Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Leonardo Dantas - Esquina quarta, 25 de outubro de 2017

A SINAGOGA PORTUGUESA DE AMSTERDÃ

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Com a expulsão dos holandeses de Pernambuco, em janeiro de 1654, grande parte dos judeus aqui radicados retornaram para Amsterdã e outros centros.

Em Amsterdã coube ao então chefe da Zur Israel do Recife, o rabino português Isaac Aboab da Fonseca, reorganizar uma nova comunidade naquela cidade.

Em 1671, num dos seus famosos discursos, nos quais usava indistintamente o hebreu e o espanhol, fez ver aos sefardins de Amsterdã a necessidade da construção de uma sinagoga mais espaçosa. De imediato foi formada uma comissão para a construção da Grande Esnoga Portuguesa de Amsterdã, seguindo o traço do arquiteto holandês Elias Bouman, tendo a cerimônia de inauguração acontecido, perante o Príncipe de Orange, em 2 de agosto de 1675.

O monumental templo destinava-se ao serviço de comunidade de 3.000 fiéis, na sua maioria oriundos de Portugal.

No prédio, ainda hoje preservado, acima da porta principal, lê-se em letras douradas original hebraico de parte do Salmo 5.8: “Mas eu, pela vossa grande bondade, entrarei na Vossa casa [prostrar-me-ei no vosso santo templo, com a reverência a vós devida.]”.

Além do sentido próprio, as palavras trazem através das estrelas colocadas sobre os caracteres em hebraico, o ano da fundação do templo (5432=1672) e o nome do seu fundador: o Hakam Aboab.

 

Interior da sinagoga portuguesa de Amsterda segundo_foto de Leonardo Dantas Silva

Para orador oficial da solenidade de inauguração, o rabino Aboab da Fonseca escolheu um jovem judeu nascido em Pernambuco, Isaac de Andrade Velosino, conforme informa José Antônio Gonsalves de Mello. Nominado erradamente por Barbosa Machado, in Biblioteca Lusitana, por Jacob de Andrade Velosino, Isaac se declara judeu nascido no Recife em 1657, quando do seu casamento, em Amsterdã, em 15 de janeiro de 1698. Segundo Sacramento Blake, era ele Doutor em Talmud e Doutor em Filosofia, autor de várias obras, dentre as quaisEpítome de la verdad de la ley de Moyses, escrita em espanhol, O Theologo Religioso, O Messias Restaurado, além de outros trabalhos sobre medicina e história do Brasil, tendo falecido na Haia no ano de 1712.

Devido à natureza do solo pantanoso, o templo foi construído sobre três mil estacas de madeira. No seu interior, todo o mobiliário lembra a sua origem luso-brasileira. A começar pelo hekal (armário onde se guarda a Sefer Torá, ou seja, os rolos da Lei de Moisés) , seguindo-se da tebá (altar onde são rezadas as orações em voz alta, com suas talhas e guirlandas ornamentais), confeccionados em jacarandá procedente de Pernambuco. Consta que, na época, toda a madeira fora importada por Moisés Curiel, conhecido também pelo nome de Jerônimo Nunes da Costa, que era agente nos Países Baixos junto ao Reino de Portugal.

No interior da sinagoga, bem no alto, do lado leste, ainda se conserva a placa da inauguração, confeccionada em mármore, com as letras em ouro, assinalando o ano 5435, ou seja, 1675 do calendário gregoriano, e o termo de abertura do templo. Construído sob a presidência de Isaac Levy Ximenes, tendo como zelosos favorecedores da fabrica o Sr. Haham Yshac Aboab da Fonseca, o Sr. Yshac de Pinto, o Sr. Mosseh Curiel. As quatro primeiras pedras as puseram os Senhores Mosseh Curiel, Josseph Ysrael Nunes, Ymanuel de Pinto, David Manuel de Pinto, seguindo-se da comissão de construção composta pelos Senhores Ysahac de Pinto, Semuel Vaz, Jahacob Aboab Osorio, Jahacob Ysrael Pereira, Ysahac Henriquez Coytino.

