Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Violante Pimentel - Cenas do Caminho sábado, 17 de outubro de 2020

A SOBRA (CONTO DA MADRE SUPERIORA VIOLANTE PIMENTEL, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

A SOGRA

Esta é a estranha história de Jacques Besson, condenado à pena de morte, pela prática de homicídio contra um ex-patrão.

Em 1836, o conde de Chamblas, dono do castelo e do domínio homônimo, localizado perto de Saint-Étienne-Lardeyrol, morreu um ano depois de sua filha ter se casado com M. de Marcellange, um jovem nobre Bourbonnais (natural de uma província histórica central da França, que corresponde ao atual departamento de Cher. Esta área destaca-se pela riqueza literária, sendo berço de autores célebres).

Pouco antes de sua morte, o conde, que apreciava muito seu genro, cedeu-lhe a propriedade e sua administração.

M. Marcellange, dono de um grande coração, decidiu, então, repatriar sua sogra, Marguerite de Chamblas, que havia sido expulsa da propriedade pelo marido, em consequência de repetidos adultérios. A condessa, dotada de uma bela renda, pôde, então, continuar sua vida mundana e amorosa em paz.

Voltando à antiga propriedade, a condessa/mãe viu aí a oportunidade de recuperar o domínio anterior, já que não demorou a colocar a filha contra o genro, tentando convencê-la de que ele não combinava com ela, pois não era de sangue nobre.

Com efeito, M. de Marcellange, que amava a vida camponesa, se envolveu de corpo e alma no campo, colocando a “mão na massa”, chegando, habitualmente, a jantar com seus empregados e rezar a oração da noite junto com eles.

Sua sogra acabou convencendo a filha Theodora a se juntar a ela, em sua mansão particular de La Roche-Négly, na cidade de Puy. As duas foram passar uma temporada na referida mansão, enquanto o marido de Theodora lutava para pagar suas despesas, com a única renda fornecida pela propriedade Chamblas.

Da sua mansão, a velha condessa continuou a assediar o genro, maculando sua reputação e suas habilidades gerenciais e aumentando o número de processos judiciais para usurpação do seu título de nobreza.

Marcellange também teria sido vítima de uma tentativa de envenenamento, durante uma visita à esposa e à sogra.

A sogra infernizou tanto a vida de Marcellange, que ele desistiu de tudo e se preparou para retornar à sua propriedade em Bordons, Allier, sua terra natal. O caso poderia ter terminado aí.

Mas, na véspera da sua partida, em 1 de setembro de 1840, por volta das 8 e meia da noite, cumprindo um piedoso e antigo hábito, Marcellange acabava de rezar com os criados a oração da noite, quando foram ouvidas várias detonações e as vidraças voaram em estilhaços.

Marcellange foi morto instantaneamente, caindo sobre as cinzas da lareira.

A investigação que se iniciou reuniu vários testemunhos: um homem teria sido visto atravessando um campo, rifle na mão, vindo de Le Puy em direção ao castelo.

Entretanto, todos os olhos estavam voltados para o Hôtel de La Roche-Négly, onde as duas condessas estavam hospedadas e, em particular, para Jacques Besson, um ex-empregado da vítima, que havia sido excluído da administração da propriedade.

Passaram-se vários meses, sem que fossem descobertos os possíveis assassinos ou mandantes do crime. Os sussurros eram grandes, em torno da autoria. Porém, ninguém se atrevia a indicar os suspeitos. Parecia que a cidade estava diante do crime perfeito, o que, na realidade, não acontecia.

Na verdade, as mandantes estavam muito perto. Mas, eram consideradas acima de qualquer suspeita, Muitos indivíduos foram presos para averiguações, mas logo foram postos em liberdade, por insuficiência de provas.

Mais de quinhentas testemunhas foram inquiridas. Mas ninguém ousava falar, ninguém ousava repetir em voz alta as estranhas suspeitas que se contavam em voz baixa, e corriam de boca em boca, na região aterrorizada:

“Mme. de Chamblas teria mandado assassinar o marido por um dos seus ex-empregados, de nome Jacques Besson.” Mas nenhuma das duas senhoras de Chamblas (sogra ou esposa da vítima) foi apontada como suspeita do crime.

Depois de dezenove meses de uma instrução minuciosa, a Justiça seguiu seu curso, mandando prender Jacques Besson. Com base em depoimentos formais, o réu foi condenado à morte, pelo Tribunal do Júri de Loire, sem responder se era culpado ou inocente. Mas a sentença foi anulada, por vício de forma e o processo teve novo andamento pelo foro de Rhône.

Antes da audiência de julgamento, as senhoras de Chamblas, que a justiça cometera a fraqueza de não apontar como cúmplices, sumiram da cidade, como quem fugia do perigo do réu abrir a boca e confessar que fora usado por elas para executar o crime.

Maitre Rouher defendera Jaques Besson, perante o Tribunal do Júri de Loire, no primeiro julgamento.

No novo Júri, em Rhône, Maitre Lachaud foi seu defensor. As paixões estavam tão acirradas, os ódios tão violentos, que Lachaud, ao sair da sessão, precisou ser protegido por soldados, contra a hostilidade da multidão.

Jacques Besson foi, novamente, condenado à morte. Caminhou para o cadafalso sem tremer, recusando-se a entregar à justiça o segredo desse terrível drama.

Quando interrogado sobre a autoria do crime, a resposta era sempre a mesma:

“Para que serviria eu falar? Nunca fui ninguém. “ – dizia aos magistrados que o cobriam com perguntas. –“ Isso não me salvaria e seria envolver muitas outras pessoas no negócio.”

O condenado foi para o cadafalso, preferindo guardar fidelidade sobre as mandantes do crime. Essa atitude do réu contrariou Lachaud, que tinha certeza de que o crime fora praticado por encomenda.


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