Se o que vou contar, notícias publicadas em jornal sulista de fino trato, acontecessem num dos estados nordestinos, seria motivo de muita chacota do sul-maravilha. Eis a síntese do fato primeiro: algumas quarentonas “emergentes” da elite paulista, às vezes classificada de influenciadoras diante das cafonices praticadas em nome de uma pseudomodernidade, estão se auto presenteando com flores, cartões e outdoors elogiosos, para despertar ciumadas dos maridos, namorados e enfiantes, numa estratégia de revalorização pessoal diante das relações estremecidas com os pobres coitados. Uma delas, mais porra-louca que as demais, andou pichando muros, enviando mensagens via Internet, deixando “recados” na secretária eletrônica do infeliz ricaço, até contratando vozes sensualmente másculas para indagarem viva voz sobre seus desejos mais íntimos e locais de preferência para uma transa legal.
Duas páginas adiante, em contraponto de mesmo calibre, um segundo fato: idiotão do leste, metido a empresário, 55 anos de idade, conta bancária com taludos reais e cavalheirismo de centavos, reproduz alto e bom som numa entrevista televisada, como se fosse o máximo, as razões de estar com uma nova companheira: “Um dia você acorda, olha para o lado e testemunha aquele monstro na sua cama. O monstro se espreguiça, boceja com a boca arreganhada e se levanta toda pesadona. Tive que inventar outra mulher para me livrar daquela. Não conseguia nem olhar mais para a cara feia da sujeita”.
Duas situações, uma masculina e outra feminina, reveladoras do atual nível de bostalidade cultural da classe granfa brasileira, que parece ter perdido o senso de ridículo, o respeito pela Vida, jogando na lata do lixo a bússola da serenidade comportamental para com os desafortunados, idosos e fisicamente alquebrados.
Numa sociedade hedonista, ávida em ser notícia de qualquer maneira, que se futiliza em pérfidos níveis de consumo, onde uma classe emergente procura tresloucadamente um “algo mais” para se promover e aparentar ter menos idade, não é tarefa difícil deparar-se com outras bobajadas dinossáuricas como as acima mencionadas.
Pouco importando as releituras e reciclagens necessárias para enfrentar com saudável criatividade as novas e dinâmicas realidades primeiromundistas, homens e mulheres disputam, mesmo com a atual tragédia gaúcha, o troféu Kimerda, classe ouro, pouco se lixando para os amanhãs trágicos que também advirão para todos eles.
Mais cedo ou mais tarde os truques mandarão as contas. E muitos dos que se imaginavam tampas-de-foguete perceberão logo o significado de um dos mais notáveis provérbios iídiches: “Para o verme num rabanete, o mundo inteiro é um rabanete”. E poderão, então, reiniciar-se socialmente, sempre atentos para o alerta do Luiz Berto, autor do engraçadíssimo e muito lúcido O Romance da Besta Fubana: “Pode-se perdoar tudo num ser humano, menos que não bote força para deixar de ser burro”.
Mas inúmeros outros, a grande maioria talvez, continuarão sobrevivendo como os dois exemplos acima, vegetando e ruminando pela vida afora, abanando orelhas e rabos, imaginando-se donos absolutas do pedaço, como se tudo eternamente ficasse, lindamente, nos devidos lugares por eles desejados.
Quem bem evita comportamentos bbbósticos, saberá defenestrar posicionamentos imbecilizantes, do tipo como usar cuecas e porta-seios por cima das calças e blusas.