Marcelo Alcoforado
Bruma não é só um fenômeno meteorológico. Em sentido estrito, ensina o Houaiss, é nevoeiro, é neblina. Em sentido figurado, trata-se do que não é claro ou impede de ver ou de compreender algo com clareza; enquanto para a mineralogia empresarial se trata de uma lavra aurífera sem interesse, por proporcionar mais despesas do que lucro.
O livro As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley, tem sua história ambientada durante a vida do rei Artur e tem por finalidade glorificar a já conhecida lenda.
Enquanto isso, A Bruma de Brumosinho tem muito a contar e nada a glorificar.
Contando-se com clareza, só há espaço para a mais rigorosa censura a uma tragédia evitável, feita de incúria e pressuposição de impunidade, que agora, diante das sanções que se impõem aos responsáveis, podem atingir a fabulosa cifra de R$ 8 bilhões, além de até cinco anos de prisão para servidores da Vale e também para os engenheiros terceirizados que, após vistoria, atestaram a segurança da represa.
Aos irmãos brumadinhenses, pois, vítimas de um desastre de tão perversas proporções, palavras de William Shakespeare que podem ajudar a repor alguns tijolos no edifício da coragem demonstrada ao mundo: Não há noite tão longa que não encontre o dia.