Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo domingo, 26 de fevereiro de 2023

CINEMA: FERNANDO MEIRELLES

 

Por André Miranda

 

Fernando Meirelles
Fernando Meirelles Divulgação/ Jairo Goldflus

Após 40 anos como diretor de cinema, Fernando Meirelles resolveu dar uma “guinada de carreira”. A mudança parece sutil, mas é tão significativa quanto a transformação de Dadinho em Zé Pequeno. Meirelles, ele diz, quer voltar a ser apenas diretor de cinema. Só isso, nada mais.

Foi o diretor Meirelles que levou às telas filmes como “Cidade de Deus” (2002), “O jardineiro fiel” (2005), “Ensaio sobre a cegueira” (2008) e “Dois papas” (2019). Mas também foi ele, em seu papel de produtor, que ajudou a lançar obras variadas e bem-sucedidas, como “Marighella” (2019, de Wagner Moura) e “O banheiro do papa” (2007, de César Charlone). Agora, ele pretende focar mais em seus projetos do que nos dos outros.

De Los Angeles, onde dirige duas séries para streaming — “Sugar” (Apple TV+) e “The Sympathizer” (HBO Max) —, ele conversou com O GLOBO por videoconferência. Na entrevista, avaliou o mercado brasileiro, disse que não acredita mais na retomada das salas de cinema, revelou detalhes sobre a série spin-off de “Cidade de Deus” e contou que não votou no Oscar porque se esqueceu de pagar a anuidade.

Seu primeiro longa-metragem como diretor, “Menino Maluquinho 2: A Aventura”, foi lançado há 25 anos. Seus primeiros curtas-metragens são de 1983, foram lançados há 40 anos...

Pô, eu tô velho, não publica isso, não (risos). Eu comecei com vídeo independente, acho que em 1982 eu já fazia vídeos e ganhei uns prêmios. Já estou na estrada há um tempinho.

Você ainda sente a mesma paixão pelo cinema?

Eu sinto. Esse meu tempo fazendo streaming em Los Angeles me mostrou que o que eu gosto de fazer é dirigir. Gastei muito tempo da minha vida produzindo um monte de coisa. E só caiu a ficha quando eu cheguei aqui em Los Angeles no ano passado. É muito gostoso: vou para o set, falo com os atores, penso onde fica a câmera, depois como monta, que música usar.... É isso que gosto de fazer. Não vou falar que me arrependo de alguma coisa, mas posso dizer que estou numa guinada de carreira: quero ser só diretor, não quero mais produzir. Estou aqui, isolado, sem todos os problemas de sempre, só focado em dirigir. Como a vida fica boa. Adoro isso. A paixão não morreu. Eu tirei a produção da frente, e ficou gostoso de novo.

Há quanto tempo você está em Los Angeles?

Ano passado fiquei do meio de maio até o fim de novembro, filmando “Sugar”. É uma série com o Colin Farrell, e talvez a Apple aproveite para lançar logo caso ele ganhe o Oscar (Farrell concorre por “Os banshees de Inisherin”). Depois voltei para cá, para fazer um episódio de “The Sympathizer”, com o Robert Downey Jr.. O roteiro é em cima do livro (do escritor Viet Thanh Nguyen, publicado no Brasil como “O simpatizante”), e a história é sobre comunidades vietnamitas de Los Angeles, em 1977. Quem me convidou foi o Niv Fichman, que é meu amigo e produziu “Ensaio sobre a cegueira”. Estou há dois meses e meio, fico sozinho num apartamentinho. Acho bom, saio um pouco da minha vida, penso em algumas coisas, observo o Brasil de longe.

Como você vê o mercado do cinema brasileiro hoje?

O Brasil viveu uma situação há poucos anos em que nem o agronegócio crescia tanto quanto o audiovisual. A gente saiu de oito, dez filmes nacionais lançados por ano, para mais de cem. Nenhuma área da economia do Brasil teve esse crescimento. Mesmo recentemente, quando acabou o dinheiro público para o cinema, a atividade não foi reduzida porque entrou o dinheiro das plataformas, foram elas que passaram a financiar o audiovisual. E, agora, há uma tendência de o dinheiro público entrar de novo. A Ancine está se reestruturando, o Ministério da Cultura está se reestruturando. Então nós teremos as plataformas e o dinheiro público para a construção de projetos.

