Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 24 de abril de 2024

ABRAM ALAS PRO MEU QUIÇÁ (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

ABRAM ALAS PRO MEU QUIÇÁ

Dalinha Catunda

Hoje lembro com saudade
O tempo bom que passou
Quando o não era um talvez
E assim você me ganhou
Você puxava meu braço
Eu evitava o abraço
Porém você me laçou.

No cordão que se formava
Circulando no salão
Você com sua insistência
Segurou a minha mão
E me beijou bem na hora,
A do: “ vou beijar-te agora”
E ganhou meu coração.

Você foi o meu pirata
Eu a sua colombina
Lembro nós dois enroscados
Nos laços da serpentina
Quando meu não virou sim
Não desgrudou mais de mim
A paixão foi repentina.

E não acabou em cinzas
Esse amor de carnaval
Aos encantos da conquista
Botei fé e dei aval
Apostei na fantasia
Colhi amor e alegria
E fui feliz no final.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 17 de abril de 2024

O CORNO FOFOQUEIRO (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

O CORNO FOFOQUEIRO

Dalinha Catunda

Quem vive de propagar
Que o seu fulano é corno
As vezes causa transtorno
Nem chega a desconfiar
Que chifres vive a levar
Sem que venha perceber
Faz chacota com prazer
Mas devia ficar mudo
Pois continua o chifrudo
Sendo o último a saber.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 10 de abril de 2024

MULHER DE RAÇA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

MULHER DE RAÇA

Dalinha Catunda

 

Neguinha sou para amigas
Minha nega pro amado
Sou morena citadina
Meu cabelo é ondulado
Sou dona das minhas ventas
Sou das mulheres atentas
Tenho nariz empinado.

Sou cabocla sertaneja
E trago no matulão
A astúcia da matuta
Que desbravou o sertão
E que não poupou canela
Quando abriu sua cancela
Buscando libertação.

Da fralda da Ibiapaba
Sou das alas das guerreiras
Agarrada ao jacumã
Enfrentei as corredeiras
Em cima duma piroga
Sou guerreira que se joga
Nas águas das Ipueiras

Sou a mistura das raças
Sou a miscigenação
Sou Catunda, sou do Prado
Tenho sangue de Aragão
Sou cunhã, sou companheira,
Sou concubina parceira
Eu só não sou é padrão.

 

Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 03 de abril de 2024

QUARENTENA NA ROÇA, VIVENDO COMO ÍNDIO (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

Aqui estou feito índio
Acoitada em uma oca
Só comendo caça e pesca
E entrando na mandioca
No café como beiju
No almoço tem tatu
Já na ceia é tapioca.

Na cidade eu fazia
Musculação e ioga
Aqui vivo a natureza
Despida de lei e toga
O que me dá mais prazer
É rio abaixo descer
Trepada numa piroga.

Quando meu nativo chega
Alisando o jacumã
Fogosa ligeiro abro
Meu sorriso de cunhã
Eu dou para ele comer
Um caldo que sei fazer
Na base de Carimã.

Numa rede de tucum
De noite vou me deitar
E no balanço da rede
Eu vejo Jaci brilhar
E meu amor diz pra mim
Vamos fazer curumim
Antes do mundo acabar?


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 27 de março de 2024

O TABACO DE MARIA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

O TABACO DE MARIA

Dalinha Ctunda

Xilogravura de Erivaldo Ferreira

 

1
Na estrada do Pai Mané
Na cidade de Ipueiras
Bem pertinho das Barreiras
De imburana tem um pé
Ele dá um bom rapé
Pra quem sabe preparar
Maria sabe torrar
E tem grande freguesia
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

2
E naquela arrumação
Meu pai era viciado
No dedo era colocado
Do rapé uma porção
Com o tabaco na mão
Pra no nariz esfregar
E logo após aspirar
Ele fungava e dizia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

3
Valdenira me indicou
Disse mulher acredite
Ele é bom pra sinusite
Aqui mamãe sempre usou
Depois que ela receitou
Comecei a melhorar
Nunca parei mais de usar
Acabou minha agonia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

4
Garapa ficou sabendo
Dessa história do rapé
Foi direto ao Pai Mané
Também estava querendo
Com Maria se entendendo
Resolveu logo pagar
E não saiu sem provar
do cheiroso nesse dia
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

5
Edgar acabrunhado
Com o nariz entupido
Sentindo-se já perdido
Com febre e com resfriado
Foi atrás desse torrado
Para tentar melhorar
Porém mesmo sem gostar
Do produto repetia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

6
Dão de Jaime que gostou
Do tabaco da fulana
Cheirou mais duma semana
E também se viciou
Da mulher ele apanhou
E não cansou de apanhar
Pois disse não vou largar
E gritando se exibia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

 

7
Lindicassia nascimento
Fugava como ela só
Cheirou um pouco do pó
Daí veio o seu alento
Falou sem constrangimento
Eu posso até me lascar
Porém nunca vou largar
O que já virou mania
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

8
Do torrado de imburana
Quis provar meu companheiro
Foi adquirir ligeiro
Nem teve pena da grana
Com a cara de sacana
E só para chatear
Chegava os olhos virar
Envolvido na folia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

9
O vigário da cidade
Pediu para o sacristão
Vá comprar uma porção
Uma boa quantidade
Um rapé de qualidade
Que estou querendo espirrar
Mas onde ele ia comprar
O vigário já sabia
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

10
Neto Alves da Cultura
Ficou logo interessado
Para comprar o torrado
Mandou uma criatura
E disse: – mas que loucura!
E esse bicho é de lascar
Hoje vou me empanturrar
Pois eu não tenho alergia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

11
É remédio natural
Eu também sou dessa linha
Disse Anilda pra Dalinha
Querendo provar do tal
Garanto que não faz mal
E tratou de encomendar
Ao começar a chuchar
Comentou com euforia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

12
Eu só sei que a imburana
Transformada em rapé
Muita gente levou fé
E Maria não engana
Pra Violante e Diana
Ela ficou de enviar
Se Cassiano esperar
Com certeza ela envia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

13
Tenho tabaco estocado
Pra Dideus e Acopiara.
A freguesia não para,
O de Chica está guardado.
Fátima Correia e Prado,
Só falta mesmo embalar
E quem fica a me cobrar,
É o Tião Simpatia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

14
Tenho um frasco pra Bastinha
Pra Vânia Freitas também
O Sérgio sei que já tem
De Rosário é na latinha
Eu fiz o que me convinha
Porém tenho que avisar
Já vi velho se peidar
Em frente a tabacaria:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

15
Eu só sei que esse rapé
Extraído da imburana
Fez uma corrida insana
Isso me falava Zé
Veio de Brumado a pé
Somente para comprar
Um tabaco singular
Que não tem lá na Bahia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

16
Meu cordel chega ao final
Porém o cheiro persiste
Penetrando nesse chiste
Que diverte e não faz mal
Com gosto dou meu aval
Pois consegui entranhar
Amigos para brincar
No mote que repetia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 20 de março de 2024

GLOSAS DE MORAES MOREIRA (POSTAGEM DA COLUNISTA DA.INHA CATUNDA)

 

GLOSAS DE MORAES MOREIRA

Dalinha Catunda

Moraes Moreira, Itauçu-BA, (1947-2020)

 

Mote desta colunista e glosas de Morais Moreira, publicadas originalmente no Blog Cordel de Saia.

Se tem mulher no cordel
Você tem que respeitar.

Vai fundo na caminhada
Que o homem parece raso
Vivendo quase um ocaso
Já se perdendo na estrada,
É hora da mulherada
Tomar o tempo e o lugar
Não adianta chorar
Achar que a vida é cruel,
Se tem mulher no cordel
Você tem que respeitar.

No tempo da plenitude
O homem cai no vazio
Fugindo do desafio
Covarde e sem atitude
Coitado ainda se ilude
Não sabe como se dar
O que é que vai lhe restar
Senão tirar o chapéu?
Se tem mulher no cordel
Você tem que respeitar.

De uma costela de Adão
Dizem que a mulher foi feita
E sendo assim tão perfeita
Imaginemos então
Se fosse do coração
Que Deus pudesse a criar
O mundo ia proclamar:
Oh criatura do céu!
Se tem mulher no cordel
Você tem que respeitar.

Naturalmente é sem músculo
No seu jeitinho de moça
Duvida da sua força
O macho já no crepúsculo
Sendo somente um opúsculo
Da obra que vai ficar
O que é que vai lhe sobrar
Senão caminhar ao léu?
Se tem mulher no cordel
Você tem que respeitar.

Não falto com a verdade
E peço que me acompanhe
Já que a mulher é a mãe
De toda a humanidade
Pra não ficar na saudade
O homem vai conquistar
Ao seu ladinho um lugar
Fazendo bem seu papel,
Se tem mulher no cordel
Você tem que respeitar.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 13 de março de 2024

MARIA PREÁ VERSEJADA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA))

 

MARIA PREÁ VERSEJADA

Dalinha Catunda

É mais ou menos assim
A história que ouvi falar
Maria Preá e o Padre
E um sacristão singular

Eu conheci um vigário
Comedor de periquito
Desrespeitava a batina
Ninguém achava bonito.

E pelo seu sacristão
Um dia ele foi flagrado
Quase perdeu a razão
Ficou desorientado.

O sacristão sem escrúpulos
Danou-se a chantagear
O vigário aventureiro
Que vivia a fornicar.

Porém nada como um dia
E a noite pra atrapalhar
O padre dando umas voltas
Viu o sacristão pecar.

O chantagista de quatro
Perto da cabana tosca
Numa vereda afastada
Gemia e queimava a rosca.

Foi quando ouviu um ruído
E o “Santo” padre a gritar:
Morreu Maria Preá!
E ele teve que calar

O povo diz que essa história
Se deu lá no Ceará
Eu garanto que conheço
Muitas “Maria Preá.”


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 13 de março de 2024

SÓ NA GEMEDEIRA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

SÓ NA GEMEDEIRA
Dalinha Catunda

 

SÓ NA GEMEDEIRA

*

A Dalinha é bem gigante

Na bela arte do cordel,

Alguns escrevem amargo

Mas ela escreve com mel,

É verdadeira rainha

Ai ..ai ..ui..ui.

Uma grande menestrel...

FRANCISCO ALMEIDA

*

Seu Dr. Sou atrevida,

Na hora de versejar

O mel que ponho nos versos

Não é só para adoçar

É para atrair incauto

Ai.. ai.. ui.. ui

E sem pena ferroar.

DALINHA CATUNDA

*

Conheço-os, bem de perto,

uma rainha e um zangão...

Vem deles o doce mel

que alimenta esse povão.

São abelhas do repente

Ai... ai... ui... ui...

advindas do sertão.

DAVID FERREIRA ...

*

E chegou mais um poeta

Querendo adoçar o bico

Trazendo versos bem feitos

Que respondo e não replico

É mais um nessa colmeia

Ai... ai... ui... ui...

Para aumentar o fuxico.

DALINHA CATUNDA

*

Gemedeira é um estilo

Que mexe com muita gente,

Alguém geme de paixão

E outro por estar doente,

E quem disser que não geme,

Aí.. aí... ui...ui...


É quem geme mais ardente.

FRANCISCO ALMEIDA

*

Nesse estilo meu amigo

Não se geme diferente

E se for de pé quebrado

Quem conhece não consente

E na estrofe tem que ter

Ai... ai... ui...ui...

Ou não aceita o repente.

DALINHA CATUNDA

*

Um gemido é coisa séria,

gemer não é brincadeira!

Geme-se de muitos jeitos,

mas, há a melhor maneira...

Quem não geme de paixão,

ai..., ai..., ui..., ui...


não sabe o qu'é gemedeira.

DAVI FERREIRA

*

É suspiro, é enleio,

O gemido da paixão,

Que brota dentro do peito,

E escapa do coração,

Acaba num sussurrado

ai..., ai..., ui..., ui...


Mas não é lamentação.

DALINHA CATUNDA

*

De verdade, é saborosa

Quem entra na gemedeira

Funga que nem dançarino

Na dança da gafieira

Hoje debuto meu fungo

Ai...,ai....,ui....., ui...

Nessa minha vez primeira!

BASTINHA JOB

*

Quando a tal da gemedeira

Chega e bate no cangote

Arrepia o corpo inteiro

Dançando juntinho um xote

Um geme e outro responde

Ai...,ai....,ui....., ui...

E acaba virando mote.

DALINHA CATUNDA

*

Dependendo do fungado,

tudo pode acontecer, 


se fungar em cima, em baixo,

e ouvir a "nêga" gemer...

Aguarde que a coisa flui,

ai... ai... ui... ui...


um "pansudin" vai nascer!...

DAVID FERREIRA

*

A melhor coisa do mundo

É gemer sem sentir dor,

Sem dúvida, é reflexo

De um desenfreado amor,

E quem diz que não gemeu,

Aí...aí...ui... ui...

É o maior gemedor.

FRANCISCO ALMEIDA

*

Comecei com a gemedeira

Com uns versinhos por aqui

Veio Bastinha do Crato

E temperou com pequi

Chegou David e Almeida

Aí...aí...ui... ui...

Fez sucesso o Piauí.

DALINHA CATUNDA

*

 

Xilo de Carlos Henrique

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 06 de março de 2024

NOS BRAÇOS DE UM FURACÃO (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

NOS BRAÇOS DE UM FURACÃO

Dalinha Catunda

Em noite fria de outono
De luar encantador
A lua cheia brilhava
Mostrando seu esplendor
A noite estava tão bela
Entreabri a janela
Com meu ar contemplador

Ao apagar o abajur
Ensaiando pra dormir
Um rumor vindo de fora
Eu imaginei ouvir
Acheguei-me ao travesseiro
Porém despertei ligeiro
E vi meu sono sumir.

Foi quando ele sorrateiro
No meu quarto penetrou
E sem que eu me desse conta
Nesse ambiente se espalhou
Bem de leve me roçava
Num sopro que acarinhava
E o meu corpo despertou.

Chegou brando e carinhoso
Confesso me satisfez
Encantava-me a meiguice
Afagando a minha tez
E não achei que era abuso
A visita desse intruso
Oportunista talvez.

Inteiramente à vontade
Eu me deixei seduzir
Ele entrava, ele saía
E eu gostando do ir e vir
Cada vez que penetrava
O meu corpo arrepiava
meu anseio a consentir.

Foi visita relaxante
Até um dado momento
Ficou mais audacioso
Intenso no movimento
Meus cabelos, desmanchou
Os lençóis, desarrumou
Transformou-se totalmente.

Daí eu me levantei
Tentando uma solução
Tentei fechar a janela
Mas faltou força na mão
Depois desse vento forte
Quase que perco meu norte
Nos braços de um furacão.

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 28 de fevereiro de 2024

PRECISO DO SEU CHEIRO (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

PRECISO DO SEU CHEIRO

Dalinha Catunda

Quando por mim você passa
Eu viro mulher feliz
Tão cheiroso e provocante
Que logo acendo o nariz
E deixo seu cheiro entrar
Só para me deleitar
Pois sou mulher de raiz.

Se sempre acordo bem cedo
É pra provar seu sabor
O meu paladar exige
Antes que eu vá ao labor
Ter você sempre bem quente
Alertando minha mente
Provocando meu calor.

Para ter você comigo
Caminho léguas o pé
Vou até o fim do mundo
E não perco minha fé
De provar do meu neguinho
Nem que seja um golinho
Sou viciada em café!


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 21 de fevereiro de 2024

DUAS GLOSAS - 29.05.2020 (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

DUAS GLOSAS

Dalinha Catunda

Mote de Heliodoro Morais:

Uma porca perde a rosca
Mas não entra em parafuso

* * *

Eu já perdi o juízo
Porém doida não fiquei;
Maus momentos já passei
Mas do pranto fiz sorriso
Do inferno fiz paraíso.,
Da moda que eu fiz uso
É mel em que me lambuzo
E fez minha rima fosca:
“Uma porca perde a rosca
Mas não entra em parafuso”

Bastinha Job

* * *

Sempre fui muito teimosa
Assim minha mãe dizia.
Dessa minha teimosia
Nunca ficou orgulhosa.
Eu seguia toda prosa,
Deixando o povo confuso,
Destilava meu abuso,
Com minha linguagem tosca:
“Uma porca perde a rosca
Mas não entra em parafuso”

Dalinha Catunda


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 14 de fevereiro de 2024

SEM PÂNICO NA PANDEMIA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

SEM PÂNICO NA PANDEMIA

Dalinha Catunda

 


E vim pra roça, porém,
Esse não é o meu sítio
É a fazenda do meu bem.
Por aqui a gente trepa,
Dia sim outro também,
Pra tirar fruta do pé
Sem pedir nada a ninguém.
Aqui tem pomba, tem rola,
Mas me faz falta o vem vem,
Tem cobra rondando a casa,
Perereca, há mais de cem.
O frio aqui está grande,
Chuveiro quente não tem,
Às vezes é complicado,
Para lavar o sedém,
Entretanto dou meu jeito
Garanto não fico sem.
Pra fugir da Pandemia
Faço tudo que convém
Faço prece e uso máscara
Rogo a Jesus de Belém
Faço figa e simpatia
Se preciso vou além.

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 07 de fevereiro de 2024

SÃO JOÃO VIRTUAL (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

SÃO JOÃO VIRTUAL

Dalinha Catunda

Hoje sofro sem São João,
Sem fogueira, sem balão,
E o canto do meu amor.
Retirando seu chapéu,
Dizendo: Olha pro céu,
Repare quanto esplendor!

Chegou a praga, a desdita,
Chegou a peste maldita,
E acabou nossa ilusão
Fiquei sem meu arraial
Pois agora é virtual
Nossa festa e tradição.

Embora fique bem triste
Meu coração não resiste
E me pede pra cantar.
E eu entro na brincadeira
Acendo minha fogueira
E meu facho pra brincar.

Para seguir nova meta
Convido cada poeta
A fazer sua oração
Vamos rimar alegria
Fazer versos com poesia
Para festejar São João.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 31 de janeiro de 2024

VIVA SÃO JOÃO! (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

VIVA SÃO JOÃO!

Dalinha Catunda

Mote desta colunista:

Quem vive, saltou fogueira
E eu grito: Viva São João.

Meu povo, vou festejar,
Vou buscar minha alegria,
Entocar melancolia,
Medo não vai me acuar.
Se quiser pode chegar,
Para essa celebração,
Em nome da tradição
Entre nessa brincadeira:
Quem vive, saltou fogueira
E eu grito: Viva São João.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 24 de janeiro de 2024

A ROLA DA CONCEIÇÃO (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALIMHA CATUNDA)

 

A ROLA DA CONCEIÇÃO

Dalinha Catunda

1
Conceição mulher católica
Filha de Dona Prazer
Era uma moça sem vício
Vivia o povo a dizer
Mas arrumou uma rola
Pra com ela se entreter.

2
Quando baixou no terreiro
A rola desmilinguida
Conceição logo gostou
Daquela pomba perdida
Resolveu dela cuidar
E já estava decidida.

3
Dona Prazer espantou
A pomba que apareceu
Porém Conceição com pena
A dita cuja acolheu
Foi na mão de Conceição
Que aquela rola cresceu

4
A moça meio inocente
Deu logo casa e comida
A rola desenvolveu
E foi ficando sabida
Conceição se emocionava
Ao ver a rola crescida.

5
A pomba ficou vistosa
Com carinho era tratada
Logo se via que a rola
Era bem alimentada
Quem vê hoje nem percebe
Que um dia fora enjeitada.

6
Conceição passava o dia
Paparicando a tal rola
Era uma pomba manhosa
Que fazia ela de tola
mas quando a rola sumia
Ela dava até “pirôla.”

 

7
A mãe já tinha era nojo
Vendo o chamego danado
Porque onde a filha ia
Levava a pomba do lado
E por onde ela passava
Se ouvia o cochichado:

8
A moça perdeu o juízo
Depois que adotou a pomba
E nem percebe que a rola
Muitas vezes dela zomba
Quando alguém vai avisar
Conceição fica de tromba.

9
Sei que deu o que falar
O grude de Conceição
O povo já comentava
E a mãe passava sermão
Mas ela apenas dizia
A rola é de estimação.

10
Diante dos comentários
Uma mãe acabrunhada
Testemunha do destroço
Mas sem poder fazer nada
Pensava com seus botões
Minha filha está lascada.

11
O pior de tudo isso
Eu agora vou contar
Lá na casa da vizinha
A rola foi se enfiar
Para ver seu periquito
Que era muito popular.

12
O certo é que Conceição
Faltava era ficar louca
Quando a rola escapulia
Gritava de ficar rouca
E esculhambava a vizinha
A briga não era pouca.

13
Tenha vergonha na cara:
Dizia Dona Pureza
Deixe de lado essa pomba
Que anda de safadeza
Aqui não vai mais entrar
Pois já chega de esperteza.

14
Mamãe quero minha rola
Sem ela vou padecer
Essa rola é minha vida
O meu maior bem querer
Sem minha pomba querida
Não tem graça o meu viver.

15
A rola de Conceição
Era uma rola fujona
Agora estava aninhada
Mas no colo de outra dona
Pois gostou do periquito
Da tal vizinha ladrona.

16
Aquela rola-cabocla
Deu desgosto a Conceição
Por causa da rola-grande
Sofria seu coração
Com raiva da rola-roxa
Chegou a ter depressão.

17
Eu só sei que a pomba-rola
Não largava o periquito
Dona Pureza lutava
Para abafar o conflito
E a vizinha debochada
Botava fogo no atrito.

18
Dona Pureza zangada
Deu uma de ignorante
E foi dizendo pra filha
Com raiva naquele instante
Pare de chorar por rola
Pois toda pomba é migrante.

19
E se hoje uma rola vai
Depois outra rola vem
Você gostou dessa pomba
Vai gostar d`outra também
Pare com tanta lamúria
Pois isso não fica bem.

20
Aquilo era uma pombinha
Era só uma avoante
Aquelas pombas de bando
Era rola retirante
Vai largar o periquito
E vai seguir adiante.

21
Eu já peguei muita rola
Com esse meu alçapão
Porém não prendi nenhuma
Meu oco não foi prisão
Rola a gente cria é solta
Voando na imensidão.

22
Esqueça a rola-cabocla
Pare com essa tristeza
No quintal eu ouço arrulhos
Pelo jeito é de burguesa
Escute o que está dizendo
Sua mãe dona Pureza.

23
Conceição foi se acalmando
Logo parou de chorar
Olhou para o cajueiro
Viu a burguesa arrulhar
E armou seu alçapão
Para a burguesa pegar.

24
Não chore pombas perdidas
Porque as pombas se vão
Isso já disse um poeta
Eu prestei bem atenção
Aproveite pra voar
Dê asas ao coração.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 17 de janeiro de 2024

GLOSAS - 12.09.2020 (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDAo

 

GLOSAS

Dalinha Catunda

Mote desta colunista:

Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

Já cansei de repetir
Essa história que hoje conto
Não aumento nem um ponto
Isso posso garantir
Se você quiser ouvir
A Deus peço muita luz
E nos versos que compus
Repito o que diz Raquel:
Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

Esse caso aconteceu
Pras bandas do Ceará
Com Raquel que é de lá
E um sujeito conheceu
Do cuscuz dela comeu
E já gritou: Ai Jesus!
Da comida que seduz
Virou um freguês fiel:
Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

Aqui na minha pensão
Ele vinha todo dia
E demonstrando alegria
Fazia sua refeição
E fez a propagação
Do jeito que lhe propus
Botou foto no capuz
Do seu antigo corcel:
Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

O negócio foi crescendo
Eu ganhava, ele ganhava
A freguesia aumentava
E a propaganda comendo
Porém eu fui percebendo
E não apenas supus
Com ele já me indispus
Após provar do seu fel:
Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

Traída covardemente
Eu fui e ele nem negou
Disse que se apaixonou
Por um menu diferente
Arroz com carne presente
Que a cozinheira introduz
A minha raiva eu expus
Diante do seu papel:
Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

Quem comeu na minha mão
Sabe que sei cozinhar
Pois tenho bom paladar
E sou boa de fogão
Agora preste atenção
No peso da minha cruz
Foi pior do que supus
A minha saga cruel:
Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 10 de janeiro de 2024

NO SONHO AZUL (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DELINHA CATUNDA)

 

NO SONHO AZUL

Dalinha Catunda 

Foto desta colunista

 

 

Porque era dia de trem
Ela se fez mais bonita
Fez um rabo de cavalo
Botou um laço de fita
Um vestidinho florido
Presente do seu querido
Uma alegria infinita.