 

Sinagoga portuguesa de Amstredam Foto Leonardo Dantas_Silva (2)

O edifício apresenta em seu frontispício quatro grandes colunas de basalto [rocha ígnea vulcânica, ger. porfirítica ou vítrea, composta essencialmente de plagioclásio básico e augita], que sustêm três abóbadas de madeira, estando as duas galerias do interior do templo sustentadas por doze colunas de granito. Os bancos, alinhados perpendicularmente à tebá (estrado onde ficam os oficiantes), foram confeccionados em carvalho e dispõem, sobre o assento, o que ainda hoje é designado pela palavra portuguesa, gaveta. Nesta são guardados o talit (manta de oração), os livros de reza, o livro de parasa e outros objetos individuais para uso no culto.

A monumental Esnoga Portuguesa de Amsterdã conserva, ainda em nossos dias, as orações em hebraico com a pronúncia sefardita típica de Amsterdã, assinalando-se, ainda, orações em português como esta em louvor das autoridades:

A Sua Majestade a Rainha dos Países Baixos e Seu Real Consorte aos sereníssimos Príncipes seus Filhos, à sereníssima Princesa Madama sua May e seu real Consorte, e aos descendentes da Casa Real de Orange-Nassau aos ilustres Membros que concorrem no Governo destas Terras, e aos nobres e veneráveis Senhores Burgomestre e Magistrados desta Cidade de Amsterdã“.

 

Sinagoga portuguesa de Amstredam Foto Leonardo Dantas_Silva (3)

Até os dias atuais a esnoga não possui energia elétrica, sendo iluminada por enormes lustres de cobre polido, que sustentam mais de mil velas; toda a iluminação do ambiente feita por meio delas e por outras colocadas ao longo do respaldar dos bancos.

No seu entorno foram construídas umas pequenas casas que separam o prédio principal da via pública. Nessas pequenas casas térreas, antes residências de famílias judias, hoje existem bibliotecas, salas de aulas e reuniões, livrarias, uma micvê (piscina destinada ao banho ritual). Também uma pequena esnoga, que conserva o mobiliário da primitiva esnoga de 1639 e que hoje é utilizada para as funções religiosas durante o inverno, pois a grande sinagoga não possui aquecimento. A pequena esnoga dá acesso à célebre Livraria Montezinos do seminário Ets Haim (Árvore de Vidas).

 

 

A comunidade portuguesa de Amsterdã tem o seu início em 1602, quando ali chega o rabino alemão Uri Halevi, trazendo um grande número de cristãos-novos originários de Emden (cidade do norte da Alemanha). Esta primeira sinagoga veio a funcionar na residência do mercador português Jacob Tirado, que antes fora senhor de engenho em Pernambuco, residindo em Olinda, onde atendia pelo nome de James Lopes da Costa, sobre o qual já nos referimos.

Curiosamente tanto a primeira sinagoga, Bet Yahacob (Casa de Jacob), criada em 1613 por Jacob Tirado, como a atual Grande Sinagoga Portuguesa de Amsterdã, inaugurada em 1675 pelo rabino Isaac Aboab da Fonseca, foram iniciativas de pessoas que viveram em Pernambuco.

O Haham Isaac Aboab da Fonseca, primeiro rabino do Novo Mundo, introdutor da literatura hebraica nas Américas e fundador da monumental Esnoga Portuguesa de Amsterdã, veio a falecer aos 88 anos, em 9 de abril de 1693, naquela cidade, estando sepultado no cemitério de Ouderkerk, em Amstel. Sua biblioteca foi vendida em leilão, logo após a sua morte. Dela constavam 18 manuscritos em hebraico, 373 livros em hebraico e 53 em outras línguas.

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