Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Leonardo Dantas - Esquina sábado, 03 de novembro de 2018

ARRUANDO PELO CEMITÉRIO DE SANTO AMARO

 

ARRUANDO PELO CEMITÉIRO DE SANTO AMARO

A cidade do Recife sofreu grandes transformações na sua paisagem quando da administração de Francisco do Rego Barros (1802-1870), que veio a ser barão, visconde e finalmente Conde da Boa Vista.

Formado em matemática pela Universidade de Paris, com apenas 35 anos de idade, foi designado presidente da província de Pernambuco, ficando no cargo de 1837 a 1844, época em que o trouxe para o Recife o engenheiro francês Louis Léger Vauthier (1815 – 1901), responsável pela construção do Teatro de Santa Isabel (1850) e de importantes obras públicas, dentre as quais o traçado inicial do Cemitério do Senhor Bom Jesus da Redenção, consagrado como Cemitério de Santo Amaro.

Sobre as experiências de Vauthier no Recife, o escritor Clarival do Prado Valadares (in Arte e Sociedade nos Cemitérios Brasileiros. Rio, 1972), lembra o episódio, registrado pelo engenheiro francês em seu Diario, no qual um cadáver insepulto de um negro permaneceu por muito tempo às margens do Capibaribe, sem que despertasse a menor atenção da população passante, assim escreve:

Não sei a quanto arrisco a aventura de uma ilação, mas a mim parece que o horror daquele quadro aos olhos do jovem politécnico de Paris fê-lo sugerir no estudo do [Cemitério] Santo Amaro do Recife… “que se plantassem árvores e arbustos pelas ruas do cemitério; árvores que purificassem a atmosfera” e quanto ao plano geral que tivesse a forma de… “um octógono regular cujo contorno seria de 3.640 pés ou menos uma décima parte do que o quadrado”.

Disto resultou a surpreendente planta do [Cemitério] Santo Amaro, de alamedas e aleias radiais, centradas pela praça da capela, formando “quadras” poligonais e triangulares cujas orlas são ocupadas pelo loteamento para jazigos nobres, ou pelos extensos mausoléus coletivos de irmandades, reservando-se as áreas centrais para as covas rasas.

Trata-se, pois, de um cemitério planejado de tal modo que a paisagem é equanimemente distribuída, dela participando em condições de igualdade o túmulo rico e a cova-rasa.

Dessa curiosa e talvez inédita configuração urbanística de cemitério, relacionando o senhor e o escravo, o amo e o servo, o rico e o pobre, assim como eles existiam na respectiva ordem social do modelo patriarcal do século passado, desnivelados e ao mesmo tempo coexistindo sob o mesmo teto, na mesma casa, e tantas vezes em coabitação.

É desta mesma época a presença na equipe de obras públicas do Governo da Província do engenheiro José Mamede Alves Ferreira (1820-1865), Bacharel em Matemática pela Universidade de Coimbra, que além dos prédios da Casa de Detenção e do Ginásio Pernambucano foi responsável pela execução do projeto do Cemitério Público do Senhor Bom Jesus da Redenção, criado em 1841, pela Lei Provincial nº 91, tendo sido inaugurado em 1º de março de 1851.

Trata-se de uma área plana, originalmente ocupando um terreno de 351,35 m. de fundos por 320 m. de largo, tendo ao centro uma elegante capela em estilo gótico, em forma de cruz grega, para onde convergem todas às alamedas de túmulos dando, assim, um formato estelar ao conjunto.

Bem conservado pela atual administração municipal, o Cemitério de Santo Amaro, chama a atenção do visitante para o seu portão de entrada, trazendo na sua base a data de MDCCCLI (1851), confeccionado em ferro fundido pela firma A.C. Staar & Cia. (Fundição Aurora), a mesma responsável pelos portões do Cemitério dos Ingleses e da Ordem Terceira do Carmo do Recife.

Aleias de palmeiras imperiais marca a avenida principal, que une o seu monumental portão de ferro com a porta da capela central, ladeada pelos primeiros túmulos do início da segunda metade do século XIX, que conduz o visitante até a capela em estilo gótico, octogonal, situada ao centro do campo santo.
Nas diversas alamedas do Cemitério de Santo Amaro, sob a proteção da sombra das árvores, vamos encontrar singulares obras de arte de escultores renomados que estão a exibir o seu talento nos diversos túmulos alguns deles centenários.

No ponto de confluência de suas ruas, encontramos uma singular capela gótica, a primeira do seu gênero em terras pernambucanas, projetada por José Mamede Alves Ferreira (1820-1865), mandada construir pela Câmara Municipal do Recife em 1853.

“Trata-se de um monumento de puro estilo gótico de cruz grega, fechada por uma só abóbada, de uma belíssima e arrojada construção, e de grandeza proporcional ao fim a que é destinada, sem campanário e sem dependências”.

