma dupla com Bidu Reis, chamada As Moreninhas. A dupla se apresentou em várias rádios, durante cerca de um ano e meio. Logo depois, gravou para a Discoteca Infantil um disco em 78 RPM com a música A História da Baratinha, numa adaptação de João de Barro. Desfeita a dupla, Emilinha passou a cantar sozinha e foi logo contratada pela Rádio Mayrink Veiga, recebendo de César Ladeira o slogan Garota Grau Dez.

 

                        Em 1939, foi convidada por João de Barro para participar da gravação da marchinha Pirolito, cantada por Nilton Paz, sendo que no disco seu nome não foi creditado, apenas o do cantor.

Em março do mesmo ano grava, pela Columbia e com o nome de Emília Borba, seu primeiro disco solo em 78 RPM, com acompanhamento de Benedito Lacerda e Seu Conjunto, com o samba-choro Faça o Mesmo, de Antônio Nássara e Eratóstenes Frazão, e o samba Ninguém Escapa, de Eratóstenes Frazão.

                        No mesmo ano, atuou no filme Banana da Terra, de Alberto Bynton e Rui Costa. Esse filme contava com grande elenco: Carmen Miranda, Aurora Miranda, Dircinha Batista, Linda Batista, Almirante, Aloísio de Oliveira, Bando da Lua, Carlos Galhardo, Castro Barbosa, Oscarito e Virgínia Lane, A Vedete do Brasil.

 

                        Ainda em 1939, foi levada por sua madrinha artística, Carmen Miranda, de quem sua mãe era camareira, para fazer um teste no Cassino da Urca. Por ser menor de idade, e na ânsia de conseguir o emprego, alterou-a alguns anos a mais. Além disso, Carmen Miranda emprestou-lhe um vestido e sapatos plataforma. Aprovada pelo empresário Joaquim Rolla, proprietário do Cassino, foi contratada e passou a se apresentar como crooner, tornando-se, logo em seguida, uma das principais atrações daquela casa de espetáculos.

 

                        Em 1940, gravou, com acompanhamento de Radamés Gnattali e Sua Orquestra, os sambas O Cachorro da Lourinha e Meu Mulato Vai ao Morro, da dupla Gomes Filho e Juraci Araújo. Nesse ano, apareceu nos filmes Laranja da China, de Rui Costa e Vamos Cantar, de Leo Marten.

 

                        Em1941, assinou contrato com a Odeon, gravadora onde sua irmã, a cantora Nena Robledo, casada com o compositor Peterpan, era contratada. Já com o nome de Emilinha Borba, lançou os sambas Quem Parte Leva Saudades, de Francisco Scarambone, e Levanta José, de Haroldo Lobo e Valdemar de Abreu. Gravou, ainda, um segundo disco na Odeon, com o samba O Fim da Festa, de Nelson Teixeira e Nelson Trigueiro, e a marchinha Eu Tenho Um Cachorrinho, de Georges Moran e Osvaldo Santiago.

 

                        Em 1942, foi contratada pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, desligando-se meses depois. Em setembro de 1943, retornou ao cast daquela Emissora, firmando-se, a partir de então, e durante os 27 anos que lá permaneceu contratada, como a Estrela Maior da emissora, PRE-8, a líder de audiência.

 

                        Enquanto na Nacional, Emilinha atingiu o ápice de sua carreira artística, tornando-se a cantora mais querida e popular do país. Teve participação efetiva em todos os seus programas musicais, bem como, foi a campeã absoluta em correspondência, por 19 anos consecutivos, até quando durou a pesquisa naquela emissora, 1964.

 

                        Em 1942, o Cineasta norte-americano Orson Welles estava filmando no Brasil, o documentário inacabado It's All True. Nessa época, Linda Batista era a cantora mais popular do Brasil e a estrela absoluta do Cassino da Urca, de onde Orson Welles não saía. Enquanto permanecia no Rio de Janeiro em farras e bebedeiras, Welles, inicia um romance com Linda Batista. Até que coloca os olhos em Emilinha, já com postura de futura estrela. O cineasta não perdoa a pouca idade de Emilinha, nem o fato de ela namorar o cantor Nilton Paz. Começa a assediá-la, prometendo levá-la para Hollywood. Também lhe enviava agrados e bilhetes em que se dizia O Rei do Café.

 

                        Linda Batista, ao saber o que estava acontecendo, descarregava suas frustrações na mãe de Emilinha, camareira no Cassino da Urca, humilhando-a sempre que podia. Até que um dia, Linda cerca Emilinha nos bastidores, dá-lhe alguns tapas e rasga seu melhor vestido, com o qual ela se apresentaria dali a pouco.

 

                        Orson Welles deixou Emilinha em paz, e voltou para os Estados Unidos. Mas, desde essa época, Linda e Emilinha, nunca mais se deram bem. Segundo Jorge Goulart, Linda Batista usava de todo o seu prestígio como estrela absoluta do Cassino da Urca para dificultar a ascensão de Emilinha Borba naquele espaço.

                        Em 1949, Emilinha já era a maior estrela da Rádio Nacional, mas as irmãs Linda Batista e Dircinha Batista eram também muito populares, e as vencedoras, por anos consecutivos, do concurso para Rainha do Rádio. Esse torneio era coordenado pela Associação Brasileira de Rádio, sendo que os votos eram vendidos com a Revista do Rádio, e a renda era destinada para a construção de um hospital para artistas.

 

                        Nese ano, Emilinha gravou a marchinha Chiquita Bacana, primeiro lugar nas paradas de sucesso, e passou a ser considerada a vencedora do concurso. Entretanto, Marlene, uma cantora novata, apareceu e venceu o concurso de forma espetacular. Para tal, recebeu o apoio da Companhia Antarctica Paulista. A empresa de bebidas estava prestes a lançar no mercado um novo produto, o Guaraná Caçula, e, atenta à popularidade do concurso, pretendiam usar a imagem de Marlene, Rainha do Rádio, como base de propaganda de seu novo produto, dando-lhe, em troca, um cheque em branco, para que ela pudesse comprar quantos votos fossem necessários para sua vitória.

 

                        Assim, Marlene foi eleita com 529.982 votos. Desse modo, originou-se a famosa rivalidade entre os fãs de Marlene e Emilinha, uma rivalidade que, de fato, devia muito ao marketing e que contribuiu expressivamente para a popularidade espantosa de ambas as cantoras pelo país. Só em 1953, Emilinha foi finalmente coroada como Rainha do Rádio, unicamente com o apoio popular. A quantidade de votos que lhe deu a vitória era maior que a das outras concorrentes somadas.

  

                        Os concursos populares, que servem como termômetro de popularidade do artista, sempre foram constantes, e, das pesquisas realizadas, na fase áurea do rádio, 99,9% deram vitória a Emilinha Borba, tornando-a a artista brasileira que possivelmente possui mais títulos, troféus, faixas e coroas.

 

                        Nas edições da Revista do Rádio, Radiolândia e do jornal A Noite, Emilinha se comunicava com seus fãs, amigos e leitores desses órgãos da imprensa, através de colunas como Diário da Emilinha, Álbum da Emilinha, Emilinha Responde e Coluna da Emilinha.

 

                        O simples anúncio de sua presença, em qualquer cidade ou lugarejo do país, era feriado local, e Emilinha, simbolicamente, recebia as chaves da cidade e desfilava em carro aberto pelas principais ruas e avenidas, sendo aplaudida, ovacionada e acarinhada pelos habitantes e autoridades da localidade. Devido ao enorme sucesso após o seu terceiro espetáculo realizado no Teatro Santa Rosa em João Pessoa (PB, Emilinha teve que cantar em praça pública, junto ao Cassino da Lagoa, para um incalculável público, só comparado aos dos comícios de Luiz Carlos Prestes ou Getúlio Vargas.

 

                        Emilinha foi a primeira artista brasileira a fazer uma longa excursão pelo país com patrocínio exclusivo. O Laboratório Leite de Rosas, até então, investia em artistas internacionais, como a Orquestra de Tommy Dorsey, e contratou e patrocinou Emilinha por três meses consecutivos em excursão pelo Norte e Nordeste.

 

                        Sua foto era obrigatória nas capas de todas as revistas e jornais do país. Na Revista do Rádio, numa semana, era ela; na seguinte, outro artista; e, na posterior, ela novamente. Até agosto de 1995, Emilinha Borba foi a personalidade brasileira que maior número de vezes foi capa de revistas no Brasil. Calcula-se aproximadamente umas 350 capas nos mais diversos órgãos.

 

                        De 1968 a 1972, Emilinha esteve inativa, por problemas de saúde. Padeceu de edema nas cordas vocais e, após três cirurgias e longo estudo para reeducar a voz, voltou a cantar.

 

                        Em 2003, após 22 anos sem gravar um trabalho só seu, a Favorita da Marinha lançou o CD Emilinha Pinta e Borba, com participações de diversos cantores, como Cauby Peixoto, Marlene, Ney Matogrosso, Luís Airão, Emílio Santiago, entre outros, vendendo este de forma bem popular, na Cinelândia, em contato direto com o público. No início de 2005, lançou o CD Na Banca da Folia, para o Carnaval do mesmo ano.

 

                        Emilinha continuou fazendo espetáculos pelo Brasil inteiro, tendo marcado presença, nos seus três últimos anos de vida, em vários Estados Brasileiros, como Pernambuco, Ceará, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Bahia.

 

                        Sua arte, admirada e aplaudida por milhões, sempre foi em prol da cultura popular e, assim, carismática, Emilinha Borba, cuja trajetória artística, pontilhada de sucessos, personifica-se como verdadeira e autêntica representante da Era de Ouro do Rádio Brasileiro.

 

                        Em fevereiro de 2004, Emilinha foi hospitalizada, após cair da cama e fraturar o braço direito. Em junho de 2005, ela esteve internada, após cair de uma escada, sofrer traumatismo craniano e hemorragia intracerebral.

 

                        Faleceu na tarde do dia 3 de outubro de 2005 de infarto fulminante, enquanto almoçava em seu apartamento, no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, aos 82 anos. Seu corpo foi velado durante toda a noite e, pela manhã, por amigos, familiares e fãs, na Câmara dos Vereadores no Rio de Janeiro, sendo sepultado no Cemitério do Caju.

                        Aqui, alguns sucessos de sua face romântica:

 

                        Vem Cantar Também, choro de Paulo Pinheiro e J. Ferreira:

 

                        Dez Anos, bolero de Raphael Hernandez e Lourival Faissal:

 

                        Deixa Que Amanheça, samba-canção de Olavo Bilac e Oswaldo Santiago:

 

                        Vizinho do Cinquenta e Sete, choro de René Bittencourt:

 

                        Os Meus Olhos São Teus, samba-canção de Peterpan:

 

                        Jerônimo, toada de Lourival Faissal e Getúlio Macedo:

 

                        Contraste, samba de José Maria de Abreu e Alberto Ribeiro:

 

                        Escandalosa, rumba de Djalma Ribeiro e Moacyr Silva:

 

                        Noite de Chuva, bolero de Peterpan e José Batista:

 

                        Rumba em Jacarepaguá, rumba de Haroldo Barbosa:

 

                        Se Queres Saber, samba-canção de Peterpan:

 


MPB da Velha Guarda quarta, 23 de novembro de 2016

RUY REY E SUA ORQUESTRA

RUY REY E SUA ORQUESTRA

Raimundo Floriano

 

Ruy Rey

 

                        Domingos Zeminian, o Ruy Rey, regente, compositor e cantor, nasceu em São Paulo, SP, no dia 04.11.1915, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, a 26.03.1995.

 

                        Iniciou sua carreira como crooner no conjunto dos Iamãos Copia, em São Paulo. Em 1940, ingressou na Rádio Tupi, na capital paulista, cantando também no Cabaré OK, com a Orquestra J. França.

 

                        Em 1944, transferiu-se para o Rio de Janeiro, trabalhando como cantor na Rádio Nacional, onde conseguiu apresentar-se no horário de meio-dia e meia, logo após o programa de Francisco Alves, de grande audiência, com isso projetando seu nome nacionalmente.

 

                        Mas foi em 1948 que sua carreira realmente deslanchou, quando teve a idéia de formar a Ruy Rey e Sua Orquestra, especialista em ritmos latino-americanos, tendo uma fase de destaque na época, pois esses ritmos quentes faziam tremendo sucesso no Brasil, logo depois da Segunda Guerra Mundial.

 

                        Era no tempo dos grandes musicais da PELMEX - Películas Mexicanas, com suas exuberantes rumbeiras internacionais, e das chanchadas da Atlântida, com nossas espetaculares vedetes, todas elas sensualíssimas e lindas fêmeas, que povoavam nossos sonhos de adolescentes. Mulheres que se apresentavam ao natural, sem botox ou silicone, mostrando apenas sua arte e sua estonteante beleza.

 

                        Como a mexicana Maria Antonieta Pons e as cubanas Cuquita Carballo e Ninón Sevilla:

 

 Maria Antonieta Pons, Cuquita Carballo e Ninón Sevilla

                        E as brasileiras igualmente famosas, verdadeiras rainhas do rebolado, como a carioca Virgínia Lane, a capixaba Luz del Fuego e a paulista Elvira Pagã:

 

 Virgínia Lane, Luz del Fuego e Elvira Pagã

                        No mesmo ano, teve a sorte de estourar com a marchinha carnavalesca, A Mulata É a Tal, de João de Barro e Antônio Almeida, que nada tinha a ver com a latinidade que o celebrizou. O sucesso o animou a adaptar sua orquestra aos ritmos brasileiros, como o samba e a marchinha, durante o Carnaval. Fora dessa época, cantava mais em espanhol.

 

                        Em 1949, gravou com sua Orquestra, na Continental, sua primeira composição, Naná, em parceria com Ruthnaldo.

 

                        Atuou em filmes da Atlântida, como Carnaval no Fogo, em 1949, Aviso aos Navegantes, 1950 e O Petróleo É Nosso, de 1954, dirigidos por Watson Macedo.

 

                        Nos anos 50, rivalizou com o argentino Gregorio Barrios na preferência dos brasileiros ao interpretar de boleros e canções latino-americanas. Celebrizou-se com as versões da rumba Bim-bam-bum, dos mambos Mi Bongô e Mambo Jambo e o boleto Tu Solo Tu.

 

                        Entre 1950 e 1965, excursionou por todas as regiões do Brasil, apresentando-se, ora como cantor, ora com sua orquestra.

 

                        Em 1968, desfez seu grupo musical e retirou-se da cena artística.

 

                        Possuo no meu acervo 40 títulos e seu riquíssimo repertório.

 

                        Como pequena amostra, apresento-lhes aqui, com Ruy Rey e Sua Orquestra, a rumba Naná, composição dele e de Ruthnaldo, seu grande sucesso internacional dos Anos 50:

 

                        E mais: 

                        A Lua Se Escondeu, marchinha de Alcebíades Nogueira e Norival Reis, sucesso no Carnaval de 1953:

 

                        A Mulata É a Tal, marchinha de João de Barro e Antônio Almeida, sucesso do Carnaval de 1948:

 

                        Bim-bam-bum, rumba de Johnny Camacho e Noro Morales, Ruy Rey, 1946:

 

                        Espanhola Diferente, marchinha de Nássara e Peterpan, sucesso do Carnaval de 1949:

 

                        Mercê, rumba de Ruy Rey e Ruthnaldo, 1951:

 

                        Pimenta Malagueta, marchinha de Nássara e Salvador Miceli, sucesso do Carnaval de 1950:

 

                        Tico-tico na Rumba, rumba Peterpan e Haroldo Barbosa, com Ruy Rey e Emilinha Borba, 1947:

 

                        Tu Solo Tu, bolero de Felipe Valdez Leal, 1953:

 


MPB da Velha Guarda terça, 22 de novembro de 2016

TONHECA DANTAS E A VALSA ROYAL CINEMA

TONHECA DANTAS E A VALSA ROYAL CINEMA

Raimundo Floriano

 

Tonheca Dantas (187 –1940)

 

(No mês de abril de 2011, o adolescente saxofonista H. Dantas adicionou-me no Orkut. Chamou-me à atenção o fato de ele residir em Carnaúba dos Dantas (RN). Perguntei-lhe se era aparentado de Tonheca Dantas, ao que respondeu não saber de quem se tratava. Isso me levou a redigir a presente matéria, buscando resgatar a figura desse ilustre desconhecido, ignorado até por músicos do rincão que lhe serviu de berço.)

 

                        Antônio Pedro Dantas, o Tonheca Dantas, é um dos nomes mais importantes da história artística do Rio Grande do Norte.

 

                        Nasceu a 13 de junho de 1870, dia de Santo Antônio, no sítio Carnaúba de Baixo, próximo à Vila São José, local em que hoje se encontra a cidade de Carnaúba dos Dantas, assim nomeada em homenagem a essa grande família de compositores potiguares, e faleceu em Natal, Capital do Estado, em 7 de fevereiro de 1940.

 

                        Viveu sua infância no sítio onde nasceu e, logo cedo, iniciou-se nas duras lides do sertão, apanhando algodão nas terras de seu pai e nos sítios vizinhos. Era o quinto filho do Tenente-Coronel João José Dantas e da escrava alforriada Vicência Maria do Espírito Santo.

 

                        A maioria de seus irmãos demonstrava tendência e talento para a Música. Além de lições elementares de teoria musical recebidas de José Venâncio, seu irmão mais velho, Tonheca não teve aprendizado sistemático nessa Arte.  Cedo, e rapidamente, dominou diversos instrumentos – flauta, pistom, saxofone, trompa, trombone, bombardino, violão e clarineta, seu preferido – e o canto sacro, indispensável às festas religiosas.

 

                        De posse dos conhecimentos necessários, foi admitido na Banda de Música de Carnaúba dos Dantas, cuja superior missão era tocar nos ofícios religiosos da Festa de Nossa Senhora da Guia, da Padroeira de Acari e de outras paróquias da região do Seridó, e até de cidades do vizinho Estado da Paraíba. A Banda também era chamada para tocar nas recepções, visitas de pessoas ilustres, festas escolares e cívicas.

 

                        A dedicação à arte musical e seu talento fizeram-no um grande profissional. Assim, em 1898, foi contratado como Mestre da Banda de Música da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, e, em 1903, admitido na Banda de Música do Corpo de Bombeiros do Estado do Pará. Em 1927, ingressou na Polícia Militar da Paraíba, sendo, em pouco tempo, promovido a 1º Sargento Músico, ocasião em que passou de Contramestre a Mestre da Banda.

 

                        Deixou cerda de mil composições, entre dobrados, marchas, sambas, choros, gavotas, polcas, maxixes, hinos, xotes, polcas, e, principalmente, valsas. Uma das mais conhecidas, Royal Cinema, foi executada diversas vezes pela Orquestra da Rádio BBC de Londres, durante a Segunda Guerra Mundial. Essa valsa, juntamente com A Desfolhar Saudades, mereceu o registro sonoro por diversas Bandas de Música Militares do Nordeste.

  

                        Teve ainda músicas gravadas por Ivanildo do Sax de Ouro, Zé de Elias, Quarteto de Cordas da UFRN e Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte. Foi homenageado pelo bisneto Antônio José Madureira com a Suíte Retreta, gravada no disco Romançal, pelo Quarteto Romançal em 1997. Recebeu, também, homenagem do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, com a inauguração da Sala Tonheca Dantas, no Teatro Alberto Maranhão.

 

                        Nem mesmo Tonheca sabia o número exato e o título de todas as composições de sua autoria. Aqui vai uma pequena relação:

 

A Desfolhar Saudades, valsa; Acydália, valsa; Afeto de Mãe, valsa; Aí, Barrigudo, polca; Amor Constante, valsa; Ana Dantas, valsa; Aristófanes Fernandes, dobrado; Batalhão de Segurança, marcha; Boas Festas, valsa; Capitão André Fernandes, dobrado; Carli Fernandes, valsa; Cecília Medeiros, valsa; Comandante Nei Pedro, dobrado; Comandante Vitoriano, dobrado; Coronel Pedro Soares, dobrado; Correio do Norte, dobrado; Dagmar Dantas, valsa; Delírio, valsa; Desilusão, valsa; Edi Fernandes, valsa; Embaixador da Paraíba, dobrado; Força Pública, marcha solene; Guiomar, valsa; Gumercindo Saraiva, dobrado; Hino ao Duque de Caxias, hino; Iolanda, valsa; Iremita Medeiros, valsa; Ivanisa Fernandes, valsa; Joana Machado, valsa; Joel de Oliveira, dobrado; José Paulino, dobrado; Laurita, valsa; Louca Por Amor, valsa; Lúcia Pires Lemos, valsa; Lydia Cavalcanti, valsa; Maria de Lourdes, valsa; Maria Leonor, valsa; Matilde, valsa; Melodia do Bosque, valsa; O Velho Sabido, samba-choro; Odete Fernandes, valsa; Onze de Dezembro, dobrado; Os Três Corcovados, maxixe; Paisagens de Acari, dobrado; Perfume do Coração, valsa; Pinto Não É Galo, samba; Ramos de Rosas, valsa; Republicana, marcha de procissão, Royal Cinema, valsa; Sargento Luís Gonzaga, dobrado; Saudades de Minha Filha, valsa; Saudades de Minha Noiva, valsa; Saudades do Pará, dobrado; Silvino Cabral, valsa; Sou Imperoso, Porque Posso, maxixe; Tenente Augusto Toscano, dobrado; Tenente João Machado, dobrado; Tenente Luís Cândido, dobrado; Teresinha França, valsa; Triunfo de Virgem, marcha; Troca de Beijos, gavota; Xiquexique, maxixe; Yaperina Guerra, valsa; Zé Grande, choro; Zuzuca, choro.

 

                        Sua descendência também é extensa, como se adiante se vê:

 

Auta, do casamento com Rosa Lima; Marfisa, do relacionamento com Olívia; Antônia, do casamento com Ana Florentina; Antônio Pedro Dantas Filho (1º), do casamento com Francisca Lucas; Antônio Pedro Dantas Filho (2º), Afonso, José, Mirto, Salvador, Ivone, Cleto e Evilásio, do casamento com Francisca Lino Bezerra.

 

(Os dados até aqui constantes foram colhidos nestas fontes: Enciclopédia da Música Brasileira, da Art Editora, Wikipédia, A Desfolhar Saudades, livro de Cláudio Galvão, Dicionário Cravo Albin da MPB, arquivo pessoal e depoimento de vários amigos pesquisadores espalhados por este Brasil afora.)

 

                        Que se saiba, apenas um de seus filhos abraçou a Arte Musical, o instrumentista e compositor Antônio Pedro Dantas Filho (2º), o Tonheca Filho, ainda vivo. Conheci-o, de vista, aqui em Brasília, como Sargento Músico – trombone e bombardino – do BGP - Batalhão de Guarda Presidencial. Em homenagem a esse ilustre descendente, aí vai sua foto, para que não se perca sua memória com o passar do tempo.

 

Tonheca Filho 

                        No início dos Anos 1960, havia em João Pessoa um mulato atarracado muito ladino, o Potiguara, fazedor de biscates lá por perto do Banco do Brasil, cujos funcionários gostavam de emprestar-lhe dinheiro a fundo perdido, só pelo gosto de deliciarem-se com sua prosa, suas piadas, seus improvisos e seu parangolé. Para os turistas, ele exibia uma habilidade adicional: assobiava com exímia perfeição, a valsa Royal Cinema, mediante a recompensa com qualquer trocado que lhe caísse na bandeja.

 

                        No intuito de que todos possam avaliar o quanto isso lhe exigia perícia no bico, ofereço-lhes a valsa Royal Cinema, com a Banda de Música do Catre (RN):

 

                        E mais estas preciosidades de sua autoria, também com a Banda de Música do Catre: 

                        Delírio, valsa, com Antônio Gonçalves da Silva no solo de clarineta:

 

                        Lúcia Pires Lemos, valsa:

 

                        A Desfolhar Saudades, valsa, com Antônio Gonçalves da Silva o solo de clarineta:

 

                        Melodia do Bosque, valsa, com Antônio Gonçalves da Silva no solo de clarineta:

 

                        José Paulino, dobrado:

 


MPB da Velha Guarda terça, 22 de novembro de 2016

ASSIS VALENTE, O PREFERIDO DE CARMEN MIRANDA

ASSIS VALENTE, O PREFERIDO DE CARMEN MIRANDA

Raimundo Floriano

 

Assis Valente (19.03.1911 – 10.03.1958)

 

                        O dia 19 de março de 1911, foi uma data especial aqui em casa. Comemoramos o Dia de São José, Padroeiro da Chuva no Nordeste, o aniversário da boníssima Dona Etelvina, minha falecida sogra, e o Centenário do compositor Assis Valente, de quem passo a falar.

 

                        José de Assis Valente nasceu durante uma viagem de sua mãe a Salvador (BA), próximo a Bom Jardim – atual Catuiçara – distrito de Santo Amaro, e, ainda pequeno, foi tirado dos pais – dizia ele que foi roubado – por uma Família de Alagoinhas, que mais tarde se mudou para a Capital Baiana e depois para o Rio de Janeiro. Permaneceu ele, entretanto, em Salvador, trabalhando na farmácia do Hospital Santa Isabel e estudando, à noite, desenho e escultura, no Liceu de Artes e Ofícios.

 

                        Em seguida, foi para o interior do Estado, empregando-se noutra farmácia, que logo deixou para acompanhar um circo em suas andanças. De volta a Salvador, retomou os cursos no Liceu e passou a estudar também prótese dentária.