Quando o trem longe apitou
Ela pegou a frasqueira
E cheirando a alfazema
Corria toda faceira
Porque dentro do vagão
Estava sua paixão
De tantas, era a primeira.

Entrou toda saltitante
E depressa foi notada
Porém nada foi surpresa
Estava sendo esperada
Na poltrona acomodados
O casal de namorados
Seguiram sua jornada.

E Dentro do sonho azul
Nasce o sonho cor de rosa
Entre os dois apaixonados
Na viagem venturosa
Quem não soube ter coragem
Perdeu o trem e a bagagem
E não foi vitoriosa.

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 03 de janeiro de 2024

CARREIRÃO DE MULHER (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

CARREIRÃO DE MULHER

Dalinha Catunda 

Sou poeta popular
Nos versos sou estradeira
Quando pego um carreirão
Meu verso não tem barreira
Sempre tive a língua solta
Pois gosto de brincadeira
Quando chego num alpendre
Puxo logo uma cadeira
E desenrolo meu verso
Sem esquentar a moleira
Ninguém derruba meu verso
Com pedra de baladeira.
Quem for fraco de poesia
Pode pegar na carreira
Meu angu aqui é quente
Não se come pela beira
Quando retoco o batom
Mostro meu lado brejeira.
Tem muita gente que aplaude
Meu verso de cantadeira
Porém tem gente que diz
Que apenas falo besteira
Não canto sem minha figa
Não passo sem benzedeira.
Aprendi meu carreirão
Ouvindo Pedro Bandeira
Escrevo meus absurdos
Por causa de Zé Limeira
Eu só não aprendo nada
É quando esbarro em toupeira.
Esse canto encarrilhado
É canto de catingueira
Que não erra na flechada
Porque sabe ser certeira
SE TEM CANTO DE SEGUNDA
O MEU CANTO É DE PRIMEIRA.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 27 de dezembro de 2023

GLOSAS - 12.09.2020 (CORDEL DA COLUNISTA DALINHA CATUNDA)

 

GLOSAS

Dalinha Catunda

Mote desta colunista:

Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

Já cansei de repetir
Essa história que hoje conto
Não aumento nem um ponto
Isso posso garantir
Se você quiser ouvir
A Deus peço muita luz
E nos versos que compus
Repito o que diz Raquel:
Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

Esse caso aconteceu
Pras bandas do Ceará
Com Raquel que é de lá
E um sujeito conheceu
Do cuscuz dela comeu
E já gritou: Ai Jesus!
Da comida que seduz
Virou um freguês fiel:
Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

Aqui na minha pensão
Ele vinha todo dia
E demonstrando alegria
Fazia sua refeição
E fez a propagação
Do jeito que lhe propus
Botou foto no capuz
Do seu antigo corcel:
Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

O negócio foi crescendo
Eu ganhava, ele ganhava
A freguesia aumentava
E a propaganda comendo
Porém eu fui percebendo
E não apenas supus
Com ele já me indispus
Após provar do seu fel:
Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

Traída covardemente
Eu fui e ele nem negou
Disse que se apaixonou
Por um menu diferente
Arroz com carne presente
Que a cozinheira introduz
A minha raiva eu expus
Diante do seu papel:
Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

Quem comeu na minha mão
Sabe que sei cozinhar
Pois tenho bom paladar
E sou boa de fogão
Agora preste atenção
No peso da minha cruz
Foi pior do que supus
A minha saga cruel:
Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 20 de dezembro de 2023

A ÁRVORE QUE ME REPRESENTA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

 

A ÁRVORE QUE ME REPRESENTA
Dalinha Catunda
 
 
*
Eu hoje vivo na roça
Recordando meu sertão,
Pois é lá daquelas brenhas,
Que retiro inspiração.
Minha Árvore de Natal,
Tentei fazer uma igual,
Com alguma inovação.
*
Peguei garrancho no mato,
Tirei as folhas, limpei,
E numa lata de vinte
Areia lá coloquei.
E depois chegou a vez
Do paninho de xadrez,
Pra envolver a lata usei.
*
Como eu sou cordelista,
Para a árvore enfeitar,
Dependurei meus cordéis,
Que tem tanto pra contar…
Das histórias do sertão,
Que trago no coração,
E gosto de relembrar!
*
Minhas bonecas de pano?
No Natal muitas ganhei!
Como artesã de bonecas,
Algumas eu pendurei,
Frutos da recordação,
Que marcam a tradição,
Coisas que vivenciei.
*
Quando saí do Nordeste
Mãe solteira e minha cruz
Me apeguei no meu caminho
A santa Mãe de Jesus.
Minha base a cada dia,
Era Jesus e Maria,
Meu caminho foi de luz.
*
Versos e arte de Dalinha Catunda
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 13 de dezembro de 2023

UM CARREIRÃO DE NOTÍCIAS (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

UM CARREIRÃO DE NOTÍCIAS

Dalinha Catunda

Amigos, estou na roça
Nem sei quando vou voltar
Estou desde fevereiro
E terminei por ficar
Essa vidinha no campo
É coisa pra me agradar.
Porém quando a chuva chega
Com vento forte a soprar
Eu fico sem internet
Aqui tudo sai do ar
Por isso minhas postagens
Eu fico sem comentar.
Fora isso eu acho bom
E estou a me renovar
Eu faço queijo de coalho
E de Minas por gostar
E faço doce de leite
Pra gente aqui merendar.
O feijão verde e maxixe,
Já tá dando pra apanhar,
Tem quiabo e berinjela,
Jerimum pra variar,
E tudo isso me agrada,
Pois gosto de cozinhar.
Tem um alpendre com redes
Quando quero descansar
Quando me bate a preguiça
Logo corro pra deitar
É de lá que vejo a lua
Com seu brilho a despontar.
A passarada faz festa
E passa o dia a cantar
Tem pitanga, tem groselha
Pra passarinho bicar
As mangueiras carregadas
Estão começando a dar.
Por aqui eu vou ficando
Porém volto a relatar
As novidades da roça
Desse meu mais novo lar
Um abraço para todos
Aqui eu quero deixar.

Cachoeiras de Macacu-RJ, 9/10/ 2020


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 06 de dezembro de 2023

EXALTANDO A NATUREZA (CORDEL DA COUNISTA MADRE SUPERIORA DALINDA CATUNDA)

 

EXALTANDO A NATUREZA

Dalinha Catunda

Fotos da colunista

 

Eis-me aqui neste recanto
E sem arrependimento
Dos pássaros ouço o canto
Bendigo cada momento
A brisa traz acalanto
Viajo no pensamento.

Desfruto dessa bonança
No verde desse lugar
No peito cresce a esperança
Assim me ponho a sonhar
Nos passos da nova dança
Danço sem me alvoroçar.

Contemplando a natureza
Obra de Nosso Senhor
Onde a lua é realeza
Onde o sol tem esplendor
Celebro toda beleza
Nesses meus versos de amor.

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 29 de novembro de 2023

NOS TRILHOS DA MOCIDADE (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

NOS TRILHOS DA MOCIDADE

Dalinha Catunda

Foto desta colunista

 

O velho trem da saudade
Resolveu me visitar
Na bagagem a lembrança
É tanta, chega a pesar
Abro a porta do vagão
E deixo a recordação
Pelos trilhos me guiar.

Êta saudade danada
Que bateu, mas foi de mim
Menina moça levada
Batom da cor de carmim
Faceira e desaforada
Pela vida apaixonada
Como eu gostava de mim.

Nas tertúlias da cidade
Era a primeira a chegar
Pra “tirar uma fornada”
Com quem soubesse dançar
Dançava bem um brecado
Um bolero apaixonado
E sem “macaco botar.”

Short curto, minissaia
Era assim que eu me vestia
Minha mãe era moderna
E para minha alegria
Gostava de costurar
E a gente podia usar
A roupa que bem queria.

Passear de bicicleta
Era outra diversão
Cidade do interior
Ipueiras, meu sertão
Banhos de açude e de rio
Quando recordo sorrio
Fui feliz em meu rincão.

Passei por cima de tudo
Pra viver em liberdade
Desdenhei até das leis
Da nossa sociedade
Liberta da hipocrisia
E sem precisar de guia
Vivi só minha verdade.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 22 de novembro de 2023

DEVANEANDO (CORDEL COM A COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA) VÍDEO

 

DEVANEANDO

Dalinha Catunda

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 15 de novembro de 2023

GLOSANDO NA REDE (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

GLOSANDO NA REDE

Dalinha Catunda

Ciranda de glosas com mulheres, coordenada por esta colunista, idealizadora do Cordel de Saia

 

* * *

Mote de Medeiros Braga:

Não fora nosso Nordeste
Seria pobre o Brasil

* * *

Dalinha Catunda – Rio de Janeiro-RJ:

Berço da mulher rendeira,
E de Maria Bonita.
A Raquel trouxe na escrita
Maria Moura Guerreira,
A força da brasileira,
A que enfrentou cada ardil!
Mostrando bem seu perfil
De forte mulher do agreste:
Não fora nosso Nordeste
Seria pobre o Brasil

Bastinha Job – Crato-CE:

O Ceará de Alencar
De Peri, de Iracema,
De Ceci prosa em poema
Do verde-azul do mar;
Tem o Ferreira Goulart,
Gonzagão, Gilberto Gil,
Patativa é nota mil
Nossa Arte é inconteste:
Não fora nosso Nordeste
Seria pobre o Brasil

Vânia Freitas – Fortaleza-CE:

O nordeste brasileiro
Banhado de sol e mar
Tem nas noites de luar
O canto do violeiro
Que embala nosso terreiro
Com seu verso mais sutil
Que encanta com mais de mil
O sul norte leste e oeste
Não fora nosso Nordeste
Seria pobre o Brasil

Rosário Pinto – Rio de Janeiro-RJ:

A mulher faz seu papel
Escreve com linhas finas
Histórias de heroínas
Maneja bem o pincel
Em versos de menestrel.
São muitas na poesia,
E na prosa, em demasia,
Nos romances, mais de mil.
Do Norte até o Leste
Não fora nosso Nordeste
Seria pobre o Brasil

Dodora Pereira da Silva – Juazeiro-CE:

Mulher guerreira e forte
Enfrenta o sol causticante
Com um sorriso intrigante
E o amor é seu suporte
O poeta é que tem sorte
Essa musa é nota mil
Contrastando o céu de anil
Com esse seu solo agreste
Não fora nosso Nordeste
Seria pobre o Brasil

Lindicássia Nascimento – Barbalha-CE:

O Nordeste brasileiro
É de fato um braço forte
Esse país tem é sorte
Por não ser do estrangeiro
Sendo bravo e tão guerreiro
De arte e belezas mil
Nós traçamos o perfil
Do rico cabra da peste
Não fora nosso Nordeste
Seria pobre o Brasil


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 08 de novembro de 2023

COMADRE INTÉ OUTRO DIA (CORDE COM A MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, CLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO) VÍDEO

Parodiando Zé Praxedes

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 01 de novembro de 2023

BORDANDO VERSOS (CORDEL DA MADRE SUPERIOR ADALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

BORDANDO VERSOS

Dalinha Catunda

Mote e foto desta colunista

Dalinha Catunda:

Como quem faz um bordado
Vou fiando meu cordel
Procurando ser fiel
Tramo com todo cuidado
Cada ponto do traçado
Faço com dedicação
Trago a metrificação
Pra cada verso compor
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão

Bastinha Job:

Procuro tecer meu verso
Primando na isometria
Busco a isorritmia
Poesia é meu universo
Na mensagem me alicerço
Daí vem pura emoção,
Catarse, satisfação
Compromisso no lavor:
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão

Jesus de Ritinha:

Eu entro na brincadeira
Agricultando poesia
Plantando com alegria
A semente brotadeira
Levo também uma esteira
Que estendo com a mão
Para dessa plantação
Colher frutos de primor
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão

David Ferreira:

Não entendo de bordado,
mas eu vi mamãe tecer.
Não consegui aprender,
porquê homem do cerrado
não podia ser prendado,
fazer bordado de mão,
pisar arroz no pilão,
era visto com temor…
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão

Rosário Pinto:

Faço rima faço prosa.
Procuro ter alegria.
O meu cantar se irradia
Para alguns me chamo Rosa
Eu gosto de fazer glosa
Não conheço a solidão
Trago sempre uma canção
Canto com muito fervor
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão

Vânia Freitas:

Dedico meu tempo à arte
Eu faço que nem Dalinha
Também não saio da linha
Vou fazendo minha parte
Assim como ela reparte
Com muita dedicação
Eu tiro do coração
Algum som do meu tambor
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão

Gevanildo Almeida:

Tiro o verso da cachola
Faço ele flutuar
Sou poeta popular
Desses que não se enrola
Só não sei tocar viola
Mas na minha intuição
Metrifico a oração
Na verso que vou impor
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão

Francisco Chagas:

Eu descrevo a natureza.
O sol, a lua e estrelas.
Eu tenho o prazer de vê-las.
Se eu tiver com tristeza.
Quando olho pra grandeza.
Do Deus Pai da Criação.
Sinto no meu coração.
Muita alegria e vigor
Faço rima com amor.
Faço cordel com paixão.

Rivamoura Teixeira:

Eu sou mei intrometido
Doido levado da breca
Quero brincar de peteca
E este tema é tão querido
Eu também tenho mantido
Esta forma de expressão
Traço com dedicação
Metrifico com fervor
Faço rimas com amor
Faço cordéis com paixão

Creusa Meira:

Na infância fiz bordado
Que a minha mãe ensinava
Tricô e renda, eu tentava
E meu pai tinha guardado
Os versos do seu passado
Eu lia com atenção
Fui aprendendo a lição
E hoje posso dar valor
Faço rima com amor.
Faço cordel com paixão.

José Walter Pires:

Viver “pintando e bordando”
Foi expressão popular;
Mas não sei como explicar,
Às meninas, comparando,
Ou só ficar criticando
Os rumos da evolução,
Com tamanha tentação,
Desafiando o pudor.
Faço rima com amor.
Faço cordel com paixão.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 25 de outubro de 2023

NÃO ME AVEXE NÃO! (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

NÃO ME AVEXE NÃO!

Dalinha Catunda

De poeta e de louca
Eu tenho minha quantia
Tem horas que jogo pedra
Noutras faço poesia
Quando chega o aperreio
Que fico de saco cheio
Minha razão avaria.

Não sou mulher de motim
De bando também não sou
Penso com minha cabeça
Seguir magote não vou
Não sou mulher melindrada
O papel da vitimada
Minha garra dispensou.

Não compro briga dos outros
Pra ficar em evidência
Por favor não me acumule
Tenho pouca paciência
Pois quando o caso é comigo
Não meto nenhum amigo
Tomo logo providência

Nunca gostei de cobranças
Não cobro amor a ninguém
E para ser bem sincera
Nem amizade também
Sentimento é conquistado
Jamais será fabricado
Só se dá quando se tem.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 18 de outubro de 2023

QUANDO EU ESTICAR AS CANELAS (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO) - VÍCEO

 

 

 

 

Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 11 de outubro de 2023

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE RAÍZES (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

 

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 04 de outubro de 2023

SUBI NA PIROGA E PEGUEI NO JACUMÃ (CODEL DA MADRE SUPERIOA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

Foto desta colunista

 

 

Num passeio inusitado
Fui visitar uma oca
Um índio quase pelado
Levou-me a sua maloca
Nessa bonita manhã
Pegando em seu jacumã
Saí com ele da toca.

O passeio foi bonito
Em meio a natureza
Subi na sua piroga
E achei uma beleza
E no banho no riacho
Ele perdeu o penacho
Que caiu na correnteza.

Ao voltarmos do passeio
Eu estava esbaforida
Ele me trouxe cauim
Eu aprovei a bebida
Não saí daquela loca
Sem entrar na mandioca
Gostei muito da comida.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 27 de setembro de 2023

UMA RODA DE GLOSAS - 17.01.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNSTA DO ALMANAQUE RAMUNDO FLORIANO)

 

UMA RODA DE GLOSAS

Dalinha Catunda

Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Mote desta colunista

Dalinha Catunda:

Eu posso dizer que há anos
A vacina salva vidas.
Eu que sou das precavidas
Pra não sofrer desenganos,
E evitar maiores danos,
Também vou me vacinar.
Tô vendo a hora chegar!
Mas a dúvida é profunda:
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Bastinha Job:

Chinesa não tomo não
nem na bunda, nem no braço
coronavac… fracasso,
China não é salvação
buscarei outra opção
A Oxford aceitar
se a Moderna chegar,
a picada vai ser funda:
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Creusa Meira:

Na fila eu amanheço
Pego a preferencial
Passo longe de hospital
UTI eu não mereço
Quero logo o endereço
Quando o dia D chegar
Se na hora H falhar
A primeira e a segunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Chica Emídio:

Pode ser no mei da testa,
Na barriga, ou no bumbum
Não vou excluir nenhum
Eu quero é fazer a festa
Se assim for o que resta
Só não quero é me isolar
Chega de trancafiar
Igual Dalinha Catunda:
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Vânia Freitas:

Gente estou assustada
Com tanta gente falando
Da bruta vacina entrando
Tô ficando aperreada
Bunda e braço na jogada
O braço dá pra pensar
Bunda não vou cutucar
A coisa é muito profunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Lindicassia Nascimento:

Já que não tem outro jeito
Eu vou ter que aceitar
Dessa vez não vou chorar
Vou deixar entrar direito
Quero sentir o efeito
Levemente sem gritar
Sei que vou me emocionar
Não vou ficar moribunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Sueli Diniz:

O vírus veio com tudo
A vacina é necessária
A vida tá temerária
Pra isso teve o estudo
Tem que ser muito peitudo
Tem que gostar de arriscar
Pra nela não apostar
D’onde a vida se oriunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Djenane Emídio

Como logo se anuncia
Tenho cá os meus receios
Se já encontraram os meios
Da cura da pandemia…
Peço a Deus que é meu Guia
Pra que eu possa confiar
E venha assim declamar:
Vacina, em mim se difunda!
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 20 de setembro de 2023

UMA RODA DE GLOSAS - 23.01.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNSTA DO ALMANAQUE RAMUNDO FLORIANO)

 

UMA RODA DE GLOSAS

Dalinha Catunda

Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Mote desta colunista

Dalinha Catunda:

Eu posso dizer que há anos
A vacina salva vidas.
Eu que sou das precavidas
Pra não sofrer desenganos,
E evitar maiores danos,
Também vou me vacinar.
Tô vendo a hora chegar!
Mas a dúvida é profunda:
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Em minha última coluna, este meu mote foi glosado por mulheres. Hoje ele será glosado por homens.

* * *

Gevanildo Almeida

Dalinha e Bastinha estão
Com uma dúvida danada
Mais confesso essa picada
Não tá na minha intenção
Não sei se vou tomar não
Decidi, não vou tomar
Ela pode me agravar
Mas vou se seguir a Catunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Rivamoura Teixeira

Vou usar a consciência
Fazer avaliação
Não digo não tomo não
Vou pensar fazer prudência
Vou saber da tal ciência
Pra melhor avaliar
Essa dúvida é de lascar
Vou optar pela segunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Assis Mendes

Quando chegar a vacina,
Quero tomar sem demora,
Mandar o corona embora,
Pra ver se esse mal termina,
Seja daqui ou da china,
Eu quero é me vacinar,
E hora da agulha entrar,
Que a dor não seja profunda,
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Francisco Jairo Vasconcelos

Vou tomar é qualquer uma
Tô esperando liberar
Vou ver no que, isto vai dar
Quero que o corona suma
Pare de morrer de ruma
Eu tomo em qualquer lugar
Pois importante é curar
Esta dúvida profunda,
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Joab Nascimento

Já que não tem mais remédio
Tomei todo tipo de chá
De marmeleiro ao juá
Não acabei com meu tédio
Comecei a ter assédio
Para picada enfrentar
Deu trabalho pra relaxar
Foi concentração profunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Giovanni Arruda

Qualquer um laboratório
Não fará a diferença
Eu só vou pedir licença
Pra não ser supositório
Pois já fui repositório
Hoje nem deixo triscar.
Na bochecha inda vá lá
Que a mão não se aprofunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Pedro Sampaio

A tal vacina chinesa
Garantia questionada
Com tanta gente assustada
Deixa minha mente acesa
Com medo de virar presa
Também do bicho pegar
Logo começo a chorar
A lágrima já me inunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 13 de setembro de 2023

CORDEL, A TRADIÇÃO DO REISADO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

Esse cordel participou em Janeiro de 2021 do Sesc Cordel Podcast Crato-Ceará

 

Desenho desta colunista

 

1
Hoje vou pegar retalhos
De histórias no pensamento
Pra costurar um cordel
Tecendo cada momento
Com fios da tradição
Na trama da narração
Expondo cada elemento.

2
É da tradição cristã
Essa festa que seduz
E tem como inspiração
O pequenino Jesus
E a visita dos Reis Magos
Que trouxeram seus afagos
Guiados por uma luz.

3
Seguindo uma bela estrela
Belchior e Baltasar
Fizeram longo percurso
Lado a lado com Gaspar
Pois saíram do oriente
Cada um com seu presente
Para o menino ofertar

4
O ouro, o incenso e a mirra
Trouxeram na ocasião
E ofertaram a Jesus
Em meio a adoração
Nasceu desse ritual
O presente de Natal
Que se tornou tradição.

5
Nascimento de Jesus
Passou a ser celebrado
O mundo inteiro faz festa
E nós fazemos dobrado
Nasce a festa popular
Divina espetacular
A qual chamamos Reisado.

6
E foram os portugueses
Em tempos coloniais
Que trouxeram seus costumes
Legado dos ancestrais
Culinária e devoções
Festas e celebrações
Herdamos os rituais.

7
No dia seis de janeiro
Tem festejo e alegria
O povo todo animado
Se prepara nesse dia
E na Folia de Reis
Brincantes de muitas greis
Celebram com cantoria.

8
A festa é bem variada
Em sua apresentação
Quando se tira reisado
É feita a visitação
Um grupo de porta em porta
Em cada morada aporta
Com cantos de louvação.

9
Louvam o dono da casa
E Jesus de Nazaré,
Sem esquecer de Maria
E também de São José
Para a festa pedem prendas
Logo após as oferendas
Prossegue o cortejo a pé.

10
O grupo sempre arrecada
Bebida e também dinheiro
Apresentam-se em praça,
Em alpendre e em terreiro
Vestidos com fantasia
Vão espalhando alegria
Num trajeto prazenteiro.

11
A Festa dos Santos Reis
Também chamamos Reisado
E de Folia de Reis
Dependendo do condado
Cada um tem seu enredo
Para atrelar ao folguedo
Costumes próprio do Estado

12
Cada grupo tem seu mestre
E também sua bandeira
Usam roupas coloridas
Dançam, fazem brincadeira
Instrumentos musicais
Até bandas cabaçais
Pra animar a pagodeira.

