Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

José Domingos Brito - Memorial segunda, 09 de setembro de 2019

AS BRASILEIRAS: CHIQUINHA GONZAGA

 

 

AS BRASILEIRAS: Chiquinha Gonzaga

Francisca Edwiges Neves Gonzaga nasceu em 17/10/1847, no Rio de Janeiro. Compositora, pianista e maestrina, foi pioneira na música como primeira chorona (pianista de choro); autora da primeira marcha carnavalesca (“Ô abre alas”, 1899); primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil; pode se dizer que foi também uma das primeiras feministas brasileiras, devido a sua luta pela independência da mulher. Filha de José Basileu Alves Gonzaga, de família ilustre do Império, e Rosa Maria Neves Lima, mestiça e filha de escrava. Foi educada nos moldes aristocráticos das crianças da elite; teve como padrinho o Duque de Caxias; estudou português, cálculo, francês e religião com o Cônego Trindade; foi aluna do Maestro Lobo e aos 11 anos compôs uma cantiga de Natal: “Canção dos Pastores”.

Apesar da rígida educação aristocrática, teve relativa liberdade para frequentar outros ambientes, como as rodas de lundu, umbigada e outros ritmos africanos, atraída por uma identificação musical com os negros escravos. Aos 16 anos foi obrigada a se casar com Jacinto Ribeiro do Amaral, oficial da Marinha. Como presente de casamento, ganhou um piano. A partir daí passou a compor valsas e polcas, para desagrado do marido. Em seguida nasceram o filho João Gualberto (1864) e a filha Maria do Patrocínio (1865). O marido tornou-se sócio do Barão de Mauá na exploração de um navio para transportar escravos, armas e soldados para a Guerra do Paraguai. Ela participou de algumas dessas viagens, nas quais ficava reclusa no camarote com ordens expressas do marido para não se envolver com música. Contrariada, voltou para a casa dos pais, e não foi apoiada pela família. Ao constatar sua terceira gravidez, voltou a viver com o marido. Em 1867 nasceu o filho Hilário e o casamento desabou de vez.

A separação causou tumulto na sociedade, trazendo-lhe, além do sofrimento, a separação dos filhos mais jovens imposta pelo marido. Ficou apenas com o filho mais velho e passou a refazer a vida na música. Pouco depois, reencontrou um antigo namorado, o engenheiro João Batista de Carvalho e foram morar numa fazenda em Minas Gerais. Em 1876 nasceu a filha Alice, mas logo descobriu que o novo marido andava traindo-a e desfez o casamento. Voltou para o Rio de Janeiro e passou por uns perrengues, vivendo de aulas particulares de piano ou tocando em lojas de instrumentos musicais e compondo polcas, valsas, tangos e cançonetas. Nessa época juntou-se a um grupo de músicos de choro e teve que adaptar o piano ao gosto popular. Com isto tornou-se a primeira compositora popular do País.

Seu primeiro sucesso musical se deu em 1877, com o animado choro “Atraente”. A repercussão no métier carioca, levou-a ao teatro de variedades. Passou a se envolver com a política em prol da abolição da escravidão, pelo fim da monarquia. A carreira como maestrina se deu em 1885 com a opereta “A Corte na Roça”. O enredo tratava de costumes do interior do país e teve o texto censurado pela polícia, que alterou alguns versos. Nos ensaios, um delegado ameaçou cortar a dança final, ponto forte da peça. No mesmo ano, dirigiu os músicos do teatro e a banda da Polícia Militar, tornando-se a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. Por essa época participou da Confederação Libertadora, angariando fundos para a organização antiescravista. Em 1888 comprou a alforria do escravo e músico José Flauta, antecipando-se poucos meses à Lei Áurea. Como compositora, o ponto alto se deu em 1899 com a marcha-rancho “Ô Abre Alas”, composição feita a pedido do cordão “Roda de Ouro”. Foi o maior sucesso do carnaval naquele ano. Sua letra expressa uma ânsia de libertação, um hino à independência de novas formas de expressão: Ô abre alas que eu quero passar / Eu sou da lira não posso negar”

