– Chega de mentiras, Alceu. Basta! Entendeu? Não suporto mais essa vida que levamos. Afinal, por que você se casou comigo?
– Por interesse, Matilde, é que não foi. Muito pelo contrário.
– Como assim? Não estou entendendo.
– Quer saber?
– Quero.
– Melhor deixar pra lá, Matilde.
– Não vou deixar pra lá coisa nenhuma. Quero saber, diga de uma vez.
– Matilde: você sempre foi a mais feia das meninas, a mais pobre, a mais obtusa…
Matilde esboçou um sorriso de satisfação e apostou todas suas fichas num palpite furado:
– Então, você se casou comigo por amor, não foi?
Alceu respirou fundo, resolveu mentir (amara Matilde, sim) e colocar um ponto final na história arrastada, pois de uns tempos pra cá só tinha cabeça, coração e membro para Verinha, a cunhada mais nova, dona de bunda e peitos fartos:
– Não, Matilde. Casei por pena, pena de você.
– Cretino. Só agora, depois de vinte anos e três filhos, você me diz barbaridade dessas?
– Você nunca me perguntou antes, Matilde. Não tenho culpa.