13
Tem viola e violão
Tudo enfeitado com fita
Tem reco-reco e sanfona
Também cantiga bonita
Tem o toque do pandeiro
Tem tambores no terreiro
Muitas cores muita chita.

14
No Cariri Cearense
O Reisado é tradição
A festa é bem grandiosa
É de chamar atenção
Pois ali brinca a criança
Repleto de esperança
Também brinca o ancião.

15
Tem dança, teatro e música
Todo tipo de reisado
Tem de couro e de careta
Grupo diversificado
Também nessa caminhada
Ainda tem a congada
Tudo bem organizado.

16
Em cada apresentação
Seja nas casas ou praça
A meninada feliz
Do palhaço instiga graça
E Mateus chega animado
Pulando pra todo lado
Em cena não se embaraça.

17
Sempre ao lado de Mateus
Nessa festa nordestina
Aparece chafurdando
A gaiata Catirina
Com as suas presepadas
O povo dá gargalhadas
Enquanto ela desatina.

18
O feioso Jaraguá
De todos chama atenção
Já chega batendo o bico
Dançando com seu jeitão
Ele mexe o corpo inteiro
E faz o maior salseiro
E agrada a população.

19
Tem, mestre, rei e rainha
Nos folguedos pra Jesus
E tem coroa dourada
Que na cabeça reluz
Cada vez que o mestre apita
O grupo entra na fita
E assim o mestre conduz.

20
A burrinha é atração
Sapeca e bem aplaudida
Sua dança é envolvente,
Sua veste é colorida
Bem faceira e dançadeira
Faz parte da Brincadeira
E dança toda exibida.

21
Entre o gracejo e a dança
Tem combate tem porfia
Lembrando os gladiadores
Na luta que contagia
Geração a geração
Se pratica a tradição
De adereço e fantasia.

22
É bem diversificada
Essa festa popular
É a vontade do povo
Que faz o Reisado andar
Só com criatividade
Paixão e capacidade
Se consegue festejar.

23
É profana e é sagrada
é de maria e José
É festa que se destina
Ao bom Rei de Nazaré
É festa pro nordestino
Que ao Tirar o Divino
Iça o estandarte da fé.

24
Para falar de Reisado
Fui seguindo a minha Luz
Como fez os três Reis Magos
Ao visitarem Jesus
Foi a musa estrela guia
Ela de noite ou de dia
É sempre quem me conduz.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 06 de setembro de 2023

MEU JEITO AGRESTE (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

MEU JEITO AGRESTE

Dalinha Catunda

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 30 de agosto de 2023

UMA RODA DE GLOSAS -10.02.2021 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO AMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

Mote desta colunista:

É duro dar luz a cego
Que não pretende enxergar.

* * *

Dalinha Catunda:

Não sou dona da verdade
O bom senso assim me diz
Na vida sou aprendiz
Mas sempre bate a vontade
De repassar qualidade
A quem deseja ingressar
Com regras no versejar
E o pouco que sei não nego
É duro dar luz a cego
Que não pretende enxergar.

Rivamoura Teixeira:

Eu já dei até a dica
De como faz o traçado
O x do metrificado
Ele diz _exemplifica
Mas parece q ele fica
Olhando a banda passar
Ou prefere só ficar
Nesse pequenino ego
É duro dar luz a cego
Que não pretende enxergar.

Dulce Esteves:

Meus parcos conhecimentos
Gosto de compartilhar
Convidei, vamos estudar
Mas, me causou foi tormentos
Esses tristes elementos
Só souberam foi negar
Disse: eu sei metrificar
Esse peso não carrego
É duro dar luz a cego
Que não pretende enxergar.

Creusa Meira:

Às vezes a gente fala
Até com certo cuidado
Que o verso tem pé quebrado
Mas a pessoa se cala
Segue o caminho e embala
Mostrando não se importar
Vai querer me martelar
Mas afirmo, não sou prego
É duro dar luz a cego
Que não pretende enxergar.

Giovanni Arruda:

Precisa ter paciência
Pois no começo é assim
Fica pensando no fim
E quebra toda a cadência
Perde do verso a essência
Quem prioriza contar,
Eu aconselho tentar
Mas uma coisa não nego
É duro dar luz a cego
Que não pretende enxergar.

Bastinha Job:

É malhar em ferro frio
pedra que água não fura
clarear a noite escura
secar o leito do rio,
receita sem ter avio,
um ganho sem conquistar,
Poeta sem se inspirar
Tudo isso veto e renego:
É duro dar luz a cego
Que não pretende enxergar.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 23 de agosto de 2023

CHUVA DE POESIA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

CHUVA DE POESIA

Dalinha Catunda

Bastinha Job:

Pra mim a chuva é tela
De uma linda pintura
No meu Cratinho ela cai
Cai agora com ternura
Meu coração tá contente
A chuva ,o melhor presente
Traz promessa de fartura!

Lindicássia Nascimento:

É festa na agricultura
Alegria pra o sertão
Sertanejos se animam
Com o relâmpago e o trovão
A chuva é a esperança
Para o tempo de bonança
Pra quem fez a plantação.

Dalinha Catunda:

Chuva caindo no chão
Atiça minha saudade
Nós dois no banho de chuva
Numa casualidade
Enquanto a chuva caía
O casal feliz sorria
Ungindo a felicidade.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 16 de agosto de 2023

RODA DE GLOSAS - 13.02.2021 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIUNDO FLORIANO)

 

RODA DE GLOSAS

Dalinha Catunda

Mote desta colunista:

Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando

* * *

Dalinha Catunda:

Procurando o que fazer
Eu acordo todo dia
Dispenso a melancolia
E procuro me envolver
Com tudo que dá prazer
E da vida vou cuidando
Pois tendo Deus no comando
Sei que vou seguir em frente:
Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando

Gevanildo Almeida:

Não me lastimo de nada
Que a vida me apronta
Seja o que for eu dou conta
Com minha boca fechada
Não sou chegado a zoada
Vou logo lhe avisando
Não venha me perturbando
Com cara de deprimente
Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando

Bastinha Job:

Escreva um belo poema,
limpe bem a sua casa
Voe alto, crie asa,
Rejeite qualquer sistema
Que lhe prende na algema
Sua vida cerceando,
Não fique se lamentando
Isso odeio imensamente:
Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando

Francisco de Assis Sousa:

Cada momento da vida
Vale a pena se viver
Eu quero todo prazer
Antes da minha partida
Abomino despedida
Cada dia celebrando
E assim eu vou levando
A vida gostosa e quente
Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando

Rivamoura Teixeira:

Temos que perseverar
O passado tem essência
Que dá a experiência
Que orienta o viver
O melhor do conviver
É que você vai juntando
Dividindo e somando
E te faz experiente
Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando

Dulce Esteves:

Agradeço todo dia
Pelo fato de viver
Minhas refeições comer
Pela luz que me alumia
Por ter paz, ter harmonia
Deus está me abençoando
Meu dinheirinho ganhando
Pois, sou grata plenamente
Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando

David Ferreira:

Taí, gostei desse mote,
por esse apelo que traz
a quem pensa ser audaz.
Pela destreza, o rebote,
inclusos pois no pacote
dos que têm total comando
naquilo que estão buscando
prosperar constantemente…
Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando

Joab Nascimento:

Viver de lamentação
Reclamando todo dia
Com triste melancolia
Causando importunação
Causando indignação
Para quem fica escutando
Insatisfação causando
Com perturbação na mente
Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 09 de agosto de 2023

KAROLINA COM K, COISA DE GONZAGÃO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

A mulher com K maiúsculo
É coisa de Gonzagão
Foi do nosso rei caboclo
Que nasceu essa invenção
Era cabocla ladina
Chamada de Karolina
Astuta que nem o cão.

E foi imortalizada
Na voz do Rei do Baião
Como a mulher dançadeira
Que mais chamava atenção
Cheia de presepada
Com sua saia rodada
Girava que nem pião.

Todo mundo admirava
A tal bela sertaneja
Dançava com quem queria
Inda tomava cerveja
Nos braços do sanfoneiro
Dançava até em terreiro
Não ficava no, hora veja!

Karolina era cheirosa
Bem atrevida e faceira
Também era invocada
Metida a cangaceira
Mas colou com Gonzagão
Dançando xote e baião
Do chão tirava poeira.

Tem que dançar xenhenhém
Igualzinha a Karolina
Tem que lavar bem a boca
Gargarejar creolina
Acho bom que se oriente
Pra falar da nossa gente
De origem nordestina.

Pois quem quer ser respeitada
Pelos outros tem respeito
Não segue a velha cartilha
Onde mora o preconceito
Eu não quero causar dano
Mas o K Gonzagueano
Ele é nosso não tem jeito.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 02 de agosto de 2023

O CORNO INOCENTE (CRÔNICA DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

O CORNO INOCENTE

Delinha Catunda

Era tempo de novenas, festa da padroeira, quermesse e animação.

Após as novenas as famílias se reuniam na pracinha da igreja.

Enquanto as mulheres compravam gulodices para entreter as crianças, os homens se reuniam nas barracas de bebidas.

E foi entre uma bebida e um papo e outro, que se deu o bate-boca entre dois primos.

Ambos já tinham sido contemplados com um par de chifres por suas digníssimas esposas.

José, sabia que era corno, mas já tinha se acomodado a situação, porém Gonzaga, era o mais novo corno da cidade, estava na boca do povo e pelo jeito seria o último a saber.

Quando a discussão esquentou, Gonzaga, pôs a mão no ombro do primo e falou:

– Zé, tu é corno, macho véi!

Zé naquela calma de corno convencido imitando o gesto do colega retrucou:

– E meu primo nem é!

Isso foi o suficiente para a turma inteira cair na gargalhada.

Esta colunista escrevendo Microconto, pegando carona na ideia da escritora Leila Jalul


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 26 de julho de 2023

UMA RODA DE GLOSAS - 08.03.2021 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNSTA DO ALMANAQUE RAMUNDO FLORIANO)

 

UMA RODA DE GLOSAS

Dalinha Catunda

Mote desta colunista:

A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Dalinha Catunda

Sem ter comiseração
Nos assusta a Besta-fera
Que mata em qualquer esfera
Sem pena e sem compaixão
Padece a população
Nas mãos dessa pandemia
Os dias são de agonia
Nosso sossego findou:
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Araquém Vasconcelos

Chegou este triste mal
Com apelido de corona
Da situação é a dona
Esta desgraça viral
Espalha um terror mortal
Velho e novo contagia
Morre gente todo dia
O mundo inteiro parou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Gevanildo Almeida

Feito uma tempestade
Torando pela a raiz
Deixando o povo infeliz
Ceifando a felicidade
Sem nenhuma punidade
Pra essa besta vadia
Maldita hora que um dia
Ela se proliferou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Jairo Vasconcelos

Só Deus pra resolver
Essa mula do capeta
O diabo fez a faceta
Com Jesus vamos vencer
O mal fez acontecer
Essa grande pandemia
Como o profeta dizia
Mais ninguém acreditou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Marcos Silva

Primeiro foi o covarde
Depois veio o tal covid
Eu lhe digo não duvide
Que vai piorar mais tarde
Isso aqui não é alarde
E nem mera putaria
Um vírus com tirania
Muita gente ele levou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Bastinha Job

Não foi assim de repente,
Faz tempo a besta nos sonda
Vai fazendo a fatal ronda
Matando a nossa gente;
Age, assim, tão friamente
Em uma eterna agonia
A esperança tá fria
O labirinto estreitou:
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Chica Emídio

Um vírus sem piedade
Invadiu o mundo inteiro,
Foi cruel e traiçoeiro,
Causando mortalidade.
Pungente agressividade
Veio nessa pandemia,
A maior epidemia
Nosso país assolou,
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Rivamoura Teixeira

Veio disfarçada a ira
Pegou carona o corona
Bestafora safadona
Bestafura bestafira
Com covid a calma pira
Bestafara da agonia
Virou alta pandemia
A paz do mundo pirou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Dulce Esteves

Maldito vírus Chinês
Ao mundo mal-assombrado
São mortes por todo lado
Vou falar para vocês
Nós estamos à mercês
Sepultados todo dia
Em vala, na cova fria
Um parente nem velou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Vânia Freitas

A besta fera é o satã
Que também tentou Jesus
Quer o mal pra quem na luz
Reza a noite e de manhã
Tentou Eva com a maçã
A gente com a pandemia
Com fé em Jesus e Maria
Da besta já se livrou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Davia Ferreira

Estamos todos atados,
sem podermos fazer nada,
com a covid alastrada,
tomando todos os lados.
Estamos todos cercados,
sem solução e sem guia,
sorvendo no dia a dia,
o pouco que nos restou…
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Giovanni Arruda

Não se sabe de onde veio
Nem o cão que o pariu,
Mas a praga explodiu
Degradando nosso meio
Tá difícil dar um freio
Dissolver a tirania
Do desastre que um dia
No comando se instalou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Ritinha Oliveira

Um grande monstro surgiu
Do vil abismo profundo
Cuspindo fogo no mundo
Muitas vidas consumiu
As cinzas de quem partiu
Escurece o nosso dia
Um futuro de magia
O luto já embaçou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Francisco de Assis Sousa

Veio dominando mundo
Com a sanha de matar
Sedenta a contaminar
Infectando em segundo
Seu disfarce é fecundo
Leva mesmo a cova fria
Com a sua tirania
Muitas vidas já ceifou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Rosário Pinto

E chegou o reptiliano,
Com ares bem sorrateiros.
Enganou os brasileiros.
Chama o povo de beltrano,
Já entramos pelo cano.
E com esta pandemia,
A vida aqui não se cria,
O que vemos é complô
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Creusa Meira

Há mais de um ano a tristeza
Povoa a vida da gente
Perder amigo ou parente
Distante ou na redondeza
Dá-nos a plena certeza
Que perto está nosso dia
Sem amparo e garantia
De vacina que faltou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Josy Correia

Cada lado do planeta
Resiste, lamenta e chora
Com a doença que apavora
Regrando a curta ampulheta
No desgoverno, um capeta,
Rindo da nossa agonia
Ignora a cova fria
Onde o Brasil se enterrou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 19 de julho de 2023

EU E A PANDEMIA NAS ASAS DO CORDEL (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

1
Na mais serena rotina
Mansa a vida transcorria
Futuro bem programado
E um presente de alegria
Pois começava a colher
O que fiz por florescer
Tudo que plantei um dia.

2
No entanto quis o destino
Modificar meu traçado
Vi cada sonho ruir
E o presente destroçado
O caos chegou de repente
Deixando o povo impotente
E o mundo inteiro abalado.

3
Do covid 19
Dessa grande Pandemia
Hoje nós somos reféns
Vivemos essa agonia
Enfrentando isolamento
Adestrando o pensamento
Pra fugir da distimia.

4
Prosseguir era preciso
Nunca fui de esmorecer
Tentei sentar a cabeça
Pensando no que fazer
A Deus pedi direção
E fui fazendo oração
Buscando me proteger.

5
O começo foi difícil,
Eu tenho que concordar.
E muitos dos meus costumes
Tive que modificar.
Sem varinha de condão
Para a modificação
Fui obrigada a lutar.

6
Vesti-me de paciência
Pra viver sem liberdade
E mudei-me para o campo
Deixei de lado a cidade
Fui treinando meu olhar
Pra novo mundo abraçar
E acatar a realidade.

7
Os compromissos rompidos
Sem condições de assumir
O meu sorriso desfeito
Eu tenho que admitir
A única solução
Seria a transformação
Resolvi nisso insistir.

8
Bem distante dos perigos
A roça me adaptei
E com internet em casa
Logo me conectei
Fui ligando minha antena
E mesmo de quarentena
Meu trabalho continuei.

 

9
De cordel e artesanato
Comecei a produção
Escrevendo todo dia
Eu espanto a depressão
Por gostar de pesquisar
Vivo a me capacitar
Não me falta ocupação.

10
Sei que nesse novo Tempo
O caos de fato é real
Com isso nossa presença
Em evento cultural
Acontece diferente
A gente se faz presente
Mas de modo virtual.

11
A nossa literatura,
Popular e de cordel
Tal qual o camaleão
Se adapta a qualquer papel
Faz sua transformação
E nessa variação
Renasce em novo vergel.

12
Cordelista com bagagem
Sempre encontrará espaço
Porque sabe entrar em cena
Nela imprimir novo traço
Com garra e disposição
Atua na inovação
Se vira sem embaraço.

13
O cordel é resistência
E nunca perde a constância
Se apropria do remoto
Faz eventos a distância
Em encontros virtuais
Projetos especiais
Comprovam sua importância.

14
Seja em e-book ou live
Damos bem nosso recado
Assim nós vamos ganhando
Novo costume e mercado
Escrevendo nova história
Sem perder a oratória
No mundo atualizado.

15
Os convites aparecem
Pra quem quer seguir em frente
Somos voz em podcast
Atores atualmente
Que nos vídeos operando
Vamos a vida alegrando
E colorindo o presente.

16
Posso dizer que o cordel
Farto, em redes sociais
Ganhou asas pra voar
Segue novos rituais
Pois na rede achou seu Norte
E cada dia mais forte
De pujança dá sinais.

17
Nas páginas do facebook
Para o verso praticar
Vates de vários Estados
Juntam-se para glosar
Buscam nessa interação
Momentos de distração
Ninguém quer se acomodar

18
O Brasil de Norte a Sul
Vem fazendo difusão
Da cultura popular
Do cordel que é tradição
Essa nossa atividade
Vestindo simplicidade
Envolve toda nação.

19
Na corrente do cordel
E nos braços da poesia
Voamos com as palavras
Disseminando alegria
O cordel literatura
Engrossa a voz da cultura
Na oração de cada dia.

20
Não está em nossas mãos
O poder para findar
Com a grande pandemia
Mas podemos minorar
Escrevendo nova história
E mudando a trajetória
Nesse nosso caminhar.

21
Cada um tem sua receita
Pra tentar melhor viver
E procurei distração
Algo para me entreter
Para não cair doente
Cuide bem da sua mente
Faça o que lhe dá prazer.

22
Eu me apeguei com cordel
A minha maior paixão
Cada dia um novo verso
Tenho em minha produção
Vou seguindo minha estrada
Embora modificada
Aceito a transformação.

23
Nesses tempos de retiro
Digo sem medo de errar
As tais redes sociais
Vieram pra nos salvar
Nasce desses movimentos
Quase todos os eventos
Com os quais podemos contar

24
Nas asas desse cordel
Eu escrevi nova história
E bem cheia de esperança
Pra viver dias de glória
A Deus rogo proteção
E peço com devoção
Luz em nossa trajetória.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 12 de julho de 2023

UMA RODA DE GLOSAS (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

UMA RODA DE GLOSAS

Dalinha Catunda

Mote desta colunista:

Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Quando sinto que a tristeza
Se avizinha do meu peito
Na danada dou meu jeito
Pra isso tenho destreza
Busco no canto a leveza
Para os males espantar
Quem quiser pode chegar
Que esse canto é de união
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Dalinha Catunda

Eu voltei a ser criança
Brincando pela varanda
Numa roda de ciranda
Gostei daquela festança
Entrei de cara na dança
Comecei rodopiar
Formamos um belo par
Dando volta no salão
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Araquém Vasconcelos

Peguei na mão de Ritinha
Que pegou na de Alcinete
Lindicassia, bem coquete,
Segurou a de Dalinha
Enxerida entrou Bastinha
Seguiram a requebrar
Sempre a rodar,a rodar
No ritmo da emoção:
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Bastinha Job

Na ciranda desta vida
Volta e meia sempre dou
Se as amigas vêm, eu vou
Se não vêm, fico sentida
Se Maria Aparecida
Ou de Lourdes me chamar
Largo tudo e vou dançar
Pra tristeza eu digo não
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Creusa Meira

O zabumba toma a guia
Dá balanço o chocalho
Já se ouve um farfalho
Vai subindo uma agonia
O salão se contagia
Todos querem rebolar
E o desejo de dançar
Tem a força de um vulcão
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Giovanni Arruda

Vou brincar nesta ciranda
Abra a roda por favor
Vou girando como for
Meus passos só Deus comanda
Pus nos cabelos lavanda
Quando o vento arrepiar
Cirandeiros vêm cheirar
Com grande satisfação
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Dulce Esteves

Deixe a rotina de lado
Saia de dentro de casa
Se divirta, extravasa,
Vá prum forró arrochado
Requebre bem apertado
Dance a noite sem parar
Com molejo a peneirar
Dando voltas no salão
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Joabnascimento

Nas noites alvissareiras
Nas festas de São João,
Eu fazia agitação
Dançava nas brincadeiras
Salão cheio de bandeiras
O sanfoneiro a tocar
Fazendo casais rodar
Em geral a animação
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Jairo Vasconcelos

Agradecer cada dia
A alegria de viver
E fazer por merecer
Saúde, paz e harmonia
Bom mesmo é a euforia
Rime se quiser rimar
Cante se quiser cantar
Diga não a solidão
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Francisco De Assis Sousa

Pesquisei nossa Ciranda.
É na Cantiga de Roda,
Que ela nunca cai de moda.
É cantiga que sempre anda
Nos festejos de varanda.
Em rodas para dançar,
Em festejo popular.
Na roda, uns vêm outros vão.
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Rosário Pinto

Pra quem gosta de ciranda
E dançar na luz da lua
Vem ser meu e serei tua
No toque de qualquer banda
Pois é a gente quem manda
A poeira levantar
Vamos ver o sol raiar
No batuque do coração
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Vânia Freitas

Em tempos de pandemia,
Só mesmo fazendo festa.
A jogada agora é esta:
Em casa, ter alegria,
Cantar e fazer poesia,
Um Studio improvisar,
Uma live organizar,
Numa bela animação,
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Chica Emídio

A ciranda move a vida
a vida gera cultura,
é alegria segura
é brincadeira aguerrida.
A cadência é divertida
quem tá fora quer entrar,
com garra pisotear
com desmedida paixão.
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Fátima Correia


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 05 de julho de 2023

Ô VISTA BOA (CRÔNICA DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

Ô VISTA BOA

Dalinha Catunda

Minha mãe, em foto feita por esta colunista

 

 

Mamãe, hoje, com 98 anos, por incrível que pareça, ainda lê sem a ajuda dos óculos.

O motivo de ter essa vista tão boa, nada mais foi do que uma cirurgia de catarata bem sucedida e feita pelo SUS, quando ela estava na casa dos 80 anos.

Saiu do hospital, foi para casa e seguiu religiosamente o manual de recuperação.

Em pouco tem o sorriso tomou conta do seu rosto novamente.

Cada pessoa que perguntava sobre a cirurgia ela contava com detalhes. E perguntavam muito, se ela estava enxergando bem, se não via nada embasado e no final ela já estava se cansando dos interrogatórios.

Certo dia chegou um de seus compadres, e entre uma conversa e um café, perguntou:

– Comadre, numa idade dessa, a senhora está enxergando bem mesmo?

Imediatamente, ela que é metida a gaiata, respondeu: – Compadre, pra falar a verdade, eu estou enxergando até “priquito” de muriçoca.