 

                        Em novembro de 1927, foi para o Rio de Janeiro, onde conseguiu vender alguns desenhos e ilustrações para revistas da cidade. Em 1932, trabalhando como protético, passou a compor sambas, incentivado pelo famoso músico e compositor Heitor dos Prazeres. Seu primeiro samba, Tem Francesa no Morro, que satirizava a moda “elegante” de falar Francês, foi lançado nesse ano, por Aracy Cortes. Entusiasmado pela interpretação de Carmen Miranda do samba Sorriso Falso, de Baiano – Cícero de Almeida –, conseguiu, depois de muitas tentativas, conhecê-la pessoalmente e lhe entregou duas músicas de sua autoria, o samba Etc. e a marchinha Good Bye, esta satirizando, agora, a moda de falar Inglês. A partir de sua gravação, no início de 1933, Carmen Miranda tornou-se uma de suas intérpretes mais constantes, tendo lançado a maioria de suas composições de sucesso.

 

                        Ainda em 1933, Carlos Galhardo gravou, além de outras, sua marcha natalina Boas Festas, com grande êxito. No mesmo ano, para as festas juninas, compôs a marcha Cai, Cai, Balão, gravada em dupla por Francisco Alves e Aurora Miranda. 

 

                        A partir de então, suas músicas começaram a ser lançadas por outros cantores em evidência, como Aracy de Almeida, Sônia Carvalho, Bando da Lua, Moreira da Silva, Jaime Vogeler, Orlando Silva, Trio Madrigal, Namorados da Lua, Marília Batista, Marlene, Hebe Camargo, Quatro Ases e Um Curinga, Anjos do Inferno, Dircinha Batista, Trigêmeos Vocalistas, Vocalistas Tropicais, Nuno Roland, Irmãs Pagãs, Luiz Gonzaga, Almirante, Ademilde Fonseca e muitos outros.

 

                        Em 1941, casou-se com Nadile, com quem teve uma filha e de quem se separou mais tarde. Com a ida de Carmen Miranda para os Estados Unidos e a entrada em cena de novos compositores e cantores, sua carreira começou a declinar.

 

                        A 13 de maio de 1941, a cidade se comoveu com sua tentativa de suicídio: depois de atirar-se do alto do Corcovado, ficou preso a uma árvore, de onde foi retirado pelo Corpo de Bombeiros. Recuperando-se, lançou, em junho de 1942, o samba Fez Bobagem, grande sucesso na voz de Aracy de Almeida, mas reduziu sua atividade de compositor, dedicando-se a seu laboratório de prótese dentária.

 

                        Na década de 1950, viu-se novamente deprimido por sua situação financeira e tentou outra vez o suicídio, cortando os pulsos, depois que a cantora Elvira Pagã lhe cobrou uma dívida.

 

                        A 10 de março de 1958, endividado e esquecido, consegui, afinal, dar cabo da existência: foi para a Praia do Russel, onde bebeu formicida misturada a uma garrafa de guaraná.

 

                        Aos depois, suas músicas passaram a ser relembradas. Em 1973, Chico Buarque Maria Bethânia e Nara Leão cantaram Minha Embaixada Chegou, no filme Quando o Carnaval Chegar, de Cacá Diegues. Uva de Caminhão, Brasil Pandeiro e E O Mundo Não se Acabou foram relançados, respectivamente, por Marlene, no espetáculo Te Pego Pela Palavra, pelos Novos Baianos e por Maria Bethânia.

 

(Dados biográficos extraídos da Enciclopédia da Música Brasileira – Erudita, Folclórica e Popular, da Art Editora Ltda., de São Paulo, editada em 1977.)

 

                        Dentre os 171 sucessos de Assis Valente que possuo aqui em meu acervo, é difícil selecionar um como representativo de seu trabalho. Escolhi estes, os mais cantados e tocados, quando a MPB da Velha Guarda ainda era curtida pelos brasileiros:

 

                        Tem Francesa no Morro, samba, com Aracy Cortes, de 1938:

 

                        Good Bye, marchinha, com Carmen Miranda, de 1933:

 

                        Boas Festas, marchinha natalina, com Carlos Galhardo, de 1933:

 

                        Cai, Cai, Balão, marchinha junina, com Francisco Alves e Aurora Miranda, de 1933:

 

                        Fez Bobagem, samba, com Aracy de Almeida, de 1942:

 

                        Uva de Caminhão, samba, com Carmen Miranda, de 1939:

 

                        Brasil Pandeiro, samba, com Anjos do Inferno, de 1941:

 

                        E o Mundo Não Se Acabou, com Carmen Miranda, de 1938:

 

                        Recenseamento, samba, com Carmen Miranda, de 1940:

 

                        Finalmente, este youtube com o samba Minha Embaixada Chegou, na voz de Carmen Miranda, gravação original para o Carnaval de 1935, porque me faz lembrar um falecido amigo e colega da Câmara dos Deputados, José Taumaturgo da Silva, que gostava de cantá-la em nossas farras, e também por ser um momento muito especial do filme Quando o Carnaval Chegar:

 

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MPB da Velha Guarda domingo, 20 de novembro de 2016

FRED WILLIAMS, SUA GAITA E SEU CONJUNTO

FRED WILLIAMS, SUA GAITA E SEU CONJUNTO

Raimundo Floriano

 

Fred Williams e sua gaita

 

                        Na festa de minha posse na Academia Passa Disco da Música Nordestina, no Recife, o Padre Walter Azevedo, viciado gaiteiro, apresentou-me seu amigo Jeová da Gaita, exímio e consagrado instrumentista, que ali comparecera para prestigiar-me. Imediatamente, animei-me e falei que, desde a infância, eu também andara dando minhas assopradas, mas que nunca passara do bê-á-bá! Aí, Jeová interrompeu minha conversa para afirmar:

 

                        – Você não tocava gaita não. O que você tocava mesmo era vialejo!

 

                        Espantei-me! Até aquele momento, eu pensava que vialejo – corruptela de realejo – era um termo usado apenas pelos meninos matutos de meu sertão sul-maranhense. Pois ali estava um grande artista pernambucano que também o conhecia. Dali pra frente, nossa conversa correu frouxa.

 

                        Não houve menino de mina faixa etária que não ganhou um realejo, talvez o único brinquedo manufaturado daquele nosso rincão. Eu possuí vários. Tocá-lo era como qualquer outro ato corriqueiro, coçar-se ou respirar. Uns faziam-no bem, outro nem tanto.

 

                        Quando comecei, foi com esses comuns, fabricados pela Hering, em várias versões: Sonhadora, Gloriosa, Serenata, Yara, Tico-tico, todas sem chave, ou seja, os acidentes – sustenidos e bemóis –, o que impossibilitava executar uma carrada de músicas. De Asa Branca, por exemplo, só saía a primeira parte, não sendo possível tocar a introdução.

 

                        Em dezembro de 1951, meu irmão Bergonsil, o Chilim, me presenteou com o primeiro realejo com chave, já então chamado gaita de boca, o modelo Membi, 40 vozes, da Hering. Nessa mesma época, meu irmão Afonso Celso, que era gaiteiro contratado pela Rádio Brasil Central da Goiânia, me ensinou a fazes os baixos com a língua, um negócio muito complicado.

 

                         De posse da Membi e dominando a baixaria, aventurei-me na primeira música com acidentes de minha vida, uma ousadia sem igual: o choro Brasileirinho de Waldir Azevedo. Quem quiser saber como isso era dificílimo, tente!

 

                        Nesse ínterim, as rádios e as gravadoras incentivavam-nos a prosseguir investindo na gaita de boca, apresentando grandes astros internacionais, como o americano Johnny Puleo, o belga Toots Thielemans, e o brasileiro Eduardo Nadruz, ou simplesmente Edu, o Mago da Gita, que, em 1956, extasiou o Mundo ao gravar o Moto Perpétuo, de Paganini, pela vez primeira num instrumento de sopro.

 

                        E, logo após esse estrondoso feito de Edu, que encheu de orgulho o peito de seus patrícios, novo som me apareceu e me maravilhou, pois eu não conseguia atinar o modo como o novo artista do gênero na praça, chamado Fred Williams, conseguia tirar aqueles instigantes efeitos com sua gaita.

 

                        E só vim a saber o segredo daquele mistério, quando meu irmão Afonso, novamente veio passar férias em Balsas, trazendo pequena valise cheia de gaitas de boca, de vários tamanhos, modelos e escalas, uma delas enormes, como estas que Fred Williams adiante exibe:

 

Fred Williams e seu arsenal

 

                        Só então, compreendi aquele surpreendente, extraordinário, admirável efeito que tanto me baratinava. E só então, também fique sabendo que nas gravações de Fred Williams e Seu Conjunto, atuavam, no mínimo, três gaitas diferentes.

 

                        Nas gaitadas da vida, cheguei a possuir 3 Hohner alemãs, 48 vozes, a última das quais guardei tão bem guardada, que nunca mais consegui encontrá-la. Contento-me com uma similar, Hering Velvet Voice, também ótimo equipamento.

 

                        De todos os gaiteiros que conheci até hoje, eu reconheço estes dois como os maiores: Edu, no gênero erudito, e Fred Williams, no popular!

 

                        Edu, gaúcho de Jaguarão (RS), nasceu a 13.10.1916 e faleceu a 23.08.1982. O carioca Fred Williams, batizado Manoel Xisto, nasceu a 28.12.1926 e, pelo que me consta, ainda se encontra entre nós.

 

                        Para que vocês conheçam um pouco de seu virtuosismo e sua obra, disponibilizo-lhes estas faixas, solicitando muita atenção para o solo e a baixaria:

 

                        Baião da Serra Grande, baião de Fred Williams, uma das grandes recordações que guardo de minha juventude:

 

                        Uma Farra na Churrascaria, samba de Fred Williams:

 

                        Vou Tocar em Pernambuco, frevo de Fred Williams:

 

                        Coisinha Linda, rancheira de Maria Clara:

 

                        Barril de Vinho, polca de Fred Williams:

 


MPB da Velha Guarda sexta, 18 de novembro de 2016

ARACY COSTA, A ESQUECIDA E SAUDOSA LADY CROONER

ARACY COSTA,

A ESQECIECIDA E SAUDOSA LADY CROONER

Raimundo Floriano

 

Aracy Costa 

                        Aracy Cortes Costa de Almeida nasceu no Rio de Janeiro (RJ) a 03.12.1932, onde faleceu a 19.10. 1976, aos incompletos 44 anos de idade.

 

                        Nestes fragmentos biográficos, presto homenagem a essa grande cantora de minha juventude, que teve lugar de destaque nos festejos carnavalescos e na MPB daquele tempo, mas ficou completamente esquecida, isso devido a seu desaparecimento prematuro, há 35 anos.

 

                        Aracy Costa iniciou-se na carreira artística desde criança, começando pelo circo. Em 1948, aos 16 anos, inscreveu-se no concurso À Procura de Uma Lady Crooner, promovido pela Rádio Clube do Brasil, para a Orquestra de Napoleão Tavares, com quem passou a trabalhar. Meses depois, venceu o programa de calouros Papel Carbono, de Renato Murce, obtendo contrato com a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, de onde saiu, em 1949, para integrar o quadro da Rádio Guanabara. Decorrido algum tempo, foi levada pelo compositor Haroldo Barbosa para a Rádio Tupi carioca.

 

                        Gravou seu primeiro disco em 1950, pela Todamérica, com os baiões Obalalá, de Xerém e Guará, e Rio Vermelho, de Guará e José Batista. Um de seus maiores sucessos foi a marchinha Papai Me Disse, de Peterpan e José Batista, para o Carnaval de 1951.

 

                        Excursionou pela Argentina e pelo Uruguai, com a Orquestra do Maestro Carioca, e, depois, pelos Estados Unidos da América, com a Orquestra de Ary Barroso.

 

                        Em 1955, foi eleita A Melhor Cantora das Associadas. Em 1960, com o samba Favela Amarela, de Jota Júnior e Oldemar Magalhães, foi eleita Rainha do Carnaval, época em que experimentou seu apogeu artístico. Aliás, o início dos Anos 1960 foi cruel para a Velha Guarda, diante da força com que apareciam a Bossa Nova, o Rock e a Jovem Guarda, com a Televisão para difundi-los.

 

                        Nos bancos de dados virtuais e impressos, nada encontrei que indicasse o motivo de seu desaparecimento, em 1976, no vigor de sua mocidade. Dona Sinhá, memória viva do Forró, viúva do zabumbeiro Miudinho, disse-me que Aracy Costa, sua amiga, faleceu vítima de câncer no útero, doença da qual, na época, se evitava falar.

                       

                        Em 1959, Aracy Costa participou da chanchada da Atlântida Entrei de Gaiato, dirigida por J. B. Tanko, espécie de pré-estreia do Carnaval de 1960, cantando a marchinha Carnaval na Lua, de João de Barro. O elenco principal era formado por Zé Trindade, Dercy Gonçalves, Costinha, Chico Anysio, Roberto Duval, Marina Marcel, Evelyn Rios, Hamilton Ferreira e Procopinho. 

 

                        Nesse filme, Moacyr Franco interpreta a marchinha Me Dá Um Dinheiro Aí, dos irmãos Glauco, Homero e Ivan Ferreira, que o lançou para o estrelato e até hoje é das mais tocadas nos salões e blocos de sujo. Outros sucessos carnavalescos ficaram a cargo de Grande Otelo, Linda Batista, Carlos Galhardo, Blecaute, Joel de Almeida e Emilinha Borba, além dos próprios atores, Dercy e Zé Trindade, este com a marchinha Cobra Que Não Anda, dele e Walter Levita.

 

                        Tenho em meu acervo, as seguintes preciosidades do repertório de Aracy Costa: A Mulher do Fu-Man-Chu, marchinha de João de Barro e Alberto Ribeiro; Abre a Porta, samba de Arlindo Marques Júnior e José Batista; Alice, baião de Victor Simon e Neco; Baile das Caveiras, marchinha de Milton de Oliveira e Ruthnaldo; Botão de Laranjeira, marchinha de Ruthnaldo Brasinha e Jorge Gonçalves; Brotinho Bossa Nova; samba de João Roberto Kelly; Carnaval na Lua, marchinha de João de Barro; Consolo de Otário, samba de João Roberto Kelly; Depois das Sete e Quarenta, foxtrote de Carlos César e Fernando César; Dim-dim-dim, samba de Peterpan e José Batista; Eu Sou Assim; samba de Peterpan e Amadeu Veloso; Favela Amarela, samba de Jota Júnior e Oldemar Magalhães; Iaiá da Bahia, baião-macumba de Clodoaldo Brito e João Melo; Kanimambo, foxtrote da A. Fonseca, R. Ferreira e M. Sequeira; Luz da Mangueira, samba de P. Menezes, D. Furtado e E. Rocha; Lá no Irajá, marchinha de Paquito e Romeu Gentil; Maxixe do Beijo, maxixe de Roberto Martins e Ary Monteiro; Mustafá Bossa Nova, chá-chá-chá de Mustapha, Bob Azzam, Ed Barclay e Luiz Mergulhão; Samba do Teleco-teco, samba de João Robeto Kelly; Se Você Me Adora, samba de Roberto Martins e Ary Monteiro; Também Vou na Jogada, samba de José Batista e João da Silva; Tequila, mambo-rock de Chuck Rio e Paulão Rogério; Zum-zum-zum, marchinha de Haroldo Lobo e Brasinha; Na Beira-mar, baião de Zé Dantas: e Obalalá, baião de Xerém e Guará. 

                        Para vocês, pequenaamostra de seu trabalho, em gravações originais: 

                        Obalalá, bailao de Xerém e Guará, sua primeira grvação, lançada em 1950:

 

                        Carnaval na Lua, marchinha de João de Barro, sucesso no Carnaaval de 1960:

 

                        Brotinho Bossa Nova, samba de João Rober t Kelly, lançad em 1960:

 

                        Maxixe do Beijo, maxixe de Roberto Martins e Ari Monteiro, lançado em 1951:

 

                        Favela Amarela, samba de Jota Júnior e Oldemar Magalhães,lançado em 1959:

 

                        Samba do Teleco-teco, samba de João Roberto Kelly, lançado em 1958:

 

                        Zum-zum-zum, marchinha de Haroldo Lobo e Brazinha, lançada em1956:

 

                        Papai Me Disse, marchinha de Peterpan e José Batista, seu grande sucesso carnavalesco, lançada em 1951:

 

                        E, para que vocês conheçam seu visual em cena, esta atuação eno filme Entrei de Gaiato, interpretando a marchinha Canaaval na Lua:

 

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MPB da Velha Guarda segunda, 14 de novembro de 2016

LEILA SILVA, A ESTRELA DE SÃO PAULO

LEILA SILVA, A ESTRELA DE SÃO PAULO

Raimundo Floriano

 

Três momentos de Leila Silva 

                        A enxurrada avassaladora do rock, bossa nova e ie-iê-iê da Década de 1960 varreu do cenário artístico todos os grandes nomes da Velha Guarda da Música Popular Brasileira, assim acontecendo com Emilinha Borba, Marlene, Jorge Veiga, Aracy de Almeida, Carlos Galhardo e muitos outros. Mas, vez em quando, ainda ouvíamos deles falarem. O caso de Leila Silva é impressionante. Desapareceu sem deixar rastros na mídia, perdurando somente na memória de seus fãs, como é meu caso.

 

                        Todos os anos, no período que vai de dezembro até fevereiro, tempo de férias, eu me lembro de minha fase de solteiro em Balsas (MA), na mesma época da enxurrada, quando saía com os amigos seresteiros, nas madrugadas, cantando na porta das garotas da cidade. No final de 1960, o que dominou nosso repertório foi o samba-canção Não Sabemos, de Rubens Caruso, gravação de Leila Silva, que dedicávamos a alguns de nossos ex-amores. Era o tema tapas e beijos dito de amena forma.

 

                        Leila Silva foi revelada ao grande público exatamente no início da década cruel para a MPB e, de imediato, conheceu estrondoso êxito, graças a sua voz maleável e extensa, de timbre inconfundível, e capacidade interpretativa. Configurava-se numa cantora para todos os gêneros e todas as músicas, além de sambista verdadeira, artigo que, mesmo no Brasil, berço do samba, não mais é muito encontrável. Alguém aí ainda se recorda dessa grande estrela?

 

                        Inezilda Nonato da Silva, a Leila Silva, filha de Seu Raimundo e de Dona Raimunda da Silva, nasceu a 07.06.1935, em Manaus (AM), na Rua Ajuricaba, Bairro da Cachoeirinha, onde foi criada. No início da Década de 1950, seu pai, que era telegrafista, resolveu buscar uma localidade que oferecesse melhores condições de vida para os 10 filhos, transferindo-se, então, para a cidade de Santos (SP) com a família.

 

                        Aos 15 anos de idade, Leila demonstrou grande tendência artística. Estudou piano durante seis anos além de receber aulas de violão.

 

                        Começou a cantar na Rádio Atlântica, de Santos, acompanhada pelos conjuntos regionais de Pascoal Melilo e de Maurício Moura. Mais tarde, ingressou na Rádio Clube, e Rádio Cacique, ambas de Santos. Na primeira, chegou a ter um programa exclusivo. Nessa época, ganhou o Troféu A Melhor Intérprete, do jornal A Tribuna, e foi coroada Rainha dos Músicos de Santos.

 

                        Também era crooner da Orquestra do Maestro J. Pinto, em bailes e no dancing Samba Danças, e também da orquestra Los Cubancheros, do Maestro Cabral, com repertório dominantemente de mambos, rumbas e outros ritmos latino-americanos.

 

                        A Capital Paulista, para onde se mudou em 1959, passou a ser sua meta natural. Naquele ano, foi contratada pela gravadora Califórnia e estreou em discos cantando os sambas-canções Resignação, de Plínio Metropolo, e Mentira, de Denis Brean e Osvaldo Guilherme. Nessa época, por sugestão de Denis, adotou o nome artístico de Leila Silva.

 

                        No mesmo ano, levada pelo compositor Diogo Mulero, o Palmeira, transferiu-se para a gravadora Chantecler, gravando o tango Mar Negro, de Leo Rodi e Palmeira, e o samba-canção Irmã da Saudade, de João Pacífico e Portinho.

 

                        Em 1960, gravou, com a Orquestra do Maestro Guerra Peixe, o tango Tango Triste, de Osvaldo de Souza e Haroldo José, e o samba-canção Sarjeta, de J. Luna e Clodoaldo Brito, o Codó. Em setembro daquele ano, teve bom êxito com a balada Perdão Para Dois, de Palmeira e Alfredo Corleto, e, em novembro, estourou no mercado fonográfico com o samba Não Sabemos, maior sucesso de todos os tempos de sua carreira. Ainda no mesmo ano, lançou seu primeiro LP, Perdão Para Dois, com orquestras regidas pelos Maestros Élcio Alvarez e Guerra Peixe.

 

                        Em 1961, gravou os sambas Justiça de Deus, de Normindo Alves e Ruth Amaral e Nossa União, de Vicente Clair; o tango Promessa, de W. White, versão de Teixeira Filho; o rock-balada Adeus Amor, de Haroldo José e Eufrásio Boreli, e o bolero Na Solidão do Meu Quarto, de Rubens Machado. Ainda em 1961, lançou pela Chantecler o LP Quando a Saudade Apertar.

 

                        No ano de 1962, gravou, ainda na Chantecler, o bolero Vai Dar no Mesmo, de Edmundo Arias e Teixeira Filho; as baladas Mais Uma Vez, Adeus, de G. Auric e D. Langdon, versão de Teixeira Filho, e Meu Amor Pertence a Outra, com adaptação de Teixeira Filho, sobre tema de Beethoven, e o samba O Que É Que Eu Faço?, de Ribamar e Dolores Duran.  Naquele ano, assinou contrato com a gravadora Continental embora ainda lançasse mais três discos pela Chantecler.

 

                        Em seu disco de estreia na nova gravadora, registrou a balada Deus, o Mundo e Você, de Palmeira e Alvares Filho, e o tango Desespero, de Umberto Silva, Luiz Mergulhão e Paulo Aguiar. Também em 1962, lançou pela Chantecler o LP Quando Canta Leila Silva.

 

                        Em 1963, gravou a balada Canção do Fim, de U. Mincci e R. Jaden, versão de Paulo Rogério, e os sambas Correio das Estrelas, de Denis Brean e Osvaldo Guilherme, Coração a Coração, de Arquimedes Messina e B. Barrela, e Não Diga a Ninguém, de José Messias. Nesse ano, lançou seu último disco pela Chantecler, o LP Novamente Ela.

 

                        Em 1964, gravou pela Continental os sambas Juca do Braz; Nó de Porco e Joguei Fora o Brilhante, de Haroldo José e Romeu Tonelo; e Favela do Vergueiro, de K-Ximbinho e Laércio Flores.

 

                        Ainda na Década de 1960, apresentou um programa na TV Record de São Paulo que ficou no ar durante três anos.

 

                        Sua carreira discográfica incluiu ainda as gravadoras RGE, RCA Victor, Bervely, Copacabana e Warner, contabilizando, até 1978, 27 compactos e 15 LPs. Teve também discos lançados na Itália, França, Japão, México, Argentina, Paraguai e Uruguai. Recebeu inúmeros prêmios ao longo de sua trajetória, sendo detentora de quatro Roquete Pinto, cinco Chico Viola e cinco Discos de Ouro. Em Curitiba, recebeu o Pinheiro de Prata. Além disso tudo, foi também coroada pela Revista do Rádio como Rainha do Samba. E, do compositor Palmeira, recebeu o título de A Estrela de São Paulo.

 

                        Em 2001, apresentou-se no programa da Saudade na TV, do cantor Francisco Petrônio, no canal Rede Vida. Em 2002, a Revivendo Músicas lançou o CD Leila Silva - O Mais Puro Amor, com 21 faixas, incluindo antigos sucessos, cuja capa e contracapa vocês aí estão:

  

                        Tanto esse LP, quanto outros títulos fonográficos lançados pela cantora, já se encontram fora de catálogo, mas são facilmente encontráveis em sebos virtuais.

 

                        Atualmente residindo em Santos, Leila Silva continua na ativa, apresentando-se por todo o Brasil, mas sem cobertura da mídia.

 

                        Para que vocês conheçam um pouquinho de seu trabalho, disponibilizo-lhes estas fixas, pinçadas do CD Leila Silva, O Mais Puro Amor:

 

                        Justiça de Deus, samba de Normindo Alves e Ruth Amaral Dias, lançado em 1961:

 

                        Que Será de Ti, guarânia de D. Ortiz, M. Tereza Marquez e Hélio Ansaldo, lançada em 1961:

 

                        O Amor Mais Puro, toda de Palmeira, lançado em 1960:

 

                        Apesar de Você, samba de Chico Buarque, lançado em 1970:

 

                        Não Sabemos, samba-canção de Rubem Caruso, lançado em 1960:

 

 


MPB da Velha Guarda sábado, 12 de novembro de 2016

MIGUEL GUSTAVO E O SESQUICENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA

MIGUEL GUSTAVO

E O SESQUICENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA

Raimundo Floriano

 

                         Miguel Werneck Gustavo de Sousa Martins, compositor, jornalista e poeta, nasceu a 24.03.1922, no Rio de Janeiro (RJ), onde veio a falecer a 22.01.1972, jovem ainda, aos 49 anos de idade.

 

                        Criado na Capital fluminense, morou nos subúrbios de Sampaio, Osvaldo Cruz, Caxambi e no sopé do Morro da Mangueira. Aos 19 anos, deixou os estudos para trabalhar como discotecário na Rádio Vera Cruz, onde, depois, passou a radialista e escrevia um programa de 30 minutos, em versos, denominado As Mais Belas Páginas.

 

                        No ano de 1950, começou a escrever jingles, alguns dos quais o fizeram ficar famoso e chegaram a causar polêmica, como o das Casas da Banha, que aproveitava a melodia de Jesus, Alegria dos Homens, de Johann Sebastian Bach. Nessa época, teve início sua carreira de compositor.

