Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 26 de agosto de 2017

ANDERSON BRAGA HORTA E A RIMA QUE EU PROCURAVA

ANDERSON BRAGA HORTA E A RIMA QUE EU PROCURAVA

(Publicada no dia 23.06.2014)

Raimundo Floriano

 

 O gênio, no lançamento de Signo, em 4.8.2010, e este colunista 

                        Minha formação literária teve início, na prosa, com Monteiro Lobato, Edgar Rice Burroughs, Alexandre Dumas e muita revista em quadrinho, tendo estas exercido tanta influência sobre mim que hoje não sei elaborar um texto sem imagens. A poesia foi-me apresentada por Gonçalves Dias, Catulo da Paixão Cearense, Castro Alves e folhetos de cordel. Assim, desde cedo, deduzi que a poesia devia ser rimada, o que não é regra geral, como verifiquei muito depois.

 

                        Dentre os cordelistas, os que mais me influenciaram foram João Martins de Athayde, Manoel Pereira Sobrinho, Leandro Gomes de Barros e Firmino Teixeira Amaral, com estes romances que ainda guardo em minha coleção entre centenas de outros:

 

                        E durante muito tempo, eu achava que também era poeta, fazendo versos e até vencendo desafios com a meninada de meu sertão sul-maranhense. Até hoje, trago a rima na massa do sangue, mas sem aquele convencimento de outrora. O que me fez acabar com a marra aconteceu na quarta série ginasial.

 

                        Certa vez, em Teresina, no Colégio Diocesano, o Professor Arimateia Tito, em aula de versificação e métrica, mandou que cada aluno compusesse uma estrofe, o que fizemos. Ao ler a minha o professor balançou a cabeça e falou:

 

                        – Aqui só tem rima pobre. Janela com canela; oração com coração...

 

                        E explicou-nos que rima pobre era esse tipo da minha, que não requeria muita imaginação. Mais ou menos como esta de Florbela Espanca, em Velhinha, que eu mostro agora para vocês:

 

Não sei rir e cantar por mais que faça!

Ó minhas mãos talhadas em marfim,

Deixem esse fio de oiro que esvoaça!

Deixem correr a vida até ao fim!

 

                        Como exemplo de rima rica, o Professor Arimateia apresentava-nos este trecho do poema Meus Oito Anos, de Casemiro de Abreu:

 

Livre filho das montanhas,

Eu ia bem satisfeito,

De camisa aberta o peito,

– Pés descalços, braços nus

Correndo pelas campinas

À roda das cachoeiras,

Atrás das asas ligeiras

Das borboletas azuis!

 

                        Há muito tempo, procuro outra rima tão rica quanto essa. E a tarefa a cada dia que passa fica mais difícil, pois quase já não se faz poesia rimada. E também porque há rimas e rimas.

 

                        O Velho Faceta, cordelista de truz, vinha cantando os 25 bichos, numa boa, até que chegou o momento de encontrar rima para o tigre. Como aqui é diferente do jogo, não vale o que está escrito e sim a eufonia, ele deu uma guinada e se saiu com esta:

 

Eu ando devagarzinho

A mim ninguém persigue

Eu ando devagarzinho

A mim ninguém persigue

O 21 é touro

 E o 22 é tigre

 

                        Dizem que não existe rima para a palavra mãe. Pesquisando no Google, encontrei como única rima para mãe a palavra Oçãe, nome de orixá cuja epifania são as folhas e as ervas medicinais litúrgicas usadas no candomblé. Consultei o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, e lá esse termo não consta. Portanto, não existe em nosso idioma.

 

                        Quando eu estava na chefia do Gabinete da Deputada Ivete Vargas, então Líder do PTB, admirei-me com a correspondência dum eleitor que, ao cumprimentar a deputada pelo Dia das Mães, enaltecia o fato da maternidade ser tão importante, sublime, que não existia rima para a palavra mãe. Fazia, no entanto, uma ressalva, afirmando que os portugueses a rimam com também, que eles pronunciam tambãe. Olha a eufonia aí de novo!