Não resta dúvidas que a operação foi bem sucedida.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 28 de junho de 2023

A DAMA-DA-NOITE (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIKMUNDO FLORIANO)

 

A DAMA-DA-NOITE

Dalinha Catunda

Foto desta colunista

 

Tão plena em sua brancura
Tendo o vento como açoite
Ontem a dama-da-noite
Abrolhou com formosura
Encantamento em fartura
Exibiu na ocasião
Vem provocando paixão
E realmente me apraz
Tão bonita, mas fugaz
Essa Dama em explosão.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 21 de junho de 2023

ROGANDO EM GEMEDEIRA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAMUNDO FLORIANO)

 

ROGANDO EM GEMEDEIRA

Dalinha Catunda

Deus me livre desse mal
Inda tenho tanta vida
Trago meu sorriso largo
Alguém me chama querida
Eu não quero ir agora
Ai, ai, ui, ui,
Ô meu pai me dê guarida.

Quero viver utopias
Tenho tanto amor pra dar
No calor da minha rede
Inda quero me embalar
Mesmo no outono da vida
Ai, ai, ui, ui,
Vejo meu sonho brotar.

Quero meus dias brejeiros
As noites de cantoria
Com viola e lua cheia
Deus do céu me alumia
Salve todos do naufrágio
Ai, ai, ui, ui,
Nos poupe dessa agonia.

Faço prece pra Maria
Faço prece pra Jesus
Peço a Deus onipotente
Aquele que nos conduz
Que tire dos nossos ombros
Ai, ai, ui, ui,
Essa tão pesada cruz.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 14 de junho de 2023

RODA DE GLOSAS - 25.03.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

RODA DE GLOSAS

Dalinha Catunda

Xilogravura de Cícero Lourenço

 

Roda de glosa coordenada por Dalinha Catunda.

Mote de Zé Limeira:

Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

* * *

Dalinha Catunda:

Chegou essa pandemia
parecendo um vendaval.
Confesso que fiquei mal
de medo eu quase morria,
e morrendo de agonia,
hoje a Jesus eu recorro,
morro pedindo socorro,
pois penico eu já pedi:
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

Joab Nascimento:

Eu já fui contaminado
Por essa tal pandemia
Juro qu’eu quase morria
Com o vírus desgraçado
Fiquei muito desgastado
Nem sequer subi o morro
Já no mato sem cachorro
Mas logo sobrevivi
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

Bastinha Job:

Vou dar uma de artista
No mote de ZÉ Limeira
Nascido lá em Teixeira
E era surrealista
Foi notável repentista
Famoso igual ao Zorro
Na décima então discorro
Em Orlando Tejo li:
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

Araquem Vasconcelos:

Aprendi vencer a morte
Pois já morri uma vez
Comigo não tem talvez
Eu sou caboclo do Norte
Vencer heróis é meu forte
E se vier pega esporro
Eu nunca pedi socorro
E nem de medo eu corri
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

Gevanildo Almeida:

Quando comecei saber
Desse vírus condenado
Fiquei desorientado
Disse agora vou morrer
Deus veio me socorrer
No meu leito pôs um forro
Com ele eu disse, não corro
Seguir firme decidi
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

Jairo Vasconcelos:

Quando chegou no Brasil
Essa grande pandemia
Me causando uma agonia
Morreram duzentos mil
Mantando mais que fuzil
Chorando pedir socorro
De medo quase eu escorro
Me segurei não escorri
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

Rivamoura Teixeira:

Foi sim eu morri de medo
Me tornei um mascarado
O mundo todo tomado
De um virus do degredo
Eu me levantava cedo
Ia parecendo um zorro
Se for me abraçar eu corro
Faça boca de siri
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

Francisco de Assis Sousa:

Eu já vivo é morrendo
De medo todos os dias
Entre susto e agonias
Assim eu sigo vivendo
Com tudo é me benzendo
Até de espiro eu corro
Uso máscara, alcool, gorro
Não quero arribar daqui
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

Creusa Meira:

Ao sentir que o dia nasce
Abro os olhos com surpresa
Vejo se não tem fraqueza
Nas pernas, calor na face
Respiro fundo, com classe
E toda a casa, percorro
A mais um dia, concorro
Pra viver, estou aqui
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

Ritinha Oliveira:

O vírus me derrubou
Igual coice de jumento
Fui ao céu dum passamento
São Pedro me avistou
Ao me ver se agoniou
Gritou pedindo socorro
Eu num mato sem cachorro
Me expulsaram eu corri
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

Giovanni Arruda:

O eterno Belchior
Cantor de belas canções
Teve nas composições
Zé Limeira coautor
Essa dupla infernizou
Aquela turma do gorro
Sofreu censura e esporro
Mas resistiu que eu vi
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

Vânia Freitas:

A nuvem ficou escura
Vírus das trevas saiu
E o pior que ninguém viu
E nem vê a sua feiura
Só atrás da lente dura
E quem vê pede socorro
Faz da cara um porta-forro
É coisa que nunca vi
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

Tião Simpatia:

Faz um ano que me escondo
Desse corona maldito,
Já não conto, nem recito,
Engordei que tô redondo!
O sol nascendo e se pondo
Todo dia por trás do morro;
Eu vi a morte de gorro,
Mas acordei e me benzi…
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 07 de junho de 2023

EU SOU (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO) VÍDEO

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 31 de maio de 2023

O TROTE (MINICONTO DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

Um microconto

Certa noite, eu já deitada, perdida em meus pensamentos a embalar-me numa rede…

Eis que de repente, não mais do que de repente, toca insistentemente o telefone em sua base fixa, preguiçosamente levanto-me para atender.

Sonolenta pego o aparelho e me surpreendo:

– Alô, quem fala?

– Aqui, é a amante do seu marido!

Nessa hora tive vontade de rir e quase gargalhei, mas compenetrada respondi:

– Olha, querida, se fosse a esposa do meu amante eu até te daria um papo, mas…

Desliguei o telefone, voltei para meu ócio noturno, com o pensamento em novas e emocionantes tardes…


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 24 de maio de 2023

QUANDO MEU PAPAI ME FEZ (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO) VÍDEO

QUANDO MEU PAPAI ME FEZ

Dalinha Catunda

 

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 17 de maio de 2023

DALINHA DAS IPUEIRAS E LINDICÁSSIA DE BARBALHA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

Dalinha Catunda

Quem diabo que é essa doida
Que vem lá do Cariri
Comendo cuscuz com ovo
E um balaio de pequi
Com fumaça no cachimbo
Pra assanhar meu inxuí

Lindicássia Nascimento

Quem diabo é esse Zumbi
Que parece assombração
Com molambo na cabeça
E uma boneca na mão
Achando que é gostosona
A crueira do sertão.

Dalinha Catunda

A minha apresentação
Faço agora com audácia
Sou abelha do sertão
Meu ferrão tem eficácia
Para Dalinha Catunda
Se apresente sem falácia.

Lindicássia Nascimento

O meu nome é Lindicássia
Sobre nome Nascimento
Sou mulher de atitude
Cheia de atrevimento
Quando me dano a brigar
Brigo até no pensamento.

Dalinha Catunda

Não venha afoitamento
Pois eu posso ser cruel
Minha língua é venenosa
Já derrubei menestrel
Mas se quer mexer com cobra
Lhe apresento a cascavel.

Lindicássia Nascimento

Amargo igualmente a fel
Sem medo vou pra disputa
Seu veneno não me atinge
Bicha besta e biruta
Eu também sou cobra ruim
Na Selva sou mais astuta.

Dalinha Catunda

Eu vejo que nessa luta
Só tem cobra peçonhenta
Vou pegar teu desaforo
E esfregar na tua venta
A bicha besta e biruta
É você coisa nojenta.

Lindicássia Nascimento

Já vejo que não aguenta
Essa nega cangaceira
Se eu puxar o meu facão
Boto seu fato na feira
Pergunto quem quer comprar
O resto da mulambeira.

Dalinha Catunda

Se eu puxar minha peixeira
Eu entorto o teu facão
Corto um palmo da tua língua
Mudo a tua profissão
Nunca mais voltas a ser
Lambe saco de patrão.

Lindicássia Nascimento

Comigo tem isso não
Mulher fraca igual a tu
Faz zoada mais não morde
Só incha igual cururu
E quando me vê se esconde
No buraco do tatu.

Dalinha Catunda

Nem que tu faças vodu
Xexelenta macumbeira
Eu não fujo dessa briga
Meta seu pé na carreira
Peça logo seu penico
Que o medo dá caganeira.

Lindicássia Nascimento

Deixe de falar besteira
Franga “véia” de macumba
Eu quebro teu espinhaço
Antes de mandar pra tumba
Te faço lamber o chão
Bem antes que tu sucumba.

Dalinha Catunda

Tu tá querendo quizumba
Do choco vou te tirar
As penas desse teu rabo
Uma a uma vou puxar
Depois que eu quebrar teu bico
Quero ver cacarejar.

Lindicássia Nascimento

Basta tu se imaginar
Na mesma cena isolada
Mas as penas que eu puxar
Nessa peleja arretada
Vou queimar com gasolina
No meio da encruzilhada.

Dalinha Catunda

Eu não vou sair queimada
Deixe já de picuinha
E nem vou lhe depenar
Já desmontei minha rinha
Isso tudo é presepada
Tanto tua como minha

Lindicássia Nascimento

teu pensamento se alinha
e me causa emoção
somos luzes da lapinha
do céu a constelação
na terra somos semente
lançada em riba do chão.

Dalinha Catunda e Lindicássia Nascimento

Cumprimos nossa missão
Com rimas e brincadeiras
Lindicássia de Barbalha
Dalinha das Ipueiras
Pois além de cordelistas
Também somos cantadeiras.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 10 de maio de 2023

APELO A SANTO ANTÔNIO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO) VÍDEO

 

APELO A SANTO ANTÔNIO

Dalinha Catunda

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 03 de maio de 2023

UMA RODA DE GLOSA EM HOMENAGEM ÀS MÃES (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

Mote desta colunista

Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Dalinha Catunda:

A mãe vira onça ferina
Pra defender sua cria,
E clama a virgem Maria,
Pela proteção divina.
Uma mãe que desatina,
Não briga pra defender,
Filho não merece ter!
É uma mãe desalmada:
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Araquém Vasconcelos:

Mãe ê uma instituição
Onde se projeta a vida
Quem tem sua mãe querida
Dê a ela atenção
Abra o seu coração
Procure reconhecer
Todo o seu bem querer
Não a despreze por nada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Bastinha Job:

Minha mãe se foi tão cedo,
Fiquei sem o seu carinho,
Sem ela, o meu caminho
Perdeu-se em seu enredo
De tudo eu tinha medo,
Consegui sobreviver
Sem abraço a me acolher
Que orfandade malvada:
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Jairo Vasconcelos:

Mãe é uma flor do jardim
Que nunca perde o perfume
Do filho sente ciúme
Mesmo ele sendo ruim
Mamãe é o amor sem fim
Não deixa o filho sofrer
No frio quer aquecer
Quando precisa ela agrada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Dulce Esteves:

Mãe é uma escudeira
Garantindo proteção
Seu peito traz armação
Pois, assim se faz guerreira
Tem armas e faz trincheira
Seu varão vem defender
Vai à luta por prazer
Não se sente ameaçada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Rivamoura Teixeira:

Amor de mãe não se mede
Por ser fora do limite
Por isto não se admite
Duvidar pois não procede
Pra defender intercede
Pense num amor de ser
Seu carinho é pra valer
Sua vida é consagrada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

F. de Assis Sousa:

O amor é incondicional
A ternura é sem limite
Ela jamais admite
Que ninguém o faça mal
Da forma mais natural
Seu instinto é defender
Não queira pagar pra ver
Qualquer uma indignada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Vânia Freitas:

O maior amor do mundo
É aquele que recebemos
De nossas mães e sabemos
Que este amor é tão fecundo
Se tornando mais profundo
Por nada em troca querer
Mãe é um ser que faz valer
O amor a sua cria amada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Fabiana Viera:

Tem mãe que os sonhos enterra
Gestante adolescente
Abandonada e doente
Pela justiça da Terra
Vive no meio da guerra
Procura sobreviver
Pra ver o filhinho vencer
É feroz onça pintada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Creusa Meira:

Há tanta dor pra sentir
Pranto para derramar
Mãe que vai pra não voltar
Mãe que vê filho partir
Filho sem mãe, sem porvir
Sem o colo pra aquecer
Filho na creche morrer
Chacina na madrugada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Paola Tôrres:

Para viver bem a vida
Carecemos de um teto
Pão, carinho, colo, afeto
Sopro na nossa ferida
Música na despedida
Amor que nos faz vencer
Caminhos pra percorrer
Mil abraços na chegada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Chacina, ódio e desgraça
Eu vi na televisão
Uma grande comoção
Tristeza que despedaça
Tiros na rua e na praça
Sangue humano a escorrer
Ver tanta gente morrer
Estendido na calçada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Rosário Pinto:

Nossa mãe vive na lida.
Não tem dia, não tem hora
E desde o romper da aurora
Ela segue na corrida:
Fazer o bolo e a comida.
E para o filho atender,
Trabalha para prover.
À noite chega cansada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Silvinha França:

Mesmo distante é presente
Nunca foge da batalha
Derruba qualquer muralha
Quando a dor do filho sente
Pois é dela a semente
Que Deus a fez conceber
Não se deixa emudecer
Até quando não é chamada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Joabnascimento:

Do seu ventre uma semente
Ressurgiu com muito amor
Superando todo dor
A mãe o abraça contente
Num cenário comovente
O seu olhar vem dizer
Você é meu bem querer
Para toda minha jornada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Pedro Sampaio:

Quando uma Mãe se consome
Pro Filho satisfazer
Ela deixa de comer
Mas do Filho mata fome
Tudo faz pelo seu nome
Também pra lhe socorrer
Não importa o padecer
Nem que seja massacrada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Dalinha Catunda:

Uma mãe que é ciente
Que seu filho é maltratado
Morreu por não ser cuidado
Não posso chamar de gente
Não passa de uma serpente
É cobra! posso dizer,
Em vida vai padecer
Jamais será perdoada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 26 de abril de 2023

GLOSAS - 06.05.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

GLOSAS

Dalinha Catunda

Mote desta colunista:

Esse meu jardim florido,
É cacimba de saudade!

1
Quando rego minhas flores,
Desperto a recordação,
Que mora em meu coração.
Entre suspiro e rumores,
Evoco antigos amores,
E choro a fugacidade,
Do que foi felicidade,
Porém hoje é fenecido…
Esse meu jardim florido,
É cacimba de saudade!

2
Recordo nós dois juntinhos
Debaixo do pé de ipê
Era só eu mais você
Numa sombra sem espinhos
Seguindo os mesmos caminhos
Vivendo a mesma verdade
E mesmo na tenra idade
O tempo não foi perdido:
Esse meu jardim florido,
É cacimba de saudade!

3
Quando chega a primavera
Eu puxo pela memoria
Cada flor é uma história
Pra quem viveu de quimera
Então digo: quem me dera
Com toda sinceridade
Viver com intensidade
Tudo de bom já vivido:
Esse meu jardim florido,
É cacimba de saudade!

4
Debaixo duma latada
Era o cravo era a rosa
Era um verso era uma prosa
Numa conversa animada
Era a mais bela jornada
Em meio a simplicidade
Era amor era amizade
Era a flecha do cupido:
Esse meu jardim florido,
É cacimba de saudade!

5
Recordar é reviver
Diz o dito popular
Por isso vivo a lembrar
Sem pensar em esquecer
O que senti florescer
Em tempos de liberdade
Na mente é prioridade
Não é sonho adormecido:
Esse meu jardim florido,
É cacimba de saudade!

6
Das flores do meu jardim
Só de lembrar sinto o cheiro
São flores do meu canteiro
É cheiro que não tem fim
Só por isso eu canto assim
Com gosto e vivacidade
Seguindo a minha vontade
Nesse mote repetido:
Esse meu jardim florido,
É cacimba de saudade!


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 19 de abril de 2023

EM CACHOEIRAS DE MACACU (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

EM CACHOEIRAS DE MACACU

Dalinha Catunda

Fotos da colunista

 

 

Atrás do morro do pico
Aponta o sol radiante
A neblina derretendo
Presencio a todo instante
A beleza do horizonte
O raio do sol no monte
Ilumina o meu semblante.

Do beiral do meu alpendre
A cambaxirra cantou
No pé de jacatirão
O bem-te-vi se assanhou
O gavião sorrateiro
Abre as asas no coqueiro
Vendo que o dia raiou.

Redes de aranhas tecidas
Presas no arame farpado
Trazendo beleza as cercas
Esse trabalho rendado
Só vendo quanta beleza
Cenário da natureza
Que é por Deus elaborado.

 

O canto da Seriema
Ecoa ao amanhecer
Despertador natural
Canta mesmo pra valer
É ave que faz zoada
Parece até gargalhada
Pois canta sem se conter.

Canários se reproduzem
Eu vejo o bando passar
Os melros sempre em grupo
Encantam com seu cantar
E no maior zum, zum, zum
Um magote de Anum
Balburdia faz ao voar.

Quando chega o fim do dia
Volta pro ninho a trocal,
E a garça voa em bando
Num belo show, sem igual
O sol desmaia cansado
Anunciando alquebrado
De cada dia o final.

Nova fauna, nova flora
Eu vejo aqui no Sudeste
O verde é permanente
Diferente do Nordeste
Ganho mais conhecimento
Mas tenho meu pensamento
Na minha vidinha agreste.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 12 de abril de 2023

UMA RODA DE GLOSAS - 24.05.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

UMA RODA DE GLOSAS

Dalinha Catunda

Mote desta colunista:

Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Quando sinto que a tristeza
Se avizinha do meu peito
Na danada dou meu jeito
Pra isso tenho destreza
Busco no canto a leveza
Para os males espantar
Quem quiser pode chegar
Que esse canto é de união
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Dalinha Catunda

Eu voltei a ser criança
Brincando pela varanda
Numa roda de ciranda
Gostei daquela festança
Entrei de cara na dança
Comecei rodopiar
Formamos um belo par
Dando volta no salão
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Araquém Vasconcelos

Peguei na mão de Ritinha
Que pegou na de Alcinete
Lindicassia, bem coquete,
Segurou a de Dalinha
Enxerida entrou Bastinha
Seguiram a requebrar
Sempre a rodar,a rodar
No ritmo da emoção:
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Bastinha Job

Na ciranda desta vida
Volta e meia sempre dou
Se as amigas vêm, eu vou
Se não vêm, fico sentida
Se Maria Aparecida
Ou de Lourdes me chamar
Largo tudo e vou dançar
Pra tristeza eu digo não
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Creusa Meira

O zabumba toma a guia
Dá balanço o chocalho
Já se ouve um farfalho
Vai subindo uma agonia
O salão se contagia
Todos querem rebolar
E o desejo de dançar
Tem a força de um vulcão
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Giovanni Arruda

Vou brincar nesta ciranda
Abra a roda por favor
Vou girando como for
Meus passos só Deus comanda
Pus nos cabelos lavanda
Quando o vento arrepiar
Cirandeiros vêm cheirar
Com grande satisfação
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Dulce Esteves

Deixe a rotina de lado
Saia de dentro de casa
Se divirta, extravasa,
Vá prum forró arrochado
Requebre bem apertado
Dance a noite sem parar
Com molejo a peneirar
Dando voltas no salão
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Joabnascimento

Nas noites alvissareiras
Nas festas de São João,
Eu fazia agitação
Dançava nas brincadeiras
Salão cheio de bandeiras
O sanfoneiro a tocar
Fazendo casais rodar
Em geral a animação
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Jairo Vasconcelos

Agradecer cada dia
A alegria de viver
E fazer por merecer
Saúde, paz e harmonia
Bom mesmo é a euforia
Rime se quiser rimar
Cante se quiser cantar
Diga não a solidão
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Francisco De Assis Sousa

Pesquisei nossa Ciranda.
É na Cantiga de Roda,
Que ela nunca cai de moda.
É cantiga que sempre anda
Nos festejos de varanda.
Em rodas para dançar,
Em festejo popular.
Na roda, uns vêm outros vão.
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Rosário Pinto

Pra quem gosta de ciranda
E dançar na luz da lua
Vem ser meu e serei tua
No toque de qualquer banda
Pois é a gente quem manda
A poeira levantar
Vamos ver o sol raiar
No batuque do coração
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Vânia Freitas

Em tempos de pandemia,
Só mesmo fazendo festa.
A jogada agora é esta:
Em casa, ter alegria,
Cantar e fazer poesia,
Um Studio improvisar,
Uma live organizar,
Numa bela animação,
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Chica Emídio

A ciranda move a vida
a vida gera cultura,
é alegria segura
é brincadeira aguerrida.
A cadência é divertida
quem tá fora quer entrar,
com garra pisotear
com desmedida paixão.
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Fátima Correia


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 05 de abril de 2023

ERA DOMINGO NO PARQUE (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

ERA DOMINGO NO PARQUE

Dalinha Catunda

 

Era domingo no Parque
Recordo com precisão
Você me deu um abraço
E apertou a minha mão
Tinha dança e poesia
Animando aquele dia
De cultura e tradição.

Foi uma tarde animada
Era festa no lugar
Promessa de emoção
Entrevi em seu olhar
Olhando-me animado
Quebrava o chapéu de lado
Sempre a me cumprimentar.

Nesse dia entrei na roda
Me enfeitei pra cirandar
Você acenava eufórico
Inquieto em seu lugar
Eu de maneira brejeira
Dançava toda faceira
Somente pra me mostrar.

Pra você joguei um beijo
E uma flor arremeti
No ar você segurou
E eu radiante sorri
Era o cravo, era a rosa
Entre um verso e uma prosa
Girando no Cariri.

 

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 29 de março de 2023

CONVERSA DE CALÇADA VIRTUAL 05.06.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

Vamos pegar as cadeiras e entrar na roda?

A estrofe precisa começar sempre com o primeiro verso

* * *

Meti o pé na carreira
Quando meu pai avistei
Fui ao forró escondida
Pra ninguém nada falei
Quando vi lá do salão
Meu pai com cipó na mão
Confesso desembestei.

Dalinha Catunda- Rio de Janeiro-RJ

Meti o pé na carreira
quando avistei Adalgisa
Uma irmã muito braba
E eu com a cara lisa
Fiquei fazendo motejo
Sem vergonha sem ter pejo
Corri com medo da pisa…

Bastinha Job – Crato–CE

Meti o pé na carreira
A hora estava marcada
Faltando 5 minutos
Pense que forte pisada
Já ouvi do vigilante
Você é o último, adiante
A agência está fechada.

Rivamoura Teixeira

Meti o pé na carreira
Com medo do boi zebu
Vinha voltando da feira
Do baixo Acaraú
Não tinha pra onde saltar
Eu tive que escapar
No pé de mandacaru.

Araquém Vasconcelos

Meti o pé na carreira
E quase peço socorro
A sorte qu’eu tive sorte
Consegui subir no morro
Por cima de pedra e tudo
De pressa fiz de escudo
O tal dono do Cachorro.

Francisco De Assis Sousa – Barbalha-CE

Meti o pé na carreira
ao ver quem tinha chegado,
eu brincando um São João,
dançando com o namorado,
mamãe chegou sutilmente,
tacou a peia na gente,
foi cada um pra seu lado.

Anilda Figueiredo- Crato-CE

Meti o pé na carreira
Cum medo de vosmicê
Eu já tô véio, cansado
Num posso mais lhe “atendê”
No tempo que eu pudia
Vosmicê num me quiria.
O que mudô em você?

Marcelo José

Meti o pé na carreira
Eu quase que não me venço.
Pensei que tirei um lenço,
Num dia de carnaval,
Do”quengo”duma criatura ;
Era um rolo de atadura,
Ví nêga passando mal.