 

                        O primeiro sucesso veio em 1955, com o samba Café Soçaite (Doutor de anedota e de champanhota/Estou acontecendo no café soçaite...), na voz de Jorge Veiga. Sua discografia registra grandes títulos da MPB, como o samba E Daí (Proibiram que eu te amasse/Proibiram que eu te visse...) gravado em 1959 por Isaurinha Garcia; a marchinha Fanzoca do Rádio (Ela é fã da Emilinha/Não sai do César de Alencar...), gravada pelo palhaço Carequinha, em 1958; e a marcinha Brigitte Bardot (Brigitte Bardot, Bardot/Brigitte beijou, beijou...), gravada por Jorge Veiga, em 1961. Também de grande impacto na fonografia nacional foram os sambas de breque gravados pelo cantor Moreira da Silva, que lhe valeram a alcunha de Kid Moringueira.

 

                        Dentre seus jingles mais conhecidos, estão Vamos Jangar (Na hora de votar eu jangar, eu vou jangar/É Jango, é Jango, é o Jango Goulart...) com Jorge Veiga e outros artistas, que o Brasil inteiro cantou em 1960 e foi responsável pela eleição de João Goulart à Vice-Presidência da República, e Tatuzinho, propaganda de apreciada marca de cachaça (Ai tatu, tatuzinho/Abre a garrafa e me dá um pouquinho...), muito lembrado até hoje,

 

                        Todas as músicas acima citadas tornaram-se bem conhecidas pela melodia, pela letra, pelo ritmo, pelo intérprete, mas nunca se sabendo quem era seu autor, seu criador.

 

                        Em 1979, um jingle feito por Miguel Gustavo para cervejaria patrocinadora das transmissões dos jogos pela televisão da Copa do Mundo de Futebol de 1970 tirou-o do anonimato, fazendo seu nome conhecido por todos os brasileiros: Pra Frente, Brasil (Noventa milhões em ação/Pra Frente, Brasil, do meu coração...). A marchinha transformou-se, imediatamente, no Hino da Seleção Canarinho e, até hoje, não apareceu outra que a substituísse.

 

                        Durante muito anos, Miguel Gustavo foi casado com a jornalista e depois vereadora Sagramor de Escudero, com quem teve a filha Ana Maria. A foto a seguir é de 1954.

 

Miguel, Sagramor e Ana 

                        No próximo dia 7, sexta-feira, o Brasil assinala o 190º Aniversário da Independência. Não sei se haverá comemorações. Em 1971, no Sesquicentenário, as festas foram com toda a pompa e circunstância.

  

                        Em 1971, pouco antes de sua morte, Miguel Gustavo deixou-nos, para o Carnaval de 1972, a marchinha Marcha do Sesquicentenário da Independência, gravação de Miltinho. Transformada posteriormente em dobrado, foi tocada pelas Bandas de Música, militares ou civis, que desfilaram na festa de 7 de Setembro de 1972. E é sobre ela que agora passo a lhes falar.

 

                        Como pesquisador e colecionador da MPB, sendo o Carnaval e o Dobrado duas de minhas especialidades, jamais eu poderia deixar de tê-la em minhas estantes. Como, de fato, eu a possuía, na interpretação do Coral Joab. Com a proximidade dos 190 anos da Independência, lancei-me à caça, usando de todos os meios para conseguir e a gravação original, a do Miltinho.

 

Miltinho 

                        Consegui localizá-la num site de busca estrangeiro, não me recordo qual. Depois de cumprir todas as exigências burocráticas, recebi esta mensagem: “Bonjour raimundo76; Voici le montant total que nous avons débité sur votre carte: 15.06 EUR. Votre commande sur CDandLP.com a été expédiée par le vendeur recordsbymail le 09/03/2012.” A despesa ficou em torno de R$38,00.

 

                        No dia 24.04.2012, mais de um mês depois, chega-me as mãos, remetido pelo vendedor Craig Moerer, de Portland, Oregon, USA, o compacto que adiante lhes mostro:

  

                        É um compacto simples, uma faixa de cada dado. Ao gravar a Marcha do Sesquicentenário da Independência, Lado 2 do disco, Miltinho deixava de lado o estilo que o caracterizava: o samba balançado e sincopado. Mas só nessa faixa. De quebra, no Lado 1 – a principal para gravadora, supõe-se –, retomava seu estilo com um samba de Luiz Reis, Crioulo Branco, que nunca aconteceu nas paradas.

 

                        Foi, como se diz no jargão jornalístico, um esforço de reportagem, mas valeu! Valeu, porque agora tenho a oportunidade de compartilhar com toda a Comunidade Fubânica essa raridade musical e o talento de dois monstros sagrados da Música Popular Brasileira, o compositor Miguel Gustavo e o cantor Miltinho.

 

                        Miguel Gustavo não é um ilustre desconhecido aqui neste jornal. A 29 de março deste ano, Bruno Negromonte, nosso confrade e grande pesquisador da MPB, já nos brindara com duas de suas composições: Esse Norte é Minha Sorte, baião em parceria com Ruy Duarte, na voz de Dolores Duran, e Café Soçaite, cantado por Jorge Veiga. Trago-o à tona outra vez, não só para que ele seja relembrado, como também para festejar a grande data dos 190 anos da Independência do Brasil. 

                        Com vocês, a Marcha do Sesquicentenário da Independência, em gravação original:

 

                        E mais estes sucessos da autoria de Miguel Gustavo: 

                        Café Soçaite, samba-de-breque, com Jorge Veiga, lançado em 1955:

 

                        Fanzoca do Rádio, marchinha, com Carequinha, lançada em 1958:

 

                        Brigitte Bardot, marchinha, com Jorge Veiga, lançada em 1961:

 

                        Pra Frente, Brasil, marchinha, com a Turma da Copa, gravada em 1970:

 


MPB da Velha Guarda sexta, 11 de novembro de 2016

CARMINHA MASCARENHAS

CARMINHA MASCARENHAS

Raimundo Floriano

  

                        Cármina Allegretti, a Carminha Mascarenhas, nasceu em Muzambinho (MG), a 14.04.1930, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), a 16.01.2012, aos 81 anos de idade.

 

                        Descendente de italianos, mudou-se com a família para São Paulo (SP), quando tinha ainda poucos meses de idade e, mais tarde, foi morar em Poços de Caldas (MG), onde se formou Professora Primária e começou a cantar no coral da Igreja Matriz, destacando-se pela voz de contralto. Logo depois, interessou-se pela música popular, cantando acompanhada pelo pai e pelo tio ao violão.

 

                        Iniciou sua carreira artística em 1949, como crooner do Conjunto de José Maria, ao lado do pianista Raul Mascarenhas, com quem veio a casar-se em 1952. Nessa época, transferiu-se com o marido para Belo Horizonte (MG), apresentando-se com ele na Rádio Inconfidência e em casas noturnas.

 

                        Em 1955, morando no Rio de Janeiro (RJ), gravou, na Copacabana, seu primeiro disco, interpretando o samba-canção Folha Caída e o samba Nossos Caminhos Divergem, ambos de Hervé Cordovil e Nei Machado. Em seguida, também na Copacabana, gravou os sambas-canções Que Diabo Mandou, de Catulo de Paula e Fernando Lopes, e Outro Adeus, de Luiz Bonfá. Nesse mesmo ano, estreou como crooner do Hotel Copacabana Palace, substituindo Nora Ney.

 

                        Ainda em 1955, foi eleita, juntamente com Silvinha Telles, Cantora Revelação do Ano e contratada para fazer parte do elenco da Rádio Nacional, nela estreando no programa Nada Além de 2 Minutos, produzido por Paulo Roberto.

 

                        Em 1956, deixou o trabalho do Copacabana Palace, começou a apresentar-se na boate Sacha's, separou-se do marido e viajou para o Uruguai, onde se apresentou na Boate Cave e no Cassino de Punta del Este. Seguiu, depois, para a Argentina e Paraguai. Ao retornar, gravou o bolero Sonho, de Luiz Bandeira e Liane, a Toada do Beijo, de Nestor Campos e Sílvio Viana, e o samba-choro Problema Meu, de Mário Lago e Chocolate.

 

Três momentos de Carminha Mascarenhas 

                        Em 1959, gravou seu primeiro LP solo, intitulado Carminha Mascarenhas, com as seguintes faixas: 

Vem Pra Batucada, de Severino Filho e Alberto Paz

Joguete de Amor, de Tito Madi e Georges Henry

Olhe-me, Diga-me, de Tito Madi

Seus Carinhos, de Jeanette Adib

Não, de Evaldo Gouveia e Marino Pinto

Era Uma Vez, de Lina Pesce

Eu não Existo Sem Você, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes

O Amor Acontece, de Celso Cavalcanti e Flávio Cavalcanti

Quem Sou Eu, de César Siqueira e Nestor de Holanda

Procuro Esquecer, de Alberto Guedes e Nogueira Santos

Abandonado, de Ribamar, Esdras Pereira da Silva e Walter Barros

Comigo Não, de Geraldo Serafim

 

                        Em seguida, assinou contrato com a TV Rio para apresentar o programa Carrossel, atuando ao lado de Lúcio Alves, Elizeth Cardoso, Carlos José, Ernani Filho, Norma Bengell e Elizabeth Gasper. Em 1961, gravou seu segundo LP, cujas capa e contracapa adiante se veem:

  

                        Nessa época, iniciou relacionamento amoroso com o ator e compositor Gracindo Jr., começando a participar dos movimentos sindicais empreendidos pelos radialistas.

 

                        Carminha foi também compositora, tendo Dora Lopes como parceira principal, destacando-se como faixas mais conhecidas da dupla Meu Sonho Não Morreu, Toalha de Mesa e Samba da Madrugada, a última gravada até no exterior e considerada como hino dos boêmios dos anos 1960 e 1970.

 

                        Sua discografia, que vai daí até o ano de 1963, ultrapassa a casa dos 50 títulos, mas sofreu o arrefecimento pelo qual passaram todos os ídolos da Velha Guarda da MPB com o advento do Rock, da Bossa Nova, da Jovem Guarda e da Tropicália.

 

                         Nos anos 1980, apresentou-se no Sambão e Sinhá, casa noturna de Ivon Cury, com o espetáculo Carnavalesque, que ela própria escreveu.

 

                        Mudou-se para Teresópolis (RJ), em 1986, apresentando-se ocasionalmente em shows diversos. Em 1999, comemorou 50 anos de carreira, em espetáculo realizado na Associação Brasileira de Imprensa - ABI.

 

                        Em 2001, depois de reclusa em sua casa de Teresópolis por vários anos, atuou ao lado de Ellen de Lima, Violeta Cavalcanti e Carmélia Alves no espetáculo As Cantoras do Rádio: Estão Voltando As Flores, com roteiro e direção de Ricardo Cravo Albin, depois transformado em CD:

 

Ellen, Carminha, Violeta e Carmélia

  

                        Em dezembro de 2002, foi contemplada, juntamente com o grupo Cantoras do Rádio, como Destaque Cultural do Ano, pela Arquidiocese do Rio de Janeiro. Em 2003, excursionou por várias cidades fluminenses com o show Estão Voltando as Flores. Em dezembro do mesmo ano, e em janeiro de 2004, atuou nos shows Ninguém Me Ama - Canto Para Nora Ney e Trá-lá-lá - Lamartine É Cem, ambos com o grupo Cantoras do Rádio, com o qual estrelou o espetáculo Homenagem à Época de Ouro do Rádio, na Academia Brasileira de Letras. Apresentou-se também em show solo realizado no Teatro Odylo Costa Filho na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a UERJ.

 

                        Seu falecimento, a 16.01.2012, aconteceu no Hospital Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, onde estava internada depois de ter passado os últimos anos no Retiro dos Artistas.

 

                        Carminha e Raul Mascarenhas tiveram um filho, o saxofonista Raul Mascarenhas Jr., que foi casado com a cantora Fafá de Belém, enlace do qual nasceu Mariana, cantora como a mãe. Raul também foi casado com a atriz Cissa Guimarães, com quem teve um filho, Rafael, que, aos 18 anos de idade, faleceu tragicamente, atropelado em um túnel da Gávea, Zona Sul do Rio de Janeiro.

 

                        Na quarta-feira passada, 12 de setembro, comemorou-se o 110º Aniversário de Nascimento do Presidente Juscelino Kubitscheck, apelidado carinhosamente de Nonô.

 

Juscelino e sua maravilhosa invenção 

                        Vocês se lembram da promulgação da Constituição de 1988, que o PT assinou sob protestos? E do Plano Real, estabilizador de nossa Economia, ao qual o PT se opôs frontalmente? Pois é! Em 1957, a UDN foi uma pedra no sapato de Juscelino, fazendo de tudo para que Brasília desse errado.

 

                        Edigar de Alencar, no livro O Carnaval Carioca Através da Música, assim se refere à implicância da UDN: “Houve algumas composições que glosavam a construção a toque de caixa de Brasília, a nova capital. Mas a nota política é dada com inteligente disfarce pelo compositor Ricardo Galeno com o samba Deixa o Nonô Trabalhar com que responde às reclamações contra o governo de Juscelino.”

 

                        Eis a letra do samba, que Carminha Mascarenhas gravou para o Carnaval de 1957, transformando-o num dos grandes sucessos daquele ano:

 

O Morro tá falando por falar

A Escola vai sair

E as cabrochas vão sambar

Chega, ainda é cedo pra julgar

Deixa o Nonô trabalhar

 

Nonô quando assumiu

A presidência da Escola

Não encontrou sequer um tamborim

Agora que a escola tomou jeito

Muita gente põe defeito

Diz que a Escola tá ruim

Pois sim!

Chega, ainda é cedo pra julgar

Deixa o Nonô trabalhar!

                       

                        Perceberam a intenção do compositor? Prossigamos! Em maio de 2005, veio à tona, denunciado pelo Deputado Roberto Jefferson, o esquema de corrupção denominado Mensalão, que chamuscou a figura do presidente da República. Em vista disso, os marqueteiros petistas entraram em ação e foram buscar no samba do Ricardo Galeno inspiração para lançamento deste slogan, exaustivamente repetido no Rádio e na TV: DEIXA O HOMEM TRABALHAR!

 

                        Nada se perde, nada se cria, tudo se copia! E o que é bom se repete!

 

                        Para vocês, com Carminha, a gravação original do samba Deixa o Nonô Trabalhar, lançado em 1957:

 

                        E mais estas faixas com seus primeiros registros em disco: 

                        Folha Caída, samba-canção de Hervê Cordovil e Ney Machado, lançado em 1955:

 

                        Nossos Caminhos Divergem, samba-canção de Hervê Cordovil e Ney Machado, lançado em 1955:

 

                        Outro Adeus, samba-canção de Luiz Bonfá, lançado em 1955:

 

                        Sonho, bolero de Luiz Bandeira e Liane, lançado em 1956: 

                        Toada do Beijo, toada de Nestor Campos e Sílvio Viana, lançado em 1956:

 

                        Problema Meu, samba-choro de Mário Lago e Chocolate, lançado em 1956:

 


MPB da Velha Guarda quinta, 10 de novembro de 2016

CARLOS GALHARDO, O REI DA VALSA

CARLOS GALHARDO, O REI DA VALSA

Raimundo Floriano

  

                        Castello Carlos Guagliardi, o Carlos Galhardo, filho dos italianos Pietro Guagliardi e Saveria Noveli, nasceu em São Paulo (SP), a 24.04.1913, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), a 25.07.1985, aos 72 anos de idade.

 

                        Com um ano de nascido, sua família mudou-se para o Rio. Aos oito anos de idade, com o falecimento de Saveria, o pai deixou-o com um parente, no bairro do Estácio, para aprender o ofício de alfaiate.

 

                        Apesar de não gostar desse trabalho, aos 15 anos já era alfaiate, abandonando os estudos, apenas com o Primário completo, para dedicar-se à profissão. Passou por várias alfaiatarias cariocas e, numa delas, trabalhou com Salvador Grimaldi, alfaiate e barítono, com quem costumava ensaiar duetos de opera. Em casa, gostava de entoar sozinho canções italianas e árias.

 

                        O início de sua carreira como cantor profissional aconteceu em 1933, ano em que, numa reunião em casa de um irmão, onde estavam presentes Mário Reis, Lamartine Babo, Jonjoca e Francisco Alves, cantou a modinha Deusa, de Freire Júnior. Gostando muito de sua voz, Francisco Alves aconselhou-o a tentar o rádio. Nessa época, Carlos trabalhava numa barbearia e, através da manicure e cantora portuguesa Maria Fernanda, conseguiu entrar em contato com pessoas influentes da Rádio Educadora, hoje Tamoio, onde se apresentou, naquele ano, cantando a valsa Destino, de Nonô e Luís Iglésias. No dia seguinte, foi procurado por um representante da RCA Victor, que o convidou para fazer um teste na gravadora. Cantando o samba Até Amanhã, de Noel Rosa, foi aprovado, incorporando-se ao coro que acompanhava os artistas, até gravar seu primeiro disco, com os frevos-canção Você Não Gosta de Mim, dos Irmãos Valença, e Que É Que Há?, de Nelson Ferreira, que fizeram muito sucesso no Recife.

 

                        Logo a seguir, lançou seu segundo disco, com dois sambas de Assis Valente, Pra Onde Irá o Brasil e É Duro de se Crer. Ainda em 1933, gravou Samba Nupcial, de José Luís e Jaime Silva, Elogio da Raça, marchinha, Pra Quem Sabe Dar Valor, samba, e Boas Festas, marcha natalina, composições de Assis Valente, e o samba Pão de Açúcar, de Assis e Artur Costa. Era o desabrochar de uma careira vitoriosa que se manteve firme até 1978, quando registrou seu último LP. Além da RCA Victor, da qual era contratado, trabalhou, mediante cachê, em várias emissoras do Rio, entre elas Mayrink Veiga, Rádio Clube, Philips e Rádio Sociedade, arrebentando no Carnaval de 1934 com a marchinha Carolina, de Hervé Cordovil e Bonfiglio de Abreu, gravada pela RCA Victor.

 

                        Em 1935, já contratado pela gravadora Colúmbia, estreou como cantor romântico, com a valsa Cortina de Veludo, de Paulo Barbosa e Oswaldo Santiago, seu primeiro grande sucessos no gênero. Grande destaque mereceu em 1936 sua gravação da valsa Italiana, de Paulo Barbosa, José Maria de Abreu e Oswaldo Santiago. Desde então, passou a ser um dos intérpretes mais requisitados no cenário musical carioca. Em 1938, participou do filme Banana da Terra, dirigido por J. Ruy.

 

                        Em 1943, gravou aquele que seria um de seus maiores sucessos e que se tornaria em espécie de seu prefixo, a valsa Fascinação, de Marcelo Marchetti, com versão de Armando Louzada.

 

                        Em 1945, gravou, na Continental, com Dalva de Oliveira e Os Trovadores, a adaptação de João de Barro para a história infantil Branca de Neve e os Sete Anões, em dois discos, com músicas de Radamés Gnatalli. Em 1952, passou o ano inteiro em Portugal, realizando apresentações por todo aquele país. Em 1953, foi eleito o Rei do Disco, pela Revista do Disco.

 

                        Em 1955, casou-se com Eulália Salomon Bottini e participou do filme Carnaval em Lá Maior, dirigido por Ademar Gonzaga. Em 1957, atuou no filme Metido a Bacana, de J. B. Tanko.

 

                        Carlos Galhardo dominou em todos os gêneros da MPB, do Romance ao Carnaval. Guardo em meu acervo 504 títulos que ele gravou, sendo 182 de marchinhas e sambas carnavalescos. Isso em falar nos inúmeros sambas de meio de ano e das valsas que o consagraram. Até mesmo as gerações mais modernas, do Século XXI, não desconhecem as marchinhas Alá-lá-ô, de Nássara e Haroldo Lobo, gravada em 1941, e Cadê Zazá?, de Roberto Martins e Ari Monteiro, lançada em 1948.

 

                        Sua popularidade nas Décadas de 1940 e 1950 foi tão grande que era apresentado como Carlos Galhardo, O Cantor Que Dispensa Adjetivos, ficando também conhecido como O Rei da Valsa, títulos consagrados pela Revista do Rádio e a mídia em geral.

   

                        Como um dos cantores que mais venderam discos no Brasil, chegou à era do LP com força total. Aqui apresento capas de alguns de seus vinis:

  

  

                        O início dos Anos 1960, marcado pela avalanche produzida pelo Rock e pela Bossa Nova, fez com que sua carreira entrasse em declínio, como acontecia com todos os ídolos da Velha Guarda, arrefecimento também registrado com os programas radiofônicos, frente à onda avassaladora da TV.

 

                        Como acima foi dito, gravou seu último LP em 1978. Em 1983, participou de seu derradeiro espetáculo montado, o show Alá-lá-ô, em homenagem ao compositor Nássara, que também atuava ao lado da cantora Marília Barbosa, dirigidos ambos por Ricardo Cravo Albin, igualmente autor do roteiro da atração, apresentada na Sala Funarte.

 

                        Ao final da vida, atuava, com frequencia, em shows por todo o Brasil. Faleceu no dia 25 de julho de 1985, no Rio de Janeiro, em casa, vítima de infarto, e seu corpo foi sepultado no Cemitério São João Batista.

                       

                        Carlos Galhardo foi um dos cantores que mais venderam discos no Brasil, contabilizando, só em discos 78 RPM, cerca de 580 gravações. Hoje, seus álbuns são ainda encontrados, com certa facilidade, em sebos virtuais.

 

                        A Editora Revivendo, em seu excelente trabalho divulgador dos ídolos que fizeram nossa história musical, tem em seus catálogos os seguintes CDs: 

 

                        Aqui vai pequena amostra de seu imenso repertório: 

                        Boas Festas, marcha natalina, de Assis Valente, lançada em 1933:

 

                        Alá-lá-ô, marchinha, de Nássara e Haroldo Lobo, de 1941:

 

                        Bye, Bye, My Baby, frevo-canção, de Nélson Ferreira, de 1944

 

                        Cadê Zazá?, marchinha, de Roberto Martins e Ari Monteiro, de 1948:

 

                        Deus Me Ajude, samba de Francisco Alves, David Nasser e José Roy, de 1952:

 

                        Para finalizar, ouçamos a valsa Fascinação, de Marcelo Marchetti, versão de Armando Louzada, gravação de 1943, que sempre vem à baila quando o nome de Carlos Galhardo é mencionado, e que lhe deu, mui merecidamente, o título de O Rei da Valsa:

 


MPB da Velha Guarda quarta, 09 de novembro de 2016

PEDRO CAETANO - É COM ESSE QUE EU VOU

PEDRO CAETANO - É COM ESSE QUE EU VOU

Raimundo Floriano

 

Pedro Caetano: bico-de-pena de Miécio Café 

                        Pedro Walde Caetano, compositor, figura de destaque na chamada Época de Ouro da Música Popular Brasileira, nasceu numa fazenda do Município de Bananal (SP), a 01.02.1911, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), a 27.07.1992, aos 81 anos de idade. Era filho do agricultor Durval Mendo Caetano e da professora Zelpha Schotts Caetano.

 

                        Aos três anos de idade, os pais levaram-no para outra fazenda, em Maricá (RJ), de onde, aos doze anos, se mandou para o Rio de Janeiro, que era a Capital Federal, empregando-se numa sapataria, à Rua Uruguaiana, Nº 11, da qual viria, no futuro, a ser sócio e, mais tarde, proprietário, com a morte do sócio, o espanhol Constantino Esteves Cid, em 1951, mantendo-se no negócio até 1965, quando encerrou suas atividades.

 

                        Por essa época, já estudava piano e começou, também com a mania de fazer música. Sempre que saía do trabalho, ia encontrar-se com os companheiros na Ponte do Maracanã, que ficava na altura da Rua Senador Furtado, onde morava. Sempre trazendo um sambinha ou uma marchinha para ensaiar com a turma, surgiu, em 1933, aos 22 anos de idade, com algo diferente, metade samba, metade choro, a que deu o titulo de Foi Uma Pedra Que Rolou. Voltarei a falar dessa composição mais adiante.

 

Pedro Caetano e com Claudionor Cruz, seu parceiro mais constante 

                        Em 1935, teve sua primeira composição gravada, o samba-canção O Tocador de Violão, em parceria com o músico Claudionor Cruz, pela Odeon, na voz de Augusto Calheiros, também conhecido como a Patativa do Norte. Claudionor foi seu primeiro parceiro e o mais constante, com quem produziu mais de 300 títulos.

 

                        O primeiro sucesso da dupla aconteceu em julho de 1937, com a valsa Caprichos do Destino – Se Deus um dia, olhasse a Terra e visse o meu estado... –, na voz de Orlando Silva.

 

                        Em 1941, lançou, com Claudionor Cruz, o samba-canção Nova Ilusão – É dos teus olhos a luz que ilumina e conduz... – gravação de Renato Braga, que mais tarde viria a tornar-se grande sucesso na voz de Paulinho de Viola.

 

                        Em 1942, Ciro Monteiro, um de seus melhores intérpretes, gravou o que seria um de seus maiores sucessos, o choro Botões de Laranjeira – Maria Madalena dos Anzóis Pereira... – e, no mesmo ano, Francisco Alves lançaria o samba-exaltação Sandália de Prata, de Pedro Caetano e Alcyr Pires Vermelho, que também foi um de seus grandes parceiros. Com o retumbante sucesso dessas duas músicas, o nome de Pedro Caetano estava definitivamente consagrado no Mercado Fonográfico Brasileiro.

 

                        A seguir, em traço do caricaturista Adail, vemos Pedro Caetano, Manuel Baña, espanhol, dono do Café Nice e seu parceiro eventual, e Alcyr Pires Vermelho.

 

Pedro Caetano, Manuel Baña e Alcyr 

                        Em 1944, Francisco Alves lançou a marchinha Eu Brinco – Com pandeiro ou sem pandeiro... –, de Pedro Caetano e Claudionor, que obteve grande êxito no Carnaval daquele ano. Ainda em 1944, a parceria lançou o samba de meio de ano Disse Me Disse – Chega, eu já sei o que vens me dizer... –, na voz de Carlos Galhardo.

 

                        Em março de 1946, Pedro lançou o choro O Que se Leva Desta Vida – O que se leva desta vida é o que se come, o que se bebe... –, gravação de Ciro Monteiro, que se tornaria um dos clássicos do repertório do cantor.

