Carlos Brickmann
Há alguns anos, numa das periódicas ondas de preocupação sobre a tomada do poder pelo comunismo, perguntaram ao deputado pernambucano Thales Ramalho quem seria o chefe da revolução se os comunistas fossem vitoriosos. Thales, que conhecia como poucos a política, respondeu: “O chefe militar, não sei. Mas o primeiro-ministro será Marco Maciel”. Maciel era hábil, bom de manobra, sem inimigos –gente do ramo, como os que hoje botam a cabeça de fora. Só que era leal e honesto.
O tufão Bolsonaro provocou renovação de quase 50% na Câmara e de 85% dos que disputaram vaga no Senado. Mas, entre os que ficaram, estão os profissionais que conhecem o caminho das pedras. Deles depende muita coisa: por exemplo, o destino da reforma da Previdência, a mãe de todas as reformas, a chave que abrirá (ou fechará) o cofre dos investidores. E a sorte de Flávio Bolsonaro, importantíssima: se a questão for mal resolvida, ou o presidente ficará sob fogo ou correrá o risco de perder Sérgio Moro, seu aval. Talvez não ocorra nenhuma das hipóteses – mas vale a pena correr o risco de ter a seu lado um Sérgio Moro que deixou de ser Sérgio Moro?
O regime militar tinha um profissional como Petrônio Portela para negociar com os profissionais da oposição – Thales, Tancredo, Montoro – a anistia e a redemocratização. Onyx Lorenzoni está longe de ser um deles. Sem gente sua, Bolsonaro está nas mãos dos profissionais do Congresso.