Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

José Domingos Brito - Memorial segunda, 22 de fevereiro de 2021

AS BRASILEIRAS: NIÉDE GUIDON (ARTIGO DE JOSÉ DOMINGOS BRITO, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

AS BRASILEIRAS: Niéde Guidon

Niéde Guidon nasceu em Jaú, SP, em 12/3/1933. Arqueóloga criadora do Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, em 1979 e transformado em Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Neste Parque criou também o “Museu do Homem Americano” e o “Museu da Natureza”, em 2018, abertos a visitação pública. Mas seus feitos maiores não foram apenas estes. Sua maior façanha foi ter alargado em mais de 40 mil anos a história da humanidade em solo americano, no Brasil. Trata-se de uma descoberta científica que alguns arqueólogos americanos e europeus vêm relutando aceitar, mas que encontra cientistas dispostos a aceitar suas teses arqueológicas.

Seus primeiros estudos se deram na cidade natal e em Pirajuí, para onde se mudou quando perdeu a mãe aos 6 anos, e em Campinas, onde concluiu o curso colegial. Em 1954 entrou na USP-Universidade de São Paulo e concluiu o curso de História Natural. Foi trabalhar no Museu Paulista, dirigido por Herbert Baldus, que a colocou no Departamento de Arqueologia. Querendo se aprofundar na área e não havendo curso de arqueologia por aqui, foi estudar em Paris. Retornou ao Brasil em 1963 e continuou a trabalhar no Museu Paulista e na USP. No mesmo ano organizou uma exposição de pinturas rupestres e recebeu a visita de um senhor que lhe disse: “Na minha terra tem muitas ‘pinturas de índio’ parecidas com estas”. Ela ficou curiosa e anotou o nome do lugar, São Raimundo Nonato, um lugarejo perdido no sertão do Piauí. Junto com umas amigas foi até lá numa longa viagem de fusca, mas não conseguiram chegar devido a queda de uma ponte.

Em 1964, com o Golpe Militar, perdeu o emprego sem nunca ter se metido em política. Alguém de olho no seu cargo dedurou-a como sendo do Partido Comunista. Voltou à Paris, passou a trabalhar como pesquisadora, fez curso de pós-graduação na Sorbonne; foi professora na École des Hautes Études en Sciences Sociales e desenvolveu uma importante carreira acadêmica em arqueologia. Obteve os maiores títulos da universidade francesa, mas não esqueceu a história dos “desenhos de índios” do Piauí. Em 1973 pode visitar o local junto com seus alunos franceses e ficou deslumbrada com a descoberta da maior concentração de sítios arqueológicos com pinturas rupestres do mundo. Constatou que as pinturas eram mais narrativas, com uma grande quantidade de figuras humanas representadas de modo e gestos diferentes e animais também diferenciados. Segundo ela, “parecia uma história em quadrinhos”.

De volta à Paris entrou em contato com o CNRS-Centre National de la Recherche Scientifique, mostrou fotos do local e ressaltou que era uma região sem nenhuma pesquisa. Assim, conseguiu verba dos franceses para mais uma viagem. Arregimentou colegas da USP para ajudar na empreitada e criou a missão franco-brasileira, dando inicio a exploração cientifica do local. A partir de recursos obtidos junto ao BID-Banco Interamericano de Desenvolvimento, o trabalho resultou na criação do Parque Nacional Serra da Capivara (decreto nº 83.548, de 5/6/1979), com a finalidade de proteger o mais importante patrimônio pré-histórico do País. Mais tarde o Parque foi ampliado (decreto nº 99.143, de 12/3/1990) com a criação de áreas de preservação permanentes de 35 mil hectares. Desde a época em que trabalhou na USP já era amiga do casal Ruth e Fernando Henrique Cardoso, que mais tarde foram grandes apoiadores de benfeitorias no Parque.