O singular templo conserva no seu centro uma imagem do Cristo Crucificado, em ferro, produto de fundição francesa, tendo na sua abóbada placas de mármore alusivas às diversas fases de sua construção, como as restaurações sofridas nos anos de 1899 e 1930:

• A Câmara Municipal do Recife a mandou fazer em 1853…1855, segundo o plano do engenheiro civil José Mamede Alves Ferreira.

• Reaberta e melhorada na administração do Exmo. Dr. Esmeraldino Olympio de Torres Bandeira, prefeito do Município do Recife. Em 16 de junho de 1899.

• Restaurada na administração do Exmo. Sr. Dr. Francisco da Costa Maia, prefeito do Município, 1930.

Para o escritor Rubem Franca (in, Monumentos do Recife – Recife, 1977): O Cemitério encerra muito da cultura de um povo. Santo Amaro, aliás, ainda aguarda quem lhe faça um estudo completo, um levantamento dos sepulcros de pernambucanos famosos e populares. Um estudo dos seus monumentos funerários, que são, alguns verdadeiras obras de arte.

Joaquim Nabuco e outros túmulos

No cemitério de Santo Amaro, o mais suntuoso dos túmulos é dedicado ao Patrono da Raça Negra, o abolicionista Joaquim Aurélio Nabuco de Araújo (1849-1910), obra do escultor italiano Giovanni Nicolini; montada em Pernambuco por outro escultor, também italiano, Renato Baretta, em novembro de 1914.

O conjunto escultórico retrata a Emancipação do Elemento Escravo, em 13 de maio de 1888, formado por um grupo de ex-cativos levando sobre suas cabeças o sarcófago simbólico do grande abolicionista. À frente do monumento, o busto de Joaquim Nabuco, em mármore de Carrara, tendo ao seu lado uma figura de mulher [a história], que ornamenta com rosas o pedestal do busto, onde se lê:

A Joaquim Aurélio Nabuco de Araújo. Nasceu a 19

de agosto de 1849. Faleceu a 17 de janeiro de 1910.

Logo em frente ao mausoléu de Joaquim Nabuco, encontra-se o túmulo de José Mariano Carneiro da Cunha (1850-1912), também destacado líder do movimento abolicionista e de sua mulher Olegária (Olegarinha) Gama Carneiro da Cunha (1860 – 1898).

Um busto em bronze do abolicionista e estátua de uma mulher chorando, conserva as inscrições:

À José Mariano / o Povo / Pernambucano. / Olegária

Gama Carneiro da Cunha, 16-9-1860, 24-4-1898.

Outro belo túmulo do Cemitério de Santo Amaro, porém, pertence ao Barão e da Baronesa de Mecejana: Antônio Cândido Antunes de Oliveira e Colomba Ponce de Leão.

“O túmulo é todo feito em mármore de Carrara com grande influência dos romanos, por causa do sentimento católico. O formato de tocha invertida é símbolo da morte e da expectativa de que essa luz se reacenda”,explica o escultor e responsável pela última restauração do túmulo, Jobson Figueiredo, realizada em 1999.

Sobre seu mausoléu, escreve o próprio Barão de Mecejana, em seu testamento, conservado no Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano, ter sido o túmulo destinado, inicialmente, a sua filha e seu genro que faleceram de uma das epidemias que assolaram o Recife na segunda metade do século XIX. A posição em genuflexo do barão e baronesa, demonstra a atitude dos pais durante a doença que vitimou o casal.

Como bem observou o escritor Clarival do Prado Valadares, in Arte e Sociedade nos Cemitérios Brasileiros(1972), vale reparar também o detalhe das esculturas em mármore do barão e da baronesa, que reproduzem até a textura de uma veste rendada.

Segundo estudo da pesquisadora Semira Adler Vainsencher, da Fundação Joaquim Nabuco:

“Vários mausoléus imponentes podem ser encontrados, também, no cemitério de Santo Amaro. O do governador Manuel Antônio Pereira Borba, mais conhecido como Manuel Borba, possui uma mulher com torre na cabeça, e em seus pés um grande leão de Pernambuco. No mausoléu, uma frase que ficou famosa: Pernambuco não se deixará humilhar. E a sua efígie, com a seguinte inscrição:

Cidadãos: quando quiserdes advertir aos vossos governantes, incitar os vossos compatriotas e educar os vossos filhos, apontai-lhes o exemplo que foi Manuel Borba – probidade e caráter – lealdade – bravura cívica. MCMCCCII. [Sic]

Um passeio pelas ruas e alamedas do Cemitério de Santo Amaro se transforma num verdadeiro desfilar de nomes que se destacaram na nossa história, particularmente nos movimentos revolucionários e movimentos literários, bem como nas artes, na poesia, na música popular e na própria história pernambucana.

Uma visita ao Cemitério de Santo Amaro se torna uma verdadeira aula de sapiência das mais diversas áreas do conhecimento humano, daí o nosso convite para tão agradável arruar.


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