Bruto, ignorante, insensível, fascista, mau pai, mau marido são só alguns dos desairosos atributos conferidos ao próximo presidente do Brasil. Compreende-se. Foi uma disputa em que até a faca peixeira se pronunciou, com tal veemência que, por pouco, não deu a última palavra sobre o renhido pleito.
Tudo indicava que um armistício era chegado, mas acontece que ontem mesmo, em seu discurso, o senhor Fernando Haddad, o candidato derrotado, sinalizou o terceiro turno, simbolizado pela falta de um mínimo de cavalheirismo.
Sabe-se, ora, que mesmo revestido de falsidade, é praxe o perdedor desejar sorte ao seu concorrente, o ungido pela vontade da maioria. Ademais, saber perder é tão importante quanto saber ganhar, e um simples cumprimento, por mais falso que seja, é de bom-tom. Some-se a isso, a consciência de que os vencedores não se entronizaram por um ato de vontade própria. Foram os senhores que, com desídia e cupidez, levaram o povo a trocar seus dirigentes e representantes.
Quanto ao vencedor, Jair Bolsonaro, recordemos Machado de Assis. Contou o grande escritor que havia um campo de batatas cobiçadas por duas tribos famintas. As tais batatas eram suficientes para alimentar só uma das tribos, que passaria a ter forças para transpor uma montanha e ir a um lugar onde havia batatas em abundância, mas acontece que se as duas tribos dividissem as batatas, não iriam adquirir energia suficiente, e morreriam de inanição. Uma das tribos exterminou a outra e recolheu as batatas, e foi festejada com hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais feitos das ações bélicas. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.
Ao presidente Jair Bolsonaro, pois, as batatas.