O neto ligou para a avó, a quem não via há mais de dois anos.
– Nona: tudo bem? É Pierino, seu neto.
– Eu sei. Pensei que não tivesse mais neto… Se eu morro, você fica sabendo pelo anúncio no jornal.
– A vida está corrida. Mas estou indo aí, para visitá-la. Vou levar a Jussara para a senhora conhecer.
– Quem é essa?
– Minha nova mulher.
– Coitada. Mais uma vítima. Mas venham.
– Daqui a meia hora estaremos na sua casa.
– No prédio, as coisas mudaram um pouco. Quando você chegar, aperta com o cotovelo o botão do porteiro eletrônico. Abro a porta aqui de cima. Depois, no elevador, aperta com o cotovelo o 3. Moro no 32. Quando chegar, toca com o cotovelo a campainha. Entendeu?
– Entendi, entendi, Nona. Só não entendi por que tenho que apertar todos os botões com o cotovelo.
– Puta que o pariu. Você fica sem aparecer mais de dois anos e me vem com as mãos abanando?
* * *
E POR FALAR EM NONA…
O Nono estava no bico do corvo. O médico chamou a família:
– O quadro do Nono é gravíssimo, irreversível. Não temos mais nada a fazer por ele. Melhor levá-lo para casa, para que ele possa ficar perto dos filhos, netos, bisnetos… Segundo me disse, gostaria de morrer em casa.
E assim foi feito.
A casa do Nono parecia um Corinthians X Palmeiras, em final de campeonato, de tão lotada.
Embora moribundo, o Nono mantinha faro apurado. Chamou um dos bisnetos e lhe disse:
– Vá até a cozinha e peça dois pastéis pra Nona: um de carne e um de queijo. Adoro pastéis.
O pirralho foi e voltou de mãos abanando.
– Cadê os pastéis? – quis saber o Nono, impaciente, lutando contra o tempo.
O bisneto foi direto ao ponto:
– A Nona me disse que os pastéis são para o seu velório.