 

                        Em 1947, lançou, em parceria com Alcyr Pires Vermelho e Silvino Neto, o samba-canção Cinco Letras Que Choram – Adeus, adeus, adeus, cinco letras que choram... – em magistral interpretação de Francisco Alves.

 

                        No Carnaval de 1947, estourou com o samba Onde Estão os Tamborins? – Mangueira, onde é que estão os tamborins, ó nêga?... –, gravado pelo conjunto Quatro Ases e Um Curinga. No Carnaval de 1948, dominou com o samba É Com Esse Que Eu Vou – É com esse que eu vou sambar até cair no chão... – também com os Quatro Ases e Um Curinga. No Carnaval de 1949, fez grande sucesso com o samba Mangueira em Férias – Quem foi que disse que eu não brigo mais... –, dele e de Alcyr Pires Vermelho, gravado por Nuno Roland. Para o Carnaval de 1952, lançou a marchinha Quem Tem Amor, Não Dorme – Passo a noite contemplando a lua... –, gravada pelos Vocalistas Tropicais.

 

                        Desde então, Pedro Caetano afastou-se um pouco do ambiente musical do Rio, dedicando-se mais ao cenário capixaba. Mesmo assim, em 1954, quando a brasileira Martha Rocha acabava de ser desclassificada no concurso de Miss Universo, porque tinha duas polegadas a mais nos quadris, ele, Carlos Renato e Alcyr Pires Vermelho compuseram a marchinha Duas Polegadas – Por duas polegadas a mais, passaram a baiana pra trás... –, que a própria Martha gravou e foi muito cantada durante o ano e no Carnaval de 1955. Do outro lado do disco, Martha gravou o baião Rio, Meu Querido – Rio, meu querido, é o meu coração que te diz... –, dos mesmos autores da marchinha.

 

                        Pedro Caetano era casado com Rosa Provedel Caetano, a Rosário, italiana criada no Espírito Santo, que conhecera em Minas Gerais. Em 1951, influenciado por ela, foi passear em Guarapari, famoso balneário capixada, onde, após assistir, à noite, a um show da lua nas pedras da arrebentação marinha, e ver nascer, no dia seguinte, uma linda manhã de sol, compôs a valsa Guarapari – Quer viver o sonho lindo que eu já vivi... –, que Nuno Roland Gravou e se tornou praticamente no hino daquela cidade.

 

                        No rastro de Guarapari, outras cidades do Espírito Santo foram homenageadas, o que valeu a Pedro Caetano, no decorrer do tempo, vários Títulos de Cidadão, placas de rua com seu nome, ainda em vida, e gravação de um LP, financiado pelo Governo do Estado, com as respectivas composições.

 

Pedro Caetano recebendo o título de Cidadão Cachoeirense, em 1969, e capa do LP oficial 

                        Mesmo afastado do ambiente carnavalesco, Pedro Caetano, inspirado no drama do operário que vê os sambistas do morro faturando alto no Carnaval, compôs um samba mirando o infeliz que esquece sua condição de trabalhador que tem de acordar de madrugada para pegar no batente e vai pela noite adentro em busca de um tema. Assim, nasceu o samba Olha o Leite das Crianças – É madrugada, o morro está descansando, mas o sambista vai bolando uma ideia genial... –, que a cantora Marlene defendeu no Concurso Oficial do Carnaval Carioca de 1969, obtendo o honroso 4º Lugar dentre mais de 3.000 músicas inscritas. A foto a seguir registra o momento da premiação.

 

Pedro Caetano com Marlene e Luiz Reis 

                        Sendo somente compositor, Pedro Caetano teve oportunidade de gravar apenas um LP, ele mesmo interpretando seus maiores sucessos, pela gravadora RCA Camden, lançado em 1975, com o título É Com Esse Que Eu Vou:

  

                        Em 1976, a Editora Abril lançou a série Nova História da Música Popular Brasileira, vendida nas Bancas de Revistas, com 75 volumes, cujo Número 66 focalizou o trabalho de Pedro Caetano e Claudionor Cruz: 

 

                        No começo da Década de 1980, Pedro Caetano recebeu, das mãos de Abelardo Barbosa, o Chacrinha, o troféu Velho Guerreiro, do qual muito ele se orgulhava:

  

                        Em 1984, foi homenageado com o primeiro show montado de sua obra, o espetáculo É Com Esse Que Eu Vou, realizado na Sala Sidney Miller da Funarte, na série Projeto Carnavalesco, com roteiro e direção de Ricardo Cravo Albin, que fez de seu repertório uma autêntica Revista Musical. Teatralizando as marchinhas de atualidade política e social, Albin produziu um espetáculo alegre e muito bem-humorado, que contou com as participações de Marlene e o grupo Céu da Boca, além do próprio compositor, incluindo peças carnavalescas recentes, como a marchinha Cineangiocoronariografia – Cineangiocoronariografia, o moderno exame de cardiologia –, feita em parceria com Alcyr Pires Vermelho e Manuel Baña, sátira aos problemas de que era vítima o então Presidente da República João Batista Figueiredo, já gravada por Nara Leão.

 

Pedro Caetano, e Marlene e o grupo Céu da Boca

 

                        Ainda em 1984, Pedro Caetano lançou um livro em comemoração a seus 50 anos de carreira, relançado em 1988 com o título 54 Anos de Música Popular Brasileira - O Que Fiz e o Que Vi, edição que me foi autografada por ele em 24.10.1991, nove meses antes de seu falecimento. No prefácio, José Ramos Tinhorão, jornalista, pesquisador e crítico musical, declara que, diante da memória curta da Música Popular, o ideal seria que cada artista, ao julgar cumprida sua trajetória, se debruçasse sobre seu álbum de recortes e, pessoalmente, escrevesse sua biografia. E lamenta que, salvo honrosas exceções, os compositores e cantores são os primeiros a não saber nada de suas próprias carreiras.

 

                        O exemplar cuja capa vocês veem logo abaixo serviu-me por demais na redação desta matéria, revelando-me fatos desconhecido, mas peca muito ao não os amarrar às datas em que ocorreram. Em determinados trechos, há lapsos de memória, quando o próprio autor declara não se lembrar de partes da composição que está mencionando. Mas, repito, mesmo com essa falha, orientou-me bastante e é leitura indispensável a qualquer pesquisador.

 

                         Isso estabelecido, passemos ao samba-choro Foi Uma Pedra Que Rolou. Jô Soares, em seu magnífico best-seller O Homem Que Matou Getúlio Vargas, criou um personagem fictício, o bósnio Dimitri Borja Korozec, sobrinho bastardo de Getúlio Vargas. Dimitri, sujeito desastrado além da conta, vem ao Brasil para assassinar o tio, mas todas as tentativas são malogradas, devido a sua “propensão natural para a catástrofe”. Jô coloca o terrorista atrapalhado em perigosas situações verídicas, das quais Getúlio saiu ileso, mas deixou passar uma, que ficou fartamente documentada nos anais de nossa história: a pedra que rolou!

 

                        Em 1933, Getúlio seguia de automóvel pela Estrada Rio–Petrópolis quando, no Quilômetro 53, enorme bloco de pedra se desprendeu duma encosta de granito à beira da estrada, amassando a capota do carro, matando seu Ajudante de Ordens, Coronel Celso Pestana, e ferindo, além do próprio presidente, sua mulher, Dona Darcy Vargas.

 

                        Se Jô Soares deixou passar esse episódio em branco, tal não aconteceu com Pedro Caetano, que soube glosá-lo muito bem. Mas, em seu livro, se esqueceu de mencionar a inspiração, contando apenas os fatos que antecederam a gravação daquela que foi a primeira composição de sua vida.

 

                        Entre seus companheiros da Ponte do Maracanã, havia um, conhecido como Torrinhos, primo de Sílvio Caldas, que se prontificou a apresentá-lo ao cantor. O encontro se deu quando Sílvio jogava bilhar no Salão Trianon, que ficava em frente ao Café Nice.

 

                        Sílvio os recebeu muito bem mas, naturalmente, porque já andava saturado de ouvir tantos chatos com mania e fazer música, não acreditou muito. Entretanto, quando os dois começaram a cantar o samba-choro bem próximo à mesa em que ele jogava, foi-se chegando, passou a interessar-se, chamou-os, aprendeu o samba e, assim, aconteceu o lançamento de mais um “careta” na Musica Popular Brasileira, ocorrido no início de 1934, no Programa do Casé, da Rádio Philips. Lançado o samba-choro, Sílvio Caldas prometeu gravá-lo na semana seguinte, mas o tempo foi-se passando, e a promessa só se fez cumprir 20 anos depois, quando a música já havia sido gravada, em 1940, pela dupla Joel e Gaúcho.

 

                        Esta matéria ficou muito longa, e acho que isso aconteceu pela admiração que nutro por Pedro Caetano desde meus tempos de criança, quando aprendi a gostar da Música Popular Brasileira, e suas composições ajudaram a construir meu repertório de marchinhas e sambas, tanto os carnavalescos como os de meio de ano.

 

                        Possuo em meu acervo 136 títulos de Pedro Caetano, quer dele individualmente ou com parceiros. Escolhi 6 faixas como amostra de seu trabalho, uma, por ter sido sua primeira composição, outra, por ser um samba-exaltação, gênero que aprendi a curtir desde quando o Brasil mandou seus pracinhas para o front europeu, na Segunda Guerra Mundial, e as demais por fazerem parte de minhas lembranças do tempo em que e MPB dominava nosso cenário musical: 

                        Foi Uma Pedra Que Rolou, samba-choro, na voz de Sílvio Caldas, de 1954:

 

                        Sandália de Prata, samba-exaltação, na voz de Francisco Alves, de 1942:

 

                        Cinco Letras Que Choram, samba-canção, com Francisco Alves, de 1947:

 

                        Onde Estão os Tamborins?, samba, com Quatro Ases e Um Curinga, de 1947:

 

                        É Com Esse Que Eu Vou, samba, com Quatro Ases e Um Curinga, de 1951

 

                        Não poderia faltar a valsa Guarapari, na voz de Nuno Roland, gravada em 1951:

 


MPB da Velha Guarda domingo, 06 de novembro de 2016

JARARACA E RATINHO

JARARACA E RATINHO

Raimundo Floriano

 

 

                        Dupla sertaneja formada em 1927 pelo violonista José Luís Rodrigues Calazans, o Jararaca, nascido em Maceió (AL), a 19.9.1896, e falecido no Rio de Janeiro (RJ) a 11.10.1977, e pelo saxofonista Severino Rangel de Carvalho, o Ratinho, nascido em Itabaiana (PB), a 13.4.1896, e falecido em Duque de Caxias (RJ), a 08.9.1972.

 

                        José Luís encontrou Severino em 1918, nas rodas artísticas do Recife. Começaram a tocar juntos, organizando um grupo, Os Turunas Pernambucanos, onde apareciam ao lado de Pirauá, Romualdo e João Frazão, violonistas, Robson, cavaquinista, Artur Souza, percussionista, e um vocalista não identificado, que usava o pseudônimo Preá.

 

Os Turunas Pernambucanos

 

                        Todos os seus integrantes adotavam apelidos de bichos, permanecendo os de Jararaca e Ratinho, mesmo depois de sua dissolução: Juntamente com os Turunas da Mauriceia, influenciaram a música carioca no final da Década de 1920 e começo da Década de 1930, como pode ser verificado no grupo Bando de Tangarás, criado no bairro de Vila Isabel, que contava entre outros com Noel Rosa, Almirante e Braguinha.

 

                        Em 1921, os Turunas Pernambucanos exibiram-se por 15 dias no Cine-Teatro Moderno com o conjunto Oito Batutas – formado por Pixinguinha, saxofone e flauta, Donga, violão, China, voz, violão e piano, Raul Palmieri, violão, Nélson Alves, cavaquinho, José Alves, bandolim e ganzá, Jacó Palmieri, pandeiro, e Luís Oliveira, bandola e reco-reco –, que visitava o Recife. Foi o estímulo decisivo para o grupo, convidado então para os festejos do Centenário da Independência do Brasil, no Rio de Janeiro, em 1922, fazendo grande sucesso com suas emboladas, cocos, choros, valsas e seus trajes típicos: alpercatas e chapéus de couro.

 

                        Desfazendo-se os Turunas, formou-se a dupla na inauguração do Teatro Santa Helena, na Praça da Sé, São Paulo, em 1927, empolgando o público com emboladas e esquetes humorísticos, geralmente satirizando o momento político vivido na época. Seus quadros exploravam também situações envolvendo “turcos”, caipiras e gente da roça.

 

Jararaca e Ratinho: campões de irreverência 

                        Ratinho imortalizou-se como saxofonista, ao compor e gravar o choro Saxofone, Por Que Choras?, item obrigatório em qualquer antologia chorona. Seu trabalho como instrumentista é aqui apresentado nas Faixas de 01 a 19.

 

Jararaca e Ratinho em ação

 

                        Jararaca, por sua vez, não deixou por menos, isso no âmbito do Carnaval Brasileiro. A marchinha Mamãe, Eu Quero, dele e de Vicente Paiva, é até hoje a mais tocada e cantada em qualquer festejo momesco, seja nos salões ou nos blocos de sujo.

 

                        Para dar-lhes pequena amostra do variadíssimo repertório da Dupla, escolhi as faixas abaixo, dentro dos diferenciados gêneros que a fizeram famosa.

 

RATINHO EM SOLO DE SAXOFONE 

Brincando - Choro (Ratinho) 1930

 

Cenira - Valsa (Ratinho) 1930

 

Nas Bandas do Sul - Rancheira (Ratinho) 1931

 

Brincando Contigo - Choro (Ratinho) 1939

 

Vera - Valsa (Ratinho) 1940

 

Pinicadinho - Choro (Ratinho) 1947

 

Fala, Saxofone - Choro (Ratinho) 1949

 

Minha Tristeza - Choro (Ratinho) 1951

 

Não Me Compreendeste - Valsa - (Ratinho) 1951

 

Saxofone, Por Que Choras? - Choro (Ratinho) 1930

  

JARARACA NO CARNAVAL 

A Baiana Tem - Maxixe (Jararaca e Sátiro de Melo) Jararaca - 1940

 

As Vitaminas - Marcha (Pixinguinha e Jararaca) Jararaca - 1948

 

Bonito! - Marcha (Jararaca e Ratinho) Jararaca e Ratinho - 1945

 

Eu Vou Quebrar o Coco - Samba (Jararaca e Roberto Martins) Jararaca - 1940

 

Flauta de Bambu - Marcha (Nássara e Sá Roris) Jararaca - 1939

 

Lá Vai Ela - Marcha (Jararaca e Vicente Paiva) Jararaca - 1937

 

Meu Pirão Primeiro - Marcha (Jararaca e Valfrido Silva) Jararaca e Ratinho - 1945

 

Oh! Zé - Marcha (Jararaca e Vicente Paiva) Jararaca - 1939

 

Vamos, Maria, Vamos - Maxixe (Jararaca e Vicente Paiva) Jararaca - 1938

 

Mamãe, Eu Quero - Marcha (Jararaca e Vicente Paiva) Jararaca - 1937

 

 

JARARACA E RATINHO 

                        Aqui, vocês encontrarão as gravações da dupla nos gêneros que a popularizaram no início da carreira: embolada, coco, desafio e outros. 

Sapo no Saco - Embolada (Jararaca) Jararaca e Ratinho - 1929

 

Gato Cabeçudo - Embolada (Jararaca) Jararaca e Ratinho - 1929

 

Vamo Apanhar Limão - Embolada (Jararaca) Jararaca e Ratinho - 1929

 

Baiana - Maxixe (Luperce Miranda) Jararaca e Ratinho - 1929

 

Meu Noivado - Embolada (João Pernambuco) Jararaca e Ratinho - 1930

 

Coco do Mato - Coco (Jararaca e Ratinho) Jararaca e Ratinho - 1930

 

Vamo Cortá Cana - Embolada (Jararaca) Jararaca e Ratinho - 1930

 

Saco e Bisaco - Embolada (Jararaca) Jararaca e Ratinho - 1930

 

A-B-C - Embolada (João Pernambuco) Jararaca e Ratinho - 1930

 

Lá Vai Desafio - Desafio (Jararaca) Jararaca e Ratinho - 1948

 

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MPB da Velha Guarda quinta, 03 de novembro de 2016

JORGE GOULART, O GARGANTA DE AÇO

JORGE GOULART, O GARGANTA DE AÇO

Raimundo Floriano

  

                        Jorge Neves Bastos, o Jorge Goulart, nasceu no Rio de Janeiro (RJ), à Rua Araripe Júnior, bairro Andaraí, no dia 16 de janeiro de 1926, cidade onde veio a falecer no dia 17 de março de 2012, aos 86 anos de idade. Era filho do jornalista Iberê Bastos e de Arlete Neves Bastos, do lar.

 

                        Sua morte aconteceu uma semana antes da do humorista Chico Anysio, ocorrida no dia 23 seguinte. Para o ator global, o Correio Braziliense dedicou, na primeira lapada, afora menção nas edições seguintes, caderno com 8 páginas, e a revista Veja, mais 4. Quanto a Jorge, o Correio se calou, e a Veja publicou apenas esta lacônica nota, na seção Datas, tópico Morreram:

 

                         Não considero descaso da grande imprensa com esse grande ídolo da Velha Guarda da MPB. Se Chico criou 209 personagens, Jorge deixou 217 títulos gravados, todos em meu acervo. A imensa discrepância entre a cobertura dada ao falecimento do humorista e ao do cantor reside no aspecto de que Chico se encontrava em plena atividade, enquanto que Jorge se distanciara dos microfones e do palco, havia muito tempo, devido a problemas de saúde.

 

                        A única homenagem digna em toda a mídia a Jorge Goulart aconteceu no Jornal da Besta Fubana. No dia 19.03.12, nosso colega Walter Jorge, compositor, músico e pesquisador, em sua coluna Conversa de Matuto, dedicou-lhe oportuna crônica, estampando capa de um de seus discos e postando duas de suas gravações: o samba Divina Dama, de Cartola, e valsa Luzes da Ribalta, de Charles Chaplin, versão de João de Barro e Antônio Almeida. Na ocasião, deixei um comentário sobre o quanto admirava o cantor e prometendo matéria com seu perfil, o que agora faço, trazendo seu nome novamente à tona.

 

                        Jorge Goulart, ainda menino, participava de serestas no bairro do Meyer, cantando sucessos do repertório de Francisco Alves, Vicente Celestino, Carlos Galhardo, e Orlando Silva. Estudou no Colégio Pedro II, onde foi aluno do Maestro Villa-Lobos e solista do coral.

 

                        Em 1943, aos 17 anos, foi apresentado por seu pai aos compositores Benedito Lacerda, Custódio Mesquita e Orestes Barbosa, no antigo Café Nice. Começou aí sua carreira de cantor, apresentando-se no Circo do Dudu e em dancings da Lapa, divulgando composições de Custódio, até fixar-se no Eldorado, onde cantava todas as noites. Com a ajuda do cantor João Petra de Barros, passou a cantar, uma vez por semana, em programa noturno da Rádio Tupi.

 

                        Logo que começou a despontar nas noites cariocas, seus amigos sentiram a necessidade de criar-lhe um nome artístico. Na época, a locutora Heloísa Helena, da patota, fazia o comercial do Elixir de Inhame Goulart. Inspirados no anúncio, os colegas sugeriram o nome Jorge Goulart, que ele adotou no ato.

 

                        Em 1945, por influência de Custódio Mesquita, diretor da RCA Victor, gravou seu primeiro disco 78 RPM, com a valsa A Volta e o samba Paciência, Coração, ambos de Benedito Lacerda e Aldo Cabral.

 

                        O disco, lançado logo depois do Carnaval, resultou em fracasso, talvez porque Jorge cantasse imitando Nelson Gonçalves. Depois, gravou mais dois outros discos e, não obtendo sucesso, foi dispensado da gravadora.

 

                        Continuou, porém, a participar da programação noturna da Rádio Tupi, onde conheceu Ary Barroso que, retornando dos Estados Unidos e reassumindo seu cargo de produtor da emissora, o convidou a cantar sua nova música, Xangô, batuque afro, com letra de Fernando Lobo, no programa de estreia da orquestra que havia formado. Com essa interpretação, firmou-se definitivamente no rádio brasileiro, assinando contrato de exclusividade por quatro anos com a emissora.

 

                        Em 1946, Jorge atuou no show Um Milhão de Mulheres, organizado pelo cineasta, jornalista e produtor Chianca Garcia, que permaneceu em cartaz durante dois anos no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro. A seguir, rumou para Porto Alegre (RS), inicialmente com a troupe de Chianca, passando depois a cantar em boates.

 

                        Em 1949, retornando ao Rio de Janeiro, gravou, pela Continental, o samba Miss Mangueira, de Wilson Batista e Antônio Almeida, e a marchinha Balzaquiana, de Wilson Batista e Nássara, que foi um dos grandes destaques do Carnaval de 1950, consagrando-o como grande intérprete do gênero. O sucesso alcançado com a marchinha lhe valeu um contrato de três anos com a gravadora e a oportunidade de incorporar-se ao elenco da Rádio Nacional, onde ficou durante 15 anos.

 

                        A partir dessa época, lançou inúmeros sucessos carnavalescos e de meio de ano, destacando-se entre estes a valsa Dominó, de Jacques Plante e Paulo Tapajós, o beguine Jezebel, de Shamkin e Cambé da Rocha, e Canção do Moulin Rouge, de Georges Auric, Wiliam Engrnick e Carlos Alberto.

 

                        A carreira de Jorge Goulart no cinema começou em 1949, no filme Também Somos Irmãos, de José Carlos Burle. O excelente desempenho lhe rendeu um contrato de exclusividade com a Atlântida Cinematográfica. No mesmo ano, atuou em Carnaval no Fogo, de Watson Macedo. Participou ainda dos filmes Não é Nada Disso e Aviso aos Navegantes, do mesmo diretor, e Garotas e Samba, de Carlos Manga, entre outros. No filme Tudo Azul, de Moacyr Fenelon, Jorge aparece cantando um de seus maiores sucessos, o samba Mundo de Zinco, de Antônio Nássara e Wilson Baptista, que ficou em primeiro lugar no concurso de músicas para o Carnaval de 1952.

 

                        No mesmo ano, o cantor foi eleito o Rei do Rádio, em concurso organizado pela Associação Brasileira de Rádio. Nessa fase de ouro de sua carreira, Jorge Goulart fez várias gravações de sucesso. Uma de suas mais belas interpretações foi o samba-canção Cais do Porto, de Capiba, o conhecidíssimo compositor pernambucano. O poderoso timbre de sua voz valeu-lhe o apelido de Garganta de Aço.

 

Jorge ao microfone

 

                        Jorge Goulart teve um grande amor em sua vida, a cantora Nora Ney. Os dois se conheceram, em 1952, quando cantavam no Copacabana Palace e, após um período conturbado, assumiram o relacionamento e passaram a viver juntos até a morte da cantora em 2003.

 

Jorge Goulart e Nora Ney 

                        Em meados da Década de 1950, ainda havia uma grande resistência aos sambistas do morro. Jorge Goulart trouxe para o rádio e para o disco músicas de compositores das Escolas de Samba. O primeiro grande sucesso de um desses sambistas gravado por Jorge Goulart foi o samba A Voz do Morro, de Zé Kétty, destaque do Carnaval de 1956, que também foi cantado por Jorge no filme Rio 40 Graus, de Nélson Pereira dos Santos.

 

                        No fim Década de 1950, junto com Nora Ney, Jorge Goulart excursionou por diversos países do Leste Europeu e pela China. Além deles, integravam o grupo Paulo Moura, Conjunto Farroupilha, Dolores Duran e Carmélia Alves. Fizeram vários shows divulgando a música e a cultura brasileiras. Em 1957, Jorge Goulart emplacou outro grande êxito, o samba-canção Laura, de João de Barro e Alcyr Pires Vermelho.

 

                        Na primeira metade da Década de 1960, Jorge Goulart manteve sua marcante presença no cenário musical brasileiro, gravando principalmente músicas para o Carnaval, estourando com as marchinhas Cabeleira do Zezé, de Roberto Faissal e João Roberto Kelly, em 1964, e Joga a Chave, Meu Amor, de Kelly e J. Ruy, em 1965. Nessa mesma década, estreou como intérprete de samba-enredo na Escola de Samba Império Serrano. Em 1965, a Escola levou para a avenida, com sua voz, o samba Cinco Bailes da História do Rio, de Silas de Oliveira, Bacalhau e Ivone Lara. Goulart dizia que o único lugar onde se fazia samba de chão era no morro. No início do Regime Militar que se instalara no Brasil em 1964, Jorge Goulart e Nora Ney, como alguns outros artistas, foram demitidos da Rádio Nacional.

                       

                        A partir então, o meio musical se fechou para os dois, que passaram a excursionar por diversos países, em redor do mundo.  Em 1971, já no Brasil, Jorge fez uma temporada na boate Feitiço da Vila, em Belo Horizonte. Para comemorar os 25 anos de união matrimonial, Jorge Goulart e Nora Ney gravaram, em 1977, o LP Jubileu de Prata. Uma das músicas do LP, interpretadas por ele é o samba-canção Fim de semana em Paquetá, de João de Barro e Alberto Ribeiro. O último disco de Jorge Goulart saiu do espetáculo Oh! As Marchinhas, no qual atuou com Emilinha Borba. O show foi escrito e dirigido por Ricardo Cravo Albin e apresentado em 1981, na Sala Funarte. 

 

                        Em 1982, Jorge Goulart e Nora Ney apresentaram-se no Teatro Gonzaga, em Marechal Hermes, numa série de shows intitulada De Coração a Coração, comemorando seus 30 anos de união.