Toda essa estrutura tem um sentido maior e deve-se aos estudos arqueológicos iniciados por Niéde, que pretende reescrever a história da povoação das Américas. A teoria mais aceita reza que o homem chegou ao continente pelo estreito de Bering, vindo da Ásia, há 15 mil anos. No entanto, ela achou vestígios no local que datam de mais de 50 mil anos. Os papas da Arqueologia não estão ainda inteiramente convencidos, mas o acúmulo de evidências arqueológicas fortalece cada vez mais suas hipóteses. Pesquisas desenvolvidas no Chile, México e EUA corroboram sua tese. Em 2006 foram divulgadas as pesquisas de Eric Boeda, da Université de Paris, e Emílio Fogaça, da Universidade Católica de Goiás, afirmando que os artefatos encontrados no Parque foram realmente feitos por seres humanos, e possuem idade entre 33 mil e 58 mil anos, contrariando os adversários de sua teoria. Ela acredita que o Homo Sapiens chegou na América, vindo da África atravessando o Atlântico. Conforme explicou: “o mar estava então 140 metros abaixo do nível de hoje, a distância entre a África e a América era muito menor e havia muito mais ilhas”.

O Parque conta com 1.354 sítios arqueológicos cadastrados, dos quais 204 estão abertos à visitação pública. Tais evidências justificaram a criação da FUMDHAM-Fundação Museu do Homem Americano, em 1986, cujo objetivo é buscar a “compreensão do bioma da região, a reconstituição do passado humano e sua adaptação ao meio, nas diferentes realidades ambientais pelas quais passou a região, desde a primeira ocupação.” Desde 1991, o parque integra a lista de patrimônios culturais mundiais da Unesco e em 2003 foi considerado pela ONU como Unidade de Conservação com melhor infraestrutura da América Latina. O Museu do Homem Americano vem acumulando uma quantidade razoável de peças desde meados de 1970, e durante esse tempo tem recolhido também muitos objetos, fósseis e peças referentes a natureza. São animais pré-históricos, como a preguiça e o tatu gigantes, que necessitavam de um ambiente exclusivo. Assim, em 2002 foi projetado o Museu da Natureza, localizado a 30 km. da sede da FUMDHAM.

Trata-se de um moderno museu instalado no sertão. Na inauguração, em 18/12/2018, a revista “Veja” dedicou-lhe extensa reportagem com o título: “O óvni no meio da caatinga”, dado sua aparência arquitetônica, uma estrutura de aço e vidro de quatro mil metros quadrados em forma de mandala high-tech. O que se pretende é que o museu seja autossustentável, e para isso é preciso que os governos estimulem o turismo na região. Na opinião de sua criadora, a preservação de todo o Parque só será possível com a exploração turística do local. No momento faltam condições de acesso e infraestrutura adequadas.

Desde 1992 vive em São Raimundo Nonato cuidando do Parque e aos 88 anos, com dificuldades de locomoção, tem anunciado que vai se aposentar. Com quase 60 anos de dedicação exclusiva ao Parque Nacional, museus arqueológicos e expressiva contribuição científica, foi homenageada em diversas ocasiões, não obstante continuar sendo uma ilustre desconhecida pela maior parte do povo de seu País: “Mulher do Ano 1997”, pela revista Claudia, da Editora Abril; “Prêmio Faz Diferença” (2005) pelo jornal O Globo; “Prêmio Tejucopapo”, pela revista Nordeste 21; “Medalha Comemorativa dos 60 anos da Unesco”, (2010); “Medalha de Ouro” na premiação para a cultura ‘Herity Italia” (2010); “Prêmio da Fundação Conrado Wessel” (2013); “Prêmio Itaú Cultural 30 Anos” (2017). De todos estes prêmios, o que ela gostaria mais é ver o Parque sendo visitado pelos turistas de todo o mundo. Ela tem convicção e conhecimento de causa e efeito para achar que a “melhor forma de preservar é trazer turistas e desenvolver a região”.

 

 

 


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