Wellington Santiago

Meti o pé na carreira
Entre Barbalha e Jardim
Com medo de um lobisomem
Essa criatura ruim
Assombrava todo mundo
O tal Vicente Finim

Fabiana Vieira- Crato-CE

Meti o pé na carreira
Debaixo da cajarana,
Quando papai me chamou:
– Vou brincar com jetirana!
Ele não batia em nós,
Cinco minutos após,
Lá estava eu na chicana.

Chica Emídio – Crato-CE

Meti o pé na carreira
No assanhar do maribondo
Famoso pelo chapéu
Com formato hediondo
Venceu a corrida a vespa
Minha cabeleira crespa
Fervilhou de nó redondo

Giovanni Arruda- Fortaleza-CE

Meti o pé na carreira
Quando o dono apareceu
Na roça de melancia
Por pouco não pegou eu
Nenhuma pude levar
Com medo de apanhar
Uma pirôla me deu…

Jairo Vasconcelos

Meti o pé na carreira
Quando vi a tal confusão,
Naquele ano de oitenta e oito.
Foi na greve dos cem dias.
E gás para todo lado.
Perdi até o meu calçado,
Fugindo do camburão!

Rosário Pinto- Rio de Janeiro-RJ

Meti o pé na carreira
No meio da escuridão
Quando vi foi uma sombra
Me fazendo assombração
Se eu lhe contar o segredo
Que eu estava era com medo
Da sombra da minha mão.

Vânia Freitas – Fortaleza-CE

Meti o pé na carreira
Quando a polícia chegou
Assaltaram uma igreja
O tenente me olhou
Quando disse o sacristão
Toda oferta vinho e pão
Foi Ritinha que roubou

Ritinha Oliveira

Meti o pé na carreira
Quase morri assustado
Ao jogar pedra na Kombi
Quase o vidro foi quebrado
A minha irmã enredou
O meu pai quando chegou
Eu já tinha me mandado

Joabnascimento-Camocim-CE


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 22 de março de 2023

PIRIRI NO CARIRI (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

PIRIRI NO CARIRI

Dalinha Catunda

 

Eu vou contar uma história
Que se deu no cariri
Fui comer um mungunzá
Deus do céu, como sofri
A linguiça apimentada
Me deixou agoniada
E acabou em piriri.

Quando eu adentrei no carro
Senti meu anel piscar
A tripa engolindo a outra
Minha barriga a roncar
Eu sofrendo no sufoco
Pra segurar o brioco
Até em casa chegar.

O vuco vuco no rabo
Aumentava de pressão
Eu me benzia e rezava
Pedindo a Deus proteção
Rezei a Salve Rainha
Me retorcendo todinha
E o diabo do cu na mão.

Deu vontade de peidar
Porém eu não me arisquei
Com as pregas ajustadas
Dessa vez eu segurei
Se vem peido acompanhado
Eu deixo o carro cagado
De medo me arrepiei.

Dor na barriga aumentava
Eu suava frio e quente
Meu amigo dirigia
Com sua mulher na frente
E me vendo aperreada
Dirigia em disparada
Porém freou de repente.

Pensei: Dessa vez me cago!
Mas o cu obedeceu
A linguiça armazenada
Graças a Deus não desceu
Até criei alma nova
O fiofó passou na prova
Um milagre aconteceu.

Eu só sei que a viagem
Parecia não ter fim
A linguiça revoltada
Mexia dentro de mim
Tentando achar a saída
Eu me sentindo perdida,
Me apeguei com meu “Padim.”

 

Depois de muito sufoco
Chegamos à residência
O meu cu pedia pressa
Mas desci com paciência
Com medo de ali obrar
Ao tentar me levantar
Pois era essa a tendência.

Desci bem devagarinho
Com a passada miúda
Andando de perna junta
E foi um Deus nos acuda
Tentando me segurar
E sem querer me assustar
Eu seguia atenta e muda.

Quando cheguei ao banheiro
O vaso me socorreu
O que estava me matando
Feito biqueira escorreu
Mesmo quase desmaiada
Suspirei aliviada
Minha sorte intercedeu.

E não sei se obra de Deus
Ou “Padim Ciço Romão”
Não caguei tampa do vaso
E nem respinguei o chão
Me sentindo abençoada
Depois daquela cagada
Chorei fazendo oração.

Bem depois que dei vasão
A minha desinteria
Mudei a cor do semblante
Até sorri de alegria
E pensei toda animada:
Já me sentindo curada,
Hoje vou pra cantoria!

E pensando que a barriga
Peça não ia pregar
Tomei banho e me vesti
Não poderia faltar
Ao Festival de Viola
Pro piriri não dei bola
Me arrumei pra viajar.

Passou para me pegar
Um carrão especial
Bonito, cabine dupla,
De conforto sem igual
Então seguimos em frente
Pro festival de repente
Um programa cultural.

Foi o promotor do evento
Meu amigo e aliado
Que gentil fez o convite
E eu havia concordado
Mas foi falta de noção
Pegar uma condução
Estando naquele estado.

Eram três homens no carro
De mulher apenas eu
Os dois amigos na frente
E sentado ao lado meu
Um velho desconhecido
Hoje bem arrependido
Dessa viagem que deu.

Rumo a Caririaçu
Parti cheia de vontade
Pra conhecer os artistas
Que estariam na cidade
Muitos eu já conhecia
Só que abraçá-los seria
Reviver felicidade.

Duas coisas não sabia
E dessa vez me lasquei
É que lá fazia frio
E casaco eu não levei
Que a estrada tinha curvas
Fiquei com as vistas turvas
Por pouco não vomitei.

Começou o meu inferno
Eu aqui pensei: bem feito!
Como fui sair de casa
Se a barriga deu defeito
Na boca gosto de fel
O vuco vuco do anel
Foi me deixando sem jeito.

Comecei gemer pra dentro
Para o povo não ouvir
A cada curva e freada
medo da merda sair
Cada vez que escorregava
Minha rosca eu segurava
Com receio do porvir.

Hora eu segurava o vômito
Hora o cu eu segurava
Hora eu rezava pra Deus
Horo o satanás xingava
Pois o medo da cagada
Me deixava agoniada
Tudo isso me apavorava.

Após muito sofrimento
Eu cheguei ao meu destino
Enjoada da viagem
Desde a boca ao intestino
Saí do carro ligeiro
Fui em busca do banheiro
Ó meu Deus! Que desatino.

Quando cheguei ao banheiro
Já cheguei com cu na mão
O vaso estava lotado
Quase que caguei no chão
Com a bolsa no pescoço
Ali fiz o meu destroço
Fiz mira sem precisão.

Joguei a bunda pra trás
Joguei o corpo pra frente
Dei aquela chicotada
Foi feito vaca e não gente
E se eu não fizesse assim
O vaso cagava em mim
Disso eu estava ciente.

O pior veio depois
Não gosto nem de pensar
Despois desse descarrego
Não vi papel pra limpar
Descarga não funcionava
Ali eu me apavorava
Sem solução encontrar.

Sem água e também papel
Em minha bolsa encontrei
A nota de cem reais
Que para gastar levei
E uma linda toalhinha
Nela bordada Dalinha
Que de presente ganhei.

A dúvida me consumia
E eu não via solução
Sem querer usar a nota
A toalha também não
Deixar meu nome jogado
Inda por cima cagado
E minha reputação?

Só vi uma solução
Mesmo assim era ariscado
Passei o cu na parede
Num canto só rebocado
Tirei a minha calcinha
Passei na bunda todinha
Sem calça eu tinha ficado.

Quando cheguei ao salão
Foi tentando me esconder
O show tinha começado
E pra ninguém perceber
Bem no final eu sentei
Já sentada respirei
Lá ninguém ia me ver.

Não demorou muito tempo
Do microfone escutei
Que meu nome era citado
Eu então me levantei
Palavras em meu louvor
Disse o apresentador
Com gratidão acenei.

– Aqui presente, nós temos,
A poeta cordelista
Grande Dalinha Catunda
Que é uma mulher benquista
No salão ou no terreiro
Veio do Rio de Janeiro
Aplausos para essa artista?

Acenei, sorri, sentei,
E continuei sentada
E vendo a programação.
Logo fui requisitada
Para entregar um troféu
Supliquei a Deus do céu
Me proteja da cagada.

Pois o palco era bem alto
Eu estava sem calcinha
Se o anel não cooperasse
Eu me cagava todinha
Eu subi cada batente
Pedindo ao onipotente
Clemência para Dalinha.

Fiz uma pequena fala
Para não me demorar
O medo de estar fedendo
Em mim era de lascar
E mesmo passando mal
Eu cumpri o ritual
E a volta nem vou contar!

Esse episódio fatídico
Terminou na rezadeira.
Disse que foi mau olhado
Essa minha caganeira.
Me curou e me benzeu,
Meu cu restabeleceu.
Foi fato não brincadeira!


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 15 de março de 2023

UMA RODA DE GLOSAS - 20.06.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

UMA RODA DE GLOSAS

Dalinha Catunda

Mote desta colunista:

Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

* * *

Se suspiro apaixonada
É porque adoro a vida
Não vivo desiludida
Sempre adorno a caminhada
Não sou mulher mal-amada
E nesse meu versejar
Monto palco pra atuar
Com coragem e atitude
Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

Dalinha Catunda

Tenho forte coração
poesia no carinho
Vou seguindo meu caminho
Repleto de emoção
Afinando o violão
Lindo sem desafinar
Conjugando o verbo amar
Com o s da saúde
Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

Rivamoura Teixeira

Na minha vida serei
Um eterno apaixonado
Vou deixando o meu legado
Pelo mundo onde passei
Sei que amar é maior lei
Amarei, jardins, pomar,
O povo, montanha e mar
Porque tal mal não me ilude
Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

Jairo Vasconcelos

É efêmera a mocidade
Mas o amor nunca passa
Viver feliz é uma graça
Pra amar não tem idade
Amo com intensidade
Nunca paro de sonhar
Flutuo leve no ar
Sem temer a altitude
Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

Araquém Vasconcelos

Desde a minha adolescência
O meu coração suspira
O sentimento me inspira
E alimenta em mim, a essência
A paixão é consequência
Desse intenso ”mal” de amar
Hoje vivo a suspirar
Pelo amor em plenitude
Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

Creusa Meira

Aquele amor que foi chama
Que nem bombeiro apagava,
Que ardia, que rolava
Que quebrava toda cama,
Se entrelaçava na trama,
Hoje é só folha a boiar,
Vivo só de recordar
Que triste decrepitude:
Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

Bastinha Job

Já passaram tantos anos
Desde que nos conhecemos
Cada dia acrescemos
Graças por esses planos
Fizeram – se soberanos
Tu serás sempre meu par
E nada fará mudar
Espero que nada mude
Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

Dulce Esteves

Quando moço era um estouro
Eu vivia apaixonado
Hoje, todo remendado
Ergo o beiço qual um touro
Quando o cheiro do namoro
É trazido pelo ar
Mas na hora de arrochar
Não dá cola nem dá grude
Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

Giovanni Arruda

Gosto de viver a vida
Com carinho e alegria,
Fazer amor com poesia,
No Sol, no mar, na avenida;
Com prazer cuido da lida,
Sem esquecer de beijar
Meu amor, ao me abraçar,
Seu carinho é o que me ilude.
Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

Chica Emídio

Todo amor quero viver
Do presente e de outrora
Segundo, minuto e hora
E jamais quero esquecer
Faço o que for pra fazer
No tempo que me restar
Tudo quero aproveitar
Gozo de boa saúde
Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

F. de Assis

Uma página da vida
Duas três e sei lá quantas
De histórias já são tantas
Talvez alguma perdida
Eu não sei se a mais doída
Mas são muitas pra lembrar
São tantas com o verbo amar
Que coloquei no ataúde
Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

Vânia Freitas

Lembro da melhor idade
dos meus vinte e mais anos,
com meus direitos humanos
recheados de vontade…
Vivi minha mocidade
sem ter do que reclamar,
fui do vinho ao caviar
e não me faltou saúde…
Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

David Ferreira


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 08 de março de 2023

UMA RODA DE GLOSAS - 08.07.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

UMA RODA DE GLOSAS

Dalinha Catunda

Mote desta colunista:

Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Eu nesse confinamento
Tô feito boi no cercado
Que cisca e fica enfezado
Até o cão eu atento
Dou coice que nem jumento
Sem rédeas quero ficar
Mas devo me resguardar
Saúde é prioridade:
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Dalinha Catunda

De cabeça atubibada
Muita coisa me azucrina
Não vou no bar da esquina
Pegar a loura suada
A vida tá bitolada
Esse vírus de lascar
Veio aqui pandemiar
E trazer ansiedade
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Rivamoura Teixeira

O vírus me diz que não
Meus amigos dizem sim
Estou esperando o fim.
Da pandemia do cão
Pra sair deste alçapão
Ser livre pra passear
Sem máscara pra sufocar
Matar esta ansiedade
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Araquém Vasconcelos

Há tempos vivo trancada
Igual uma criminosa
A vida maravilhosa
Há dois anos tá parada
A China amaldiçoada
Quer ser potência a reinar
Fez o vírus circular
Já perdi a sanidade:
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Bastinha Job

Nessa tal de pandemia
Fiquei muito estressada
Vivo só encafurnada
Tô brigando todo dia
Cachorro, gato que mia
Meu papagaio a gritar
Eu mandando se lascar
Não falei nem a metade
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Dulce Esteves

 

Veio Uma Tal De Vacina
Pra Dá Fim Ná Pamdemia
Morre Gente Todo Dia
Os Medicos Nem Examina
O Virus Que Veio Dá China
Tá Dificio De Matar
Os Que Os Medicos Entubar
Vái Para A Eternidade
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Alberto Francisco

Acabando a pandemia
Compro um par de Havaiana
Vou andar toda semana
Pelas sete freguesia(s)
E só vou voltar no dia
Que a tira se soltar
GPS não vai me achar
No sítio nem na cidade
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

F. de Assis Sousa

O pior desta prisão
É o trabalho que dá
Limpa aqui, limpa acolá
Lava roupa, faz pirão
Não tenho descanso, não
O bom mesmo é passear
Bater um papo no bar
Isso é que é felicidade
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Creusa Meira

Há dois anos que não saio.
Sempre nesta Agonia.
Xô! Vai embora Pandemia.
Passou Abril, passou Maio,
Na janele de soslaio,
Levo a vida a contemplar.
Quero pintar e bordar…
No Rio e em toda cidade,
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Rosário Pinto

Tô preso sem ser julgado
Não sei, o tamanho da pena
Por qual crime me condena
Nem adianta advogado
O jeito é ficar calado
Deixando o tempo passar
Todos tem que se trancar
Pra não ir, pra eternidade
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Jairo Vasconcelos

Eu nunca pensei um dia
Ver o povo engaiolado
Escola sem alunado
E trabalho em moradia
Já tá me dando agonia
Não posso nem passear
Tô doido pra fofocar
Passo até necessidade
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Giovanni Arruda

Ninguém sabe o que fazer
Com o vírus que demora
Durmo sem pensar na aurora
E o tempo passa a correr
Parece que vou morrer
De tristeza e falta de ar
Tô doida pra viajar
Para matar a vontade
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Vânia Freitas

Eu estou enclausurado
Nessa triste quarentena
Eu já sinto até gangrena
No meu tornozelo inchado
Por viver aprisionado
Sem poder me ausentar
Nem tomar uma no bar
E mentir barbaridade
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Joab Nascimento

Essa tal de pandemia
Me deixou desassossego,
Proibiu meu aconchego
E se fez anomalia,
Causando melancolia
A quem com ela encontrar.
Resta a todos esperar
A total imunidade,
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Chica Emídio

Em tempos de pandemia
tal qual essa que vivemos,
inda que nós expressemos
nossa paz, nossa alegria,
em favor de um novo dia,
será mero verberar
muito menos granjear
nossa própria idoneidade…
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

David Ferreira


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 01 de março de 2023

CARREIRÃO DA DESDITA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

CARREIRÃO DA DESDITA

Dalinha Catunda

Publicado em 

 

Que peste medonha!
Meu Deus, que agonia…
Que rouba do povo,
a sua alegria.
É a Besta-fera,
Que mata e arrepia.
É o trem da morte
Que não alivia.
Me acuda Jesus!
Socorro Maria!
Livrai nosso povo,
Desfaça a magia,
Dê fim na desgraça,
Que nos contagia.
Eu já fiz promessa,
Rezo todo dia,
Velar nossos mortos
A gente queria
Um enterro decente
Antes se fazia
Tudo virou cinzas
Nesta pandemia.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 22 de fevereiro de 2023

QUANDO EU BRINCAVA DE RODA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)E

 

QUANDO EU BRINCAVA DE RODA

Dalinha Catunda

 

Quando eu brincava de roda
Lá no meu interior
Era menina feliz
A vida tinha calor
Eu soltava minha voz
Pra cantar: “Ó Linda flor.”

Dalinha Catunda/ Rio de Janeiro–RJ

Quando eu brincava de roda
Bem novinho, ainda moço
A mão na mão da menina
Outra mão lá no pescoço
Mas a brincadeira boa
Era a de cair no poço.

Marcos Silva/São Paulo-SP

Quando eu brincava de roda
Em noite de lua cheia
Na brincadeira de anel
Ou pisando o pé na areia
Dava a mão pra meninada
Todos gritavam: sereia!

Creusa Meira/ Bahia

Quando eu brincava de roda
No terreiro lá de casa
A lua era testemunha
Da felicidade rasa
No ritmo da ciranda
Cirandando, criava asa.

Chica Pessoa/Pentecoste-CE

Quando eu brincava de roda
No pátio da minha escola
Toda hora do recreio
Hoje a saudade me assola
Me lembro dela fardada
E um par de brinco de argola

Jairo Vasconcelos

Quando eu brincava de roda
Atirava o pau no gato
Que brincadeira perversa
Falta de mimo de trato
Mas ganhei delicadeza
Quando vim morar no Crato

Bastinha Job/Crato-CE

Quando eu brincava de roda
Já Doido Pra Namorar
Adorava O Cai No Poço
Para As Meninas Beijar
Moro Em Cruz De São Francisco
Estado Do Ceará.

 

Alberto Francisco/Cruz de S. Francisco-CE

Quando eu brincava de roda
Com um vestido de bolinha,
Era grande a alegria
No terreiro da cozinha;
Meus irmãos faziam festa,
Mas essa lembrança é minha!

Chica Emídio/Crato-CE

Quando eu brincava de roda
Pus ponteira no pião
Arremessava bem ancho
Ele rodava no chão
Depois eu curtia a dança
Na palma da minha mão

Rivamoura Teixeira

Quando eu brincava de roda
Nossa noite, era um festeiro
Os vagalumes piscando
Indo em busca do pereiro
Lua e as estrelas se via
Alumiando o terreiro.

Maria Nelcimá Morais-Paraíba

Quando eu brincava de roda
Era uma grande alegria
Cantava a bela cantiga
Saudando a sintonia
E cantando lentamente
De mãos dadas bem contente
Bem feliz, me divertia…

Ivonete Morais/Fortaleza-CE

Quando eu brincava de roda
Me soltava por inteira
Eu não cantava, gritava
Era meio baderneira
Gostava de confusão
Pra ver subir a poeira.

Vânia Freitas/Fortaleza-CE

Quando eu brincava de roda
Na latada do terreiro
Você brincava comigo
Eu já era presepeiro
Tava de má intenção
Você querendo minha mão
Eu querendo seu traseiro

Xico Bizerra, Crato, Recife

Quando eu brincava de roda
Sempre ao anoitecer
Era muito divertido
Sem ter nada pra fazer
Inocente na maldade
Do que iria acontecer!

Joabnascimento/Camocim-CE

Quando eu brincava de roda
Bila bojo e pega pega
De ciranda cirandinha
De soldado cabra cega
Pra criançada de hoje
Isto tudo é coisa brega

Araquém Vasconcelos/Santana do Acaraú-CE

Quando eu brincava de roda
Eu puxava a cantoria
Minhas amigas dançando
Reinava muita alegria
No terreiro lá de casa
Em ritmo de melodia.

Dulce Esteves- Recife-PE

Quando eu brincava de roda
Lá nas bandas do sertão
Com a turma de amigos
Numa noite de São João
Também soltava chuvinha
E os traques de salão.

Rosário Lustosa Juazeiro do Norte-CE

Quando eu brincava de roda
Me enchia de emoção
Pois o meu amor platônico
Ao pegar na minha mão
Eu não sei se eu me elevava
Ou se o céu descia ao chão

Giovanni Arruda/ Fortaleza-CE

Quando eu brincava de roda
A vida era uma alegria.
E lá no quintal de casa,
Tudo em volta era magia.
Meu pai tocando viola,
Em noites de cantoria.

Rosário Pinto

Quando eu brincava de roda
Eu era a estrela-guia
Cantava alegremente
Com perfeita sinfonia
Cirandeira envolvente
Ladeada de harmonia.

Lindicássia Nascimento/Barbalha-CE

Quando eu brincava de roda
Era um pouquinho arteira
Corria, puxava a roda
Gostava da bagaceira
Só achava divertida
Se a roda fosse ligeira.

Francy Freire/Crato-CE

Quando eu brincava de roda
Segurava na tua mão
Meu coração disparava
Eu tremia de emoção
Hoje já nem reconheço
Minha primeira paixão

Fabiana Gomes Vieira/ Crato-CE

Quando eu brincava de roda
Nos meus tempos de criança
Batava laço de fita
Na ponta de cada trança
Era menina feliz
E repleta de esperança.

Anilda Figueiredo/ Crato-CE

Quando eu brincava de roda
Só participava se nela
Tivesse também brincando
Minha prima Gabriela
A coisa que mais gostava
Era quando a roda embalava
Eu pegado na mão dela.

Francisco de Assis Sousa/Barbalha-CE


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 15 de fevereiro de 2023

CIRANDEIRAS EM MOVIMENTO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

CIRANDEIRAS EM MOVIMENTO

Dalinha Catunda

Nesses meus versos rimados
Quero lhes apresentar
Um grupo de Cordelistas
Que soube se reinventar
Pois mesmo com pandemia
Não perdeu sua alegria
E resolveu cirandar.

Mulheres empoderadas
Não perdem sua razão
Aprendem a voejar
Quando lhes roubam o chão
Quem tem asas pra voar
E sempre soube sonhar
Faz remota atuação.

