Sua história desafia os séculos, caro Diógenes. Vem de um tempo em que você vagava pelas ruas da Grécia na mais completa miséria. Penúria tanta, aliás, que você chegou a ser vendido como escravo. Diz-se até que por não ter casa para morar você vivia em um barril. De seu, apenas um alforje, um bastão e uma tigela. Muito pouco, não é mesmo? Pois saiba que transcorridos tantos séculos, muitos brasileiros continuam a não ter nada, nem ao menos o direito a comer todos os dias.
Mas voltemos a você. Das histórias que cercam a sua vida, ilustre Diógenes, a mais conhecida é aquela em que você, em plena luz do dia, acendia uma lamparina e procurava pelas ruas homens honestos.
Outra história também marcante, é aquela de que certo dia você foi visto pedindo esmola a uma estátua, e ao lhe perguntarem o porquê de tal conduta, você teria dado uma explicação lapidar: “Por dois motivos: primeiro é que ela é cega e não me vê, e segundo é que eu me acostumo a não receber algo de alguém e nem depender de alguém.”
Quatro séculos antes de Cristo, Diógenes, você já lutava contra a mediocridade, a desonestidade, mas o mundo do seu tempo era outro. Vivesse você nos dias atuais, sua lamparina queimaria por completo sem que você encontrasse o tão procurado homem honesto. Pelo menos é o que se pode pensar ao voltar a atenção para Brasília.
A propósito, você viu a lista do ministro Edson Fachin? Tem de tudo! Tem até presidente da República! Presente e passado!
Pensando bem, Diógenes, os ladravazes deveriam ter-se espelhado no seu exemplo da estátua. Ao pedir propina, seriam ignorados por ela – já que estátua não vê nem ouve – e, assim, talvez eles se acostumassem a não receber algo de alguém, principalmente o ilícito.
No mínimo, não estariam às voltas com os rigores da lei!