 

                        Em 1983, Jorge Goulart encontrava-se em plena atividade quando lhe apareceu um câncer na laringe. Submetido a uma cirurgia e perdendo a voz, Jorge não se entregou. Aprendeu a falar usando o esôfago e, ainda no INCA, realizou apresentações de suas músicas em playback, para arrecadar fundos em prol de outros enfermos, mostrando-lhes que, apesar dos percalços, a vida continuava.

 

                        Com esse raciocínio, o cantor seguiu realizando atividades filantrópicas, participando de eventos onde dublava seus sucessos. Por isso, foi agraciado com a Medalha Tiradentes, concedida pela Aessembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, e recebeu homenagens do Exército, do Colégio Pedro II e do Vasco da Gama, seu clube de coração.

 

                        Em 2007, Jorge Goulart casou-se com Antônia Lúcia, que fora enfermeira de Nora Ney até seu falecimento, em 2003, e passou, desde o casamento, segundo os amigos, a ser um verdadeiro Anjo da Guarda para o marido.

                       

                        Comemorou, em janeiro de 2012, seu 86º Aniversário no Teatro Mário Lago, no Colégio Pedro II, com um show que emocionou a toda a plateia. Foi sua despedida do público, deixando sua marca com um dos grandes cantores da Música Popular Brasileira.

 

                        Seu discos, ainda gravados em vida ou em coletâneas post mortem, são facilmente encontráveis na Editora Revivendo e em sebos virtuais.

 

                        Como pequena amostra de seu trabalho, ofereço-lhes o samba Isto Aqui o Que É, de Ary Barroso, lançado em 1942, que Jorge regravou em 1955:

 

                        Luzes da Ribalta, valsa de Charles Chaplin, Antônio Almeida e João de Barro, gravada em 1953:

 

                        Divina Dama, samba de Cartola, gravado em 1977:

 

                        A Volta, valsa de Benedito Lacerda e Aldo Cabral, gravada em 1945:

 

                        Paciência, Coração, samba de Benedito Lacerda e Aldo Cabral, grado em 1945:

 

                        Jezebel, bolero de Wayne Shanklin e Karibé da Rocha, gravada em 1952:

 

                        Canção do Moulin Rouge, foxtrote de Georges Áuric, William Engolck e Carlos Alberto, gravado em 1953:

 

                        Canção de Um Dia de Sol, samba-canção de João de Barro e Alcyr Pires Vermelho, gravado em 1967:

 

                        Cais do Porto, samba de Capiba, gravado em 1953:

 

                        Provei, samba de Noel Rosa e Vadico, participação de Nora Ney, gravado em 1977:

 

 

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MPB da Velha Guarda domingo, 30 de outubro de 2016

ISAURINHA GARCIA, A PERSONALÍSSIMA

ISAURINHA GARCIA, A PERSONALÍSSIMA

Raimundo Floriano

 

 

                        Isaura Garcia, mais conhecida como Isaurinha Garcia, cantora brasileira, nasceu em São Paulo (SP), a 26 de fevereiro de 1923, onde veio a falecer, a 30 de agosto de 1993, aos 70 anos de idade. Era filha de Amélia Pancetti, irmã do célebre pintor paulista Giuseppe Pancetti, não se tendo conhecimento do nome de seu pai.

 

                        Aos 13 anos, ela e a mãe inscreveram-se no programa de calouros A Hora da Peneira Rhodine, da Rádio Cultura de São Pulo, mas nenhuma das duas consegui classificar-se. Algum tempo depois, porém, obteve o primeiro lugar no programa de Otávio Gabus Mendes, da Rádio Record, em que se apresentou cantando o samba Camisa Listrada, de Assis Valente. O êxito deu-lhe a chance de participar de um programa especial, que reunia calouro selecionados.

 

                        Em 1938, foi contratada pela Rádio Record de São Paulo, onde permaneceu por toda a carreira artística. No início, formou dupla com o cantor Vassourinha, da mesma emissora, para shows e apresentações em circos. Em seu repertório, predominavam criações de Carmen Miranda e Aracy de Almeida, duas cantoras que muito a influenciaram.

 

                        Sua primeira gravação, um jingle para o saponáceo Radium, despertou atenção para seu estilo de cantar. Na Columbia, do Rio de Janeiro, gravou, em 1942, seu primeiro disco, com Chega de Tanto Amor, de Mário Lago, e Pode Ser, de Geraldo Pereira e Marino Pinto. No mesmo ano, lançou outros títulos, como A Baratinha, de Antônio Almeida, Eu Não Sou Pano de Prato, de Mário Lago e Roberto Martins, Aproveita, Beleléu, de Marino e Murilo Caldas e O Telefone Está Chamando, de Benedito Lacerda e Popeye do Pandeiro.

                       

                        Seus primeiros êxitos em disco, porém, aconteceram na RCA Victor, com Aperto de Mão, de Meira, Dino e Augusto Mesquita e O Sorriso do Paulinho, de Gastão Viana e Mário Rossi, lançados em 1943, quando também gravou Duas Mulheres e Um Homem, de Ciro de Sousa e Jorge de Castro. Em 1945, lançou Barulho no Morro, de Roberto Martins, e, em 1946, Mensagem, de Cícero Nunes e Aldo Cabral, que se tornaria um clássico de seu repertório e maior sucesso de sua carreira.

 

                        Em 1947, com Os Namorados da Lua, laçou o samba de Lúcio Alves e Haroldo Barbosa De Conversa em Conversa, outro de seus grandes hits. Nessa época, apesar de ser uma cantora de São Paulo, tinha popularidade nacional e era uma das maiores estrelas da Rádio Record. Costumava apresentar-se, também, no Copacabana Palace Hotel e no programa César de Alencar, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, além de realizar excursões por todo o Brasil.

  

                        Crescente foi, igualmente, o êxito que ia alcançando na RCA Victor: A toada Mariquinha, de Denis Brean e Raul Duarte, o choro Velho Enferrujado, de Gadê e Valfrido Silva, e o baião Pé de Manacá, de Hervé Cordovil e Marisa Pinto Coelho, cantado em dupla com Hervé, foram de imenso sucesso em 1950.

 

                        Continuou na Victor até 1956, quando se transferiu para a Odeon, estreando com o samba de Billy Blanco Mocinho Bonito. Em 1957, gravou seu primeiro LP – 10 polegadas –, A Personalíssima, alusão ao cognome que lhe fora dado por Blota Júnior, animador da Record. 

 

                        Por essa época, numa excursão ao Recife, conheceu o organista Walter Wanderley, com quem viria a se casar e gravar alguns elepês, entre eles Sempre Personalíssima, destacando-se Feiura Não É Nada, de Billy Blanco, e E Daí, de Miguel Gustavo; Saudade Querida, destacando-se Ninho do Nonô, de Denis Brean e Corcovado, de Tom Jobim; A Pedida É Samba, destacando-se Palhaçada, de Haroldo Barbosa e Luís Reis, e Que É Que Eu Faço, de Ribamar e Dolores Duran; Sambas da Madrugada, destacando-se Ah! Se Eu Pudesse, de Ronaldo Bôscoli e Roberto Menescal; e Atualíssima, destacando-se Errinho À-toa, da mesma dupla. 

 

                        Em 1969, voltou a gravar, para a Continental, dois elepês: Martinho da Vila/Dolores Duran na Voz de Isaura Garcia e Ary Barroso/Billy Blanco na Voz de Isaura Garcia, e participou do V FMPB, da TV Record, defendendo a canção Primavera, de Lupicínio Rodrigues e Hamilton Chaves. Em 1970, lançou Chico Buarque/Noel Rosa na voz de Isaura Garcia, aposentou-se da Rádio Record, mas continuou a apresentar-se em shows na Igrejinha, na Casa de Badalação e no Tédio, em São Paulo. 

 

                        Em1973, gravou, ainda para a Continental, o LP Isaura Garcia, em que se destacavam as faixas Desmazelo, de Antônio Carlos e Jocafi, e reprise de De Conversa em Conversa e Mensagem

 

                        Fazendo excursões ocasionais, nunca deixou de morar em São Paulo

 

                        Com mais de cinquenta anos de carreira, gravou em torno de 300 canções. No ano de 2003, foi homenageada com a peça Isaurinha - Samba, Jazz & Bossa Nova, interpretada por Rosamaria Murtinho, grande sucesso de crítica e de público.

 

                        Para que vocês conheçam um pouco do trabalho desse genial ícone da MPB, apresento-lhes algumas canções que inebriaram minha geração.

 

                        Aperto de Mão, samba de Meira, Dino e Augusto Mesquita, lançado em 1943:

 

                        O Sorriso do Paulinho, samba de Gastão Viana e Mário Rossi, lançado em 1943:

 

                        Barulho no Morro, samba de Roberto Martins, lançado em 1945:

 

                        Mensagem, samba-canção de Cícero Nunes e Aldo Cabral, lançado do 1946:

 

                        Não Faças Caso, Coração, samba de Custódio Mesquita e Ewaldo Ruy, lançado em 1945:

 

                        De Conversa em Conversa, samba-canção de Lúcio Alves e Haroldo Barbosa, com a participação de Os Namorados da Lua, lançado em 1947:

 

                        Pé de Manacá, baião de Hervé Cordovil e Marisa Pinto Coelho, com a participação de Hervé, lançado em 1950:

 

                        Babaquara, marchinha de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, lançada em 1952

 

                        Mocinho Bonito, samba-canção de Billy Blanco, lançado em 1956:

 

                        E Daí?, samba de Miguel Gustavo, lançado em 1958:

 

                        Corcovado, samba-canção de Tom Jobim, lançado em 1960:

 

                        Palhaçada, samba de Haroldo Barbosa e Luís Reis, lançado em 1963:

 


MPB da Velha Guarda quinta, 27 de outubro de 2016

CARMEN MIRANDA, A PEQUENA NOTÁVEL

CARMEN MIRANDA, A PEQUENA NOTÁVEL

Raimundo Floriano

 

Carmen Miranda

(9.2.1909 – 5.8.1955)

 

                        Maria do Carmo Miranda da Cunha nasceu em Marco de Canavezes, Portugal, a 9.2.1909. Tinha apenas 10 meses quando veio para o Brasil com sua mãe, Maria Emília Miranda da Cunha e a irmã mais velha, Olinda, seguindo o pai, o barbeiro José Maria Pinto da Cunha, que aqui já se encontrava, o qual lhe dera o cognome Carmen devido à sua grande paixão pela ópera.

 

                         Nunca voltou à sua terra natal, o que não impediu que a Câmara do Conselho de Carmo de Canavezes, muitos anos mais tarde, desse seu nome ao Museu Municipal.

 

                        Fez os primeiros estudos no colégio de freiras Escola Santa Teresa, do Rio de Janeiro e, desde essa época, revelou jeito extraordinário para cantar. Apresentou-se no colégio declamando para o Núcleo Apostólico, chamando a atenção por sua peculiar gesticulação.

 

                        Dificuldades financeiras da família obrigaram-na a trabalhar. Aos 15 anos, conseguiu emprego de balconista e, mais tarde, de chapeleira, numa loja de artigos femininos. Costumava cantar com as irmãs Olinda e Cecília na pensão que a mãe instalara, sempre frequentada por músicos.

 

                        Em 1929, o violonista Josué de Barros, seu descobridor e protetor artístico, levou-a para a Rádio Sociedade. Para sua primeira gravação, realizada na Brunswick, recém-inaugurada, Josué compôs os sambas Não Vá-se Embora e Se o Samba é Moda. No seu segundo disco, já na RCA Victor, lançou as toadas Triste Jandaia e Dona Balbina, ambas também de Josué.

 

                        Para o Carnaval de 1930, gravou as marchinhas Iaiá, Ioiô, de Henrique Vogeler, Luiz Peixoto e Marques Porto, e Taí (Pra Você Gostar de Mim), escrita especialmente para ela por Joubert de Carvalho, a qual teve sucesso estrondoso é até hoje é tocada nos salões e nos blocos de sujo em que se cultuam os sucessos carnavalescos do passado.

 

                        Daí pra frente, sua carreira teve ascensão meteórica. Trabalhou em teatros, revistas, clubes, participou de filmes e excursionou pelo Brasil e países da América do Sul. Sua discografia de quase 500 faixas consigna todos os grandes autores de sua época.

                        Em 1933, começou a gravar composições de Assis Valente, de quem se tornaria a principal intérprete, lançando entre as primeiras as marchinhas e Etc. e Good Bye. No ano seguinte, vieram novos êxitos: Alô, Alô, samba de André Filho, Isto É lá com Santo Antônio, marcha de Lamartine Babo, em dupla com Mário Reis, e nova excursão ao exterior, dessa vez à Argentina, com Aurora Miranda, sua irmã mais nova, e o Bando da Lua.

 

                        Em 1938, ao lado de Dircinha Batista, Linda Batista, Emilinha Borba, Carlos Galhardo, Orlando Silva e Aurora Miranda, atuou no filme Banana da Terra, de J. Ruy, no qual se apresentou pela primeira vez vestida de baiana para interpretar, acompanhada pelo Bando da Lua, o samba de Dorival Caymmi O Que É Que a Baiana Tem, também lançado em disco, em dueto com Caymmi, para o Carnaval de 1939.

 

                        Acompanhada pelo Bando da Lua, apresentava-se no Cassino da Urca, no Rio de janeiro, com roupa de baiana estilizada que, assim como sua característica gesticulação com os braços, marcou fundamentalmente sua imagem pública.

 

                        Em 1939, quando era a cantora de maior prestígio da Música Popular Brasileira, seguiu para os Estados Unidos, contratada pelo empresário norte-americano Lee Schubert, estreando, com o Bando da Lua – que lá ficou conhecido como The Moon Gang – na revista musical Streets of Paris, na Broadway, onde cantava Mamãe, Eu Quero, de Jararaca e Vicente Paiva, Marchinha do Grande Galo, de Lamartine Babo e Paulo Barbosa), Touradas em Madrid, de João de Barro e Alberto Ribeiro, e South American Way, de Al Dubin e Jimmy Mc Hugh, um de seus grandes sucessos na Terra de Tio Sam. Nesse mesmo ano, exibiu-se com a Orquestra de Romeu Silva na Feira Mundial de Nova Iorque.

 

                        Em 1940, apresentou-se na Casa Branca para o presidente Franklin Delano Roosevelt, já sendo considerada a terceira personalidade mais popular de Nova Iorque. Era então conhecida como The Brazilian Bombshell. Nesse período, manteve casos amorosos com os atores John Wayne e Dana Andrews e também com o brasileiro Aloysio de Oliveira, integrante do Bando da Lua.

 

                        Em julho do mesmo ano, voltou ao Brasil e, apesar da calorosa recepção durante sua chegada, sua re-estréia no Cassino da Urca foi marcada pela frieza do público.

 

                        Acusada de voltar “americanizada”, reformulou então seu repertório – naquela fase com ritmo muito à base de rumbas – e apresentou-se novamente no Cassino, obtendo êxito esmagador. Gravou, pela Odeon, as músicas que cantava no show e que eram, de certa maneira, uma resposta às críticas: Disseram Que Voltei Americanizada, Disso É Que eu Gosto, Voltei Pro Morro, as três de Vicente Paiva e Luiz Peixoto, e Diz Que Tem, de Vicente Paiva e Hannibal Cruz.

 

                        Em 1941, voltou para os Estados Unidos, contratada para atuar no cinema, em Hollywood, onde viveu até o fim da vida. Trabalhou em Uma Noite no Rio, de Irving Cummings, Aconteceu em Havana, de Walter Lang, Minha Secretária Brasileira, de Irving Cummings, Entre a Loura e a Morena, de Busby Berkeley, Serenata Boêmia, de Walter Lang, e mais outros filmes. Em 1944, chegou a ser uma das artistas mais bem pagas naquele país, trabalhando em show, filmes e rádio. Anos mais tarde, estrelou o filme Copacabana, de Alfred Green, ao lado de Grouxo Marx, apresentou-se com grande sucesso no teatro Palladium, em Londres. Também atuou no Havaí.

 

                        Em 1947, casou-se com o americano David Sebastian. Esse matrimônio é apontado por todos os biógrafos e estudiosos de Carmen Miranda como o começo de sua decadência física. O marido, antes um simples empregado de produtora de cinema, tornou-se seu “empresário” e conduzia mal os negócios contratados. Também era alcoólatra, e pode ter induzido Carmen a consumir bebidas alcoólicas, das quais se tornou dependente.

 

                         O casamento entrou em crise já nos primeiros meses, mas ela não aceitava o divórcio, pois era católica convicta. Engravidou em 1948, mas sofreu aborto espontâneo depois de uma apresentação.

 

                                                Em 1954, consagrada internacionalmente, voltou ao Brasil para rever a família e descansar de esgotamento nervoso, realizando alguns espetáculos.

 

                        Retornou para os Estados Unidos em 1955 e, quatro meses depois, a 5 de agosto, com apenas 46 anos de idade, vinha a falecer do coração em sua casa, em Beverly Hills, Hollywood. Suas últimas atuações foram em Havana, em Las Vegas e na TV americana, em shows de Jimmy Durante.

 

                        Seu enterro no Rio de Janeiro foi acompanhado por cerca de 500 mil pessoas, cantando Taí, seu primeiro sucesso.

 

                        A Pequena Notável, como era também conhecida, que marcava suas apresentações cantando e dançando com turbante na cabeça, tamancos altíssimos e muitos balangandãs, gesticulando com as mãos e revirando os olhos, deixou sua imagem registrada em 19 filmes e mais de 150 discos, norte-americanos e brasileiros. Além da aura que sempre cercou sua personalidade esfuziante, capaz de fascinar a juventude, tantos anos depois de sua morte.

 

                        Na matéria Carmen Miranda e o Carnaval, apresentei um pouco de sua atuação nos festejos momescos. Aqui vi uma pequena amostra de seu trabalho de meio de ano.

 

                        Voltei Pro Morro, samba de Vicente Paiva e Luiz Peixoto, lançado em 1940:

  

                        Disseram Que Voltei Americanizada, samba de Vicente Paiva e Luiz Peixoto, lançado em 1941:

  

                        Boneca de Piche, samba de Ary Barros e Luiz Iglésias, coma participação de Almirante, lançado em1938:

  

                        Na Baixa do Sapateiro, samba de Ary Barroso, lançado em 1938:

  

                        Recenseamento, samba de Assis Valente, lançado em 1941:

 

 

                        Para que tenham ideia de seu visual, selecionei esta bonita cena do filme americano Copacabana, onde canta, acompanhada pelo Bando da Lua, o choro Tico-tico no fubá, de Zequinha d Abreu, Drake e Aloysio de Oliveira: 

 

 


MPB da Velha Guarda terça, 25 de outubro de 2016

LINDA RODRIGUES, VERDES OLHOS DA MPB

LINDA RODRIGUES, VERDES OLHOS DA MPB

Raimundo Floriano

 

Encantadores olhos verdes

 

                        Tenho o prazer de  arpresentar-lhes verdadeira preciosidade, configurada nesta cantora, ícone da MPB há muito tempo no ostracismo, no baú do esquecimento da Memória Nacional.

 

                        Linda Rodrigues, batizada Sofia Gervazone, nasceu no Rio de Janeiro (RJ), a 11 de agosto de 1919, onde faleceu em novembro de 1997. Foi considerada uma das cantoras que melhor representaram a dor de cotovelo.

 

                        Carioca, nascida na Tijuca, sua formação moral foi das mais rígidas, pois fez o Curso Primário e o Ginasial na Escola Maria Raythe, um colégio de freiras do bairro, sendo seu padrinho de crisma o Cardeal Dom Sebastião Leme, que gostava muito dela. Atendendo um pedido de sua mãe, formou-se em Enfermeira pela Escola Ana Nery, embora nunca tenha exercido a profissão. Começou a estudar Medicina em Belém do Pará, onde morou 2 anos com a irmã e o cunhado, que era comandante da Marinha de Guerra. Pouco depois, sua mãe falecia.

 

                        Sua primeira experiência artística aconteceu em 1936, no Rio de Janeiro, quando cantou na Radio Transmissora, sob a orientação de Renato Murce, atuando ao lado de Odete Amaral, Ciro Monteiro, Orlando Silva e Emilinha Borba, que era igualmente amadora como Linda.

 

                        Poucos são os dados biográficos sobre essa grande cantora da Velha Guarda, por isso, vou ater-me, daqui pra frente, ao que consta do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.

 

                        Começou a carreira artística em 1945, na Continental, onde gravou os sambas Enxugue as Lágrimas, de Elpídio Viana e Carneiro da Silva e Abaixo do Nível, de Alvaiade e Odaurico Mota. Daí em diante, consolidou seu nome no mercado fonográfico.

 

                        Em 1946, gravou a marchinha Atchim, de J. Piedade e Príncipe Pretinho, e o samba Claudionor, de Cândido Moura e Miguel Bauso. Em 1948, gravou a rumba Jack, Jack, Jack, de Haroldo Barbosa e Armando Castro, e o samba-canção Mais Um Amor, Mais Uma Desilusão, de José Maria de Abreu. Em 1951, gravou, pela Star, o samba-canção Os Dias Que Lhe Dei, de Newton Teixeira e Airton Moreira, e o samba Raça Negra, de Ailce Chaves e Paulo Gesta. Em 1952, gravou o samba Lama, de Paulo Marques e Ailce Chaves, que veio a ser, não apenas seu maior sucesso como um dos sambas-canções mais celebrados no repertório da fossa, e o bolero Nossos Caminhos, de Airton Amorim e Nogueira Xavier.

 

                        Lama embalou os momentos seresteiros de minha juventude e mereceu inúmeras regravações, inclusive de outras consagradas intérpretes, como Ângela Maria, Núbia Lafayette, Maria Bethânia e, há bem pouco tempo, relançada pelo forrozeiro/brega João Bandeira.

 

                        Em 1953, gravou, pela Sinter, o samba Sombra e Água Fresca, de Geraldo Mendonça e Russo do Pandeiro, e a marchinha Bambeio Mas Não Caio, de Elvira Pagã, Ailce Chaves e Paulo Marques. Em 1954, gravou o samba Sereno Cai, de Raul Sampaio e Ricardo Galeno, e a marchinha Tá Tão Bom, de Três Amigos. Em 1955, gravou, pela Continental, o samba Ninguém me Compreende, de Peterpan, e o samba-canção Vício, de sua autoria e José Braga, com acompanhamento de Guaraná e sua Orquestra. No mesmo ano gravou, pela Todamérica, a marchinha Rico É Gente Bem, de A. Rebelo, Jorge Rupp e Ari Monteiro, e o samba Folha de Papel, de Paulo Marques, Sávio Barcelos e Ari Monteiro.

 

 

                        Em 1956, gravou os sambas-canções Farrapo Humano, de sua autoria e Ailce Chaves, e Queimei Teu Retrato, de Noel Rosa e Henrique Brito. Em 1957, gravou os sambas Violeta, de Mirabeau e Dom Madri, e Recompensa, de Tito Mendes, Nilo Silva e Osvaldo França. No mesmo ano, gravou os sambas-canções Pianista, de Irani de Oliveira e Ari Monteiro, e Comentário Barato, de Jaime Florence e J. Santos. Em 1958, gravou os sambas Chorar Pra Quê?, de Aldacir Louro e Silva Jr., e Quando o Sol Raiar, de Mirabeau, Sebastião Mota e Urgel de Castro. No mesmo ano, registrou ainda o samba Sereno no Samba, de Aldair Louro e Dora Lopes, e o bolero Nada Me Falta, de sua autoria e Aldacir Louro, e teve a marchinha Copa do Mundo e o samba Samba da Vitória, ambos com Aldacir Louro, gravados na RCA Victor pelo Coro e Orquestra RCA Victor. Em 1959, gravou, pela RCA Victor, o samba Tem Areia, de sua autoria e José Batista, e a marchinha Marcha da Folia, de sua autoria, Aldacir Louro e Silva Jr.

 

                        Em 1960, gravou os sambas-canções Negue, de Adelino Moreira e Enzo de Almeida Passos, e Tenho Moral, de sua autoria e Castelo. No mesmo ano, gravou Companheiras da Noite, samba-canção de sua autoria, Ailce Chaves e William Duba. Em 1961, lançou, pela Chantecler, o LP Companheiras da Noite:

 

 

FAIXAS DESSE ÚNICO LP DE LINDA RODRIGUES:

LADO A

1 - Lama (Ailce Chaves e Paulo Marques)

2 - Negue (Adelino Moreira e Enzo de Almeida Passos)

3 - Tião (Jair Amorim e Dunga)

4 - Pedro no Caminho (Aldacyr Louro e Linda Rodrigues)

5 - Documento (Aldacyr Louro e Linda Rodrigues)

6 - Final de Nosso Drama (Aldacyr Louro e Linda Rodrigues)

LADO B

1 - Aquelas Mãos (Aldacyr Louro e Linda Rodrigues)

2 - Pó do Asfalto (Aldacyr Louro e J. Portela)

3 - Cigarra Noturna (Aldacir Louro e Genival Melo)

4 - Companheiras da Noite (Ailce Chaves e William Duba)

5 - Tenho Moral (Linda Rodrigues e Castelo)

6 - Escondida (Luiz Alcarez; versão de Martha de Almeida)

 

                        Como visto acima, Além de cantar, Linda Rodrigues era compositora e fez parcerias com grandes criadores como J. Piedade, Ailce Chaves, Aldacir Louro, José Batista, Castelo, José Braga e outros.

 

                        No ano de 1955, o samba-canção Vício, fruto de uma parceria com José Braga, levou-a às paradas de sucesso. Sua discografia, que vai de 1945 a 1961, gira em torno de 50 títulos.

 

 

                        O início da Década de 1960, com o aparecimento da Bossa Nova e o incremento do Rock, foi cruel para o pessoal da Velha Guarda e marcou a retirara voluntária de Linda Rodrigues do meio artístico. Poderia, com suja esfuziante beleza, ser uma das estrelas da TV. Mas os tempos modernos requeiram novas caras, o que resultou em impiedosa iconoclastia.

