Marcelo Alcoforado
Por que tanta miséria no mundo? ― eis uma pergunta recorrente, tanto quanto recorrente é a miséria. E não imagine ser um problema exclusivamente brasileiro, não. Tirando os ricos, é problema do mundo inteiro. Então comece a se estarrecer com a frieza dos números, recentemente divulgados em toda a imprensa.
Apenas 26 homens ― bilionários, obviamente ― têm mais dinheiro do que 3,8 bilhões de pessoas. Quem afirma é Winnie Byanyima, diretora da Oxfam, uma ONG internacional, que fez a revelação semana passada, quando da abertura do Fórum de Davos.
Para ela, as desigualdades extremas estão descontroladas, o que impõe aos governos abandonar promessas e obrigar bilionários como Jeff Bezos e suas empresas a pagar impostos maiores e mais volumosos. O abismo entre ricos e pobres sabota a luta contra a pobreza, porque traz a fome como prato principal e a revolta como sobremesa. É impossível atenuar a ira diante de uma família esfomeada e, como é sabido, a fome é má conselheira.
Quando você vê aqueles africanos esquálidos morrendo de fome e de doenças dela provenientes, se horroriza, não é certo? Pois saiba que apenas 1% da fortuna de Jeff Bezos ― apenas 1% ―, pagaria o orçamento de Saúde da Etiópia.
O fato concreto, porém, é que a riqueza dos bilionários aumentou, ano passado, US$ 900 bilhões a uma velocidade de US$ 2,5 ao dia, enquanto a renda da metade mais pobre caiu 11%. Na atual ordem econômica, pois, em que os milionários pagam proporcionalmente menos tributos, conclui–se que em Davos, apesar da consonância, não se “davos” nada. Se toma.