As plataformas sentiram o peso da crise mundial e frearam o altíssimo investimento que vinham fazendo. Isso tem afetado a produção?

Sim, elas não estão produzindo tanto, deram uma segurada. Os comentários em todo o mundo é que os orçamentos das plataformas ficaram mais restritos do que eram anos atrás, e no Brasil não é diferente. Mas elas ainda estão investindo. O importante é que tem muita gente pensando cinema, o que aumenta a chance de termos filmes geniais. O audiovisual é um espelho do país, e isso está em alta.

Aí não, as salas de cinema não vão se recuperar, não vamos ter de novo os números que tínhamos. Pessoalmente, eu prefiro assistir a um filme numa sala, mas o hábito das pessoas mudou. Antes era mainstream: assim que estreava um filme, todo mundo ia. Agora só vão alguns. Isso não significa que a sala de cinema vai acabar, mas ela caminha para ser um nicho. Quando inventaram a fotografia, falaram que acabaria a pintura. Depois, na época do vídeo, disseram que acabaria a fotografia. Não acabaram. A sala de cinema será um nicho, mas não vai acabar.

Todos os seus projetos engatilhados hoje são de séries para streaming. Você se vê mais distante de voltar a fazer um filme?

Eu tinha um projeto para a Netflix aprovado, com roteiro pronto, ia começar a viajar para ver locação. Era um projeto de adolescentes sobre a crise no clima. Só que a Netflix interrompeu. Aí eu fiquei frustrado, liguei para o meu agente, e ele me falou sobre umas séries em Los Angeles.

No ano passado, a HBO anunciou uma outra série com sua participação, a partir dos personagens de “Cidade de Deus”. Como será?

É criada pelo Sérgio Machado (diretor de “Cidade Baixa”) e dirigida pelo Aly Muritiba (de “Deserto particular”). Sou produtor com a Andrea Barata Ribeiro, da O2. Ela traz de volta alguns personagens, 20 anos depois, num momento em que as milícias começam a controlar algumas áreas no Rio. Apesar de haver drama, a intenção é mostrar as comunidades como potência e não mais como carência, como nos ensinou Preto Zezé (o presidente da Central Única das Favelas).

Como você bem sabe, “Cidade de Deus” é um dos filmes brasileiros mais celebrados de todos os tempos. O que é tão marcante nele?

Você considera “Cidade de Deus” seu melhor filme?

Por várias circunstâncias acabei tendo que financiar “Cidade de Deus” sozinho. Na verdade foi uma besteira que, por sorte, deu certo, já que eu não tinha que prestar contas de nada a ninguém. Fiz exatamente o que queria. Nunca fui tão autoral na vida nem antes e nem depois disso. Por esta razão, “Cidade de Deus” é o filme com o qual tenho maior ligação. Agora, se é o melhor ou o pior, não sei dizer, até porque nunca mais assisti ao filme. E aqui um furo para você: este mês todo o material de “Cidade de Deus” está vindo para Los Angeles, para ser remasterizado. A qualidade vai melhorar muito. Tecnicamente, o “Cidade de Deus” é precário porque foi o primeiro filme no Brasil rodado em cinema e finalizado em vídeo. Agora vai ficar bonitão, espero.

Você votou no Oscar neste ano?

Perdi a votação porque esqueci de pagar a anuidade da Academia, mas vou acertar as contas. De qualquer maneira, votaria em “Bardo”, do Alejandro Iñárritu, para quase todas as categorias, só que a Academia não o indicou. E votaria no Colin Farrell para melhor ator. O cara é mesmo extraordinário, além de ser muito sangue bom. Vai merecer se levar.

 

Diretor virá para o Rio2C

 

Fernando Meirelles virá ao Rio de Janeiro para uma palestra no Rio2C, festival de inovação que acontece entre os dias 11 e 16 de abril, na Cidade das Artes, Barra da Tijuca. O diretor brasileiro ocupará o palco principal ao lado do canadense Niv Fichman, seu parceiro de longa data, produtor do longa-metragem “Ensaio sobre a cegueira” e da série inédita “The Sympathizer”.

Para este ano, são previstos mais de 500 painéis em 11 palcos, sobre temas como cinema, música, streaming, games, meio ambiente, publicidade e design. Os ingressos estão à venda no site www.rio2c.com.


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