 

                        Pois bem, depois de ler a carta, caiu-me a ficha! Lembrei-me de um hino trazido para o Brasil pela Corte Portuguesa, Dá-nos a Bênção, cujo refrão diz:

 

Dá-nos a bênção, ó Virgem Mãe

Penhor seguro do sumo bem

 

                        Um de meus colegas de trabalho na Diretoria do Patrimônio, da Câmara dos Deputados, era o falecido cantador, poeta e improvisador Tira-Teima que, certo dia, me procurou, agoniado, querendo uma rima para Corinthians. Eu quase que lhe falei o nome duma amiga minha, a Cyntia, mas, com medo de levar uma vaia, saltei de banda, tirei o corpo fora, e a poesia não se fez.

 

                        Falta de cultura minha. Ou coragem. Aos poetas, por falarem com o coração e, por isso mesmo, serem inimputáveis, tudo é permitido, tudo lhes é justificado, dentro de sua lei maior, a licença poética. E isso eu aprendi lendo este importante trabalho, verdadeiro tratado poético, que recomendo a toda Comunidade Fubânica:

 

 

                        Para não esquecer detalhe algum sobre a biografia do autor, aqui exibo as duas orelhas do livro:

 

                       

                        Com obra literária tão extensa, e sendo detentor de dezenas de prêmios, dentre eles o Jabuti, maior laurel da Literatura Brasileira, Anderson Braga Horta poderia deitar-se na cama e viver da fama. Mas não! De quando em vez, extasia-nos com novidades, como este Proclamações, lançado a 12.2.2014.

 

                        Sendo ele, na atualidade, o maior poeta vivo da Língua Portuguesa, a magnitude não lhe afetou a personalidade, o que constato ao vê-lo, com extrema benevolência, no autógrafo de seus livros, chamar-me de colega de trabalho e de letras.

 

                        Numa coisa, ele até que acerta. Somos colegas de trabalho. Anderson é filho de um casal de poetas, já falecidos, cujos lindos sonetos, tanto de seu pai quanto de sua mãe, vêm sendo publicado aqui no Jornal da Besta Fubana. Compõe uma prole de uma irmã e quatro irmãos. A irmã, Glória Braga Horta, focalizada em minha coluna no dia 16.6.14, na matéria Três Joelhos Musicais, é funcionária do Poder Executivo, escritora, poetisa, instrumentista e cantora, além de Madre Superiora diretamente subordinada a meu Cardinalato.

 

                        Os varões são meus colegas de serviço, todos funcionários da Câmara dos Deputados, nomeados mediante aprovação em concurso público de âmbito nacional: Flávio, que já se encontra junto ao Pai Celestial, Goiano, cujo trabalho consta de Três Joelhos, Arlyson, mais dedicado às atividades aeronáuticas, e Anderson, nosso Poeta Maior. A seguir, da família Braga Horta, em flagrante colhido no ano de 1942:

 

Maria Braga Horta, Anderson de Araújo Horta,

Arlyson, Goiano, Flávio, Glória e Anderson

 

                        Anderson domina todos os campos da Literatura. Nestes tempos de Copa do Mundo, podemos afirmar que, num time campeão, ele é o técnico e joga em qualquer das posições: poesia, conto, romance, biografia, ensaio, o que mais for. Adiante, capas de alguns de seus livros:

                       

 

                        Bom, desçamos do Olimpo! Voltemos à chapada, que é meu lugar, e de onde eu jamais deveria ter saído.

 

                        Chico Fogoió, meu amigo e Assessor para Assuntos Piauizeiros, metido a letrado e cordelista, vive me atormentando com uns versinhos de sua autoria, nos quais rima pai com papai, afora barbaridades várias. Eu dou-lhe broncas, dizendo-lhe que se esforce mais e não me venha com essas rimas paupérrimas, e sempre exemplifico o que é rima rica com esta quadrinha que decorei ainda nos Anos 1940, publicada no Almanaque Capivarol:

 

O padre da Abadia

Mandou comprar uma lâmpada

Para iluminar a estampa

Da Santa Virgem Maria

 

                        Aí ele rebate, dizendo que isso é verso de pé quebrado, são duas palavras que rimam apenas na eufonia. E nossa teima continua.

 

                        No dia 28 de maio passado, aconteceu minha vitória na pinimba! O Correio Braziliense, na Seção Tantas Palavras, dedicada aos poetas, vates, aedos e bardos, publicou esta joia de soneto, com riquíssima rima, da lavra da genialidade andersoniana:

 

 

                        – E agora, Fogoió? Sai dessa! 

 


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