Todo início de ano serve para se redimensionar ações, atitudes e comportamentos. Reestruturar é o verbo mais conjugado, ainda que uma minoria prossiga conjuminando-o num modo sempre amanhã, como se o agora jamais dele se ressentisse. Em plena pandemia da COVID-19, vigente e sem vacinas, inúmeros dirigentes econômicos se olvidam de uma notável advertência do economista nordestino Celso Furtado, aqui não sendo listados os que, em mandatos maiores, não entendem da chita nem um tiquinho: “Não podemos fugir à evidência de que a sobrevivência humana depende do rumo de nossa civilização, primeira a dotar-se dos meios de autodestruição. Que possamos encarar esse desafio sem nos cegarmos, é indicação de que ainda não fomos privados dos meios de sobrevivência. Mas não podemos desconhecer que é imensa a responsabilidade dos homens chamados a tomar certas decisões políticas no futuro. E somente a cidadania consciente da universalidade dos valores que unem os homens livres pode garantir a justeza das decisões políticas ” (Celso Furtado ).
Percebe-se, sem qualquer esforço, que a sociedade civil brasileira, hoje cambaleante entre uma expressividade oportunista e uma politização incompleta, necessita revigorar-se, como alicerce, para uma nova edificação estrutural, a chicotada do australiano Robert Hughes, sendo mais que oportuna: “A velha divisão de direita e esquerda acabou se assemelhando mais a duas seitas puritanas, uma lamentosamente conservadora, a outra posando de revolucionária mas usando a lamentação acadêmica como maneira de fugir ao comprometimento no mundo real “.
Dever dos mais conscientes é militar por um 2021 repleto de muita cidadania, para a felicidade geral e soberana sobrevivência do todo nacional, com vacinas aplicadas em todo território, sem esbanjar energias com penduricalhos inúteis e projetos populistas de bolorentos ontens.
Para os primeiros dias deste janeiro ainda sem qualquer programação vacinal instituída por uma tecnocracia embasada de muita incompetência, onde o branco dos aventais se curva diante do verde e do coturno, pediria vênia para recomendar com muito entusiasmo a leitura de dois livros indispensáveis para quem busca entender o atual panorama mundial. A ordem é meramente aleatória, sem qualquer preferência:
1. O NAUFRÁGIO DAS CIVILIZAÇÕES, Amin Maalouf, São Paulo, Vestígio, 2020, 253 p.
As páginas refletem uma análise profunda sobre o nosso tempo para entender as três feridas do mundo moderno: as conflitos identitários, o islamismo radical e o ultraliberalismo.
Segundo o Financial Times, “Maalouf é exatamente o tipo de interlocutor necessário ao período atual. Ele penetra profundamente em veios inexplorados da história cultural, escavando elegantemente e desafiando os clichês e o senso comum.”
Os livros do Maalouf já foram traduzidos para mais de cinquenta idiomas. E ele foi eleito, em 2011, para a Academia Francesa, ocupando a cadeira que pertenceu a Claude Lévi-Strauss.
O livro citado possui um posfácio do autor para a edição brasileira.
2. SEM DATA VENIA: UM OLHAR SOBRE O BRASIL E O MUNDO, Luís Roberto Barroso, Rio de Janeiro, História Real (intrínseca), 2020, 272 p.
O autor, ministro do Supremo Tribunal Federal, atualmente também presidente do Tribunal Superior Eleitoral, analisa a atual situação brasileira, a partir de uma reflexão sua pra lá de significativa: “A elevação pública e da ética privada no Brasil é trabalho para mais de uma geração. A notícia boa é que começou.”
O livro é composto de três partes, além da Introdução: I – Uma visita ao passado; II – Um olhar para o mundo; III – Um olhar sobre o Brasil.
Nas páginas finais, uma declaração de muita coragem: “O Brasil vive um momento difícil e complexo. Além disso, encontra-se dividido, polarizado, com discursos agressivos de parte a parte. Devemos buscar consensos mínimos, capazes de aglutinar as pessoas em torno de alguns denominadores comuns patrióticos.”
O ministro propõe três grandes pactos: um Pacto de Integridade, um Pacto de responsabilidade fiscal, econômica e social, e um Pacto pela educação.
Leituras que fortalecem a cidadania brasileira e consolidam uma militância em prol de uma humanidade mais fraterna, justa socialmente e mais civilizada.
SABENDO LER MAIS, PARA SER BRASILEIRO CAPAZ, SEM MAS-MAS-MAS.