DOLAR, A CHAVE MÁGICA
(Publicada no dia 10.111.2014)
Raimundo Floriano
Chave mágica de meus sonhos infantis
Em 1986, um dia pós a chegada de Luiz Berto de sua gloriosa turnê cultural de 6 meses pelos Estados Unidos e Canadá, eu e Veroni, minha mulher, fomos visitá-lo, não só para lhe desejarmos boas-vindas, como também para sabermos das muitas novidades, pois ainda não conhecíamos país algum do estrangeiro.
Berto, de cara, foi logo me surpreendendo, mostrando que, lá na terra dos gringos, não se esquecera de mim. Pelo contrário, ao passar por Nova Orleans, comprou e trouxe-me de lembrança estas duas preciosidades do traditional jazz, o que mais curto da extraordinária música americana, atualmente transformadas em CD:
O papo corria solto quando, a certa altura, Berto levantou-se e dirigiu-se rumo ao quarto, dizendo: – Vou mostrar para vocês uma chave que abre todas as portas em qualquer país do mundo!
Eu pensei logo na chave mágica de meus sonhos de menino, de cuja existência tomara conhecimento nas histórias de trancoso. Mas, ao voltar, em vez de uma chave convencional, Berto nos exibiu uma nota de 1 dólar:
A partir daquele momento, passei a admirar a magnitude da força que esse dinheiro tem, o que vim a constatar in loco, quando visitei os Estados Unidos e o México, em 1998 e 2001. Lá, tanto naquele tempo como agora, se você comprar algo por U$l.99 e pagar com uma nota de dois dólares, recebe 1 centavo de troco. Enquanto que, aqui no Brasil, a moeda de 1 centavo há mito tempo foi abolida.
Aliás, enquanto o dólar permanece impávido, impertérrito, impoluto, portentoso, de 1986 para cá nosso padrão monetário sofreu estas metamorfoses: cruzeiro, cruzado, cruzado novo, cruzeiro novamente, URV, cruzeiro real e, finalmente, real.
A partir de então, resolvi presentear os jovens casais a cujo himeneu sou convidado, com, além de algo de utilidade no lar – geralmente eletrodoméstico ou móvel –, deterioável com o uso, um mimo perene, para toda a vida, configurado na cédula de 1 dólar.
Isso com a recomendação de que o noivo a use em sua carteira, junto às demais notas que possui, sem nunca dela se desfazer. E o faço com a garantia de que a vida do casal será sempre afortunada. Palavra de Cardeal da Igreja Sertaneja.
Explico o poder magnificente da nota de 1 dólar. Ela traz em seu verso a figura de uma pirâmide, símbolo da prosperidade, cujo vértice, seccionado, estampa um olho luminoso, símbolo da vigilância. Para que não se conectem esses dois símbolos à magia negra ou à macumba, é ali também impressa a frase IN GOD WE TRUST, que eu traduzo como CONFIAMOS EM DEUS!
Mas há um porém. Não adianta você comprar uma dessas notas e colocá-la em sua carteira. Ela tem que ser ganha. Quem me presenteou com a que carrego comigo desde então foi a amiga e colega Filó, em 1991, na época funcionária da Câmara dos Deputados e Chefe de Seção na Coordenação de Apoio Parlamentar, onde o Papa Berto I também exercia uma chefia. No mesmo momento, agraciei-a com igual dádiva. Detalhe curioso: Filó e eu somos gêmeos. Embora de pais e mães diferentes, nascemos ambos no dia 3 de julho!
E o resultado aí está. Filó, aposentada, é hoje fazendeira em Formosa (GO), onde fabrica seus queijinhos para vender aos domingos na feira semanal da cidade. E eu, jogador inveterado em loterias, vez em quando faço o terno da Quina, a quadra da Dupla Sena, a quina da MegaSena no Bolão, e livro o apostado na Loteria Federal. A qualquer momento, estouro a boca do balão!
Como tarefa a cumprir, de quando em quando, o portador do dólar tem de recitar esta quadrinha, tipo de mantra muito prafrentex:
DINHEIRO EM MEU BOLSO
É COMO FOLHA DE MANGABA
QUE É POUCO
MAS NÃO SE ACABA
Nos flagrantes a seguir, o momento em que, junto a minha Bênção Cardinalícia, presenteio jovens casais com o infalível e auspicioso talismã.
Karina, minha hidroterapeuta e Márcio, vendo-se a hidroterapata Mariângela
Maurício Melo, Elba, Raimundo, Veroni e o casal Janaina e Samuel
Mara, o casal Thiago e Milena, Veroni, Raimundo e Elba
Carolina Leal, minha filha adotiva, Luiz Felipe e Raimundo
Raimundo, Rafael e Denize
Fábio, Elba, minha filha, e este Cardeal
(A Posteriori)
Sandra e Pedro Ivo
Em algumas celebrações, não havia fotógrafo por perto, o que motivou a ausência de muitos desses especiais momentos de sinceras e abençoadas alvíssaras.
Juntado os bons augúrios com o agradável, aqui vai pequena amostra do trabalho da Preservation Hall Jazz Band of New Orleans. Escolhi uma faixa do LP New Orleans’s Sweet Emma, de 1964, Just a Closer Walk With Thee, peça tradicional do jazz e gospel norte-americano e mundial, arranjo de Emma Barrett, a Sweet Emma, pianista e cantora, nascida a 23.03.1897, que a interpreta aos 67 anos de idade:
E, para sacramentar minhas Bênçãos Cardinalícias sobre tudo o que acima foi dito, aqui vai mais outra linda peça do tradicional jazz e gospel norte-americano e mundial, Amen, constante do LP, For Concert Sale Only, de 1977, na voz de Willie Humphrey, nascido a 29.11.1900: