Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 10 de julho de 2022

CIDADE DE DEUS (2002) – UMA OBRA-PRIMA DO CINEMA BRASILEIRO

HOJE: DRAMA

CIDADE DE DEUS (2002) – UMA OBRA-PRIMA DO CINEMA BRASILEIRO

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

Cartaz de Cidade de Deus em Blu Ray

Marco da retomada do cinema brasileiro, o filme CIDADE DE DEUS, é um dos maiores sucessos comerciais e de crítica da história do cinema nacional. Trata-se de uma obra superlativa, que muito herda de filmes como ‘Os Bons Companheiros’ (1990), dirigido por Martin Scorsese, ‘Scarface’ (1984), dirigido por Brian De Palma e ‘Pulp Filtion’ (1995), dirigido por Quentin Tarantino, com alguns tons e estruturas narrativas similares, mas que, ao mesmo tempo, assume um caráter único por meio da representação nua e crua de um dos lados do quadro social do Brasil.

Indicado a quatro estatuetas do Oscar (direção, roteiro adaptado, montagem e fotografia), temos aqui o que certamente se classifica como um dos melhores filmes brasileiros, mas precisamos entender o que faz dele uma obra-prima.

A trama gira em torno de Buscapé (Alexandre Rodrigues), um morador da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, que desde pequeno fora um espectador de camarote da violência que assola a favela em questão. Através de uma câmara que gira em torno do personagem, o relógio volta no tempo e somos levados aos anos 1960, quando tudo ainda era diferente e a violência dentro da comunidade não alcançava os níveis que vemos no desfecho da obra. A partir daí, em uma narrativa não linear, acompanhamos a história dos criminosos da Cidade de Deus, do Trio Ternura a Zé Pequeno (Leandro Firmino).

Um dos ingredientes para a fórmula do sucesso de Cidade de Deus foi a decisão do diretor Fernando Meirelles com trabalhar com atores ainda inexperientes, convocados de favelas do Rio de Janeiro, o que garante uma autenticidade ao que vemos em tela. Há uma sinceridade na atuação de cada um deles, desde Dadinho até o protagonista. Meirelles, naturalmente, não simplesmente os jogou em cena; uma extensa preparação misturada a teste de elenco foi realidade com profissionalismo e competência, na qual uma escola de atores foi formada e que, posteriormente, ao Nós do Morro e o Cinema Nosso, que, desde então, já formou competentes profissionais na área do cinema.

Nem todos os atores foram marinheiros de primeira viagem. Matheus Nachtergaele, no papel de Cenoura, é um dos exemplos. Meirelles, que não queria trabalhar com atores renomados, encontrou no ator uma complicação: o recente sucesso de O Auto da Compadecida, onde Nachtergaele interpretava o personagem João Grilo. A promessa do ator de “sumir” do filme a não ser por sua atuação, porém, foi cumprida. Não há Matheus Nachtergaele em Cidade de Deus, apenas Cenoura – um trabalho autêntico por excelência que não só quebrou o imagético do filme, como contribuiu para ele, ao passo que o personagem não destoa dos outros em nenhum aspecto.

Resumir o sucesso de Cidade de Deus simplesmente à direção de atores, contudo, seria uma grande injustiça. O roteiro de Bráulio Mantovani faz um verdadeiro milagre da adaptação ao colocar no cinema um livro com mais de duzentos personagens sem fazê-lo soar apressado ou arrastado. A fim de transmitir uma maior fluidez, o longa assume uma estrutura capilar – pulando de bandido em bandido enquanto a história da comunidade é formada. Unindo esses episódios temos Buscapé e sua narração em off (além da presença na tela), que impedem uma quebra de ritmo e constrói a ideia de que está tudo conectado: os eventos mostrados no início do filme diretamente impactam o que vemos em seu desfecho. A coesão é garantida por esses recursos simples, mas magistralmente utilizados.

A montagem de Daniel Rezende caminha lado a lado com o roteiro, fazendo o necessário para que o dinamismo constante de Cidade de Deus seja mantido. Tem-se um filme de 130 minutos que não para em momento algum. Cada transição entre os capítulos é realizada de forma orgânica, fluida. Para isso é mantida uma linearidade nessa narrativa não-linear – enquanto a história progride naturalmente na passagem dos anos, ela vai e volta a fim de nos trazer um olhar dedicado sobre determinados personagens. Flashbacks e elipses temporais são constantes e mais de uma vez um dos indivíduos retratados é deixado de lado, somente para ser abordado posteriormente. A narração em off de Buscapé aqui se faz essencial, nos dá vislumbres do que veremos depois, mantendo-nos curiosos acerca do papel de cada peça nesse complexo tabuleiro.

A direção de Fernando Meirelles é o pilar que mantém tudo isso unido, com uma decupagem que nos transporta para dentro desse cenário, ora com um olhar externo dos acontecimentos, quase documental, ora com closes em seus personagens, garantindo a humanidade em cada um deles. Sentimo-nos como se estivéssemos ali no meio daquele problemático ambiente e a sensação de perigo nos assola, transmitindo um pungente naturalismo à narrativa, que chega a nos deixar com um nó no estômago ao término da projeção. Buscapé, na verdade, somos nós, perdidos dentro daquele violento contexto, buscando entender o que se passa e colocar justamente um fotógrafo como protagonista é a marca maior disso: o olhar externo dentro do mundo da criminalidade.

Ao lado da direção temos a emblemática fotografia de César Charlone, que já nos planos iniciais tira o nosso fôlego – não é à toa que o plano circular do início do filme se tornou tão famoso. Charlone apresenta um verdadeiro domínio de sua arte, sabendo trabalhar de forma impecável mesmo nas diversas cenas noturnas. Sua retratação da Cidade de Deus apenas solidifica o naturalismo mencionado anteriormente com uma paleta de cores que apenas realça a frieza dos criminosos dali – os tons quentes dos anos 60 vão abrindo espaço para cores mais frias, assumindo o auge após a morte de Bené (Phellipe Haagensen), que é para Zé Pequeno o que Manny era para Tony Montana. Em momento algum sentimos uma segurança ao assistir a obra; temos a perfeita noção de que, a qualquer momento, algo pode dar errado.

À vista disso, desde seu lançamento, Cidade de Deus influenciou centenas de outras obras, não somente no campo audiovisual – um bom exemplo disso é a graphic-novel Coringa (histórias em quadrinhos amalucadas), de Brian Azzarello, que conta com um quadro inspirado em Dedinho e suas tendências homicidas. Fernando Meirelles nos traz um longa-metragem que consegue nos cativar completamente, ao mesmo tempo em que coloca em nós uma inegável angústia por meio da pesada atmosfera que constrói, encerrando seu filme com um tom sombrio mascarado de otimismo, que apenas reflete a realidade do quadro social do Rio de Janeiro, que, por si só, já nos deixa em constante apreensão.

Cidade de Deus foi amplamente considerado um dos melhores filmes de 2002 pela imprensa especializada brasileira e norte-americana; recebendo aclamação universal pela crítica especializada e elogios favoráveis. No site Rotten Tomatoes, o filme tem uma aprovação de 90%, chegando ao consenso de “um olhar chocante e perturbador, mas sempre atraente para a vida nas favelas do Rio de Janeiro.” No site Metacritic, recebeu 79% de aprovação, baseado em 33 opiniões, e classificado como “geralmente favorável” pela nota de análise do público. O crítico de cinema José Couto relatou que, ‘Cidade de Deus’ “é um filme de vigor espantoso e de extrema competência narrativa. Seus grandes trunfos são o roteiro engenhosamente construído e a consistência da mise-en-scène.”

O crítico do THE NEW YORK TIMES, Stephen Holden, elogia particularmente a sequência da festa de despedida de Bené (Phellipe Haagensen), no final da história, “como uma das partes mais espetaculares do filme.” No LOS ANGELES TIMES, o crítico Kenneth Turan em sua resenha desenha o filme como “uma potente e inesperada mistura de autenticidade e luxo visual” e “uma peça vigorosa de realismo social que está inegavelmente amparada em algo verdadeiro.” Turan enaltece particularmente a montagem de Daniel Rezende como “eletrizante.” Cidade de Deus não chegou a ter cópias dubladas nos cinemas, sendo exibido apenas legendado. Sobre as legendas, o crítico Mike Clark do USA TODAY diz que “mesmo fãs de filme de ação avessos a ler legendas deveriam dar uma chance a esse filme.”

Cidade de Deus (City of God) – Trailer Português

 

 

Cidade de Deus e a subversão das regras 🐔 Analisando o Cinema

 

 

 

 


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