Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Coluna do Calixto - Onde Reminiscências, Viagens e Aventuras se Encontram domingo, 26 de março de 2017

DESCAMINHOS DAS ÍNDIAS - PARTE VIII

DESCAMINHOS DAS ÍNDIAS – PARTE VIII

(Nirvana em Mangalore) 

Robson José Calixto           

 

            O romeno Dandu Pughiuc era o Chefe do Programa GloBallast e tinha um assistente australiano chamado Steve Raaymakers. O especialista em poluição marinha e Steve não se davam muito bem, vivendo às turras. Quando o especialista chegou ao Hotel Cidade de Goa Steve não estava, tendo sido informado que ele saíra com algumas suecas que conhecera ao chegar à Goa. Como assistente ele chegara antes de todos para organizar o evento, confirmar reservas, a infraestrutura cedida pelo Governo da Índia etc.

 

            Mais um dia no Instituto Oceanográfico de Goa, palestras, sala de computadores, discussões, decisões sobre o Programa GloBallast etc. Tudo na rotina, mas Steve havia organizado um jantar para os convidados estrangeiros (Brasil, China, Ucrânia, África do Sul, Irã, Reino Unido, França) na localidade e praia de Mangalore, ao sul de Goa. Dessa vez um ônibus bom veio nos pegar. De novo Steve não apareceu para ir junto com a gente.

 

            O jantar seria em um restaurante na beira da praia, tendo sido fechado só para os convidados do GloBallast. Era uma estrutura aberta, de bambu e madeira, algo bem praiano, em transado, sobre a areia, de tom mais escuro. Tinha um cara que botava som de boate, dance e ritmos caribenhos e flamencos, mesmo alguns zouks, que era uma delícia nos ouvidos do especialista e transmitia ondas de vontade de dançar no corpo dele, afinal frequentara dança de salão e se esmerara para dançar muito bem esses ritmos.

 

            A comida já estava disponível sobre as mesas, a grande maioria frutos do mar, todavia com excesso de gordura, anéis de lula, peixes, bivalves, polvo, além de algumas saladas. O especialista pegou algum pouco de salada e um pouco de peixe, achando que iria ficar com fome e a noite seria bem chata. Olhou para o mar escuro, trocou algumas palavras e algumas conversas com o pessoal do GloBallast, que já apresentava cansaço pelos dias diretos em palestras e muita atenção no inglês.

 

            Finalmente Steve chegou e trazia com ele cinco suecas que conhecera em Goa, uma mais bonita que a outra. Loiras, brancas, de olhos bem azuis ou esverdeados claros. O especialista pensou: “- de onde Steve tirara aquela mulherada? O quê elas estavam fazendo na Índia?”.

 

            O especialista não se aproximou imediatamente das suecas, até porque estavam com Steve, e eles não se davam muito bem. Com o tempo, no entanto, começou a conversar com uma delas. Então começaram a ser tocadas músicas dos Gipsy Kings, que o especialista gostava muito. E saiu tão natural: “- quer dançar comigo?”. E os olhos azulados profundos da sueca brilharam, dizendo: “- OO.., Ok!”. A resposta dela insinuava que não esperava muito, talvez nunca mais esquecesse aquele brasileiro que conhecera em Mangalore.

 

            Foram para a pista de areia, ambos de tênis, e o especialista tomou-a pelo braço e a guiou por aquelas músicas e ritmos que misturam sangue, suor, sexo, intimidade, intensidade, virilidade e paixão. Ela adorou, só que as outras quatro que ficaram de lado se sentiram enciumadas e o especialista percebeu isso nos olhos e no movimentar dos cabelos delas, dando sinais que também queriam estar ali e se envolver nos movimentos circulares, trançados dos braços, chicotes, movimentos de cabeças, aproximações corporais. De repente o esepcialista dançava com duas, trocava, voltava à primeira e os olhos das loiras parecem estrelas que iluminavam a noite.

 

            E Steve olhou, estava sozinho e o especialista estava sozinho com elas, se entreolharam... Talvez Steve estivesse espantando pela desenvoltura do brasileiro na pista de dançar e atração que tivera na noite. O especialista já estava um pouco cansado e não queria aumentar a tensão, então disse para as suecas pararem um pouco e beberem e comerem algo. A noite foi passando e acabando e a hora de se despedir chegou.

 

            As pessoas foram rumando para o ônibus e quando o especialista também seguia até o veículo, Steve o chamou de lado, dizendo que ele e alguns outros do evento e as suecas estavam também partindo, em outro automóvel, para o Hotel Cidade de Goa, para terminar a noite em um dos apartamentos, e que elas tinham pedido para o especialista também ir para lá. O especialista disse: “- Ok, I’ll think about”.

 

       Partiram, e o especialista viajou no ônibus e chegou ao seu apartamento pensando “Vou ou não vou?”; “O que acontecerá naquele apartamento”.

 

       O especialista brasileiro já era casado há algum tempo, com compromissos interpessoais, tinha bases morais e religiosas bem sólidas. Resolveu não ir, ficou no seu quarto, colocou o pijama e foi dormir. Também lembraria para sempre aquela noite com as suecas mais lindas que conhecera ao longo da sua vida, e não seriam poucas, pois o destino o levaria um dia até Malmöe, Suécia. Aquela noite seria o seu Nirvana na Índia, uma lembrança boa de onde levaria tantas marcas.

 

       Fim da Parte VIII. (25 de março de 2017)

 

Nota: Este não é um texto de ficção, mas baseado inteiramente em fatos reais, para uma realidade de janeiro de 2002.

 

 


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