Hoje eu apresento um olhar lacrimoso. Um olhar que já trago e tenho, mas que pela notícia recebida potencializa-se. Belchior e suas teorias musicais fazem parte de minhas memórias afetivas desde que me interessei por música.
Como nordestino que sou, foi ele que me fez tomar consciência, por exemplo, que aquilo que pesa no norte, pela lei da gravidade cai no sul, grande cidade; com ele aprendi que o amor é uma coisa mais profunda que um encontro casual, entre outras verdades travestidas de canções. Presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte por ter vivido em seu tempo, grande Belchior.
Um tempo onde seu canto torto e sua voz cortante feito faca deixou marcas indeléveis em mim; no entanto, hoje não quero falar das coisas que aprendi em seus discos. Quero ir um pouco além, pois com você também aprendi que mesmo não estando feliz, não podemos emudecer, e por isso preciso registrar que o seu legado ficará aqui para que possamos cantar muito mais. É como você bem disse: “(…) o meu lugar é onde você quer que ele seja”.
Hoje, em definitivo, o seu lugar passa a ser no coração de todos aqueles que acompanharam a tua obra. A dor que deixas é que apesar de sua ausência, alimentávamos a esperança de uma triunfal volta sua e que hoje extingue-se em definitivo. Vai em paz Belchior, e leva consigo suas palavras, sons e caminhos para que sejas de fato livre. A pimentinha há de te recepcionar com o mesmo carinho com o qual eternizou “Como nossos pais”.
Resta-nos agora abrigá-lo na parede de nossa memória e levar sua lembrança como um doloroso quadro, talvez aquele que doa mais sempre que, entre nossos discos, nos deparemos com um seu. Uma dor que talvez amenize-se ao ouvir aquilo que deixaste para uma infinidade de corações selvagens. Aqui, pediremos ao bom Deus que nos ajude para seguirmos sempre que a vida nos violentar com notícias como esta de hoje.
Deixo agora para os amigos leitores uma das faixas do álbum “Coração Selvagem”, de 1977 e que é de autoria do já saudoso Belchior: Galos, noites e quintais: