Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo sábado, 02 de setembro de 2023

CAPELA NA ROCHA: CONHEÇA AS HISTÓRIAS DOS 60 ANOS DO TÚNEL DE SANTA BÁRBARA

 

Por 
Carmélio Dias 
— Rio de Janeiro

 

Em maio de 1948, uma solenidade marcou a remoção da primeira pedra que abriria caminho para a construção do túnel projetado para ligar o Catumbi, no centro, a Laranjeiras, na Zona Sul do Rio. A promessa, na ocasião, era de que a obra seria concluída em 14 meses. Levou 15 anos: a via foi entregue aos cariocas apenas em julho de 1963. A história de sua abertura é marcada por idas e vindas bem familiares: longas interrupções, aditivos ao orçamento original, polêmica por conta do impacto nos dois bairros conectados e, sobretudo, pela trágica morte de 19 trabalhadores.

Administrado pela CET-Rio, o Túnel Santa Bárbara — um dos mais importantes da cidade e sem o qual é difícil imaginar o trânsito no Rio de hoje — chega aos 60 anos percorrido, diariamente, por 95 mil veículos, entre os quais ônibus de 12 linhas. Até pouco antes da sua inauguração, era chamado apenas de túnel Catumbi-Laranjeiras. O nome de Santa Bárbara — padroeira dos que trabalham em túneis e minas — foi dado em homenagem aos operários que perderam a vida durante sua construção. Em apenas um episódio, em 1951, cinco pessoas morreram após desmoronamento causado por explosivos que eram usados para abrir caminho em meio à rocha.

No local onde ocorreu a explosão, acima de onde hoje passam as pistas do túnel, abriu-se um grande vão, semelhante a uma gruta. O ponto teve que receber reforço estrutural para que as obras continuassem. Anos depois foi construída ali uma capela em homenagem aos mortos na obra, onde seus nomes estão gravados juntamente com a frase: “Tu que passas por este caminho que a nossa morte abriu no seio da pedra, pede a Santa Bárbara que tenhamos a vida no seio de Deus.”

— É um trabalho excepcional. Foi concebido, desenhado, por Djanira, e os azulejos foram pintados um a um pelo ceramista Adolpho Soares e sua esposa Anna Soares Mandecher, que, embora não tenha sido creditada, foi fundamental — conta o historiador e arquiteto Nireu Cavalcanti.

Houve quem visse na capela, com sua obra de arte famosa, a oportunidade de transformar o túnel em atração turística. Aos sábados e domingos, dias de menor movimento, o tráfego em uma das pistas no sentido Laranjeiras-Catumbi, onde fica a estreita escada que dá acesso à gruta, seria interrompido para possibilitar a chegada de visitantes. O projeto, claro, não foi adiante.

Em 1985, o painel, com seus dez mil azulejos, foi retirado do local. O ambiente extremamente úmido no interior da gruta estava deteriorando a pintura. Depois de passar anos encaixotada, a obra — na qual se vê Santa Bárbara ao centro, ladeada por anjos e trabalhadores — foi remontada no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), onde permanece até hoje.

— O museu é o maior detentor de obras da Djanira. A gente tem cerca de 800 criações dela, então é muito bom que o painel esteja aqui e preservado. Nossa ideia é, em breve, transportá-lo para a área externa do prédio, para que possa ser ainda mais apreciado por todos — revela Daniela Matera, diretora do MNBA.

Antes da retirada do painel da capela, ganhou forma um movimento para que o trabalho fosse exposto em uma praça do Catumbi. Seria uma forma de compensar o estrago: o antigo bairro carioca sofreu impacto severo com a abertura do túnel e a construção do Viaduto Trinta e Um de Março.

 

Um bairro desfigurado

 

Laranjeiras, na outra ponta, também sofreu intervenções importantes, como a construção do viaduto Engenheiro Noronha e a desapropriação de casas, mas nada se compara ao que aconteceu no Catumbi. O bairro, de origem aristocrática, perdeu ruas inteiras e, com elas, parte da história e da atmosfera da vizinhança — onde ficava, por exemplo, a chamada “zona do agrião”, terreno fértil para o samba e outras manifestações culturais.

— O túnel e o viaduto dividiram o bairro. Na verdade, o Catumbi é um bairro importantíssimo para a história do Rio. Importante para a história do samba, das comunidades negras, fundamental para a história do carnaval por conta do (bloco) Bafo da Onça, um bairro que tinha uma comunidade cigana muito forte. Acabaram com o bairro. Difícil imaginar a cidade hoje sem o túnel, é uma necessidade, mas o preço social e cultural foi alto — diz o professor de História, escritor e compositor Luiz Antonio Simas.

Apresentado à época como um túnel moderno, ventilado e iluminado, o Santa Bárbara logo ganhou má fama. Na década de 1980 chegou a ser considerado o mais poluído da América Latina. A solução veio apenas em 1992, quando um muro no meio das quatro pistas foi instalado para dispersar a fumaça dos carros.


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