Todas elas se arrumaram
Vestiram saias de chita
Umas com flor nos cabelos
Outras com laço de fita
Se animaram pra cantar
Pra dançar e declamar
E ficaram bem na fita.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 08 de fevereiro de 2023

UMA RODA DE GLOSAS - 24.08.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

UMA RODA DE GLOSAS

Dalinha Catunda

Xilogravura de Valdério Costa

Mote desta colunista:

Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

* * *

Nem bem o dia amanhece
Já está em meu quintal
O seu canto matinal
É canto que me enternece
Mas comida só merece
Quem tem rumo e direção
Não cedo alimentação
Pra quem sempre vai e vem:
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Dalinha Catunda

Também não darei moleza
À rola ou a periquito,
Mesmo sendo bem bonito,
Pode ter toda a certeza;
Beleza nunca põe mesa
E nesses tempos então
Só abro uma exceção
Com aval de Araquem:
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Bastinha Job

Já tive no meu terreiro
uma rola sem futuro,
me procurava no escuro
e me acertava o traseiro,
com seu jeito interesseiro,
não queria meu pirão,
mas só arroz com feijão,
na hora do vai-e-vem.
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Anilda Figueiredo

Eu adoro passarinho…
Mas sou fã do periquito
Esse do mote esquisito
Não põe ovo no meu ninho
Pra ficar tudo certinho
Eu digo com precisão
Essa rima é o cão
Esse verso não convém
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Giovanni Arruda

Quando o pássaro é manso
Basta um dedo em riste
Botar painço e alpiste
Que vem fazer o descanso
Já criei patos e ganso
Sabiá corrupião
Acabava com a ração
Não me sobrava um vintém
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Araquém Vasconcellos

Canta lá no cajueiro
Que fica no meu canal
Um rebanho de pombal
Me consola o dia inteiro
Mais não chega no terreiro
Nem na janela do oitão
Eu tenho essa opinião
Pode ser pardal, quem quem
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Jairo Vasconcelos

Eu escuto o passarinho
Mas grito com dedo em riste
Posso dar xerem, alpiste
Se ele sair do ninho
Se eu escutar bem cedinho
Um canto em tom de canção
Mas se ele só diz não
E não canta pra ninguém
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Rivamoura Teixeira

Eu criava uma rolinha
Um dia fiquei zangada
Ela vivia escorada
Peguei a tal passarinha
Ficou mais mole a bichinha
Eu dei nela um arrochão
Sapequei ela no chão
E pelei o seu sedém
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Ritinha Oliveira


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 01 de fevereiro de 2023

SORTILÉGIO LUNAR (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

SORTILÉGIO LUNAR

Dalinha Catunda

Foto desta colunista

Pela fresta da janela,
Vejo o quanto a lua é bela!
Diante desse esplendor,
Ainda olhando pro céu,
Deixo cair o meu véu,
E perco então o pudor…

Deslizo pelo cetim,
E aproveito-me de mim,
Nesse instante de fervor.
Pois a lua auspiciosa,
Em noite libidinosa,
Tece um clima sedutor.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 25 de janeiro de 2023

SOU DA LINHA DO CORDEL (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

SOU DA LINHA DO CORDEL

Dalinha Catunda

 

Sou Cordel de Saia
Cordel de vestido
Cordel feminino
Cordel atrevido
Cordel de Calcinha
Cordel de Dalinha
Cordel divertido.

Sou manha e gracejo
Sou verso ladino
Sou canto nascido
No chão nordestino
Sou nesse universo
Cabocla do verso
Santo e libertino.

Sou alma do verso
Sou rima no ar
Sou dedos que contam
Pra metrificar
Sou inspiração
Dou voz a oração
No palco a cantar.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 18 de janeiro de 2023

UMA RODA DE GLOSAS - 18.09.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

UMA RODA DE GLOSAS

Dalinha Catunda

Mote desta colunista:

Não venha com leriado,
Hoje estou destabacada!

O marido de Maria
Era caboclo exigente…
Deixava a mesma doente,
De tanto que lhe afligia.
Quando ela se aborrecia,
Gritava desaforada:
Tu aqui não mandas nada!
Acho bom ficar calado!
Não venha com leriado,
Hoje estou destabacada!

Dalinha Catunda

De ser Amélia eu cansei
Disse Adélia para o Joca
Hoje tu num me provoca
Hoje nem rezar rezei
Chá calmante não tomei
Desci da rede avexada
Andei dando uma topada
Não aceito seu fungado
Não venha com leriado,
Hoje estou destabacada!

Rivamoura Teixeira

Todo dia tô assim
Já perdi até a alma
Com ela perdi a calma
Tô quase vendo meu fim
coitadinha, ai de mim
Me tornei esclerosada
Me chamam até de coitada
Esse é meu triste fado:
Não venha com leriado,
Hoje estou destabacada!

Bastinha Job

Deixa de conversa mole
Hoje tô com a mulesta
Dois chifres na tua testa
Pois , comigo ninguém bole
E tomava mais um gole
Dando grossa cusparada
Pense na desaforada
O seu véi desmascarado
Não venha com leriado,
Hoje estou destabacada!

Dulce Esteves

Tereza tinha uma bar
Perto da rua da feira
Não topava brincadeira
Era de pouco falar
Um bobo quis lhe cantar
Tereza deu uma pernada
Bem em cima da danada
Vá pra casa seu tarado
Não venha com leriado,
Hoje estou destabacada!

Jairo Vasconcelos

Dormiu com raiva de sobra
Enfezada com o marido
Mulherengo, pervertido
Torto feito uma abobra
Ela quem criou a cobra
Cedo amanheceu picada
Braba, doida, aporrinhada…
E chegou dando o recado
Não venha com leriado,
Hoje estou destabacada!

F. de Assis Sousa

Não sou de muita falar
Comigo pouca palavra
Rende mais na minha lavra
Quando quero descascar
Boto logo pra lascar
Quando tô de pá virada
E ferida descascada
Não vou com muito babado
Não venha com leriado,
Hoje estou destabacada!

Vânia Freitas

Zefinha cravo e canela
Possuía uma cantina
Com doces e cajuína
Pinga branca e amarela
O povo gostava dela
Mas era um pouco zangada
Se ouvisse uma cantada
Gritava pro aletrado
Não venha com leriado,
Hoje estou destabacada!

Araquém Vasconcelos

Que bonito é ver alguém,
sobretudo, uma mulher,
dizer tudo o que ela quer
sem temer, pois, a ninguém.
A minha, medo, não tem,
diz que não me deve nada
e, um dia, meio amuada,
me fez ouvir seu recado:
Não venha com leriado,
Hoje estou destabacada!

David Ferreira

Minha mulher é amiga
Não gosta de baixaria
É bem calma, voz macia
Não faz mal uma formiga
Mas vira galo de briga
Parte logo pra mãozada
Se eu varar a madrugada
E chegar embriagado
Não venha com leriado,
Hoje estou destabacada!

Giovanni Arruda


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 04 de janeiro de 2023

CONVERSA DE CALÇADA VIRTUAL (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

A saudade é uma dor
Mas não é dor de doer
É vontade de lembrar
Com vontade de esquecer.

Quadrinha Popular

A saudade é uma dor
Martelando o coração
Cada batida desperta
Um mói de recordação

Dalinha Catunda

A saudade é uma dor
Sete letras, sete ais
Um caçua de lembranças
E a gente sempre quer mais

Rivamoura Teixeira

A saudade é uma dor
grande demais, hiperbólica
Espinho que fere a flor
Deixando a alma bucólica

Bastinha Job

A saudade é uma dor
Que fez nascer poesia
No canto do coração
Cresce de noite e de dia.

Vânia Freitas

A saudade é uma dor
Sem remédio pra curar
Só o elixir do amor
Ê quem pode aliviar

Araquém Vasconcelos

A saudade é uma dor
Que vem do fundo da alma
A falta de um grande amor
Que só outro amor acalma.

Chica Emídio

A saudade é uma dor
Pulsando insistentemente
Ao fazer sua morada
Dentro do peito da gente.

Creusa Meira

A saudade é uma dor
Que disfarça sutilmente
A tristeza da distância
Pelo amor dentro da gente

Giovanni Arruda

A saudade é uma dor
Espinho de uma flor viva
Indiferente ao clamor
E mata quem a cultiva.

F. de Assis Sousa

A saudade é uma dor
que sangra dentro da gente,
quem nunca perdeu um amor,
jamais esteve doente.

Anilda Figueiredo

A saudade é uma dor
Um parafuso enferrujado
Quanto mais aperta mais dói
Um coração machucado.

Maria Conceição Vargas

A saudade é uma dor
Que machuca, que maltrata,
Principalmente se for
Saudade daquela ingrata.

Marcelo José Gomes Costa

A saudade é uma dor
Que fustiga diferente
E quando junto à paixão
Dói no coração da gente!!

Helonis Brandão

A saudade é uma dor
Que leva a gente a loucura.
Não tem doutor que dê jeito.
Nem tem remédio pra cura.

Assis Mendes

A saudade é uma dor
Que não tem comparação
Quem é dela um portador
Sofre sem explicação !

Dulce Esteves

A saudade é uma dor
Sendo uma dor incruenta
Eu tento lhe disfarçar
Cada vez mais ela aumenta

Jairo Vasconcelos

A saudade é uma dor
Que o tempo alimenta
Que dói lá dentro do peito
E arde mais do que pimenta.

Claude Bloc

A saudade é uma dor
Que volta a todo momento
Qual um filme de amor
Que não sai do pensamento.

José Olívio


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 28 de dezembro de 2022

ELE QUERIA MEU PIX (CORDEL DA MADRE SUPERIORAS DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

ELE QUERIA MEU PIX

Dalinha Catunda

 

Eu nasci no Ceará
Sou cabocla experiente
Eu sou metida a gaiata
Porém sou mulher decente
E pra falar a verdade
Não gosto de intimidade
Com macho que é indecente.

Mensagens eu recebi
Nesse tal de celular
E parece que o sujeito
Queria me conquistar
Ô sujeitinho safado
Cabra metido a tarado
Não sou mulher de aturar.

Começou a pedir Nudes
Perguntei: Que diabéisso?
Nem deixei ele explicar
Pois eu tenho compromisso
Já estava quase explodindo
E o ente me perseguindo
Nem gosto de falar nisso.

A bate-boca esquentou
Eu xinguei o cidadão
Se eu tivesse cara a cara
Tinha lhe sentado a mão
E até vergonha me deu
Pois o corno resolveu
Entrar na esculhambação.

Acredite minha gente
No que agora vou falar
O cínico me pediu
E queria me forçar
Você é uma senhora
Mas quero seu PIX agora
Nem diga que não vai dar.

É claro que não vou dar
Sujeitinho descarado
O meu PIX já tem dono
Deixe de ser abusado
Se você mexer comigo
Vai mesmo é correr perigo
Garanto que tá lascado.

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 14 de dezembro de 2022

PROFESSORINHA DO INTERIOR (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

PROFESSORINHA DO INTERIOR

Dalinha Catunda

Esta é minha homenagem a minha tia Isa Catunda professora que lecionou durante muitos anos na cidade de Ipueiras, CE. Ela teve em vida, o carinho e o reconhecimento de muitos que passaram por sua sala de aula. Hoje ela já não vive fisicamente entre nós, mas continua a ser um espírito de luz a nos iluminar.

Renegou a palmatória.
Sabia contar história.
Tinha a meiguice da flor.
Tinha o dom de encantar,
Gostava de lecionar
A Mestra do interior.

Não teve filhos na vida,
Mas era a tia querida,
Que a criançada adotou.
Irradiava magia,
Era Filha de Maria,
Catecismo me ensinou.

Era fina e elegante,
Joia rara, um diamante,
Com todo seu esplendor.
Um ser de luz e beleza
Pro céu levou sua pureza,
E aqui deixou muito amor.

Esse anjo de quem falo,
Rasgo meu peito e não calo,
Habita o meu coração.
É tia Isa querida,
Que já deixou essa vida,
Vive em outra dimensão.

Isa Catunda de Pinho,
Teve um bonito caminho,
Enquanto pode ensinou.
Essa doce criatura
Que viveu para a cultura
Seu legado me deixou.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 07 de dezembro de 2022

Ô VÉIA PRA ENXERGAR! (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

Ô VÉIA PRA ENXERGAR!

Dalinha Catunda

 

Minha mãe é poetisa,
E sempre gostou de ler,
Mas ficou com a vista curta,
Começou seu padecer.
Com receio de cegar,
Resolveu se consultar,
Para a vista não perder.

O doutor disse ligeiro
Sem rodeio sem bravata:
– Aqui pelo que estou vendo
O seu caso é catarata!
Uma simples cirurgia,
Vai fazer sua alegria,
Vamos já marcar a data.

Mamãe ficou animada,
Cheia de satisfação,
Falava pra todo mundo,
Dessa sua operação.
Outra coisa não falava,
Todo dia ela rezava,
Pra dar certo a intervenção.

Não demorou muito tempo
Ela foi paro o hospital,
E por causa da idade
Mamãe precisou de aval,
Mas depois de operada,
A vista foi renovada,
E ficou especial!

Hoje quando alguém pergunta,
Se vê mesmo, ou se é fofoca,
Ela diz que enxerga até
“Priquito” de muriçoca,
E nem pense em contestar!
Pois língua pra argumentar,
Ela tem bem grande e choca.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 30 de novembro de 2022

O REPENTE É PATRIMÔNIO CULTURAL (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DOALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

Mote desta colunista:

Patrimônio cultural
É o repente brasileiro.

Agora o nosso repente
Foi mesmo reconhecido
O registro é merecido
E a classe ficou contente
Porque o IPHAN sabiamente
Deu mais um passo certeiro
E falou pro mundo inteiro
Que o repente tem aval:
Patrimônio cultural
É o repente brasileiro.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 23 de novembro de 2022

ALGUMAS GLOSAS (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMNDO FLORIANO)

ALGUMAS GLOSAS

Dalinha Catunda

 

Mote de Heliodoro Morais:

Minha mulher tem de tudo
Que outra mulher não tem!

Eu não me canso de ouvir
Do meu marido adorado
O que ele já tem falado
E está sempre a repetir
Que eu gosto de me enxerir
Que sou teimosa também
Dou coice como ninguém
E bravo diz, carrancudo:
Minha mulher tem de tudo
Que outra mulher não tem!

Dalinha Catunda

Meu marido diz assim:
Eita baixinha atrevida
Dedicas a tua vida
Pensando tão mal de mim
Vou mesmo te dar um fim
E te despachar no trem
Pra comer te dou xerém
De que te serve o estudo?
Minha mulher tem de tudo
Que outra mulher não tem!

Bastinha Job

Vez por outra ele me xinga
Grita chora e não me deixa
Diz que meu gosto de ameixa
Minha dança e minha ginga
Se mistura à sua pinga
Que bebe e não se contém
Gasta o último vintém
Caminha a passo miúdo
Minha mulher tem de tudo
Que outra mulher não tem!

Vânia Freitas

As mulheres em geral
são dotadas de beldades,
diferentes das maldades
que o homem convencional
via de regra – em geral –
chama de mal ou de bem,
mas, elas, quaisquer ou quem,
tem seu próprio conteúdo…
Minha mulher tem de tudo
Que outra mulher não tem!

David Ferreira

Eita mulher arretada
Essa que casou comigo
É dona do próprio umbigo
Resolve qualquer parada
Quando chega a madrugada
Na dança do xenhenhém
Me carrega pro além
No tapete de veludo
Minha mulher tem de tudo
Que outra mulher não tem!

Giovanni Arruda

 

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 16 de novembro de 2022

AINDA FAÇO MENINO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

AINDA FAÇO MENINO

Dalinha Catunda

 

Cangaceirinho: artesanato feito por esta colunista

Eu para fazer menino
No tempo da mocidade
Virava só os olhinhos
Cheia de felicidade
O tempo foi se passando
E foi chegando a idade
Lá se foi a primavera
Meu Deus quanta crueldade
Hoje pra fazer menino
É uma dificuldade
Preciso de agulha e linha
Tecido em variedade
Uma máquina de costura
Só para essa atividade
O tempo passa e faz dano
Essa é a mais pura verdade
E para meu desengano
Com toda sinceridade
Menino me arisco e faço
E vendo por unidade.
Mas é menino de pano
Minha especialidade.

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 09 de novembro de 2022

A VENDEDORA DE TABACO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

A VENDEDORA DE TABACO

Dalinha Catunda

 

Com seu negócio montado
Outra coisa ela não quer
Pois negócio de mulher
Sempre dá bom resultado
Já que o seu tem prosperado
Contratou logo sua mana
E a dupla toda semana
Faz zoada no barraco:
Pode cheirar meu tabaco
Ele é feito de imburana!


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 02 de novembro de 2022

EU JÁ FIZ SESSENTA E NOVE (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

EU JÁ FIZ SESSENTA E NOVE

Dalinha Catunda

 

 

Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco terça, 25 de outubro de 2022

A ÁRVORE QUE ME REPRESENTA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

A ÁRVORE QUE ME REPRESENTA

Dalinha Catunda

 

Fotos desta colunista

 

Eu hoje vivo na roça
Recordando meu sertão,
Pois é lá daquelas brenhas,
Que retiro inspiração.
Minha Árvore de Natal,
Tentei fazer uma igual,
Com alguma inovação.

Peguei garrancho no mato,
Tirei as folhas, limpei,
E numa lata de vinte
Areia lá coloquei.
E depois chegou a vez
Do paninho de xadrez,
Pra envolver a lata usei.

E como eu sou cordelista,
Para a árvore enfeitar,
Dependurei meus cordéis,
Que tem tanto pra contar…
Das histórias do sertão,
Que trago no coração,
E gosto de relembrar!

Minhas bonecas de pano?
No Natal muitas ganhei!
Como artesã de bonecas,
Algumas eu pendurei,
Frutos da recordação,
Que marcam a tradição,
Coisas que vivenciei.

Quando saí do Nordeste
Mãe solteira, e minha cruz,
Me apeguei no meu caminho,
A santa Mãe de Jesus.
Minha base a cada dia,
Era Jesus e Maria.
Meu caminho foi de luz.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 19 de outubro de 2022

EU MAIS XICO NO FUXICO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

EU MAIS XICO NO FUXICO

Dalinha Catunda

 

 

Xico Bizerra

Amigo vou lhe dizer
Preste bastante atenção
Das dores do coração
Não cabe se maldizer
Só tempo pra resolver
Não vale a pena chorar
Eu posso até me lascar
Porém morro sem pedir
Pr’ele ficar e não ir
Ou não ir, querer ficar.

Dalinha Catunda

quem souber me diga agora
não me deixe sem resposta
quando o caba um dia gosta
gosta tanto que até chora
e seu amor vai embora
ele fica a lamentar
sem saber pra quem rezar
sem noção a quem pedir
pr’ela ficar e não ir
ou não ir, querer ficar

Xico Bizerra

Quando um amor vai embora
Um outro amor logo vem
Nos braços de outro alguém
Nosso instinto colabora
A vida logo melhora
Paixão é para passar
Quem vai, perde seu lugar
Não adianta insistir:
Pr’ele ficar e não ir
Ou não ir, querer ficar

Dalinha Catunda

O problema é que ela indo
A gente fica sozinho
E sem amor, sem carinho
O ‘hômi’ termina caindo
Sem vergonha, vou pedindo
Pra ela ficar e não ir
E eu chorando, sem rir
Sei que vou me lascar
Se ela não quiser ficar
Nem adianta outra vir

Xico Bizerra

Eu só quero quem me quer
Disso sabe quem me atura
Não é qualquer criatura
Que conhece meu mister
Sou parceira sou mulher
Mas não sou de me iludir
Se meu parceiro partir
Pranto não vou derramar
Se ele não quiser ficar
Vou achar quem queira vir

Dalinha Catunda

Pior é que na minha idade
Quase tudo anda mole
Quase nada ainda bole
Uma infelicidade
Aqui na minha cidade
Ninguém comigo quer nada
Sem mulher ou namorada
Nem posso me divertir
Se essa mulher partir
Minha sorte está lançada.

Xico Bizerra

Amigo, pra pé doente
Um chinelo velho tem
Quando a dona idade vem
Tudo fica diferente
Um cabra polivalente
Sempre brilha até o fim
E dá mingau ao soim
Porque sabe arquitetar
E vê a cobra fumar
Enquanto a sorte diz sim.

Dalinha Catunda

Quem me dera acreditar
Em tudo que você diz
Quisera ser aprendiz
E saber arquitetar
Todo o bem e o mal que há
Nessa vida não brilhei
E até atrapalhei
O brilho que outros tem
E como ninguém mais vem
Desisti e me mandei

Xico Bizerra

O bom da vida é viver
A vida como ela é
Horas grudados na fé
Já outras a se entreter
Versos tentando fazer
Pra não perder a mania
Pois nos braços da poesia
É Sempre tempo de luz
E a palavra que reluz
Ilumina nosso dia.

Dalinha Catunda


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 12 de outubro de 2022

A ROLA DE XICO BIZERRA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

A ROLA DE XICO BIZERRA

Dalinha Catunda

 

Rolinha-roxa

Um homem que não tem rola
É homem pela metade
Não tem mulher que lhe queira
Esta, uma grande verdade
Por isso que a minha rola
É minha maior vaidade.

Xico Bizerra

Admiro muito um homem
Pela rola que ele tem
Pra ela fica formosa
Deixo comer meu xerém
E ainda coço a cabeça
E chamo de meu neném.

Dalinha Catunda

Ela é grande e bonita
Coisa mais linda do mundo
Quem um dia já lhe viu
Tem por ela amor profundo
Guardo ela na varanda
No quintal, boto no fundo.

Xico Bizerra

Uma rola desse naipe
Eu garanto que é burguesa
Na varanda ou no quintal
Eu não vou ficar surpresa
Que alguém venha se apossar
Dessa pombinha indefesa.

Dalinha Catunda

Mas o mais bonito dela
É seu canto mavioso
Quando canta, ajunta gente
Ouvindo o canto gostoso
Minha rola é um passarinho
Deixe de ser tão maldoso,

Xico Bizerra

Amigo, uma rola dessa
Que canta com precisão
Eu abro a minha gaiola
Prendo no meu alçapão
Deixo dormir no meu oco
E não devolvo mais não.

Dalinha Catunda

Dalinha, tu és danada
De minha rola sem medo
Vou te levar de presente
Chego por aí bem cedo
Depois tu conta pro povo
Como foi o nosso enredo.

Xico Bizerra

Xico você pode vir
Vou ficar de prontidão
Se você me trouxer rola
Vou depenar no fogão
E depois vou temperar
Para nossa refeição.

Dalinha Catunda


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 28 de setembro de 2022

POETAS GEMENDO NA REDE (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

POETAS GEMENDO NA REDE

Dalinha Catunda

 

Antigamente eu gemia
Ele gemia também
Ele me chamava amor
E eu chamava de meu bem
Hoje quando estou gemendo
Ele vai logo dizendo:
Que diabo é que você tem?

Dalinha Catunda

O verdadeiro gemido
Que muita gente conhece
Começa ao anoitecer
Termina quando amanhece
Mas o gemido de dor
Espanta qualquer amor
Quando a gente envelhece.

Creusa Meira

Meu gemido é diferente
E é capaz de assustar
Porém nunca perguntei
Na hora de namorar
A gemedeira é no grito
E a dele no mesmo rito
Que até chega a desmaiar.

Lindicássia Nascimento

Na nossa lua de mel
Em cima do meu colchão
Eu gemia ela gemia
Parecia assombração
Hoje se der um gemido
Ela vem com um comprimido
E um copo d’água na mão

Alberto Francisco

Aqui também é assim
Uma grande gemedeira
Ela geme e eu gemo
É a maior quebradeira
Agora, gemido de amor
Gemido sem sentir dor
Num tem de jeito e maneira

Xico Bizerra

No começo a gemedeira
Assombrava até a gente
Nosso gemido era imenso
Que a cama ficava quente
Hoje em dia, no gemido.
Ela já diz: – Meu marido
Já está com dor de dente!

Marcos Silva

Como tenho sete dores
Correndo por todo o corpo
Já não dá mais pra gemer
Até ando meio torto
Sem ninguém pra me acudir
A mulher só a dormir
Contudo, não estou morto.

José Walter Pires

Indo puxo gemedeira
De peleja e cantoria
Também gemo em minhas dores
Mas lamento hoje em dia
Minha cobra não dá bote
Sem puder pegar caçote
Eu só gemo de agonia

Giovanni Arruda

Meu carro de boi gemia
Nas suas longas andanças
De noite do quarto ouvia
Eu e outras crianças
Gemidos vindo da porta
Que o vento hoje corta
Gemidos dessas lembranças.

Vânia Freitas


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 21 de setembro de 2022

VIDA NA ROÇA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO) VÍDEO

 

VIDA NA ROÇA

Dalinha Catunda

 

 

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 14 de setembro de 2022

O CABARÉ DO BERTO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

O CABARÉ DO BERTO

Dalinha Catunda

Sei que o Cabaré do Berto,
É cabaré de respeito
Mas mulher p’ra frequentar
Tem que ter é muito peito
Ou cai na língua afiada
De quem fica recalcada
Se roendo com despeito.

