Fernando Antônio Gonçalves
Ás vésperas de mais uma saída sempre triunfal, no Recife, do Galo da Madrugada, uma editora brasileira relançou um manual didático diferenciado . Um manual que ensina como se defender de “ispertos” postulantes a cargos eletivos, todos eles recheados de promessas mirabolantes, algumas até envolvendo as próprias Forças Armadas . Denominada COMO NÃO SER ENGANADO NAS ELEIÇÕES, tal cartilha aponta os truques e as vadiagens (e viadagens) utilizados numa campanha eleitoral (atenção para 2020!), as frases de efeito, as encenações ilusórias, as falsas pesquisas, os efeitos visuais, as dicotomias superadas (esquerda/direita, moço/velho, usineiro/camponês), algumas delas ainda em plena vigência nos núcleos eleitorais mais desatentos.
A proposta do Manual é simples, ainda que oportuníssima. Através de um texto didático, leve, recheado de bom humor, estruturado pelo jornalista Gilberto Dimenstein, casos concretos serão explicitados tim-tim por tim-tim, favorecendo esclarecedoras discussões em ambientes sociais.
Neste muito trepidante milênio, um cuidado especial deveria ter todo eleitor de bom senso, cidadania calibrada, cabeça acima da bunda e bem distante dos emocionalismos cavilosos praticados pelos candidatos oportunistas. A lição de John Lukacs , analista social e ganhador do Prêmio Ingersoll, bem traduz essa preocupação: “Devemos tomar cuidado com a tentação perigosa de ver a História basicamente do ponto de vista do presente, embora tenhamos consciência de que o que sabemos no presente seja um reflexo inerente à nossa visão do passado”.
Nada ameaça mais um regime democrático que a gestão daqueles que desconhecem a tese fundamental, límpida e cristalina para os mais conscientes: “em toda democracia, as respostas são difíceis diante de uma demanda facilmente induzida”. Nesta semifalida sociedade brasileira, versão 2019, Brumadinho como exemplo maior, é preciso ampliar a noção sobre os nossos erros e acertos, omissões e fragilidades comportamentais. Repensar acerca das indecências sociais que redundaram no atual estado de coisas. Sem carecer apontar quem acertou ou errou, posto que os erros e os acertos são de todos nós, brasileiros .
Acima das ideologias e resguardadas as individualidades, faz-se mister um inadiável repensar nacional/regional/estadual/municipal, apreendendo com eficácia a advertência famosa de Ortega y Gasset: “Como é possível as rãs discutirem sobre mar, se nunca saíram do brejo?”. Urge que a nova classe média brasileira saiba discutir sobre mar, sem os moralismos faniquiteiros que não a levaram a nada nos últimos cem anos, salvo a ter mais medo de tudo, de todos e de um amanhã plúmbeo que já nos ameaça de longa data.
Nós, às vezes , ficamos muito seguros do nosso aprendizado do passado. E sentimo-nos bem fundeados sobre coisas que aprendemos quando éramos moços, perdendo, por essa ingenuidade, o bonde da história. Porque o bonde sempre está em movimento e com uma velocidade cada vez maior. E quando as pessoas perdem esse bonde , começam só a olhar para o passado, nostálgicas, sem qualquer sintoma reoxigenador.
O educador baiano Anísio Teixeira posicionava-se admiravelmente: “Eu não tenho responsabilidade nenhuma com as minhas ideias. Eu tenho, sim, uma responsabilidade com a verdade”. Quem tem esse grau de maturidade, sabe andar. Quem não tem, apenas continua sobrevivendo mal, atrelado ao me-disseram antissocialmente mundano. Saindo no Galo da Madrugada, na turma do tabaco leso.
No mais, saber divertir-se sem exageros, preparando-se para um ano 2019 repleto de reformulações estruturais amplamente indispensáveis. E barragens criteriosamente auditadas