Dito e Dita num ponto sempre concordaram. Aqui se faz. E aqui se paga. Caro.
Aderbal pagou.
Não por falta de aviso, porque Benedita, a Dita, filha do velho Dito, nunca foi mulher de mandar recados. Nem de ameaçar. Censurava Aderbal com o olhar certeiro, certo? Quem tivesse tino que entendesse. Do contrário, amargaria a solidão.
Aderbal não entendeu picas. Morreu só.
Pobre Aderbal.
Aderbal não acreditou nos avisos que não vieram por escrito. Só por olhares.
Aderbal, homem antigo, só acreditava no que estava escrito. Prova disso é que jogava no bicho.
Aderbal se embriagou, achou que o fígado e a paciência de Dita seriam para sempre.
Aderbal – um homem de tino miúdo. Não mau, necessariamente. Criou filhos. Deu-lhes o conforto possível. Trabalhou pra cacete. Aderbal, tolo.
Depois que tomou o pé na bunda, Aderbal percebeu que não eram para sempre a paciência de Dita e o fígado. A solidão é fogo bravo. Aderbal foi ao limite. Que graça viver, se o amor acabou?
Aderbal morreu atropelado. De tanto beber.
Dita encomendou uma missa pela paz que Aderbal nunca teve em vida.
Deus é pai, Aderbal.