Tem papo e tem poesia,
Tem muita descontração,
Histórias inusitadas
De farra e de traição
Na hora da oratória
Não falta corno na história
Muito riso e animação.

O cabaré democrático
Todos podem frequentar
Não tem limite de idade
Quem quiser pode chegar
Tem um clima diferente
E que agrada a muita gente
Quem quiser pode chegar.

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 07 de setembro de 2022

RODA DE GLOSAS (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

RODA DE GLOSAS

Dalinha Catunda

 

Mote desta colunista

Quem não tem capacidade
Para seguir o seu roteiro,
Pega o dos outros ligeiro,
Dele faz sua verdade.
Com toda sinceridade!
Abro a boca pra dizer,
E se você quer saber,
Segredo não vou guardar:
Tem o diabo pra tirar
Mas tem Deus pra devolver.

Dalinha Catunda

Quem tem coragem na vida
Enfrenta qualquer perigo
Põe pra correr inimigo
Vai com garra para lida
Pela FÉ tá guarnecida
E nada lhe faz temer
Afirmo, pois, com prazer
ninguém vai me derrubar
Tem o diabo pra tirar
Mas, tem Deus pra devolver.

Dulce Esteves

Nessa vida tem de tudo
Gente ruim e gente boa
Tem sol quente e tem garoa
Tem buraco e viaduto
Cabra frouxo e cabra bruto
Tem o cego e o que vê
Tem a noite, o amanhecer
Mas no fim pode anotar
Tem o diabo pra tirar
Mas tem Deus pra devolver

Giovanni Arruda

Fé e força de vontade
Pra enfrentar o problema
Um pouco de estratagema
E sempre usar a verdade,
Pois quem tem idoneidade
Não tem o que se temer,
Mande bem e pra valer
Deixe o demo se lascar:
Tem o diabo pra tirar
Mas tem Deus pra devolver.

Bastinha Job

Quando sou surrupiado
Por alguém sem consciência
Não perco minha decência
Nem me sinto revoltado
Da pena até do coitado
A má ação faz sofrer
Pequeno para entender
Que quem erra vai pagar
Tem o diabo pra tirar
Mas tem Deus pra devolver.

Jairo Vasconcelos


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 31 de agosto de 2022

MULHER SABERES E OFÍCIO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

MULHER SABERES E OFÍCIO

Dalinha Catunda

Capa desta colunista

A mulher no seu trajeto
Marcou bem sua conduta
Abraçando profissões
Nunca fugiu da labuta
Porém muito consciente
Ela sempre é presente
Na base de cada luta.

Onde o progresso era lerdo
Laborava sua mão
Exercendo cada ofício
Usando a intuição
Mesmo sem ter faculdade
Serviu a sociedade
Sendo informal em ação.

Todo seu conhecimento
É dote matriarcal
Aprendeu fazer canteiro
Com erva medicinal
E lá nos tempos de então
Servia a população
Com plantas do seu quintal

Onde não havia médico
Raizeira sempre tinha
Mostrando conhecimento
E os saberes que detinha
Pra quem não tinha dinheiro
O remédio era caseiro
E não faltava mezinha.

Folhas para chás e emplastro
Era comum ter na feira
Como hortelã e mastruz
Arruda, malva e cidreira
Também raízes sortidas
Que eram sempre vendidas
Através da raizeira.

Nos lugares mais remotos
Nas mais distantes ribeiras
Pessoas eram curadas
Pelas mãos das benzedeiras
Que faziam a benzedura
Seguindo a velha cultura
Das mulheres curandeiras

 

Na fala da rezadeira
Ramo molhado na mão
As palavras milagrosas
Em formato de oração
Chegavam para curar
Quem viesse procurar
Pro seu mal a solução.

Mulheres predestinadas
Recebem a incumbência
A de aparar as crianças
Pra isso tinham ciência
São essas aparadeiras
As importantes parteiras
Mulheres de experiência.

Eram mulheres humildes
Morando sempre distante
Por serem solicitadas
A qualquer hora e instante
Sendo de noite ou de dia
A pé ou de montaria
Elas seguiam adiante.

O artesanato faz parte
Da ocupação feminina
Tricô, crochê e bordados,
Do filé a renda fina
Do barro a palha e cipó
A mulher trança e dá nó
No decorrer da rotina.

A destreza da mulher
No trabalho artesanal
É legado do passado
Vindo do berço ancestral
É motivo de alegria
É sessão de terapia
O bendito o ritual.

Esse saber cultural
Tem arte tem tradição
É relíquia que artesã
Concretiza em sua mão
O fruto dessa magia
Traz o pão de cada dia
É base é sustentação.

O ofício de fazer renda
É mais que uma ocupação.
No movimento dos bilros
A mágica em cada mão
Vejo a rendeira tecendo
E a trama desenvolvendo
No compasso da emoção.

A arte de ser rendeira
Um trabalho secular
Que passa de mãe pra filha
E sempre a salvaguardar
Os fios da tradição
Dessa nobre profissão
Que a mulher soube abraçar.

A Lavadeira de roupa
Dos tempos de antigamente
Lavava a roupa no rio
Sem reclamar do batente
Cantava com as amigas
No rito velhas cantigas
Alegrando o ambiente

Levava sabão em barra
Para a roupa ensaboar
Aproveitava o sol quente
E botava pra quarar
Na pedra a roupa batia
Muitas vezes repetia
Para depois enxaguar.

Na arte de passar roupa
A mulher se destacava
Pois era com ferro a brasa
Que a roupa sempre passava
Engomar terno de linho
Para ficar bem durinho
Só quem muito praticava.

Nos mais distantes rincões
A mulher se superava
Com a lata na cabeça
Muita água carregava
Com um menino escanchado
Um outro sendo arrastado
A lata ela equilibrava.

Com balaio na cabeça.
De porta em porta ou na feira
É sempre essa a rotina
Da cabocla verdureira.
Que monta barraca e anda
E sua vida comanda
Na labuta costumeira.

Tem sempre a mão da mulher
Nos lastros da agricultura
Sobrevive com coragem
Encarando essa cultura
Na pesada profissão
Fazendo calo na mão
Na enxada e se aventura.

A mulher que planta e colhe
É raiz é fruto é flor
É semente que se espalha
Segue a lida com amor
Da terra tira o alimento
E faz esse movimento
Com fé em Nosso Senhor.

Louvo a mulher cordelista
Que tem seu lugar de fala
Que promove outras mulheres
Com seus versos não se cala
Retira do pensamento
Todo seu conhecimento
E ao mundo inteiro propala.

Louvo avó, a mãe e a filha
Louvo o elo de união
Que traz no matriarcado
A força da tradição
Louvo a mulher aguerrida
Que na bandeira da vida
Pôs o mastro em sua mão.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 24 de agosto de 2022

CONVERSA DE CALÇADA VIRTUAL (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)A

CONVERSA DE CALÇADA VIRTUAL

Dalinha Catunda

 

A estrofe precisa começar sempre com o primeiro verso

* * *

Meti o pé na carreira
Quando meu pai avistei
Fui ao forró escondida
Pra ninguém nada falei
Quando vi lá do salão
Meu pai com cipó na mão
Confesso desembestei.

Dalinha Catunda- Rio de Janeiro-RJ

Meti o pé na carreira
quando avistei Adalgisa
Uma irmã muito braba
E eu com a cara lisa
Fiquei fazendo motejo
Sem vergonha sem ter pejo
Corri com medo da pisa…

Bastinha Job – Crato–CE

Meti o pé na carreira
A hora estava marcada
Faltando 5 minutos
Pense que forte pisada
Já ouvi do vigilante
Você é o último, adiante
A agência está fechada.

Rivamoura Teixeira

Meti o pé na carreira
Com medo do boi zebu
Vinha voltando da feira
Do baixo Acaraú
Não tinha pra onde saltar
Eu tive que escapar
No pé de mandacaru.

Araquém Vasconcelos

Meti o pé na carreira
E quase peço socorro
A sorte qu’eu tive sorte
Consegui subir no morro
Por cima de pedra e tudo
De pressa fiz de escudo
O tal dono do Cachorro.

Francisco De Assis Sousa – Barbalha-CE

Meti o pé na carreira
ao ver quem tinha chegado,
eu brincando um São João,
dançando com o namorado,
mamãe chegou sutilmente,
tacou a peia na gente,
foi cada um pra seu lado.

Anilda Figueiredo- Crato-CE

Meti o pé na carreira
Cum medo de vosmicê
Eu já tô véio, cansado
Num posso mais lhe “atendê”
No tempo que eu pudia
Vosmicê num me quiria.
O que mudô em você?

Marcelo José

Meti o pé na carreira
Eu quase que não me venço.
Pensei que tirei um lenço,
Num dia de carnaval,
Do”quengo”duma criatura ;
Era um rolo de atadura,
Ví nêga passando mal.

Wellington Santiago

Meti o pé na carreira
Entre Barbalha e Jardim
Com medo de um lobisomem
Essa criatura ruim
Assombrava todo mundo
O tal Vicente Finim

Fabiana Vieira- Crato-CE

Meti o pé na carreira
Debaixo da cajarana,
Quando papai me chamou:
– Vou brincar com jetirana!
Ele não batia em nós,
Cinco minutos após,
Lá estava eu na chicana.

Chica Emídio – Crato-CE

Meti o pé na carreira
No assanhar do maribondo
Famoso pelo chapéu
Com formato hediondo
Venceu a corrida a vespa
Minha cabeleira crespa
Fervilhou de nó redondo

Giovanni Arruda- Fortaleza-CE

Meti o pé na carreira
Quando o dono apareceu
Na roça de melancia
Por pouco não pegou eu
Nenhuma pude levar
Com medo de apanhar
Uma pirôla me deu…

Jairo Vasconcelos

Meti o pé na carreira
Quando vi a tal confusão,
Naquele ano de oitenta e oito.
Foi na greve dos cem dias.
E gás para todo lado.
Perdi até o meu calçado,
Fugindo do camburão!

Rosário Pinto- Rio de Janeiro-RJ

Meti o pé na carreira
No meio da escuridão
Quando vi foi uma sombra
Me fazendo assombração
Se eu lhe contar o segredo
Que eu estava era com medo
Da sombra da minha mão.

Vânia Freitas – Fortaleza-CE

Meti o pé na carreira
Quando a polícia chegou
Assaltaram uma igreja
O tenente me olhou
Quando disse o sacristão
Toda oferta vinho e pão
Foi Ritinha que roubou

Ritinha Oliveira

Meti o pé na carreira
Quase morri assustado
Ao jogar pedra na Kombi
Quase o vidro foi quebrado
A minha irmã enredou
O meu pai quando chegou
Eu já tinha me mandado

Joabnascimento-Camocim-CE


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 17 de agosto de 2022

O MEU CORDEL CIRANDEIRO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

Dalinha Catunda

 

Para falar de Ciranda
O meu coração balança
Eu faço a roda girar
Quando a musa entra na dança
Avivando a inspiração
Assim flui minha oração
Diante dessa aliança.

Peguei na mão da ciranda
Buscando sempre agregar
Juntei ciranda e cordel
Para melhor propagar
Com canto e literatura
Nossa popular cultura
Com dança para animar.

No meu cordel cirandeiro
Trago o canto de alegria
Trago meu Cordel de Saia
Trago o cordel de Maria
Pra mostrar meu universo
De rima de canto e verso
De peleja e cantoria.

Pra melhor salvaguardar
O cordel literatura
Eu criei As Cirandeiras
E gostei dessa mistura
Quem sabe canta o refrão
E faz a declamação
Nos moldes dessa estrutura.

Cirandeiras do Cordel
É projeto que caminha
Já tem um núcleo no Crato
Com cordelistas de linha
Outros núcleos surgirão
Conforme a ocasião
Assim cogita Dalinha.

Vou abrir a minha roda
Quem quiser pode chegar
Mais de mil versos bonitos
Fiz pra quem quiser cantar
Enfie a mão na sacola
E pode pegar a cola
Quem quiser participar.

 

A roda duma ciranda
Sempre traz felicidade
Pois cantando se repassa
Costumes da oralidade
As mais bonitas lembranças
Vem no bailado das danças
Florindo a realidade.

Venha dançar a Ciranda
Que veio de Portugal
A rica herança dos mouros
De cadência sem igual
Vem menina entra na roda
Que a dança não cai de moda
Da tradição tem aval.

Hoje vou dançar ciranda
Na calçada ou no terreiro
Vou levar o meu ganzá
Um zabumba e um pandeiro
Vou ficar toda bonita
Vou botar laço de fita
Pra ganhar um cirandeiro.

Venha cá dançar ciranda
Na palhoça ou no salão
Aqui não tem preconceito
Pois ciranda é inclusão
Dança velho, dança novo,
Na ciranda que é do povo
Em qualquer ocasião.

Na ciranda a vestimenta
É bem alegre e bonita
Tem a blusa de babado
A saia é feita de chita
No movimento da dança
A gente vira criança
E a saia rodada agita.

Dancei ciranda na praia
Com vestido de algodão
Esperando meu amor
Que saiu para o arrastão
Fiquei na beira do mar
Olhando a onda quebrar
Com meus olhos de paixão.

Eu danço no meu sertão
Que fica no Ceará
Lia dança em Pernambuco
Praia de Itamaracá
A ciranda é popular
Se dança em qualquer lugar
Também no boi do Pará.

Lia de Itamaracá
Da ciranda é a rainha
A grande representante
Jamais dançará sozinha
O seu bonito legado
Será sempre copiado
Seguiremos sua linha.

Trago uma flor no cabelo
Um buquê em minha mão
Quero um cheiro no cangote
Na ciranda da paixão
Quero seu chapéu quebrado
Saudando meu requebrado
Ao cantar nossa canção.

A ciranda é minha e sua
Ela é de cada amiga
É dança que vem de longe
Embalada na cantiga
É no baú da memória
Que se resguarda a história
E resgata a mais antiga.

A ciranda tem seu passo
Quem quiser pode chegar
Se você der meia volta
Volta e meia quero dar
Mas faça com emoção
Pegue aqui na minha mão
Que na sua irei pegar.

Quem ainda não conhece
Por favor se achegue aqui
Para ver as cirandeiras
Das plagas do Cariri
São as mulheres que cantam
E na ciranda encantam
Na colheita do pequi.

Essa Ciranda é do Crato
De Barbalha e Juazeiro
É do Padim Pade Ciço
É do Cariri Inteiro
Grave com o seu cinzel
É ciranda do cordel
Movimento pioneiro.

A Ciranda itinerante
É de fato uma beleza
Dancei no Rio de Janeiro
E lhe digo com certeza
Muito emoção eu senti
Ao dançar em Paraty
E também em Fortaleza.

Mas foi na minha Ipueiras
Com muita satisfação
Que o nosso grupo estreou
No Saberes do Sertão
No, Encontro de Ipueiras
Tivemos As Cirandeiras
Em sua apresentação.

Cada ciranda cantada
Vai cumprindo seu papel
Disseminando cultura
Ao difundir o cordel
E nesse tipo de ação
Vai passando a tradição
Procurando ser fiel.

Ciranda é muita pesquisa,
Trabalho e dedicação.
É saber se reunir
Quando pede ocasião
Uma boa cirandeira
Não solta a mão da parceira
E zela pela união.

Nesse Cordel Cirandeiro
Eu quero homenagear
Cada mulher cirandeira
Que fez a roda girar
Que pegou na minha mão
E me fez ter gratidão
E querer continuar.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sábado, 13 de agosto de 2022

A SANTO ANTÔNIO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

A SANTO ANTÔNIO

Dalinha Catunda

 

13 de junho, Dia de Santo Antônio (Foto desta colunista)

 

Ô meu Santo Antônio
Me ajude a casar
Eu quero um marido
Quero me arranjar
Se você não der
Lhe jogo no mar.

O tempo se passa,
Você nada faz
Eu só esperando
Meu belo rapaz
Pois ficar solteira
A mim não apraz.

Meu santo querido
Meu santo adorado
Se eu morrer sozinha
Você é culpado!
Me arrume santinho…
Um bom namorado!


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 22 de dezembro de 2021

A ÁRVORE QUE ME REPRESENTA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
 

A ÁRVORE QUE ME REPRESENTA

Dalinha Catunda

Fotos desta colunista

 

 

Eu hoje vivo na roça
Recordando meu sertão,
Pois é lá daquelas brenhas,
Que retiro inspiração.
Minha Árvore de Natal,
Tentei fazer uma igual,
Com alguma inovação.

Peguei garrancho no mato,
Tirei as folhas, limpei,
E numa lata de vinte
Areia lá coloquei.
E depois chegou a vez
Do paninho de xadrez,
Pra envolver a lata usei.

E como eu sou cordelista,
Para a árvore enfeitar,
Dependurei meus cordéis,
Que tem tanto pra contar…
Das histórias do sertão,
Que trago no coração,
E gosto de relembrar!

Minhas bonecas de pano?
No Natal muitas ganhei!
Como artesã de bonecas,
Algumas eu pendurei,
Frutos da recordação,
Que marcam a tradição,
Coisas que vivenciei.

Quando saí do Nordeste
Mãe solteira, e minha cruz,
Me apeguei no meu caminho,
A santa Mãe de Jesus.
Minha base a cada dia,
Era Jesus e Maria.
Meu caminho foi de luz.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco terça, 07 de dezembro de 2021

A VENDEDORA DE TABACO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

Nenhuma descrição de foto disponível.

 

A VENDEDORA DE TABACO
 
Foi para sobreviver
Que a Ana mulher sem ócio
Abriu seu próprio negócio
Sem falatório temer
E se alguém quiser meter
A Língua no que faz Ana
A vendedora se dana
E dá pro cliente um naco:
Pode cheirar meu tabaco
Ele é feito de imburana!
*
Com seu negócio montado
Outra coisa ela não quer
Pois negócio de mulher
Sempre dá bom resultado
Já que o seu tem prosperado
Contratou logo sua mana
E a dupla toda semana
Faz zoada no barraco:
Pode cheirar meu tabaco
Ele é feito de imburana!
*
Dalinha Catunda
Xilo de Cicero Lourenço.

Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sábado, 04 de dezembro de 2021

AINDA FAÇO MENINO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO

Nenhuma descrição de foto disponível.

 

 

AINDA FAÇO MENINO
 
Eu para fazer menino
No tempo da mocidade
Virava só os olhinhos
Cheia de felicidade
O tempo foi se passando
E foi chegando a idade
Lá se foi a primavera
Meu Deus quanta crueldade
Hoje pra fazer menino
É uma dificuldade
Preciso de agulha e linha
Tecido em variedade
Uma máquina de costura
Só para essa atividade
O tempo passa e faz dano
Essa é a mais pura verdade
E para meu desengano
Com toda sinceridade
Menino me arisco e faço
E vendo por unidade.
Mas é menino de pano
Minha especialidade.
*
Versos de Dalinha Catunda
Artesanato de Dalinha Catunda

Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sexta, 19 de novembro de 2021

A MINHA MULHER TEM TUDO- QUE OUTRA MULHER NÃO TEM (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

 
MINHA MULHER TEM DE TUDO
QUE OUTRA MULHER NÃO TEM
Mote de Heliodoro Morais
 
Pode ser uma ilustração
*
Eu não me canso de ouvir
Do meu marido adorado
O que ele já tem falado
E está sempre a repetir
Que eu gosto de me enxerir
Que sou teimosa também
Dou coice como ninguém
E bravo diz, carrancudo:
“minha mulher tem de tudo
que outra mulher não tem”
Glosa: Dalinha Catunda
*
Meu marido diz assim:
Eita baixinha atrevida
Dedicas a tua vida
Pensando tão mal de mim
Vou mesmo te dar um fim
E te despachar no trem
Pra comer te dou xerém
De que te serve o estudo?
“Minha mulher tem de tudo
Que outra mulher não tem!”
Glosa: Bastinha Job
*
Vez por outra ele me xinga
Grita chora e não me deixa
Diz que meu gosto de ameixa
Minha dança e minha ginga
Se mistura à sua pinga
Que bebe e não se contém
Gasta o último vintém
Caminha a passo miúdo
“Minha mulher tem de tudo
Que outra mulher não tem!”
Glosa de Vânia Freitas
*
As mulheres em geral
são dotadas de beldades,
diferentes das maldades
que o homem convencional
via de regra - em geral -
chama de mal ou de bem,
mas, elas, quaisquer ou quem,
tem seu próprio conteúdo...
“minha mulher tem de tudo
que outra mulher não tem”.
Glosa: David Ferreira.
*
Eita mulher arretada
Essa que casou comigo
É dona do próprio umbigo
Resolve qualquer parada
Quando chega a madrugada
Na dança do xenhenhém
Me carrega pro além
No tapete de veludo
“minha mulher tem de tudo
que outra mulher não tem”
Glosa: Giovanni Arruda.
*
Xilo de Erivaldo Ferreira

Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sábado, 13 de novembro de 2021

PATRIMÔNIO CULTURAL É O REPENTE BRASILEIRO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

Pode ser uma imagem de 9 pessoas, pessoas em pé e texto que diz "CENTRO DE CONVENÇÕES Adalgısa Borges de Carvalho Edição Festival de"

 

PATRIMÔNIO CULTURAL
É O REPENTE BRASILEIRO
 
Agora o nosso repente
Foi mesmo reconhecido
O registro é merecido
E a classe ficou contente
Porque o IPHAN sabiamente
Deu mais um passo certeiro
E falou pro mundo inteiro
Que o repente tem aval:
PATRIMÔNIO CULTURAL
É O REPENTE BRASILEIRO.
*
Mote e Glosa de Dalinha Catunda

Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco segunda, 01 de novembro de 2021

Ô VÉIA PRA ENXERGAR! (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
 

Ô VÉIA PRA ENXERGAR!

 

 

Minha mãe é poetisa,
E sempre gostou de ler,
Mas ficou com a vista curta,
Começou seu padecer.
Com receio de cegar,
Resolveu se consultar,
Para a vista não perder.

O doutor disse ligeiro
Sem rodeio sem bravata:
– Aqui pelo que estou vendo
O seu caso é catarata!
Uma simples cirurgia,
Vai fazer sua alegria,
Vamos já marcar a data.

Mamãe ficou animada,
Cheia de satisfação,
Falava pra todo mundo,
Dessa sua operação.
Outra coisa não falava,
Todo dia ela rezava,
Pra dar certo a intervenção.

Não demorou muito tempo
Ela foi paro o hospital,
E por causa da idade
Mamãe precisou de aval,
Mas depois de operada,
A vista foi renovada,
E ficou especial!