 

                        Esta foi uma das poucas estrelas do sul-maravilha que conheci em Teresina (PI), onde estudava, em 1953, quando, após o retumbante sucesso de Lama, fez uma turnê pelo Nordeste, sendo por lá praticamente desconhecida.

 

                        Linda Rodrigues nadou de braçada pelos ritmos dominantes em sua época. Como amostra disso, aí vai esta pequena seleção:

 

                        Chorinho - Banco da Praça, Paquito, Ciro de Souza e João Bastos Filho;

 

                        Marchinha - Barca da Cantareira, de Arnaldo Ferreira e J. Rupp;

 

                        Samba - Cantora de Samba, de Armando Régis;

 

                        Rumba - Jack, Jack, Jack, de Haroldo Barbosa e Armando Castro;

 

                        Bolero - Nossos Caminhos, de Airton Amorim e Nogueira Xavier, tremendo sucesso em 1952; e

 

                        Samba-canção - Lama, de Paulo Marques e Ailce Chaves, sucesso absoluto ontem, hoje e sempre. 

 

 


MPB da Velha Guarda segunda, 24 de outubro de 2016

DERCY GONÇALVES, CANTORA, VEDETE E ATRIZ

DERCY GONÇALVES

Raimundo Floriano

 

Dercy Gonçalves

 

                        Guardo comigo uma preciosidade musical, raridade mesmo, que agora desejo compartilhar com todos vocês. Mas, para fazê-lo, acho necessário falar um pouco da história de sua intérprete.

 

                        Dolores Gonçalves Costa, a Dercy Gonçalves, nasceu em Santa Maria Madalena (RJ), a 23.6.1907, e faleceu no Rio de Janeiro, a 19.7.2008. Foi uma atriz, humorista e cantora brasileira, oriunda do Teatro de Revista, notória por suas participações na produção cinematográfica brasileira das décadas de 1950 e 1960, sendo reconhecida pelo Guinness Book como a atriz com maior tempo de carreira na história mundial: 86 anos. Celebrada por suas entrevistas irreverentes, bom humor e emprego constante de palavras de baixo calão, foi um dos maiores expoentes do teatro de improviso no Brasil.

 

                        Originária de família muito pobre, nasceu no interior fluminense, em 1905, sendo registrada apenas em 1907, procedimento comum na época, pela falta de acesso a Cartórios e informações sobre a importância de um registro. Faleceu, portanto aos 103 nos de idade.

 

                        Era filha do alfaiate Manuel Gonçalves Costa e da lavadeira Margarida Gonçalves Costa. Sua mãe abandonou o lar e os sete filhos, ao descobrir a infidelidade do marido. Dercy, abandonada pela mãe ainda pequena, foi criada pelo pai, alcoólatra. A menina foi crescendo na convivência com um pai bêbado em casa e sofreu muito com o abandono da mãe, de quem nunca mais teve notícia.

 

                        Para ajudar nas despesas de casa, Dercy foi trabalhar numa bilheteira de cinema. Vendo os filmes nas horas de expediente do serviço, aprendeu a se maquiar e a atuar como as artistas. Seu grande sonho era seguir carreira artística. Mesmo não sendo ainda atriz profissional, apresentava-se em teatros improvisados para hóspedes dos hotéis em sua cidade natal.

 

                        Aos dezessete anos, com o intuito de ver seu sonho virar realidade, fugiu de casa para Macaé, embaixo do vagão de um trem, arriscando a própria vida pelo sonho de ser artista, isso para se juntar a uma trupe de teatro mambembe que lá estava, com diversos atores de circo experientes, na qual ela poderia trabalhar, a Companhia de Maria Castro.

 

                        Após algum tempo morando em Macaé e trabalhando no teatro circense, Dercy seguiu com a Companhia para Minas Gerais, onde estreou em 1929. Nessa vida itinerante, fez dupla com Eugênio Pascoal, em 1930, com quem se apresentou por cidades do interior de alguns estados, sob o nome de Os Pascoalinos.

 

                        Dercy apaixonou-se por Eugênio Pascoal, que foi seu primeiro namorado. Após alguns anos juntos, acabaram se separando, devido a incompatibilidade de gênios. Ela era uma típica moça do interior, ingênua e alegre, que, mesmo fugida de casa e tendo se relacionado com o namorado, ainda brincava com bonecas de pano que tinha desde criança. Isso mostra seu espírito doce e infantil, a sensibilidade que lhe possibilitou ser de fato uma artista.

 

 

                        Enquanto excursionava com a trupe pelo interior de Minas Gerais, Dercy contraiu tuberculose, tendo que se afastar de sua maior paixão, o circo. Um exportador de café mineiro, chamado Ademar Martins Senra, a conheceu quando passava próximo à tenda do circo, e se encantou por ela, não importando a moléstia grave de que padecia, e pagou todas as contas do sanatório para sua internação, vez que ela que não dispunha de recursos suficientes para custear o tratamento.

 

                        Depois de curada, em 1934, e tendo largado o circo, Dercy viveu um romance com Ademar, mesmo ele sendo casado, advindo, desse relacionamento de 2 anos, Dercimar, sua única filha, em 1936. Quando a menina nasceu, Ademar registrou-a, e, às vezes, ia visitá-las, mas não podiam morar juntos pelo fato de ele ser casado e o romance deles ser secreto. Um dia, porém, não apareceu mais, o que fez Dercy encarar, sozinha, a criação da filha, voltando à vida teatral, que abandonara por conta do romance então desfeito.

 

                        Especializando-se na comédia e no improviso, participou do auge do Teatro de Revista Brasileiro, nos anos 1930 e 1940, protagonizando algumas delas, como Rei Momo na Guerra, em 1943, de autoria de Freire Júnior e Assis Valente, na Companhia do empresário Walter Pinto.

 

                        Na década de 1960, iniciou sua carreira solo. Suas apresentações, em diversos teatros brasileiros, conquistavam um público cheio de moralismos. Nesses espetáculos, introduziu um monólogo, no qual relatava fatos autobiográficos. Paralelamente a essas apresentações, atuou em diversos filmes do gênero chanchada e comédias nacionais.

 

                        Na televisão, chegou a ser a atriz mais bem paga da TV Excelsior, em 1963, onde também conheceu o executivo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Depois, passou para a TV Rio e, mais tarde, já na TV Globo, convenceu Boni a trabalhar na emissora, junto com Walter Clark.

 

                        De 1966 a 1969, apresentou, na Globo, um programa de auditório de muito sucesso, Dercy de Verdade, que acabou saindo do ar com a intensificação da censura no país após o AI-5. No final dos Anos 1980, quando a censura permitiu maior liberalismo na programação, Dercy passou a integrar corpos de jurados em programas populares, como em alguns apresentados por Silvio Santos, e até aparições em telenovelas da Rede Globo. No SBT, voltou a experimentar um programa próprio que, entretanto, teve curtíssima duração.

 

                        Sua carreira foi pautada pelo individualismo, tendo sofrido, já idosa, um desfalque nas economias por parte de um empresário inescrupuloso, o que a fez voltar ao batente, na octogenariedade.

 

                        Recebeu, em 1985, o Troféu Mambembe, numa categoria criada especificamente para homenageá-la: Melhor Personagem de Teatro.

 

                        Em 1991, foi enredo – BravíssimoDercy Gonçalves, o Retrato de Um Povo –, da Unidos do Viradouro, na primeira apresentação da Escola no Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro. Na ocasião, Dercy causou polêmica, ao desfilar, no último carro com os seios à mostra.

 

                        Em 4 de setembro de 2006, aos 99/101 anos, recebeu o título de Cidadã Honorária da Cidade de São Paulo, concedido pela Câmara de Vereadores.

 

                        No dia 23 de junho de 2007, Dercy completou cem anos, oficialmente, comemorados com grande festa na Praça Coronel Braz, Centro do Município de Santa Maria Madalena, sua cidade natal.

 

                        Foi também nesse mês que Dercy subiu pela última vez ao palco, na comédia teatral Pout-Pour Rir, espetáculo criado e dirigido pela dupla Afra Gomes e Leandro Goulart, onde comemorou Cem Anos de Humor, com direito a linda festa e noite de autógrafos de seu DVD biográfico.

 

                        Dercy faleceu no dia 19 de julho de 2008, no Hospital São Lucas, em Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro, sendo sepultada em Santa Maria Madalena. A causa da morte teria sido complicações decorrentes de uma pneumonia comunitária grave. O Estado do Rio de Janeiro decretou luto oficial de três dias em sua memória.

  

                        Sua biografia encontra-se narrada no livro Dercy de Cabo a Rabo, de Maria Adelaide Amaral, lançado em 1994. Dercy de Verdade é o título da minissérie sobre sua vida, também escrita por Maria Adelaide Amaral, direção de Jorge Fernando, com 4 capítulos, exibida pela Rede Globo a partir do dia 10 de janeiro de 2012.

 

                        A filmografia de Dercy Gonçalves, que vai de 1943, com Samba em Berlim, até 2008, com Nossa Vida Não Cabe Num Opala, perfaz 25 títulos.

 

                        Em 1986, quando adquiri meu primeiro videocassete, assisti a todos os filmes brasileiros disponíveis nas locadoras do Distrito Federal. Consequentemente, a todos os estrelados por Dercy, quer como protagonista, quer como coadjuvante. Aqui, as capas de alguns deles:

 

 

                        Agora, passo a falar da raridade acima prometida. Ela foi interpreta por Dercy no filme Absolutamente Certo, de 1957, cuja capa adiante se vê: 

 

                        Trata-se do maxixe Jura, composto por Sinhô em 1929. O que o faz raro é o fato de aqui ser apresentado na íntegra. No filme, facilmente acessado através do Google, a melodia é intercalada com de cena da trama, para, mais adiante, ser retomada. 

                        Ouçamos, portanto, Dercy Gonçalves cantando, sem cortes, o maxixe Jura

 


MPB da Velha Guarda sábado, 22 de outubro de 2016

GILBERTO MILFONT

GILBERTO MILFONT

Raimundo Floriano

 

Gilberto Milfont

 

                        Este é um dos grandes ídolos que encantaram os Anos Dourados da Música Popular Brasileira e de minha juventude!

 

                        João Milfont Rodrigues, o Gilberto Milfont, cantor e compositor, nasceu em Lavras da Mangabeira (CE), no dia 7.11.1922. Nada se sabe a respeito de sua filiação e infância.

 

                        Cantou em público pela primeira vez os 14 anos, convidado por um tio para o programa Hora Infantil, na PRE-9, Rádio Clube de Fortaleza, onde trabalhou mais tarde domo Diretor Artístico.

 

                        Integrou também um conjunto regional com Zé Cavaquinho, o José Menezes, na época em que sua voz de adolescente se assemelhava muito à de Carmen Miranda. Na fase de mudança de voz, afastou-se da carreira por dois anos, retornando para cantar no mesmo programa em que estreara.

 

                        Naquele tempo, os discos lançados no Rio de Janeiro demoravam muito a chegar ao Ceará, e, para que seu repertório não ficasse ultrapassado, a conselho de um amigo, aprendeu taquigrafia. Assim, ouvindo emissoras cariocas, taquigrafava as letras, enquanto Mariinha, sua irmã gêmea, prestava atenção nas melodias. Com esse método, chegou a apresentar-se em primeira audição no Ceará, antes mesmo de sair a gravação de Orlando Silva, no Rio de Janeiro, o samba Atire a Primeira Pedra, de Ataulfo Alves e Mário Lago, muito cantado no Carnaval de 1944.

 

                        Transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1945, estreando na Rádio Mayrink Veiga, ano em que levou ao Cassino da Urca o samba Esquece, de sua autoria, para Dick Farney ouvir, o que resultou na gravação por esse grande astro d MPB de todos os tempos.

 

                        Em 1946, Gilberto gravou, na RCA Victor, seu primeiro disco, com a regência do Mastro Gaó, contendo duas canções, ambas de Joubert de Carvalho, Jeremoabo e Maringá. No mesmo ano, lançou dois sambas de Pedro Caetano e Claudionor Cruz, Estão Vendo Aquela Mulher e Apelo, e, para o Carnaval de 1948, o samba de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira O Meu Prazer, seu primeiro sucesso.

 

 

                        Por intermédio de Luiz Gonzaga, fez um teste na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, em abril de 1948, sendo aprovado por unanimidade. Lá, estreou no Programa A Canção Romântica, convidado por Francisco Alves.

 

                        Para o Carnaval de 1950, lançou o samba Um Falso Amor, de Haroldo Lobo, Milton de Oliveira e Jorge Gonçalves, e, para o de 1951, o samba Pra Seu Governo, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, ambos consagrados pelos foliões.

 

                        Obteve grandes sucessos como cantor de meio de ano com os boleros Senhora e Que Será de Ti, versões de Lourival Faissal, além dos sambas-canções As Aparências Enganam, e Castigo, ambos de Lupicínio Rodrigues.

 

                        Entre suas composições de maior êxito, estão o samba Reverso, parceria com Marino Pinto, de 1950; Tudo Acabou, samba, em 1951; e o samba-canção Tudo Acabou, em 1952, estes em parceria com Milton de Oliveira.

 

                        Em 1954, transferiu-se para a Continental, lançando a toada Valei-me Nossa Senhora, de Paquito e Romeu Gentil, o foxe Amor Secreto, versão de Giusepe Ghiaroni. Gravou, ainda, a apedido da Direção da Continental, o Hino a Getúlio Vargas, de João de Barro.

 

                        Sua carreira como cantor vai até o ano de 1963, quando deixou de gravar, continuando, porém, a compor e trabalhando no Projeto Minerva, da Rádio Ministério da Educação, no Rio de Janeiro.

 

                        Na Década de 1970, participou do Projeto MPB - 100 ao Vivo, do qual resultaram oito LPs produzidos por Ricardo Cravo Albin, nos quais cantou oito músicas.

 

                        Nos Anos 1980, participou de LPs lançados pela Associação Atlética do Banco do Brasil, produzidos por José Silas Xavier, para resgatar memórias musicais valiosas.

 

                        Nos anos de 2000 e 2003, participou, com sucesso, do Baile Popular Carnavalesco na Cinelândia, Centro do Rio de Janeiro, onde apresentou músicas tradicionais de seu

 

                        Em 2011, foi lançada pelo selo Discobertas em convênio com o ICCA – Instituto Cultural Cravo Albin, a caixa 100 Anos de Música Popular Brasileira, na qual Gilberto Milfont interpreta várias canções que o fizeram um ídolo no coração do povo. A coleção contém 8 LPs, depois resgatada em 4 CDs duplos. Eis a capa de 4 dos LPs:

 

 

                        Essa coleção, além de 86 faixas gravadas por ele em 78 RPM, agora, remasterizadas, encontra-se à disposição dos aficionados no mercado virtual.

 

                        Em 1985, como dito acima, a FENABB – Federação Nacional de Associações Atléticas Banco do Brasil lançou um projeto que ficará para sempre na memória dos amantes da MPB. Trata-se de Velhos Sambas, Velhos Bambas, Volume 1, com 3 elepês, e Volume 2, este em 1989, com dois. Além de resgatar alguns intérpretes tradicionais, trouxe-nos, com grande orquestra e arranjos modernos, a fina flor do que ainda restava da Velha Guarda de nosso cancioneiro sambista: Roberto Silva, Ademilde Fonseca, Violeta Cavalcanti, Roberto Paiva, Zezé Gonzaga, Adoniran Barbosa, Adeilton Alves, Luiz Cláudio, Núbia Lafayette, e, como não poderia faltar, Gilberto Milfont.

 

 

                        Para mostrar um pouco de seu trabalho, escolhi estas preciosidades:

 

                        O Meu Prazer, samba de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, seu primeiro sucesso, lançado no Carnaval de 1948:

 

                        Senhora, bolero, versão de Lourival Faissal, retumbante êxito, lançado em 1952:

 

                        Pra Seu Governo, samba de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, lançado para o Carnaval de 1951, cantado até hoje pelos foliões e valorizado pelo arranjo onde predominam os metais:

 

                        Novo Amor, samba de Ismael Silva, composto em 1929, aqui valorizado com a nova roupagem que lhe deu a produção da FENABB:

 

                        Castigo, samba-canção de Lupicínio Rodrigues, composto em 1959, mais um resgate da FENABB:

 

 


MPB da Velha Guarda sábado, 22 de outubro de 2016

NORA NEY

NORA NEY

Raimundo Floriano

 

Nora Ney

 

            ‘           Iracema de Sousa Ferreira, a Nora Ney, cantora, nasceu no Rio de Janeiro (RJ), a 20.3.1922, cidade onde veio a falecer, no dia 28.10.2003, aos 81 anos de idade. Era filha de Dárcio Custódio Ferreira, funcionário da Câmara dos Deputados.

 

                                Aos oito anos, foi matriculada num Grupo Escolar em Olaria e, mais tarde, formou-se em Contabilidade, pelo Instituto Rui Barbosa.

 

                        Aprendeu sozinha sua primeira música ao violão, Valsa de Cristal, observando as aulas que suas irmãs tomavam com uma professora. O pai, surpreso e entusiasmado, resolveu presenteá-la com um violão. Apesar disso, só passou a estudar música mais tarde, com Aída Gnattali, solfejo e leitura musical. Em casa, chamavam-na de Ceminha.

 

                        Antes de decidir-se pela carreira de cantora, frequentava assiduamente os programas radiofônicos de auditório, onde não perdia a oportunidade, se o animador solicitasse aos ouvintes da platéia que subissem ao palco e cantar um sucesso estrangeiro – achava que não poderia cantar em Português por causa dos seus “erres” muito carregados.

 

                        No final dos Anos 1940, antes de se lançar profissionalmente, fez parte do Fã-Clube Sinatra-Farney, que promovia festas na residência do cantor Dick Farney, tendo à bateria seu irmão Cyl Farney. Nesses encontros informais, já mostrava seu talento, cantando com os outros participantes, como Johnny Alf e Carlos Guinle, os sucessos de Frank Sinatra e Dick Farney. Esses saraus acabaram sendo o passaporte para sua profissionalização. Com o grupo, participou de alguns shows estrelados por Dick Farney, desistindo, então, de sua profissão de Contadora.

 

                        Levada por Dick Farney, Lúcio Alves e Osvaldo Elias, estreou, em fins de 1951, no Programa de José Mauro, Fantasia Musical, da Rádio Tupi, cantando músicas estrangeiras, sob o pseudônimo de Nora May. Quando Aracy de Almeida entrou de férias, passou a substituí-la no Quadro Viva o Samba, do Programa Rádio Sequencia G-3, de Haroldo Barbosa, que insistiu para que ela abandonasse o repertório em Inglês.

 

                        Apesar das dúvidas quanto a sua voz muito grave e de sua pronúncia carregada de “erres”, conseguiu impor-se com seu ritmo e afinação, criando um novo estilo de interpretação para os sambas-canções da época.

 

                        Pouco depois, foi convidada pelo Maestro Copinha para cantar na Boate Midnight, do Copacabana Palace Hotel, substituindo Carmélia Alves, a Rainha do Baião, sendo também contratada pela Rádio Nacional, que transmitia da boate, ao vivo, o Programa Ritmos da Panair, no qual atuou durante quatro anos, ao lado de Dóris Monteiro e Jorge Goulart, que, mais tarde, se tornou sem companheiro e eventual parceiro na vida profissional.

 

                        Antes de Jorge Goulart, ela vivera um casamento que não deu certo, resultando dessa união dois filhos, Vera Lúcia e Hélio.

 

Jorge Goulart e Nora Ney - O Primeiro LP de Nora

 

                        Em 1952, gravou, com grande êxito, na Continental, seu primeiro disco, com as músicas Menino Grande, de Antônio Maria, que se lançava como compositor, e Quanto Tempo Faz, de Paulo Soledade e Fernando Lobo. Com Ninguém Me Ama, de Antônio Maria e Fernando Lobo, conheceu sua fase de notável sucesso, que lhe valeu o Disco de Ouro como melhor cantora, por cinco anos consecutivos, sendo eleita, em 1953, Rainha do Rádio.

 

                        Ainda em 1953, lançou os sambas-canções De Cigarro em Cigarro, de Luís Bonfá, e Preconceito, de Antônio Maria e Fernando Lobo, além do samba-choro É Tão Gostoso, Seu Moço, de Mário Lago e Chocolate.

 

                        Em 1954, gravou o samba-canção Aves Daninhas, de Lupicínio Rodrigues. Em 1955, outros grandes lançamentos: o samba-canção Se Eu Morresse Amanhã de Manhã, de Antônio Maria, e o samba Meu Lamento, de Ataulfo Alves e Jacob do Bandolim. Em 1956, arrebentou a boca do balão com o samba-canção Só Louco, de Dorival Caymmi. Em 1958, repetiu a dose com o maxixe Vai Mesmo, de Ataulfo Alves.

 

                        Viajando em turnê de seis meses pelo Exterior, apresentou-se nas Américas, Europa, África e Oriente Médio, tornando-se grande divulgadora da MPB em países nos quais era praticamente desconhecida, como Chipre, U.R.S.S e República Popular da China.

 

                        Em 1971, fez uma temporada com Jorge Goulart na Boate Feitiço da Vila, em Belo Horizonte, e, no ano seguinte, gravou, pela Som Livre, o LP Tire Seu Sorriso do Caminho Que Eu Quero Passar Com Minha Dor, contendo, entre outros hits, Conselho, de Denis Brean e Osvaldo Guilherme, e Quando Eu Me Chamar Saudade, de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito.

 

 

                        Em 1974, participou, com Jorge Goulart, do show Brazilian Follies, no Hotel Nacional do Rio de Janeiro, reeditado cinco anos depois. Em 1977, lançou, com Jorge Goulart, o LP Jubileu de Prata, pela Som Livre, no qual interpretou, entre outras canções, Ronda, de Paulo Vanzolini, Se Eu Morresse Amanhã de Manhã, de Antônio Maria, e Canção de Quem Espera, de Sivuca e Glória Gadelha.

 

LPs Jubileu de Prata e Meu Cantar É Tempestade de Saudade

 

                        Em 1979, participou, com Jorge Goulart, do Projeto Seis e Meia, na Sala Funarte/ Sidney Miller, em show de apreciável sucesso, intitulado Casal Vinte, contando com roteiro e direção de Ricardo Cravo Albin. No ano seguinte, na mesma Sala, apresentaram o espetáculo Roteiro de Um Boêmio, sobre a vida e a obra de Lupicínio Rodrigues. Nessa época, passou por sérios problemas de saúde, por conta de um câncer na bexiga, do qual se recuperou.

 

                        Em 1982, comemorou, com Jorge Goulart, 30 anos de vida em comum, com o espetáculo De Coração a Coração, no Teatro Gonzaga, em Marechal Hermes. Em 1985, de volta ao Projeto Pixinguinha, fez dupla com Jamelão, apresentando-se em Florianópolis, Curitiba, Goiânia e Brasília DF. Em 1987, lançou o LP Meu Cantar É Tempestade de Saudade.

 

                        Em 1989, ao lado das cantoras Carmélia Alves, Violeta Cavalcanti, Zezé Gonzaga, Rosita Gonzales e Ellen de Lima, atuou no show As Eternas Cantoras do Rádio. Um ano depois, realizou o espetáculo comemorativo do Aniversário da Rádio Cultura, de São Paulo.

 

                        Em 1992, depois de 39 anos de vida em comum, casou-se com o cantor Jorge Goulart. Meses depois, quando se apresentava em um show no Fluminense, sofreu um AVC, que lhe deixou sequelas, impedindo-a de voltar aos palcos, continuando o casal a residir no Rio.

 

                        Em 2000, foi homenageada no show do cantor Elymar Santos, no Canecão, quando emocionou o público ao cantar Ninguém Me Ama, em cadeira de rodas, cercada por Jorge Goulart, Carmélia Alves e Ricardo Cravo Albin.

 

                        A partir de 2001, com o agravamento do seu estado de saúde, passou a maior parte do tempo em hospitais da zona norte da cidade do Rio de Janeiro, Bairros da Tijuca e Andaraí.

 

                        A 28.10.2003, Nora faleceu num hospital do Bairro da Tijuca, vítima de falência múltipla dos órgãos, devido a um câncer generalizado provocado por enfizema pulmonar. Seu viúvo, Jorge Goulart, havia programado um espetáculo em sua homenagem, para o fim de 2003, no Teatro João Caetano.

 

                        Sua discografia é extensa, e seus LPs e canções remasterizadas são facilmente encontráveis nos sites e busca.

 

                        Algumas delas estão contidas neste excelente CD, da Série Grandes Vozes, lançado pela Som Livre, em 2007: 

 

                        Como pequena amostra de seu trabalho, escolhi as quatro faixas a seguir:

 

                        É Tão Gostoso, Seu Moço, samba-canção de Mário Lago e Chocolate, gravado em 1953:

 

                        Vai Mesmo, maxixe de Ataulfo Alves, grande êxito em 1958:

 

                        Provei, samba de Vadico e Noel Rosa, constante do LP Jubileu de Prata e do CD Grandes Vozes, gravação de 1977, com a participação especial de Jorge Goulart:

 

                        Ninguém Me Ama, samba-canção de Antônio Maria e Fernando Lobo, de 1942, regravado, anos depois, em Português, pelo cantor americano Nat King Cole:

 

                        De Cigarro em Cigarro, samba-canção de Luís Bonfá, gravado em 1953, maior sucesso de sua carreira:

 

 

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MPB da Velha Guarda sábado, 22 de outubro de 2016

IVON CURI, O CANÇONETISTA

IVON CURI, O CANÇONETISTA

Raimundo Floriano

 

Ivon Curi

 

                        Ivo José Curi, o Ivon Curi, ator, cantor e compositor nasceu em Caxambu (MG), a 5.6.1928, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), a 24.6.1995, aos 67 anos de idade. Era filho do comerciante José Kalil Curi e de Maria Curi. Teve oito irmãos, dentre eles os locutores da Rádio Nacional Alberto e Jorge Curi.

