Da promiscuidade do dia-a-dia, agravada a cada dia com a chegada de um número cada vez maior de aventureiros, dentre os quais um grande número de prostitutas. A sífilis veio a tornar-se uma verdadeira epidemia no Brasil Holandês de então, obrigando cientistas, como os médicos Willem Piso e Georg Marcgrave, autores do livro clássico Historia Naturalis Brasiliae (1648), buscar a cura para tal doença junto à flora medicinal indígena e aos médicos portugueses, que recomendavam para a infecção por gonorréia o sumo da cana fermentado, através do qual “fica-se curado dentro de oito dias”.
A propagação da lues, como também é denominada a sífilis, era propiciada pelo grande e imenso bordel a que fora transformado o Recife de então. Tal importação vem acontecer logo nos primeiros anos do Brasil Holandês, que recebeu verdadeiros “carregamentos de mulheres perdidas”, como se depreende das cartas do Conselho do Recife.
Muitas dessas “mulheres fáceis”, como a elas se referiam os documentos, aparecem com os seus nomes mais conhecidos: Cristinazinha Harmens, Anna Loenen, Janneken Jans, Maria Roothaer (Maria Cabelo de Fogo), Agniet, Elizabeth (apelidada de a Admirael), Maria Krack, Jannetgien Hendricx, Wyburch van den Cruze, Sara Douwaerts (apelidada de Senhorita Leiden), havendo outras duas conhecidas por Chalupa Negra e Sijtgen, segundo demonstra José Antônio Gonsalves de Mello em Tempo dos Flamengos.
Sobre o estado de promiscuidade atingido pela capital do Brasil Holandês, comenta Hermann Wätjen que “pelas ruas do Recife andava muita gente pouco ajuizada e que aí todas as portas se achavam abertas ao vício. Os soldados arrebanhados de todos os campos de batalhas da Europa, para arriscarem diariamente a vida e a saúde numa campanha de guerrilhas, contra um inimigo ardiloso e prático, queriam gozar à rédea solta os dias de folga”.
O mesmo proceder acontecia com os marinheiros, após travessias de muitas semanas no mar, quase sempre envolvidos em batalhas e refregas. Também acontecia com os homens procedentes dos engenhos de açúcar, que se encontravam no Recife de passagem, longe da vista de suas famílias.
Todos eles, soldados, marinheiros, capitães, agricultores, lotavam os botequins e albergues, ingerindo grandes quantidades de vinho, bem como outras bebidas destiladas. Eram portugueses, holandeses, negros, indígenas, turcos, judeus, mazombos, mulatos, mamelucos, crioulos, ingleses, franceses, alemães, italianos, cujo panorama de excessos, segundo Pierre Moreau não pode ser descritos por simples palavras.
A terrível problemática habitacional levou a promiscuidade e a consequente dissolução moral da capital do Brasil Holandês contribuindo para a elevação do número de doenças epidêmicas, com o aumento do número de óbitos e a derrocada de sua estrutura política e militar.