Hoje quando alguém pergunta,
Se vê mesmo, ou se é fofoca,
Ela diz que enxerga até
“Priquito” de muriçoca,
E nem pense em contestar!
Pois língua pra argumentar,
Ela tem bem grande e choca.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sexta, 08 de outubro de 2021

A CAVEIRA E A CAMBAXIRRA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

A CAVEIRA E A CAMBAXIRRA
Dalinha Catunda
 
 
 
 
 
*
Garanto faz muito tempo
Que o boi malhado morreu,
Era um animal bonito!
Mas a desdita o venceu.
E foi só falta de sorte,
Recordo bem essa morte,
Uma serpente o mordeu.
*
Lá no alpendre do meu rancho,
Na coluna de madeira,
Só para recordação,
Penduramos a caveira.
Hoje é lar de passarinho,
Cambaxirra fez seu ninho,
Ave engenhosa e Matreira.
*
Andei vendo um movimento,
Na caveira pendurada,
Cheguei perto para ver,
E fiquei admirada!
A ave saiu voando,
Eu fiquei de longe olhando,
A cambaxirra assustada.
*
Logo, logo descobri
Que havia ali um casal.
Os dois muito parecidos,
Levando material,
Para o ninho reforçar,
E os ovinhos abrigar,
De maneira especial.
*
Não tem chuva, não tem vento,
Para o ninho derrubar.
A escolha foi divina,
Eu posso até apostar!
Tem ciência e tem beleza,
As tramas da natureza,
Engenho a nos encantar.
*
Fotos e versos de Dalinha Catunda

Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 22 de setembro de 2021

A SAUDADE É UMA DOR (CONVERSA DE CALÇADA VIRTUAL Nº IX, CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Conversa de Calçada Virtual Nº IX
A SAUDADE É UMA DOR
Dalinha Catunda
 
Pode ser um desenho animado de 3 pessoas
 
 
A SAUDADE É UMA DOR
Mas não é dor de doer
É vontade de lembrar
Com vontade de esquecer.
Quadrinha Popular
1
A SAUDADE É UMA DOR
Martelando o coração
Cada batida desperta
Um mói de recordação
Dalinha Catunda
2
A saudade é uma dor
Sete letras, sete ais
Um caçua de lembranças
E a gente sempre quer mais
Rivamoura Teixeira
3
A SAUDADE É UMA DOR
grande demais, hiperbólica
Espinho que fere a flor
Deixando a alma bucólica
Bastinha Job
4
A SAUDADE É UMA DOR
Que fez nascer poesia
No canto do coração
Cresce de noite e de dia.
Vânia Freitas
5
A SAUDADE É UMA DOR
Sem remédio pra curar
Só o elixir do amor
Ê quem pode aliviar
Araquém Vasconcelos
6
A SAUDADE É UMA DOR
Que vem do fundo da alma
A falta de um grande amor
Que só outro amor acalma.
Chica Emídio.
7
A SAUDADE É UMA DOR
Pulsando insistentemente
Ao fazer sua morada
Dentro do peito da gente.
Creusa Meira
8
A SAUDADE É UMA DOR
Que disfarça sutilmente
A tristeza da distância
Pelo amor dentro da gente
Giovanni Arruda
9
A SAUDADE É UMA DOR
Espinho de uma flor viva
Indiferente ao clamor
E mata quem a cultiva.
F.de Assis Sousa.
10
A SAUDADE É UMA DOR
que sangra dentro da gente,
quem nunca perdeu um amor,
jamais esteve doente.
Anilda Figueiredo
11
A SAUDADE É UMA DOR
Um parafuso enferrujado
Quanto mais aperta mais dói
Um coração machucado.
Maria Conceição Vargas
12
A SAUDADE É UMA DOR
Que machuca, que maltrata,
Principalmente se for
Saudade daquela ingrata.
Marcelo José Gomes Costa
13
A SAUDADE É UMA DOR
Que fustiga diferente
E quando junto à paixão
Dói no coração da gente!!
Helonis Brandão
14
A SAUDADE É UMA DOR.
Que leva a gente a loucura.
Não tem doutor que dê jeito.
Nem tem remédio pra cura.
Assis Mendes
15
A SAUDADE É UMA DOR
Que não tem comparação
Quem é dela um portador
Sofre sem explicação !
Dulce Esteves
16
A SAUDADE É UMA DOR
Sendo uma dor incruenta
Eu tento lhe disfarçar
Cada vez mais ela aumenta
Jairo Vasconcelos.
17
A SAUDADE É UMA DOR
Que o tempo alimenta
Que dói lá dentro do peito
E arde mais do que pimenta.
Claude Bloc
18
A SAUDADE É UMA DOR
Que volta a todo momento
Qual um filme de amor
Que não sai do pensamento.
José Olívio
*
Fechando a conversa.
Obrigada poetas e poetisas, amei a participação de todos vocês.
Na postagem estão todas as estrofes que seguiram o exemplo da primeira.
Meu abraço.

Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sábado, 18 de setembro de 2021

NÃO ME VENHA COM LERIADO, HOJE ESTOU DESTABACADA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

NÃO VENHA COM LERIADO,
HOJE ESTOU DESTABACADA!
Mote: Dalinha Catunda
 
Pode ser um desenho animado de uma ou mais pessoas
 
(Xilo do meu acervo, obra de Erivaldo Ferreira
Olá, poetas e poetisas, fechando mais uma Ciranda de Versos, Glosando na Rede com Dalinha. Mote de minha autoria, trazendo nosso dialeto nordestino.
Obrigada a todos, gostei muito dessa rodada de versos. Meu abraço.)
1
O Marido de Maria
Era caboclo exigente...
Deixava a mesma doente,
De tanto que lhe afligia.
Quando ela se aborrecia,
Gritava desaforada:
Tu aqui não mandas nada!
Acho bom ficar calado!
NÃO VENHA COM LERIADO,
HOJE ESTOU DESTABACADA!
Mote e glosa de Dalinha Catunda
2
De ser amélia eu cansei
Disse Adélia para o joca
Hoje tu num me provoca
Hoje nem rezar rezei
Chá calmante não tomei
Desci da rede avexada
Andei dando uma topada
Não aceito seu fungado
NÃO VENHA COM LERIADO
HOJE ESTOU DESTABACADA.
Mote: Dalinha Catunda
Glosa: Rivamoura Teixeira
3
Todo dia tô assim
Já perdi até a alma
Com ela perdi a calma
Tô quase vendo meu fim
coitadinha, ai de mim
Me tornei esclerosada
Me chamam até de coitada
Esse é meu triste fado:
NÃO VENHA COM LERIADO
HOJE ESTOU DESTABACADA!
Mote: Dalinha Catunda,
Glosa: Bastinha Job
4
Não estou pra brincadeira
Nem pra conversa sem graça
Não venha fazer pirraça
Nem venha falar besteira
Eu te ponho na carreira
Te deixo ficar borrada
Com a sua calça arriada
O fundo todo melado
NÃO VENHA COM LERIADO,
HOJE ESTOU DESTABACADA!
Mote: Dalinha Catunda
Glosa: Joabnascimento/Camocim-CE
5
Deixa de conversa mole
Hoje tô com a mulesta
Dois chifres na tua testa
Pois , comigo ninguém bole
E tomava mais 1 gole
Dando grossa cusparada
Pense na desaforada
O seu véi desmascarado
NÃO VENHA COM LERIADO
HOJE ESTOU DESTABACADA.
Mote: Dalinha Catunda
Glosa: Dulce Esteves
6
Tereza tinha uma bar
Perto da rua da feira
Não topava brincadeira
Era de pouco falar
Um bobo quis lhe cantar
Tereza deu uma pernada
Bem em cima da danada
Vá, pra casa seu tarado
NÃO VENHA COM LERIADO
HOJE ESTOU DESTABACADA
Mote: Dalinha Catunda
Glosa: Jairo Vasconcelos.
7
Dormiu com raiva de sobra
Enfezada com o marido
Mulherengo, pervertido
Torto feito uma abobra
Ela quem criou a cobra
Cedo amanheceu picada
Braba, doida, aporrinhada...
E chegou dando o recado
NÃO VENHA COM LERIADO
HOJE ESTOU DESTABACADA.
Mote: Dalinha Catunda
Glosa: F.de Assis Sousa.
8
Não sou de muita falar
Comigo pouca palavra
Rende mais na minha lavra
Quando quero descascar
Boto logo pra lascar
Quando tô de pá virada
E ferida descascada
Não vou com muito babado
NÃO VENHA COM LERIADO
HOJE ESTOU DESTABACADA.
Mote: Dalinha Catunda
Glosa: Vânia Freitas - Fortaleza, 16/9/2021.
9
Zefinha cravo e canela
Possuía uma cantina
Com doces e cajuína
Pinga branca e amarela
O povo gostava dela
Mas era um pouco zangada
Se ouvisse uma cantada
Gritava pro aletrado
NÃO VENHA COM LERIADO
HOJE ESTOU DESTABACADA
Mote: Dalinha Catunda
Glosa: Araquém Vasconcelos
10
Que bonito é ver alguém,
sobretudo, uma mulher,
dizer tudo o que ela quer
sem temer, pois, a ninguém.
A minha, medo, não tem,
diz que não me deve nada
e, um dia, meio amuada,
me fez ouvir seu recado:
“NÃO VENHA COM LERIADO,
HOJE ESTOU DESTABACADA.”
Mote: Dalinha Catunda
Glosa:  David Ferreira – Teresina- Piauí
11
Ela na cama rezando
seu “terço de cada dia”
mas, eu de longe só via,
cada “pai nosso” passando,
eu desolado esperando,
mas, sem poder dizer nada,
ali, de boca fechada,
pra não cometer pecado…
NÃO VENHA COM LERIADO,
HOJE ESTOU DESTABACADA.
Mote: Dalinha Catunda
Gosa: David Ferreira – Teresina- Piauí
12
Minha mulher é amiga
Não gosta de baixaria
É bem calma, voz macia
Não faz mal uma formiga
Mas vira galo de briga
Parte logo pra mãozada
Se eu varar a madrugada
E chegar embriagado
NAO VENHA COM LERIADO
HOJE ESTOU DESTABACADA
Mote: Dalinha Catunda
Glosa: Giovanni Arruda.

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco terça, 24 de agosto de 2021

PRA ROLA SÓ DOU XERÉM, SE COMER NA MINHA MÃO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

GLOSANDO NA REDE COM DALINHA
*
PRA ROLA SÓ DOU XERÉM
SE COMER NA MINHA MÃO.
Mote de Dalinha Catunda
Pode ser arte
 
1
Nem bem o dia amanhece
Já está em meu quintal
O seu canto matinal
É canto que me enternece
Mas comida só merece
Quem tem rumo e direção
Não cedo alimentação
Pra quem sempre vai e vem:
PRA ROLA SÓ DOU XERÉM
SE COMER NA MINHA MÃO.
Glosa de Dalinha Catunda
2
Também não darei moleza
À rola ou a periquito,
Mesmo sendo bem bonito,
Pode ter toda a certeza;
Beleza nunca põe mesa
E nesses tempos então
Só abro uma exceção
Com aval de Araquem:
PRA ROLA SÓ DOU XEREM
SE COMER NA MINHA MÃO.
Glosa de Bastinha Job
3
Já tive no meu terreiro
uma rola sem futuro,
me procurava no escuro
e me acertava o traseiro,
com seu jeito interesseiro,
não queria meu pirão,
mas só arroz com feijão,
na hora do vai-e-vem.
PRA ROLA SO DOU XERÉM
SE COMER NA MINHA MÃO.
Glosa: Anilda Figueiredo
4
Eu adoro passarinho...
Mas sou fã do periquito
Esse do mote esquisito
Não põe ovo no meu ninho
Pra ficar tudo certinho
Eu digo com precisão
Essa rima é o cão
Esse verso não convém
PRA ROLA SÓ DOU XERÉM
SE COMER NA MINHA MÃO
Glosa: Giovanni Arruda
5
Quando o passaro é manso
Basta um dedo em riste
Botar painço e alpiste
Que vem fazer o descanso
Já criei patos e ganso
Sabiá corrupião
Acabava com a ração
Não me sobrava um vintém
PRA ROLA SÓ DOU XERÉM
SE COMER NA MINHA MÃO
Glosa Araquém Vasconcellos
6
Canta lá no cajueiro
Que fica no meu canal
Um rebanho de pombal
Me consola o dia inteiro
Mais não chega no terreiro
Nem na janela do oitão
Eu tenho essa opinião
Pode ser pardal, quem quem
PRA ROLA SÓ DOU XERÉM
SE COMER NA MINHA MÃO...
Glosa Jairo Vasconcelos.
7
Eu escuto o passarinho
Mas grito com dedo em riste
Posso dar xerem, alpiste
Se ele sair do ninho
Se eu escutar bem cedinho
Um canto em tom de canção
Mas se ele só diz não
E não canta pra ninguém
PRA ROLA SÓ DOU XEREM
SE COMER NA MINHA MÃO.
Glosa:rivamoura teixeira
8
Eu criava uma rolinha
Um dia fiquei zangada
Ela vivia escorada
Peguei a tal passarinha
Ficou mais mole a bichinha
Eu dei nela um arrochão
Sapequei ela no chão
E pelei o seu sedém
PRA ROLA SÓ DOU XERÉM
SE COMER NA MINHA MÃO
Glosa: Ritinha Oliveira
*
Amigos agradeço a participação de vocês, alguns já tem cadeira cativa aqui.
Muito obrigada pela interação nessa roda de glosas
XILO DE VALDÉRIO COSTA

Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco segunda, 09 de agosto de 2021

MELHOR IDADE É O CACETE (FOLHETO DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

MELHOR IDADE É O CACETE

Dalinha Catunda

 

Pode ser um desenho animado de 1 pessoa

 

1
Seu Rufino adoeceu
Achei por bem visitar
Não era caso de morte
Mas era de preocupar
Seu lamento era constante
Queixava-se a todo instante
Sem parar de resmungar.
2
A sua maior doença
Era seu inconformismo
Foi homem namorador
E agora com reumatismo
Sem poder ir vadiar
Passa o dia a reclamar
Praticando o derrotismo.
3
Eu tentei mudar a prosa
Pra trazer animação
Entretanto seu Rufino
Era só reclamação
Desembestou a falar
Eu tive então que escutar
A sua lamentação.
4
Confesso que tive dó
Estava de fazer pena
Mas com a língua afiada
Repetia a cantilena
E cheio de rabugice
Metia o pau na velhice
Que não chegava serena.
5
Foi o jeito eu me calar
E preparar os ouvidos
Para ouvir o pobre idoso
Com seus ais e seus gemidos
Pois paciência eu tinha
Para ouvir a ladainha
E clamores repetidos.
6
E vocês vão ver agora
O rosário de amargura
Que desfia seu Rufino
Essa pobre criatura
Em cada depoimento
Que lhe sopra o pensamento
Nessa atual conjuntura
7
A velhice quando chega
Não pede autorização
Massacra o pobre do homem
Maltratando o cidadão
Pra disfarçar a verdade
Chamam de melhor idade
Mas isso é só gozação.
8
Chamar de melhor idade
A chegada da velhice
É querer fazer de besta
Ou usar de gaiatice
Já eu chamo humilhação
Fazer um pobre ancião
Ouvir essa cretinice.
9
O sujeito inconformado
Quer comer sem ferramenta
Mas só mela a dentadura
Entretanto teima e tenta
Cheira, funga e faz zoada
Depois da quinta brochada
Só sai com cheiro na venta.
10
Quando aparece a desgraça
O velho fica na mão,
Desce pinto, arria o saco
Só sobe mesmo a pressão
E capim novo é besteira
Só dá mesmo é caganeira
Complica a situação.
11
Uma coisa vou dizer
Mesmo sem querer falar
Quando o velho pinto abaixa
Nem vodu pra levantar,
O coitado de tão fraco
Repousa em cima do saco
Só se mexe pra mijar.
12
Meu pai só me apresentava
Cheinho de animação
Este aqui é meu rebento
E afirmava é meu varão
Hoje virei foi piada
A vara que tenho armada
É tão somente um bastão
13
Um dia deste a mulher
Passou pertinho de mim
Vi que o pinto deu sinal
Eu pensei até que enfim
Chamei a mulher pra junto
Ela disse: Esse defunto
Não dá mingau ao Soim.
14
A barriga vai crescendo
A paciência se manda
O passo vai encurtando
Devagar a gente anda
A mulher passa a ter voz
E acaba virando algoz
Pois é ela quem comanda.
15
O cabra quando envelhece
Paga os pecados que tem
Quando peida descuidado
A merda aproveita e vem
Não controla o intestino
E vive esse desatino
Pois da velhice é refém.
16
Quando se sente contente
Na hora que vai sorrir
Vem um peido atrás do outro
Na sequência a escapulir
E pra chatear também
Da garganta logo vem
A vontade de tossir.
17
Quando a dentadura afrouxa
É preciso ter cuidado
O pinto então nem se fala
É bica sem cadeado
Sem carrapeta a torneira
Fica só na pingadeira
E o velho acaba mijado.
18
Meu perfumoso tabaco
Eu não posso mais cheirar
O cheirinho de imburana
Faz o velho espirrar
E nisso o peido enxerido
Chega com seu estampido
Só pro velho envergonhar.
19
Sempre faço um alarido
É quando eu resolvo ler
Os óculos nunca acho
E se você quer saber
Juízo de véi não presta
Quando passo a mão na testa
Vejo o bicho aparecer.
20
A comida Deus me livre
Até parece castigo
Tem quer ser com pouco sal
Sendo carne não mastigo
É leite papa e mingau
Pra variar um curau
Vou acabar num jazigo.
21
Quando vejo uma morena
Passando no requebrado
Eu passo a mão no bigode
Com saudade do passado
E penso: Já fui bom nisso
Mas hoje sou submisso
Pois estou debilitado.
22
Tem dias que amanheço
Que nem o cão me aguenta
Teimando por qualquer coisa
Mas a mulher logo inventa
Um jeito de me acalmar
Já chegou até jogar
Um copo de água benta.
23
O juízo fica pouco
Com toda sinceridade
E o povo besta dizendo
Que isso é melhor idade
Estou sempre resmungando
Pois acho que estão mangando
Da nossa senilidade.
24
Fiquei com dor de cabeça
Com tanta reclamação
Contudo não vou tirar
De Seu Rufino a razão
Mas também posso afirmar
Velho só não vai ficar
Quem antes for pro caixão.
 
*
 
Cordel de Dalinha Catunda
Xilo do meu acervo obra de Maércio Siqueira

Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quinta, 08 de julho de 2021

QUEM DERA TER LIBERDADE, SÓ PARA ESCRUVITIAR (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

QUEM DERA TER LIBERDADE
SÓ PARA ESCRUVITIAR
Mote de Dalinha Catunda
 
Pode ser uma ilustração de 1 pessoa e violão
1
Eu nesse confinamento
Tô feito boi no cercado
Que cisca e fica enfezado
Até o cão eu atento
Dou coice que nem jumento
Sem rédeas quero ficar
Mas devo me resguardar
Saúde é prioridade:
QUEM DERA TER LIBERDADE
SÓ PARA ESCRUVITIAR
Glosa e mote de Dalinha Catunda
2
De cabeça atubibada
Muita coisa me azucrina
Não vou no bar da esquina
Pegar a loura suada
A vida tá bitolada
Esse vírus de lascar
Veio aqui pandemiar
E trazer ansiedade
QUEM DERA TER LIBERDADE
SÓ PARA ESCRUVITIAR
Glosa Rivamoura Teixeira
3
O vírus me diz que não
Meus amigos dizem sim
Estou esperando o fim.
Da pandemia do cão
Pra sair deste alçapão
Ser livre pra passear
Sem máscara pra sufocar
Matar esta ansiedade
QUEM DERA TER LIBERDADE
SÓ PARA ESCRUVITIAR
Glosa Araquém Vasconcelos.
4
Há tempos vivo trancada.,.
Igual uma criminosa
A vida maravilhosa
Há dois anos tá parada
A China amaldiçoada
Quer ser potência a reinar
Fez o vírus circular
Já perdi a sanidade:
QUEM DERA TER LIBERDADE
SÓ PARA ESCRUVITIAR!
Glosa de: Bastinha Job
5
Nessa tal de pandemia
Fiquei muito estressada
Vivo só encafurnada
Tô brigando todo dia
Cachorro, gato que mia
Meu papagaio a gritar
Eu mandando se lascar
Não falei nem a metade
QUEM DERA TER LIBERDADE
SÓ PRA ESCRUVITIAR.
Glosa: Dulce Esteves
6
Veio Uma Tal De Vacina
Pra Dá Fim Ná Pamdemia
Morre Gente Todo Dia
Os Medicos Nem Examina
O Virus Que Veio Dá China
Tá Dificio De Matar
Os Que Os Medicos Entubar
Vái Para A Eternidade
QUEM DERA TER LIBERDADE
SO PARA ESCRUVITIAR
Glosa Alberto Francisco
7
Acabando a pandemia
Compro um par de Havaiana
Vou andar toda semana
Pelas sete freguesia(s)
E só vou voltar no dia
Que a tira se soltar
GPS não vai me achar
No sítio nem na cidade
QUEM DERA TER LIBERDADE
SÓ PARA ESCRUVITIAR.
Glosa: F.de Assis Sousa.
8
O pior desta prisão
É o trabalho que dá
Limpa aqui, limpa acolá
Lava roupa, faz pirão
Não tenho descanso, não
O bom mesmo é passear
Bater um papo no bar
Isso é que é felicidade
QUEM DERA TER LIBERDADE
SÓ PARA ESCRUVITIAR
Glosa: Creusa Meira
9
Há dois anos que não saio.
Sempre nesta Agonia.
Xô! Vai embora Pandemia.
Passou Abril, passou Maio,
Na janele de soslaio,
Levo a vida a contemplar.
Quero pintar e bordar...
No Rio e em toda cidade,
QUEM DERA TER LIBERDADE
SÓ PARA ESCRUVITIAR
Glosa: Rosário Pinto)
10
Tô preso sem ser julgado
Não sei, o tamanho da pena
Por qual crime me condena
Nem adianta advogado
O jeito é ficar calado
Deixando o tempo passar
Todos tem que se trancar
Pra não ir, pra eternidade
QUEM DERA TER LIBERDADE
SÓ PARA ESCRUVITIAR.
Glosa, Jairo Vasconcelos
11
Eu nunca pensei um dia
Ver o povo engaiolado
Escola sem alunado
E trabalho em moradia
Já tá me dando agonia
Não posso nem passear
Tô doido pra fofocar
Passo até necessidade
QUEM DERA TER LIBERDADE
SÓ PARA ESCRUVITIAR
Glosa: Giovanni Arruda
12
Do verbo escruvitiei
Que pouca gente conheçe
Tem que ser lá do Nordeste
Um cabra paraibano
Que conheçe o catrumano
De Téu Azevedo popular
Lá tem esse linguajar
Diferente da cidade
Quisera ter liberdade
Só para escruvitiar.
Antônio Honorio
13
Ninguém sabe o que fazer
Com o vírus que demora
Durmo sem pensar na aurora
E o tempo passa a correr
Parece que vou morrer
De tristeza e falta de ar
Tô doida pra viajar
Para matar a vontade
QUEM DERA TER LIBERDADE
SÓ PARA ESCRUVITIAR
Glosa: Vânia Freitas
15
Eu estou enclausurado
Nessa triste quarentena
Eu já sinto até gangrena
No meu tornozelo inchado
Por viver aprisionado
Sem poder me ausentar
Nem tomar uma no bar
E mentir barbaridade
QUEM DERA TER LIBERDADE
SÓ PARA ESCRUVITIAR
Glosa: Joabnascimento
15
Essa tal de pandemia
Me deixou desassossego,
Proibiu meu aconchego
E se fez anomalia,
Causando melancolia
A quem com ela encontrar.
Resta a todos esperar
A total imunidade,
QUEM DERA TER LIBERDADE
SÓ PRA ESCRUVITIAR.
Glosa: Chica Emídio.
17
Em tempos de pandemia
tal qual essa que vivemos,
inda que nós expressemos
nossa paz, nossa alegria,
em favor de um novo dia,
será mero verberar
muito menos granjear
nossa própria idoneidade…
QUEM DERA EU TER LIBERDADE
SÓ PARA ESCRUVITIAR.
David Ferreira
*
Amigos e amigas do universo da poesia, obrigada pela interação.
É muito gratificante glosar na rede com vocês.
Meu abraço a todos,
Roda de glosas organizada por Dalinha Catunda

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