Chamei Zé e Damião
Rosa, Maria e Joaquina
Pedro, Zéfa, e Severina
Antonio e Sebastião
Fomos todos pra o grotão
Com saco, balaio, enxada,
A jumenta encangalhada
Pra que se dê o confronto
Acho que está tudo pronto
Pra fazer a farinhada.
Uns vão quebrando a maniva
Outros puxando a touceira,
Não arranque a macaxeira
Nem a mandioca nativa,
Que essa a gente cultiva
Pra depois da invernada
Agora, não rende nada,
Então não vamos mexer
Pois tem que amadurecer
Pra fazer a farinhada.
Rosa repara o rodeite
O caititu, fuso e fio,
Pra ficar tudo macio
Coloca sebo e azeite,
Ou Pedro você ajeite
A lenha que está molhada
Nela dê uma esquentada
Deixe o forno que eu atiço
Faz parte do meu serviço
Na hora da farinhada.
Joaquina lava a gamela
Severina arruma a prensa
Zé Damião vê se imprensa
Que a massa está amarela
Deixa no pote e panela
A manipueira guardada
Estando a goma assentada
Escorre, enxuga e entoca,
Para se fazer tapioca
Durante essa farinhada.
Rosa vem para engenhoca
Mas, tenha muito cuidado,
O rebolo é amolado
Veja se nele não toca
Na ceva da mandioca
Tem que está bem concentrada
Pois se estiver descuidada
Logo irá se machucar
E não pode continuar
Na luta da farinhada.
Com a tora junto ao fuso
Aperte mais o brinquete
Até que saia um filete,
Porém não cometa abuso,
Pra que não fique confuso
Depois vá lá na latada
Traga uma faca afiada
E as embiras no bisaco
Que é para amarrar o saco
No final da farinhada.
Junta toda a “cabroeira”
Para raspar mandioca,
Sebastião tu mesmo toca
A roda que está maneira,
Zefa fica na peneira
Quero a massa bem quebrada
Ficando bem peneirada
Como a regra determina
Teremos farinha fina
Ao longo da farinhada.
Zefa limpe o caititu
Que já findou a moenda,
E depois para a merenda
Venha aprontar um beiju
Lá na moita de bambu
Tem uma sexta amarrada
Dentro tem carne salgada
Asse e traga bem quentinha
Pra cabroeira todinha
Se fartar na farinhada.
O forno já está quente
Joga a massa e pega o rodo
Que eu quero aproveitar todo
O calor do ambiente
Dou um pouco de aguardente
Para essa turma animada
A quantia é limitada
Pra ninguém se embebedar
E venha a prejudicar
O fluir da farinhada.
Quando a farinha está pronta
Logo entrego a encomenda
Lá para o dono da venda
Para pagar minha conta.
Depois que tudo desconta
Não me sobra quase nada
E assim que a conta é somada
Com o que sobra pago ao povo
E conto com eles de novo
Para a próxima farinhada.