Desculpe o lugar-comum, mas, como você sabe, para Karl Marx a história se repetia primeiro como tragédia e depois como farsa. Fosse ele contemporâneo da política brasileira, veria que aqui ela se sucede obstinadamente como farsa a caminho de uma tragédia. As vitórias sucessivas dos protagonistas dessas comédias sem graça são demonstrações seriíssimas de como um país não deve ser conduzido.
A votação da semana passada, por exemplo, em que o governo obteve votos bastantes para estancar a segunda denúncia da Procuradoria-Geral da República bem diz o que é a nossa realidade. A vitória do presidente Michel Temer na Câmara custou a bagatela de R$ 45 bilhões que nós vamos pagar. Mais vitórias dessas, o Brasil estará aniquilado. Serão nada mais do que vitórias de Pirro, expressão nascida quando o exército de Pirro, rei do Épiro, venceu as legiões romanas nas batalhas de Heracleia e Ásculo.
A vitória fora importante, mas levara à conclusão de que outra vitória como aquela arruinaria o rei completamente. De fato, Pirro perdera uma parte enorme das suas forças, inclusive quase todos os seus amigos íntimos e principais comandantes; não havendo outros homens para formar novos recrutas. Por outro lado encontrou seus aliados na Itália recuando.ao passo que os romanos preenchiam rapidamente a necessidade de novos soldados, todos sem deixar sua coragem ser abatida pela perda que haviam sofrido mas, sim, extraindo da própria derrota força para prosseguir na guerra.
Apesar de tantas menções à guerra, a expressão “vitória de Pírro” não é aplicável exclusivamente em contexto militar. Usa-se também em economia, justiça, literatura, arte, esporte, política e tanto mais para descrever luta similar, dessas prejudiciais ao vencedor.
A propósito, porque a história se repete, aconselha-se ter em mente que, mesmo sem nenhum interessado em derrubar o governo, um presidente que só tem frágeis 7% de aprovação está sob permanente ameaça. Em outras palavras, tem uma espada de Dâmocles sobre a cabeça, segura por apenas um fio de crina da cauda de um cavalo, em uma alusão à insegurança dos que detêm poder que lhes pode ser tomado sem delongas, quando conquistado de forma sufragânea.