 

                        Por volta de 1944, começou a cantar sambas-canções e cançonetas francesas em festas, shows e, depois, na rádio de sua cidade, onde estudou o Curso Ginasial. Aos 11 anos de idade, ainda em Caxambu, ganhou um concurso de calouros onde interpretou J'attendrai, música que fazia grande sucesso na voz de seu maior ídolo francês, Jean Sablon.

 

                        No início dos Anos 1940, transferiu-se com a família para o Rio de Janeiro, onde cursou o Científico e trabalhou na extinta Companhia Aérea Panair. Nessa ocasião, cantou diversas vezes no Programa Sequência G-3, comandado por Paulo Gracindo, na Rádio Tupi, porém de forma ainda amadora.

 

                        Em 1947, conseguiu seu primeiro contrato, este com a Rádio Nacional, para apresentar-se como convidado nos programas e Emilinha Borba, Marlene, Dalva de Oliveira e Ângela Maria. Em seguida, transferiu-se para a Rádio Tupi.

 

                        Ainda em 1947, foi contratado como crooner da Orquestra do Maestro Zaccarias, do Hotel Copacabana Palace, com indicação dos cantores Nuno Roland e Elda Maida. Em 1948, atuou no Programa Ritmos da Panair, da Rádio Nacional. Por coincidência, este programa tinha o patrocínio da empresa onde trabalhara antes de iniciar sua carreira como cantor.

 

                        Em 1949, gravou, em dupla com Carmélia Alves, pela Continental, o baião Me Leva, de Hervê Cordovil e Rochinha. Em 1950, participou do filme Aviso aos Navegantes, da Atlântida, e, no ano seguinte, apareceu em Aí Vem o Barão. E 1952, atuou em Barnabé, Tu És Meu. No total, sua carreira contabiliza 12 filmes.

 

                        Seu primeiro disco solo acontecera em 1948, pela Continental, com os foxes La Vie en Rose, de R. S. Louiguy, e Nature Boy de Eden Abhez, seguindo-se C’est Si Bon, de Charles Trenet, e Obrigado, de sua autoria, Tá Fartando Coisa em Mim, dele em parceria com Humberto Teixeira, 1950, Humanidade, de sua autoria, Margarida, de Humberto Teixeira e Copinha, 1952, e Orquídeas ao Luar, versão de Cristóvão Alencar, 1952.

 

                        Nessa época, modificou seu estilo, passando a fazer mímicas e contar piadas, tornando-se cançonetista, com apreciável repertório nordestino.

 

 

                        Em 1953, lançou, pela RCA Victor, Amor de Hoje, de Ari Monteiro e Bruno Marnet, música que havia interpretado no filme É Fogo na Roupa. Vieram, a seguir, Baião das Velhas Cantigas, de Jair Amorim, Caxambu, de Zé Dantas e David Nasser, Farinhada, de Zé Dantas, Xote das Meninas, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, além da valsa de sua autoria, João Bobo, e a canção israelita Beija-flor, versão de Caribé da Rocha.

 

                        Depois de excursionar pelo Brasil, fez uma temporada pela Europa, entre 1956 e 1957. Em Portugal, adotou, pela primeira vez, o estilo one-man-show, sendo considerado o melhor intérprete de música brasileira por lá.

 

                        Em 1961, casou-se com Ivone Freitas, que lhe deu quatro filhos: Ivana, Ivan, Ivna e Ivo.

 

                        Com o aparecimento da Jovem Guarda, afastou-se temporariamente da vida artística, reaparecendo, em 1971, com o espetáculo Ivon de Todos os Tempos, no Teatro Casa Grande, apresentando-se como show-man, quando fez uma retrospectiva de sua carreira, lançando um LP com o mesmo título.

 

 

 

                        Participou da noite carioca como proprietário de diversas casas noturnas, entre elas Sambão e Sinhá, onde sempre cantava e recebia convidados. Em 1987, lançou o LP Ivon Curi Ontem e Hoje e ingressou na televisão como ator humorístico.

 

 

                        Em 1992, participou da série de shows realizada no Teatro do BNDES em celebração aos 70 anos do Rádio no Brasil, ao lado de Dóris Monteiro, Emilinha Borba e do veterano radialista Gerdau dos Santos, com roteiro e direção de Ricardo Cravo Albin.

 

                        No ano de 1993, foi contratado pela TV Manchete para comandar o Programa Show da Manchete. Neste mesmo ano, realizou o espetáculo A França e 15 Saudades, que se transformou em seu último disco, Douce France.

 

 

                        Sua derradeira participação televisiva foi na TV Globo, no quadro humorístico de Chico Anysio A Escolinha do Professor Raimundo. Participou, em 1995, das gravações do CD João Batista do Vale, lançado pela BMG, em tributo ao compositor João do Vale, na faixa Forró do Beliscão. Esta foi sua última gravação. No dia 24 de junho daquele ano, Dia de São João, viria a falecer.

 

                        Em 2002, sua família doou todo seu acervo, composto de discos, troféus e fotos, ao Instituto Cultural Cravo Albin, que passou a disponibilizá-lo para estudiosos e interessados em sua obra e carreira.

                        Em 2005, relembrado os dez anos de sua morte, foi lançado, pela Revivendo, o CD Farinhada à Francesa reunindo gravações suas realizadas entre 1948 e 1960, dentre as quais os sucessos Farinhada, de Zé Dantas, João Bobo, de sua autoria.

 

 

                        Todos os discos acima citados, relançamentos, coletâneas e 82 títulos remasterizados de gravações em 78 RPM encontram-se disponíveis nos sites de busca especializados. Como pequena amostra de seu trabalho, escolhi estas cinco faixas:

 

                        João Bobo, valsinha de sua autoria: 

 

                        Forró do Beliscão, baião de João do Vale, Ary Monteiro e Leôncio Tavares: 

 

                        C’est Si Bon, foxe, de Charles Trenet: 

 

                        Tutti Buona Gente, tarantela de Bruno Marnet: 

 

                        Farinhada, baião de Zé Dantas: 

 


MPB da Velha Guarda sexta, 21 de outubro de 2016

ELLEN DE LIMA

ELLEN DE LIMA

Raimundo Floriano

 

Ellen de Lima

 

                        Helenize Teresinha de Lima P. Almeida, a Ellen de Lima, cantora, nasceu em Salvador (BA), no dia 24 de março de 1938.

 

                         Em 1940, com apenas dois anos de idade, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Desde a infância, já demonstrava entusiasmo com as músicas que ouvia no rádio. Aos oito anos, cantou no Programa Papel Carbono, de Renato Murce, na Rádio Nacional, imitando Heleninha Costa, sendo a vencedora da noite.

 

                        Começou sua carreira em 1950, apresentando-se no Programa César de Alencar, destinado à descoberta de novos cantores. Participou, também, do Programa Alvorada dos Novos, da Rádio Mayrink Veiga, onde interpretou sucessos de Ângela Maria no Programa Aí Vem o Sucesso.

 

                        Em 1954, foi contratada pela Socipral – Organização Victor Costa, que congregava a Rádio Mayrink Veiga, a Rádio Nacional de São Paulo e a Rádio Nacional do Rio de Janeiro –, para apresentar-se nas duas maiores cidades brasileiras. Ainda nesse ano, assinou contrato com a gravadora Colúmbia e lançou seu primeiro disco, contendo o samba-canção Até Você, de Armando Nunes, e o foxe Melancolia, de Allain Romano, em versão de Capitão Furtado.

 

                        Em 1957, trocou a Mayrink pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, onde alcançou o auge de sua carreira, fazendo sucesso com o bolero Vício, de Fernando César, gravado pela Colúmbia em seu primeiro LP, Só Ellen, que incluía também o bolero Mente, do mesmo compositor.

 

                        Em seguida, apresentou-se em vários programas de televisão e shows em casas noturnas. Em 1963, gravou o LP Ellen de Lima, lançado pelo selo Chantecler, com Nós (Noi), de G. Malgoni e B. Pallesi, versão de Julio Nagib, e Leva-me Contigo de Dolores Duran. Em 1967, lançou o LP Ellen Canta, com destaque para a canção Na Paz do Seu Olhar, de João Melo, e Você É Todo Mal Que Me Faz Bem, de Umberto Silva e Paulo Aguiar. Nessa época já era contratada pela TV Globo, onde atuou como atriz e cantora.

 

Os três primeiro LPs de Ellen de Lima

 

                        Em 1969, gravou o LP Ellen de Lima, pela Odeon, que incluiu Cante, Cante, de Tito Madi, e Somente Porque Te Amo, de Leci Brandão.

 

                        Atuou em teleteatro ao lado de Fernanda Montenegro e Sérgio Britto, e no Teatro Opinião, com Paulo José e Joana Fomm, entre outros. Participou de diversos festivais e shows pelo Brasil e no Exterior, apresentando-se em várias temporadas em Portugal, no Cassino Estoril.

 

                        Recebeu a Comenda Oswaldo Cruz, por sua participação como cantora na Campanha da Meningite. Foi eleita Madrinha da Polícia Rodoviária Federal. Em 1990, recebeu Menção Honrosa da Câmara Municipal do Rio de Janeiro pelos serviços prestados à Música Brasileira.

 

 

                        Desde 1988, faz parte do grupo As Cantoras do Rádio. Entre junho e outubro de 2001, ficou em cartaz vários meses no Teatro-Café Arena, no Rio, juntamente com Carminha Mascarenhas, Carmélia Alves e Violeta Cavalcanti, no espetáculo As Cantoras do Rádio: Estão Voltando as Flores, espetáculo que correria o Brasil a partir de então e seria gravado em CD pela Som Livre.

 

LPs e Cds de Ellen Lima

                        No show, que homenageava cantoras da época de ouro do rádio no Brasil, Ellen de Lima interpretava sucessos de Dolores Duran, como A Noite do Meu Bem, além de marchinhas carnavalescas dos repertórios de Linda e Dircinha Batista e de Carmen e Aurora Miranda. Estes são os dois últimos CDs lançados com trabalhos dela e de outras estrelas da MPB:

 

 

                        Sua discografia é extensa, contando com mais de 160 títulos. Os LPs e CDs acima citados são facilmente encontráveis em sites especializados, além de 38 faixas remasterizadas de bolachões 78 RMP.

 

                        Como pequena amostra de seu trabalho, escolhi os sucessos a seguir, todos extraídos do CD Estão Voltando as Flores, com as Cantoras do Rádio:

 

                        A Noite do Meu Bem, valsa-balada de Dolores Duran, gravação original de 1959: 

 

                        Canção das Misses, hino, de Lourival Faissal, gravação original de 1957: 

 

                        Leva-me Contigo, samba-canção de Dolores Duran, gravação original de 1960:

 

                        Misturada, marchinha de Rômulo Paes e Aníbal Fernandes, gravação original para o Carnaval de 1961:

  

                        Vício, bolero de Fernando César, gravação original de 1956:

 

 


MPB da Velha Guarda sexta, 21 de outubro de 2016

LANA BITTENCOURT

LANA BITTENCOURT

Raimundo Floriano

 

Lana Bittencourt

 

                        Irlan Figueiredo Passos, a Lana Bittentourt, cantora, nasceu no Rio de Janeiro (RJ), no dia 5 de fevereiro de 1931.

 

                        Desde menina, causava sensação cantando nas festas familiares e em casa de vizinhos e amigos da família. Antes de escolher a carreira artística, cursava línguas anglo-germânicas na Faculdade de Filosofia. Sempre se destacou pela capacidade de cantar em vários idiomas, o que lhe valeu um prefixo nas rádios: Lana Bittencourt, A Internacional.

 

                        Em 1954, abandonou a Faculdade para ser cantora, estreando na Rádio Tupi do Rio de Janeiro, transferindo-se, depois, para a Rádio Mayrink Veiga.

 

                        Gravou, naquele mesmo ano, pela Todamérica, seu primeiro disco, com os sambas Emoção, de Emanuel Gitahy e Wilson Pereira, e Samba da Noite, de Luís Fernando e Wilton Franco.

 

                        Nessa época, excursionou pelo interior do Brasil e chegou a ter um programa exclusivamente seu, na TV Paulista, Canal 5, de São Paulo, com duração de 30 minutos. Em 1955, transferiu-se para a Columbia, onde gravou grande parte de seus discos. O primeiro deles com o foxe Juca, de Haroldo Barbosa, e o bolero Johnny Guitar, de Victor Young, versão de Júlio Nagib.

 

Primeiros LPs de Lana Bittencourt

 

                        Daí em diante, sua carreira fonográfica deslanchou. Gravou três LPs pela Colúmbia, nos três primeiros anos da Década de 1960: Musicalscope, com Se Alguém Telefonar, de Alcir Pires Vermelho e Jair Amorim, e Little Darlin’, de Wlliams, que foi um de seus maiores êxitos; Exaltação ao Samba, com Exaltação à Bahia, de Vicente Paiva e Chianca Garcia, e Os Quindins de Iaiá, de Ary Barroso; e Sambas do Rio, com composições de Luís Antônio, como Amor... Amor, e de Tom Jobim, como Corcovado.

 

                        Pela CBS, lançou, em 1963, O Sucesso é Lana Bittencourt, Com Chariot, de Stolle e Del Roma, e Canção de Esperar o Amor, de Carlito e Romeu Nunes. Pela Philips, em 1965, lançou Lana no 1800, com Castigo, de Dolores Duran, Ma Vie e Au Revoir, de Alain Barrière Vidalin e Bécaud.

 

                        Cantora muito versátil, caracterizou seu repertório pela interpretação de músicas em vários idiomas. Por conta do sucesso da interpretação de Little Darling, o produtor Nat Shapiro veio ao Brasil para convidá-la, juntamente com Cauby Peixoto e Leny Eversong, a se apresentarem no Ed Sullivan Show, na TV norte-americana.

 

                        Em 1982, lançou o LP Jubileu de Prata, pelo selo AVM, no qual gravou Sangrando, de Gonzaguinha, Me Deixas Louca, de Armando Manzanero, e Samba da Noite, de Wilton Franco, além de regravar os sucessos Little Darlin' e Se Alguém Telefonar. Em 1986, gravou o LP Karma Secular, pelo selo Fermata, com destaque para as composições de autores contemporâneos como em Rosa de Viver, de Abel Silva e Sueli Costa, A Morte do Imortal, de Nonato Buzar e Ronaldo Bôscoli, Onde Foi Que Eu Errei, de Antonio Ferreira e Carlos Café, e a música-título, de Ângela RoRo. Na década de 1990, teve o LP Exaltação ao Samba, relançado em CD, com o título do samba Exaltação à Bahia, já que as 12 faixas do disco têm a Bahia como tema.

 

 

                        Em 1998, teve lançado, pela Polydisc, um CD com seus maiores sucessos, incluindo Ouça, de Maysa, Maria, Maria, de Milton Nascimento e Fernando Brant, e Olhos nos Olhos, de Chico Buarque. Ainda na Década de 1990, começou a fazer pequenos shows para eventos especiais, como casamentos, formaturas e almoços/jantares de celebração

                         Em 2003, continuou em atividade, apresentando-se em espetáculos e eventos pelo Brasil. Em 2006, atuou com o cantor Márcio Gomes no Teatro Ipanema, no show Grandes Nomes em Sintonia, com acompanhamento do Maestro Mirabeau. Em 2010, gravou, em show no Teatro Rival BR, seu primeiro DVD, dirigido pelo jornalista Rodrigo Faour, intitulado Lana Bittencourt - A Diva Passional

 

                        Em 2012, passou a integrar o Grupo As Cantoras do Rádio, em sua nova formação, que estreou no show MPB pela ABL - A Volta das Cantoras do Rádio, récita única no auditório Raimundo Magalhães Jr., todas acompanhadas por Fernando Merlino, com apresentação, criação e roteiro de Ricardo Cravo Albin.

 

                        Em 2013, apresentou-se na Casa de Espetáculos Miranda, na Zona Sul do Rio de Janeiro num show em homenagem à cantora e compositora Dolores Duran. Em 2014, participou, juntamente com as cantoras Ellen de Lima e Adelaide Chiozzo, do espetáculo A Noite - Nas Ondas da Rádio Nacional, apresentado no teatro Rival BR.

 

                        Os discos acima citados e 72 faixas remasterizadas de bolachões 78 RPM são facilmente encontráveis nos sites de busca especializados.

 

                        Como pequena amostra de seu trabalho, selecionei estas cinco faixas:

 

                        Summertime, calipso de G. Gershwin e Du Rose Heyward:

 

                        Ave Maria, samba-canção de Vicente Paiva e Jayme Redondo:

 

                        Malagueña, passo doble de Ernesto Lecuona:

 

                        Rio de Janeiro (Isto É o Meu Brasil), samba de Ary Barroso:

 

                        Little Darlin’, calipso de M. Williams, seu maior sucesso: 

 


MPB da Velha Guarda sexta, 21 de outubro de 2016

ROBERTO PAIVA

ROBERTO PAIVA

Raimundo Floriano

 

Roberto Paiva

 

                        Helim Silveira Neves, o Roberto Paiva, cantor, nasceu no Rio de Janeiro (RJ), no dia 8.2.1921, cidade onde veio a falecer, no dia 1.8.2014, aos 93 anos de idade.

 

                        Nascido e criado no Rio de Janeiro, embora de discreta atuação, sempre foi considerado um cantor correto. E, por isso, muito requisitado pelos compositores. A tal ponto, que registrou, em 1956, o histórico LP original da Peça Orfeu da Conceição, com músicas iniciais de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, no qual interpreta Um Nome de Mulher, Se Todos Fossem Iguais a Você, Mulher, Sempre Mulher, Eu e o Meu Amor, e Lamento no Morro.

 

 

                        Fez carreira, primeiramente como cantor romântico, mas também igualmente obteve sucesso interpretando sambas e marchinhas de carnaval. Começou a vida artística quando ainda era estudante do ginásio, no Colégio Pedro II, depois de vencer um Programa de Calouros da Rádio Clube Fluminense, de Niterói (RJ), onde interpretou a valsa A Você, de Francisco Alves, com a qual obteve o primeiro lugar.

 

                        Seis meses depois, no Rio de Janeiro, encontrando-se com Ciro Monteiro na Rádio Mayrink Veiga, conseguiu, através dele, uma colocação na emissora, passando a apresentar-se no Programa Picolino de Barbosa Júnior, às terças e quintas-feiras, recebendo cachê.

 

                        Na Mayrink, travou amizade com o pianista Nonô e com o violonista Laurindo de Almeida, que o levaram à gravadora Odeon, com a qual assinou contrato e, em 1938, lançou Último Samba, de Laurindo, e a valsa Jardim das Flores Raras, de Nonô e Francisco Matoso.

 

                        Para o Carnaval de 1940, gravou os sambas Estou Cansado de Procurar, de Rubens Soares e Luís Pimentel, e Se Você Sair Chorando, de Geraldo Pereira e Nélson Teixeira, estreia de Geraldo em disco como compositor. Na mesma época, transferiu-se para a Rádio Educadora.

 

                        Em 1941, gravou, na RCA Victor, seu primeiro grande sucesso carnavalesco, O Trem Atrasou, samba de Paquito, Artur Vilarinho e Estanislau Silva, que também representou o primeiro grande êxito do compositor Paquito. No mesmo ano, também pela Victor, gravou O Chapéu do Compadre, marchinha de Paquito e Francisco Santos, e, pela Odeon, o samba Lembra-se Daquela Zinha?, de Geraldo Pereira, Já Tenho Outra, samba de Geraldo Pereira e Ari Monteiro, e Devagar com a Louça, samba de Roberto Martins e Osvaldo Santiago.

 

                        Em 1943, pela Victor, lançou A Valsa dos Noivos, de Roberto Martins e Mário Rossi, e, em 1944, o samba Leva Meu Coração, de Roberto Martins e Mário Lago. Regravou, em 1948, pela Odeon, o samba-canção Pedro do Pedregulho, de Geraldo Pereira, e, pela Colúmbia, lançou Brigaram Pra Valer, samba de Geraldo Pereira e José Batista.

 

                        Em 1949, deixou a Rádio Educadora e passou a percorrer o Brasil, com apresentações em inúmeras cidades. Retornando ao Rio de Janeiro, foi para a Rádio Guanabara, e, em 1951, para a Tupi, gravando, em 1953, o grande sucesso carnavalesco Marcha do Conselho, de Paquito e Romeu Gentil, ao qual se seguiu o êxito Menino de Braçanã, toada que lançou Luiz Vieira como Compositor. Em 1954, gravou, pela Odeon, a toada Valei-me, Nossa Senhora, de Paquito e Romeu Gentil.

 

                        Lançou, duas vezes, uma pela Odeon, em 1953, e outra pela RCA, o LP Polêmica, que contém a célebre disputa musical entre Noel Rosa e Wilson Batista. A primeira gravação foi feita com Francisco Egídio, e a segunda, com Jorge Veiga.

 

 

                        Em 1959, gravou o bolero Tua, de Malgoni e Pallesi, versão de Lourival Faissal. Em 1962, gravou um único disco para a Mocambo, com os sambas Deixa de Sofrer, de Nelson Cavaquinho, Pedro Martins e Renato Araújo, e Deixa Ela Rolar, de Nelson Cavaquinho, Pedro Martins e Valter Silva.

 

 

                        Segundo a crítica, seu grande equívoco foi o de recusar-se a gravar o samba Falsa Baiana, maior sucesso da carreira de Geraldo Pereira, gravado em 1944, por Ciro Monteiro. Em A Canção no Tempo, de Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello, há uma declaração do próprio cantor: "Era de madrugada, e o Geraldo, 'meio alto', cantou enrolando as palavras, dando a impressão de que o samba estava 'quebrado'. Um mês depois, ao ouvi-lo na voz de Ciro, descobri que aquela beleza toda era o samba que o Geraldo me oferecera".

 

                        Em 1987, foi convidado por Ricardo Cravo Albin para estrelar o Espetáculo O Cordão dos Puxa-sacos baseado na obra de Roberto Martins, show que ele chegou a ensaiar durante algumas semanas e que seria levado na Sala Sidney Miller da Funarte, mas não estreou, por conta de um súbito problema de saúde. No espetáculo, de que participavam o próprio compositor homenageado e a cantora Marília Barbosa, foi substituído, às pressas, pelo cantor Chamon.

 

                        No ano de 2000, foi lançado o CD A Música Brasileira Deste Século Por Seus Autores e Intérpretes, com um resumo de sua obra. Em 2001, apresentou-se em baile popular durante o Carnaval, na Cinelândia, Centro do Rio de Janeiro.

 

                        Seus discos, 103 faixas remasterizadas de bolachões 78 RPM, bem como o LP lançado em sua homenagem pela Colloector’s em sua homenagem, na Série Ídolos do Rádio, são facilmente encontráveis nos sites especializados.

 

                        Vivendo no Bairro carioca da Tijuca com a mulher, continuou a fazer shows esporádicos, entre os quais o Baile Carnavalesco da Cinelândia.

 

                        Muito antes, em 1985, a FENABB – Federação Nacional de Associações Atléticas Banco do Brasil lançou um projeto que ficará para sempre na memória dos amantes da MPB. Trata-se de Velhos Sambas, Velhos Bambas, Volume 1, com três elepês, e Volume 2, este em 1989, com dois. Além de resgatar alguns intérpretes tradicionais, trouxe-nos, com grande orquestra e arranjos modernos, a fina flor do que ainda restava da Velha Guarda de nosso cancioneiro sambista: Roberto Silva, Gilberto Milfont, Ademilde Fonseca, Violeta Cavalcanti, Zezé Gonzaga, Adoniran Barbosa, Adeilton Alves, Luiz Cláudio, Núbia Lafayette, e, como não poderia faltar, Roberto Paiva.

 

 

                        E é com a maioria dessa nova roupagem que escolhi cinco números para mostrar um pouco do talento e desse grande ídolo da Velha Guarda:

 

                        Quem Há de Dizer, samba-canção de Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves:

 

 

                        Favela, samba-canção de Roberto Martins e Waldemar Silva:

 

 

                        Não Quero Mais Amar a Ninguém, samba de Carlos Cachaça e Roberto Paiva:

 

 

                        Ó, Seu Oscar, samba de Ataulfo Alves e Wilson Batista:

 

                        E, para terminar, O Trem Atrasou, samba de Paquito, Artur Vilarinho e Estanislau Silva, seu maior sucesso carnavalesco, gravação original:

 

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MPB da Velha Guarda quinta, 20 de outubro de 2016

VIOLETA CAVALCANTI

VIOLETA CAVALCANTI

Raimundo Floriano

 

Violeta Cavalcanti

 

                        Violeta Cavalcanti, cantora, nasceu em Manaus (AM), no dia 1.7.1923, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), no dia 14.2.2014, aos 90 anos de idade.

 

                        Mudou-se para o Rio de Janeiro, juntamente com a família, aos 9 anos. Estudava na Escola Paraná, no Bairro carioca de Madureira, quando conheceu Villa-Lobos, passando a integrar o Conjunto Orfeônico Infantil. Com apenas 10 anos, foi selecionada pelo Maestro para cantar no Coral, organizado por ele e integrado por crianças das Escolas Públicas do Rio de Janeiro, Apresentando-se no Teatro Municipal como solista no Canto do Pajé.

 

                        Em 1940, com apenas 17 anos, participou do Programa de Calouros de Ary Barroso, onde se apresentou cantando O Samba e o Tango, de Armando Régis, um sucesso de Carmen Miranda, cantora de quem era fã. A interpretação impecável, sem imitar Carmen, garantiu-lhe o primeiro lugar, contestado pelo próprio Ary Barroso, que afirmou: – Ganhou, mas não leva! Você já é herdeira de Carmen Miranda, portanto, profissional, e o prêmio é para calouros!

