Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

José Domingos Brito - Memorial terça, 07 de dezembro de 2021

AS BRASILEIRAS: OLÍVIA PENTEADO

 

AS BRASILEIRAS: Olívia Penteado

José Domingoa Brito

 


 

 

Olívia Guedes Penteado nasceu em Campinas, SP, em 12/3/1872. Escritora e mecenas dos artistas da Semana de Arte Moderna de 1922. Integrante da aristocracia paulista, foi apelidada de “Nossa Senhora do Brasil”, pelos modernistas. Batalhou pelo voto feminino, promoveu a eleição da 1ª mulher deputada federal (Carlota Pereira de Queiroz) e participou ativamente da Revolução Constitucionalista de 1932, em São Paulo.

 

Filha de José Guedes de Souza e  Carolina Álvares Guedes, casou-se com seu primo Ignácio Penteado, irmão do conde Álvares Penteado, em 1888, e foi viver em Paris, onde fez de sua casa um importante ponto de encontro cultural e conheceu aluguns dos protagonistas do movimento modernista brasileiro, que por lá “flanavam”. Antes de conhecer os modernistas costumava receber os poetas parnasianos, tais como Olavo Bilac e Alberto de Oliveira. Em 1923, ao ficar viúva, voltou a viver em São Paulo e reuniu a nata da intelectualidade paulista em sua casa. Em seguida, criou o “Salão de Arte Moderna”, instituindo o “Modernismo” na cultura brasileira. Na condição de colaboradora da revista “Contemporânea”, veículo lisboeta de divulgação dos modernistas portugueses, tornou-se correspondente da revista no Brasil.   

 

Em São Paulo sua mansão -ocupando a esquina das ruas Duque de Caxias e Conselheiro Nébias (onde hoje fica o Hotel Comodoro)-  foi projetada por Ramos de Azevedo e foi reformada incluindo um pavilhão para abrigar as obras de arte. A pintura do teto foi refeita por Lasar Segal, tendo em vista uma melhor adequação com as “artes modernas”. Contava com uma bela coleção de obras de arte, incluindo o fantástico Le Polichinelle lisant “Le Populaire”, de Picasso; a escultura “Négresse Blonde”, de Brancusi e obras de Delanay, Foujita, Cézanne, Degas, Marie Laurencin, Brecheret, Portinari, Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral entre outras

 

As reuniões semanais reunia uma plêiade de artistas e escritores daqui e de fora. Em 18/2/1924 o “Correio Paulistano” noticiou: "A sociedade paulista, que tem em D. Olívia Guedes Penteado uma das figuras de mais fino relevo e mais aristocrática tradição, festejou anteontem o notável escritor francês Blaise Cendrars, que teve na fidalga residência da Rua Conselheiro Nébias um acolhimento de excepcional elegância e de inexcedível fidalguia e intelectualidade". Tais encontros e reuniões incluía também o chá das terças-feiras e os grandes jantares nos salões de décor clássico frequentados pela elite paulistana, incluindo, é claro, os protagonistas da Semana de Arte Moderna.

 

Blaise Cendrars ficou amigo dos modernistas e veio outras vezes à São Paulo. Numa dessas viagens juntou-se a um grupo de paulistas para visitar as cidades históricas de Minas Gerais. Participaram da excursão: ela, Mário e Oswald de Andrade e seu filho Noné, René Thiollier e Tarsila do Amaral. O poeta francês ficou encantado com as obras de Aleijadinho e Dona Olívia ficou indignada com o estado de abandono das igrejas. De volta à São Paulo, ela decidiu criar a “Sociedade dos Amigos dos Monumentos Históricos do Brasil”, cujos estatutos foram redigidos pelo poeta em um “chá das cinco” e logo foram inscritos não apenas os que viajaram à Minas, bem como Carlos de Campos, recém-empossado presidente do Estado e outras personalidades presentes na solenidade do chá.

 

Esse turismo cultural, promovido por ela, denominado por Mario de Andrade “viagens de descobrimento do Brasil”, alcançou o carnaval do Rio de Janeiro e chegou até à Amazônia, em 1927, numa viagem de navio subindo o rio Solimões até Iquitos, no Peru. Estas excursões ficaram registradas nas poesias de Oswald de Andrade (Pau Brasil), Mário de Andrade (Noturno de Belo Horizonte) e em pinturas de Tarsila do Amaral. Mas nem só de arte vivia a aristocracia paulista. Na Revolta Paulista de 1924, ou segunda revolta tenentista, São Paulo foi tomada por canhões e o poeta Cendrars, que participara da I Guerra Mundial, onde perdeu um braço, deu-lhe orientações como proteger a casa e sua coleção.   

 

Em 1932 passou a integrar o Instituto Geográfico e Histórico de São Paulo e no mesmo ano participou da Revolução Constitucionalista de 1932, ajudando os feridos e as famílias dos combatentes na condição de Diretora do Departamento de Assistência Civil. Prestou substancial ajuda ao movimento doando valiosas joias à “Campanha de Ouro para o Brasil”, necessária à manutenção das frentes de combate. Por essa época estimulou e patrocinou a candidatura de Carlota Pereira de Queiroz, a primeira mulher a se eleger deputada no Brasil. Foi uma mulher à frente de seu tempo e transitou bem entre dois séculos e duas estéticas. Faleceu em 9/6/1934 de apendicite. Foi sepultada no Cemitério da Consolação e seu túmulo conta com uma escultura -O Sepultamento- feita por Victor Brecheret. O filho de seu genro, Goffredo da Silva Telles Jr., lembra que ao levar o caixão embandeirado ao carro dos bombeiros “sentimos um movimento do povo, uma aproximação compacta de gente, em torno de nós (...) E então vimos o total inesperado. O povo silenciosamente se assenhorou do esquife embandeirado. Homens desconhecidos, segurando as alças do féretro, puseram se a caminho. E o levaram, na força de seus braços, pelas ruas de São Paulo”.

 

Foi descrita com uma mulher sensível, bela, boa e de uma elegância soberana. Seu retrato (106 x 135 cm.) foi pintado, em 1911, por Henri Gervex e encontra-se exposto na Pinacoteca do Estado. Em 2002 o Museu de Arte Brasileira, da FAAP-Fundação Armando Alvares Penteado, realizou a exposição “No tempo dos modernistas: Dona Olívia Penteado, Senhora das Artes” e lançou o livro homônimo, organizado por Denise Mattar e Aracy A. Amaral. Um belo relato de sua trajetória e época, que pode ser visto no link Sesc São Paulo - Olívia Guedes Penteado - Revistas - Online (sescsp.org.br)


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