Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo terça, 13 de dezembro de 2022

CATAR 2022: A TRAGÉDIA DE MODRIC - COMO CRAQUE CROATA PERDEU AVÔ DURANTE A GUERRA

 

Por Leticia Lopes — Rio de Janeiro

 

Modric com o avô: Luca morreu aos 66 anos, durante Guerra da Croácia
Modric com o avô: Luca morreu aos 66 anos, durante Guerra da Croácia Reprodução/Acervo Pessoal

Luka Modric tinha só seis anos quando, a poucos metros da porta de casa, teve o avô assassinado por tiros de metralhadora. A morte de Luka, que inspirou o nome do neto, aconteceu há 31 anos em meio a sangrenta Guerra da Croácia, e deixou marcas que fizeram com que o capitão da seleção do país evitasse falar publicamente sobre o assunto por décadas.

O avô Luka tinha 66 anos e trabalhava reparando estradas e pastoreando animais no vilarejo de Zaton Obrovački, no sul do país. O neto ficava com ele e a mulher, Jela, enquanto os pais, Stipe e Radojka, trabalhavam numa fábrica de tecidos a poucos quilômetros dali.

O menino, neto mais velho do casal depois de duas meninas, era o xodó do avô. Na autobiografia publicada em 2020, o meia do Real Madrid conta do carinho a mais que recebia do patriarca da família e das "reações bondosas" dele às suas travessuras de criança.

"Meu pai sempre diz que ele era apaixonado por mim. Vovô Luka não tratava ninguém com tanta suavidade e meiguice. Todos ficavam sem palavras - principalmente meu pai, que sabia o quão duro meu avô era. Quando você é criança, você não reconhece, mas naquelas horas felizes que passamos juntos brincando, conversando com o outro, senti sua bondade e calor e a paciência com que me transmitiu seus conhecimentos. Só hoje, depois de ter amadurecido e passado por muita coisa, eu entendo completamente essas emoções", escreveu o atleta.

A presença afetuosa do avô, no entanto, foi "colossal e traumaticamente" arrancada em 1991, quando a guerra começou. Depois de a Croácia ter declarado independência da Iugoslávia, a minoria sérvia do país entrou em conflito com as forças croatas leais ao governo. Nos quatro anos pelos quais os confrontos se arrastaram, cerca de 20 mil pessoas acabaram mortas e 400 mil ficaram desabrigadas.

O avô de Modric cuidava de ovelhas e cabras, perto de casa, quando foi abordado por um grupo de Chetnicks, movimento paramilitar sérvio que enfrentava os croatas. As tropas tinham ocupado a área onde a família vivia, mas ele não tinha percebido o quão perigosa a situação era. Segundo descreveu o jornal croata "Zadarski List" anos depois, os homens questionaram quem Luka era, pouco antes de o executarem.

“Lembro-me de meu pai me pedindo para beijá-lo quando ele estava no caixão. Foi um momento trágico. A guerra nunca traz o bem a ninguém”, disse Modric ao "The Guardian" na época do lançamento do livro.

Depois da morte do avô, a família do atleta fugiu do vilarejo. Primeiro, eles foram para um campo de refugiados em Makarska e em seguida para Zadar. Lá, foram alojados no Hotel Kolovare, transformado em centro improvisado para os exilados da guerra.

Modric ainda criança jogando futebol no estacionamento do Hotel Kolovare — Foto: Reprodução/Acervo Pessoal

Modric ainda criança jogando futebol no estacionamento do Hotel Kolovare — Foto: Reprodução/Acervo Pessoal

Foi no estacionamento do local, onde a família ficou por sete anos, que o menino começou a jogar futebol, com outras crianças na mesma situação que ele. Em meio aos bombardeios da guerra, eles precisavam suspender as partidas e se abrigar.

A casa que ficou para trás, à beira da estrada que leva até a cadeia de montanhas Velebit, acabou virando ponto turístico, e hoje é visitada por torcedores do jogador. O pequeno prédio de pedra passou por incêndios, e está praticamente em escombros. O telhado já não existe mais, assim como as janelas. Atrás da construção, uma placa alerta: "Não se aproxime: esta área pode ter minas terrestres não detonadas".

Placa nos fundos da casa da família de Modric alerta para minas terrestres — Foto: AFP

Placa nos fundos da casa da família de Modric alerta para minas terrestres — Foto: AFP

Quando Modric tinha 10 anos, uma professora pediu que os alunos escrevessem uma história sobre algo que os marcou. A dele foi sobre granadas explodido e a morte de seu avô.

“Embora eu ainda seja pequeno, experimentei muito medo em minha vida. O medo de bombardear é algo que estou lentamente deixando para trás. Os chetniks mataram meu avô. Eu o amei tanto. Todo mundo chorava… Eu perguntava se aquelas pessoas que fizeram isso e que nos fizeram fugir de casa podem ser chamadas de gente.

A história veio a público na Copa de 2018, quando a seleção croata saiu vice-campeã.

“Sempre me lembro dele quando algo grande está acontecendo. Gostaria de tê-lo por perto para ver o que fiz no futebol e na minha vida pessoal – meus três filhos maravilhosos, minha esposa. Gostaria que ele estivesse aqui para ter seus bisnetos ao seu redor. É uma pena que ele não esteja conosco, mas é assim que as coisas são. Não tenho ódio de ninguém. Você segue em frente", disse ele, também ao "The Guardian".


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