Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Carnaval Brasileiro terça, 17 de maio de 2022

CARNAVAL BRASILEIRO
CARNAVAL BRASILEIRO

Raimundo Floriano

 

 

 

                        Oh! Quanta saudade me dá!

 

                        Como diz a marchinha, O Terceiro Homem, de Arlindo Marques Jr. e Roberto Roberti, gravada por Nélson Gonçalves, para o Carnaval de 1953: “Colombina vai ao baile com o Palhaço, porém dança com o Pierrô até fim, mas, na hora de ir pra casa, ela vai com Arlequim.”

 

                        São personagens que surgiram no Teatro Popular da Itália, no Século XVI, onde o Palhaço era um tipo cômico, e a Colombina, geralmente serva ou mpregada de alguma dama, caracterizava-se como moça inteligente e linda, amada pelo romântico Pierrô, mas apaixonada pelo malandro Arlequim.

 

                        Essas fantasias sempre dominaram o Carnaval Brasileiro, desde o início, mas, no que se refere à Música Carnavalesca, a história é bem outra.

 

                        No começo, existia apenas o entrudo, com os foliões saindo pelas ruas a jogar água, talco e até mijo nas pessoas que encontravam. Nem música havia! No máximo um bombo, com a batida pam, pam, pam – pam – pam-pam-pam, a que davam o nome de Zé Pereira. Apenas em 1869, após a apresentação, no Rio de Janeiro, da peça francesa Les Pompiers de Nanterre, os cariocas se apoderaram de uma de suas melodias e adaptaram-na à mencionada batida do bombo, surgindo, assim, no Carnaval de 1870, a marchinha Zé Pereira, primeira música carnavalesca de que se tem notícia. Logo, se tudo mudou, mudou para melhor!

 

                        Por isso, vou comentar as mudanças, tachando-as, nem de boas, nem de más, ou as metamorfoses sofridas por essa linda festividade. O tempora, o mores!  Ó tempos, ó costumes! Essa exclamação de Cícero, na Primeira Catilinária, se adapta a nosso Carnaval, desde que foi inventado.

 

                        Muitos grandes compositores, em diferentes épocas, cantaram o Carnaval de antigamente. Na marchinha, quase tudo o que fala de pierrô, colombina e arlequim se refere aos tempos idos, de saudade. No frevo, tivemos Edgar Moraes, com suas marchas-regresso falando no outrora, e Nélson Ferreira, com suas Evocações, cultuando valores do passado, o que o americano denomina preservation, preservação de nossa memória, da qual é o mais legítimo baluarte o recifense Bloco da Saudade. No samba, os exemplos são múltiplos, como veremos uma pequena parte a seguir.

 

                        Em 1943, o compositor Angenor de Oliveira, mais conhecido como Cartola, supostamente já pertencia ao pretérito. Assim dizia o samba Saudade da Mangueira, de Herivelto Martins, gravado pelo Trio de Ouro:

 

Tenho saudade da Mangueira

Daquele tempo em que eu batucava por lá

Tenho saudade do terreiro da escola

Sou do tempo do Cartola

Velha Guarda, o que é que há?

(O que é que há?)

Eu sou do tempo em que o malandro não descia

Mas a polícia no morro também não subia

 

Ai, Mangueira, minha saudosa Mangueira

Depois que o progresso chegou

Tudo se transformou e Mangueira mudou

Já não se samba mais à luz do lampião

E a cabrocha não vai pro terreiro de pé no chão

 

                        No ano 1947, Cartola era pretérito-mais-que-perfeito, como registrou Pedro Caetano em Onde Estão os Tamborins?, gravação de Quatro Ases e Um Curinga:

 

Mangueira

Onde é que estão os tamborins ó nêga

Viver somente de cartaz não chega

Põe as pastoras na avenida

Mangueira querida

 

Antigamente havia grande escola

Lindos sambas de Cartola

Um sucesso de Mangueira

Mas hoje, o silêncio é profundo

E por nada deste mundo

Eu consigo ouvir Mangueira

 

                        Em meados dos Anos 1950, Cartola foi redescoberto pelo jornalista Sérgio Porto, o genial Stanislaw Ponte Preta, que o encontrou lavando carros numa garagem de Ipanema e trabalhando à noite como vigia de edifícios. Stanislaw levou-o para cantar na Rádio Mayrink Veiga e arranjou-lhe emprego no jornal Diário Carioca. Em 1964, Cartola e Dona Zica, sua mulher, abriram, na Rua da Carioca um restaurante ao qual deram o nome de Zicartola. Daí pra frente, ele foi sucesso enquanto viveu, ou seja, o passado de olvido se transformou em futuro brilhante.

 

                        Esse bamba, que foi um mangueirense de fibra, da gema, da pesada, merecia, nas comemorações de seu centenário, em 2008, ter sido enredo da Mangueira, da qual foi um dos fundadores, ou de qualquer outra Escola, pois sempre “encarnou a alma sonora do samba”, sendo um de seus Mestres, juntamente com Nélson Cavaquinho Carlos Cachaça e Clementina de Jesus.