Neste ano, conheceu o jovem português João Batista Fernandes Lage, talentoso aprendiz de música, por quem se apaixonou e foi correspondida. Ela com 52 anos e ele com apenas 16 não podiam manter o romance aberto. Além dos filhos, que não aceitariam o enlace, havia o preconceito enraizado na sociedade. Tal relação afetaria, inclusive, sua brilhante carreira artística. O problema foi solucionado de um modo simples: adotou o rapaz como filho e registrou em cartório. Por volta de 1900 conheceu a irreverente artista Nair de Tefé, a primeira caricaturista mulher do mundo, também boêmia, da qual se tornou grande amiga. Tal convivência certamente ajudou-a a tomar a decisão viver sua vida amorosa mais livre. Assim, em 1902, o casal foi morar em Lisboa e passaram alguns anos felizes morando longe do falatório da gente do Rio de Janeiro. Aproveitou para conhecer toda a Europa e em 1906 já era conhecida do público português ao musicar várias peças lisboetas. Voltou ao Brasil somente em 1912 sem levantar suspeita alguma de viverem como casal. Ela nunca assumiu, de público, o romance, que só foi descoberto após sua morte através de cartas e fotos. No entanto, seus filhos tinham conhecimento do fato e acabaram aceitando o relacionamento.

Logo no retorno ao Rio, emplacou mais um grande sucesso com a opereta “Forrobodó”, que estreou em 1912, batendo o recorde de permanência em cartaz atingindo 1500 apresentações. A peça – uma proposital caricatura dos bailes da elite brasileira – foi um grande sucesso popular e um dos maiores do Teatro de Revista do Brasil. Pouco depois sua amiga Nair de Tefé torna-se primeira-dama do Brasil, ao casar-se com o presidente da República Hermes da Fonseca. Desse modo, tornou-se frequentadora habitual do Palácio do Catete, onde, a convite da amiga participou de alguns saraus. Na noite de 26/10/1914, último ano do mandato presidencial, foi convidada para uma audição musical no Palácio, cuja programação incluía autores como Gottschalk e Frans List. Na ocasião tocou o maxixe “Corta-Jaca”, uma música considerada indecente pela igreja e proibida nos salões da elite carioca. A própria Nair de Teffé chegou a acompanhá-la no violão, causando um escândalo entre os presentes. O senador Rui Barbosa não perdoou a ousadia: “Aqueles que deviam dar ao País o exemplo das maneiras mais distintas e de costumes mais reservados elevaram o Corta-Jaca à altura de uma instituição social”, esbravejou no Senado. “Mas o Corta-Jaca de que eu ouvira falar há muito tempo, o que vem a ser ele, senhor presidente? A mais baixa, a mais chula, a mais grosseira de todas as danças selvagens, irmã gêmea do batuque, do cateretê e do samba”.

O “escândalo” causado na época alavancou mais ainda sua carreira e participação no meio artístico. Em 1917, liderou um grupo de escritores e compositores empenhados na fundação da SBAT-Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, tendo o famoso cronista João do Rio como primeiro presidente. Como se vê Chiquinha Gonzaga atraia uma constelação de astros irreverentes, que revolucionaram os costumes da época. Em 1934, aos 87 anos, escreveu sua última composição, a partitura da peça “Maria”. Faleceu em 28/2/1935, ao lado do seu amado, a quem devemos agradecer a preservação de todo seu acervo musical, Seu legado musical consta de músicas para 77 peças teatrais, além de autora de cerca de duas mil composições em diversos gêneros.

Recebeu muitas homenagens ainda em vida. Após sua morte foi reconhecida como a fundadora da música popular brasileira. Seus conterrâneos cariocas prestaram-lhe uma bela homenagem com o enredo “Abram alas que eu quero passar”, pela escola de samba Mangueira, em 1985. Mais tarde, foi a vez da escola de samba Imperatriz Leopoldinense com o enredo “Eu sou da lira, não posso negar” , no carnaval de 1997. Mas o reconhecimento maior veio em 2012, quando o governo instituiu o “Dia Nacional da Música Popular Brasileira”, comemorado em 17 de outubro, dia de seu aniversário. De janeiro a março de 1999, a Rede Globo apresentou a minissérie “Chiquinha Gonzaga”, baseada no livro de Dalva Lazzaroni de Moraes, Chiquinha Gonzaga – sofri, chorei, tive muito amor. Sua principal biografia – Chiquinha Gonzaga; uma história de vida, realizada por Edinha Diniz e publicada em 1962, já teve mais de 10 edições.

Uma visão geral com fotos, entrevistas e partituras podem ser consultadas em seu site oficial Chiquinha Gonzaga 

 


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