 

                         Foi grande a dificuldade para convencer Ary Barroso de que aquela era a primeira vez que a moça se apresentava no rádio. A ida de Carmen Miranda para os Estados Unidos favoreceu o início de sua carreira radiofônica, onde passou a cantar os sucessos da Pequena Notável, compensando o espaço deixado e a saudade dos fãs de Carmen.

 

                        Trabalhou nas Rádios Tupi, Educadora e Ipanema, onde assinou seu primeiro contrato, consagrando-se principalmente pela interpretação original do samba Camisa Listrada, de Assis Valente, outro sucesso de Carmen.

 

                        Gravou o primeiro disco em 1940, com as marchinhas Vou Sair de Pai João, de J. Cascata e Leonel Azevedo, e Pulo do Gato, de J. Cascata e Correia da Silva, pela Victor. Em 1941, gravou a marchinha Mama, Meu Netinho, com arranjo de Pixinguinha e Jararaca, o samba Homem Chorando é Novidade, de Alvarenga e Osvaldo Santos, com o qual fez algum sucesso, e o frevo- canção Você Não Nega Que É Palhaço, de Nelson Ferreira.

 

                        Ainda em 1940, assinou contrato com a Rádio Nacional, onde permaneceu por 16 anos, e gravou, também com sucesso, o samba Meu Dinheiro Tem, de Germano Augusto e Zé Pretinho. Em 1942, gravou o frevo-canção O Coelho Sai, de Nelson Ferreira e Ziul Matos, e a valsa-frevo Vovô, Vovó, Eu e Você, de Nelson Ferreira.

 

                         Em 1945, foi contratada pela Continental, onde estreou com o samba Aumento de Salário, de Ernâni Alvarenga e Paquito, e a marchinha Cheque à Granel, de Ernâni Alvarenga, Paquito e Antenor Gargalhada. No mesmo ano, gravou, da dupla Roberto Martins e Mário Rossi, o samba Vou Tratar de Mim, e a marchinha Tem Tamanduá no Baile, destacando-se, ainda, com a marchinha Leilão da Baiana, de Max Bulhões e Gustavo de Oliveira.

 

                        Em 1946, gravou o samba Aproveita, Seu Aristeu, de Ernâni Alvarenga, Paquito e Mabial João Diniz, e o chorinho Ontem, Hoje e Amanhã, de Aldo Cabral e Benedito Lacerda com acompanhamento de Benedito e Seu Conjunto Regional.

 

 

                        Em 1950, gravou, como vocalista, com Raul de Barros e Sua Orquestra, o choroinho Faísca, de Lauro Maia e Penélope. No mesmo ano, gravou, na Sinter, a marchinha É Carinho Que Falta e o samba Sabe Lá o Que É Isso, ambos de Joubert de Carvalho.

 

                        Em 1951, gravou, pelo selo Star, o samba Cansei de Chorar, de Carvalhinho e Francisco Neto, e a marchinha Não Vou Trabalhar, de Carvalhinho, Mário Rossi e Buci Moreira. No mesmo ano, lançou, pelo selo Carnaval, o samba Rainha da Lapa, de Rubens Silva e Grande Otelo.

 

                        Em 1953, estreou na Odeon com o beguine Mundo Encantador, de Romberg e Hammerstein II, versão de Guido Douglas, e o baião Minha Morena, de Henrique Almeida, Rômulo Paes e Braga Filho.

 

                        Em 1954, gravou o samba Vou Levando, de Valsinho e Domício Costa, e a marchinha Vaga-lume, de Victor Simon e Fernando Martins, que fez tremendo sucesso no Carnaval carioca, já que comentava a crônica falta de água e de luz no Rio de Janeiro. Essa música, aliás, foi escolhida para representar suas criações fonográficas no show Estão Voltando as Flores, em que atuou ao lado de Carmélia Alves, Carminha Mascarenhas e Ellen de Lima, entre 2001 e 2003, excursionando por todo o país.

 

                        Em 1955, gravou, com o Trio Irakitan, a valsa Deixa Eu, Nêgo..., de Carson, Hill e Ghiaroni. No mesmo ano, lançou o samba Nossa Terra, Nosso Samba, de Bruno Marnet e Zimbres, e o samba-canção Cartas, de Ismael Neto e Antônio Maria, que fez sucesso com arranjos do então jovem maestro Antônio Carlos Jobim.

 

                        Em 1956, gravou a marchinha De Baixo Pra Cima, de Raul Sampaio e Dantas Ruas, e os sambas Trabalhou, Trabalhou, de Herivelto Martins e José Messias, e Fita Meus Olhos, de Peterpan. No mesmo ano, gravou, com destaque, o samba-canção Só Louco, de Dorival Caymmi.

 

                        Em 1957, gravou os sambas Vou Perder a Cabeça, de William Duba, Raul Sampaio e Ivo Santos, e Pagou, de Klécius Caldas e Armando Cavalcânti. No mesmo ano, gravou Dono dos Teus Olhos, de Humberto Teixeira, e a toada Cajueiro Doce, de Manezinho Araújo e Antônio Maria.

 

                        Em 1958, gravou seu último disco, antes de abandonar a carreira, a fim de se casar, interpretando o foxtrote No Azul Pintado de Azul, de Modugno e Migliacci, versão de David Nasser, e o foxe Por Que Chorar?, de T, Snyder, B. Kalmar e H. Ruby, versão de Juvenal Fernandes.

 

                        Em 1977, retornou à carreira artística após longo afastamento, quando foi convidada por Albino Pinheiro para shows da Série Seis e Meia, onde se apresentou com Paulinho da Viola.

 

                        Em 1988, passou a integrar o Grupo Vocal As Cantoras do Rádio, juntamente com Nora Ney, Rosita Gonzalez, Zezé Gonzaga, Ellen de Lima, Carmélia Alves e Ademilde Fonseca, do qual foi gravado o LP As Eternas Cantoras do Rádio.

 

 

                        Em 13 de junho de 2001, estreou, ao lado de Carmélia Alves, Carminha Mascarenhas e Ellen de Lima o show As Cantoras do Rádio: Estão Voltando as Flores, com roteiro e direção de Ricardo Cravo Albin, no Teatro-Café Arena, em Copacabana, no Rio. Nesse show, Violeta personificava Elizeth Cardoso, Aracy de Almeida, Nora Ney e Dalva de Oliveira, cantando alguns dos sucessos que marcaram as carreiras dessas cantoras, como Mulata Assanhada, de Ataulfo Alves, e Não Me Diga Adeus, de Paquito, L. Soberano e J.C. Silva.

 

                        Os discos acima mencionados, além de 37 faixas remasterizadas de bolachões 78 RMP, são facilmente encontráveis nos sites especializados.

 

                        Segundo Ricardo Cravo Albin, Violeta Cavalcanti era a "Clementina de Jesus Branca".

 

                        Muito antes, em 1985, a FENABB – Federação Nacional de Associações Atléticas Banco do Brasil lançou um projeto que ficará para sempre na memória dos amantes da MPB. Trata-se de Velhos Sambas, Velhos Bambas, Volume 1, com três elepês, e Volume 2, este em 1989, com dois. Além de resgatar alguns intérpretes tradicionais, trouxe-nos, com grande orquestra e arranjos modernos, a fina flor do que ainda restava da Velha Guarda de nosso cancioneiro sambista: Roberto Silva, Gilberto Milfont, Ademilde Fonseca, Roberto Paiva, Zezé Gonzaga, Adoniran Barbosa, Adeilton Alves, Luiz Cláudio, Núbia Lafayette, e, como não poderia faltar, Violeta Cavalcanti.

 

 

                        E é com essa nova roupagem que escolhi cinco números para mostrar um pouco do talento e desse grande ídolo da Velha Guarda:

 

                        Comigo Não, samba de Heitor Catumbi e Valentim Biosca:

 

 

                        Mulher de Malandro, samba de Heitor dos Prazeres:

 

 

                        Cansei de Pedir, samba de Noel Rosa:

 

 

                        Inimigo do Batente, samba de Wilson Batista e Germano Augusto:

 

 

                        Ganha-se Pouco, Mas É Divertido, samba de Wilson Batista e Ciro dos Santos:

 

 


MPB da Velha Guarda quinta, 20 de outubro de 2016

ARACY CORTES

ARACY CORTES

Raimundo Floriano

 

Aracy Cortes

 

                        Zilda de Carvalho Espíndola, a Aracy Cortes, cantora e atriz, nasceu no Rio de Janeiro (RJ), no dia 31.3.1904, cidade onde veio a falecer, no dia 8.1.1985, com 80 anos de idade.

 

                        Filha do chorão Carlos Espíndola, foi vizinha de Pixinguinha no Bairro carioca do Catumbi, onde viveu até os 12 anos. Após alguns anos morando com a madrinha, saiu de casa, aos 17, para trabalhar num circo.

 

                        Foi descoberta pelo compositor Luís Peixoto, quando cantava e dançava maxixes no Democrata Circo, e seu nome artístico lhe foi dado pelo crítico teatral do jornal A Noite, Mário Magalhães, ela quando passou a atuar no Teatro de Revista, no início dos Anos 1920.

 

                        Estreou no Teatro Recreio, em dezembro de 1921, na Revista Nós Pelas Costas, de J. Praxedes, tendo composições de Pedro Sá Pereira. Dois anos mais tarde, já era nome consagrado ao atuar na Revista Que Pedaço de Sena Pinto, com música de Paulino Sacramento, onde se destacou com o samba Ai, Madama.

 

 

                        Primeira grande cantora popular brasileira, foi praticamente a única a ter sucesso na Década de 1920, quando, até então, os grandes nomes eram de vozes masculinas. Lançou seu primeiro disco em 1925, pela Odeon, gravando as canções Serenata de Toselli, A Casinha e Petropolitana.

 

                        Três anos mais tarde, obteve enorme sucesso ao lançar, na revista Microlândia, o maxixe Jura, de Sinhô, gravado, simultaneamente, por ela e pelo estreante Mário Reis, em fins de 1928. Sua gravação do samba-canção Ai, Ioiô, no disco com o título de Iaiá, de Henrique Vogeler, Marques Porto e Luís Peixoto, realizada naquele ano, e por ela lançado na Revista Miss Brasil, tornou-se uma das mais famosas da discografia da Música Popular Brasileira.

 

                        Na Revista Laranja da China, de Olegário Mariano, com música de Júlio Cristóbal, Pedro Sá Pereira e Ary Barroso, encenada no Teatro Recreio, em 1929, interpretou o samba Vamos Deixar de Intimidade, responsável pelo lançamento de Ary Barroso como compositor.

 

                        Em 1930, lançou, na Revista É do Outro Mundo, o samba-canção No Rancho Fundo, na época denominado Este Mulato Vai Ser Meu, de Ary Barroso e Lamartine Babo, com o subtítulo Na Grota Funda. Nesse mesmo, ano lançou, na Revista Diz Isso Cantando, a música No Morro, de Ary Barroso e Luís Iglésias, que, oito anos mais tarde, seria reescrita e se tornaria o sucesso Boneca de Piche, nas vozes de Carmen Miranda e Almirante.

 

                        Em 1932, gravou, com sucesso, o samba Tem Francesa no Morro, de Assis Valente. Foi a primeira vedete de Revista Nacional a excursionar pelo Exterior, quando, em 1933, o empresário Jardel Jércolis levou à Europa uma companhia, da qual Aracy era a estrela.

 

                        Em 1938, atuou na Revista Rumo ao Catete, levada no Teatro Recreio, contracenando com Eva Tudor e Oscarito.

 

                        Em 1939, novamente no Teatro Recreio, atuou na Revista Entra na Faixa, de Luís Iglésias e Ary Barroso, na qual lançou o samba-exaltação Aquarela do Brasil.

 

                        Entre as Décadas de 1950 e 1960, afastou-se do meio artístico, voltando em 1965, no Espetáculo Rosa de Ouro, promovido por Hermínio Bello de Carvalho e Kleber Santos, ao lado de Clementina de Jesus, onde atuavam Paulinho da Viola e Elton Medeiros, entre outros, acompanhados pelo Conjunto Rosa de Ouro, que rendeu dois LPs, lançados pela Odeon, Rosa de Ouro 1, em 1965, e Rosa de Ouro 2, em 1967.

 

 

                         Em 1976, apresentou-se no Teatro Glauce Rocha e, em 1978, no Teatro Dulcina. Em 1984, foram lançados, pela Funarte, o LP Araci Cortes, uma coletânea com depoimentos da cantora, e um livro de autoria de Roberto Ruiz, comemorativos de seus 80 anos. Também nesse ano, a Sala Sidnei Miller da Funarte homenageou-a com um show biográfico, interpretado pela cantora Marília Barbosa, que revivia sua vida e suas canções, e no qual ela fazia uma rápida participação especial.

 

 

                        Os discos e livro acima citado, além de 76 faixas remasterizadas de bolachões 78 RPM, são facilmente encontráveis nos sites de busca especializados.

 

                        Aracy Cortes, ao morrer, teve o corpo velado no saguão de entrada do Teatro João Caetano, na mesma Praça Tiradentes em cujos Teatros obteve grandes sucessos.

 

                        O Espetáculo Rosa de Ouro foi tão marcante que, posteriormente, a Série Raízes Brasileiras, da gravadora EMI, lançou um CD com 20 de suas faixas mais representativas.

 

 

                        E é desse memorável show que escolhi as cinco peças a seguir, como pequena amostra do trabalho desse grande ícone da MPB.

 

                        Tem Francesa no Morro, samba de Assis Valente:

 

 

                        Ai, Ioiô, samba-canção de Henrique Vogeler, Marques Porto e Luís Peixoto:

 

 

                        Flor do Lodo, samba-canção de Ary Mesquita:

 

 

                        Jura, maxixe de Sinhô:

 

 

                        Os Rouxinóis, marcha-rancho de Lamartine Babo:

 

 

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MPB da Velha Guarda terça, 18 de outubro de 2016

ZEZÉ GONZAGA, A MORENINHA

ZEZÉ GONZAGA, A MORENINHA

Raimundo Floriano

 

Zezé Gonzaga

 

                        Maria José Gonzaga, a Zezé Gonzaga, cantora e compositora, nasceu em Manhuaçu (MG), no dia 3.9.1926, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), no dia 22.7.2008, aos 81 anos de idade.

 

                        Filha e neta de músicos, sua mãe chamava-se Oraide e era flautista. O pai, Rodolpho, era luthier, tendo, inclusive, fabricado um bandolim para Luperce Miranda.

 

                        Começou a cantar aos 13 anos, quando se mudou para a cidade vizinha de Além Paraíba e passou a apresentar-se no Rex Clube. Recebeu incentivo da família, que a apoiava no ideal de seguir a carreira de cantora lírica.

 

                        Iniciou os estudos de Canto com a professora Graziela de Salerno, que gostava muito de seu registro de soprano ligeiro.  Além de canto, estudou piano e leitura musical. Fez seus estudos escolares na cidade vizinha de Porto Novo, com bolsa de estudos, compensada por pequenos serviços realizados por seu pai, já que sua família vivia com dificuldade.

 

                        Foi em Porto Novo que fez sua primeira apresentação, cantando a valsa Neusa, de Antônio Caldas, pai do cantor Sílvio Caldas, grande sucesso de Orlando Silva. Iniciou sua carreira como caloura no programa de Ary Barroso, em 1942. Na ocasião, recebeu a nota máxima, ao interpretar Sempre No Meu Coração, bolero de Ernesto Lecuona e versão de Mário Mendes.

 

                        Logo em seguida, recebeu convite para se apresentar no Programa radiofônico Escada do Jacó, do popular radialista Zé Bacurau. Depois de curta temporada no Rio de Janeiro, retornou a Porto Novo para continuar seus estudos. Nessa época, costumava fazer pequenas apresentações num clube de jazz, o que lhe causou problemas na escola pois, além da discriminação racial, enfrentava a discriminação por ser artista.

 

                        Mudou-se definitivamente para o Rio de Janeiro em 1945. Nesse ano, conquistou o primeiro lugar no Programa Pescando Estrelas, da Rádio Clube do Brasil, apresentado por Arnaldo Amaral. Isso lhe valeu um contrato de 800 mil-réis com a emissora, que duraria até 1948. Nessa época, formou, com a cantora Odaléa Sodré, filha do compositor Heitor Catumbi uma dupla chamada As Moreninhas do Ritmo. Com a parceira, cantou no Conjunto do pianista Laerte, na Rádio Jornal do Brasil.

 

                        Em 1948, assinou contrato com a Rádio Nacional. Foi levada para lá a partir de um contato do cantor Nuno Roland, que marcou uma reunião com ela, a pedido do Diretor-Geral da rádio, Victor Costa. Na ocasião, Victor lhe ofereceu um salário bem mais alto, e a cantora, dias depois, já integrava o cast da Nacional, tendo como "padrinhos musicais" o próprio Victor Costa, ao lado do cantor Paulo Tapajós.

 

                         No ano seguinte, gravou seu primeiro disco, pela Star, com os sambas-canções Inverno, de Clímaco César e Desci, de Alcyr Pires Vermelho e Cláudio Luiz. Foi por essa época que Paulo Gracindo começou a chamá-la de "minha namorada musical", em seu programa na Rádio Nacional, nos anos 1940, devido a sua técnica e afinação impecável.

 

                        Depois, integrou vários conjuntos vocais (de diversas formações), alguns dos quais são: As Moreninhas, Cantores do Céu e Vocalistas Modernos. Além disso, participou do Coro de inúmeras gravações na Rádio Nacional. Em 1951, gravou, pela Sinter, o samba-canção Foi Você, de Paulo César e Ênio Santos, e o bolero Canção de Dalila, de Victor Young, versão de Clímaco César, com o qual fez bastante sucesso. Nessa etiqueta gravou outros discos solo e também com o grupo As Moreninhas.

 

                        Em 1952, gravou os sambas Não Quero Lembrar, de Sávio Barcelos, Ailce Chaves e Paulo Marques, e Quero Esquecer, de Brasinha, Salvador Miceli e Mário Blanco, a valsa Festa de Aniversário, de Joubert de Carvalho e a marchinha Um Sonho Que Eu Sonhei, de Alcyr Pires Vermelho e Sá Róris.

 

                        Em 1953, gravou o baião É Sempre o Papai, de Miguel Gustavo e a valsa, alusão ao Dia dos Pais, criado naquele ano. Em 1954, gravou o bolero Meu Sonho, de Pedroca e Alberto Ribeiro, e Baião Manhoso, de Manoel Macedo e Marcos Valentim.

 

                        Ainda em 1954, foi contratada pela Columbia e gravou o foxe Canário Triste, de V. Floriano, versão de Juvenal Fernandes, e o samba-canção Razão de Tudo, de Umberto Silva e Nilton Neves.

 

                        Em 1955, gravou os sambas-canções Sedução, de Carlito e Nazareno de Brito, e Óculos Escuros, de Valzinho e Orestes Barbosa, e a rumba Cerejeira Rosa, de Louiguy e Jacques Larue, versão de Julio Nagib.

 

                        Em 1956, gravou a toada Moreno Que Desejo, de Bruno Marnet, e a valsa Natal das Crianças, de Blecaute. No mesmo ano, gravou seu primeiro LP, Zezé Gonzaga, considerado o melhor disco do ano, trazendo, dentre suas faixas, Ai Ioiô (Linda Flor), samba-canção de Henrique Vogeler e Luiz Peixoto, considerado uma de suas grandes interpretações, além de Nunca Jamais, bolero de Lalo Ferreira, versão de Marques Porto.

 

                        Em 1957, gravou os boleros Não Sonhe Comigo, de Fernando César, Tédio, de Fernando César e Nazareno de Brito, e Vivo a Cantar, de Cícero Nunes e Bruno Marnet. Em 1958, gravou o samba-jongo Cafuné, de Dênis Brean e Gilberto Martins, e o samba-canção Saia do Caminho, de Custódio Mesquita e Evaldo Rui.

 

                        Em 1959, gravou duas músicas da parceria Tom Jobim e Vinícius de Moraes: o samba A Felicidade e o foxe Eu Sei Que Vou Te Amar. Em 1961, passou a gravar na Continental e registrou A Montanha, de Agueró e Moreu, versão de Fernando César, e o samba Que Culpa Tenho Eu?, de Armando Nunes e Othon Russo. No mesmo ano, gravou o bolero Há Sempre Alguém, de Luiz Mergulhão e Umberto Silva, e o samba Um Beijo, Nada Mais, de Almeida Rego e Índio.

 

                         Em 1962, gravou o foxe Rosa de Maio, de Custódio Mesquita e Evaldo Rui, o rasqueado Decisão Cruel, de Palmeira, e o samba Neném, de Tito Madi.

 

                        Considerada uma das mais belas vozes do cast da Rádio Nacional, era com frequência escalada para participar dos grandes musicais noturnos da emissora, dos quais eram responsáveis grandes Maestros como Radamés Gnattali, Léo Peracchi e outros. Gravou vários discos infantis pela fábrica Carrossel, com produção de Paulo Tapajós, e, na Continental, quando se juntou aos Trios Madrigal e Melodia, para cantar e contar historinhas para crianças.

 

                        Na Década de 1960, associou-se com o Maestro Cipó e Jorge Abicalil em uma agência de jingles, vinhetas e trilhas para rádio, TV e cinema, a Tape Produções Musicais Ltda., onde trabalhava como cantora e compositora. Em parceria com o escritor, produtor e apresentador de rádio Luiz Carlos Saroldi, compôs o tema de abertura do Projeto Minerva, apresentado pela Rádio MEC.

 

                        Em 1964, gravou, pela Continental, o LP Nossa Namorada Musical, com destaque para Dengosa, samba de Castro Perret, Poema dos Teus Olhos, bolero de Erasmo Silva e P. Aguiar, e Neném, samba de Tito Madi.

 

                        Em 1967, gravou o LP Canção do Amor Distante, pela Fontana, com destaque para os sambas Sorri, de Elton Medeiros e Zé Kéti, Faça-me o Favor, de Fernando César e Britinho, Não Fique Triste Não, de Jorge Bem, e Veja Lá, de Luiz Fernando Freire e Baden Powell.

 

 

                        Em 1979, gravou, com o Quinteto de Radamés Gnattali, um LP em homenagem a Valzinho, que também participou do disco só de composições suas, com produção de Hermínio Bello de Carvalho. O disco, Valzinho - Um Doce Veneno, teve, além da edição brasileira, uma tiragem destinada ao mercado estrangeiro.

 

                        Zezé fez algumas apresentações nos anos 1980 com o grupo Cantoras do Rádio, ao lado de Nora Ney, Rosita Gonzales, Violeta Cavalcanti e Ellen de Lima, que lhe renderam dois CDs.

 

                        Em 1999, gravou o CD Clássicas, ao lado da cantora Jane Duboc, que também rendeu show encenado no Rio, São Paulo e outras praças brasileiras. O disco trazia, dentre outras, Linda Flor, samba-canção de Henrique Vogeler, Marques Porto e Luiz Peixoto, Olha, foxe de Roberto Carlos e Erasmo Carlos e Cidade do Interior, samba de Mário Rossi e Marino Pinto. No mesmo período, também participou do Espetáculo Lupicínio Rodrigues, ao lado de Áurea Martins, montado em várias casas noturnas do Rio e de São Paulo.

 

 

 

                         Em 2000, participou do Projeto MPB: A História de Um Século, estrelando o primeiro da série de quatro shows no CCBB, Do Choro ao Samba, ao lado de Paulo Sérgio Santos e Maria Tereza Madeira, com roteiro e direção de Ricardo Cravo Albin. Em 2001, apresentou show no Paço Imperial no Rio de Janeiro.

 

                        Em 2002, gravou, pela Biscoito Fino, o CD Sou Apenas Uma Senhora Que Canta, dedicado Elizeth Cardoso, no qual interpretou, dentre outras, Meu Consolo É Você, samba de Roberto Martins e Nássara, Vida de Artista, canção de Sueli Costa e Abel Silva, Pra Machucar Meu Coração, samba de Ary Barroso, Chão de Estrelas, samba-canção de Sílvio Caldas e Orestes Barbosa, e Por Que Te Escondes?, letra inédita do poeta Thiago de Mello para um choro de Pixinguinha.

 

                        Em 2008, saiu, pela gravadora Biscoito Fino o CD Zezé Gonzaga Entre Cordas, produzido por Hermínio Bello de Carvalho, com gravações nunca editadas em disco, retiradas de programas de TV e de áudios inéditos de shows, acompanhada de nomes importantes como Baden Powell e Raphael Rabello.

 

 

                        Todos os discos aqui mencionados, bem como 111 faixas remasterizadas de bolachões 78 RPM são facilmente encontráveis no mercado virtual especializado.

 

                        Muito antes, em 1985, a FENABB – Federação Nacional de Associações Atléticas Banco do Brasil lançou um projeto que ficará para sempre na memória dos amantes da MPB. Trata-se de Velhos Sambas, Velhos Bambas, Volume 1, com três elepês, e Volume 2, este em 1989, com dois. Além de resgatar alguns intérpretes tradicionais, trouxe-nos, com grande orquestra e arranjos modernos, a fina flor do que ainda restava da Velha Guarda de nosso cancioneiro sambista: Violeta Cavalcanti, Roberto Silva, Gilberto Milfont, Ademilde Fonseca, Roberto Paiva, Adoniran Barbosa, Adeilton Alves, Luiz Cláudio, Núbia Lafayette, e, como não poderia faltar, Zezé Gonzaga

 

 

                        E é com essa nova roupagem que escolhi cinco números para mostrar um pouco do talento e desse grande ídolo da Velha Guarda:

 

                        Saia do Caminho, samba-canção de Custódio Mesquita e Evaldo Rui:

 

 

                        Meu Barracão, samba de canção de Noel Rosa:

 

 

                        Segredo, samba-canção de Herivelto Martins e Marino Pinto:

 

 

                        Pela Décima Vez, samba-canção de Noel Rosa:

 

 

                        Cerejeira Rosa, rumba de Louiguy e Jacques Larue, versão de Júlio Nagib, seu maior sucesso, em gravação original de 1955:

 

 

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