 

                        Reportando-me à TV, fico sempre impressionado com a magnitude do Galo da Madrugada, no Recife, arrastando imensurável multidão, e o estonteante, apoteótico e deslumbrante efeito visual produzido pelo desfile das Escolas de Samba, confirmando ser, sem dúvida, o Maior Espetáculo da Terra. Dinheiro a rodo vazou ali pelo ladrão. Nem na Disney, movida a dólar, se faz coisa igual.

 

                        No Carnaval de 1982, diante do gigantismo e poderio monetário de cada Escola, a Império Serrano lavrou, com Bum, Bum, Paticumbum, Prugurundum, de Beto Sem Braço e Aluísio Machado, este protesto, na voz do sambista Quinzinho:

 

..........

Superescolas de Samba S. A.

Superalegorias

Escondendo gente bamba

Que covardia

..........

                        Escondendo gente bamba! Frase de grande inspiração!

 

                        O que eu queria ver na Televisão eram os pés-de-cobra! Cobra anda, não anda? Então, ela tem pé! Para mim, os pés-de-cobra no carnaval são os músicos de sopro. Assim como o período junino é propicio para que os forrozeiros ganhem seu dinheirinho, o Carnaval é o tempo das vacas gordas para os músicos de sopro. Aquele fenomenal desfile do Galo da Madrugada estava coalhado de orquestras a mandarem brasa no frevo para o povo curtir e pular. Com um detalhe: a TV não as mostrou.

 

                        Como eu estaria aqui guardando as melhores recordações do Carnaval Televisivo de todos os anos, se esses anônimos pés-de-cobra, aos quais tanto me dedico em minhas pesquisas, tivessem aparecido na telinha, 10 segundos se muito, mostrando sua arte e deliciando-nos com seus maviosos sons!

 

                        Gente como esta, da qual pincei a foto no Jornal da Besta Fubana, e que é um valioso sustentáculo de nossa Memória Musical, preservando e difundindo, entusiasticamente, a Música Popular Brasileira:

 

Orquestra Usina do Frevo - Recife

 

                        Dei por encerrada minha pesquisa musical carnavalesca no ano de 1996, anotando em meu acervo a última marchinha do gênero, Xô, Satanás de Durval Lelys, Marcelo Brasileiro e Renato Galego, gravada pelo Conjunto Asa de Águia. De lá para cá, em meu entender, nada mais se compôs digno de registro.

 

                      Mas nem tudo está perdido. Dede que comecei a aprender a tocar trombone, isso em 1972, comecei a guardar as partituras carnavalescas que os órgãos arrecadadores de direitos autorais distribuíam anualmente, com os músicas recém lançadas e sucessos do passado. Na era digital, escaneei-as e, com o auxílio do Maestro Antônio Gomes Sales, consegui um precioso acervo de 1.840 peças, sendo 920 para o naipe de pistom, clarineta e sax tenor, e 920 correspondentes, para o naipe de trombone e sax alto.

 

 

 

                        Anualmente, nos meses próximos ao Carnaval, começam a me chegar mensagens de bandas, conjuntos e músicos individuais do Brasil e do Exterior, solicitando o envio dessas partituras para incrementarem o festejo momesco de suas cidades.

 

                        Visando a atender a todos, disponibilizei, e meu álbum de fotos do Facebook, as partituras das 100 marchinhas e dos 100 sambas carnavalescos mais tocados e cantados de todos os tempos, para ambos os naipes, totalizando 400 peças. Os links para baixá-las encontram-se aqui neste Almanaque, na seção denominada Partituras Carnavalescas.

 

                        Para matar as saudades de vocês, postarei, a seguir, todas as música acima citadas, maia a marchinha A Jardineira, por mim considerada a composição carnavalesca mais bonita de todos os tempos.

 

                        Zé Pereira, marcha, Adaptação de Correa Vasques, com a Orquestra Tabajara, de 1870, gravada em 1922:

 

 

                        O Terceiro Homem, marchinha de Arlindo Marques Jr. e Roberto Roberti, gravada por Nélson Gonçalves, para o Carnaval de 1953:

 

 

                        Evocação Número 1 (Felinto), frevo de bloco de Nélson Ferreira, com o Bloco Batutas de São José, gravado para o Carnaval de 1957:

 

 

                        Saudade da Mangueira, samba de Herivelto Martins, com o Trio de Ouro, gravação para o Carnaval de 1954:

 

 

                        Onde Estão os Tamborins?, samba de Pedro Caetano, com os  Quatro Ases e Um Curinga, gravação para o Carnaval de 1947:

 

 

                        Bum, Bum, Paticumbum, Prugurundum, samba de enredo de Beto Sem Braço e Aluísio Machado, da Império Serrano, gravação de Roberto Ribeiro para o Carnaval de 1982:

 

                                Xô, Satanás, marchinha de Durval Lelys, Marcelo Brasileiro e Renato Galego, gravado pelo Asa de Águia para o Carnaval de 1996:

 

 

                        A Jardineira, marchinha de Benedito Lacerda e Humberto Porto, gravação de Orlando Silva para o Carnaval de 1939:

 

 

 

 

 


Escreva seu comentário

Busca


Leitores on-line

Carregando

Arquivos


Colunistas e assuntos


Parceiros