Ao contrário das demais colônias estabelecidas a partir dos fins do século XV nas Américas, o Brasil foi a última a conhecer a tipografia. O invento de Johann Gensfleish Gutenberg (1400-1468), já com a introdução dos tipos metálicos móveis (caracteres móveis já existiam em argila), conquistou praticamente toda a Europa a partir de 1454, quando da impressão de uma indulgência em Mainz, chegando a Portugal em 1489, com o Tratado de Confissom, em Chaves, produzido por um impressor ambulante.
Por razões políticas impostas por Portugal, no sentido de manter a dependência através da ignorância cultural, o Brasil só veio conhecer oficialmente a tipografia a partir de 13 de maio de 1808, quando da criação pelo então príncipe regente D. João, da Impressão Régia no Rio de Janeiro.
Ao contrário do Brasil, o mesmo não aconteceu nas demais colônias das Américas, a exemplo do México, Peru e Estados Unidos, que conheceram a tipografia em 1539, 1585 e 1638 respectivamente. Mesmo dentro do mundo colonial português, a tipografia fora difundida no Oriente, através dos padres da Companhia de Jesus, no uso de preciosas traduções de vocabulários e gramáticas nativas, bem como na propagação da fé, nos seus colégios de Salsette (1542), Goa (6.9.1556), Anakura (1591), além de Rachol, Cochim, Vaipicota, Punicale e Ambalacate.
Na China, os jesuítas portugueses começaram a imprimir em Macau (1588), seguindo-se de Cantão e Hong-Kong. “No Japão, entre 1590 e o banimento do cristianismo, em 1614, os padres produziram mais de cem obras. Suas impressoras, primeiro em Kazusa com o padre Alexandre Valignano, em seguida a partir de 1591, em Anakura, e depois em 1599 na fortaleza cristã de Nagasaki, produziram catecismos, literatura e trabalhos devotos conhecidos, tanto em português como em japonês, pelo nome de Kirishitan-ban. Seus estudos linguísticos constituem a fonte principal do nosso conhecimento do primitivo japonês moderno. Pelo menos dois tipógrafos foram japoneses convertidos, enviados a Coimbra para aprender o ofício”.
No Brasil Holandês
A primeira tentativa da introdução da tipografia no Brasil partiu não dos portugueses, mas do governo holandês do conde João Maurício de Nassau-Siegen (1637-1644) quando, em 28 de fevereiro de 1642, o Supremo Conselho do Governo do Brasil, sediado no Recife, escreveu à Assembleia dos Diretores da Companhia das Índias Ocidentais, em Amsterdam, solicitando o envio de uma tipografia, “a fim de que as ordenações e os editais emanados por Vossas Senhorias e deste governo, e os bilhetes de vendas, sendo impressos, obtenham maior consideração, e de ficarmos dispensados do trabalho fatigante de tantas cópias”.
A resposta não tardou e, em 14 de julho do mesmo ano o Conselho dos XIX informa ter seguido da Câmara de Horn “um certo Pieter Janszoon que aqui exerceu a profissão de tipógrafo e, por ocasião de sua partida, não se mostrou avesso a ideias de aí introduzir a sua arte, mediante certas condições”.
Em face da demora nas comunicações, o Supremo Conselho reiterou o seu pedido, em carta datada de 24 de setembro de 1642, que veio a ser respondida pelo Conselho dos XIX em 21 de maio de 1643: “De há muito que consideramos a necessidade do estabelecimento de uma tipografia no Brasil, e agora recomendamos a pessoa idônea que se informasse de algum mestre habilitado para este fim, e igualmente comunicamos essa resolução à corporação dos impressores, de sorte que esperamos ver o vosso pedido satisfeito dentro em breve”.
O Conselho do Brasil, porém, em carta datada do Recife, 2 de abril de 1643, informa laconicamente o falecimento, após sua chegada, do impressor Pieter Jenson reiterando o pedido do envio de uma oficina de tipos e de um novo mestre impressor: “esperamos que Vossas Excelências realizem a prometida remessa de uma tipografia, a fim de nos exonerar das consideráveis despesas com as numerosas cópias das ordenações e editais em português, o que importa em muito dinheiro, porquanto os escreventes da repartição consideram este serviço como extraordinário e fora de suas atribuições regulares”.